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A RETERRITORIALIZAÇÃO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS: OS USOS DO ESPAÇO DA RESEX DE CAETÉ-TAPERAÇÚ NO MUNICÍPIO DE BRAGANÇA-PA

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A RETERRITORIALIZAÇÃO E A CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS

NATURAIS: OS USOS DO ESPAÇO DA RESEX DE CAETÉ-TAPERAÇÚ NO

MUNICÍPIO DE BRAGANÇA-PA

Ellen Cristina do Monte Silva

Geógrafa, mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFPA, especialista em Educação Ambiental e uso dos Recursos Hídricos e Educação para Relações Étnico-Raciais, professora do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Pará, campus Bragança.

ellencefet@hotmail.com

RESUMO: A preocupação com o meio ambiente tem se tornado pauta das principais discussões governamentais no cenário nacional e internacional. E a diversidade social e natural brasileira tem pressionado o poder público a tomar decisões que visem à conservação do meio ambiente. Contudo, quando um espaço passa a assumir uma nova “identidade” tem-se que analisar as mudanças que podem ocorrer no mesmo quanto aos usos dos recursos naturais. Nesse sentido, discute-se o conceito de reterritorialização tomando como unidade de análise a Reserva Extrativista Marítima Caeté-Taperaçú situada no município de Bragança (nordeste do Estado do Pará) e as ações públicas operacionalizadas para esse espaço. Aborda-se sobre o processo de regulamentação que gerou a legislação específica para as unidades de conservação no Brasil. Em um segundo momento discute-se algumas ações relativas à gestão da referida resex pelo Instituto Chico Mendes. Por fim, constatou-se que existem muitas disparidades entre a regulamentação existente e a realidade constatada na resex estudada.

PALAVRAS-CHAVE: Reterritorialização, Bragança, Resex de Caeté-Taperaçu, Políticas Públicas 1 INTRODUÇÃO

No Brasil as questões ambientais ganharam destaque a partir dos anos 90, por conta de alguns vetores, tais como, o avanço nas políticas governamentais voltadas para o meio ambiente; o aumento dos problemas que afetam o meio ambiente e a promoção de ações por parte da sociedade e do Estado. E a criação de espaços protegidos e/ou regulamentados pelo poder público vem se concretizando como uma solução para o uso adequado e sustentável dos recursos naturais.

No Bioma Amazônico enfatiza-se o desmatamento e a exploração predatória dos recursos naturais, necessitando de uma maior proteção de áreas naturais e que vem sofrendo mudanças devido à relação social com o meio.

As atividades produtivas na região amazônica são saberes tradicionais da população local que desde que a Amazônia passou a fazer parte da política dos governos ditatoriais, o objetivo principal do Estado diante da região era “Integrar para não entregar”, estabelecendo uma política de desenvolvimento desigual porque a Amazônia passou a ser fornecedora de matéria- prima e com uma população local escassa de recursos como habitação, saneamento básico, entre outros.

Esse saber local refletiu nas atividades pesqueiras, devido a Amazônia apresentar um rico potencial hídrico e no início da ocupação as populações tradicionais como índios, caboclos e comunidades quilombolas ocuparam áreas próximas aos rios e desenvolveram práticas voltadas para o campo e a pesca que tornaram-se a principal fonte de subsistência.

A cidade de Bragança no Estado do Pará apresenta características sociais, históricas, culturais interligadas com sua realidade natural. A pesca é uma atividade reforçada pela presença do Rio Caeté que fomenta um intenso comércio de pescado na orla do centro da cidade.

Bragança apresenta um grande potencial turístico que poderia ser mais bem aproveitado ampliando-se a rede de hotelaria, os restaurantes de fronte para a orla do rio. E a população que vive na cidade de Belém ou em outros interiores vem a Bragança em busca das belezas naturais e de eventos tradicionais como a “Cavalgada” que ocorre no mês de maio de cada ano. Além disso, Bragança localiza-se a 36 km da praia de Ajuruteua com de águas oceânicas que atrai muitos turistas.

