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Texto

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Disciplinas

Para a Vida

Cristã

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D i s c i p l i n a s

E s p i r i t u a i s

P a r a a

V i d a

C R I S T Ã

Donald S. Whitney

EDITORA BATISTA REGULAR

* “ C O N STR U IN D O V ID A S NA PA LA VRA D E D E U S”

(3)

© 1991 por Donald S. Whitney

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, arm azenada em sistem a de processamento de dados ou transmitida em qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro - exceto para citações resumidas com o propósito de rever ou comentar, sem prévia autorização dos Editores. Todas as citações bíblicas, são extraídas da Bíblia Sagrada, traduzida por João Ferreira de Almeida, versão Revista e Atualizada no Brasil, 2a edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993; e Nova Versão Internacional (NVI) (traduzida pela Comissão de Tradução da Sociedade Bíblica Internacional), São Paulo, Editora Vida, 2000. Utilizada com permissão. Todos os direitos reservados.

Título original: Spiritual Disciplines For The Christian Life Tradução: Talita Rose Baulé

Supervisão de produção: Edimilson Lima dos Santos Diagrantação/Capa: Edvaldo Matos

Primeira edição em português: 2009 ISBN 978-85-7414-024-7

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela: EDITORA BATISTA REGULAR DO BRASIL Rua Kansas, 770 - Brooklin - CEP 04558-002 - São Paulo - SP Telefone: (011) 5561-3239 - Site: www.editorabatistaregular.com.br

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C

o n teú d o

PREFÁCIO 5

Capítulo Um

AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS... COM O OBJETIVO DE ALCANÇAR A PIEDADE

Capítulo Dois

ABSORÇÃO BÍBLICA (PARTE 1) 27

Capítulo Três

ABSORÇÃO BÍBLICA (PARTE 2) 46

Capítulo Quatro ORAÇÃO 80 Capítulo Cinco ADORAÇÃO 105 Capítulo Seis EVANGELISMO 124 Capítulo Sete SERVIÇO 148 Capítulo Oito MORDOMIA 169 Capítulo Nove JEJUM 209 Capítulo Dez SILÊNCIO E SOLIDÃO 240 Capítulo Onze DIÁRIO (ANOTAÇÕES) 272 Capítulo Doze APRENDIZADO 296 Capítulo Treze

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Para Don e Dollie Whitney,

que primeiro me ensinaram sobre Cristo e sobre muitas Disciplinas Espirituais

e para Caffy,

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P

r efá cio

❖ ❖ ❖

Pediram-me para escrever um prefácio para este livro antes mesmo que eu o visse. Agora, porém, que já o li, constato que teria me voluntariado para fazê-lo de qualquer maneira, para poder oficialmente conclamar todos os cristãos a lerem o que Don Whitney escreveu; na verdade, ao ler esta obra três vezes, observando um intervalo de um mês (certamente não mais e, idealmente, creio que não mais) entre cada leitura. Isto não só fará com que o livro seja absorvido, como também dará a você uma idéia realista de sua seriedade, ou da falta dela, como discípulo de Jesus. A primeira leitura mostrará várias coisas específicas que você deve começar a fazer. Na segunda e na terceira leituras (para cada uma delas, deve-se escolher uma data para concluir a leitura anterior), você irá rever o que tem feito e como tem se saído. Isto será muito bom para você, mesmo que a descoberta seja um pouco chocante no início.

Desde que Richard Foster nos despertou com a obra

"Celebration of Discipline" (1978), discutir as várias disciplinas espirituais tem se tornado o principal elemento das discussões cristãs conservadoras na América do Norte, o que é de fato muito bom. A doutrina das Disciplinas (do latim disciplinae, que significa cursos de aprendizado e treinamento) é realmente uma reafirmação e uma extensão do ensino protestante clássico sobre os meios da graça (a Palavra de Deus, oração, comunhão e Ceia do Senhor). Com pés espirituais abençoadamente cimentados na sabedoria bíblica, conforme muito bem exposto pelos mestres evangélicos puritanos e mais antigos, ele traça o caminho da disciplina com um toque certeiro. Os fundamentos por ele

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lançados são evangélicos, e não legalistas. Em outras palavras, ele nos chama a buscar a Piedade por meio da prática das Disciplinas em gratidão pela graça que nos salvou, não como esforço de autojustificação ou de autopromoção. O que ele edifica sobre tais fundamentos é tão benéfico quanto sólido. Ele, na verdade, nos mostra o caminho da vida."

Assim, se como cristão você deseja ser realmente verdadeiro com o seu Deus, ir além do estágio de ser evasivo consigo mesmo e com Ele, este livro fornece um auxílio prático. Um século e meio atrás, o professor escocês "Rabbi" Duncan iniciou os seus alunos na leitura de John Owen, o Puritano, sobre o pecado que habita em nós, com a advertência: "Mas, cavalheiros, estejam preparados para a faca". Ao conduzir você, leitor, a Don Whitney, eu diria: "Agora, amigo, esteja preparado

para o e x ercíc ioE achará saúde para a sua alma.

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A

g r a d ecim en to s

A o vencer os 100 metros rasos nas Olimpíadas de Moscou, em 1980, o escocês Allan Wells disse: "Dedico esta vitória a Eric Liddel". Ao fazê-lo, ele reconheceu a inspiração e a influência que Liddel havia sido para ele e para todos os escoceses desde as Olimpíadas de Paris, em 1924. Foi quando Liddel abriu mão de uma grande chance de vencer a prestigiosa competição dos 100 metros porque o dia escolhido para a corrida conflitava com as suas convicções cristãs, mas acabou por bater um recorde em outro dia, ao ganhar a medalha de ouro nos 400 metros.

Assim como Wells reconheceu a influência de alguém morto havia quase quarenta anos, desejo reconhecer a influência dos homens a quem nunca conheci, senão por meio de seus escritos e biografias. Foram homens cujos pensamentos e vidas têm mudado profundamente a minha forma de viver.

Agradeço aos Puritanos. Nos dias de hoje, eles são freqüentemente difamados tanto por cristãos quanto por não- cristãos, que muitas vezes pouco ou nada sabem sobre eles. As percepções estereotipadas que temos deles revelam falta de consciência de suas profundas contribuições à vida espiritual e piedosa. Eles são gigantes espirituais em cujos ombros me apóio.

Agradeço a Jonathan Edwards, C. H. Spurgeon e Martyn Lloyd-Jones. Minha vida e ministério são imensuravelmente melhores por causa dos deles.

Também quero demonstrar gratidão àqueles que têm, no presente, enriquecido minha vida de maneiras que

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influenciaram este livro diretamente.

Agradeço a Emie Reisinger por sua visão sobre reforma e reavivamento, por sua disposição em ajudar um jovem pastor a quem não conhece, e pelos livros.

Agradeço a John Armstrong, Jim Elliff e Tom Nettles, pela amizade e por me desafiarem a pensar.

Agradeço a J. I. Packer por escrever sobre teologia de forma tão clara e por comunicar tão cativantemente o fruto de tantos anos de estudo sobre os Puritanos.

Agradeço a Jim Rahtjen por seu entusiasmo genuíno e altruísta em relação ao livro e pela grande alegria que é tê-lo como companheiro de trabalho.

Agradeço a Beth Mullins pela ajuda na inserção de dados e pela assistência em relação a tantos detalhes.

Agradeço a David Larsen pelo seminário doutoral que primeiro me impeliu a organizar grande parte deste material.

Agradeço a Roger e Jean Fleming pela amizade e encorajamento sem os quais este livro provavelmente não teria sido escrito e publicado.

Agradeço a Traci Mullins por ser um editor tão positivo, do começo ao fim.

Agradeço à Igreja Batista de Glenfield por orar por mim e por me apoiar com amor extra durante todo o processo de escrita deste livro.

Agradeço a Caffy, que resistiu pacientemente a tantas coisas para que este livro pudesse ser escrito.

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S

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uto r

Desde 1995, Don Whitney tem sido professor assistente de formação espiritual no Midwestern Baptist Theological Seminary em Kansas City, Missouri. Esta é uma posição pio­ neira em um dos seis Seminários Batistas do Sul.

