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Livro Felipe Miranda 100 Ensaio

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Academic year: 2021

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© Empiricus, 2017 Todos os direitos reservados Renato Torelli | Organização e Edição Gabriela Andrade | Coordenação do Projeto

Amanda Gregório, Daniela Piccoli, | Revisão Eduardo Lima e Juliano Melchior

Marina Fiorese | Diagramação Giovanni Branchini | Capa

Empiricus Research Rua Joaquim Floriano, 913

Itaim Bibi, São Paulo, SP Tel.: (11) 3900-2850 atendimento@empiricus.com.br

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Sumário

Prefácio ...12

Parte 1

“Você precisa ter um método, uma consistência e agir para atendê-la” 1 | Cuidado: somos incapazes e desavisados ...17

2 | Match point ...20

3 | Você também tem fama de eficiente? ...23

4 | Aí são outros 500 ...25

5 | Um novo risco para seus investimentos ...28

6 | Para ter sucesso, você precisa sobreviver ...31

7 | Lembrai-vos da mulher de Ló ...34

8 | Touché ...37

9 | O preconceito que você precisa quebrar imediatamente ao investir ...41

10 | O mínimo que você precisa saber para investir em ações ...44

11 | Iludidos pelo acaso ...49

12 | Crepúsculo dos ídolos ...53

13 | Mama se mama sa mama coosa ...57

14 | É uma questão de princípios ...61

15 | O que você levaria para a Lua? ...65

16 | De onde viemos e para onde, talvez, vamos ...70

17 | A disciplina apolínea para uma criatividade dionisíaca ...75

18 | Como era verde o meu vale ...80

19 | Só pensa na Fama...84

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Parte 2

“As ideias e as crenças é que escolhem as pessoas”

21 | Esotérico ...95

22 | Um sonho de investimento ...98

23 | O mercado é um grande cinema com uma porta estreita ...101

24 | Põe na conta do papa ...104

25 | Investimentos rápidos e mortais ...107

26 | O que Markowitz não entendeu sobre diversificação ...111

27 | Deixem os demônios falarem ...114

28 | Je suis Charlie Munger ...117

29 | Amor fati ...120

30 | Um pequeno deslize e toda a sua felicidade financeira pode ir a zero ...123

31 | Nunca serão; jamais serão ...126

32 | George Soros tem um recado para você ...130

33 | Dor nas costas, no bolso e na Bolsa ...134

34 | O ajuste fiscal, neste aspecto específico, não precisa vir de você ...138

35 | O que eu lhe proponho de Natal ...143

36 | Com quantas ações se faz uma carteira? ...148

37 | O show da virada ...152

38 | O paradoxo do maior retorno com menor risco ...156

39 | Kakistocracia, projeto de desconstrução, cisnes negros (sempre eles), agulhas e bolhas – uau, que sexta-feira! ...161

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Parte 3

“Se meus detratores me conhecessem melhor, me odiariam ainda mais”

41 | Orgulho e preconceito ...171

42 | Alfabetização a fundo ...174

43 | Je suis Charlie, feito para você ...178

44 | A origem de Empiricus ...181

45 | Sobre os ombros de gigantes ...184

46 | Paranoid ...187

47 | Amanhã será um lindo dia para seus investimentos ...190

48 | Por que fundamos a Empiricus? ...194

49 | De aniversário, eu quero que você ganhe dinheiro ...197

50 | Um dia de realização e agradecimento ...200

51 | O caso do pequeno Hans ...204

52 | Sobre os ombros de gigantes, mas com os pés no chão ...209

53 | A fidelidade do dinheiro ...213

54 | Ode ao Zé Comprinha ...217

55 | Capitão fantástico ...220

56 | Até o último homem ...225

57 | Orgulho e preconceito II ...229

58 | Em busca do heroísmo genuíno ...233

59 | Tio Ray coloca os pingos nos is ...237

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Parte 4

“Ele acabou em 2014, mas hoje tem a chance de renascer”

61 | O que ninguém, além de Pedro Cerize, entendeu

sobre a Bolsa brasileira neste momento ...247

62 | Você ainda faz? ...249

63 | O fim de uma vida financeira seca ...252

64 | Você precisa se manter vivo se pretende recomeçar ...255

65 | Para o seu bem, não leia os jornais hoje ...258

66 | A terceira margem do rio dos investimentos ...260

67 | Aposte centavos para ganhar dólares; nunca o contrário ...262

68 | Prenda-me se for capaz ...264

69 | Mais uma dose, é claro que eu tô a fim ...267

70 | No direction home...270

71 | Até onde vai este rali? ...274

72 | Delfim Netto está errado ...277

73 | Proclamação da República do Novo Brasil ...280

74 | É preciso coragem para ter medo ...283

75 | Um mundo Novo Anormal? ...286

76 | O mercado exagerou?...290

77 | Se você ama sua vida, você ama a volatilidade ...293

78 | Um homem pré-histórico na época da pós-verdade ...296

79 | Paciente agora, impaciente forevis ...299

80 | Cuidados necessários em meio a um bull market ...302

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Parte 5

“O que fazemos a partir de agora?”

81 | Você compraria por 57 aquilo que rejeitou a 45? ...307

82 | Um investimento levado a sério ...310

83 | De qual flexibilização monetária vocês estão falando? ...313

84 | Algumas palavras antes de sair de férias ...315

85 | Eu não sei ...318

86 | Bora tomar uma Original? ...321

87 | Algumas palavras sobre Rumo ...326

88 | Você não precisa estar certo; você tem que ganhar dinheiro ...330

89 | Minha deliberação de fim de ano: não ter deliberação de fim de ano ...333

90 | Algumas palavras sobre um bull market...338

91 | A impressão que fica para seu 2017 ...343

92 | Não custa lembrar… ...346

93 | Devagar com o andor porque o Robert é de Barro ...349

94 | Admirável juro novo ...353

95 | Eu escrevo mesmo é para os loucos ...357

96 | Eu devo voltar, a um dígito ...361

97 | E se estivermos errados? ...364

98 | E se… ...369

99 | Meus heróis morreram de overdose ...373

100 | O que fazemos agora? ...376

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I wonder if we

Are not part of someone’s prediction of what The world could be at its very best, if we, In this frigid landscape free of shopping Opportunities, are where the world is headed? Or maybe we are part of the record of what Has already happened, and are a sign of the depths Mark Strand, Dark Harbor, XXXI

Sobre aquilo que não pertence ao tempo

Antes, nada pertencia ao tempo. Não havia vida, eu acho.

Hoje, pertence ao tempo a maioria das coisas que importam. O tempo mata e o tempo faz nascer. O tempo investe. O tempo perde. O tempo ganha.

Noutro dia, talvez há mais de um ano, lembro e não me lembro, deparei-me com conceitos díspares, e que assim podem ser contados como um e dois.

O primeiro deles aplica-se àquilo que chamamos de temporal, fugit

inreparabile tempus. Refiro-me ao fugaz, ao passageiro. Começa e

en-tão acaba. Talvez não tenha meio, pois logo transforma o meio em fim. O segundo é o secular, que dura há muitos cem anos, é muito an-tigo. Não se dissipa, nem está sujeito a qualquer circunstância. Tudo é indiviso para ele. Onde quer que se inicie, lá retornará mais uma vez.

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Esta é parte da minha rotina. Dia útil, entre 9h30 e 10h, recebo em minha caixa de entrada um e-mail, escrito por alguém que se senta à minha frente no escritório. Um amigo e sócio.

Demorei para me acostumar com isso. A pessoa senta à sua frente, estudou com você, fundou uma empresa com você e, na hora de ende-reçar-lhe a palavra, envia um e-mail.

O e-mail chega com o assunto “Empiricus - Daily PRO”. Exclusivo para assinantes pagos. Favor não encaminhar.

Salvo exceções de calendário, Felipe Miranda é o autor do texto ini-cial deste e-mail diário. Conte cem repetições e você terá cem ensaios.

Então pude compreender por que nossa comunicação se dá dessa forma aparentemente impessoal a cada manhã.

O Felipe que eu conheço há mais de dez anos não é diferente do estrategista que você conhece.

É o mesmo Felipe.

Ele não escreve para mim ou para você; escreve o que pensa, o que lhe vem à cabeça.

Nada é diviso para ele.

Sobre o que versa, então, este uno Daily PRO?

Eu sabia, desde sempre. Soube no início. Só tinha receio de expor. Afinal, fazemos análises de investimentos. Supostamente, atemo-nos à economia e às finanças. Não haveria nada além das cifras no objeto social da Empiricus.

Mas quando você sabe e não fala, acontece que outro fala no seu lugar. Neste caso, o outro é o leitor.

No momento em que se completam estes cem ensaios, o Daily PRO é lido por 150 mil pessoas, acrescidas do ignorado favor de não enca-minhar. Eu mesmo, movido pelo desejo de compartilhar o que instiga, ignorei vez ou outra, admito.

