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A CIÊNCIA DO SONO DA FISIOLOGIA À (PSICO)PATOLOGIA. BÁRBARA ALMEIDA CAROLINA MACHADO CRISTINA FRAGOEIRO SOFIA GOMES (Coordenação)

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(1)

A CIÊNCIA DO SONO

DA FISIOLOGIA À (PSICO)PATOLOGIA

BÁRBARA ALMEIDA | CAROLINA MACHADO | CRISTINA FRAGOEIRO | SOFIA GOMES (Coordenação)

(2)

© Autores e Edições Parsifal, Lda. EDIÇÕES PARSIFAL

Av. Elias Garcia, n.º 76, 1.º F 1050 -100 Lisboa

Telefone: 211 985 674 info@parsifal.pt

AUTORES: Ana Isabel Samouco, Bárbara Almeida, Carolina Lourenço Soares, Carolina Machado, Cristina Fragoeiro, Filipa Caetano, Filipa Martins Alves, Gustavo França, Inês Homem de Melo, Margarida Vasconcelos Araújo, Rodrigo Valido e Sofia Gomes

COORDENAÇÃO: Bárbara Almeida, Carolina Machado, Cristina Fragoeiro e Sofia Gomes TÍTULO: A Ciência do Sono – Da Fisiologia à (Psico)Patologia

CAPA: Pedro Gil

PAGINAÇÃO: Augusto Nunes REVISÃO: Edições Parsifal IMPRESSÃO: Tipografia Lousanense 1.ª EDIÇÃO: Outubro de 2020 ISBN: 978 -989 -8760 -76 -0 DEPÓSITO LEGAL n.º 473 663/20

DISTRIBUIÇÃO: Clube do Autor, S. A.

Av. António Augusto de Aguiar, n.º 108, 6.º andar 1050 -019 Lisboa

Telefone: 214 149 300 / Fax: 214 141 721

WWW.PARSIFAL.PT WWW.FACEBOOK.COM/EDICOESPARSIFAL

(3)

ÍNDICE

PREFÁCIO ... 13

LISTA DE SIGLAS ... 15

INTRODUÇÃO ... 21

CAPÍTULO I – NEUROBIOLOGIA DO SONO ... 23

1. CARACTERÍSTICAS DO SONO ... 24

1.1. Neurofisiologia do Sono ... 24

1.1.1. Sistemas promotores do estado de vigília... 24

1.1.2. Sistemas promotores do sono ... 25

1.1.3. Sistemas circadianos ... 25

1.2. Regulação do Sono-Vigília ... 26

1.3. Arquitetura do Sono ... 27

2. FUNÇÕES DO SONO ... 28

2.1. Funções Cognitivas ... 28

2.2. Funções Restauradoras e de Desintoxicação ... 29

2.3. Funções Emocionais ... 29

3. O EFEITO DA IDADE E DO GÉNERO NO SONO ... 30

4. DESREGULAÇÃO DO CICLO SONO-VIGÍLIA ... 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 31

CAPÍTULO II – ABORDAGEM DIAGNÓSTICA ... 35

SEMIOLOGIA 1. ANAMNESE ... 35

2. SEMIOLOGIA DO SONO ... 37

2.1. Eventos Noturnos ou do Sono ... 37

2.2. Queixas Diurnas ou Durante a Vigília ... 41

3. QUESTIONÁRIOS E DIÁRIOS DO SONO ... 44

4. EXAME FÍSICO... 45

EXAMES AUXILIARES DE DIAGNÓSTICO 1. POLISSONOGRAFIA ... 48

1.1. Indicações Para a Realização de Polissonografia ... 49

1.2. Estadiamento do Sono ... 50

1.2.1. Vigília e estadios do sono ... 51

(4)

1.4. Movimentos ... 53

1.5. Relatório Final e Informações Obtidas Através da Polissonografia ... 53

1.6. Outros Tipos de Polissonografia ... 54

2. TESTES DE AVALIAÇÃO DA SONOLÊNCIA ... 55

2.1. Teste da Latência Múltipla do Sono ... 55

2.2. Teste de Manutenção da Vigília ... 56

3. ACTIGRAFIA ... 57

4. DOSEAMENTO DA HIPOCRETINA NO LÍQUIDO CÉFALO-RAQUIDIANO ... 58

CAPÍTULO III – PERTURBAÇÕES PRIMÁRIAS DO SONO ... 61

1. INSÓNIA CRÓNICA ... 61

2. PERTURBAÇÕES RESPIRATÓRIAS RELACIONADAS COM O SONO ... 63

2.1. Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono ... 63

2.2. Síndrome de Apneia Central do Sono ... 65

3. HIPERSONOLÊNCIA DE ORIGEM CENTRAL ... 67

3.1. Narcolepsia ... 67

3.2. Hipersónia Idiopática ... 68

3.3. Síndrome de Kleine-Levin ... 69

4. PERTURBAÇÕES DO RITMO CIRCADIANO SONO-VIGÍLIA ... 70

5. PARASSÓNIAS ... 71

5.1. Parassónias do Sono REM ... 72

5.2. Parassónias do Sono NREM ... 73

6. PERTURBAÇÕES DO MOVIMENTO RELACIONADAS COM O SONO ... 75

6.1. Síndrome das Pernas Inquietas ... 75

6.2. Movimentos Periódicos das Pernas Durante o Sono ... 76

ANEXO ... 79

CAPÍTULO IV – ALTERAÇÕES DO SONO NAS PERTURBAÇÕES PSIQUIÁTRICAS ... 81

PERTURBAÇÕES DO HUMOR 1. DEPRESSÃO UNIPOLAR ... 81

1.1. Alterações do Sono ... 81

1.2. Indicações Para Polissonografia ... 83

1.3. Explicações Neurobiológicas ... 83

1.4. Impacto das Alterações do Sono ... 85

1.5. Tratamento ... 86

2. PERTURBAÇÃO AFETIVA BIPOLAR ... 88

2.1. Alterações do Sono ... 88

2.2. Explicações Neurobiológicas e Psicossociais ... 89

2.3. Impacto das Alterações do Sono ... 90

2.4. Tratamento Farmacológico ... 91

(5)