Don cresceu em Osceola, Arkansas, onde veio a crer em Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Foi atuante nos esportes durante todo ensino médio e faculdade e trabalhou na estação de rádio que seu pai gerenciava. Após formar-se na Universi­ dade do Estado do Arkansas, Don planejou terminar a facul­ dade de direito e fazer carreira em locução esportiva. Na Uni­ versidade de Arkansas, durante o curso de Direito, ele sentiu o chamado de Deus para o ministério cristão vocacional. Então, matriculou-se no Seminário Teológico Batista em Fort Worth, Texas, obtendo o grau de Mestre em Divindade, em 1979. Em 1987, Don concluiu o curso de Doutorado em Ministério na Trinity Evangelical Divinity School, em Deerfield, Illinois. An­ tes de ir para a Midwestern, Don foi pastor em na Igreja Batista de Glenfield, em Glen Ellyn, Illinois (subúrbio de Chicago) por quase quinze anos. Ele é autor de Spiritual Disciplines for the

Christian Life (Disciplinas Espirituais para a Vida Cristã) e do guia de discussão que acompanha a obra (NavPress, 1991), How

Can I Be Sure I'm a Christian (Como Ter Certeza de que Sou Cris­ tão) (NavPress, 1994) e Spiritual Disciplines Within the Church (Disciplinas Espirituais dentro da Igreja) (Moody Press, 1996).

A esposa de Don, Caffy, ministra de seu lar em Kansas City como artista e ilustradora freelance. O casal Whitney tem uma filha: Laurelen Christiana.

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F

o i

T

ranq uila

Disciplina é uma daquelas coisas que parecem maravilho­ sas no papel. A idéia de progredir, especialmente na área de seu relacionamento com Deus, é altamente motivadora. O pro­ blema é que aplicar a disciplina é difícil. Envolve esforço. A disciplina nunca parece se encaixar naturalmente numa agen­ da.

Muitas vezes nos pegamos pensando: "Quando minha vida ficar um pouco mais tranqüila, eu vou..." Mas, a esta altura, já era para termos aprendido que a vida nunca fica tranqüila. Aquilo que desejamos realizar, devemos fazê-lo com a vida agitada. Da mesma forma, se pretendemos disciplinar a nós mesmos com vistas à piedade, temos de fazê-lo com a vida as­ sim como ela se encontra no momento.

Quer você já tenha tentado, sem conseguir, aplicar as Dis­ ciplinas, quer esteja apenas em busca de um curso de reciclagem que traga nova vitalidade a seu relacionamento com Deus, Dis­

ciplinas Espirituais para a Vida Cristã fornecerá a inspiração e a orientação de que você irá precisar, bem como o meio e o dese­ jo de prosseguir com êxito.

Após tomar claro o propósito por trás das Disciplinas Es­ pirituais: crescer em piedade, Whitney simplifica o objetivo, dividindo-o em partes. "Disciplina sem direção é servidão", diz ele. Mas, ao começar a experimentar os frutos da discipli­ na, você se descobrirá apaixonadamente vivo. E ávido por con­ tinuar.

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Exercite-se na piedade.

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♦♦♦

Nossa era é uma era de indisciplina. As disciplinas de outrora entraram em colapso... Sobretudo, a disciplina da graça divina, tratada como legalismo ou desconhecida por inteiro de uma geração que ignora grandemente as Escrituras. Precisamos da austera força

do caráter cristão que só pode advir da disciplina.

V. Raymond Edman

As Disciplinas da Vida

D

isciplina sem direção é servidão.

Imagine Kevin, um menino de seis anos matriculado pelos pais numa escola de música. Todas as tardes, depois da escola, ele se senta na sala de estar e dedilha sem vontade 1 "Home on the range" no violão, enquanto observa seus colegas jogando

baseball no parque, do outro lado da rua. Isso é disciplina sem direção. É servidão.

Agora imagine que, numa tarde, ao estudar violão, Kevin receba a visita de um anjo. Na visão, ele é levado ao Camegie Hall, onde aparece como um grande concertista. Normalmente enfadado com a música clássica, Kevin fica maravilhado com o que vê e ouve. Os dedos dos músicos dançam animadamente sobre as cordas, com fluidez e graça. Kevin pensa no quanto as suas próprias mãos parecem bobas e desajeitadas quando tocam, vacilando e tropeçando nas cordas. O concertista

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/Is Disciplinas Espirituais 13

combina notas perfeitas, sublimes, em um aroma musical que flui de seu violão. Kevin se lembra do som áspero, inexpressivo e irritante que, tropegamente, ele produz.

Mas Kevin fica encantado. Sua cabeça pende ligeiramente para o lado enquanto ouve e ele absorve tudo com deleite. Jamais imaginara que alguém pudesse tocar violão daquela forma.

"O que você acha, Kevin?" pergunta o anjo.

A resposta é um brando e lento "U-A-U!", típico de uma criança de seis anos.

A visão se dissipa e o anjo se põe novamente diante de Kevin em sua sala de estar. "Kevin", diz o anjo, "o músico maravilhoso que você viu é você daqui a alguns anos". Então, apontando para o violão, o anjo declara: "Mas você tem que estudar!"

De repente, o anjo desaparece e Kevin fica sozinho com seu violão. Você acha que a atitude dele em relação à prática do instrumento será diferente agora? Contanto que se lembre daquilo que ele irá se tomar, a disciplina de Kevin terá direção, um objetivo que o conduza ao futuro. Sim, isso envolverá esforço, mas certamente não será servidão.

Ao falarem sobre disciplina na vida cristã, muitos crentes se sentem como Kevin em relação à prática do violão: é disciplina sem direção. A oração pode se tornar servidão. O valor prático da meditação nas Escrituras parece incerto. O verdadeiro propósito de uma Disciplina como o jejum muitas vezes não é claro.

Primeiro, devemos entender o que havemos de ser. Sobre os eleitos de Deus, Romanos 8:29 diz: "Pois aqueles que de antemão

conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho". O plano eterno de Deus garante que, ao final, todo cristão será conformado à semelhança com Cristo. Seremos

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transformados "quando ele se manifestar" para que "[sejamos]

semelhantes a ele" (1 João 3:2). Não se trata de uma visão; trata- se de você, cristão, daqui a alguns anos.

Assim, por que tanta discussão sobre a disciplina? Se Deus predestinou nossa conformidade com Cristo, onde a disciplina se encaixa?

Embora Deus vá nos tomar semelhantes a Cristo quando Jesus voltar, até lá, Ele pretende que nós desenvolvamos a busca de tal semelhança. Não devemos simplesmente esperar pela santidade, devemos buscá-la. "Esforcem-se para viver em paz com

todos e para serem santos", ordena-nos Hebreus 12:14, pois "sem

santidade ninguém verá o Senhor".

Isso nos leva a fazer a pergunta que deveria ser feita por todo cristão: "Como buscar a santidade? Como ser semelhante a Jesus Cristo, o Filho de Deus?"

Encontramos uma resposta clara em 1 Timóteo 4:7:

"Exercite-se na piedade".

O versículo é o tema de todo este livro. Neste capítulo, o autor tenta extrair o seu significado e o restante do livro é um esforço para aplicá-lo de forma prática. O autor denominará "Disciplinas Espirituais" as maneiras escriturísticas de os cristãos disciplinarem a si mesmos em obediência ao versículo acima. O autor sustenta que o único caminho para a maturidade cristã e a Piedade (termo bíblico sinônimo de semelhança com Cristo e santidade) passa pela prática das Disciplinas Espirituais. Enfatiza que a Piedade é o objetivo das Disciplinas, e quando nos lembramos disso, as Disciplinas Espirituais se tomam um deleite, e não servidão.

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Com o Propósito de Alcançar a Piedade 15

DISCIPLINAS ESPIRITUAIS: O CAMINHO PARA A PIEDADE

Disciplinas Espirituais são as disciplinas pessoais e corporativas que promovem crescimento espiritual. São hábitos de devoção e cristianismo experimental que têm sido praticados pelo povo de Deus desde os tempos bíblicos.

