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Resumo (de memória) da intervenção na iniciativa do CEJ sobre o tema. Organização e Gestão Judiciárias, Ética e Deontologia.

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Academic year: 2021

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Resumo (de memória) da intervenção na iniciativa do CEJ sobre o tema “Organização e Gestão Judiciárias, Ética e Deontologia”.

Prezados companheiros de mesa:

Ex.mo Senhor Conselheiro Dr. Armando Leandro;

Ex.mo Senhor Procurador-Geral-Adjunto Dr. Baía da Costa

Ex.mo Senhor Procurador Dr. Fernando Amaral, Ilustre Director da Delegação de Coimbra do CEJ

Ex.mo Senhor Juiz Desembargador Dr. Sérgio Gonçalves Poças, Ilustre Director-Adjunto do CEJ

Ex.mo Senhor Presidente da Relação de Coimbra Dr. Joaquim Piçarra Ex.mo Senhor Procurador Geral Distrital Dr. Braga Temido

Ex.mos Senhores Magistrados

Depois das excelentes intervenções proferidas pelos colegas de mesa, que me precederam, restava-me cumprimentar V.as Ex.as e renunciar à palavra.

Não o faço, contudo, por duas razões:

i) a primeira, pelo honroso convite que me foi dirigido para participar em tão importante iniciativa, não podendo, por isso, frustrar as expectativas de quem me convidou – a Ex.ma Senhora Doutora Anabela Miranda Rodrigues, Ilustre Directora do CEJ – personalidade por quem tenho profunda admiração e estima;

ii) a segunda, porque, apesar de tudo quanto já foi proferido, penso ter, ainda, mesmo que pouco, algo a dizer.

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Sobre ética e deontologia já tudo foi dito, quer na sua perspectiva histórica, quer sociológica, quer filosófica e sobre isso nada tenho a acrescentar. Aliás só tenho de agradecer as lições que foram proferidas e os ensinamentos que colhi.

O nosso sistema judicial funda-se em três princípios fundamentais: a independência dos Juízes, a autonomia do Ministério Público e a liberdade e independência da Advocacia.

Desde que assumidos estes princípios na sua essência (de)ontológica, as relações entre os diversos operadores judiciários completam-se com uma conduta cívica: respeito, lealdade, solidariedade, serenidade, ou seja, comportamentos que qualquer cidadão bem formado e com uma educação para a cidadania terá em sociedade.

Não posso deixar de aqui manifestar o meu profundo reconhecimento pela qualidade da nossa Magistratura e da nossa Advocacia.

Fruto de diversas circunstâncias profissionais, tenho tido a possibilidade de trabalhar noutros países da Europa e de poder constatar aí a afirmação que acabo de proferir.

É patente, contudo, que as coisas não estão bem no que respeita ao relacionamento interprofissional.

Verifica-se, quotidianamente, que existe uma tensão, com tendência para o agravamento, entre os profissionais do foro, a que urge pôr cobro.

E estas relações tensas afectam a nossa imagem junto da opinião pública, abrindo campo a que o poder político, demagogicamente, introduza reformas que, pela sua natureza avulsa e sem cuidar do essencial, vão, paulatinamente, afastando os cidadãos e as empresas do sistema judicial, transferindo a resolução dos litígios para meios “alternativos” – Julgados de Paz, Tribunais Arbitrais, Unidades de Mediação, Lojas do Cidadão, entre outros.

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Estas tensões, que a todos afectam e a todos responsabilizam, têm a sua causa próxima na falta de visão dos diversos responsáveis pela condução politica da justiça que não souberam, atempadamente, introduzir as necessárias reformas, quer processuais, quer substantivas.

A maior consciência dos direitos, aliada a um crescente desenvolvimento económico, implicou uma maior e mais dinâmica procura do sistema judicial, sem que este se apetrechasse devidamente, quer em meios humanos, quer materiais, para dar a resposta adequada a essa crescente e constante procura.

Simultaneamente, começaram a entrar nas profissões do judiciário pessoas jovens com melhor formação técnica jurídica, mas com uma grande deficiência de civismo e de cultura humanista, não cuidando de saber que os processos dizem respeito a pessoas concretas, com vida.