PERTURBAÇÕES DE ANSIEDADE

1. PERTURBAÇÃO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ... 96

1.1. Alterações do Sono ... 97 1.2. Explicações Neurobiológicas ... 97 1.3. Tratamento ... 98 2. PERTURBAÇÃO DE PÂNICO ... 98 2.1. Alterações do Sono ... 99 2.2. Explicações Neurobiológicas ... 99

2.3. Impacto das Alterações do Sono ... 100

2.4. Tratamento ... 100 3. FOBIA SOCIAL ... 101 4. FOBIAS ESPECÍFICAS ... 101 PERTURBAÇÕES PSICÓTICAS 1. ALTERAÇÕES DO SONO ... 106 1.1. Avaliação Subjetiva ... 106 1.2. Avaliação Objetiva ... 106 1.3. Correlações Clínicas ... 107

1.4. Perturbações Primárias do Sono ... 108

2. INDICAÇÕES PARA EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO DE SONO ... 110

3. EXPLICAÇÕES NEUROBIOLÓGICAS ... 110

3.1. Neurotransmissores e Hormonas ... 110

3.2. Genes CLOCK e Seus Produtos ... 111

3.3. Estruturas do Cérebro ... 111

4. IMPACTO DAS ALTERAÇÕES DO SONO ... 111

5. TRATAMENTO ... 112

5.1. Terapia Cognitivo-Comportamental Para a Insónia nos Doentes com Esquizofrenia ... 113

PERTURBAÇÕES DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR 1. ANOREXIA NERVOSA, BULIMIA NERVOSA E PERTURBAÇÃO DA INGESTÃO ALIMENTAR COMPULSIVA ... 116

1.1. Alterações do Sono ... 117

1.2. Explicações Neurobiológicas ... 118

1.3. Impacto das Alterações do Sono ... 120

1.4 . Tratamento ... 120

2. SÍNDROME DA INGESTÃO NOTURNA ... 121

PERTURBAÇÃO DE HIPERATIVIDADE E DÉFICE DE ATENÇÃO 1. ALTERAÇÕES DO SONO ... 125

1.1. Perturbação de Insónia ... 127

1.2. Perturbações de Movimento Relacionadas com o Sono: Síndrome das Pernas Inquietas ... 128

1.3. Perturbações do Ritmo Circadiano: Síndrome do Atraso da Fase do Sono ... 129

(6)

1.5. Perturbações Respiratórias do Sono: Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono 130

1.6. Perturbação do Sono Induzida por Substâncias ... 130

CONSIDERAÇÕES ... 131

DEMÊNCIAS 1. DOENÇA DE ALZHEIMER ... 135

1.1. Alterações do Sono ... 135

1.2. Explicações Neurobiológicas ... 136

1.3. Impacto das Alterações do Sono ... 137

1.4. Tratamento ... 138

2. DEMÊNCIAS POR ALFA -SINUCLEINOPATIAS ... 139

2.1. Alterações do Sono ... 140 2.2. Explicações Neurobiológicas ... 141 2.3. Tratamento ... 141 3. DEMÊNCIA VASCULAR ... 142 4. DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL ... 142 4.1. Alterações do Sono ... 143 4.2. Explicações Neurobiológicas ... 143 4.3. Tratamento ... 143

5. RELAÇÃO BILATERAL ENTRE SONO E DEMÊNCIA ... 144

PERTURBAÇÃO DE STRESSE PÓS-TRAUMÁTICO 1. ALTERAÇÕES DO SONO ... 147

1.1. Achados Polissonográficos ... 148

1.2. Insónia ... 148

1.3. Pesadelos ... 149

1.4. Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono ... 149

2. RELAÇÃO BILATERAL ENTRE PERTURBAÇÕES DO SONO E PERTURBAÇÃO DE STRESSE PÓS-TRAUMÁTICO ... 150

3. EXPLICAÇÕES NEUROBIOLÓGICAS ... 151

3.1. Alterações no Funcionamento da Amígdala e Córtex Pré-Frontal Medial ... 151

3.2. Medo Condicionado e Extinção do Medo ... 152

3.3. Modelo Preliminar da Explicação Neurobiológica ... 152

4. TRATAMENTO ... 153

4.1. Insónia ... 153

4.2. Pesadelos ... 154

4.3. Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono ... 155

CAPÍTULO V – ALTERAÇÕES DO SONO INDUZIDAS POR SUBSTÂNCIAS E FÁRMACOS ... 159

ALTERAÇÕES DO SONO INDUZIDAS POR SUBSTÂNCIAS 1. ÁLCOOL ... 160

1.1. Efeito Agudo ... 160

1.2. Consumo Crónico ... 160

1.3. Abstinência ... 161

(7)

1.5. Álcool e Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono ... 162

2. CANÁBIS... 162

3. COCAÍNA ... 163

4. OPIOIDES... 163

5. ABORDAGEM TERAPÊUTICA ... 164

ALTERAÇÕES DO SONO INDUZIDAS POR FÁRMACOS 1. BENZODIAZEPINAS E FÁRMACOS Z ... 168

2. ANTIDEPRESSIVOS ... 169

3. ANTIPSICÓTICOS ... 171

4. LÍTIO ... 172

5. ANTIEPILÉTICOS ... 172

6. ESTIMULANTES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL ... 174

7. ANTIDEMENCIAIS ... 174 8. FÁRMACOS ANTIPARKINSÓNICOS ... 174 9. ANTAGONISTAS BETA-ADRENÉRGICOS ... 175 10. AGONISTAS ALFA-ADRENÉRGICOS ... 175 11. TEOFILINA ... 176 12. CORTICOIDES ... 176 13. ANALGÉSICOS ... 176 13.1. Analgésicos Opioides ... 176

