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Protocolo de Avaliação Pós-ocupação de habitação social: um estudo ergonômico de projetos do programa Minha Casa Minha Vida

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Academic year: 2021

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Protocolo de Avaliação Pós-ocupação de habitação social: um estudo ergonômico de projetos do programa Minha Casa Minha Vida

CRESPILHO, Fabiana Estevam Eid (1); BORMIO, Mariana Falcão Bormio (2);

STRABELI, Giovana Innocenti (3) (1) UNESP, Mestranda e-mail: fabiana_eid@hotmail.com (2) Doutora e-mail:marianabormio@uol.com.br (3) USC, Mestre e-mail: ginnocenti@hotmail.com Resumo

Este trabalho apresenta os resultados de um estudo que teve por objetivo desenvolver uma análise ergonômica de projetos de habitação social, construídos com verbas provenientes do programa de financiamento governamental Minha Casa Minha Vida, buscando a compreensão de como estes estão sendo pensados / projetados enquanto qualidade projetual e capacidade de proporcionar conforto e bem estar ao usuário enfocando aspectos como acessibilidade, desenho universal e conforto ambiental (habitabilidade, acústico, lumínico e térmico). Sua execução ocorreu em etapas divididas em revisão bibliográfica, desenvolvimento de metodologia específica, cadastro projetual (identificação, cadastro e visita técnica a conjuntos habitacionais financiados pelo sistema “Minha casa minha vida”), análise ergonômica dos projetos cadastrados e análise dos dados obtidos.

1. Introdução

A habitação sempre ocupou um papel de destaque na vida do ser humano ao ser entendida como um requisito básico para sua sobrevivência. Tal fato direcionou a uma constante busca pela melhor maneira de configurá-la, visando sempre atender os anseios e particularidades do usuário, pois entende-se que de acordo com a maneira que o ambiente está composto, com sua vasta gama de componentes, tais como arquitetura, cores, texturas, iluminação, ventilação, temperatura além de objetos, são criados contextos que condicionam o ocupante ao gerar estímulos e consequentemente reações que podem ser de bem estar e conforto quando esse conjunto de fatores influenciam o usuário de maneira positiva ou negativas quando não satisfazem as necessidades e particularidades dos mesmos.

Um ambiente sempre pode ter sua configuração alterada, entretanto cabe destacar que é na fase de concepção do projeto o melhor momento para se buscar uma adequada configuração direcionada às necessidades reais dos usuários, pois, dessa maneira os resultados são otimizados, ao diminuem as possibilidades de ocorrência de necessidades de intervenções futuras como reformas e adequações. Castro e Batista (2014) consideram que a aproximação entre o projetista, os usuários e o contexto para o qual irá projetar é importante no processo projetual, sobretudo para tomar decisões mais assertivas, e que a distância entre os atores é uma das razões que explicam quando os resultados do projeto não apresentam o desempenho esperado em relação às necessidades de seus usuários.

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Entretanto, pode-se dizer que tais afirmações vem em contra mão ao contexto identificado atualmente no programa de financiamento habitacional do governo federal, o MCMV - “Minha casa, minha vida”, onde há a predominância de conjuntos habitacionais compostos por apartamentos com um único modelo de planta que é reproduzida modularmente sem qualquer tipo de alteração que vise adequação às particularidades do local onde serão implantadas ou ao futuro morador.

Atentando-se a tal fato associado à representatividade do programa, que segundo dados do site do governo federal até o ano de 2014 já haviam sido contratadas 2.863.384 habitações, das quais 1.590.050 já concluídas, esse trabalho relata um estudo que embasado em conceitos ergonômicos foi desenvolvido tendo como objetivo a análise da maneira como esses projetos estão sendo pensados / projetados enquanto qualidade projetual e capacidade de proporcionar conforto e bem estar ao usuário enfocando aspectos como acessibilidade, desenho universal e conforto ambiental (habitabilidade, acústico, lumínico e térmico). Entende-se também, que por meio dessas análises torna-se possível a geração de dados, que ao identificarem os prós e contras dos projetos serão capazes de auxiliar em melhorias futuras, seja de caráter corretivo como na concepção de novos projetos.

