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Para Haroldo Reimer: com carinho, gratidão e reconhecimento

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Academic year: 2021

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sse número de Caminhos, que agora apresento, começou a ser pensado e organi-zado em março de 2015. O motivo foi uma despedida. Após 15 anos de trabalho dedicado e competente realizado junto ao Programa de Pós-Graduação stricto

sensu em Ciências da Religião da PUC Goiás, Haroldo havia pedido demissão dessa instituição, em virtude de sua função em regime de dedicação exclusiva na Universidade Estadual de Goiás. Em março, na reunião do Colegiado, decidiu-se fazer um número dessa revista em homenagem a Haroldo, como forma de agra-decimento por suas muitas contribuições para a consolidação e qualificação do Programa, entre estas constando a criação de Caminhos. Haroldo foi seu funda-dor e primeiro editor. Para realizar esta homenagem, o Colegiado pediu-me que assumisse a coordenação desse número, que deveria contar com a participação de pessoas com as quais Haroldo trabalhou em sua trajetória acadêmica.

Confesso que essa tarefa não foi fácil. A responsabilidade foi grande. Mas, então, como era de costume, coloquei-me a trabalhar. Fiz muitos contatos. Lembrei-me de um dos primeiros esteios e modelos de ação de Haroldo, nosso professor e pastor Dr. Milton Schwantes, já falecido. Também a ele, dedico esse texto

in memoriam. Muitas foram as pessoas que eu poderia ter agregado, mas tive de fazer escolhas. Um dos critérios foi a área de conhecimento, outro foram processos de intercâmbios e internacionalização, bem como de parcerias que foram importantes na vida e no trabalho de Haroldo. Algumas pessoas não puderam aceitar o convite, devido a seus muitos trabalhos. Aos poucos, os artigos foram chegando. Uma pessoa não entregou seu texto em tempo hábil. Na medida em que chegavam os textos, eu comecei a lê-los e a dialogar com cada autora e autor, num processo editorial muito particularizado. Em alguns momentos houve dificuldades especiais, como o fato de não dispormos de fun-cionários nem de verbas para fazer a tradução de resumos para o inglês ou de artigos completos do alemão para o português. Por causa da relevância de dois

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PARA HAROLDO REIMER: COM CARINHO, GRATIDÃO E RECONHECIMENTO*

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artigos em alemão, decidiu-se que os mesmos fizessem parte da revista, em sua língua original, traduzindo-se apenas seu resumo. Enfim, foi um trabalho árduo, marcado por recíprocas solicitude e alegria, em meio a muitas outras atividades de rotina e também de surpresas que a vida não se cansa de trazer... Com todos os vinte e dois ensaios e artigos em mãos (e em várias pastas e pen

dri-ves), cujos autoras e autores representam um nível de excelência em pesquisa acadêmica e científica, nacional e internacional, coloquei-me a organizar a sequência dos mesmos. Optei por dividi-los em três partes, começando pelas contribuições da história cultural, mais especificamente marcada pelas sen-sibilidades e pela memória dos trabalhos de Haroldo, do tempo em que ele estudou Teologia e de suas primeiras aulas de Teologia. A segunda parte é a mais extensa, e apresenta contribuições de análise exegética e hermenêutica de textos sagrados, especialmente do Judaísmo e do Cristianismo. Contribui-ções oriundas de movimentos sociais e religiosos compõem a terceira parte e remetem para a abertura ao futuro. Ao final, há ainda duas resenhas de dois livros de Haroldo: sua tese publicada em alemão e seu livro sobre Liberdade

Religiosa.

Abrimos a revista com o artigo de Carlos A. Dreher, que, entre análises crítico-textu-ais de Amós 4,1-3, também relembra os tempos em que Haroldo era estudan-te e ganhava um ‘dinheirinho’ datilografando a dissertação de seu professor. O ensaio de Osvaldo Luiz Ribeiro registra e comenta memórias afetivas, de reconhecimento e gratidão pela vida e pelo trabalho que ele pode vivenciar junto ao seu professor Haroldo.

