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As atitudes implícitas e explícitas como preditoras do uso do preservativo

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

AS ATITUDES IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS COMO

PREDITORAS DO USO DO PRESERVATIVO

Marina Filipa Costa Pesca

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção de Psicologia da Educação e da Orientação

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

AS ATITUDES IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS COMO

PREDITORAS DO USO DO PRESERVATIVO

Marina Filipa Costa Pesca

Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria João Alvarez

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção de Psicologia da Educação e da Orientação

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O presente trabalho foi apoiado pela Bolsa de Investigação (Ref. 167/12) da Fundação BIAL

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo i Agradecimentos

À Professora Maria João Alvarez, pelo seu vasto conhecimento e entusiasmo pelo tema. Pela

persistência, exigência e paciência no desenvolvimento deste trabalho.

Ao Dr. Manuel Oliveira, pelo seu entusiástico conhecimento e inteira disponibilidade. Sem a sua

preciosa ajuda este processo seria muito mais complicado.

À Fundação BIAL, entidade financiadora do projeto, um agradecimento pelo apoio a este trabalho.

A todos os estudantes que participaram neste estudo, que despenderam do seu tempo a fim de

contribuírem para o aumento de conhecimento desta área.

Aos meus pais, que sem eles nunca chegaria aqui. A eles dedico este meu trabalho, como

reconhecimento do constante orgulho, apoio, compreensão e carinho. Ao Marcelo, o meu irmão e

“cobaia”, pelo seu carinho, paciência e sinceridade.

À Marisa, por tudo! Desde o início desta aventura académica até sempre; por conseguires tirar o

melhor de mim e desfazeres o pior. Pela infinita amizade e apoio.

À Catarina, por me descomplicares! Pela tua energia inabalável, pela paciência nos meus momentos

mais negros e por me encorajares sempre.

À Daniela, pela calma e ânimo; à Sara, pelo constante apoio e amizade; à Mafalda e Liliana, pela

partilha de aflições e sucessos neste processo e à Inês, pelo carinho e apoio.

Aos amigos “bandásticos”, pela música, constante alegria e toda a força que me transmitiram neste

processo: Márcio, Gonçalo, Miguel P., Francisco, António, Joãozinho, Luís M., Andreia, Joana e

Pedro Simões.

A toda a restante família e amigos, pelo amor e apoio. Por acreditarem em mim, mesmo quando eu

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo ii Resumo

O presente estudo teve como objetivo principal a criação de um Teste de Associação Implícita (IAT) em relação ao preservativo para uma amostra portuguesa. Procurou também conhecer a relação entre as atitudes implícitas e explícitas, através do seu valor preditor face ao comportamento de uso do preservativo em relações regulares e casuais, bem como ao seu uso passado. Participaram neste estudo 69 estudantes da Universidade de Lisboa, 39 na construção do IAT e 30 no estudo preditivo. Para a construção do IAT foram facultados cadernos de resposta para os participantes inferirem acerca da valência de palavras e neutralidade de imagens, para decisão das palavras e imagens a utilizar como estímulos no IAT. Para o estudo preditivo, cada participante teve acesso a um de dois cenários sexuais, namoro ou engate, e foi solicitado a imaginar-se nessa situação, através da leitura do cenário. Seguidamente, foram feitas perguntas relativas à probabilidade do uso do preservativo e do nível de risco de cada situação. Os participantes completaram em seguida o IAT, as escalas de medição de atitudes explícitas e perguntas relativas ao uso prévio do preservativo em situações sexuais passadas. Um dos produtos deste estudo relacionou-se com a construção de um IAT que pode ser usado para avaliar as atitudes implícitas face ao preservativo. Os resultados mostraram que foram as atitudes explícitas que melhor previram o uso do preservativo tanto no namoro como no engate. Apesar de as atitudes implícitas e explícitas se terem mostrado positivas para os participantes, não houve qualquer correlação entre as duas, mostrando tratar-se de aspetos atitudinais diferentes. A construção do IAT foi fundamental para o conhecimento das atitudes implícitas da amostra, mas será necessário voltar a testá-lo em investigações futuras, uma vez a categoria contrastante não ter mantido o seu carácter neutro, ao contrário do encontrado nos estudos preparatórios à sua construção.