13.2. Anti-Inflamatórios Não Esteroides e Analgésicos Antipiréticos ... 177

14. ANTI-HISTAMÍNICOS ... 177

CAPÍTULO VI – ALTERAÇÕES DO SONO INDUZIDAS POR PERTURBAÇÕES MÉDICAS ... 181 1. PATOLOGIA CARDIOVASCULAR ... 183 2. PATOLOGIA RESPIRATÓRIA ... 185 2.1. Síndrome de Hipoventilação-Obesidade ... 188 3. PATOLOGIA ENDÓCRINA ... 188 3.1. Síndrome Metabólica ... 190 4. SÍNDROMES DOLOROSAS ... 191 4.1. Cefaleias ... 192 4.2. Osteoartropatias ... 193 4.3. Fibromialgia ... 193 4.4. Cancro ... 194

5. DOENTES CRÍTICOS E HOSPITALIZADOS ... 195

CAPÍTULO VII – PSICOFARMACOLOGIA E PSICOTERAPIA NAS PERTURBAÇÕES DO SONO ... 201

1. PSICOFÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DAS PERTURBAÇÕES DO SONO ... 202

1.1. Hipnóticos ... 202

1.1.1. Benzodiazepinas ... 202

1.1.2. Agonistas dos recetores benzodiazepínicos – fármacos Z ... 204

1.2. Fármacos Usados como Hipnóticos ... 204

(8)

1.2.2. Trazodona ... 206

1.2.3. Mirtazapina ... 207

1.2.4. Melatonina e fármacos relacionados ... 208

1.2.5. Anti-histamínicos ... 209

1.2.6. Antiepiléticos ... 210

1.2.7. Antagonistas da orexina ... 211

1.2.8. Antipsicóticos sedativos ... 211

1.3. Fármacos Promotores de Vigília ... 213

1.3.1. Anfetaminas ... 213 1.3.2. Metilfenidato ... 214 1.3.3. Modafinil ... 215 1.3.4. Bupropiom ... 215 1.4. Outros Agentes ... 216 1.4.1. Prazosina ... 216

2. MEDIDAS NÃO FARMACOLÓGICAS USADAS NO TRATAMENTO DAS PERTURBAÇÕES DO SONO ... 216

2.1. Higiene do Sono e Psicoeducação ... 216

2.2. Treino de Relaxamento ... 218

2.3. Terapia Cognitivo-Comportamental Para a Insónia ... 218

2.3.1. Terapia de controlo de estímulos ... 219

2.3.2. Restrição de sono ... 219

2.3.3. Terapia cognitiva ... 220

2.4. Perturbações do Ritmo Circadiano ... 221

2.4.1. Cronoterapia ... 221

2.4.2. Fototerapia ... 221

CAPÍTULO VIII – POPULAÇÕES ESPECÍFICAS ... 223

1. NORMAL DESENVOLVIMENTO DO SONO NAS CRIANÇAS ... 223

2. NORMAL DESENVOLVIMENTO DO SONO NOS ADOLESCENTES ... 224

3. ALTERAÇÕES DO SONO NA GRAVIDEZ ... 226

4. ALTERAÇÕES DO SONO NA MENOPAUSA ... 227

5. O SONO NOS MAIS VELHOS ... 228

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 230

NOTAS BIOGRÁFICAS... 233

(9)

PREFÁCIO

O sono é um dos aspetos mais importantes e intrigantes da nossa

vida, apresentando -se como um fenómeno essencial para a saúde,

bem--estar físico, psíquico e longevidade. Como mecanismo fisiológico

de regulação homeostática, é altamente dinâmico ao longo do nosso

desenvolvimento pessoal e assume um papel essencial na definição de

padrões de atividade, processos cognitivos, executivos e de atenção e na

regulação emocional, fatores tão definidores da nossa natureza humana.

Como fenómeno psíquico complexo, é colorido pelas nossas vivências,

emoções, pensamentos e contexto cultural e social, sendo carregado de

simbolismos e significados que despertam o interesse não só em

diver-sas áreas do conhecimento para além da medicina, como na expressão

artística e cultural.

Como exemplo desta expressão sobre o papel definidor do sono na

nossa identidade, Fernando Pessoa elaborava em Poesias:

Entre o sono e o sonho

Entre mim e o que em mim

É o quem eu me suponho

Corre um rio sem fim.

Nas últimas décadas, temos assistido a extraordinários

desen-volvimentos científicos e clínicos que têm permitido não só a nossa

compreensão mais detalhada dos fenómenos neurobiológicos

envol-vidos no sono com recurso a técnicas avançadas de neurofisiologia e

neuroimagiologia, mas, acima de tudo, o desenvolvimento de novas

formas de abordagem terapêutica nas patologias do sono com recurso

a metodologias específicas de intervenção psicoterapêutica e novos

fármacos promotores da qualidade do sono. No entanto, muitos dos

intrigantes aspetos funcionais e patológicos do sono continuam por

desvendar, exigindo um permanente esforço clínico e científico de

desenvolvimento.

(10)

14 a ciência do sono

A disrupção dos processos de sono nas patologias primárias do

sono está claramente associada não só ao desenvolvimento de patologia

médica com morbilidade e mortalidade significativas como a diabetes,

obesidade ou patologia oncológica, mas também ao aparecimento de

alterações psicopatológicas específicas associadas ao desenvolvimento

de patologias psiquiátricas como a ansiedade e depressão. Por outro lado,

na vasta maioria das patologias psiquiátricas, as alterações quantitativas

e qualitativas do sono são das alterações psicopatológicas com maior

impacto funcional na saúde mental e que frequentemente exigem formas

de intervenção específica. Desta curiosa relação bidirecional emerge uma

clara necessidade de um esforço colaborativo entre áreas específicas do

conhecimento médico como a neurologia e a psiquiatria, como fica bem

patente nesta obra científica, em que clínicos destas áreas unem esforços

para sistematizar de uma forma singular esta interação entre a fisiologia

e psicopatologia na ciência do sono.

