Protocolos de dessensibilização
em transplantação renal
Rui Alves
Unidade de Transplantação Renal e Serviço de
Nefrologia do CHUCoimbra
1 - Protocolos de dessensibilização na
incompatibilidade HLA
2 - Protocolos de dessensibilização na
incompatibilidade ABO
• “O crossmatch pós-transplante (CMX) com linfócitos do
dador passa a fazer parte da abordagem na prática”;
• “O crossmatch positivo é uma contraindicação para
transplante”;
• “O aperfeiçoamento da técnica de crossmatch aumenta a
probabilidade de sucesso, mas relega um grande número
de receptores, para listas de espera de longa duração.
Tempo de espera para Transplante Renal
• Nos EUA 30% dos doentes em lista de espera estão sensibilizados
(transfusões,gravidez,transplante)
• Cerca de 16% estão hipersensibilizados(PRA>80%)
– Somente 6,5% dos hipersensibilizados são transplantados anualmente
Algumas questões imediatas na
sensibilização HLA
• Está presente algum anticorpo específico do dador ?
• Quais são as especificidades desse anticorpo ?
• Qual é o título do anticorpo presente ?
• Esse título é suficiente para causar rejeição humoral
aguda ?
• O que é necessário fazer para eliminar esse anticorpo ?
• Esse anticorpo desaparece depois do tratamento ?
• Esse anticorpo pode voltar a ser detectado depois do
transplante ?
• Como detectar a sensibilização e como a
• Pesquisar Sensibilização do receptor (det. de PRA)
– CDC
(complement-dependent citotoxicity)– ELISA
(enzyme-linked immunoabsortion)– Citometria de fluxo
• “Luminex”(multiplexed particle-based flow cytometric)
• Pesquisar a existência de anticorpos pré-formados
com a especificidade para o potencial dador (CXM)
– CDC
• Amos-modified CDC (eliminação de Acs irrelevantes) • AHG – modified CDC (para aumentar a sensibilidade)
– Citometria de fluxo (
utilizado selectivamente – risco de detecção de Acs não HLA)– ELISA
• Utilização pós-transplante para detecção de Acs dador específicos (não deve ser usado como teste pré-transplante)
DEPOIS DO DADOR IDENTIFICADO
Contra-indicações para TR
Avaliação do risco para RMA
(Profiling work group for AMR *)• Um teste CDC ou AHG-CDC positivo está associado a um elevado risco de rejeição mediada por anticorpos (RMA);
• Um teste CDC positivo é uma contra-indicação para transplante, excepto se os anticorpos dador-específicos puderem ser reduzidos;
• Um crossmatch positivo por citometria de fluxo ou um “histórico” positivo por CDC ou AHG-CDC está associado a um risco intermédio para RMA
(reforçar imunossupressão);
• Existe baixo risco nos doentes quando o crossmatch é negativo nos soros recente e “histórico” por citometria de fluxo ou por CDC-AHG (adoptar imunossupressão convencional).