Palavras-chave: Atitudes implícitas, Atitudes explícitas, Teste de Associação Implícita, Predição do uso do preservativo, Estudantes universitários.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo iii Abstract

This study focused on the creation of an Implicit Association Test (IAT) towards condom in a Portuguese sample. Also wanted to know the relationship between implicit and explicit attitudes, through his predictive value to condom use behavior in regular and casual relationships, as well as its past use. The sample consisted of 69 students from the University of Lisbon, 39 in the construction of IAT and 30 in the predictive study. To build the IAT booklets were provided to the participants to infer about the valence and neutrality of words and images, to make a decision about the words and images to use as stimuli in the IAT. For the predictive study, each participant had access to a two sex-scenarios, dating or engagement, and it was asked to imagine in that situation, by reading the scenario. Next, questions were asked about the likelihood of condom use and the level of risk for each situation. Then, the participants completed the Implicit Association Test, measurement scales of explicit attitudes and questions concerning prior use of condoms in past sexual situations. One product of this study was related to the construction of an IAT that can be used to assess the implicit attitudes towards condom. The results showed that it was the explicit attitudes that best predicted condom use both dating as on the engagement. Although the implicit and explicit attitudes have shown positive for the participants, there was no correlation between the two, showing to be related with different attitudinal aspects. The construction of the IAT was critical to understanding implicit attitudes of the sample, but will need to re-test it in future research, since the contrasting category did not maintained its neutral character, unlike what is found in preliminary studies to construction.

Key-words: Implicit attitudes, Explicit attitudes, Implicit Association Test, Prediction of condom use, University students.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo iv Índice Geral

Introdução ... 1

Enquadramento Teórico ... 4

Contextos no Uso do Preservativo ... 5

Atitudes e Atitudes Sexuais... 6

Atitudes Explícitas e o Preservativo... 8

Atitudes Implícitas e o Preservativo... 9

Medição das Atitudes ... 10

Teste de Associação Implícita – IAT. ... 12

IAT Preservativo... 15 Objetivos Gerais... 15 Hipóteses ... 16 Método ... 17 Participantes ... 17 Procedimentos ... 17 Materiais ... 19 Construção do IAT ... 19 Estudo Prévio ... 19 Cenários Sexuais... 21

Teste de Associação Implícita (IAT) ... 21

Atitudes Explícitas ... 23

Análise estatística ... 24

Resultados ... 28

Caracterização da Amostra... 28

Análise dos Cenários ... 28

Avaliação da Valência de Palavras e Imagens ... 29

Atitudes Implícitas, Atitudes Explícitas, Uso Prévio do Preservativo e o Uso nos dois Cenários ... 33

Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso Prévio do Preservativo e do Uso nos dois Cenários ... 34

Discussão e Conclusões ... 36

Implicações e pistas para investigações futuras ... 40

Bibliografia ... 41

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo v Índice de Quadros

Quadro 1. Imagens de árvores, cadeiras e portas organizadas por ordem crescente das avaliações médias de valência ………. 29

Quadro 2. Palavras agradáveis e desagradáveis selecionadas por ordem crescente das avaliações médias de valência ………. 30

Quadro 3. Correlação entre as subescalas da EAFP e da EMAFP ………. 33 Quadro 4. Médias, desvio-padrão e correlações entre a probabilidade do uso do preservativo nos diferentes cenários, o uso prévio, as atitudes explícitas e implícitas ……… 34