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É nesse contexto geral que se apresenta a Resex Marinha Caeté-Taperaçú enquanto espaço “reterritorizado” que é dividido em polos dos quais foi escolhido o pólo de Ajuruteua que contém a Vila dos Pescadores.

O estudo parte da seguinte problemática: de que forma o processo de reterritorialização vem influenciando as atividades socioambientais na Resex Marinha de Caeté-Taperaçu no sentido de conservar os recursos naturais disponíveis no espaço recriado?

Com relação à problemática abordada procurou-se estudar a categoria geográfica espaço associado ao modo como a sociedade vem modificando o meio natural e a forma de vida estabelecida com a implantação da Resex. Para isso, utilizou-se o conceito de espaço revalorizado a partir das técnicas discutido por Santos (1985 e 2006) e como Haesbaet (2004) pode contribuir para a reflexão do conceito de reterritorialização na Resex Marinha de Caeté-Taperaçu. Para tanto, o estudo foi dividido em quatro partes. Na primeira fez-se uma análise do espaço da Resex. Na segunda, é discutido o conceito de reterritorialização. Na terceira aborda-se sobre o processo de regulamentação que gerou a legislação específica para as unidades de conservação no Brasil. Por último, são discutidas algumas ações relativas à gestão da referida resex pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio).

A pesquisa desenvolveu-se primeiramente por seus aspectos gerais, buscando informações sobre a Resex Marinha de Caeté –Taperaçu junto a legislação federal, pesquisa cartográfica juntamente com a pesquisa bibliográfica e documental que subsidiou a compreensão de conceitos e teorias sobre as dimensões socioambientais, e os conceitos de território, espaço e reterritorialização. Realizou-se pesquisa de campo para se obter um levantamento prévio dos usos realizados no local, procurando observar a comunidade vila dos pescadores e sua relação no meio da Resex.

2 A RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE CAETÉ-TAPERAÇU

As regiões costeiras do Brasil passaram a apresentar graves problemas ambientais devido ao processo de ocupação que se deu desde a época da colonização, como comenta Almeida e Soares (2009) ao dizerem que a ocupação se concentrou nessas áreas porque desde a época em que o colonizador português percebeu que havia uma maior facilidade de comunicação e escoamento por via marítima ou fluvial, marcando profundamente o modelo de ocupação do Brasil.

Na Amazônia a ocupação também se deu no entorno dos rios. Como diz Gonçalves (2005), ao afirmar que até a década de 60 foi em torno do rio que se organizou a vida das populações amazônicas, foi consequência da forma de ocupação desde a colonização em que a população se agrupou e criou vilas no entorno dos rios tendo como principais atividades produtivas o extrativismo (drogas do sertão), a pesca. Nesse período os colonizadores viam a Amazônia como uma fonte inesgotável de recursos.

A ocupação em áreas litorâneas favoreceu um intenso desmatamento no entorno das encostas aumentando a erosão e a poluição dos rios. Em consonância ao aumento dos problemas ambientais, muitas políticas ambientais vêm sendo criadas por meio de leis que favoreçam as áreas costeiras e a população ribeirinha que utiliza os recursos naturais para a sua subsistência. Em geral as leis devem envolver a sociedade local que são as maiores beneficiadas desse processo.

A preocupação com as zonas costeiras faz parte de um contexto maior que envolve o estudo sobre as Reservas Extrativistas que de acordo com Cunha e Guerra (2003), partem de uma política socioambiental em que a execução envolve a sociedade civil nos processos de tomada de decisão de políticas, mas também da implementação de programas e projetos com caráter socioambiental. Assim, conclui-se que as Resexs foram criadas com base em várias finalidades, como explica Peres (2011), ao dizer que essas se destinam a garantir terras às famílias que moram mediante o limite do decreto da Resex, concessão do direito real de uso mediante um contrato que é assinado com a entidade representativa de moradores, as atividades produtivas são mantidas, contudo, a população local deve se comprometer com a conservação dos recursos naturais.