O sistema foi ficando inoperante, provocando uma natural depressão nos seus diversos operadores. Ninguém consegue hoje trabalhar com satisfação quando tem de despachar para a estatística, com um volume processual desumano, sem tempo para estudar e reflectir, sem tempo para participar em seminários e conferências onde se debatem questões essenciais às profissões do judiciário, como pudemos constatar neste colóquio.

Daí que o tradicional bom relacionamento entre os profissionais do foro se tenha vindo a degradar. Hoje, não existem os tradicionais jantares de Natal ou as homenagens de despedida de magistrados, tão frequentes até a uma década atrás.

Hoje, os advogados não entram nos gabinetes dos juízes para conversas de circunstância e cortesia mútua.

Os cidadãos e os advogados esperam horas nos corredores dos tribunais à espera da realização de diligências sem que alguém lhes dê uma qualquer justificação pelo atraso.

Na generalidade, o parque judiciário está repleto de edifícios degradados, nos quais os gabinetes dos magistrados são exíguos, sem condições de trabalho, as secretarias estão

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forradas de processos e não existem salas confortáveis para as testemunhas e os advogados.

Obviamente que tudo isto só pode criar um ambiente de profunda depressão que, naturalmente, provoca comportamentos desajustados indutores da tensão que se instalou.

Esquecemo-nos com frequência que todos nós, Juízes, Procuradores e Advogados, temos a mesma missão: promover a Justiça, contribuindo para uma cidadania activa, onde a proclamação do Direito afirme a qualidade e o prestígio dos profissionais do foro.

Penso que nada está perdido, mas há que actuar com urgência, alterando comportamentos, introduzindo normas de conduta de civismo, de respeito mútuo, de lealdade, de solidariedade, enfim, de comportamentos de cidadania.

Se não formos nós a dar o exemplo, perante a sociedade, de que somos mulheres e homens com comportamentos dignos, ninguém poderá afirmar o prestígio das nossas profissões.

Contudo, alguns magistrados com cargos de elevada responsabilidade têm vindo a defender a existência de uma nova profissão jurídica – o defensor público. Seria, seguramente, um profissional (espécie de advogado) com limitações na sua independência e liberdade que só uma ideologia de matriz jacobina pode defender.

Nenhum estado de direito se pode afirmar como tal sem uma advocacia livre, independente e competente. Todos os profissionais do judiciário, com uma elevada cultura democrática e humanista, desejam essa advocacia, porque colabora, decisivamente, na promoção dos direitos liberdades e garantias, promove a composição de interesses sem recurso aos tribunais e facilita a função dos demais intervenientes no sistema.

Nas relações interprofissionais, penso que o exemplo do Distrito Judicial de Coimbra é paradigmático. As relações entre a Presidência da Relação, a Procuradoria Geral Distrital e o Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados não poderiam ser melhores.

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Quer no que respeita à necessária “afinação” de alguns procedimentos, quer na denúncia de alguns comportamentos “patológicos”.

Existem, entre os três responsáveis, as melhores relações pessoais, fundadas no respeito mútuo, na lealdade e na solidariedade institucional.

Mesmo a denúncia de eventuais comportamentos desconformes com a natureza das funções exercidas (que tenho designado por casos “patológicos”) tem sido feita perante as respectivas tutelas e não na praça pública. Circunstância que, a ocorrer, maior dano social e insegurança produziria.

Por último, preocupa-me a desagregação do sistema judicial. A harmonia ética e deontológica, que resulta dos enunciados princípios – independência, autonomia e liberdade –, parece-me posta em causa com a implementação dos meios alternativos de resolução de conflitos.

Que tutela têm estes meios de justiça? Qual a sua ética e a sua (de)ontologia? Como reagir perante as situações de “patologia” comportamental, quer funcional, quer relacional? A quem denunciar tais situações e quais as consequências? Que responsabilidade, e quem responsabilizar, em caso de dano provocado aos cidadãos que recorrem a estes meios?

Deixo a todos estas reflexões que mais não pretendem ser que um singelo contributo para tentar recuperar a boa imagem que o sistema judicial deve ter na opinião pública a benefício da cidadania.

A História não nos perdoará se não formos capazes de assumir o nosso compromisso (de)ontológico com a administração da Justiça.

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