Quadro 5. Regressão linear múltipla de predição do uso prévio do preservativo e do uso no contexto dos dois cenários (namoro e engate) em função das atitudes implícitas e explícitas. 35

Índice de Figuras

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 1 Introdução

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a saúde sexual é um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade não sendo somente a ausência de doenças, disfunções ou enfermidades. O acesso à saúde sexual e reprodutiva pode ser entendida como a capacidade de todas as pessoas, igualmente e de acordo com as suas capacidades, para receber informação adequada, triagem, tratamento e cuidados em tempo útil ao longo de todo o curso da sua vida. O acesso à saúde sexual e reprodutiva vai garantir, independentemente da idade, sexo, classe social, região onde mora ou etnia, entre outros, a prevenção, tratamento e controlo de infeções do trato reprodutivo e infeções sexualmente transmissíveis, incluindo o vírus da imunodeficiência humana (VIH/SIDA) e o disfrute de um relacionamento sexual saudável, seguro e satisfatório, o que contribui para a valorização da vida e das relações pessoais.

Alguns autores consideram que a Educação Sexual não está a percorrer o caminho desejado, na medida em que se baseia sobretudo em abordagens preventivas, desvalorizando a sexualidade e a exploração das atitudes e comportamentos subjacentes, com vista à sua promoção. A sexualidade do jovem não é percebida a partir do seu aspeto positivo, como fonte de prazer e autoestima (Knauth, 2004 cit. por Cunha-Oliveira, Cunha-Oliveira, Pita, & Massano-Cardoso, 2009). Consequentemente, “usar ou não preservativo numa relação sexual depende mais de fatores ligados à sexualidade no seu todo, com os condicionantes psicológicos, relacionais, culturais, afetivos e situacionais que a caracterizam, do que de todas e quaisquer considerações de natureza sanitária preventiva” (Cunha-Oliveira et al., 2009, p. 9).

É possível intervir de uma forma mais ajustada à realidade, nomeadamente na Educação para a Saúde, quando se conhecem as motivações individuais que levam o indivíduo a agir de certo modo. Existem diferentes abordagens teóricas e intervenções que têm sido eficazes na

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 2 predição e mudança de certos comportamentos (e.g. atividade física, seguir uma dieta saudável, deixar de fumar, reduzir o consumo de álcool), enfatizando atitudes, intenções e estratégias de autorregulação, entre outras, como importantes para essa mudança (Armitage & Conner, 2000). Contudo comportamentos mais espontâneos e impulsivos, como o uso do preservativo ou o comportamento tabágico, revelam-se mais difíceis de prever e são mais resistentes às estratégias de intervenção (Keatley, Clarke, & Hagger, 2012).

O estudo das atitudes explícitas, através da sua medição direta, revela-se de grande importância por avaliar crenças, opiniões e avaliações dos indivíduos face a um determinado objecto. Como afirmam Lima e Correia (2013), a forma mais precisa de se chegar a esses conteúdos cognitivos é através da autodescrição do posicionamento individual. No entanto, a medição direta destas atitudes não se revela suficiente para o conhecimento das atitudes do indivíduo. Tal decorre de o indivíduo poder querer mostrar uma imagem positiva de si mesmo, enviesando as respostas, o constructo estudado poder não ser relevante para o indivíduo e a sua posição face ao tema não estar bem estruturada e, ainda, o contexto poder condicionar a sua resposta (Lima et al., 2013). De facto, apesar de as atitudes explícitas se relacionarem com a intenção de uso do preservativo, a intenção está longe de predizer fortemente o uso desta proteção (Albarracín, Johnson, Fishbein, & Muellerleile, 2001), resultado encontrado também em estudos portugueses (Cunha-Oliveira, Cunha Oliveira, Pita, & Massano-Cardoso, 2009). Por estas razões, é importante conjugar o estudo de medidas diretas com o das medidas indiretas das atitudes, uma vez que se chega a um resultado a partir de um outro indício que não a resposta verbal. Nas medidas de atitudes implícitas por ser mais difícil saber o seu propósito, reduz-se a probabilidade de enviesar respostas, aumentando o acesso a atitudes mais espontâneas por parte dos indivíduos.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 3 Face à pertinência do papel das atitudes explícitas no uso do preservativo, o presente estudo pretende colmatar uma lacuna existente na literatura em torno do desconhecimento das atitudes, mas agora implícitas, em jovens adultos portugueses. Assim, pretendemos explorar informação relevante sobre as atitudes implícitas na amostra, contribuir a nível metodológico com a criação de um instrumento de avaliação das atitude implícitas face ao preservativo para a população portuguesa, uma área inexplorada, e ajudar a delinear estratégias de intervenção em função do contributo das diferentes atitudes no âmbito de diferentes relacionamentos.