De acordo com Peres (2011) a Reserva Extrativista Marinha de Caeté-Taperaçu recebeu este nome porque um dos seus principais limites são os rios Caeté e Taperaçu, possui uma área de 42.068,86 hectares no ambiente de mangues e rios, no qual agrega 45 comunidades representada por oito pólos sendo estes: Cidade,

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Bacuriteua, Acarajó Grande, Ajuruteua, Campo, Tamatateua, Caratateua e Trema. A figura 1 abaixo mostra a delimitação territorial da referida Resex.

Fig. 1 – Reserva Extrativista de Caeté-Taperaçú . Fonte: Ministério do Meio Ambiente – MMA/IBAMA, 2012.

A figura acima delimita a Resex de Caeté-Taperaçu, no qual está sendo banhada pelo Oceano Atlântico e recebe influência do rio Caeté. Sendo que conforme estudos de Gorayeb, Lombardo e Pereira (2009) a bacia hidrográfica do Rio Caeté possui 2.195 km2 de área e extensão do rio principal e, aproximadamente, 149 km das nascentes (município de Bonito) à foz (municípios de Bragança e Augusto Corrêa). O Caeté drena sete municípios: Bonito, Tracuateua, Ourém, Capanema, Santa Luzia do Pará, Bragança e Augusto Corrêa. O limite da Resex Marinha ocupa a área litorânea a Nordeste do município de Tracuateua, ao norte do município de Bragança e a Noroeste do município de Augusto Corrêa.

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3 A RETERRITORIALIZAÇÃO ENQUANTO CONCEITO

O conceito de reterritorialização vem sendo abordado por autores como Milton Santos (1985, 2006), Rogério Haesbaert (2004), mas para compreender esse conceito utilizar-se-á a categoria espaço para ter uma dimensão da espacialidade e a apropriação da sociedade se autoidentificando. Na visão de Santos (1985) o espaço deve sempre ser relacionado com uma totalidade e a própria sociedade que lhe dá vida.

Moraes (1990) apud Corrêa (1995, p.18) ao comentar sobre o espaço retoma o conceito elaborado pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel que no final do século XIX explicava que o espaço é visto de forma indispensável para a vida do homem desenvolvendo assim dois conceitos fundamentais o conceito de território e espaço vital. Sendo que o primeiro está vinculado à apropriação de uma porção do espaço por um determinado grupo e o segundo expressa as necessidades territoriais de uma sociedade em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total de população e dos recursos naturais. No entanto, o conceito de espaço compõem o sistema analítico sobre a Resex Caeté-Taperaçú pelo fato de fomentar valor conceitual indispensável para a compreensão do conceito de reterritorialização.

De acordo com Santos (2006) os espaços sofrem “revalorização” dependendo da intencionalidade e das técnicas e ações utilizadas pelos atores sociais. Diante disso, utilizar-se-á a afirmação do autor para conceituar a categoria reterritorialização e explicar que todo espaço que sofre mudanças dependendo do objetivo, no caso da Resex de Caeté- Taperaçu poderá ser entendido como reterritorialização.

O espaço apresenta certa organização por parte do ser humano e de acordo com Santos (1985) apud Sposito (2004) a organização espacial pode ser compreendida por quatro categorias: forma, função, estrutura e processo. Essas categorias fazem parte do que Santos (1985) argumenta como “categorias do método geográfico” que são detalhadas pela figura 2 a seguir:

Categorias Conceitos

Forma É o aspecto visível, exterior, de um objeto, seja visto isoladamente, seja

considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos, formando um padrão espacial.

Função Implica uma tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto

criado, a forma. Habitar, vivenciar o cotidiano em suas múltiplas dimensões.

Estrutura Diz respeito á natureza social e econômica de uma sociedade em um

dado momento do tempo: é a matriz social onde as formas e funções são criadas e justificadas.

Processo É uma estrutura em seu movimento de transformação.

Figura 2 - Categorias de método geográfico. Fonte: Elaborado a partir de Santos (1985).