Este livro examina as seguintes Disciplinas Espirituais: absorção bíblica, oração, adoração, evangelismo, serviço, mordomia, jejum, silêncio e solidão, anotações (diário) e aprendizado. Esta não é, de forma alguma, contudo, uma lista exaustiva das Disciplinas da vida cristã. Uma pesquisa feita em outra literatura sobre este assunto revelaria que confissão, responsabilidade (prestação de contas), simplicidade, submissão, direção espiritual, celebração, confirmação, sacrifício, "observação" e outras também poderiam ser qualificadas como Disciplinas Espirituais.

Qualquer que seja a Disciplina, sua característica mais importante será o propósito. Assim como há pouco valor em praticar escalas no violão ou no piano separadamente do propósito de tocar músicas, há pouco valor na prática das Disciplinas Espirituais aparte do único propósito que as une (Colossenses 2:20-23, 1 Timóteo 4:8). O propósito é a piedade. Portanto, a ordem de 1 Timóteo 4:7 é que nos exercitemos (disciplinemos) na "piedade", ou com o propósito de alcançar a piedade.

As Disciplinas Espirituais são o meio provido por Deus para usarmos em nossa busca, plena do Espírito, da Piedade.

Povo piedoso é povo disciplinado. Sempre foi assim. Recorde-se de alguns heróis da história da igreja, como Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, John Bunyan,

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Susanna Wesley, George Whitefield, Lady Huntingdon, Jonathan e Sarah Edwards, Charles Spurgeon e George Muller - todos eles eram pessoas disciplinadas. Em minha própria experiência cristã pastoral e pessoal, posso dizer que nunca conheci alguém que tenha chegado à maturidade espiritual sem disciplina. A piedade vem pela disciplina.

Na verdade, Deus usa três catalisadores básicos para nos mudar e nos conformar à semelhança de Cristo, mas somente um pode ser amplamente controlado por nós. Um catalisador que o Senhor usa para nos mudar são as pessoas. "Assim como

o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro" (Provérbios 27:17). As vezes, Deus usa nossos amigos para tornar-nos "afiados" num viver mais semelhante a Cristo, e, às vezes, Ele usa nossos inimigos para aparar nossas ásperas e ímpias arestas. Pais, filhos, cônjuges, colegas de trabalho, clientes, professores, vizinhos, pastores - Deus nos molda por meio deles.

Outro agente de mudança usado por Deus em nossas vidas são as circunstâncias. O texto clássico referente a isso é Romanos 8:28: "Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles

que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito".

Pressões financeiras, condições físicas, e até o tempo são usados nas mãos da Divina Providência para estimular os Seus eleitos à santidade.

Depois vem o catalisador das Disciplinas Espirituais. Este catalisador difere dos dois primeiros porque, ao usar as Disciplinas, Deus opera de dentro para fora. Quando Ele nos muda por meio das pessoas e das circunstâncias, o processo se dá de fora para dentro. As Disciplinas Espirituais também diferem dos outros dois métodos de mudança porque Deus nos concede uma medida de escolha a respeito do envolvimento com elas. Nós muitas vezes temos pouca escolha em relação às

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Com o Propósito de Alcançar a Piedade 17

pessoas e circunstâncias que Deus traz a nossas vidas, mas podemos decidir, por exemplo, se iremos ler a Bíblia ou jejuar hoje.

Assim, por um lado, reconhecemos que mesmo a autodisciplina mais ferrenha não nos fará mais santos, pois o crescimento em santidade é dom de Deus (João 17:17; 1 Tessalonicenses 5:23; Hebreus 2:11). Por outro lado, podemos fazer algo para favorecer o processo. Deus nos deu as Disciplinas Espirituais como meio de receber a Suã» graça e crescer em Piedade. Por elas, colocamo-nos diante de Deus para que Ele opere em nós.

O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego. A palavra traduzida por "disciplina" na versão New American Standard da Bíblia em inglês é a palavra grega gumnasia, da qual derivam as palavras ginásio e ginástica.

Pense nas Disciplinas Espirituais como exercícios espirituais. Ir a seu lugar favorito para orar ou tomar notas, por exemplo, é como ir à academia e se exercitar em um aparelho com pesos. Assim como as disciplinas físicas desse tipo promovem a força, as Disciplinas Espirituais também promovem a Piedade.

Há duas histórias bíblicas que ilustram outra maneira de pensar a respeito do papel das Disciplinas Espirituais. Lucas 18:35-43 nos conta a história de um mendigo cego chamado Bartimeu e seu encontro com Jesus. Sentado à beira da estrada próxima a Jericó, Bartimeu percebeu aproximar-se uma multidão de número e agitação incomuns. Quando perguntou o que estava acontecendo, disseram-lhe que Jesus de Nazaré passava por ali. Até mesmo um homem socialmente marginalizado como Bartimeu tinha ouvido as incríveis histórias de Jesus vindas de todo o Israel durante os últimos

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dois ou três anos. Imediatamente, ele começou a gritar: "Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim!" Aqueles que iam à frente da procissão, possivelmente homens de elevada posição naquele local, sentiram vergonha do comportamento perturbador do mendigo e, duramente, mandaram que se calasse. Mas ele gritou ainda mais alto: "Filho de Davi, tem misericórdia de mim!" Para surpresa de todos, Jesus parou e pediu que lhe trouxessem aquele que O chamava. Em resposta à fé daquele pobre homem, Jesus, milagrosamente, curou Bartimeu de sua cegueira.

A segunda história bíblica encontra-se no parágrafo seguinte das Escrituras, Lucas 19:1-10. Trata-se do conhecido relato da conversão de Zaqueu, o cobrador de impostos. Talvez o fato tenha ocorrido somente alguns minutos após a cura de Bartimeu. Por ser de estatura muito baixa, Zaqueu não conseguiria ver Jesus em meio à multidão. Então, ele correu adiante e subiu em uma figueira brava para poder ver Jesus quando Ele passasse por ali. Chegando ao local, Jesus olhou para cima, chamou Zaqueu pelo nome e disse a ele que descesse da árvore. Os dois seguiram para a casa do cobrador de impostos, onde este creu em Cristo para a salvação e decidiu doar metade de seus bens aos pobres e devolver com juros todo o dinheiro de impostos que, indevidamente, havia tomado para si.

Pense nas Disciplinas Espirituais como maneiras de podermos nos colocar no caminho da graça de Deus e buscá- Lo, assim como Bartimeu e Zaqueu se colocaram no caminho de Jesus e O buscaram. Da mesma forma que eles, nós O encontraremos disposto a mostrar misericórdia por nós e a ter comunhão conosco. Com o passar do tempo, nós seremos transformados por Ele de um nível a outro de semelhança com

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Com o Propósito de Alcançar a Piedade 19

Cristo (2 Coríntios 3:18).

As Disciplinas Espirituais também são, portanto, como canais da graça transformadora de Deus. Quando nos firmamos nelas para buscar comunhão com Cristo, a Sua graça flui até nós e somos transformados. É por isso que as Disciplinas devem se tomar prioridade para nós se pretendemos ser Piedosos.

Charles Spurgeon, o grande pregador britânico batista do século XIX, enfatizou a importância das Disciplinas da seguinte maneira: "Devo cuidar, acima de tudo, de cultivar a comunhão com

Cristo, pois embora ela não possa jamais ser a base de minha paz, observe, ainda assim, ela será o canal pelo qual a paz irá fluir".2 As Disciplinas Espirituais são os canais da paz e de tudo aquilo que Cristo nos concede, que nos leva à santidade.

Tom Landry, treinador do time de futebol americano Dallas Cowboys por quase três décadas, disse: "A tarefa de um treinador

de futebol é fazer com que os jogadores façam aquilo que não desejam fazer para alcançar o que sempre quiseram ser".3 Da mesma forma,

os cristãos são chamados a fazer algo que naturalmente não fariam: buscar as Disciplinas Espirituais, a fim de se tomarem o que sempre desejaram ser, isto é, semelhantes a Jesus Cristo. "Exercite-se", dizem as Escrituras, "na piedade".

AS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS - O SENHOR ESPERA QUE AS PRATIQUEMOS

A linguagem original das palavras "exercite-se na piedade" torna evidente que este é um mandamento de Deus, e não simplesmente uma sugestão. A santidade não é uma opção para aqueles que se dizem filhos do Santo (1 Pedro 1:15-16), assim como o meio para se atingir a santidade, ou as Disciplinas Espirituais, não são uma opção.