A dissertação inicia-se com o Enquadramento Teórico, onde se contextualizam os conceitos relacionados com as atitudes face à sexualidade e ao uso do preservativo e com o instrumento de medida utilizado para a avaliação das atitudes implícitas – o IAT. São também referenciados outros estudos realizados com o intuito de se conhecer as atitudes envolvidas na predição do uso do preservativo em diferentes contextos, por meio das medidas implícitas e explícitas, terminando com as hipóteses formuladas para este estudo. Segue-se o Método, onde se apresentam os participantes, o procedimento, os instrumentos e medidas utilizados para a recolha de dados e a análise dos mesmos. Na secção seguinte, os Resultados, são apresentados os principais resultados do estudo, analisados e discutidos na secção Discussão. Serão também apresentados os aspetos mais inovadores do estudo, as limitações, as implicações e pistas para investigações futuras. Por fim, sumariam-se as Conclusões, destacando os aspetos que se consideram mais relevantes deste estudo.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 4 Enquadramento Teórico

O uso sistemático do preservativo entre os adolescentes e jovens adultos sexualmente ativos é de extrema importância, não só por ser o método mais eficaz de prevenção de infeções sexualmente transmissíveis, mas também por se constituir como um método eficaz na prevenção de gravidezes indesejadas. Na Educação Sexual, há provas de que quanto mais elevado é o nível de instrução relativamente ao uso do preservativo, maior é a prevalência do seu uso (Bankole, Darroch, & Singh, 1999; Dubois-Arber & Spencer, 1998).

Existem diferenças nas atitudes em relação ao preservativo, nos diferentes géneros. Há provas de que as mulheres exibem atitudes mais negativas face a este comportamento sexual como comprar e transportar preservativos em comparação com os homens, mas têm atitudes mais favoráveis relativamente ao seu uso do que eles (Sacco, Levine, Reed, & Thompson, 1991). Tal pode ser explicado pelo facto de as mulheres delegarem a tarefa de compra e transporte ao seu parceiro, não sendo habitual envolverem-se em tais comportamentos, mas detêm uma atitude mais positiva face à proteção. Intervenções que atuem na diminuição da inibição das mulheres relativamente à compra e transporte dos preservativos e na influência que estes têm na situação sexual podem resultar num aumento do seu uso (Geer & Robertson, 2005; Sacco et al., 1991).

Em Portugal, as provas apontam no mesmo sentido no que se refere às atitudes face ao preservativo. As jovens revelam uma atitude mais favorável em relação ao uso do preservativo do que os rapazes, sendo uma atitude favorável face ao uso do preservativo preditora da sua utilização. Concomitantemente, as raparigas mostram sentir mais embaraço na aquisição do preservativo e tomam menos a iniciativa em adquiri-lo, dependendo assim dos rapazes (Cunha-Oliveira et al., 2009). Para além desta diferença, em termos gerais, a atitude face ao uso do preservativo é positiva entre os estudantes universitários portugueses (Ramiro et al., 2014).