Como diz Santos (1985) para compreender o espaço social em qualquer tempo, é fundamental tomar em conjunto a forma, a função e a estrutura e o processo para um conceito único. Mas como pensar essa estrutura de pensamento em relação a Resex Caeté-Taperaçú? É o que se explicará a seguir.

A categoria forma pode ser representada pelo objeto de estudo sendo representada pela Resex de Caeté-Taperaçu localizada no município de Bragança que fica localizada a Nordeste do estado do Pará,

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distante de 210 Km da cidade de Belém (Capital do Estado do Pará). Segundo o censo de 2010 Bragança possui uma população de 19.842 habitantes1 sendo distribuída em áreas urbanas e interioranas, a área de

estudo fica localizada nas margens do rio Caeté e Oceano Atlântico que tem como aspectos físicos áreas estuarinas e ambiente de mangue, sendo banhado pelos rios Caeté e Taperaçú.

Diante disso, tendo como principal fonte de recurso o peixe e o crustáceo devido ao ambiente em que está inserido, a população que vive no entorno desses ambientes utiliza como fonte de renda as atividades pesqueiras e a coleta de crustáceos, a população que sofreu influência a partir da delimitação da Resex passou a se comprometer com práticas conservadoras e para isso passaram a utilizar recursos financeiros que são fornecidos pelo governo federal e também, para evitar a destruição de áreas costeiras que está sendo muito discutida por projetos e programas ambientais devido as diversas formas inapropriadas de uso.

A categoria função se enquadra nas atividades produtivas executadas pela comunidade inserida na Resex, sendo que o foco da pesquisa é o pólo de Ajuruteua. De acordo com Maneschy (1993) o declínio da borracha como principal atividade extrativista na Amazônia influenciou para uma nova conjuntura no setor pesqueiro, principalmente em áreas próximo aos rios e oceanos como é o caso do município de Bragança.

Para Maneschy (1993) as atividades pesqueiras eram bastante rudimentares e artesanais, na década de 70 o governo formulou programas de assistência aos pescadores contribuindo para a dinamização e a valorização do pescado ampliou o ritmo de produção e do comércio no nordeste paraense.

Além disso, a implantação da fábrica de gelo em Bragança contribuiu para agilizar o trabalho dos pescadores que antes precisava salgar o peixe, sendo que para isso eles produziam o sal. Como diz Maneschy (1993) o trabalho de salga e secagem do peixe envolvia o trabalho de diversos membros da família e era penoso como cita um pescador entrevistado pela autora.

A pesca começou de forma artesanal dificultando a produção porque o trabalho era lento e penoso, com o investimento na produção através de créditos governamentais o barco a motor, a rede de pesca feita de naylon, a conservação do peixe através da geleira, motivou os pescadores do município de Bragança, mas também beneficiou o comércio com a venda do pescado para a população local e a maioria do estado do Pará.

Segundo Maneschy (1993, p.38)

Essa inovação tecnológica não alterou, contudo, as formas sociais de produção predominantes na pesca. As condições de troca beneficiavam principalmente os intermediários, que impunham os preços de compra aos pequenos pescadores.

Em relação à categoria estrutura tem-se o entendimento do aspecto social-ambiental da Resex na década de 80. Como diz Guimarães (2005), a construção da PA-458 que liga Bragança a praia de Ajuruteua facilitou a expansão urbana e o crescimento de redes de hotelaria para atender a demanda turística. Todo final de semana chegam ônibus de várias partes do estado do Pará para conhecer a praia de Ajuruteua que possui uma beleza natural com uma vasta extensão de areia ligada ao imenso oceano atlântico.

Observa-se que a comunidade beneficiada pela Resex ainda hoje vive com pouca estrutura em termos de hospital e escolas. A caminho da praia verifica-se que existe somente uma escola municipal de ensino fundamental. Quando nos deslocamos de Bragança a praia de Ajuruteua que tem uma extensão de 36 Km, observa-se vários ecossistemas como manguezal, campos alagados que é reconhecido pelos moradores locais como campo de salina, tem vegetação de mangue e campos naturais com vegetação rasteira (ver figura 3). No trajeto, passasse por seis pontes que atravessam seis furos2, sendo estes os seguintes: Furo Taicí, da Ostra, do

Meio, do Café, Grande e Estiva, dentre estas pontes a única que não é de madeira é a do Furo Grande onde se encontra pescadores naquela área, mas as outras recebem um carro por vez por estarem totalmente deterioradas (ver figura 4).