Dentre 150 mil pessoas ou mais, as probabilidades se somam. Uma delas, mesmo que aleatoriamente, acabará escrevendo o que escreveu o leitor Luis Gustavo:

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Suas analogias são sempre pertinentes e me deixam instigado a pensar “De que forma ele vai me fazer refletir hoje?”, seja pelo conteúdo em si ou pelo banho de filosofia por trás. Te vejo como um socrático moderno. Não estimulando a resposta e sim o questionar. A resposta é um ponto final que poderia ter sido tão melhor trabalhada se fossem re-ticências... Parabéns pelo excelente trabalho e obrigado por alimentar meu lado filosófico carente de discussão.

Ou, nem tão aleatório, aquilo que disse o leitor Diego:

Escrevo para dizer o quão amarradão eu fico quando leio sua in-trodução no Daily Pro. A cada dia, um tópico sorrateiro e despretensio-so (que na real imagino ter um Q de pretensão maior do que supomos), que vai dosando de pouco a pouco princípios sólidos de investimentos.

E o que falou Francisco, de forma quase determinística:

Além da qualidade das análises que têm me trazido bons negócios, é uma delícia ler os teus relatórios diariamente. Parece que você está sentado à minha frente e estamos conversando sobre os assuntos que você comenta. Realmente vocês me trouxeram de volta o prazer de ope-rar na Bolsa. Sucesso!

Parece mesmo que o Felipe está aqui, sentado à sua frente. Você encara o rosto dele, dá bom dia, abre o livro, vai lendo o Pre-fácio e de repente surgem cinco Felipes:

- Felipe 1: Você precisa ter um método, uma consciência e agir para atendê-la (sobre método e estratégias financeiras). - Felipe 2: As ideias e as crenças é que escolhem as pessoas

(sobre ideias de grandes pensadores – como Buffett, Taleb, Kahneman – aplicadas a investimentos).

- Felipe 3: Se meus detratores me conhecessem melhor, me odiariam ainda mais (textos íntimos sobre a história da

Empiricus e dele mesmo).

- Felipe 4: Ele acabou em 2014, mas hoje tem a chance de renascer (sobre Brasil e mundo, e como extrair insights

perenes de conjunturas erráticas).

- Felipe 5: O que fazemos a partir de agora?

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Parece óbvio, a esta altura, que os diferentes Felipes se misturam num só. São todos idealistas, românticos. E ultrarrealistas, céticos. De vez em quando engraçados. De vez em quando chatos. Todas as cousas que há neste mundo, e neste mundo financeiro.

Assim, a solução do Daily PRO é a única para o problema de escrever uma mesma pessoa, todo santo dia, e nunca enjoar. Por con-seguinte, nunca ser enjoado.

E olha que eu, financista que sou, enjoo das finanças.

Diziam os escritores Bioy e Borges nos seus Seis Problemas para D. Isidro Parodi:

“Li os artiguinhos do Molinari. O rapaz é habilidoso com a pena, mas tanta literatura e tanto retrato acabam enjoando. Por que não me conta as coisas do seu jeito, sem nenhuma arte? Eu gosto que me falem claramente.”

Houve um tempo em que os economistas gostavam de falar claramente.

A Economia nasceu como uma extensão social da Filosofia e da Retórica. Adam Smith, da mão invisível, era nitidamente um filóso-fo. Além da Riqueza das Nações, ele escreveu outro livro brilhante:

A Teoria dos Sentimentos Morais.

Essa tradição, infelizmente, foi rompida. E agora briga para ser retomada.

Teimo em querer que a Empiricus compre essa briga, liderada por economistas com sentimentos morais. André Lara Resende, Pér-sio Arida, Eduardo Giannetti e Gustavo Franco são exemplos próxi-mos e inspiradores. Não penso menos dos e-mails do Felipe.

À Economia, diríamos simplesmente: torna-te quem tu és. Onde quer que se inicie, lá retornará mais uma vez.

Rodolfo Amstalden março de 2017

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Parte 1

“Você precisa ter um método, uma

consistência e agir para atendê-la”

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Cuidado: somosinCapazesedesavisados 03/01/17

Comecei em Bolsa seguindo a dica esperta de um corretor de Bolsa: PLIM4, a famigerada Globo Nabo. Muito ape-gado aos nomes e às tradições, encontrei o único destino possível: nabo. Alguns diriam que foi a pior forma possível de começar. Eu diria que foi a melhor.

Estava prestes a completar 14 anos e aquilo foi meu MBA precoce e acelerado. Não haveria formas melhores de aprender sobre a dinâmica da Bolsa do que aquela. Aos 15 anos, tinha espinhas, calos nas mãos e um diploma informal de pós-graduação.

Primeira lição: você não pergunta à vendedora da loja de roupa se aquela camiseta lhe caiu bem. A raposa no ga-linheiro tem seus próprios incentivos. Perguntar ao corretor de renda variável se você deve negociar ações desafia um dos preceitos básicos da teoria econômica de que as pessoas agem motivadas pelo autointeresse.

Segunda lição: o mundo não está nem aí para suas de-cisões de investimento. Você pode gostar de uma ação, mas ela não tem sentimento algum por você. Não é porque você comprou uma ação ruim que ela vai começar a subir. Da mes-ma formes-ma, o planeta Terra não tem absolutamente nenhum comprometimento com seu preço médio nem com sua neces-sidade de resgatar o dinheiro para comprar um apartamento no mês de outubro. Esqueça seu preço de entrada e foque no que pode ser daqui para frente. Se há alternativas melhores para recuperar o dinheiro, assuma o prejuízo e parta para ou-tra. E esteja em Bolsa somente com o capital que você não vai precisar num prazo predeterminado – o timing das ações pertence a elas mesmas, e não às suas necessidades pessoais.

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Terceira e mais importante: por mais inteligente e preparado que seja, você não dispõe de habilidades especiais. Reconheça suas próprias limitações e desencane de procurar a dica esperta do momento, aquela pronta para disparar no exato momento subsequente à sua decisão de compra. Um pouco de humildade epistemológica não faz mal a ninguém.

O último aprendizado é, simultaneamente, o mais relevante e o mais difícil. Ele desafia a tendência humana de superestimar a própria capacidade. No clássico estudo Unskilled and Unaware of It: How

Di-fficulties in Reconizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Sel-f-Assessments, Justin Kruger e David Dunning, da Cornell University,

mostram como as pessoas nutrem avaliações superestimadas sobre suas próprias competências sociais e intelectuais. A inteligência e a auto-crítica vêm do mesmo lugar – talvez sejam a mesma coisa. É quase tautológico: se uma pessoa é incompetente em produzir julgamentos apropriados sobre a realidade, ela também tende a sê-lo sobre si mesma.

Os resultados do estudo encontram paralelo nas Finanças Com-portamentais e seu viés cognitivo batizado de overconfidence, a ten-dência humana de nutrir confiança excessiva sobre si, suas convicções e projeções.

Se perguntarmos a uma grande amostra de pessoas se acreditam possuírem habilidades de direção acima da média, muito mais da me-tade responderá que, certamente, está no quarto quartil da distribuição de motoristas, o que, obviamente, é uma impossibilidade lógica. Ana-logamente, quando perguntados, médicos acreditam poder diagnosticar uma pneumonia com 90% de segurança, quando, na verdade, pesquisas sugerem uma efetividade de 50%.

Breve anedota pessoal, 100% verídica: se você perguntar para só-cios e funcionários da Empiricus sobre sua contribuição individual para o resultado da companhia, suspeito que a soma total ultrapasse os 300%.

Se você pretende ter um bom ano em seus investimentos ou, mais do que isso, décadas de bons investimentos, reconheça a própria limitação. Diversificação, seguros contra as próprias convicções, ciência de que

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você vai errar, e portanto não pode estar numa estratégia que lhe tira do jogo caso não dê certo, e perseguição por boas assimetrias são os remédios contra o excesso de confiança. Tudo e só isso.

Eu, você e a torcida do Corinthians somos piores do que nós mes-mos pensames-mos. É triste, mas é a vida.

Enquanto digerimos a dura realidade, podemos nos divertir com mercados um pouco mais animados nesta terça-feira. Com o retorno das Bolsas de NY e Londres aos negócios, en-contramos um pouco mais de liquidez nas praças financeiras, após certo tédio na véspera. Crescimento maior do que o esperado da atividade industrial na China, medido pelo Cai-xin, traz otimismo para as Bolsas. Indicador apontou 51,9 pontos, em sua sexta alta segui-da, contra expectativa de 50,9 pontos.

Em paralelo, alta do petróleo também valoriza ações do setor. Commodity atinge maior marca em 18 meses com cortes na produção do Kuwait e de Oman reforçando otimismo. Internamente, Rodrigo Maia projetando aprovação da reforma da Previdência e consultoria Arko soltando estudo que sugere também o mesmo caminho alimentam clima favorável. Agenda doméstica não traz indicadores relevantes.