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 5 Contextos no Uso do Preservativo

Segundo van Empelen e Kok (2006), é fundamental distinguir o uso do preservativo em relacionamentos sexuais regulares e casuais, dado que alguns comportamentos preparatórios como comprar, ter consigo e falar sobre os preservativos, podem influenciar a intenção do uso do preservativo nas diferentes situações. No contexto de relacionamentos regulares é expectável que a relação sexual seja planeada e frequente, o que leva a que a preparação da ação seja uma rotina. Este facto sugere que o uso do preservativo pode tornar-se habitual quando o comportamento é planeado e realizado numa base regular. No contexto de relacionamentos casuais, a oportunidade de ocorrer uma relação sexual é inesperada e pouco frequente, sendo algo que a pessoa não antecipa nem prepara habitualmente. Daqui resulta uma menor preparação e probabilidade em usar preservativo e, consequentemente, uma maior disposição dos jovens para, nestes casos, correrem o risco de terem relações sexuais desprotegidas (van Empelen & Kok, 2006).

Decorrente do carácter mais ou menos rotineiro do uso do preservativo no contexto de uma relação regular e casual, respectivamente, autores há que distinguem o papel dos processos automáticos e dos processos deliberativos no uso do preservativo (Czopp, Montieth, Zimmerman, & Lynam, 2004). Mais concretamente consideram que a pessoa será guiada pelas atitudes implícitas em situações habituais, devido ao facto de a situação envolver um processamento mais automático, e por atitudes explícitas em situações em que o processamento é mais controlado, levando o indivíduo a pensar de forma mais cuidadosa (Czopp et al., 2004). No entanto, existem perspetivas contrárias. Marsh, Johnson e Scott-Sheldon (2001) predizem uma relação diferente, considerando que numa relação regular, o indivíduo geralmente sabe se e quando vai ter relações sexuais, vigorando o processamento mais deliberado, ao considerar com mais cuidado e antecedência o uso do preservativo na interação sexual. Já numa relação

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 6 casual, são as atitudes implícitas que predizem o comportamento, visto a interação sexual poder acontecer de forma espontânea e não controlada.

Atitudes e Atitudes Sexuais

É na área da Psicologia Social que se têm feito mais esforços para a análise e sistematização do conceito de atitude. Destaca-se o trabalho de Eagly e Chaiken (1993 cit. por Lima & Correia, 2013), que procura definir atitude por meio de diversas perspetivas. Os autores assumem que a atitude não é diretamente observável, por isso é designada por constructo hipotético, devido à existência de uma relação entre a situação vivida pelo sujeito e o comportamento, explicada pelas variáveis latentes. É também uma tendência psicológica, na medida em que se manifesta-se por meio de um julgamento avaliativo – um dos pontos consensuais em todas as definições clássicas. As atitudes expressam-se com base nas fontes utilizadas para retirar informação ou através da justificação dada para obter informação e caracterizam-se por três componentes: a direção (favorável ou desfavorável), a intensidade (confronto entre posições extremas ou fracas) e acessibilidade (probabilidade da atitude ser ativada automaticamente da memória quando confrontada com o objeto). Existe ainda a presença de um objeto específico, que está presente ou é lembrado por um indício de objeto (Lima, 2010; Lima & Correia, 2013).

É ao longo da vida que as atitudes são aprendidas, por meio da interação com fatores externos, para que seja possível adquirir ideias, crenças ou valores considerados pertinentes para o contexto (Filipe, 2012). No entanto, apesar da influência familiar, dos pares e do meio envolvente, a própria pessoa tem o poder de se ajustar àqueles que a rodeiam, isto é, a orientação de duas pessoas face a qualquer assunto pode ser favorável, mas a intensidade dessas opiniões pode diferir e colocá-las em posições diferentes. O ajuste é mediado pela componente afetiva que regula a intensidade da atitude (Prislin & Wood, 2005 cit. por Filipe, 2012).