*Takemoto SK et al. Am J Transplant 2004; 4:1033
21 estudos (centro único e retrospectivos) entre 2000 e 2010 – 725 doentes (c/Ac.HLA esp.) Sobrevivência do doente aos 2 anos – 95%; Sobrevivência do enxerto - 86%
Rejeição Aguda – 36% (Rejeição Aguda mediada por Acs. (RMA) – 28%)
Low Dose IVIg
Eculizumab
(antiC5a)
Bortezomib
Johnston O, 2010
Protocolos de dessensibilização
Johnston O, 2010
• Protocolos com IgIV em alta dose
• Protocolos combinando Plasmaferese com IgIV em
• 211 doentes HLA-sensibilizados; Tx com dador vivo
• Plasmaferese seguida de baixa dose de IgGIV (100mg/kg)
– Plasmaferese : 4 sessões antes e 5 após transplante
• Indução – Timog. (1,5mg/Kg) 5 dias ou daclizumab (2- 1 mg/Kg)
em 5 administrações (quinzenal)
80,6%
30,5% 49,1%
• Comparação da IgIV em alta dose com a
• A IgIV em alta dose, e isolada, permitiu diminuir a actividade dos autoanticorpos em todos os doentes mas só 38% atingiram um crossmatch negativo;
• Com plasmaferese e IgIV baixa dose foi atingido um crossmatch negativo em 84% doentes, e em 88% no grupo com plasmaferese e monitorização; • Mesmo com crossmatch negativo a incidência de rejeição atingiu 80% no
grupo só com IgIV; 37% com plasmaferese, e 29% no grupo com plasmaferese e monitorização;
• Múltiplas plasmafereses conduzem a uma dessensibilização mais
reprodutível, com menor incidência de rejeição humoral do que uma dose única dose de IgIV, mas nenhum regime foi completamente eficaz na
• Protocolos de dessensibilização na
• Jan. 89 a Dez. 2001 –
494 doentes
Efeitos secundários da dessensibilização (2 a 5 anos)
• IgIV – cefaleias, arrepios, náuseas, artralgias, dor lombar
– IRA, eventos trombóticos: EAM, TVP, AVC; Anemia hemolítica auto-imune; meningite asséptica (raro)
• Prevalência não superior em relação à média dos outros transplantes
• Plasmaferese – anafilaxia (raro), hipotensão, exantema, cefaleia,
taquicardia, prurido
• Infecção (doença)
• Incidência de doença viral ou bacteriana não superior ao grupo controlo (n=902)
• CMV (0 – 15%), BKV nefropatia (0-8%), Epstein-Barr, parvovírus B19
• Com Rituximab mais infecções fúngicas (17%)
• D. Malignas - 0
Kamar et al. Am J Transplant 2010; 10: 89-98 Vo AA ey al. Transplantation 2010; 89: 1095-1102 Alkalin E et al. J Am Soc Nephrol 2008; 3:1160-1167
• Eculizumab – Inibição da formação do complexo de
ataque da membrana (C5b-C9)
– Tratamento ou prevenção da RMA grave
– Adicionado a protocolo de dessensibilização em 16
doentes com crossmatch positivo (seguimento:1-17
meses)
– Administração à data do tx e depois semanalmente
durante 4 semanas
• 1 doente desenvolveu RMA(6%) e seis doentes (37%) desenvolveram RMA crónica (3,8 meses após Tx)
Cornell LD et al. Am J Transplant 2010; 10(supl4): 125
Aspectos económicos
• Custo anual TxR (S/complicações) – 17.000 dólares
• IvIg+Rituximab
– Custo do transplante + 21000 dólares
– + 5 sessões de PF = + 10.000 dólares
– Se RHAguda (30%) = + 31.000 dólares
• Doente em diálise = 70.000 dólares/ano
– Bortezomibe (2mg/ciclo)= 5500 dólares (x4)
– Eculizumab (600mg) = 8500 dólares (x4)
Jordan et al. J Am Soc Nephrol 2004; 15: 3256-3262 Kamar et al. Am J Transplant 2010; 10: 89-98
Conclusões
• Incompatibilidade HLA
– Nos protocolos de dessensibilização o objectivo principal é um
crossmatch negativo. Mesmo um crossmatch com título baixo de Acs. anti-HLA aumenta o risco de perda de enxerto e requere a
intensificação do tratamento pós-transplante;
– Na dessensibilização com título de Acs >32 o crossmatch negativo é difícil de atingir e tem elevado risco de perda de enxerto;
– Os protocolos com alta dose única de IgIV podem ser úteis nos
doentes com baixo título de Acs (1:4), e a optimização da terapêutica permite uma baixa incidência de RMA;
– A plasmaferese com baixa dose de IgIV é mais eficaz do que a alta
dose única de IgIV na indução de um crossmatch negativo nos doentes com títulos moderados de Acs (1:8 ou 1:16).
– Se dador-vivo considerar PF+IgIV+RTX; se dador cadáver considerar IgIV +RTX ; Indução com Timog./anti-CD25 Tac+MMF+Pred.
Conclusões
• Incompatibilidade ABO
– Os dois principais métodos utilizados para reduzir o título
de Acs ABO são a plasmaferese e a imunoadsorção com o
objectivo de reduzir o título de Acs. para valores <1:8 -
< 1:32 (ideal, pelo menos, <1:16);
• Esplenectomia - grupos japoneses (risco infecção – EUA não utiliza).