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NOTA JURÍDICA Nº 04 COSEMS/GO

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Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás Rua 26, nº521, Bairro Santo Antônio

CEP: 74.853-070, Goiânia–GO Site: http://www.cosemsgo.org.br E-mail: cosemsgoias@gmail.com Fone: (62) 3201-3412; Fax: (62) 3201-3421

NOTA JURÍDICA Nº 04 COSEMS/GO

Assunto: Demandas do CREMEGO às Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás.

Aos Gestores Municipais de Saúde,

O CONSELHO DE SECRETARIAS MUNICIPAIS DE SAÚDE DO ESTADO DE GOIÁS, COSEMS-GO, entidade civil de direito privado, declarado de utilidade pública pela Lei Estadual nº 17.067 de junho de 2010, com representatividade dos entes municipais reconhecida na Lei Federal nº 8.080 de setembro de 1990 (Art.14-B incluso pela Lei 12.466 de 2011), localizado na Rua 26, nº 521, Bairro Jardim Santo Antônio, CEP 74853070, Goiânia-GO, vem, por meio de sua Assessora Jurídica, que esta subscreve, tecer as seguintes considerações sobre as demandas decorrentes de Fiscalização realizadas pelo Departamento de Fiscalização do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás.

I – Dos Fatos

O COSEMS/GO foi comunicado pelos Secretários Municipais de Saúde ou detentores de cargo ou função equivalente, de algumas Secretarias Municipais de Saúde de nosso Estado, acerca dos processos de fiscalização instaurados pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás, ora denominado CREMEGO, o qual oficia a Gestão Municipal de supostas irregularidades apontadas durante a fiscalização, com vistas às exigências previstas nas Resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), concedendo prazos para o cumprimento do pleito.

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2 II – Do Fundamento Jurídico

O direito fundamental à saúde está consagrado na Constituição da República como um dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. A nossa Carta política ainda prescreve que as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada.

Por sua vez, a Lei Federal nº 8.080 de 1990 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e, também prevê, enquanto competência da Direção Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) a articulação e o diálogo com os órgãos educacionais e de fiscalização do exercício profissional. (Art. 16, IX da Lei Orgânica do SUS).

E nesse contexto, impende notar que o COSEMS/GO, vinculado institucionalmente ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), é reconhecido pela Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (SUS), como entidade que representa os entes municipais, no âmbito estadual, para tratar de matérias referentes à saúde. (Art. 14-B, §2º da Lei Federal nº 8.080 de 1990, incluído pela Lei nº 12.466 de 2011).

II.a – Da Política Nacional de Atenção Básica – PNAB

A Portaria nº 2.488 de outubro de 2011, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica traz em seu Anexo I, o seguinte excerto:

A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades.

É desenvolvida por meio do exercício de práticas de cuidado e gestão, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios definidos, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações.

A PNAB ainda preceitua diretrizes da Atenção Básica deixando às claras que é na Atenção Primária a Saúde o primeiro contato de indivíduos, famílias e comunidades com o sistema de saúde.

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3 A atenção primária à saúde é o nível fundamental de um sistema de atenção à saúde, isto é, o primeiro elemento de um processo contínuo de atenção. (CONASS, 2015)1.

Além disto, a Portaria da PNAB, conforme a normatização vigente do SUS, define a organização de Redes de Atenção à Saúde (RAS) como estratégia para o cuidado integral e direcionado as necessidades de saúde da população. E ainda prevê que:

As RAS constituem-se em arranjos organizativos formados por ações e serviços de saúde com diferentes configurações tecnológicas e missões assistenciais, articulados de forma complementar e com base territorial, e têm diversos atributos, entre eles destaca-se: a atenção básica estruturada como primeiro ponto de atenção e principal porta de entrada do sistema, constituída de equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando o cuidado, e atendendo as suas necessidades de saúde.

O Decreto nº 7.508, de 2011, define que "o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e hierarquizada". Neste sentido, atenção básica deve cumprir algumas funções para contribuir com o funcionamento das Redes de Atenção à Saúde, são elas2:

I - Ser base: ser a modalidade de atenção e de serviço de saúde com o

mais elevado grau de descentralização e capilaridade, cuja participação no cuidado se faz sempre necessária;

II - Ser resolutiva: identificar riscos, necessidades e demandas de saúde,

utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais;

III - Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e gerir projetos

terapêuticos singulares, bem como acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS. Atuando como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários em qualquer destes pontos através de uma relação horizontal, contínua e integrada com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral. Articulando também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais. Para isso, é necessário incorporar ferramentas e dispositivos de gestão do cuidado, tais como: gestão das listas de espera (encaminhamentos para consultas especializadas, procedimentos e exames), prontuário eletrônico em rede, protocolos de atenção organizados sob a lógica de linhas de cuidado, discussão e análise de casos traçadores, eventos-sentinela e incidentes críticos, dentre outros. As práticas de regulação realizadas na atenção básica devem ser articuladas com os processos regulatórios realizados em outros espaços da rede, de

1

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A GESTÃO DO SUS/ Conselho Nacional de Secretários de Saúde. p.31. Brasília: CONASS, 2015.