1 Pessoas de 10 anos ou mais de idade, por estado civil – casado(a) (Pessoas)

2 Para Ab’Saber (2003, p.70) “ furo é um canal fluvial sem correnteza própria, que secciona uma ilha fluvial ou

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Figura 3: Campo de Salina. Fonte: Ellen Silva/2012

Figura 4: Ponte Sobre o Furo da Estiva. Fonte: Ellen Silva/2012

Nota-se que os atributos materiais existentes atualmente não diferem tanto dos que existiam desde a década de 80 quando foi construída a estrada que liga Bragança a praia de Ajuruteua. Diante disso, faz-se menção a categoria estrutura para refletir as possíveis mudanças ocorridas na Resex. Observa-se que foram poucas com relação à infraestrutura nas áreas que recebem influência da Resex percebe-se que a população que mora na Vila dos Pescadores tem poucos recursos com relação a atributos materiais, falta de investimento em escolas, hospitais, na estrada que vai até a Vila dos Pescadores e a falta de saneamento na praia de Ajuruteua

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que estão sendo utilizadas por pousadas, restaurantes e áreas comerciais. Reforçando o que Almeida e Soares (2009, p.90) dizem sobre o crescimento populacional em áreas costeiras:

O modelo de crescimento do Brasil fez com que a ocupação humana se desse exatamente junto a essas áreas, degradando e ameaçando grande parte desses ecossistemas. Mais da metade da população do país vive hoje a uma distância inferior a 60 quilômetros de distância do mar [...]

Para Santos (2006) o conceito de reterritorialização tem muito haver com um espaço que está sendo transformado para uma melhoria social, ou ambiental. Para relacionar a teoria do autor com a realidade da Resex, na década de 80 as atividades produtivas como pesca e a extração de crustáceos no ambiente de mangue já fazia parte da comunidade bragantina, mas essa atividade era manual não ocasionando muito prejuízo. Com a entrada da técnica através de instrumentos de trabalho na pesca industrial que foi instalada no município de Bragança com objetivo de exportar peixe para o estado do Pará e não somente para o município, exigindo uma maior produção ocasionando uma pesca que futuramente tornou-se predatória.

Diante disso, foi criado a Resex que visa à conservação da pesca através de políticas sócio-ambiental, portanto essa lei foi implantada no limite das áreas costeiras e a população local sofreu mudanças dentro deste contexto que é o uso racional dos recursos pesqueiros e do ecossistema de mangue. Como diz Santos (2006, p.104) “o espaço é um sistema de valor que se transforma permanentemente”.Enquanto para Haesbaert (2004) reterritorialização é todo movimento de construção do território, que foi construído devido à reivindicação da população local para uma apropriação mais racional do recurso. Como diz Godelier (1984, p.112) apud Hasbaert (2004, p.56).

Designa-se por território uma porção da natureza e, portanto, do espaço sobre o qual uma determinada sociedade reivindica e garante a todos ou a parte de seus membros direitos estáveis de acesso, de controle e de uso com respeito à totalidade ou parte dos recursos que aí se encontram e que ela deseja e é capaz de explorar.

Essa recriação é o que nos referimos ao conceito de reterritorialização, em que os atores sociais, o espaço natural existentes no limite da Resex criaram ou recriaram estratégias para a manutenção das espécies pesqueiras com o objetivo de manter o recurso já que a pesca industrial que foi implantada em Bragança e os objetos técnicos como a rodovia PA-458 que foi concluída em 1983 ligando a cidade de Bragança e a praia de Ajuruteua, aproximando a comunidade do pólo de Ajuruteua ao centro do município e ao restante do estado do Pará.