Esta obra vem preencher um espaço fundamental na literatura

científica nacional relativa à ciência do sono, construindo de uma forma

clara, precisa e acima de tudo original, uma ponte entre a

compreen-são dos mecanismos fisiológicos do sono e a exprescompreen-são psicopatológica

da sua disrupção em perturbações primárias do sono e em patologias

com expressão psiquiátrica. Com uma perspetiva pedagógica original e

focada, os autores desta obra sistematizam os mais importantes tópicos

relacionados com a ciência do sono com extraordinário rigor científico

e solidez bibliográfica. Com recurso a tabelas, quadros resumo e

esque-mas detalhados, os autores organizam de uma forma detalhada,

sistema-tizada e pedagógica os pormenores fisiológicos, clínicos e terapêuticos

essenciais para a compreensão, diagnóstico e tratamento das principais

patologias do sono. Esta abordagem eminentemente prática e

transdiag-nóstica revela uma grande aplicabilidade na prática clínica diária para

uma abordagem sistematizada e compreensiva das queixas relacionadas

com o sono.

Como tal, considero que esta obra se apresenta como um

instru-mento pedagógico essencial não só para a aprendizagem médica, em

par-ticular nas áreas clínicas da neurologia e psiquiatria, mas também para os

leitores interessados num conhecimento mais aprofundado de um dos

fenómenos mais fascinantes do funcionamento da mente humana.

Professor João Bessa,

Presidente eleito da Sociedade Portuguesa

(11)

LISTA DE SIGLAS

5HT

5 -Hidroxitriptamina (também conhecida por Serotonina)

βB Antagonistas

Beta

-Adrenérgicos

Aβ Beta

-Amiloide

AASM American Academy of Sleep Medicine

ACTH Adrenocorticotropic Hormone (Hormona Adrenocorticotrópica)

AD Antidepressivo(s)

AE Antiepilético(s)

AIT Acidente

Isquémico

Transitório

AN Anorexia

Nervosa

ANP

Atrial Natriuretic Peptide (Peptídeo Natriurético Atrial)

AP Antipsicótico(s)

APOE Apolipoproteína

E

ATC Antidepressivo(s)

Tricíclico(s)

AVC Acidente

Vascular

Cerebral

AVP

Arginina Vasopressina (também conhecida como

Vasopressina ou Hormona Antidiurética)

BHE Barreira

Hemato

-Encefálica

BiPAP Bilevel Positive Airway Pressure (Pressão Positiva Binível

da Via Aérea)

BN Bulimia

Nervosa

BNP

Brain Natriuretic Peptide (Peptídeo Natriurético Cerebral)

BZD Benzodiazepina(s)

CPAP Continuous Positive Airway Pressure (Pressão Positiva

Contínua da Via Aérea)

CPFM Córtex Pré -Frontal Medial 

CRF

Capacidade Residual Funcional

CRH Corticotropin Releasing Hormone (Hormona Libertadora

da Corticotropina)

CSRD Circadian Rhythm Sleep Disorders (Perturbações do Ritmo

(12)

16 a ciência do sono

CV Cardiovascular

CVF

Capacidade Vital Forçada

CYP Citocromo

P450

DA

Doença de Alzheimer

DBS

Deep Brain Stimulation (Estimulação Cerebral Profunda)

DCL

Demência com Corpos de Lewy

DDP

Demência da Doença de Parkinson

DFT Demência

Frontotemporal 

DGS

Direção -Geral da Saúde

DMt2 Diabetes Mellitus Tipo 2

DP

Doença de Parkinson

DPN Dispneia

Paroxística

Noturna

DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

DRGE Doença de Refluxo Gastroesofágico

DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders

(Manual de Diagnóstico e Estatística de Perturbações Mentais)

DU Depressão

Unipolar

EAM Enfarte Agudo do Miocárdio

ECD

Exame(s) Complementar(es) de Diagnóstico(s)

ECG Eletrocardiograma

EDS

Excessive Daytime Sleepiness (Hipersonolência Diurna)

EEG

Eletroencefalografia ou Eletroencefalograma

EMG Eletromiografia ou Eletromiograma

EOG Eletrooculograma

FA Fibrilação

Auricular

FDA

Food and Drug Administration

FEV1 Volume Expiratório Forçado em um segundo

FM Fibromialgia

FS Fobia

Social

FT Fototerapia

GABA Gamma Aminobutyric Acid (Ácido Gama -Aminobutírico)

GE Gastroesofágico

GHRH Growth Hormone–Releasing Hormone (Hormona Libertadora

da Hormona de Crescimento)

GSK3 -β Glycogen Synthase Kinase 3 Beta (3 Beta Síntase Cínase

do Glicogénio)

HBP

Hiperplasia Benigna da Próstata

HC

Hormona de Crescimento

HDL High -Density Lipoprotein (Lipoproteína de Elevada

(13)

lista de siglas 17

HPA

Hypothalamic -Pituitary -Adrenal Axis (Eixo

Hipotálamo--Pituitária -Adrenal ou Eixo Hipotálamo -Hipófise -Adrenal)

HTA Hipertensão

Arterial

HTP Hipertensão

Pulmonar

Hz Hertz

IAH

Índice da Apneia -Hipopneia

ICC

Insuficiência Cardíaca Congestiva

ICSD -3 International Classification of Sleep Disorders

(Classificação Internacional de Doenças do Sono)

IL Interleucina

IMAO Inibidor(es) da Monoamina Oxidase

IMC

Índice de Massa Corporal

IRSN Inibidor(es) da Recaptação da Serotonina e Noradrenalina

ISRS

Inibidor(es) Seletivo(s) da Recaptação da Serotonina

LC

Locus Coeruleus 

LCR Líquido

Cefalorraquidiano

LMS

Latência Média do Sono

LSD

Lysergic Acid Diethylamide (Dietilamida de Ácido Lisérgico)

MnPO Median Preoptic Nucleus (Núcleo Pré -Ótico Mediano)

NET

Norepinephrine Transporter (Transportador de Noradrenalina)

NR

Núcleos da Rafe 

NREM Non -Rapid Eye Movement

NSQ Núcleo

Supra

-Quiasmático

PAB

Perturbação Afetiva Bipolar

PAG

Perturbação de Ansiedade Generalizada 

PAP

Positive Airway Pressure (Pressão Positiva na Via Aérea)