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O conselho inspirado de Salomão em Provérbios 23:12 é:

"[Aplique] Dedique à disciplina o seu coração, e os seus ouvidos às palavras que dão conhecimento" (NVI). (Embora a disciplina em Provérbios normalmente se refira à correção do Senhor, versículos como esse se aplicam às Disciplinas Espirituais quando percebemos que o Senhor nos disciplina para fazer com que disciplinemos a nós mesmos). A idéia relacionada à palavra

aplicar é a de aplicar um decalque ou adesivo ao pára-brisa ou ao pára-choque de um carro. Em outras palavras, o Senhor espera que nós adiramos permanentemente às práticas devocionais que promovem a Piedade.

A expectativa da espiritualidade disciplinada está implícita no convite de Jesus em Mateus 11:29: "Tomai sobre vós o meu

jugo e aprendei de mim". O mesmo é verdadeiro em seu convite ao discipulado: "Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si

mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lucas 9:23). Esses versículos nos dizem que ser discípulo de Jesus significa nada menos do que aprender Dele e segui-Lo. Aprender e seguir envolve disciplina, pois pessoas que só aprendem acidentalmente e seguem incidentalmente não são verdadeiros discípulos. Gálatas 5:22-23, diz que a auto-disciplina espiritual (ou "auto-controle") é uma das marcas mais evidentes do que é controlado pelo Espírito, confirma que a disciplina está no coração do discipulado.

O Senhor Jesus não só espera que pratiquemos as Disciplinas, como foi exemplo delas para nós. Ele aplicou Seu coração à disciplina e disciplinou-Se com o propósito de alcançar a Piedade. Portanto, se pretendemos ser como Cristo, devemos viver como Ele viveu.

Esta é a mensagem do livro O Espírito das Disciplinas, de Dallas Willard:

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Com o Propósito de Alcançar a Piedade 21

Minha principal alegação é que nós podemos ser como Cristo ao

fazermos um a coisa: seguindo-O de acordo com o estilo geral de vida que ele escolheu para si mesmo. Se temos fé em Cristo, devemos crer que ele sabia como viver. Podemos, por fé e graça, tornar-mos como Cristo pela prática dos tipos de atividades em que ele se envolvia, organizando nossas vidas inteiram ente conform e as atividades que ele m esm o p raticava, a fim de p erm an ecer con stan tem en te aco stu m ad os / n atu ra l na / à comunhão de seu P a i.4

Assim, muitos cristãos professos são tão indisciplinados espiritualmente, que parecem ter pouco fruto e poder em suas vidas. Tenho visto homens e mulheres que se disciplinam com o propósito de se destacarem em suas profissões, mas disciplinarem-se muito pouco com o propósito de alcançar a piedade. Tenho visto cristãos fiéis à igreja de Deus, que freqüentemente demonstram entusiasmo genuíno pelas coisas de Deus e que amam verdadeiramente a Palavra de Deus, banalizarem a sua eficácia para o Reino de Deus por falta de disciplina. Espiritualmente, eles são enormes em comprimento, mas rasos em profundidade. Não há canais profundos ou muito habituais de disciplina de comunhão entre eles e Deus. Eles se envolvem em tudo, mas não se disciplinam em nada.

Pense nas pessoas que se esforçam muito para aprender a tocar um instrumento, sabendo que adquirir habilidades leva anos, que praticam muito para se dar bem no golfe ou para melhorar seu desempenho nos esportes, sabendo que tornar- se proficiente leva anos, que se disciplinam por toda a carreira porque sabem que o sucesso exige sacrifício. As mesmas pessoas desistem rapidamente quando descobrem que praticar as Disciplinas Espirituais não é fácil, como se tomar-se semelhante a Jesus fosse algo que não deveria exigir tanto esforço.

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Os indisciplinados são como o autor de peças teatrais George Kaufman, que estava assistindo pacientemente a uma apresentação de um promotor de vendas de uma mina de ouro. O vendedor estava elogiando a produtividade da mina com esperanças de persuadir Kaufman a comprar ações dela. "Ora, a mina é tão rica que é dá para pegar pedaços de ouro no chão".

"Você quer dizer", perguntou Kaufman, "que eu vou ter que me abaixar?" 5

O ouro da Piedade não é encontrado na superfície do cristianismo. É necessário escavá-lo nas profundezas, com as ferramentas das Disciplinas. Mas para aqueles que perseveram, os tesouros são mais do que compensadores.

MAIS APLICAÇÃO

Negligenciar as Disciplinas Espirituais é perigoso. Uma famosa seleção dos escritos de William Barclay ilustra poderosamente o perigo. Tecendo comentários sobre a diferença entre a disciplina e a indisciplina, ele escreveu:

Nada jamais foi alcançado sem disciplina; e muitos atletas e homens têm sido arruinados por abandonar a disciplina e relaxar. Coleridge é a suprema tragédia da indisciplina. Nunca uma mente tão grande produziu tão pouco. Ele saiu da Universidade de Cambridge para ingressar no exército; mas deixou o exército porque, apesar de toda a sua erudição, não conseguia tratar de cavalos; ele voltou a Oxford e saiu sem se graduar. Ele lançou um jornal chamado The Watchman (O Observador), que sobreviveu a

dez números e depois foi extinto. Sobre ele disseram: "Ele se p erd eu em visões de trab alh o s a e x e cu ta r, que sem p re permaneciam por ser realizados. Coleridge tinha todos os dons poéticos, exceto um: o dom do esforço constante e concentrado". Em sua cabeça e em sua mente, ele tinha todos os tipos de livros,

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Com o Propósito de Alcançar a Piedade 23

com o ele m esm o dizia, "co m p le ta m e n te g u a rd a d o s p ara transcrição". "Estou prestes a", disse ele, "enviar aos editores dois volumes em oitavo". Mas os livros nunca foram compostos fora da mente de Coleridge, porque ele não se sujeitava à disciplina de sentar-se para escrevê-los. Ninguém jamais atingiu a eminência e ninguém que a atingiu conseguiu mantê-la sem disciplina.6

Ao negligenciar as Disciplinas Espirituais, enfrentamos o perigo de produzir pouco fruto espiritual. Apenas alguns de nós têm o intelecto e os dons poéticos de Coleridge, mas a todos os crentes foram dados dons espirituais (1 Coríntios 12:4-7). A simples presença dos dons espirituais, porém, não garante uma produção abundante de frutos mais do que os dons mentais de Coleridge garantiram a produção de poesia. Assim como os dons naturais, os dons espirituais precisam ser desenvolvidos pela disciplina para que haja produção de frutos espirituais.

Há liberdade no engajamento nas Disciplinas Espirituais.

A obra Celebration of Discipline (Celebração da Disciplina), de Richard Foster, foi o livro mais popular sobre Disciplinas Espirituais na última metade do século XX. A grande contribuição dessa obra é o lembrete de que as Disciplinas Espirituais, a que muitos vêem como restritivas e impositivas, são, na verdade, o caminho para a liberdade espiritual. Ele chama corretamente as Disciplinas de "Porta da Liberação".

Podemos ilustrar este princípio observando a liberdade que vem pelo domínio de qualquer disciplina. Quando vemos os violonistas Christopher Parkening ou Chet Atkins tocando, temos a impressão de que o instrumento já fazia parte de seus corpos quando nasceram. Eles têm tamanha intimidade e liberdade com o violão que fazem parecer fácil tocar. Qualquer pessoa que já tenha tentado tocar violão percebe que a liberdade musical desses mestres resulta de décadas de prática

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disciplinada. A liberdade por meio da disciplina é vista não somente em músicos proficientes, mas também em atletas bem treinados, especialistas em carpintaria, executivos de sucesso, estudantes com bom preparo e mães que tão bem administram o lar e a família todos os dias.