Os objetos técnicos que foram implantados como estrada, indústria de pesca, indústria de gelo favoreceram uma maior produção pesqueira, diante disso precisou revalorizar os espaços e os recursos que para a comunidade local tem um valor de uso contribuindo para a manutenção do ecossistema costeiro e de mangue.

Como diz Haesbaert (2004, p.20) “não tem como definir uma comunidade sem ao menos relacionar com o contexto geográfico em que está inserida”, no caso da comunidade do pólo Ajuruteua e outras da circunscrição da Resex foram orientadas a executarem suas práticas para a conservação dos recursos pesqueiros. As praticas que veem se realizando no pólo Ajuruteua estão atendendo a uma lógica global que visa o desenvolvimento sustentável. Este por sua vez, prioriza a criação de políticas ambientais que favoreçam o desenvolvimento econômico juntamente com a manutenção dos recursos. Isso reflete na recriação do espaço para torná-lo atrativo.

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Na batalha para permanecer atrativos, os lugares se utilizam de recursos materiais (como as estruturas e equipamentos), imateriais (como os serviços). E cada lugar busca realçar suas virtudes por meio dos seus símbolos herdados ou recentemente elaborados, de modo a utilizar a imagem do lugar como ímã.

No entanto os atrativos do pólo de Ajuruteua foram os serviços implantados como recursos materiais, tais como, a rodovia que liga o município de Bragança até a praia de Ajuruteua, embora a manutenção das pontes seja precária, o acesso entre a cidade sede facilitou a ida e a vinda até os recursos materiais que estão localizados na feira de Bragança, onde os pescadores vendem os seus excedentes como farinha, legumes, açaí, caranguejo e o peixe na feira, dinamizando a economia da região que é conhecida pela melhor farinha do estado do Pará e um grande potencial pesqueiro.

Diante disso, as redes que foram implantadas como portuária (Ver figura 5) que modificou a Orla de Bragança beneficiando os pescadores que atracam as embarcações para o descanso, privilegiou também o potencial turístico no qual foram incluídos restaurantes e os espaços culturais no entorno da Orla como o teatro da Marujada.

Figura 5: Orla de Bragança. Fonte: Ellen Silva/2012

Comparando as redes que foram implantadas no limite da Resex observa-se que o espaço foi recriado dentro do contexto da conservação dos recursos naturais, mas com relação à infraestrutura, verificou-se que algumas casas ainda são de palafitas, o saneamento básico é precário e para quem trafega entre Bragança e Ajuruteua percebe a presença da Resex por uma placa de identificação (Ver figura 6 e 7).

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Figura 6: Vila dos Pescadores. Fonte: Ellen Silva/2012

Figura 7: Placa indicativa da Resex. Fonte: Ellen Silva/2012

A Vila dos Pescadores pode ser analisada pelas três categorias (formação socioeconômica, modo de produção e espaço) pensadas por Santos (1985) e que são interdependentes. Todo espaço reflete o modo de produção de cada sociedade e a forma em que se apropriou dos recursos, na vila os pescadores detém como modo de produção a atividade extrativista, dando ênfase à pesca já que a Resex está inserido no ambiente marinho. De acordo com Mendoza (1982, p.150) apud Sposito (2004, p.93) o espaço é a projeção da sociedade e somente será explicado se relacionar com a estrutura e o funcionamento da sociedade.

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4 A REGULAMENTAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 21, inciso IX descreve que o ordenamento territorial compete à União que através de planos nacionais e regionais busca o desenvolvimento econômico e social.

No inciso VI e VII se reforça que é de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a proteção do meio ambiente e o combate à poluição de qualquer de suas formas, bem como, a preservação das florestas, fauna e flora.

Ressalta-se que os Estado Federados (Art. 25) organizam-se pelos princípios constitucionais e pelas leis que regem para sua organização. O parágrafo 3º indica que os Estados poderão mediante a criação de lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, visando a integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

De acordo com Almeida e Gomes (2009) o ordenamento territorial é a organização de uma sociedade através de uma dimensão territorial e tudo passa a ser organizado de acordo com o interesse do planejador. A ordem é criar uma política de Estado que direcione a vida das pessoas.