PCA

Perturbação do Comportamento Alimentar

PCR Proteína

C

-Reativa

PHDA Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção 

PIAC Perturbação da Ingestão Alimentar Compulsiva

PLMD Periodic Limb Movement Disorder (Perturbação de

Movimentos Periódicos dos Membros)

PLMS Periodic Limb Movements in Sleep (Movimentos Periódicos

dos Membros no Sono)

PP

Perturbação de Pânico

PPS

Privação Parcial do Sono 

PPT

Pedunculopontine Tegmental (Tegmento Pedunculopontino)

PSG Polissonografia

PSPT Perturbação de Stresse Pós -Traumático

PTS

Privação Total do Sono

(14)

18 a ciência do sono

PUS

Perturbação ou Perturbações de Uso de Substâncias 

QV

Qualidade de Vida

RAA

Renina -Angiotensina -Aldosterona

RBD

REM Sleep Behaviour Disorder (Perturbação

de Comportamento do Sono REM)

REM Rapid Eye Movement

REM -L Latência do Sono REM

RGE Refluxo

Gastro

-Esofágico

SACS Síndrome da Apneia Central do Sono

SAOS Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono

SARA Sistema de Ativação Reticular Ascendente 

SIN

Síndrome da Ingestão Noturna (Night Eating Syndrome)

SE

Sleep Eficiency (Eficiência do Sono)

SHO

Síndrome de Hipoventilação -Obesidade

SMet Síndrome

Metabólica

SNC

Sistema Nervoso Central

SNAP Sistema Nervoso Autónomo Parassimpático

SNAS Sistema Nervoso Autónomo Simpático

SNP

Single Nucleotide Polymorphism (Polimorfismo de

Nucleptídeos Únicos)

SOL

Sleep Onset Latency (Latência do Sono)

SOREM Sleep Onset REM (Sono REM no Início do Sono)

SPI

Síndrome das Pernas Inquietas

SRBD Sleep Related Breathing Disorders (Perturbações Respiratórias

Relacionadas com o Sono)

SWS

Slow Wave Sleep (Sono de Ondas Lentas)

TA Tensão

Arterial

TC Tronco

Cerebral

TCC Terapia

Cognitivo

-Comportamental

TCC -I Terapia Cognitivo -Comportamental para a Insónia

TH Terapia

Hormonal

TLMS Teste de Latência Múltipla do Sono 

TMV Teste de Manutenção da Vigília

TNF

Tumor Necrosis Factor (Fator de Necrose Tumoral)

TPM Temporomandibular

TRIS Terapia de Ritmo Interpessoal e Social

TSH

Thyroid -Stimulating Hormone (Hormona Estimulante

da Tiroide)

TST

Total Sleep Time (Tempo Total de Sono)

(15)

lista de siglas 19

UHR Ultra -High Risk (Risco Muito Elevado)

VAS

Vias Aéreas Superiores

VC Volume

Corrente

VIP

Vasoactive Intestinal Peptide (Peptídeo Intestinal Vasoativo)

VLPO Ventrolateral Preoptic Nucleus (Núcleo Pré -Ótico

Ventrolateral)

VNI

Ventilação Não Invasiva

VPM Ventilação Por Minuto

VTA

Ventral Tegmental Area (Área Tegmental Ventral)

WASO Wakefulness After Sleep Onset (Tempo Acordado Após Início

(16)
(17)

INTRODUÇÃO

O sono é um estado fisiológico complexo e universal, omnipresente

na maioria dos seres vivos. Um terço da nossa vida é passado neste estado,

e a persistência evolutiva do sono, diante dos custos aparentes da

vulnera-bilidade à predação e da ausência de procura de alimento ou reprodução,

sugere que ele desempenha funções vitais na homeostasia do organismo.

Apesar da inúmera investigação, especialmente desenvolvida a

par-tir do século xx até à atualidade, o sono e os seus mecanismos

permane-cem ainda hoje não totalmente esclarecidos.

A investigação sobre o tema não se restringe à Biologia e à

Fisiolo-gia. A curiosidade e o fascínio que desperta é transversal a várias áreas

do saber humano, como a Sociologia e a Antropologia, passando pela

Literatura, Música e Artes Plásticas, não descurando o interesse que a

Engenharia e a Arquitetura manifestam.

O sono e os seus distúrbios, desde as civilizações pré -históricas,

impuseram o desenvolvimento de técnicas e a utilização de compostos

para o seu tratamento. No Antigo Egito, são conhecidos a implementação

de medidas de higiene do sono em ambientes salubres e o uso de extratos

de plantas medicinais como a papoila -dormideira (Papaver somniferum)

e a beladona (Atropa belladonna) para o tratamento da insónia. Estas

mesmas plantas foram utilizadas pelas civilizações mesopotâmicas, de

entre elas, os sumérios, os assírios e os babilónios.

Na Grécia Antiga, eram praticadas cerimónias de cura em templos

dedicados a Asclépio (deus da Medicina) que incluíam a administração

de substâncias indutoras de sono aos enfermos e, após uma noite de sono

em que eram “visitados” por Asclépio nos seus sonhos, esperava -se que

acordassem curados na manhã seguinte. A importância de uma boa

qua-lidade do sono não se limitava apenas à saúde, desempenhando também

um importante papel na vitória de batalhas, na descoberta de saberes e na

libertação de preocupações e angústias. O sono, personificado por

Hip-nos (deus do Sono), irmão gémeo de Tânato (personificação da Morte) e

filho de Nix (deusa da Noite), permeia a mitologia grega e tem um papel

(18)

22 a ciência do sono

fundamental em diversos mitos. O poder do sono é tal, que na Ilíada e

na Odisseia de Homero encontramos o sono sob o epíteto de “soberano

de todos os deuses e de todos os homens”.