Elton Trueblood demonstra o relacionamento entre disciplina e liberdade ao afirmar:

Não teremos avançado muito em nossas vidas espirituais se ainda não encontramos o paradoxo básico da liberdade...que somos mais livres quando estamos sob imposição. Mas nem toda forma de imposição será suficiente; o que importa é o caráter do que nos é imposto. Aquele que poderia ser um atleta, mas que não está disposto a disciplinar o seu corpo com exercícios regulares e abstinência, não está livre para se destacar no campo ou na pista. A falta de treino nega rigorosamente a ele a liberdade de correr com a velocidade e a resistência desejadas. Com vozes em uníssono, os gigantes da vida devocional aplicam o mesmo princípio à vida como um todo: Disciplina é o preço da liberdade.7 Enquanto Trueblood está certo em chamar a disciplina "o preço" da liberdade, Elisabeth Elliot nos lembra que "liberdade

e disciplina passaram a ser consideradas mutuamente exclusivas, quando na verdade a liberdade não é deforma alguma o oposto, mas a recompensa final, da disciplina".8 Ao enfatizarmos que a disciplina é o preço da liberdade, não nos esqueçamos de que a liberdade é a recompensa da disciplina.

O que é a liberdade da Piedade? Pense novamente em nossas ilustrações. Por exemplo, um virtuoso do violão, é "livre" para tocar um arranjo difícil de Segovia, ao passo que eu não sou. Por quê? Por causa dos anos de prática disciplinada que ele teve. Semelhantemente, as pessoas que são "livres" para

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Com o Propósito de Alcançar a Piedade 25

citar as Escrituras decoradas são aquelas que disciplinaram a si mesmas para memorizar a Palavra de Deus. Nós podemos experimentar uma medida de liberdade da insensibilidade espiritual por meio da Disciplina do jejum. Uma liberdade do egoísmo é encontrada em Disciplinas como adoração, serviço e evangelismo. A liberdade da Piedade é a liberdade de fazer o que Deus nos chama para fazer por meio das Escrituras e a liberdade de expressar as qualidades do caráter de Cristo por meio de nossa própria personalidade. Este tipo de liberdade é a "recompensa" ou o resultado da bênção de Deus sobre nosso engajamento nas Disciplinas Espirituais.

Mas nós temos que nos lembrar que as liberdades totais da Piedade nutrida pela disciplina não se desenvolvem da noite para o dia ou durante um seminário de fim de semana. A Bíblia nos lembra que o autocontrole, tal como aquele expresso por meio das Disciplinas Espirituais, deve perseverar antes que o fruto maduro da Piedade amadureça. Observe a seqüência de desenvolvimento em 2 Pedro 1:6: "ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade". A Piedade é uma busca permanente.

Há um convite para que todos os cristãos desfrutem as Disciplinas Espirituais. Todos em quem o Espírito de Deus habita são convidados a experimentar a alegria do estilo de vida nas Disciplinas Espirituais.

Lembra-se de Kevin e seu violão? Sua prática diária assumiria um espírito totalmente novo se ele percebesse aonde isso o levaria. A disciplina da prática gradualmente se tomaria o caminho para um dos grandes prazeres de sua vida.

Disciplina sem direção é servidão. Mas as Disciplinas Espirituais nunca irão significar servidão se nós as praticarmos com o objetivo da Piedade em mente. Se sua idéia de cristão

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disciplinado é a de um ser robotizado, carrancudo, sisudo e sem alegria, então você não entendeu bem o ponto. Jesus foi o Homem mais disciplinado que já existiu e, ao mesmo tempo, o mais alegre e apaixonadamente vivo. Ele é o nosso Exemplo de disciplina. Sigamo-Lo para obter alegria por meio das Disciplinas Espirituais.

1 Nota da Tradutora: "Home on the Range" é o hino, em ritmo country, do estado norte-am ericano do Kansas e também um longa-m etragem de anim ação dos estúdios Disney.

2 C.H. Spurgeon, "Peace By Believing", em Metropolitan Tabernacle Pulpit

(Londres: Passmore and Alabaster, 1864; reimpressão, Pasadena, TX: Pilgrim Publications, 1970), vol. 9, página 283.

3 Tom Landry, citação de Ray Stedman em Preaching Today (Carol Stream , IL: Christianity Today, n.d.), fita número 25.

4 Dallas Willard, O Espírito das Disciplinas (São Francisco, CA: Harper and Row, 1988), página ix.

5 George Kaufman, citação em The Little, Brown Book of Anecdotes (Boston, M A: Little, Brown and Company, 1985, página 321.

6 William Barclay, The Gospel of Matthew (O Evangelho de Mateus) (Filadélfia, PA: Westminster, 1958), vol. 1, página 284.

7 Elton Trueblood, citado em Leadership (Liderança), vol. 10, n° 3, verão de 1989, página 60.

8 Elisabeth Elliot, citada em Christianity Today (Cristianismo Hoje), 4 de novembro de 1988, página 33, ênfase do autor.

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C A P Í T U L O D O I S

A b s o rç ã o B íb lica a* partek.

C om o P ro p ó s ito d e

A lc a n ç a r a P ied a d e

♦♦♦ ♦♦♦ ♦♦♦

A alternativa à disciplina é o desastre.

Vance Havner

Citação em John Balnchard, compilador, "More Gathered Gold" (Juntando Mais Ouro)

E m agosto de 1989, tive o privilégio de participar de uma viagem missionária para o sertão do leste africano. Éramos quatro, eu e três membros da igreja que pastoreio, dormindo em tendas em frente ao prédio da minúscula igreja inacabada, de pau-a-pique, a quase dez quilômetros do acampamento mais próximo.

Eu já havia estado em outros países o suficiente para saber que muitos hábitos que passei a identificar com o cristianismo conflitam em alguns pontos com a cultura de nossos anfitriões. Minha experiência me ensinou a prever ter que engolir com dificuldade algumas de minhas expectativas americanas (isso sem falar em algumas outras coisinhas!) sobre como os cristãos devem viver. Mas eu estava despreparado para alguns dos encontros que tive com muitos cristãos professos daquele cenário equatorial. Mentira, roubo e imoralidade eram práticas comuns e normalmente aceitas, até entre a liderança da igreja. Ali, o conhecimento teológico era escasso como a água e a doença do erro doutrinário, tão comum quanto a malária.

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Logo descobri uma das principais razões para aquela igreja parecer ter sido fundada por missionários de Corinto. Ninguém tinha Bíblia, nem o pastor, nem o diácono, ninguém. O pastor possuía apenas uma meia dúzia de sermões, todos meio- preparados sobre as brasas de algumas recordações de histórias bíblicas. A cada seis semanas, o mesmo sermão se repetia. O único verdadeiro contato com as Escrituras acontecia com a visita ocasional de um missionário (o mais próximo ficava a mais de cem quilômetros dali) ou quando algum obreiro denominacional da área pregasse. Para quase todos da igreja, essas pinceladas infreqüentes e substitutivas da Bíblia eram tudo o que sabiam. Somente um homem apresentava alguma medida de maturidade espiritual, e isso porque ele havia morado a maior parte de sua vida em outros lugares e freqüentado uma igreja que ensinava a Bíblia.

Nós quatro reunimos os recursos que tínhamos e compramos Bíblias baratas para vários membros da igreja. Após visitas evangelísticas a cada dia, conduzíamos estudos bíblicos para a igreja à tarde e novamente à noite, à luz de lanternas. Saímos dali orando para que o Espírito Santo fizesse com que a Palavra de Deus criasse profundas raízes naquele ajuntamento árido e sertanejo.

A maioria de nós chacoalha a cabeça de dó diante de condições tristes assim. E difícil imaginar que há mais Bíblias nos lares de muitos de nós do que em certas igrejas inteiras do Terceiro-Mundo. Mas uma coisa é desconhecer as Escrituras por não possuir a Bíblia; outra é desconhecê-la quando se tem uma estante cheia delas.

Nenhuma Disciplina Espiritual é mais importante do que a absorção da Palavra de Deus. Nada pode substituí-la. Simplesmente não pode haver cristão saudável aparte de uma

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dieta de leite e came das Escrituras, e as razões para isso são óbvias. Na Bíblia, Deus nos fala sobre Si mesmo, e especialmente sobre Jesus Cristo, a encarnação de Deus. A Bíblia revela a Lei de Deus para nós e mostra como todos a infringimos. Nela, descobrimos como Cristo morreu como Substituto, voluntário e sem pecado, daqueles que infringem a Lei de Deus, e como devemos nos arrepender e crer Nele para sermos justos diante de Deus. Na Bíblia, aprendemos os caminhos e a vontade do Senhor. Nas Escrituras, descobrimos como viver de maneira agradável a Deus e também melhor e mais satisfatória para nós mesmos. Nenhuma dessas informações eternamente essenciais pode ser encontrada em qualquer outro lugar, exceto na Bíblia. Portanto, se pretendemos conhecer a Deus e ser Piedosos, devemos conhecer a Palavra de Deus intimamente.