A segunda parte é solenemente aberta por Frank Crüsemann, orientador da tese douto-ral de Haroldo, que analisou texto e contexto do profeta Amós. O artigo trata do significado da Bíblia Hebraica para a Igreja e a Teologia cristãs, destacando os motivos da criação, da antropologia, da ética e da dignidade da vida em todas as relações, bem como da necessária revisão de conteúdos teológicos no pós-Holocausto. Pedro Paulo A. Funari, que orientou o pós-doutoramento de Haroldo em História, juntamente com Maria Aparecida de Andrade Almeida escrevem sobre a importância da exegese bíblica para melhor compreensão dos textos bíblicos em seus contextos e melhor embasamento teológico ho-dierno. Em sequência, Rainer Kessler trata das Partes Hínicas do Livro do pro-feta Amós, destacando sua perspectiva cósmica em relação com a (in)justiça social, tão relevantes na tese de Haroldo. O artigo de Erhard S.Gerstenberger, que viveu e trabalhou no Brasil também durante os estudos de Teologia de Haroldo, tendo sido seu professor, ocupa-se em analisar a palavra divina e seu significado nos profetas e no saltério, enfatizando seus mediadores e seu discurso a serviço da comunidade no período persa. Mercedes L. García Ba-chmann nos presenteia com análise crítica sobre a relação entre vinho e poder,

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com base na interpretação de textos proféticos e sapienciais. Crítico-criati-vamente também Nancy Cardoso Pereira relê e interpreta o texto de Jó 28, evidenciando a relação entre atividades mineradoras, (in)justiça e o sofrimen-to da terra na Antiguidade e hoje. O ensaio de Jorge Pixley apresenta Gêne-sis 1 como texto mítico da criação da casa comum para toda a humanidade, colocando diretrizes para o cuidado ecológico local e global. A deusa Inana acompanha atentamente, sob a perspectiva de Monika Ottermann, os conflitos em torno de sua posição especial no panteão mesopotâmico em meio às cres-centes estratégias de patriarcalização. No meio de tanto trabalho indiciário e investigativo, José Ademar Kaefer nos conduz arqueologicamente na releitura de textos bíblicos para reconstrução da história de Israel. Ao lado da quebra de paradigmas na historiografia bíblica de Israel, leituras midráxicas sobre o livro de Lamentações permitem perceber experiências traumáticas na história do povo judeu, sob os perspicazes olhares de Claude Valentin René Detienne. Ainda nessa segunda grande parte, contribuições de exegese e interpretação de textos do Novo Testamento vem agregar competências e alegria na presente homena-gem. Enfatizando uma releitura conceitual, Leif E. Vaage interpreta três mila-gres de Jesus, no evangelho de Marcos, propondo reconsiderações epistemo-lógicas acerca da ação taumatúrgica e terapêutica de Jesus, vinculando-a com a tradição judaica do Jubileu. Dentre os fenômenos culturais mediterrâneos, indícios gnósticos no evangelho de João são observados por Johan Konings, insistindo no conhecimento por meio da participação na práxis de Jesus de Nazaré, como Caminho do e para o amor. Nesse caminho, Marlene Crüse-mann e Ivoni Richter Reimer abrem as portas de várias igrejas domésticas que, enquanto comunidades messiânicas, questionavam ideologias patriarcais por meio da construção de relações irmanais que rompiam com estruturas de dominação e exploração. Adentrando pela carta aos Filipenses, Elsa Tamez vasculha realidades passadas e presentes de prisioneiros(as) políticos(as), re-construindo também fragmentos de vida do apóstolo Paulo, prisioneiro políti-co por causa de Cristo e seu Evangelho.

E assim, chegamos à terceira parte dos textos que compõem este número de Caminhos. Representando o Colegiado do nosso Programa, Alberto da Silva Moreira aborda a Teologia da Libertação como parte fundamental nos processos de re-democratização da sociedade brasileira, destacando-a como movimento social e reflexão teórica com pauta prioritária nos Direitos Humanos. Inspirado pela leitura do livro de Haroldo, Inefável e sem Forma, André Luiz Caes se dispõe a dialogar sobre experiência mística, buscando compreender uma aproximação entre Oriente e Ocidente nesse campo fenomenológico. Também João Luiz Correia Júnior e Francilaide de Queiroz se ocupam com a permanência da mís-tica no mundo contemporâneo, apontando para o fato de que, em meio à