Ponderando as notícias positivas, atentado na Turquia traz vigorosa desvalorização da lira e alguma tensão sobre moedas emergentes, mas nada muito contundente.

Nos EUA, temos referências de produção industrial e investimentos em construção. Na Europa, saem inflação ao consumidor alemão e dados da indústria no Reino Unido. Ibovespa Futuro abre em alta de 0,9%, enquanto dólar oscila em torno da estabilidade atento ao desempenho de outras moedas emergentes. Juros futuros sobem com ajuste após queda vigorosa na véspera.

Encerro esta introdução com um convite do Rodolfo para todos aqueles que querem melhorar seus investimentos em 2017 e muito além, através de seu Programa de

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matChpoint 10/08/16

Por ser de lá, do sertão, lá do cerrado, da caatinga do roçado, eu quase não saio, eu quase não tenho amigos. Tenho uma alma meio caipira que me faz duvidar de certas habilidades especiais. Eu quase nada não sei, mas desconfio de muita coisa, nos ensinara a sabedoria de Riobaldo.

Na cidade da minha mãe, o único superpoder existente era o de uma bananeira mal-assombrada que atacava pedra nas pessoas que por ela passavam à meia-noite. Eu tinha um medo danado de caminhar por lá. Um dia passou, porque eu descobri que era meu primo Regis quem ia na minha frente, se escondia atrás das folhas e ficava me atirando projéteis.

Vi que assombração mesmo não existia. Fiquei aliviado. Mas veio com uma contrapartida ruim: se não há metafísica do mal, também não há do bem. Meus super-heróis morreram de overdose de ceticismo.

A verdade é que nós, analistas e gestores financeiros, podemos fa-zer muito menos por você do que se supõe. Não há superpoderes por aí nem habilidades especiais.

Sabe, eu acho que deveríamos aproveitar o clima de Olimpíadas e fazer constar na prova do CFP (Certified Financial Planner) a exigência de uma redação sobre o filme Match point, do Woody Allen. Há mo-mentos no jogo de tênis em que a bolinha bate na rede, ameaça cair de um lado e morre no outro, definindo o vencedor. O sujeito arremessa a aliança em direção ao rio, ela bate na parte superior do apoio da ponte e volta para o chão. Um mendigo acha a tal da aliança, que viria a salvar o protagonista depois.

Suponha, apenas hipoteticamente, um gestor renomado e, sim, muito competente e brilhante, com uma posição megapessimista em Brasil às vésperas da eleição de 2014. O que teria lhe acontecido se Aécio tivesse ganhado? Foi por pouco, não é mesmo? O histórico de contas não narra o que poderia ter sido; apenas o que foi, de fato. O destino esteve ali, decidindo em seu favor mais uma vez.

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Estamos todos nós submetidos às intempéries do acaso. E somos iludidos por ele, confundindo resultados aleatórios com outros gerados pela efetiva competência.

Competência explica parte do resultado. Mas uma outra, muito im-portante, é determinada simplesmente pela deusa Fortuna. Num am-biente assim, buscar assimetrias convidativas (perco pouco se estiver errado; ganho muito se certo) é o máximo que nos cabe. Nada mais. O resto é charlatanismo. Alfa, Markowitz, Sharpe, VaR, redes neurais, Black and Scholes, DCF, Opcões reais... pode jogar tudo fora.

Vamos errar várias vezes. Acertar umas outras. Vida segue. Se os perfis das apostas oferecerem uma assimetria favorável, os resultados serão positivos no longo prazo. Já basta.

Este é meu dia a dia: procurar por assimetrias. Foi exatamente isso que fiz, por exemplo, quando recomendei put (opção de venda) de dólar com strike a R$ 2,80, no último relatório do Palavra do Estrategista. Obviamente, fui chamado de louco – confesso gostar disso. A compra de pó, sempre com pouco dinheiro e a ciência de que aquilo é pra per-der, oferece essas assimetrias legais.

Fui informado pelas duas maiores corretoras do Brasil que nunca houve uma demanda tão grande de pessoa física por opções fora do dinheiro. Achei divertido. Primeiro porque denota acesso do investidor comum a estratégias previamente restritas aos institucionais. Mas ainda mais legal é que o negócio está voando. E deve ir mais.

Dólar volta a apresentar fraqueza pelo mundo hoje, com interpretação de que Fed deverá demorar mais para subir os juros diante crescimento desigual da economia mundial. Por aqui, segundo matéria do respeitado Vicente Nunes, governo já vê dólar a R$ 3,00 no curto prazo. Onde vai parar essa querida put?

Mercados de ações operam sem tendência definida nesta manhã. Em Wall Street, parece faltar catalisadores para empurrar bolsas em direção a novos recordes. Na Europa, índices de ações caem após França divulgar queda inesperada da produção industrial. Petróleo tem segunda baixa com alta nos estoques atribuída à API e produção recorde na Arábia Saudita em julho.

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Por aqui, mercado se divide entre espera política e inflação acima do esperado. Votação do parecer do impeachment com 59 votos a favor e 21 contra mostra força de Temer e consolida já esperado prognóstico em favor do afastamento definitivo, mostrando que denúncias mais recentes da Odebrecht não abalaram apoio ao presidente em exercício. Na Câmara, houve pequena derrota na votação da renegociação da dívida com estados, retirando proibição de reajuste ao funcionalismo, mas era uma questão lateral. Dentre os indicadores econômicos estritos, IPCA é destaque do dia. Inflação oficial marcou 0,52% em julho, acima do 0,45% esperado. IGP-M permaneceu estável na prévia mensal, enquanto IPC-Fipe subiu 0,24%.

Ibovespa Futuro abre em alta de 0,1%, mais influenciado por cena política. Juros futuros avançam com IPCA acima do esperado. Dólar cai 0,7%, acompanhando exterior.

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voCêtambémtemfamadeefiCiente? 12/08/16

Eugene Fama conversa com Richard Thaler. Não é propriamente um ambiente do consenso.

O primeiro é talvez a maior representação da hipótese de mer-cados eficientes. Para ele, toda a informação disponível está devi-damente incorporada ao preço dos ativos. Assim, todos os retornos, ajustados por custos e riscos, convergem para o retorno de mercado. A nós, reles mortais, não restaria muita coisa além de comprar fun-dos de índice.

O segundo é um dos expoentes da economia comportamental, tradicionalmente associada a críticas aos mercados eficientes e apon-tadora de distorções dos preços dos ativos frente ao apreçamento con-siderado alinhado à perfeita racionalidade dos agentes econômicos e à informação completa.

Thaler apresenta uma série de exemplos supostamente capazes de ferir a eficiência dos mercados. No mais curioso, fala do fundo Cuba. Sem nenhum ativo, relação ou mínima simpatia pelo país homônimo, suas ações em Bolsa dispararam (coisa de 100%) quando da retirada de sanções à ilha pelo presidente americano Barack Obama.

Thaler pergunta a Fama: Isso fere os mercados eficientes, não? Fama: Ora, isso é uma anedota. Não é um padrão.

Thaler: Sim, mas você sabe que eu tenho uma relação inter-minável delas.

Fama: Claro. Não passa disso. Uma relação interminável de anedotas.

Quem está certo? Eu tenho minha opinião: os dois. Essa é uma coi-sa que não fecha direito na minha cabeça, mas é a mais pura verdade: eles discordam frontalmente, mas ambos estão certos.

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100% eficientes. Essa é apenas uma hipótese do modelo clássico. Como tal, apresenta uma versão simplificadora da realidade. Nem mesmo Eu-gene Fama discordaria disso. As questões mesmo são: o quão inefi-cientes são os mercados? Qual teoria, igualmente geral e com poder preditivo superior, pode ser formulada?

Não temos resposta. Quem sabe um dia...

Para quem quiser acompanhar toda a conversa (verdadeira aula de finanças), aqui está o link em inglês, desculpe: (http://bit.ly/2aFt0IS).

Mercados começam a sexta-feira também sem saber ao certo quem está certo. Seriam os ursos (pessimistas) ou os touros (otimistas)? Após recordes históricos para Wall Street na véspera, futuros apontam para relativa estabilidade, à espera de novos drivers.

Agenda é importante, com vendas ao varejo, sentimento do consumidor medido pela uni-versidade de Michigan e inflação ao produtor norte-americano. Depois da força dos resul-tados de Macy’s ontem, JC Penney atrai atenções hoje.