Contudo, muitos que já o sabem muito bem e fazem sinal afirmativo com a cabeça em concordância com essas declarações não gastam mais tempo com a Palavra de Deus num dia típico, do que aqueles que nem possuem a Bíblia. Minha experiência pastoral é testemunha da validade de pesquisas que freqüentemente revelam que um grande número de cristãos professos conhece pouco mais da Bíblia do que cristãos do Terceiro-Mundo, os quais não possuem nem mesmo uma pequena parte das Escrituras.

Alguém comentou que a pior tempestade de poeira da história aconteceria se todos os membros da igreja que estivessem negligenciando suas Bíblias tirassem a poeira delas ao mesmo tempo.

Assim, mesmo que honremos a Palavra de Deus com nossos lábios, devemos confessar que nossos corações, bem como nossas mãos, ouvidos, olhos e mentes, muitas vezes estão longe dela. Independentemente de quão ocupados nos tornemos com

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tantas coisas, cristão, devemos nos lembrar de que a prática mais transformadora disponível a nós é a absorção disciplinada das Escrituras.

A absorção bíblica não só é a Disciplina Espiritual mais importante, como também a mais ampla. Na verdade, ela consiste em várias subdisciplinas. Seria como uma universidade, que é composta de muitas faculdades, cada qual especializada em uma disciplina diferente, porém, todas unidas sob o nome geral da universidade.

Examinemos as "faculdades", ou subdisciplinas, da absorção bíblica, desde a menos até a mais difícil.

OUVINDO A PALAVRA DE DEUS

A mais fácil das Disciplinas relacionadas à absorção da Palavra de Deus é simplesmente ouvi-la. Por que considerar esta uma Disciplina? Porque se não disciplinarmos a nós mesmo para ouvir a Palavra de Deus regularmente, poderemos ouvi- la apenas acidentalmente, só quando tivermos vontade de ouvir, ou podemos jamais ouvi-la. Para a maioria de nós, disciplinar- se a si mesmo para ouvir a Palavra de Deus significa desenvolver a prática de freqüentar firmemente uma igreja neo- testamentária onde a Palavra de Deus seja pregada com fidelidade.

Jesus disse uma vez: "Antes, bem-aventurados são os que ouvem

a palavra de Deus e a guardam!" (Lucas 11:28). Não se trata simplesmente de ouvir as palavras inspiradas por Deus. O propósito de todos os métodos de absorção da Bíblia é a obediência ao que Deus diz e o desenvolvimento de semelhança com Cristo. Mas o método que Jesus encoraja neste versículo é ouvir a Palavra de Deus.

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Outra passagem que enfatiza a importância de ouvir é Romanos 10:17: "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela

palavra de Cristo". Isso não significa que alguém possa vir a ter fé em Cristo tão-somente por ouvir as Escrituras, pois multidões de pessoas têm se tornado crentes como Jonathan Edwards, por meio da leitura da Bíblia. Mas este versículo fala sobre ouvir. Podemos acrescentar, contudo, que a maioria que, como Edwards, foi convertida ao ler as Escrituras, também são como ele, pois ouviram a proclamação da Palavra de Deus antes da conversão. Além disso, enquanto esta passagem ensina que a fé inicial em Cristo vem de ouvir a Palavra inspirada sobre Jesus Cristo, também é verdade para os cristãos que muito da fé que precisamos para a vida diária vem de ouvir a mensagem bíblica. De uma palavra escriturística sobre a provisão de Deus pode vir a fé que uma família com problemas financeiros precisa. Ouvir um sermão baseado na Bíblia sobre o amor de Cristo pode ser o meio de Deus para conceder segurança de fé a um crente abatido. Recentemente, ouvi uma mensagem gravada em fita que o Senhor usou para me conceder a fé para perseverar em determinado assunto. Dons de fé são muitas vezes concedidos àqueles que se disciplinam em ouvir a Palavra de Deus.

Há outras formas de nos disciplinarmos para ouvir a Palavra de Deus, além da mais importante que é ouvi-la pregada como parte do ministério de uma igreja local. (Digo isto percebendo que alguns não têm oportunidade de ouvir a Palavra de Deus por meio do ministério de uma igreja local.) A mais óbvia delas é por rádios e fitas cristãos. Tais recursos podem ser usados de modo criativo, enquanto nos vestimos, cozinhamos, viajamos etc. Se nenhum desses meios estiver disponível em sua área, considere os rádios de ondas curtas e

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as bibliotecas de empréstimo de fitas por pedido postal. Embora o rádio de ondas curtas seja comum fora dos Estados Unidos, a maioria dos americanos não tem um e raramente pensam nesse meio. Mas a maioria dos melhores professores da Bíblia das estações tradicionais de AM e FM dos Estados Unidos também pode ser ouvida praticamente em qualquer lugar do mundo (inclusive nos Estados Unidos) nas poderosas, sem sinal de qualidade inferior, estações de ondas curtas. E há várias bibliotecas de empréstimos de fitas em todo o país, cada qual com milhares de sermões gravados. Normalmente, elas exigem pagamento somente para cobrir despesas com frete ou uma taxa de aluguel nominal por fita. Verifique os anúncios classificados de publicações cristãs, entre em contato com o escritório de ministérios que distribui fitas-cassete, ou verifique, junto às várias igrejas locais, os nomes e endereços de algumas dessas bibliotecas de fitas.

Um outro texto digno de nota sobre o assunto é 1 Timóteo 4:13, onde o Apóstolo Paulo instrui a seu jovem amigo no ministério: "Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da

Escritura, à exortação e ao ensino". Embora muitas outras explicações pudessem ser dadas, é suficiente dizer que era importante para o ministério de Paulo e importante para o Senhor, que inspirou tais palavras, para o povo de Deus ouvir a Palavra de Deus. Já que é assim, deve se tornar uma prioridade disciplinada para nós ouvi-la. Se alguém diz: "Não preciso ir à igreja para adorar a Deus; posso adorá-Lo igualmente ou até melhor do que na igreja estando no campo de golfe ou no lago", podemos concordar que Deus pode ser adorado nesses locais. Mas a adoração contínua de Deus não pode se dar aparte da Palavra de Deus. Devemos nos disciplinar para ir e ouvir a Palavra de Deus.

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Um comentário se faz apropriado aqui sobre nos prepararmos para ouvir a Palavra de Deus. Se você entrar numa igreja evangélica típica dois minutos antes de o culto começar, vai parecer que você entrou num estádio dois minutos antes do jogo de futebol. Parte de meu coração pastoral aprecia as boas coisas representadas pelas pessoas que ficam felizes em ver e falar umas com as outras. Há um espírito de reunião de família no ar quando a família de Deus se reúne. Contudo, acho que uma parte maior de meu coração anseia por reverência e espírito de busca de Deus dentre aqueles que vêm para ouvir a Sua Palavra.

Por um tempo, uma congregação de cristãos coreanos usou o prédio de nossa igreja para realizar os cultos do meio da semana. Eu ficava impressionado com a maneira como eles entravam no centro de adoração. Quer fossem os primeiros a chegar ou chegassem após o culto já ter começado, eles imediatamente se prostravam em oração por vários momentos antes de ajeitar seus pertences, desabotoar o casaco ou reconhecer a presença de qualquer outra pessoa. Isso servia como um efetivo lembrete a seus próprios corações e a todos os demais, sobre o principal propósito daquele tempo. A maioria das igrejas que conheço bem poderia ter mais momentos assim.