Em diversas tradições culturais e religiosas, os sonhos que

ocor-rem durante o sono aparecem revestidos de poderes pocor-remonitórios, ou

até mesmo como expansão da consciência. Os sonhos condicionaram

a tomada de decisões e estão relatados nos livros sagrados das religiões

judaico -cristã e islâmica. São também famosas as histórias de sonhos que

inspiraram cientistas, inventores e artistas, dos quais são exemplo René

Descartes, Thomas Edison e Albrecht Dürer.

Os padrões de sono estão profundamente conectados às

caracte-rísticas da cultura vigente e à forma como estas evoluíram ao longo da

História da Humanidade. Embora a maioria das perturbações do sono

esteja, provavelmente, presente desde a evolução dos seres humanos,

a sociedade contemporânea produz inadvertidamente várias novas

per-turbações: a descoberta da lâmpada elétrica permitiu que a luz do dia se

prolongasse até à noite, a generalização do trabalho por turnos

modifi-cou a sociedade laboral, as viagens intercontinentais permitiram o rápido

cruzamento de fusos horários, a massificação das novas tecnologias de

comunicação transformou -nos em indivíduos 24 horas online. Estas

pro-fundas alterações fazem -se, muitas vezes, à custa da perturbação do ritmo

circadiano e de outras perturbações do sono.

É em torno desta apaixonante e ainda intrigante condição fisiológica

que nasce esta obra, cujo objetivo maior é a transmissão de conhecimento

através da distinção entre o “normal” e o patológico e de como o sono e as

suas perturbações podem condicionar outras patologias mentais e físicas

numa relação, muitas vezes, bidirecional.

Esperamos ainda que este livro contribua para a prática clínica de

todos aqueles que se confrontam no seu quotidiano com os desafios

ine-rentes ao diagnóstico e ao tratamento das perturbações do sono.

(19)

CAPÍTULO I

NEUROBIOLOGIA DO SONO

Rodrigo Valido | Sofia Gomes

O sono representou, desde sempre, um enigma, e várias civilizações

ao longo da História conceptualizaram -no de acordo com os seus

valo-res e costumes. O sono foi visto de uma perspetiva da experiência

pes-soal até ao século xix, altura em que se tornou alvo de experimentação,

o que levou ao surgimento de inúmeras teorias, com um avanço

con-siderável na forma de compreender e reconhecer as suas perturbações.

Contudo, a história da medicina do sono, como a conhecemos hoje, surge

no século xx, impelida pela génese de meios complementares de

diag-nóstico sustentados por novas tecnologias, que permitiram desenvolver

investigação básica e clínica como nunca tinha sido possível.

A duração total do sono normal é difícil de estimar devido às

variá-veis das metodologias usadas em estudos. Constata -se que a larga

maio-ria das pessoas tem um número total de horas de sono situado entre as

seis e as oito horas. As perturbações do sono surgem com manifesta

importância no panorama da saúde dos indivíduos, estando associadas

à perda da qualidade de vida e produtividade, bem como ao aumento

de acidentes no trabalho ou nas atividades do dia a dia (ex.: condução),

e ainda ao surgimento de outros problemas de saúde, nomeadamente

problemas cardiovasculares e de saúde mental. No século xx, com a

disponibilidade de energia de forma generalizada, os hábitos de

traba-lho mudaram radicalmente, com uma troca de horas de sono por horas

de trabalho. Passámos a ter uma sociedade de trabalho de 24 horas,

estimando -se que cerca de 30% da população mundial trabalhe por

tur-nos, e destes, 10% em turnos noturnos. Além disso, novos aspetos

cul-turais, como os dispositivos eletrónicos, vieram alterar a forma como

organizamos as nossas rotinas, mais notavelmente as nossas rotinas

noturnas. O impacto na qualidade e duração do sono que advém de

todas as mudanças nos estilos de vida manifesta -se na insatisfação das

pessoas com o seu sono. Pelo menos cerca de 30% da população geral

tem queixas relativamente ao sono e 10% enquadram -se numa

pertur-bação de insónia.

(20)

24 a ciência do sono

1. CARACTERÍSTICAS DO SONO

O sono é um comportamento que foi preservado ao longo da

evo-lução e acerca do qual, surpreendentemente, ainda não se conhecem na

totalidade quais são as implicações no nosso cérebro e corpo. O sono

é, de forma geral, entendido como um ato de afastamento da atividade

consciente do dia a dia. Curiosamente, todos os seres vivos, dos mais

simples aos mais complexos, exibem algum comportamento “sono -like”.

O sono como estado comportamental preenche alguns requisitos,

nomeadamente, corresponde a um estado de baixa responsividade,

sujeito a ser rapidamente reversível e que é homeostaticamente regulado.

Podem -se distinguir três elementos definidores do ciclo sono -vigília:

o ritmo circadiano (“relógio interno”), a homeostase do sono (“pressão

para dormir”) e os elementos ambientais que influenciam os ritmos

bio-lógicos (ex.: luz solar, atividade física, refeições). O ritmo de 24 horas de

rotação do planeta Terra é definidor dos nossos ritmos internos, muito

em parte pela exposição à luz solar, em oposição à sua ausência durante

a noite. Contudo, demonstrou -se que mesmo na ausência de luz solar,

as células do nosso organismo continuam a demonstrar o mesmo ritmo

de 24 horas, o que sugere a existência de um relógio interno. A “pressão

para dormir” é um fenómeno ubíquo e reflete a dinâmica de um processo

hipotético que aumenta em função do tempo que se passa acordado e

diminui com o sono.

1.1. Neurofisiologia do Sono

O sono é induzido por um conjunto de neurónios que inibe os

sis-temas de vigília. A área pré -ótica do hipotálamo anterior é um dos mais

importantes centros regulatórios do sono, mais especificamente o núcleo

pré -ótico ventrolateral (VLPO) e o núcleo pré -ótico mediano (MnPO),

onde se encontra uma significativa população de neurónios

GABAér-gicos, o principal neurotransmissor inibitório. As áreas promotoras do

sono são elas próprias inibidas pela estimulação monoaminérgica

pro-movida por outras áreas promotoras do estado de vigília.