Metais caem após dados abaixo do esperado na China anunciados nessa noite, tanto produ-ção industrial (alta de +6,0%, contra estimativa de +6,2%) quanto vendas ao varejo (+10,2% frente a +10,5% aguardados). Petróleo realiza lucros na esteira da disparada da véspera. Por aqui, Ibovespa Futuro também oscila perto do zero a zero, monitorando exterior e interpretando resultados de Petrobras. Dólar sobe contra o real, em desempenho alinhado ao mercado internacional e reagindo a mais uma intervenção do BC no câmbio, com 15 mil contratos de swap. Michel Temer deu entrevista ao Valor sugerindo que o patamar do câmbio já incomoda. Perdeu uma ótima oportunidade de dar a resposta protocolar de que o regime de câmbio é flutuante e o BC atua apenas para suavizar a volatilidade. Num mo-mento em que a autoridade monetária intensifica suas intervenções, certamente não ajuda e pode suscitar ventilações de ingerência.

Juros futuros, por sua vez, iniciam sessão em leve alta, empurrados pelo câmbio e pelo IBC-Br ligeiramente acima das projeções (+0,23%, contra +0,18%). Nada muito assusta-dor, porém. Está tudo sob controle. Sabe-se lá até quando.

Diante dessa oportunidade única de investimentos em ativos de risco brasileiros, numa ja-nela que não se abria há mais de sete anos (pelo menos), encerraremos hoje, nas próximas horas, as adesões para o Supercombo da Multiplicação do Capital. O momento é agora.

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aísãooutros 500 06/09/16

Ainda em janeiro, entre uma taça e outra, ouvi de um amigo gestor: “É impossível a Bolsa – como metonímia do Ibovespa, claro – chegar aos 60 mil pontos neste ano.” Quando ouço palavras como “impossível”, “certeza”, “topo”, “fundo”, “nunca”, “sempre”, sinto-me como uma mula velha e teimosa, que instantaneamente coloca suas orelhas para a frente e vê seus olhos abrirem e brilharem em sinal de alerta: Bolsa serve mesmo é pra queimar a nossa língua.

Tudo bem. Você pode argumentar que ainda não chegamos lá – nos faltam outros 500 pontos. Eu não vou brigar por isso. Mas que estamos pertinho, ah, isso estamos...

Há uma heurística útil para atuar em Bolsa: questione a si mesmo se a maior probabilidade para as ações é de dobrar ou cair pela metade. Pode ser um dos passos do seu checklist antes de decidir comprar ou não. Os movimentos nos mercados de capitais são sempre maiores do que nossa mente controladora e linear consegue antecipar.

Eu, pessoalmente, se tivesse de responder à questão acima com uma arma na cabeça (o Sérgio Oba adora essa expressão), diria que a Bolsa está mais para dobrar do que para cair pela metade nos próxi-mos anos. Ontem li, porém, que um dos grandes gestores brasileiros está ligeiramente vendido em Bolsa. Seu argumento é, principalmen-te, de que há um dinheiro destinado à Bolsa brasileira maior do que ativos disponíveis, “o que faz com que o preço nunca corrija para um valor correto.”

Eu admiro o sujeito fortemente. Considero o cara brilhante e, jul-gamentos pessoais à parte, seu track record fala por si só. E, sim, ele tem mais dinheiro do que eu, o que sempre torna as coisas um pouco mais difíceis pro meu lado. Mas deixe-me resgatar brevemente as lições mais fundamentais da teoria de política monetária – além de velhas e teimosas, as mulas também são chatas.

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Numa economia, há uma certa quantidade Q de ativos. E existe também uma quantidade M de moeda. Troca-se, claro, moeda por ati-vos (como em qualquer outra economia usa-se o dinheiro para comprar bens, sejam eles físicos ou financeiros). Em termos agregados, a razão pela qual se troca a moeda por ativos é o nível geral de preços, que cha-maremos de P. Resumindo, M/Q = P.

Se, de repente, dobra-se a quantidade de moeda para 2M, então, mantida constante a quantidade de ativos, deverá haver necessariamen-te uma multiplicação por 2 no nível geral de preços. Veja: esse é o novo equilíbrio. Para você antever uma volta do nível geral de preços para o patamar original, deve prever uma multiplicação da oferta de ativos dessa economia, uma redução na oferta de moeda ou uma combinação dessas coisas.

Da teoria à prática: falar que a Bolsa vai cair porque há um excesso relativo de moeda (liquidez internacional) para o nível de ativos existen-te é um argumento falacioso. O nível de preços é mais alto justamenexisten-te por conta do tamanho da liquidez existente – e esse é o novo equilíbrio, contanto que você conte com uma redução da liquidez internacional ou com um aumento dos IPOs à frente. Mas, então, sua questão é com o prognóstico de redução de liquidez e/ou com a dificuldade de absorção dos novos IPOs, e não com o nível de preços em si.

O argumento não tem consistência interna. Isso, obviamente, nada tem a ver com a Bolsa subir ou cair. Aí, de novo, são outros 500. Mas que o argumento é falacioso, ah, isso é...

Veja: política monetária não é uma questão teórica. Hoje mesmo ela está no centro das atenções e guia os negócios por todo o mundo. Bolsas, em geral, apresentam valorização nesta manhã, empurradas justamente pela perspectiva de que a ampliação da liquidez in-ternacional poderá continuar valorizando o preço dos ativos.

Bolsas de Wall Street voltam do feriado sob expectativa de avanço, ainda refletindo

Em-ployment Report de sexta-feira, que afastou possibilidade de imediato aperto monetário.

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ou estender seu prazo de vigência, na reunião de quinta-feira. Ainda por lá, PIB da Zona do Euro cresceu 0,3%, em linha com projeções.

Voltando à política monetária internacional, Turquia reduziu depósitos compulsórios, em mais um esforço em prol da liquidez, dessa vez nos mercados emergentes.

Por aqui, investidores se debruçam sobre a ata do Copom, considerada um pouco mais dura do que os comentários que acompanharam a decisão sobre a manutenção da Selic (nada, porém, que altere a convicção certeira na Oportunidade da Década na Renda Fixa). Completam a agenda de hoje leitura final do PMI Markit e ISM, ambos nos EUA. No âmbito local, temos safra agrícola e dados da Anfavea.

Acompanhando otimismo externo e bom humor com emergentes, Ibovespa Futuro aponta leve alta de 0,1% e dólar cai 0,5% contra o real. Juros futuros monitoram comportamento do câmbio e abrem em ligeira baixa.

Se você acha que a liquidez internacional continuará guiando o preço dos ativos e, em especial, está atrás de ativos abaixo do radar, com um pouco mais de risco, mas com potencial de multiplicação do capital, então eu convido à leitura do Empiricus Insider, feito pelo preciso e detalhista Carlos Herrera.

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umnovorisCoparaseusinvestimentos 14/10/16

Imagine que você tenha dois fundos à disposição. Ambos têm o mesmo perfil de retornos ao longo do tempo. O primeiro, porém, goza de menor volatilidade quando comparado ao segundo. Qual você escolhe?

Ah, essa é fácil. Segundo o instrumental clássico de gestão, o pri-meiro fundo seria mais eficiente do que o segundo. Isso porque volati-lidade é tomada como proxy de risco. Ou seja, para um mesmo retorno e menor risco, esse fundo deve ser preferido.

Por desenhar essa tal “fronteira eficiente das carteiras”, ou seja, aquela que minimiza o risco (tomado como volatilidade) do portfólio para cada nível de retorno esperado, Harry Markowitz ganhou prêmio Nobel de Economia.

Mas já falamos do sujeito nesta semana. Vamos olhar sob outra ótica. Sem querer tornar a discussão excessivamente técnica, a Teoria das Decisões Financeiras (tradução mais corriqueira, embora possivel-mente imprecisa, para Financial Economics) introduziu os conceitos de Mean Preserving Spread (preservação em torno da média) e Do-minância Estocástica, em suas versões de primeira e segunda ordem, para resolver esse tipo de problema. Grosso modo, a ideia aqui é: se você tem uma maior medida de dispersão para uma mesma média de retorno, então você tem maior risco. Assim, esse fundo seria dominado estocasticamente pelo outro.

Em bom português, voltamos a escolher o primeiro fundo. Isso é o que diz também o senso comum. Se as cotas de um fundo pulam de-mais, ele deve ser preterido a outro. Gostamos de retorno; não gostamos de volatilidade, certo?

Vai, Felipe, ser gauche na vida. Para desafiar a tradição, eu discordo frontalmente dessa decisão. Se eu fosse escolher, treinado disciplinada-mente no talebianismo, pegaria o segundo fundo.

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Explico. Volatilidade não é uma medida adequada de risco. Ao con-trário, há várias situações em que o mais volátil pode representar, inclu-sive, algo mais seguro.

Ao suprimir a volatilidade, o sujeito reduz o risco associado a va-riações em torno da média. Basicamente, ele está controlando adequa-damente os riscos conhecidos. Em contrapartida, ao fazê-lo ele empurra os riscos para a cauda da distribuição, estando provavelmente mais ex-posto a eventos raros.