Em 1648, Jeremiah Burroughs, um puritano inglês, escreveu as seguintes palavras de conselho a respeito da preparação para a disciplina de ouvir a Palavra de Deus:

Primeiro, quando se ouve a Palavra, para santificar o nome de Deus, você deve possuir/encher sua alma com o que vai ouvir. Isto é, o que você vai ou vir é a P alavra de D eu s...A ssim , percebemos que o Apóstolo, ao escrever para os Tessalonicenses, fornece o motivo pelo qual a Palavra fazia tanto bem a eles: é que eles realm ente a ouviam com o a Palavra de Deus. "Também

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agradecemos a Deus sem cessar o fato de que, ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram, não como palavra de homens, mas conforme ela verdadeiramente é, como palavra de Deus" (1

Tessalonicenses 2:13). 1

Assim, ouvir a Palavra de Deus não é apenas ouvir passivamente, mas sim, uma Disciplina a ser cultivada.

LENDO A PALAVRA DE DEUS

Se você ainda duvida que os cristãos precisam ser exortados a se disciplinarem para ler a Bíblia, considere o seguinte: "Uma

pesquisa do jornal USA Today revelou, apenas três meses antes deste livro ser publicado, que somente 11% dos americanos lêem a Bíblia todos os dias. Mais de metade a lê menos de uma vez por mês ou simplesmente não a lê" . 2

Evidentemente, tentamos nos consolar observando que a pesquisa inclui todos os americanos, não somente cristãos professos. Lamentavelmente, pode-se encontrar pouco consolo. Uma pesquisa realizada menos de um ano antes pelo grupo de pesquisa Barna, dentre aqueles que se diziam ser "cristãos nascidos de novo" revelou os seguintes números desalentadores: somente 18%, menos de dois a cada dez, lê a Bíblia diariamente. Pior de tudo, 23%, quase um entre quatro cristãos professos, diz que nunca lê a Palavra de Deus.3 Considere estas estatísticas à luz de 1 Timóteo 4:7: "Exercite-se

na piedade" (NVI).

Jesus muitas vezes fazia perguntas a respeito do entendimento do povo sobre as Escrituras, começando com as palavras: "Vocês não leram...?" Ele presumia que aqueles que diziam ser o povo de Deus tinham lido a Palavra de Deus. E há boas razões para se dizer que esta pergunta implica

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familiaridade com toda a Palavra de Deus.

Quando Jesus disse: "Nem só de pão viverá o homem, mas de

toda palavra que procede da boca de Deus " (Mateus 4:4), certamente Ele pretendia, no mínimo, que lêssemos "cada palavra".

Uma vez que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para

o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça" (2 Timóteo 3:16), não é certo que deveríamos lê-la?

Apocalipse 1:3 nos diz: "Feliz aquele que lê as palavras desta

profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo". Deus promete que aqueles que lêem e observam a Sua Palavra serão abençoados. Mas apenas aqueles que se disciplinam a fazê-lo receberão tais bênçãos.

A principal razão, lembre-se, para nos disciplinarmos é a Piedade. Aprendemos que as Disciplinas Espirituais são caminhos escriturísticos em que podemos esperar encontrar a graça transformadora de Deus. A Disciplina mais crucial é a absorção da Palavra de Deus. Uma pesquisa realizada em 1980 por Christianity Today e Gallup Poli confirmou isto ao concluir que nenhum fator influencia mais a formação do comportamento moral e social de uma pessoa do que a leitura regular da Bíblia.4 Se você deseja ser mudado, se você quer se tomar mais semelhante a Jesus Cristo, discipline-se na leitura da Bíblia.

Com que freqüência nós a lemos? O pregador britânico John Blanchard, em seu livro How to Enjoy Your Bible ("Como Desfrutar Sua Bíblia"), escreveu:

Certamente nós só temos que ser realistas e honestos conosco mesmos em saber com que regularidade precisamos nos voltar para a Bíblia. Com que freqüência enfrentam os problem as, te n taçõ es e p ressão ? Todos os dias! A ssim , q u an tas vezes

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os dias! Reunindo todas essas necessidades em algo ainda maior, quantas vezes precisamos ver a face de Deus, ouvir a sua voz, conhecer o seu poder? A resposta a todas essas perguntas é a mesma: todos os dias! Como colocou o evangelista americano D. L. Moody: "Assim como um homem não consegue comer o suficiente para seis meses, ou inspirar de uma vez ar bastante para encher seus pulmões e mantê-lo vivo por uma semana, ele também não consegue armazenar graça para o futuro". Devemos fazer uso do suprimento ilimitado de graça um dia após o outro, conforme necessitamos dela.5

A seguir, são mencionadas as três sugestões mais práticas para se obter sucesso consistente na leitura da Bíblia. Primeira: encontre tempo. Talvez uma das principais razões pelas quais os cristãos nunca lêem a Bíblia toda seja o desânimo. A maioria das pessoas nunca leu um livro de mil páginas antes e desanima só de ver o volume da Bíblia. Você notou que as gravações de leitura bíblica nunca provaram que é possível ler a Bíblia toda em setenta e uma horas? Em média, os americanos gastam esse mesmo tempo vendo televisão em menos de duas semanas. Em quinze minutos por dia, não mais, é possível ler a Bíblia toda em menos de um ano. Somente cinco minutos por dia é o suficiente para você ler toda a Bíblia em menos de três anos. Contudo, a maioria dos cristãos nunca leu a Bíblia inteira em suas vidas. Assim, voltamos à idéia de que é essencialmente uma questão de disciplina e motivação.

Discipline-se para encontrar tempo. Tente reservar sempre o mesmo período todos os dias. Procure separar um tempo que não seja apenas aquele antes de dormir. É válido ler a Bíblia antes de adormecer, mas se este for o único tempo em que você lê as Escrituras, você deverá encontrar outro. Há ao menos duas razões para isso. Primeira, você irá reter muito pouco do que

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leu estando tão cansado e sonolento. Segunda, se for como eu, você provavelmente fará muito pouco mal durante seu sono. Você precisa encontrar Cristo nas Escrituras quando isso ainda possa ter um impacto em seu dia.

A segunda sugestão prática é ter um plano de leitura bíblica. Não é de admirar que as pessoas que simplesmente abrem a Bíblia ao acaso todos os dias logo deixem a disciplina. Há planos de leitura bíblica baratos disponíveis em todas as livrarias cristãs. Muitas Bíblias de estudo contêm um programa de leitura em algum lugar entre as suas páginas. A maioria das igrejas locais também fornece guias de leitura diária.

Aparte de um plano específico, ao ler três capítulos todos os dias e cinco aos domingos, você cobrirá toda a Bíblia em um ano. Leia três do Antigo Testamento e três do Novo Testamento todos os dias, e terá lido o Antigo Testamento uma vez e o Novo Testamento quatro vezes num período de doze meses.

Meu plano favorito envolve a leitura diária de cinco partes diferentes da Bíblia. Começo em Gênesis (a Lei), Josué (História), Jó (Poesia), Isaías (Profetas) e Mateus (Novo Testamento) e leio um número igual de capítulos de cada seção. Uma variação deste plano é a leitura diária de três partes, começando em Gênesis, Jó e Mateus, respectivamente. As três seções têm extensão praticamente igual, assim, pode-se terminá- las ao mesmo tempo. A grande vantagem desse tipo de plano é a variedade. Muitas pessoas que pretendem ler a Bíblia toda em sua seqüência ficam confusas em Levítico, desanimam em Números e desistem completamente em Deuteronômio. Mas quando lemos partes variadas todos os dias, fica mais fácil manter o ritmo.

Mesmo que você não leia a Bíblia toda em um ano, mantenha um registro de quais livros foram lidos. Ponha uma

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marca ao lado do capítulo que ler ou do título do livro, no índice, ao concluir sua leitura. Assim, independentemente de quanto tempo leve, ou da ordem em que eles forem lidos, você saberá quando leu todos os livros da Bíblia.

A terceira sugestão é escolher ao menos uma palavra, frase ou versículo para meditar todas as vezes que você ler. Falaremos mais sobre meditação no próximo capítulo, mas você deve admitir agora que sem meditação você pode fechar a Bíblia e não ser capaz de se lembrar de uma única coisa que leu. E se isso acontecer, é provável que a sua leitura bíblica não produza mudança em você. Até com um bom plano, ela pode se tomar um afazer mundano em vez de uma Disciplina de alegria. Considere ao menos uma coisa que você leu e pense profundamente sobre ela por alguns momentos. Sua visão nas Escrituras irá se aprofundar e você entenderá melhor como elas se aplicam à sua vida. E quanto mais você aplicar a verdade das Escrituras, mais você se tomará semelhante a Jesus.