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 7 As atitudes são definidas como disposições favoráveis ou desfavoráveis em relação a objetos sociais, tais como pessoas, lugares e políticas. Elas podem dividir-se em atitudes implícitas – ativadas automaticamente, mesmo que não sejam conscientemente reconhecidas e/ou que o indivíduo não esteja disposto a expressá-las e atitudes explícitas – aquelas de que os indivíduos estão conscientes e dispostos a relatar (Greenwald & Banaji, 1995; Geer & Robertson, 2005).

O estudo das atitudes implícitas foi iniciado por Greenwald e Banaji (1995) quando encontraram provas de que as atitudes não conscientes de um indivíduo, no momento da ação, predizem fortemente o seu comportamento. A interpretação destas atitudes, relativamente ao efeito no comportamento, expande substancialmente a validade preditiva e de constructo da matéria já muito estudada pela Psicologia Social.

As atitudes implícitas são traços introspetivamente não identificados (ou erroneamente identificados) de experiências passadas que medeiam o sentimento favorável ou desfavorável, o pensamento ou a ação face a objetos sociais (Greenwald & Banaji, 1995, p. 8).

As atitudes sexuais refletem aspetos da vida sexual de uma pessoa e têm origem em esquemas complexos que relacionam aspetos sociais, culturais, interpessoais, biológicos e psicológicos. São alguns exemplos, as atitudes face à homossexualidade, à masturbação, ao relacionamento afetivo ou ao uso do preservativo. No entanto, vão depender bastante das normas da sociedade, das estratégias de relacionamento adotadas pelo indivíduo e da forma como lida com a sexualidade (Davidson, Moore, Earle, & Davis, 2008).

As atitudes face à sexualidade, segundo Lopez e Fuertez (1999 cit. por Filipe, 2012), podem ser de natureza conservadora, a qual refere-se à visão da sexualidade como meio de reprodução, considerando como válidos os comportamentos dentro do casamento, devendo a

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 8 educação sexual ser transmitida com base no valor da vida, da família e do cuidado parental. Podem também ser de natureza liberal, a qual encara a sexualidade como mais abrangente, atribuindo a si próprio a capacidade de julgar o seu comportamento. Daqui resulta uma atitude mais permissiva no que diz respeito a políticas e leis relacionadas com a sexualidade, maior tolerância a todas as formas de sexualidade, encarando-a como algo mais natural.

Encontram-se diferenças de género no que respeita às atitudes sexuais (Antunes, 2007). Os homens apresentam atitudes mais permissivas para as relações sexuais casuais, aceitando diversidade de parceiros e sexo de partilha e utilitário com o objetivo principal de obter prazer físico. Contrariamente, as mulheres têm atitudes menos permissivas às relações sexuais casuais e demonstram atitudes mais direcionadas para o planeamento familiar e educação sexual.

Atitudes Explícitas e o Preservativo

Na Educação Sexual, a maioria das intervenções realizadas foca-se principalmente na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e a ênfase recai, entre outros aspetos, no aumento da frequência do uso do preservativo e no desenvolvimento de uma atitude mais positiva em relação a este (Reece et al., 2010). O uso de medidas explícitas mostra-se uma mais-valia para conhecer as crenças e atitudes em relação ao preservativo e é também imprescindível para uma avaliação coerente da eficácia dos programas educacionais e técnicas de mudança de atitudes e comportamentos no que diz respeito ao uso do preservativo (Brown, 1984).

São várias as escalas criadas para o estudo das atitudes explícitas em relação ao uso do preservativo (e.g. Brown, 1984; Helweg-Larsen, & Collins, 1994; Madu & Peltzer, 2003; Sacco, Levine, Reed, & Thompson, 1991) e que envolvem fatores comportamentais, como por exemplo o impacto interpessoal, o autocontrolo, a segurança e a confiança nos preservativos, o constrangimento, a inibição ou o efeito do seu uso na experiência sexual. De facto, estes

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 9 fatores são determinantes para conhecer as atitudes dos indivíduos relativamente ao ato de usar preservativo e indicam existirem múltiplas dimensões explicativas do seu uso, ou não-uso (Reece at al, 2010).