Breve comentário àqueles mais familiarizados com a linguagem de Nassim Taleb (o leitor não técnico não deve se preocupar com isto): é como se você minimizasse seu risco num cenário mediocristão, às cus-tas de um aumento do risco no extremistão.

O grande problema é que, normalmente, podemos lidar melhor com os riscos conhecidos do que com os desconhecidos. São esses últimos que nos matam na maior parte das vezes, pois estamos despreparados para lidar com eles.

De uma forma mais intuitiva, um fundo que convive com maior volatilidade frequentemente está mais acostumado a lidar com choques. As chances de que ele consiga enfrentar, no futuro, ao menos um cho-que tão grande quanto o anterior parecem maiores do cho-que acho-quele outro sem exposição à volatilidade.

Há algo mais profundo do que parece aqui. Se um fundo com mes-mo retorno e maior volatilidade é superior a outro, então basicamente toda a teoria de finanças precisa ser refeita. Mas não é só uma curiosi-dade acadêmica. Simplesmente toda a indústria de alocação de recur-sos e de fundos de investimento, desenvolvida no arcabouço média e variância e alheia às nuances da curtose (grosso modo, os impactos dos eventos raros), precisa ser refundada. Esqueça VaR, índice de Sharpe, fronteira eficiente e qualquer outra coisa parecida.

Risco não é volatilidade, caracterizada pelo desvio-padrão dos retor-nos. Não há uma medida estatística capaz de representá-lo. O quanto você pode perder não guarda relação com o quanto você perdeu no passado.

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Por fim, não se esqueça: se você quiser apresentar retornos maiores no longo prazo, terá de se expor à maior volatilidade e a perdas tempo-rárias. Assista ao filme A Grande Aposta. Veja como e por quanto tem-po sofreram os gestores que atem-postaram contra o mercado imobiliário norte-americano antes do estouro da crise de 2007/08. A recompensa vem a longo prazo – mas é provável que você terá de sangrar no meio do caminho.

Mas talvez esse não seja assunto para uma sexta-feira. Não tenho vocação para vampiro. Prefiro o vinho ao sangue para hoje. Baco está motivado com mais um dia de otimismo nos mercados em âmbito global.

Inflação mais forte na China alimenta confiança em estabilização da economia, após dados recentes da balança comercial, abaixo das expectativas, suscitarem preocupação com ritmo de crescimento. Preços ao produtor abandonaram longa deflação e subiram 0,1%. Inflação ao consumidor veio em 1,9%, acima das projeções de 1,7%. Percepção de aquecimento da economia chinesa impulsiona commodities nesta manhã.

Agenda é cheia lá fora. Destaque para discurso de Janet Yellen à tarde, muito aguardado por possíveis sinalizações sobre o futuro da política monetária norte-americana. Vendas ao varejo, sentimento do consumidor e estoques das empresas completam referências macro nos EUA. Temporada de resultados corporativos ganha corpo com balanços de JP Morgan, Citi e Wells Fargo.

Por aqui, não há indicadores relevantes previstos. Atenção especial para redução dos pre-ços da gasolina e do diesel, com impacto favorável sobre juros futuros, num cenário rigo-rosamente alinhado àquele traçado na Oportunidade da Década na Renda Fixa. Acompanhando bom humor externo e interpretação de que juros podem cair com mais intensidade a partir do reajuste para baixo na gasolina, Ibovespa Futuro abre em alta de 0,80%. Dólar oscila em torno da estabilidade contra o real e juros futuros cedem. Mais um dia positivo, portanto. Mas não nos iludamos: essa calmaria não vai durar para sempre. Jim Rickards apresenta hoje no Currency Wars uma forma muito interessante de se apostar no potencial aumento da volatilidade à frente.

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paratersuCesso, voCêpreCisasobreviver 27/10/16

Outra vez a mesma história, volta sempre a acontecer. Vai passar de hora em hora, depois que ligarem a TV. Eu acho que sei todas as músi-cas do Lulu Santos de cor. Lá em músi-casa era assim: tinha só três CDs, que se alternavam repetidamente no rádio ao longo do final de semana. Na verdade, havia mais de três fisicamente, mas a sensação auditiva era de que os demais não existiam, pois continuavam dentro do armário sob a televisão da sala.

Eram a trilha sonora do filme O Guarda-Costas, com a Whitney Houston, aquele preto com uma risca vermelha de greatest hits do Que-en, todo vestido com jaqueta de couro, e um coloridão do Lulu.

Sim, era praticamente um festival brega. Mas não há como negar, exis-te uma certa sabedoria popular em Aquilo, a faixa cuja letra abre esexis-te exis-texto. Não tem vacilo nem engano que estrague. Toda vez a mesma his-tória. Basta uma penny stock, um mico qualquer, aquela ação popular nos fóruns disparar algumas dezenas, às vezes centenas, de percen-tuais para sermos imediatamente cobrados: “como assim vocês não recomendaram Telebras? Está subindo mais de 100% hoje. Vocês são profissionais ou não?”

Foi assim agora, claro. Nada diferente do usual. E fora o mesmo com Mundial e sua bolha do alicate, Bombril, Manguinhos, por aí vai. Daí o tempo passa e a poupança Bamerindus – já há bastante tempo – não continua mais numa boa.

A tal ação, desprovida de fundamento e estimulada por uma espe-culação qualquer, entrega todos os ganhos à frente e a mesma pessoa que havia criticado passa a se sentir aliviada.

Mas meu ponto nem é esse. Pretendo mostrar que, mesmo que tais ganhos não fossem apagados por uma súbita e posterior queda daquela ação, faria sentido não participar do tal movimento de valorização.

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A ciência evolui a partir de um negócio chamado teste de hipótese – qualquer pessoa que tenha feito um curso introdutório de Estatística sabe o que é. Dentro desse negócio, existe o Erro Tipo I e o Erro Tipo II. O segundo consiste em tomar como falsa uma hipótese verdadeira. O primeiro é tomar verdadeira uma hipótese falsa.

Assim como em qualquer outro fenômeno social, na construção de patrimônio é muito menos grave incorrer no Erro Tipo II do que no Erro Tipo I. É melhor você não comprar uma ação e ela subir (isso é o Erro Tipo II, no caso), do que comprar uma ação e ela cair (Erro Tipo I).

Deixar de ganhar e perder são coisas bem diferentes. Se você tiver R$ 500 mil e minhas recomendações lhe fizerem passar a ter R$ 1 mi-lhão, não será, em módulo, o mesmo efeito, prático e psicológico, de que caminhar para zero. Perdas de 100% não equivalem a ganhos de 100%. A rigor, estudos em finanças comportamentais sugerem que a perda tem um impacto 2,5x mais forte do que o mesmo ganho. Perder R$ 1 lhe causa uma dor 2,5x mais intensa do que o benefício de ganhar 1 real.

Em todas as decisões de compra de determinado ativo, o investidor precisa se perguntar não somente o quanto vai ganhar/ganhou, mas tam-bém a que nível de risco estará/esteve exposto? A decisão de compra se dá antes do movimento; e a aferição de resultado ocorre depois – não é uma comparação justa.

Para ser bem-sucedido, você precisa primeiro sobreviver, resumi-ria Warren Buffett. O ceticismo não é somente uma postura intelectual mais poderosa. Ele também é mais poderoso, pragmaticamente. Prefi-ra tomar como falsas determinadas hipóteses de supervalorização que existem por aí.

Com esse pano de fundo, encerraremos hoje as adesões ao Clube de Construção de

Riqueza. Restam poucas vagas para aquele que é um projeto sério e sólido de evolução

de patrimônio, sem pirotecnias ou promessas excessivas.

Mercados começam a quinta-feira meio no zero a zero. Dia morno. Clima marginalmente negativo acaba predominando, com aumento da probabilidade de subida do juro nos EUA

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em dezembro (de 67,6% para 72,5%) e atenção redobrada sobre balanços corporativos, aqui (Vale, Natura e Klabin dentre os destaques) e lá fora (Alphabet principalmente). Clima é de certa expectativa pelos indicadores e resultados trimestrais a serem anun-ciados. Dia tem pedidos de auxílio-desemprego e de bens duráveis nos EUA, além de Pending Home Sales e atividade medida pelo Fed de Kansas. PIB do Reino Unido veio acima do esperado, com bom comportamento do setor de serviços, amenizando preocu-pações com efeitos do Brexit.

Por aqui, PNAD apurou taxa de desemprego de 11,8%, em linha com a anterior e margi-nalmente aquém das estimativas. Dados fiscais estão em pauta, com resultado do governo central e arrecadação federal. Governo obteve vitória sobre desaposentação, que poderia ter impactos importantes à frente, e abrandamento da crise entre Renan Calheiros e o mi-nistro da Justiça.