Todos nós devemos ter a mesma paixão pela leitura da Palavra de Deus que o homem da história a seguir. O evangelista Robert L. Sumner, em seu livro The Wonder of the Word of God

("A Maravilha da Palavra de Deus"), fala sobre um homem na cidade de Kansas que foi gravemente ferido em uma explosão. Seu rosto ficou bastante desfigurado e ele perdeu a visão e ambas as mãos. Ele acabara de se tornar cristão quando o acidente aconteceu, e uma de suas maiores decepções foi que ele não mais poderia ler a Bíblia. Então, ele soube de uma senhora na Inglaterra que lia braile com os lábios. Esperando poder fazer o mesmo que ela, ele encomendou alguns livros da Bíblia em braile. Mas descobriu que os terminais nervosos de seus lábios haviam sido lesados demais para distinguirem os caracteres. Um dia, ao levar uma das páginas em braile aos

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lábios, sua língua tocou alguns caracteres em relevo e ele pôde senti-los. Como um flash, ele pensou: "Consigo ler a Bíblia com a língua". Na época em que o livro de Robert Sumner foi escrito, o homem havia lido a Bíblia toda por quatro vezes.6 Se ele foi capaz disso, será que você consegue se disciplinar para ler a Bíblia?

ESTUDANDO A PALAVRA DE DEUS

Se ler a Bíblia pode ser comparado a cruzar um lago límpido e brilhante em um barco a motor, estudar a Bíblia é como cruzar lentamente o mesmo lago em um barco com fundo de vidro.

A travessia no barco a motor fornece uma visão geral do lago e uma percepção rápida e passageira de sua profundidade. O barco com fundo de vidro do estudo, entretanto, o leva abaixo da superfície das Escrituras para uma observação serena da clareza e dos detalhes que normalmente aqueles que simplesmente lêem o texto deixam de perceber. Como o autor Jerry Bridges coloca: "A leitura nos dá amplitude de vista, mas o

estudo nos dá profundidade".7

Vejamos três exemplos do coração voltado ao estudo da palavra de Deus. O primeiro é Esdras, personagem do Antigo Testamento: "Porque Esdras tinha disposto o coração para buscar a

Lei do SENHOR, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos" (Esdras 7:10). Há um significado instrutivo na seqüência deste versículo. Esdras (1) "tinha decidido dedicar-se", (2) "a estudar a Lei do SENHOR", (3) "e a praticá-la", (4) " e a ensinar os seus decretos e mandamentos aos israelitas". Antes de ensinar a Palavra de Deus ao povo de Deus, ele praticou o que aprendeu. Mas o aprendizado de Esdras veio do estudo das Escrituras. Antes de estudar, contudo,

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ele primeiro "tinha decidido dedicar-se" ao estudo. Em outras palavras, Esdras disciplinou-se no estudo da Palavra de Deus.

Um segundo exemplo é encontrado em Atos 17:11. Os missionários Paulo e Silas mal haviam escapado vivos de Tessalônica após obterem êxito no trabalho evangelístico que provocara ciúmes nos judeus do local. Quando eles repetiram o mesmo curso de ação em Beréia, os judeus dali reagiram de forma diferente: "Os bereanos eram mais nobres do que os

tessalonicenses, pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo". De acordo com o versículo seguinte, o resultado foi: "E creram muitos dentre os judeus". Aqui, a disposição de examinar as Escrituras é considerada como caráter nobre.

Meu exemplo favorito de coração voltado ao estudo da verdade de Deus está em 2 Timóteo 4:13. Da prisão, o Apóstolo Paulo escreve o capítulo final de sua última epístola do Novo Testamento. Antecipando a vinda de seu amigo mais jovem Timóteo, ele escreve: "Quando vieres, traze a capa que deixei em

Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergam inhosE quase certo que os pergaminhos e livros que Paulo pede incluíam cópias das Escrituras. Naquele confinamento frio e miserável, o piedoso apóstolo pedia duas coisas: a capa para usar, a fim de que seu corpo pudesse ser aquecido, e a Palavra de Deus para estudar, a fim de que sua mente e coração pudessem ser aquecidos. Paulo havia visto os Céus (2 Coríntios 12:1-6) e o Cristo ressurreto (Atos 9:5), havia experimentado o poder do Espírito Santo em milagres (Atos 14:10) e até para escrever as Sagradas Escrituras (2 Pedro 3:16); entretanto, continuou a estudar a Palavra de Deus até morrer. Se Paulo precisava, certamente você e eu precisamos e devemos nos disciplinar para fazer isso.

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Então, por que não o fazemos? Por que tantos cristãos negligenciam o estudo da Palavra de Deus? R. C. Sproul o disse dolorosamente bem: "Eis, então, o verdadeiro problema de nossa negligência. Não cumprimos nossa obrigação de estudar a Palavra de Deus nem tanto por ela ser difícil de entender e nem tanto porque estudá-la seja tedioso e enfadonho, mas porque dá trabalho. O problema é que somos preguiçosos".8

Além de preguiça, parte do problema para alguns pode ser insegurança em relação a como estudar a Bíblia ou mesmo por onde começar. Na verdade, começar não é tão difícil. A diferença básica entre leitura bíblica e estudo bíblico é simplesmente um lápis e um pedaço de papel. Ao ler, escreva observações sobre o texto e registre as perguntas que vêm a sua mente. Se sua Bíblia tiver referências cruzadas, procure aquelas que se relacionam com os versículos que instigam suas perguntas, depois registre suas idéias. (Se você não souber bem o que são referências cruzadas ou como usá-las, pergunte a seu pastor ou a outro cristão maduro.) Encontre uma palavra-chave em sua leitura e use a concordância que se encontra no final da maioria das Bíblias para rever as outras referências onde a palavra é usada e observe novamente suas descobertas. Outra maneira de começar é resumir um capítulo, parágrafo por parágrafo. Quando terminar o capítulo, vá para o próximo até que tenha resumido o livro todo. Em pouco tempo, seu entendimento de uma determinada parte das Escrituras será muito mais profundo do que o que você obteve somente pela leitura.

Ao avançar no estudo do Livro de Deus, você perceberá o valor dos vários estudos em profundidade, como o de palavras, de personagens, tópicos e de livros. Você descobrirá uma nova riqueza nas Escrituras ao entender melhor como a gramática, a

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história, a cultura e a geografia que cercam um texto afetam a sua interpretação.

Não deixe que o senso de impropriedade o prive do prazer de aprender a Bíblia por si mesmo. Há livros, grossos e finos, em abundância sobre como estudar a Bíblia. Eles podem fornecer mais orientação sobre métodos e recursos do que eu neste capítulo. Não se contente apenas com o alimento espiritual que foi "pré-digerido" por outras pessoas. Experimente a alegria de descobrir as visões bíblicas em primeira mão por meio de seu próprio estudo bíblico!

MAIS APLICAÇÃO

Se seu crescimento em Piedade fosse medido pela qualidade de sua absorção bíblica, qual seria o resultado? Essa é uma pergunta importante, pois a verdade é que seu crescimento em Piedade égrandemente afetado pela qualidade de sua absorção bíblica. Em Sua magnificente oração Sacerdotal de João 17, Jesus pediu isto ao Pai por nós: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é

a verdade" (João 17:17). O plano de Deus para nos santificar, isto é, para nos tomar santos e Piedosos, é realizado por meio da "verdade": a Sua Palavra. Se nós nos contentamos com uma absorção de baixa qualidade ouvindo, lendo e estudando a Palavra de Deus, restringimos gravemente o principal fluxo da graça santificadora de Deus a nós.

Como eu digo, percebo que seria fácil causar sentimento de culpa em todos nós (inclusive em mim) pelas falhas do passado a respeito da absorção da Palavra de Deus. Sobretudo, lembre-se de que a porta do Céu está aberta para nós não pelas obras que praticamos (como a absorção da Palavra de Deus), mas pela obra de Deus em Jesus Cristo. Além disso, apliquemos

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