No entanto, há provas sobre a importância de se estudarem as atitudes explícitas em relação ao uso do preservativo por meio de alvos não comportamentais como seja a atitude relativa ao objeto em si, isto é, em relação ao preservativo em si mesmo (Reece et al., 2010). Tal permite conhecer as opiniões dos indivíduos relativamente ao objeto e não só ao comportamento inerente ao seu uso, o qual pode também ser uma condicionante. Tal como Weigel e Newman (1976) referem, as medidas de atitude face ao objeto podem deter disposições amplas e duradouras com implicações comportamentais fortes e diversificadas.

Para melhor compreender as atitudes explícitas face ao uso do preservativo dos jovens-adultos, Cunha-Oliveira e colaboradores (2009) realizaram um estudo, através da medição direta das atitudes e os resultados mostram que os jovens-adultos apresentam atitudes favoráveis relativamente ao uso do preservativo. Essas atitudes, segundo os autores, são preditoras do uso efetivo do preservativo.

A utilização destes dois tipos de medida, ou a criação de uma escala mais abrangente, pode submeter a uma compreensão mais alargada da atitude e comportamento em relação ao uso do preservativo e promover estratégias mais adequadas na área da saúde sexual.

Atitudes Implícitas e o Preservativo

Não são apenas as atitudes explícitas que afectam o uso do preservativo, pois sabemos como atitudes positivas face ao uso do preservativo têm fraca correspondência com o seu uso (Albarracín et al., 2001). Deste modo, as atitudes implícitas podem também ser importantes e afectar o uso do preservativo, estando ainda por realizar estudos aprofundados sobre o assunto.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 10 Os poucos estudos realizados sobre o papel das atitudes implícitas no uso do preservativo não chegaram a conclusões concordantes (Czopp et al., 2004; Marsh et al., 2001), tendo partido de previsões igualmente diferentes. Marsh e colaboradores encontraram provas de que as atitudes implícitas predizem o uso do preservativo num relacionamento casual, enquanto as atitudes explícitas predizem o mesmo comportamento num relacionamento regular. Por outro lado, Czopp e colaboradores encontraram provas de as atitudes implícitas predizerem o uso do preservativo nos relacionamentos regulares e as atitudes explícitas predizerem o seu uso nos relacionamentos casuais. Czopp e colaboradores afirmam que o recurso aos modelos tradicionais de mudança dos comportamentos de saúde exclui as atitudes implícitas e não permite estudar o seu papel em relação ao preservativo. As atitudes implícitas estão associadas, de acordo com estes autores, ao comportamento de uso do preservativo em situações em que os estímulos externos para o sexo seguro não sejam tão óbvios e seja dominado pelo processamento automático como sejam os relacionamentos regulares. Ao invés, o papel das atitudes explícitas será preditor do uso do preservativo em situações de maior deliberação como sejam os relacionamentos casuais, onde o uso do preservativo não faz parte de uma rotina instituída entre os parceiros.

A continuação da pesquisa sobre a relação entre atitudes implícitas e os comportamentos mostra-se em nosso entender bastante importante, na medida em que ajudará a compreender não apenas as atitudes mais suscetíveis de oferecer uma linha de proteção contra as consequências negativas de um comportamento sexual de risco (Czopp et al., 2004), mas também dos contextos relacionais em que se possam vir a mostrar mais importantes.

Medição das Atitudes

Devido às suas componentes e variáveis, tornou-se necessário desenvolver formas estruturadas de avaliar as atitudes, através dos tipos de respostas fornecidas perante um objeto

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 11 inferido. São dois os tipos de medidas das atitudes, as diretas e as indiretas, cuja diferença se relaciona com a informação acerca do propósito da medição (Greenwald & Banaji, 1995).