Ibovespa Futuro abre em ligeira queda de 0,12%. Dólar sobe 0,15% contra o real, na estei-ra do comportamento de outestei-ras moedas emergentes. Juros futuros alternam altas e baixas.

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Lembrai-vosdamuLherde Ló 31/10/16

Último pregão do mês não é apenas dia de maldade. Normalmente, ro-lam atrocidades mesmo. Aquela puxetinha típica dos fundos de small

caps para salvar a cota mensal – é curioso como cada gestor com que

você conversa aponta a prática supostamente adotada pelo vizinho; ele mesmo não faz, claro. Aquela disputa pela formação da PTAX que ser-virá de referência para liquidação de contratos futuros, numa briga acir-rada pelo último dia para adesão da janela de repatriação.

Outubro foi um mês positivo para ativos de risco brasileiros, com Ibovespa subindo 10% até agora, liderado por empresas de commodi-ties. Investidores se perguntam se seria a hora de realizar lucros. Estão todos ansiosos por colocar no bolso os ganhos acumulados em curto intervalo de tempo. “Estou ganhando 20% com esta recomendação. Devo vender?”

Está no evangelho de Lucas, capítulo 17, versículo 32: “Lembrai-vos da mulher de Ló.” O alerta foi dado por Jesus para caracterizar a possibilidade de julgamento súbito de Deus.

A frase faz referência à história de Sodoma e Gomorra, duas ci-dades destruídas pelo seu caráter excessivamente pecaminoso e pela ausência de homens justos. Abraão pede a Deus clemência pelas duas cidades. O Todo-Poderoso responde que, se houver dez homens jus-tos em Sodoma, ela será poupada. Então, dois anjos visitam a casa de Abraão e se hospedam na casa de Ló, sobrinho de Abraão. Em sinal de sua libertinagem, o povo sodomita se aglomera à frente da residência para ter relações sexuais com os dois novos hóspedes. Ló sai em defesa dos anjos, que ferem com cegueira os homens de fora e retiram a fa-mília dali, dando a ordem de seguirem em direção das montanhas sem olharem para trás. A mulher de Ló desacata a sugestão e vira-se para trás, sendo, então, punida com sua transformação numa estátua de sal.

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decisão tomada no passado influencie sua avaliação hoje. O preço pago antes é um custo irrecuperável. Não importa se você está lucrando ou tendo prejuízo com uma determinada ação (ou qualquer outro ativo). A única coisa relevante é se aquele respectivo investimento lhe oferecerá bons retornos à frente. Se for o caso, você deve mantê-lo. Se não for, você pode vendê-lo e investir num outro, com prognóstico mais favorá-vel. Isso vale tanto para casos vencedores como perdedores.

Teddy Odean estudou o comportamento de 163 mil contas de pes-soas físicas. Ele mostra categoricamente como o apego ao passado faz com que adotemos decisões ruins no presente. O pesquisador identificou um comportamento típico: as pessoas realizam lucros muito rápido, per-dendo boa parte da subida; em contrapartida, carregam por mais tempo do que deveriam posições perdedoras. Temos uma tendência de resistir à realização de um prejuízo. Se aquela ação não é a melhor que você pode ter, não fique preso àquilo. Incorpore seu prejuízo e parta para a próxima. Dinheiro não tem carimbo. Ganhar 20% com uma nova ação é rigorosamente a mesma coisa do que recuperar 20% na ação antiga.

Há uma série de estudos apontando o viés de confirmação, aquela inclinação a, uma vez formada uma opinião sobre determinada coisa, procurarmos informações capazes de reforçar a interpretação inicial e ignorarmos evidências contrárias à tese original. Isso impede que mu-demos de opinião e força o carrego de posições perdedoras.

Cada mês, semana ou dia é um novo momento. Como se a pedra devesse ser zerada a cada novo amanhecer. Este é meu melhor portfólio para ter hoje? Essa é a pergunta. Ganhos ou prejuízos passados estão… no passado.

Falemos do hoje, que é o que interessa. Segunda-feira começa sob certo clima de expec-tativa. Reuniões de bancos centrais ao longo da semana ditam a disposição a risco, com destaque para o Fed na quarta.

Bolsas internacionais não assumem tendência definida. Europa em leve queda, acompa-nhando petróleo, PIB da Zona do Euro em linha com expectativas e vendas ao varejo

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na Alemanha abaixo do esperado. Futuros de Wall Street avançam, empurrados por alguma preocupação com esfera política e resultados corporativos. Na sexta-feira, aversão a risco subiu com abertura de investigação do FBI sobre e-mails de Hillary Clinton. Temor foi um pouco dissipado no final de semana e permite volta do clima um pouco mais confortável. Agenda norte-americana traz rendas e gastos, além do PCE, tradicional indicador de inflação. Atividade na região de Chicago e em Dallas. Por aqui, relatório Focus trouxe ligeira deterioração das estimativas para PIB e projeção de uma Selic menor em 2017 (mediana saiu de 11% para 10,75%). Às 10h30, saem dados fiscais consolidados. Ibovespa Futuro inicia negociações em leve alta de 0,2%, embora com instabilidade. Dólar cai 0,3% contra o real e juros futuros não mostram tendência definida.

Nesta semana, a Empiricus completa sete anos de vida. Ainda é pouco para nossas pre-tensões, mas, dado o nível de mortalidade das empresas no Brasil, poderíamos dizer que se trata de uma vitória estatística. Para ficar no contexto bíblico, o número sete normal-mente aparece associado à perfeição e à totalidade. Talvez não seja para tanto. Seja como for, é um motivo de satisfação.

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touChé 09/11/16

Eu quase posso ouvir meu pai sussurrar em meus ouvidos. Se ele esti-vesse vivo, estaria falando assim: “pare com suas teorias. Temos con-tas de mais a pagar e dinheiro de menos. Não bastam os problemas materiais, você quer inventar outros novos?”

Lembro de Raul Seixas: “dois problemas se misturam: a verdade do universo e a prestação que vai vencer. Entro com a garrafa de bebi-da enrustibebi-da, porque minha mulher não pode ver.”

Papai era um ser eminentemente prático. Ele não entendia aquelas pilhas de livros espalhadas pelo quarto. Não o culpo. Ao contrário, te-nho orgulho disso. Aquela retidão estoica e a obsessão pela prestação que vai vencer – de que interessa a verdade do universo? Não bebo filosofia – forjam caráter. A ética do trabalho.

A falta do entendimento alheio às suas particularidades é introje-tada como necessidade de provar-se diante dos outros, como se a re-sistência do terceiro servisse de combustível para que você o superas-se. Os olhares estranhos entravam na fila de inimigos, contra os quais eu haveria de me erguer. A disciplina tangível mantinha-me apegado à ideia essencial: os livros servem se tiverem apelo prático, ou seja, se puderem ser transportados para o mundo real.

Felizmente também, livrei-me da maldição do herdeiro, aquele ser conformado com as conquistas do pai, apático com as benesses oferecidas pelo patrimônio familiar e desconhecido das dificulda-des da rua, ou ávido por superar a referência paterna, quase insupe-rável. O pai fora um self-made man. Ele está condenado à condição de sombra.

“Para que servem as teorias? Esse monte de filosofia prolixa que você despeja, privando-nos de rapidez para acessar logo o que real-mente interessa? Passe logo às recomendações.”

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Eu também preferiria correr com as coisas. Sobraria mais tempo para jogar videogame com meu filho, viajar hoje mesmo para BH pra ver o Neymar contra o Messi, bater uma boa pelada com os trutas ou tomar um bom Pinot Noir da Borgonha com minha esposa. Às vezes, nem eu mesmo me aguento. Não é sempre: só quando eu respiro.

Mas as teorias importam. É o compromisso epistemológico que ren-de resultados a longo prazo. Se você não acredita nas minhas filosofias, apegue-se à história. Ela está sendo escrita na sua frente. E se você não se posicionou em algum “Trade Trump”, tome como um ensinamento para a próxima oportunidade. Não é por um conhecimento diletante, uma tentativa idiota de provar erudição. É para você ter um método, que servirá não para o Brexit ou para o Trump, mas para sempre.

No último Palavra do Estrategista , recomendamos explicitamente um “Trade Trump”. Cheque em sua área de assinante. Está lá, com data, antes de todas as propostas que hoje permeiam jornais, sites suposta-mente especializados e research de bancos e corretoras: “uma carteira Trump.” Agora não adianta. O mercado já vai abrir derretendo e você não terá tempo de montar.

Na Carteira Empiricus, ontem mesmo propusemos a compra de puts (opções de venda) de Petrobras, para nos protegermos da eventual vitória de Donald Trump.

Nós sabíamos do resultado da eleição? Não. Nós acreditávamos que Hillary perderia? Não. E ainda assim apostaram no Trump? Sim.