As políticas territoriais vão se direcionar de acordo com as intencionalidades dos atores sociais. A população tradicional que vive dos recursos pesqueiros precisa revalorizar o espaço (o que se denomina reterritorialização) após a implantação da Resex. Segundo Almeida e Gomes (2009, p.162).

A relação sociedade-espaço é uma relação valor-espaço, pois é substantivada pelo trabalho humano. Por isso, a apropriação de recursos do próprio espaço, a construção de formas humanizadas sobre o espaço e a conservação de seus atributos naturais e culturais representa criação de valor.

Nesse contexto se tem a criação das Unidades de Conservação (UC) que na Amazônia, explica Fearnside (2003), representam a preocupação por parte tanto dos governantes, quanto da sociedade, em relação aos impactos apresentados pela intervenção humana na natureza, provocam perda da capacidade produtiva dos ecossistemas e a perda de manutenção da biodiversidade, ciclagem d’água e armazenamento de carbono na Amazônia, além de que as mudanças ambientais atuais e esperadas afetam as populações humanas negativamente na Amazônia e em outros locais.

Em geral, a proposta de se criar uma Unidade de Conservação em determinado Estado, parte de debates de interesses de representantes políticos locais, que entram em uma arena de conflito com outros sujeitos, sejam eles políticos de oposição aos projetos de UC, seja por parte de empresários e produtores que atuam na exploração dos recursos naturais e têm certo poder nas áreas de intervenção do poder federal.

4.1 A GESTÃO DA RESEX PELO ICMBIO

O Instituto foi criado no dia 28 de agosto de 2007 através da lei 11.516 possuindo um vínculo ao Ministério do Meio Ambiente é uma autarquia responsável em executar ações do SNUC, tendo também juntamente com a comunidade que vive na Resex manter os recursos para que seja utilizado de forma sustentável.

Isto é evidente porque nas últimas décadas as áreas costeiras apresentam um acelerado crescimento desordenado, influenciando a população que mora no entorno, para que tenha uma mudança implantou-se a Resex de Caeté-Taperaçu que abrange os limites da costa do nordeste paraense. Como diz Guimarães (2005) algumas cidades costeiras vêm apresentando um rápido crescimento urbano, como a cidade de Bragança, resultado da especulação dos setores imobiliário, turístico, comercial e pesqueiro.

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Diante da execução e fiscalização prevista no plano do ICMBio tem-se em vista a preparação da área que recebeu a Resex, seja através de infraestrutura e investimento na capacitação da população que usufllui do recurso natural para sua subsistência, dentre esses investimentos tem também o aparato tecnológico possibilitando uma valorização da área que compõe a Resex. Como diz Santos (2006) a cada instante um lugar é valorizado ou revalorizado de acordo com a intencionalidade dos atores envolvidos no processo, e será repercutido conforme as exigências globais.

Neste caso, exemplifica-se a Resex Marinha de Caeté-Taperaçu sendo representada pelo ICMBio do município de Bragança, onde visa a colaboração da comunidade para a conservação da área costeira e o ambiente de mangue

5 CONCLUSÕES

O conceito de reterritorialização tem como interpretação um espaço que foi recriado para um determinado objetivo. Diante disso foi realizada uma reflexão sobre o conceito e o espaço em que está inserida a comunidade da Vila dos pescadores e que recebe influência da Resex, para diagnosticar a hipótese de que um espaço que recebe domínio de uma Unidade de Conservação sofrerá mudanças sócio-ambientais de acordo com as metas estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC.

Na pesquisa de campo se observou os recursos materiais existentes na Vila localizada no domínio da Resex sendo estas: escolas, hospitais, estradas, redes de transporte e os meios de comunicação. Percebe-se apenas uma escola de ensino fundamental dificultando a progressão nos estudos já que para cursar o nível médio e superior a comunidade precisa se deslocar até o município de Bragança. Mas para chegar ao centro do município onde se localiza os principais serviços precisa-se percorrer um trajeto que gasta em média uma hora devido à precariedade da estrada que liga Bragança a Vila dos pescadores.