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proli-feração de novos movimentos religiosos, a religião cristã redescobre maneiras de viver sua profunda função social. As muitas tradições religiosas recebem outro olhar atento no ensaio de Tânia Mara Vieira Sampaio, que afirma a ne-cessidade de respeito mútuo e do diálogo na construção de aproximações, que se deve organizar em torno de agendas na luta pela vida e não de questões ins-titucionais. O artigo de Jimmy Sudário Cabral avalia a atitude fenomenológica de e a partir de Husserl, que tem a consciência como fundamento principal e que também pode ser compreendida como meditação com características de uma ascese religiosa, na busca de uma forma primordial da existência humana. Tomando Michel de Certeau e Veena Das como referências, o artigo de Lauri Emílio Wirth fecha emblematicamente esta terceira parte, colocando as dinâ-micas da vida cotidiana no centro das atenções, das reflexões e experiências religiosas, num mundo sempre de novo marcado por fé, ciência e política. Duas resenhas de duas importantes obras de Haroldo estão apresentadas ao final. A

pri-meira foi elaborada por Eliézer Cardoso de Oliveira e trata do livro de Harol-do, Liberdade Religiosa na História e nas Constituições do Brasil, publicado em 2013, pela editora Oikos, de São Leopoldo. A segunda foi feita por Erhard S.Gerstenberger, também porque a obra fui publicada em alemão e não está disponível em português: Richtet auf das Recht! Studien zur Botschaft des Amos (“Realizai o direito! Estudos sobre a mensagem de Amós”), publicada em 1992, pela editora Katholisches Bibelwerk, de Stuttgart.

Organizei este número de Caminhos e escrevi esse Editorial com lágrimas, parafra-seando o apóstolo Paulo. Lágrimas de saudades, porque cada contato e cada texto evocavam lembranças de pessoas queridas e de experiências de lutas e conquistas, acertos e desacertos. Lágrimas de dor, porque muitas palavras foram escritas em meio a sofrimentos, separações, doenças e morte de fami-liares, como o falecimento de Érica Reimer, mãe de Haroldo, e o estado de doença grave de Jorge Pixley. Lágrimas de alegria, porque houve reencontro de pessoas que há tempos não mais estavam presentes, aqui, conosco; porque percebi alguns frutos do trabalho de Haroldo por meio de gente que foi aderin-do às pesquisas exegéticas, hermenêuticas e fenomenológicas; porque, afinal, sempre vale a pena, quando a fé não é pequena! O sonho movimenta a nossa vida e vai se fazendo realidade, sempre de novo. O que sonhamos no passa-do já pode ser percebipassa-do como realidade, também presente nesse número de

Caminhos. Importa saber o que e como continuaremos a sonhar... e para tal, necessário se faz recordar os sonhos anteriores.

Nesse caso, tomei o primeiro Editorial da revista Caminhos, escrito por Haroldo Rei-mer, no primeiro semestre de 2003, data do nascimento da mesma, completan-do ela, portanto, 13 anos, importante fase acompletan-dolescente! No início, encontra-se, poeticamente, a justificativa para a escolha do nome Caminhos, ensejado em

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estudos de Otto e Eliade, destacando a diversidade da experiência religiosa com o Sagrado; por isso, necessários são diversos e distintos caminhos en-tre distintos e diversos povos, culturas, religiões, pessoas, tempos e espaços. Também expressa o objetivo principal da revista, que é propiciar e estabelecer intercâmbio científico com pesquisadores, pesquisadoras e outras instituições e programas na área das Ciências da Religião e da Teologia no Brasil e no exterior, por meio da acolhida de textos e discussões críticas. Do final daquele Editorial destaco o desejo de Haroldo para e por meio da revista Caminhos: ser um espaço para promover e difundir pesquisa e conhecimento na área de Ciências da Religião e afins, com pessoas e instituições que tem, no Sagrado, na experiência e no fenômeno religiosos um significativo eixo e referência de e para suas pesquisas. Desejo e sonho que se fizeram e fazem realidade, com muito trabalho e dedicação, mas também na companhia de muita gente queri-da e desse Sagrado tantas vezes inusitado e sempre inefável...

Desejo, sinceramente, que este número de Caminhos possa encontrar acolhida no co-ração, biblicamente lugar de reflexão e discernimento, de Haroldo e acalentar sua nova e igualmente laborosa, criativa e árdua caminhada!

E é nesse espírito que desejo boas leituras!

Ivoni Richter Reimer Goiânia, 02 de maio de 2016 509 anos da ordenação sacerdotal de Martim Lutero

Referências

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