O curso das coisas é uma demonstração material da proposta, supostamente teórica, de entendermos a noção de conflation. X não é f(x). Não interessa o resultado futuro de algum evento. Importa a matriz de payoff.

Não tínhamos ideia de quem ganharia as eleições, mas fazia sentido manter apostas em Trump porque a matriz de retornos potenciais era bastante assimétrica em favor desse cenário. Por isso a aposta. E por isso colheremos os frutos hoje.

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Amanheci com minha caixa de e-mails abastecida com mensagens elogiosas à proposta de posicionamento em Trump, algo que nenhuma outra instituição do mercado havia feito.

Agradeço a boa vontade, mas a verdade, porém, é que os elogios não são justos. Eu tenho mérito zero nisso. Arrisco a dizer que minha contribuição a respeito poderia ter sido muito melhor, pois haveria cer-tamente maneiras de instrumentalização mais lucrativa. O valor está no método, não na minha proposta individual. Eu, como analista, tenho zero a lhe oferecer, a não ser sangue e suor. A estratégia em prol da obsessão pela antifragilidade e pela convexidade (quanto eu perco x quanto eu ganho) é o que interessa. Ela tem 100% do mérito. E ela vai te proteger do banho de sangue hoje. Se não for o caso, espero que acredite da próxima vez.

Ativos de risco derretem nesta manhã. Risco Trump. Hillary era a candidata de Wall Street, temerosa quanto à incerteza imposta pela cam-panha de Trump. O establishment tremia a cada discurso do republicano. Hoje só há isso. Não se iluda. Dia vai ser tenso. A coisa mais im-portante a fazer enquanto os outros estão em pânico é: não entre você em pânico também.

Mas não vejo um problema grave. O case de longo prazo está intac-to e, em poucas semanas, Trump não será mais uma questão relevante. Ele será engolido pelo establishment e pelas instituições norte-america-nas. Historicamente, os republicanos sempre foram mais alinhados com práticas pró-mercado, reformistas etc.

Seu primeiro discurso já foi justamente nesse sentido, muito mais conciliador. Aos poucos o mercado vai perceber: o marketing das pro-messas de campanha de Donald Trump era, por incrível que pareça… marketing. Mais do que óbvio, é tautológico.

Estamos protegidos com seguros hoje. Eles vão subir, venderemos e usaremos esse dinheiro para comprar as barganhas que serão criadas. Se você estava à espera de uma oportunidade de compra, a janela vai se abrir nos próximos dias. Esteja preparado.

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Ibovespa Futuro cai 3% e dólar sobe 2% , pressionados por dia de maior aversão a risco. Juros futuros disparam, sobretudo na ponta longa. Redução da gasolina (-3,1%) e do diesel (-10,4%) poderia ter efeito sobre evolução da taxa Selic no curto prazo, mas acaba ofus-cada por incertezas no cenário externo. Trump reduz as chances de aceleração do ritmo de afrouxamento monetário, mesmo com IPCA ficando ligeiramente abaixo das projeções (+0,26% contra +0,29% ).

Agenda nos EUA traz estoques de petróleo e estoques no atacado. Zona do Euro oferece projeções trimestrais para principais indicadores. Por aqui, há discussão da PEC do Teto de Gastos na CCJ do Senado.

Àqueles interessados em saber mais sobre seguros, recomendo fortemente a leitura do

Gamma Trader. As opções são a forma mais prática de fazê-lo. Veja sem preconceitos. As

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o preConCeitoquevoCêpreCisaquebrar imediatamenteaoinvestir

25/11/16

Tirando coisas como monitor de acampamento, professor de inglês e matemática nas férias, e lavador de carros dos pais aos finais de semana, meu primeiro trabalho foi como estagiário da mesa de sales de deriva-tivos no Deutsche Bank. À época, não tinha a restrição de apenas seis horas de trabalho por dia aos estudantes. A jornada era aquela clássica de oito horas: das 8h às 8h (20h), padrão revolução industrial. Tinha direito a almoço, claro. Na mesa, em frente ao computador, igualmente claro. Onde já se viu abandonar o terminal Bloomberg com o mercado aberto?

Não tenho críticas. As coisas eram assim. E a gente fazia. Saia cansa-do pra caramba, frustracansa-do por não ter encontracansa-do carbono branco no 25o

andar (tinha que subir de escada), mas feliz. Sensação de dever cumprido. Respeito, verdadeiramente, a tchurma que abraça árvore e aplaude o pôr do sol. Eu, no entanto, a partir dos exemplos paternos, fora criado na ética do trabalho. Talvez por isso tenha me identificado tanto com a coluna da Tati Bernardi de hoje na Folha.

Então, democraticamente, decidi que nesta sexta-feira falarei somen-te com quem tiver lido o somen-texto. Para os demais, zíper na boca. Acabo de descobrir que, formalmente, pertenço à geração Millenium, da turma do glitter, das ombreiras e das calças coladas. A alma, porém, é de um Opa-lão Gran Luxo 1974, o maior carro já visto na história deste país.

Talvez os comentários iniciais estimulem uma visão distorcida e equivocada. Dou de ombros. Definitivamente, não é essa a razão da minha insônia.

Desde que fizemos críticas ferozes ao governo de Dilma Rousseff, as pessoas nos associam – e a mim em particular, a cara por trás do Fim

do Brasil – a bolsominions, trumpetes e/ou conspiradores do novo golpe

militar. Você conhece a profundidade do debate: se você não gosta da Dil-ma e do Lula, então é fascista, preconceituoso, Dil-machista, explorador etc.

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A verdade, porém, é que, para questões morais e sociais, sou mais progressista do que todos os críticos. Pertenço à classe dos liberais, em sua concepção mais profunda, com inclinações, embora também com restrições, libertárias.

Pra mim, tudo pode. Só com mulher de bigode que nem o capeta pode.

Ativo ou passivo, pra mim não importa. Não estou saindo do ar-mário. Tenho preferências heterossexuais – ao menos por enquanto. Como insisto em dizer, o futuro não sabemos.

Confesso, porém: o mercado financeiro tem, sim, preconceitos com o passivo.

Deixe-me explicar melhor. Esclareço a ambiguidade.

A educação financeira é péssima no Brasil. A escola não te ensi-na. Teus pais não te ensinam. Teus amigos muito menos. A faculdade também não. Isso, inclusive, motivou a fundação da Empiricus. Sin-ceramente, e modéstia à parte, hoje não consigo enxergar quem mais faça pelo investidor pessoa física no Brasil do que a Empiricus. Mas não escrevo isso como propaganda. Quero falar outra coisa.

Nós, como brasileiros, cuidamos mal de nossos investimentos. Muito mal. Mas há de se reconhecer alguns esforços para melhorar a situação. Começamos a criar uma cultura de maior atenção naquilo em que aplicamos. Financeiramente, essas são nossas posições ativas, nosso conjunto de bens e direitos.

Mesmo que ainda porcamente, os bancos começam a se dedicar a uma melhora do gerenciamento dos ativos do cliente. As corretoras – e aqui havemos de reconhecer principalmente o mérito da XP nisso – caminham, mesmo sob conflitos de interesse e erros no processo, na mesma direção correta. E, claro, a Empiricus se insere nessa dinâmi-ca, perfeitamente.

Mas ninguém – e precisamos necessariamente fazer a devida mea culpa – oferece o devido aconselhamento para o gerenciamento dos passivos, do conjunto de obrigações financeiras do sujeito, sob uma perspectiva intertemporal.

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Abrindo meu coração, recebo centenas, talvez chegue à casa do milhar, de e-mails por dia de pessoas que querem investir em ações, ou em outros ativos de risco quaisquer, sendo que precisarão do dinheiro em pouco tempo.

O exemplo abaixo é um clássico:

“Vou quitar meu apartamento daqui a cinco meses. Vi que você gosta bastante das ações de Itaú e Rumo. Posso tomar um empréstimo, investir nas ações e quitar o apartamento com lucro lá na frente?”

Há um conjunto de atrocidades implícitas aí. Primeiro: nunca se alavanque para investir em ações ou em qualquer outra coisa de risco. Segundo: não pode haver prazo para se resgatar um ativo de risco. Se já é difícil acertar se e qual ação vai subir, determinar em qual período de tempo esse movimento vai se dar é simplesmente impossível. Por favor, acredite nisso. Reconheça as limitações do arcabouço analítico em financeiras – e a ignorância do analista, bem como a sua própria. Terceiro: jamais invista em ações com um dinheiro do qual você pode precisar. Pense em ficar sócio das empresas. Quando vender? Comece considerando a hipótese de morrer com elas. Se não topar, suas chances são bem mais baixas.

Sexta-feira tinha tudo para ser boa para os ativos brasileiros. Bolsas voltam a subir lá fora. Há certa animação com Black Friday, commodities metálicas estendem valorização recen-te. “Calero Gate” atrapaiou tudo. Citação a Temer supostamente pressionando ex-ministro Calero, em conversa que teria sido gravada, dispara aversão a risco com ativos brasileiros e impõe tensão de curto prazo.