1.1.1. Sistemas promotores do estado de vigília

O sistema de ativação reticular ascendente (SARA) é o sistema que

promove o estado de vigília e está localizado no prosencéfalo basal, sendo

composto por neurónios colinérgicos do tegmento pedunculopontino

(21)

neurobiologia do sono 25

(PPT), noradrenérgicos do locus coeruleus (LC), serotoninérgicos dos

núcleos da rafe (NR), glutamatérgicos do núcleo parabraquial medial e

dopaminérgicos da área tegmental ventral (VTA). Durante o estado de

vigília, os neurónios GABAérgicos do VLPO são inibidos por sinais dos

sistemas de vigília, tais como a transmissão noradrenérgica e

histami-nérgica.

A orexina, ou hipocretina, é um neurotransmissor com importância

para a manutenção do estado de vigília, especialmente por longos períodos.

Os seus neurónios encontram -se principalmente no hipotálamo lateral,

sendo que as orexinas promovem a ativação das regiões cerebrais

relacio-nadas com o estado de alerta, como as enunciadas anteriormente.

1.1.2. Sistemas promotores do sono

O VLPO e o MnPO são áreas que promovem o sono e ajudam a

mediar a resposta à sua privação. Os neurónios promotores do sono são

GABAérgicos na sua maioria, mas também existem neurónios

galaninér-gicos, sendo que ambos os grupos celulares inervam e inibem fortemente

as regiões do cérebro que promovem a excitação, incluindo os neurónios

colinérgicos do PPT, os neurónios da orexina, o núcleo da rafe e o locus

coeruleus.

Nos últimos anos, foram descobertas outras estruturas e circuitos

envolvidos na promoção do sono, nomeadamente neurónios

GABAérgi-cos da zona parafacial, do núcleo reticular talâmico, interneurónios

corti-cais GABAérgicos e o núcleo accumbens.

1.1.3. Sistemas circadianos

As oscilações circadianas (ou relógio biológico) são

filogenetica-mente ubíquas e encontram -se em todas as espécies, desde os procariotas

aos humanos. Nos humanos, o núcleo supraquiasmático (NSQ) funciona

como um compasso que marca os ritmos biológicos. A sua localização é

imediatamente acima do quiasma ótico, sendo influenciado por

informa-ção luminosa que tem por base recetores específicos ao nível da retina,

mas também por informação não luminosa. Assim, existem vias diretas

e indiretas a partir do NSQ para núcleos hipotalâmicos, como o VLPO,

envolvido na mudança vigília -sono e a área pré -ótica, importante na

regulação da temperatura, do sono, da sede e do comportamento sexual.

Existem também vias dirigidas ao núcleo paraventricular do hipotálamo,

importante na regulação do apetite e dos processos endócrinos.

(22)

26 a ciência do sono

A glândula pineal é uma estrutura que se localiza na junção das duas

metades do tálamo, e recebe indiretamente informação do NSQ,

promo-vendo a libertação de melatonina. O padrão de secreção da melatonina

depende de dois recetores, os MT1 e MT2. Os recetores MT1, na

pre-sença de melatonina, tendem a diminuir as propriedades ativadoras do

NSQ (“ feedback negativo”), e os recetores MT2 influenciam a mudança

de ritmos circadianos (para mais cedo ou mais tarde). De facto, a

secre-ção de melatonina começa ao início da noite e tem o seu pico máximo a

meio do período noturno, diminuindo ao amanhecer.

A secreção de várias hormonas está dependente do ritmo de 24 horas

e relaciona -se com o ritmo sono -vigília. A hormona do crescimento, o

cor-tisol, a hormona estimulante da tiroide (TSH), a hormona luteinizante,

a grelina e a leptina estão fortemente ligadas ao ciclo sono -vigília, e a

dis-rupção do sono pode afetar a sua regulação. O pico diurno do cortisol

surge de manhã ao acordar e diminui ao longo do dia até à noite, quando

atinge o valor mais baixo (1h -3h da manhã), começando depois a aumentar

novamente. A insulina, bem como a glicemia, diminuem durante o sono.

A leptina e a grelina são responsáveis por modular aspetos do apetite e da

digestão, sendo que aumentam no período noturno. Simultaneamente ao

primeiro episódio de sono profundo, inicia -se a produção da hormona de

crescimento, que ocorre no primeiro terço da noite. A hormona

estimu-lante da tiroide tem níveis baixos durante o dia, que aumentam perto do

início do sono e diminuem no sono profundo, sendo que aumentam nos

despertares e também muito significativamente durante a privação de sono.

1.2. Regulação do Sono -Vigília

O sono é uma resposta fisiológica homeostaticamente regulada.

A propriedade homeostática do sono tem sido contextualizada num

modelo de dois processos de regulação do sono, que compreende um

“processo S” relacionado com a homeostase e um “processo C”

relacio-nado com o sistema circadiano. O NSQ é o pacemaker circadiano mestre

e é a origem do “processo C”. O sistema circadiano é na sua maioria

defi-nido por genes (ex.: Per1, Per2, Per3, Cry1, Cry2) que são reguladores

da transcrição ao nível celular e que também podem ter um papel na

homeostase do sono. A propensão para dormir, ou “processo S”, varia

em função do total de privação do sono, da repetição da privação parcial

do sono ou da disrupção seletiva do sono de ondas lentas (SWS), sendo

que estas condições aumentam a propensão para dormir. O substrato

anatómico para o “processo S” é apontado ao VLPO.

(23)

neurobiologia do sono 27

Um elemento importante da regulação homeostática é a

regula-ção pela acumularegula-ção de adenosina. Os níveis de adenosina extracelular

aumentam com a duração do estado de vigília e diminuem com o sono.

Verificou -se que as metilxantinas (ex.: cafeína) são antagonistas dos

rece-tores da adenosina e têm efeitos promorece-tores do estado de vigília.

Recentemente, o sistema das hipocretinas foi proposto como um

ponto de integração entre os mecanismos circadianos e homeostáticos.

A integração de sinais circadianos e homeostáticos também poderá

decorrer ao nível do NSQ.