Com relação às redes, os hospitais também se localizam em Bragança demonstrando a insuficiência das unidades de saúde para a demanda populacional, percebe-se que a localidade em que está inserida a Vila recebe diariamente visita constante de turistas que se deslocam até a praia de Ajuruteua para usufruir da beleza oceânica.

Analisando os meios de comunicação como celulares, internet, rádio o uso também é escasso impedindo a população que se localiza na parte mais longínqua do centro da cidade o acesso ás informações. Constata-se que a população que mora na vila tem antena parabólica para conseguir ter acesso às mídias televisivas.

Para discutir o espaço recriado foram abordadas as quatro categorias geográficas apresentadas por Milton Santos, ou seja, forma, função, estrutura e processo. A forma é todos os recursos naturais e as técnicas que foram apropriadas pela comunidade que tem como principal função a atividade pesqueira e a coleta de crustáceos, além dessa atividade a produção extrativista também predomina nesta área. A estrutura é a inserção dessa comunidade na Resex Marinha de Caeté-Taperaçu que teve que se organizar diante da abundância de recursos naturais e a conservação do mesmo.

A categoria processo foi analisada a partir da década de 80, após a implantação da estrada que liga Bragança a Ajuruteua e que passou a receber grande influência do turismo dinamizando a economia com a implantação de certa rede de hotéis e restaurantes localizados no entorno da área costeira.

Diante disso, a Reserva Extrativista faz parte de discussões recentes dentro da política ambiental e tem como discurso a participação da comunidade para a valorização do meio ambiente, mas percebe-se que a inserção da comunidade na afluência da Resex foi valorizada somente nos limites para conhecimento científico, que está sendo muito discutido nas pesquisas acadêmicas, mas para a comunidade e a forma como se observa o espaço foi recriado somente na legislação para evitar o acesso desenfreado do recurso e de alguma maneira esse limite mostra que tem dono e o acesso é restrito para a população local.

Quando se refere à Constituição de 1988 percebe-se a importância em preservar o ambiente para que sustente as espécies naturais em prol do desenvolvimento regional, a disparidade regional possibilitou ações para que houvesse uma organização e diminuísse a diferença em termos socioeconômicos. A regulação através da legislação ordenou o espaço de acordo com os valores e as ideias da população que vive no mesmo.

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Mais perante o avanço da tecnologia e dos organismos internacionais muita das vezes o crescimento econômico passa por cima das ideias preservacionistas e conservacionistas em prol de um crescimento econômico, não respeitando os valores da sociedade que usufrui dos recursos naturais.

Entre as políticas ambientais tem-se a regulatória que é o Sistema Nacional de Unidades de Conservação que possibilita a execução da lei no plano regional, cabendo aos órgãos como ICMBio no investimento e na fiscalização das Unidades de Conservação para que seja atingido no ambiente e a comunidade que sofreu influência da lei.

Nem sempre o as políticas territoriais que envolvem as UCs valoriza o espaço, nota-se a precária infraestrutura no qual se constata na Resex Marinha de Caeté-Taperaçu, com base em pesquisas de campo, que a comunidade da Vila dos Pescadores que representa uma das várias vilas que sofreu influência do limite da Resex não desfruta de boas estradas, baixo investimento em escolas, pouca área de lazer. Representado negativamente o que denominamos de reterritorialziação que é um lugar revalorizado a partir da criação das UCs.

Atualmente, tem-se investido em pesquisas e projetos que em geral ficam somente no papel, não estão alcançando a comunidade que está sendo sugada através de informações para a pesquisa. No entanto, observou-se que as políticas ambientais são criadas. Contudo, as ações públicas necessitam ser mais bem aplicadas para a população, pois o que se observa é a forte atuação do mercado beneficiando os interesses de empresas, visando manter o recurso para beneficiamento dos atores globais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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