Ibovespa Futuro abre em baixa de 1,2%. Dólar sobe 1,46% contra o real e juros futuros sobem destacadamente.

Agenda econômica doméstica traz dados de arrecadação federal, IPC-Fipe e superávit do governo central, ajudado por dinheiro da repatriação.

Lá fora, dia ainda é de liquidez reduzida, com fechamento mais cedo em NY por conta do Thanksgiving. Dentre os indicadores, apenas dados de serviços nos EUA e PIB do Reino Unido.

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o mínimoquevoCêpreCisa saberparainvestiremações

13/12/16

Eu tenho a mesma ideia há 40 anos. E estou errado há 40 anos. É assim que o norte-americano Bill Bonner, sócio da Agora Inc, bilionário e ga-nhador do prêmio de Empresário do Ano, abre todas as suas palestras.

Eu ainda não cheguei aos 40. Portanto, tenho o privilégio de estar errado por menos tempo. Em contrapartida, carrego, dentre outras, a desvantagem de não parecer o Clint Eastwood.

À semelhança de Bill, disponho de uma única ideia. É obviamente pouco e eu não me orgulho disso, mas confesso gostar dela. Um é maior do que zero, melhor do que nada.

Se eu tivesse de resumir a coisa em poucas linhas, seria com a afir-mação de que há muito mais incerteza na economia e nas finanças do que supõem as teorias e os analistas mais tradicionais. Daí decorrem desdobramentos bastante importantes.

Por mais que nos esforcemos, jamais eliminaremos a opacidade do ambiente. Nunca poderemos descobrir a priori qual dos cenários haverá de se materializar à frente. Assim, só nos resta perseguir assimetrias convidativas em nossos investimentos. A única vantagem que acredito ter em relação aos outros analistas é que eles não sabem que não sabem.

Prossigo.

Se nunca poderemos descobrir qual será o resultado final dos pro-cessos hoje em curso e de suas mais variadas possibilidades no futuro, tudo o que podemos fazer é adotar a estratégia que implicará o menor prejuízo caso se concretize o cenário ruim, e o maior lucro caso se con-figure o cenário positivo, contempladas as probabilidades associadas.

Quanto podemos perder frente aos ganhos potenciais.

Talvez por isso goste tanto das ações. Por definição, você pode per-der, no máximo, 100% de seu capital investido, mas pode, do outro

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lado, ganhar muito mais do que isso. Então, se você monta uma carteira diversificada em ações, o que deve lhe acontecer com o passar do tem-po? Algumas vão perder 100%. Outras subirão 100%, 200%, quem sabe 1.000%. Suas perdas serão mais do que compensadas pelos ganhos, jus-tamente porque há essa característica maravilhosa associada às ações de uma assimetria convidativa.

Posições compradas em opções também lhe oferecem exatamente a mesma dinâmica. Talvez por isso nosso produto de Estratégias com Op-ções, agora rebatizado Gamma Trader, seja tão popular, porque, em es-sência, as opções são a representação emblemática da proposta talebiana de controlar as perdas potenciais e se expor a ganhos ilimitados. Fala-se muita bobagem por aí sobre opções. O ideal seria, ao menos, conhecer sobre a coisa.

Note, porém, que, na estrutura, ações e opções não são tão distantes, pois oferecem matriz de payoff semelhante: perdas limitadas, ganhos ili-mitados. Não à toa, Robert Merton, prêmio Nobel de Economia, possui um modelo de apreçamento das ações como opções, em que seu preço de exercício é o patrimônio líquido da respectiva companhia. Mas isso é bobagem, apenas uma nota técnica.

Retomo o ponto principal. Já apresentei a ideia central aqui exposta, em defesa de uma carteira diversificada de ações e/ou opções como uma forma de se apropriar dessa assimetria convidativa, um bilhão de vezes.

Hoje quero apresentar a coisa sob outro ângulo. No fundo, tudo recai sobre a mesma ideia: apropriar-se da antifragilidade associada às ações. Variações do mesmo tema sem sair do tom. Se antes o corolário aponta-va para necessidade de uma carteira diversificada, em que você tentaaponta-va aumentar suas chances de capturar uma grande multiplicação através do incremento do tamanho da sua carteira, agora a recomendação pragmática desemboca nas compras graduais e sucessivas de ações, por um longo prazo. O bonito da coisa é que não há análise, suposições de que consegui-mos entender a realidade melhor do que os outros ou que dispoconsegui-mos do dom da clarividência. A questão é meramente aritmética. E a matemática é teimosa em revelar-nos somente a verdade, sem espaço para tergiversar.

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Tomo o caso das ações da Petrobras como exemplo. Faço isso por ser um caso, supostamente, de um investimento ruim nos últimos anos. Com a política de preços de combustíveis desastrosa, a obrigatoriedade de exploração dos campos do Pré-Sal e a Operação Lava Jato relevan-do sérios problemas de governança corporativa (para dizer o mínimo), seria natural esperarmos uma forte destruição de valor. Com efeito, a empresa foi quase destruída mesmo.

Tomemos os últimos três anos, desde o início da Lava Jato. Em 2014, as ações tiveram um ano bastante ruim, caindo 37,6%. Em 2015, mais uma forte queda: -33,1%. Já em 2016, a recuperação de 132%.

Imagine, porém, que você comprou R$ 10 mil em ações da Petro-bras ao preço de fechamento 31 de dezembro de 2013. Terminou o ano de 2014 com R$ 6.243 mil, quando comprou mais R$ 10 mil, iniciando 2015, portanto, com R$ 16.243 mil. Com a queda das ações, encerrou aquele ano com R$ 10.861 mil. Então, ao fechamento de 2015, com-prou mais R$ 10 mil, entrando em 2016 com R$ 20.861 mil (já tendo destruído, portanto, quase R$ 10 mil, dos R$ 30 mil aportados). Então, surfou a valorização de 2016, tendo agora R$ 48,5 mil.

Mesmo com a empresa tendo passado por dois anos periclitantes, foram mais de 60% de ganhos! Bem acima do CDI e um excelente de-sempenho para qualquer métrica que você possa imaginar.

Talvez você pense se tratar de um caso particular e escolhido ape-nas para provar o ponto. Não é.

Pensemos genericamente. Vamos a um exemplo hipotético em que uma empresa quase quebra no primeiro ano, caindo 99% (veja que per-das superiores a isso, supondo que a companhia não vá morrer no meio do caminho, são bastante difíceis – é importante, portanto, a hipótese de que a empresa vai sobreviver). No ano seguinte, ela sobe 200%.

Se você colocou R$ 10 mil no primeiro ano, sobrou-lhe quase nada. Mas se voltou a comprar no ano 2, você teve seus R$ 10 mil dessa se-gunda aquisição transformados em R$ 30 mil. Ganho final, mesmo com a empresa quase quebrando, de 50% .

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O que está por trás disso é simplesmente a lógica, a aritmética e a antifragilidade das ações. Para se aproveitar delas em sua totalidade, no entanto, você precisa ter algum fôlego financeiro (para poder fazer aportes periódicos), escolher empresas que não vão morrer no meio do caminho (você precisa sempre poder participar da próxima rodada do jogo) e, principalmente, ter foco no longo prazo.

Se você encurta demais o horizonte temporal de seus investi-mentos, simplesmente não pode se beneficiar dessas característi-cas da renda variável, e é simplesmente fundamental para retornos consistentes. Uma sequência de cinco anos ruins pode ser atrope-lada por um único ano excepcional. Isso só será possível, contudo, se você estiver exposto àquilo por seis anos. Não há como pensar no curto prazo. Isso vai simplesmente destruir os benefícios que as operações de risco podem lhe oferecer. Fuja de quem não tiver essa consciência.

Como talvez você já tenha percebido, estou numa campanha nes-ta semana em prol da conscientização da importância do horizonte temporal de longo prazo, pelo bem dos investidores pessoas físicas, tipicamente ávidos por resultados de curto período. Ansiedade e con-sistência de retornos, infelizmente, não combinam – eu também ado-raria que combinassem, confesso.

Hoje, em particular, gostaria que não somente os investidores tivessem essa consciência, mas principalmente os senadores. Está prevista votação em segundo turno no Senado da PEC do Teto de Gastos. Expectativa ampla por aprovação, mas, no país das surpresi-nhas de última hora, só comemoro com a bola dentro da rede. Quem grita gol antes toma xingamento no estádio – na arquibancada, rende até tapa na orelha.

Além do resultado em si, placar da votação é importante, pois pode indicar perda ou não de apoio ao governo depois da delação da Odebrecht ser vazada. Uma base ampla e unida é importante para si-nalizar espaço para aprovação da reforma da Previdência e de outras que vierem a surgir.

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