O desenvolvimento desse trabalho ocorreu em etapas iniciando por uma revisão bibliográfica a respeito do tema e identificando metodologias utilizadas no mesmo contexto de APO - Avaliação Pós Ocupação, seguido de desenvolvimento de metodologia específica, cadastro projetual (identificação, cadastro e visita técnica a conjuntos habitacionais financiados pelo sistema “Minha casa minha vida”), análise ergonômica dos projetos cadastrados e análise dos dados obtidos.

2. Protocolo de avaliação pós-ocupação de habitação social

O estudo ergonômico do ambiente construído é um segmento de pesquisa em franca ascensão. Tal fato deve-se à necessidade básica do ser humano ocupar espaços para o desenvolvimento de suas atividades associadas à constante busca por melhores configurações dessas.

De acordo com Marta e Salgado (2009), a análise do ambiente construído leva à detecção de problemas, possibilitando a proposta de soluções e melhorias, bem como retro-alimentando o processo de projeto para a melhoria de projetos futuros. Uma das maneiras de desenvolver essas análises é por meio de APOs – avaliações Pós-ocupação, que para Ornstein (1992) pode ser entendida como um método interativo que detecta patologias e determina terapias no decorrer do processo de produção e uso de ambiente construído, através da participação e intenção de todos os agentes envolvidos na tomada de decisões.

Ao falar-se em análise ergonômica é de primordial importância a definição de ferramentas metodológicas adequadas que auxiliem no seu correto desenvolvimento. E Cabe ressaltar ainda, segundo Castro e Batista (2014) citando Ornstein (1995) e Preiser, Rabinowitz e White (1988) que o destaque da APO deve-se ao fato desta ser uma metodologia multimétodos, onde acredita-se que acredita que o cruzamento de dados oriundos pelo menos três métodos dá maior confiabilidade nos resultados.

Atentando-se a tal afirmação e tomando-a como objetivo base de estudo, foi desenvolvido uma metodologia intitulada “Protocolo de avaliação pós-ocupação de habitação social”, estruturada a partir de normas e outras metodologias, conforme será apresentado nesse trabalho.

Esse protocolo foi estruturado em três partes sendo a primeira responsável por fornecer dados a respeito do projeto, como nome do conjunto habitacional, localização, empresa responsável pela concepção do projeto e execução da obra, planta, sistema construtivo, programa de necessidades.

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A segunda parte de caráter técnico aborda a habitabilidade do projeto e o conforto ambiental. No que diz respeito às condições de habitabilidade o protocolo define como referência técnica parâmetros definidos no Código de Obras e Edificações – COE de São Paulo (1992) considerando a relação área construída/habitante, tipo e área dos cômodos. Como índices de avaliação são definidos que a partir da área quadrada por habitante, considera-se como sendo ótimo quando a metragem do cômodo possuir mais de 25% acima do mínimo estabelecido, bom – igual ou até 25% acima do mínimo estabelecido; ruim – até 25% abaixo do mínimo estabelecido e péssimo – mais de 25% abaixo do mínimo.

Nesta etapa analisa-se ainda condições de conforto ambiental, sendo elas:

• Conforto térmico: analisado a partir da comparação entre a implantação real da habitação enquanto à posição do sol e o recomendado pela norma. Os índices de avaliação são ótimo quando a orientação real da janela corresponde à orientação ideal recomendada; ruim quando a orientação real da janela não corresponde à orientação ideal e péssimo quando o cômodo não tem janela ou quando possui janela interna (ALUCCI, 1998);

• Iluminação: verificação da existência de aberturas para o exterior, considerando que estas devem possuir uma área mínima igual ou maior a 1/8 (12,50%) da área do piso nos casos de cômodos de permanência prolongada e igual ou maior a 1/12 (8,33%) da área do piso não podendo ter área inferior a 0,40 m² para cômodos de utilização transitória;

• Conforto térmico: as análises ocorrem a partir de critérios que consideram a relação implantação da habitação no terreno e seu posicionamento solar. É importante destacar que quando esse posicionamento da habitação resulta na influência direta em aspectos como redução do consumo de energia elétrica e condições de salubridade como na proliferação de ácaros e fungos. Para o desenvolvimento desta análise foram definidos os seguintes parâmetros:

− Dormitórios: os dormitórios com aberturas para orientação leste propiciam a entrada direta de luz solar no período da manhã e diminuem a probabilidade de proliferação de ácaros e fungos, organismos comuns nesse tipo de ambiente. Considerando categoria (1º) aberturas para orientação Leste e Nordeste, Categoria (2º) aberturas para orientação Norte, Noroeste, categoria (3º) aberturas para orientação Oeste e Sudoeste e categoria (4º) para aberturas na orientação Sul e Sudoeste;

− Áreas de serviço: áreas de serviço com aberturas para orientação solar de leste/nordeste/norte/noroeste/oeste, propiciam melhor secagem de roupas. Considerando categoria (1º) para aberturas para a orientação leste, noroeste, norte, nordeste e oeste, categoria (2º) para aberturas na orientação sudoeste, categoria (3º) para aberturas na orientação sudeste, categoria (4º) aberturas para orientação sul;

− Banheiros e cozinha: banheiros e cozinhas podem, em sua maioria, receber maior incidência solar (norte), pois são cômodos de menor tempo de permanência dos seus usuários. Por estarem sempre úmidos, o sol ajuda na secagem e manutenção do ambiente livre de microrganismos. Considerando categoria (1º) para incidência solar norte, categoria (2º) para incidência solar noroeste e oeste, categoria (3º) leste, nordeste, categoria (4º) para incidência solar sul;

− Salas de estar e jantar: sala de estar e jantar, que tem permanência prolongada dos usuários, recomenda-se que estejam voltadas para regiões de menor incidência solar direta (sul). Considerando categoria (1º) aberturas para orientação sul e sudeste, categoria (2º) aberturas para

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orientação leste e nordeste, categoria (3º) aberturas oeste e sudoeste e categoria (4º) para aberturas na orientação norte e noroeste.

• Ventilação natural: como critérios de análise estabeleceu-se como sendo um ambiente com boa ventilação interna aqueles que possuem aberturas com metragens correspondentes a 50% ou mais da área de piso e ruim aqueles que possuem estas com valores inferior a 50% da área do seu piso.

A terceira e última parte do protocolo aborda aspectos relativos às medidas antropométricas e acessibilidade, sendo neste caso utilizados os critérios e parâmetros estabelecidos pela NBR9050, que visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos. Os itens avaliados são áreas de circulação e manobra para cadeiras de rodas, considerando rotações de 90º, 180º e 360º.

2.1. Aplicação do protocolo - análises

As análises foram desenvolvidas aplicando-se o Protocolo de Avaliação Pós-ocupação de habitação social, em habitação construídas com verbas do programa federal Minha casa minha vida.

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DE HABITAÇÃO SOCIAL 1. DESCRIÇÃO

Projeto 1 Bauru Ville

Endereço Rua Rafael Pereira Martini Vila Carolina - Bauru/SP Construtora X (Omitida) Planta: 1. Hall 2. Cozinha 3. Área de serviço 4. Sala / copa 5. Dormitório 6. Banheiro

Sistema Construtivo Estrutural em concreto armado pré-moldado e fechamento em alvenaria de tijolos cerâmicos.

Programa de Necessidades Sala, copa, cozinha, banheiro, dois dormitórios e área de serviço.

ANÁLISE DE ESPAÇO HABITÁVEL

Local Área (m²) Ótimo Bom Ruim Péssimo

Cozinha 04,35 m² X

Sala/copa/dormitório 2 pessoas 20,28 m² X Sala/copa/dormitório Casal 19,65 m² X

Banheiro 02,40 m² X

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2. CONFORTO AMBIENTAL

Planta (Indicando o Norte, Avaliação da Insolação)

Dormitórios Sala jantar e estar Banheiro e cozinha Área de serviço 2.1. AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO

Ambiente Orientação Adequada Categoria da Incidência do Local

Dormitório casal Leste e Nordeste 3º Dormitório solteiro Leste e Nordeste 3º Sala de estar e jantar Sul e sudeste 4º Cozinha Norte 1º Banheiro Norte 2º Área de Serviço 1º