1.3. Arquitetura do Sono

A arquitetura do sono compreende os diferentes estadios do sono

e a sua duração. A polissonografia (PSG) é o método standard para o

estudo do sono e implica a realização de pelo menos três elementos:

o eletroencefalograma (EEG), o eletromiograma (EMG) e o

eletro-oculograma (EOG).

O sono é classicamente dividido em quatro estadios: N1, N2, N3,

ou SWS, e sono REM (rapid eye movement). O sono não REM (NREM)

consiste na progressão do estado de vigília para o estadio N1,

caracte-rizado por sonolência e um baixo limiar para despertar, seguindo -se o

N2 com diminuição da atividade cerebral, da respiração e da frequência

cardíaca, com um aumento do limiar para despertar, e depois para o sono

de ondas lentas ou N3, o estadio mais profundo do sono. O estadio N1

tem um EEG caracterizado por perda do ritmo alfa, menor voltagem teta

e com alguma atividade de ondas em ponta, que depois dá lugar ao

esta-dio N2, com complexos -K e fusos do sono (sleep spindles) e um aumento

inferior a 1 -4 Hz na atividade delta. Por fim, no estadio N3 verifica -se

atividade delta superior a 20% com uma diminuição dos complexos -K

e fusos do sono.

Um ciclo do sono dura cerca de 90 minutos, ocorrendo três a cinco

ciclos num período de sono noturno. O sono NREM (non -rapid eye

movement) perfaz cerca de 79% da duração total do sono normal, com

o N1 a corresponder a 5%, o N2 a 51%, o SWS a 20% e cerca de 3% da

duração total do sono a corresponder a despertares breves. A proporção

de tempo que cada estadio dura está bem definida, sendo que a duração

dos estadios 1 e 2 é relativamente constante ao longo da noite, enquanto

o SWS e o sono REM são tempo -dependentes. Assim, o SWS dura mais

no início da noite e o sono REM é mais prolongado pela manhã. O sono

REM normalmente só surge na sequência do SWS e envolve, em termos

(24)

28 a ciência do sono

eletroencefalográficos, padrões de atividade “vigília -like”,

concomitan-tes com as alterações fisiológicas que se acompanham, como paralisia

do músculo esquelético, movimentos oculares rápidos, interrupção

tem-porária da termorregulação e ondas espiculadas no EEG, denominadas

picos pontino -geniculo -occipitais.

2. FUNÇÕES DO SONO

As funções do sono podem ser, de forma geral, divididas em

fun-ções cognitivas e funfun-ções restauradoras e de desintoxicação. A hipótese

da função cognitiva considera que o sono é importante para a

apren-dizagem e para a memória, e a hipótese da função restauradora e de

desintoxicação concebe que o sono está relacionado com processos que

suportam funções cognitivas superiores. Além destas, há uma hipótese

que assenta na relação que o sono pode ter com as funções emocionais

do cérebro.

2.1. Funções Cognitivas

O sono NREM e o sono REM parecem ter um papel importante na

formação da memória de longo prazo. Durante o sono NREM, há uma

comunicação entre o hipocampo e o córtex sobre a experiência anterior

da vigília. Vários modelos suportam a ideia de que a codificação e

conso-lidação da memória episódica envolvem a transferência de informações

entre o hipocampo e o córtex durante o sono, para dar lugar à formação de

memórias de longo prazo.

O sono pode servir para uma função de conectividade neuronal/

/glial (plasticidade). Nesse sentido, existem teorias que compreendem

uma série de hipóteses mais específicas, nomeadamente que o sono

extin-gue memórias obsoletas, solidifica circuitos neuromusculares, consolida

novas memórias e estabiliza e preserva a plasticidade.

Outra teoria é a da homeostase sináptica, que propõe que durante

o sono há um enfraquecimento sináptico global, que preserva a força

relativa entre sinapses, permite outras alterações sinápticas e evita

cus-tos metabólicos desadaptativos associados à manutenção sináptica

excessiva.

(25)

neurobiologia do sono 29

2.2. Funções Restauradoras e de Desintoxicação

O sono NREM tem sido historicamente visto como o estado de sono

“restaurador” ao restabelecer as reservas de energia cerebral. A ideia de que

o sono tem uma função metabólica específica é suportada por tomografia

de emissão de positrões, que mostra que o consumo de glicose é cerca de

duas vezes superior no estado de vigília do que no sono de ondas lentas,

apesar dos níveis de glicose durante o sono não variarem relativamente ao

estado de vigília. Desse modo, esta função parece ser específica do sono

NREM, uma vez que a taxa metabólica cerebral aumenta no sono REM.

Além disso, o sono também pode servir para um processo restaurador

promovendo a síntese de proteínas, péptidos ou lípidos necessários para

a função normal de vigília.

O sono tem uma função de desintoxicação que depende do sistema

glinfático. O termo glinfático remete para uma via “linfática -like”, que está

associada à vasculatura e astrócitos (células gliais) do sistema nervoso

central. Assim, o termo foi introduzido numa descrição do sistema

espe-cializado do cérebro, no qual o líquido cefalorraquidiano (LCR)

suba-racnoideu entra no cérebro através de espaços perivasculares ao redor

das artérias penetrantes e o fluxo convectivo arrasta toxinas e outros

produtos cerebrais, removendo -os. A função do sistema glinfático tem

um aumento significativo durante o sono, promovendo a eliminação de

subprodutos metabólicos no espaço extracelular, produzidos durante o

estado de vigília.

2.3. Funções Emocionais

A hipótese de que o sono, especificamente o sono REM, apoia um

processo de homeostase cerebral afetiva, ao preparar o organismo de

maneira ideal para o funcionamento social e emocional do dia seguinte,

assenta na relação que o sono pode ter com as funções emocionais do

cérebro. Deste modo, o sono REM fornece pelo menos dois benefícios

funcionais: o da diminuição da ativação emocional de experiências

afe-tivas anteriores, ao restaurar a reatividade emocional, e no dia seguinte

permitir a recalibração da sinalização noradrenérgica de discriminação

por saliência do cérebro, recuperando a sensibilidade e as especificidades

ideais da emoção.

Referências

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