2 PORTAL DA SAÚDE - DAB. Funções da Atenção Básica nas Redes de Atenção a Saúde. Disponível em:

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4 modo a permitir, ao mesmo tempo, a qualidade da micro-regulação realizada pelos profissionais da atenção básica e o acesso a outros pontos de atenção nas condições e no tempo adequado, com equidade; e

IV - Ordenar as redes: reconhecer as necessidades de saúde da

população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que a programação dos serviços de saúde parta das necessidades de saúde dos usuários.

Ainda com enfoque na PNAB, no que dispõe as atribuições dos membros das equipes de AB, e aqui descrito as atribuições do profissional médico:

I - realizar atenção a saúde aos indivíduos sob sua responsabilidade;

II -realizar consultas clínicas, pequenos procedimentos cirúrgicos, atividades em grupo na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc);

III - realizar atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;

IV - encaminhar, quando necessário, usuários a outros pontos de atenção, respeitando fluxos locais, mantendo sua responsabilidade pelo acompanhamento do plano terapêutico do usuário;

V - indicar, de forma compartilhada com outros pontos de atenção, a necessidade de internação hospitalar ou domiciliar, mantendo a responsabilização pelo acompanhamento do usuário;

VI - contribuir, realizar e participar das atividades de Educação Permanente de todos os membros da equipe; e

VII - participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da USB.

Soma-se ao exposto, o fato da Atenção Básica constituir a Rede de Atenção às Urgências (RUE). Nos termos do Art. 6º da Portaria nº 1.600, de 07 de julho de 2011, que reformula a Política Nacional de Atenção às Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências no SUS, a AB na RUE tem por objetivo a ampliação do acesso, o fortalecimento do vínculo e responsabilização e o primeiro cuidado às urgências e emergências, até a transferência/encaminhamento a outros pontos de atenção. Vejamos:

Art. 6º O Componente Atenção Básica em Saúde tem por objetivo a ampliação do acesso, fortalecimento do vínculo e responsabilização e o primeiro cuidado às urgências e emergências, em ambiente adequado, até a transferência/encaminhamento a outros pontos de atenção, quando

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5 necessário, com a implantação de acolhimento com avaliação de riscos e vulnerabilidades.

II.b – Da Fiscalização do Conselho Regional de Medicina

É princípio e diretriz de atuação dos Conselhos Regionais de Medicina, consoante a Resolução CFM nº1.541 de 1998, publicada em janeiro de 1999, promover a articulação com entidades profissionais que atuam na área da saúde, com vistas ao aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde – SUS.

Art. 4º, XII - promover a articulação com as entidades profissionais que atuam no campo da saúde ou que concorram para ela, com vistas ao constante aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde.

Entretanto, visualizamos uma atuação do Conselho Regional de Medicina no Estado de Goiás – CREMEGO apontando supostas irregularidades nas unidades de saúde, impondo prazos ao Gestor Municipal de Saúde, denotando uma ingerência e intervenção na autonomia da gestão municipal de saúde.

A Lei Federal nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, que dispõe sobre os conselhos de medicina prevê como atribuições dos Conselhos Regionais, a promoção, por todos os meios e o seu alcance, do perfeito desempenho técnico e moral da medicina.

Importa salientar que a previsão vaga e imprecisa da expressão de que ao Conselho Regional cabe promover “por todos os meios” o perfeito desempenho técnico e moral da medicina deixa a mercê do subjetivismo de cada Conselho entender qual a ferramenta legítima para alcançar o bom desempenho da medicina, o que pode, indubitavelmente, resultar em excesso no exercício de um direito legal.

Vejamos o Art. 15, “h” da Lei 3.268/57:

Art . 15. São atribuições dos Conselhos Regionais:

a) deliberar sobre a inscrição e cancelamento no quadro do Conselho; b) manter um registro dos médicos, legalmente habilitados, com exercício na respectiva Região;

c) fiscalizar o exercício da profissão de médico;

d) conhecer, apreciar e decidir os assuntos atinentes à ética profissional, impondo as penalidades que couberem;

e) elaborar a proposta do seu regimento interno, submetendo-a à aprovação do Conselho Federal;

f) expedir carteira profissional;

g) velar pela conservação da honra e da independência do Conselho, livre exercício legal dos direitos dos médicos;

h) promover, por todos os meios e o seu alcance, o perfeito desempenho técnico e moral da medicina e o prestígio e bom conceito da medicina, da profissão e dos que a exerçam;

i) publicar relatórios anuais de seus trabalhos e a relação dos profissionais registrados;

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6 k) representar ao Conselho Federal de Medicina Aérea sobre providências necessárias para a regularidade dos serviços e da fiscalização do exercício da profissão.