2.2. AVALIAÇÃO DO CONFORTO LUMÍNICO

Local Abertura Área de Piso Norma Avaliação

Dormitório casal 1,00 m² 07,56 m² 12,5% OK

Dormitório solteiro 1,00 m² 08,19 m² 12,5% Não Atende

Sala/copa 1,80 m² 12,09 m² 12,5% OK

Cozinha/ área de Serviço 1,44 m² 06,24 m² 12,5% OK

Banheiro 0,48 m² 02,40 m² 12,5% OK

2.3. AVALIAÇÃO DE VENTILAÇÃO Local Área m² Área

ventilada Porcentual Avaliação Dormitório

casal 7,56 m² 2,97 m² 39,20% < a 50% Dormitório

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Sala/copa 12,09 m² 3,30 m² 27,29% < a 50% Cozinha/ área de serviço 6,24 m² 4,73 m² 75,80% > a 50% Banheiro 2,40 m² 1,48 m² 61,66% > a 50% 3. Medidas Antropométricas Acessibilidade (planta) 90º, 180º, 360º

3.1. Avaliação antropométrica de acessibilidade Aberturas

(dimensões)

Norma Local Análise (NBR 9050)

Porta banheiro 0,80 x 2,10 0,62 x 2,10 Não atende Porta entrada 0,80 x 2,10 0,82 x 2,10 Atende Porta Dorm. casal 0,80 x 2,10 0,72 x 2,10 Não atende Porta Dorm. Solteiro 0,80 x 2,10 0,72 x 2,10 Não atende Escadas 2e+b = 63 ou 64cm( Blondell) Não possui - Rampa 8,33% de incl. Não possui - Elevadores NBR 13994 Não possui -

4. Considerações

O programa “Minha casa minha vida” muito tem contribuído para o suprimento do déficit habitacional brasileiro sendo inquestionável sua importância dentro do contexto social contemporâneo. Entretanto, por meio da aplicação do Protocolo de avaliação pós-ocupação de habitação social foi possível constatar que existe uma necessidade de aprimoramento dos projetos tanto em aspectos de habitabilidade, conforto ambiental como de acessibilidade, pois, os tamanhos dos cômodos não atingem as medidas mínimas por habitante, definidas por norma, assim como as condições de conforto ambiental (térmico e lumínico) apresentam-se prejudicadas pela incorreta implantação dos apartamentos relativa à orientação solar e as aberturas direcionando à de um redimensionamento espacial e reposicionamento das aberturas. Cabe destacar ainda que os itens avaliados influenciam diretamente na qualidade de vida e saúde os usuários da habitação

Enquanto às análises que dizem respeito à acessibilidade, verificou-se que o projeto não atende a definições da NBR 9050, pois as medidas de circulação e das aberturas das portas impedem a realização de manobras e passagem de cadeiras de rodas. Por fim,

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considera-se que as questões de conforto ambiental (térmico e lumínico) apresentam-se prejudicadas pela incorreta implantação do apartamento e o consequente posicionamento de suas aberturas relativo à orientação solar. Pode-se concluir, portanto, que há necessidade e um redimensionamento espacial e de um reposicionamento das aberturas. Cabe destacar ainda que os itens avaliados influenciam diretamente na qualidade de vida e saúde os usuários da habitação.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas ABNT NBR 9050– Acessibilidade a Edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, 2007.

ALUCCI, Márcia et al. Implantação de Conjunto Habitacionais. Recomendações para Adequação Climática e Acústica. São Paulo: IPT, 1996.

COE - Código de Obras de Edificações - COE de São Paulo, Lei n°11.228/92.

CASTRO, Iara Sousa; BATISTA, Maiara Oliveira. Análise do ambiente construído baseada na avaliação pós-ocupação e na análise ergonômica do trabalho. In: XV Encontro Nacional de tecnologia do Ambiente Construído. Maceió, 2014.

MARTHA, Juliana D’Avila F.V.; SALGADO, Mônica Santos. Análises do ambiente construído a partir da análise ergonômica do trabalho. In: X Encontro Nacional e VI Encontro Latino Americano de Conforto Ambiental. Natal, 2009.

ORSNTEIN, Sheila. Avaliação Pós-Ocupação do Ambiente Construído. São Paulo: Ed. Nobel – 1992.

http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/04/entenda-como-funciona-o-minha-casa-minha-vida

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