Corroborando com o conteúdo da Lei nº 3.268/1957, a redação do Art. 31 da Resolução CFM nº1.541 de 1998 trata dentre as atribuições de cada Conselho Regional de Medicina a fiscalização do exercício profissional de pessoa física, e as atividades de pessoas jurídicas de direito público, bem como promover por todos os meios ao alcance do Conselho, o perfeito desempenho técnico e moral da Medicina, podendo, ainda, requisitar a órgãos da administração pública direta, indireta e fundacional dos entes quaisquer documentos, peças ou informações necessárias para a instrução de processos ético-profissionais ou sindicância. Segue abaixo o dispositivo em comento:

Art. 31 - São atribuições de cada Conselho Regional de Medicina: (...)

V - fiscalizar o exercício profissional de pessoa física e as atividades de pessoas jurídicas de direito público ou privado;

VI - conhecer, apreciar, deliberar e julgar matéria de natureza ética-profissional, impondo, quando cabíveis, as penalidades legalmente estabelecidas;

VII - zelar pelo bom conceito, pela independência do Conselho e pelo livre exercício legal da Medicina, bem como pelos direitos dos médicos, respeitados os princípios e diretrizes contidos no presente Estatuto;

VIII - promover, por todos os meios ao seu alcance, o perfeito desempenho técnico e moral da Medicina, e dos que a exercem; IX - representar, ao Conselho Federal de Medicina, sobre providências necessárias para a regularidade dos serviços e da fiscalização do exercício da profissão;

X - criar Delegacias Regionais e Representações nas unidades da federação, quando julgar necessário;

XI - publicar relatórios anuais de seus trabalhos;

XII - requisitar a órgãos da administração pública direta, indireta e fundacional, da União, dos Estados, dos Municípios, dos Territórios, do Distrito Federal e de instituições privadas, quaisquer documentos, peças ou informações necessárias à instrução de processos ético-profissionais ou sindicâncias; (Grifo nosso).

Impende acentuar que o Conselho Federal de Medicina, através da Resolução nº 2.056, de 2013, que tem a seguinte ementa: “disciplina os departamentos de Fiscalização nos Conselhos Regionais de Medicina estabelece critérios para a autorização de funcionamento dos serviços médicos de quaisquer naturezas, bem como estabelece critérios mínimos para seu funcionamento, vedando o funcionamento daqueles que não estejam de acordo com os mesmos. (...)”.

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7 Quanto à interdição ética, no Processo nº0033482-56.2014.4.01.3500 a Justiça Federal decidiu que tal instituto não tem previsão legal. A Resolução n. 2062 de 2013 do CFM regulamenta o assunto, mas não supre a necessidade de lei para fundamentar o ato de interdição de uma unidade de saúde. Vejamos o excerto da decisão judicial:

Ademais, o poder de impedir o funcionamento de estabelecimento de saúde e condicionar o retorno das suas atividades à realização de providências que entende necessárias não pertence aos conselhos de fiscalização de profissão e sim a uma autoridade sanitária.

III – CONCLUSÃO

Pelo exposto, em que pese todas as solicitações realizadas às Secretarias Municipais de Saúde de Goiás pelo CREMEGO, à luz das instruções normativas do Conselho Federal de Medicina, no bojo dos processos de fiscalização, verifica-se, salvo melhor juízo, que muitos equipamentos estão inseridos na RAS, todavia, não dizem respeito aos equipamentos que compõem as Unidades Básicas de Saúde, segundo os preceitos de organização, planejamento e sistemática afeta as ações e serviços da Atenção Básica.

Por fim, tem-se que as atribuições do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás devem ser resguardadas em lei, de modo que o seu poder cinge-se a fiscalização do exercício da atividade médica. Extrapola as atribuições do CREMEGO impedir o funcionamento de um estabelecimento e condicionar a retomada de suas atividades à adoção de providências previstas em regulamentos. Tal poder é exclusivo da autoridade sanitária, cujo sistema nacional é tratado pela Lei nº 9.782 de 1999, sendo tal papel no âmbito da União reservado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que poderá exercê-lo em delegação aos serviços sanitários dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Respeitosamente,

Goiânia, 20 de novembro de 2015.

________________________________________ Marília Cláudia Carvalhais

Assessoria Jurídica do COSEMS/GO OAB/GO nº 32.187

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