O método mais comum de se realizar a medição direta das atitudes é através da utilização de escalas de atitudes (Lima, 2010; Lima & Correia, 2013). É também o modo mais direto de aceder aos conteúdos cognitivos e motivacionais do indivíduo, uma vez que a resposta a estas escalas apenas requer que o participante mostre as suas crenças, opiniões e avaliações acerca de um determinado objeto. Habitualmente, são escalas de autoavaliação em que o indivíduo tem de responder numa escala intervalar (e.g. escala de Likert) se um conceito é favorável ou desfavorável. No entanto, também a nível cognitivo, foi necessário sistematizar outro tipo de medição das atitudes que pudesse colmatar a limitação de que o indivíduo possa apresentar uma boa imagem de si, ao responder às escalas de autoavaliação e tal não corresponder à sua atitude real.

Assim sendo, na medição indireta o que é relevante não é a resposta verbal do indivíduo, mas antes outro indicador – o tempo de reação. A vantagem principal deste tipo de medição é os indivíduos não poderem alterar a sua resposta no sentido da desejabilidade social, muitas vezes por não saberem o propósito da avaliação (Lima, 2010; Lima & Correia, 2013). A natureza destas medidas pode ser muito distinta por diferir nos fatores que influenciam o comportamento: corporal – faz referência à avaliação das atitudes diretamente observáveis, através de sinais corporais (e.g. corar, sudação, aceleramento do batimento cardíaco); comportamental – medição focada na manifestação comportamental, em meio natural (e.g. atitudes raciais) e cognitiva – utilização de material subjetivo para que os indivíduos façam valer das suas atitudes, cognitivamente, sem que se apercebam delas, por não serem conscientes (Lima, 2010; Lima & Correia, 2013).

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 12 A compreensão e medida das atitudes implícitas foi proposta por Greenwald e Benaji (1995) aquando a criação do Teste de Associação Implícita. Trata-se de um instrumento de natureza cognitiva que pretende medir as atitudes implícitas, através da sua avaliação automática subjacente, recorrendo aos tempos de reação.

Teste de Associação Implícita – IAT.

Para melhor compreender o efeito das atitudes no comportamento foi criado um instrumento de medição indireta das atitudes. Este instrumento parte do pressuposto de que é mais fácil para os indivíduos emparelharem dois conceitos numa única ação (e.g. pressionar uma tecla), quando estes estão associados entre si, do que quando não estão (Czopp et al., 2004; Greenwald, McGhee & Schwarts, 1998; Oliveira & Miranda, 2012). Deste modo, neste tipo de instrumentos, o tempo de reação é entendido como uma medida de associação, uma vez mostrarem quão mais rápida ou mais lenta é feita a combinação dos conceitos.

O Teste de Associação Implícita (IAT, Greenwald et al., 1998) é um instrumento de dupla categorização que avalia as atitudes implícitas (não-conscientes) dos indivíduos, relativamente a um objeto. Este instrumento permite estudar as atitudes e outras associações automáticas que os indivíduos não queiram expressar, devido ao carácter de dissimulação das estratégias de autoapresentação (Greenwald et al, 1998). Ou seja, o IAT avalia sem que o indivíduo se aperceba do que realmente está a ser medido, o que diminui a probabilidade de o participante mascarar as suas respostas, com o objetivo de responder consoante as expectativas propostas pelo contexto.

O IAT recorre à associação entre um conceito-alvo (e.g. flores e insetos) e uma dimensão de atributo (e.g. bom ou mau). Estas categorias podem ser representadas por qualquer grupo, tal como insetos e flores, Mac e Pc, psicologia e química, idoso e jovem ou Coca-cola e Pepsi (ver Nosek, 2005 para um conjunto de mais 50 emparelhamentos que foram testados e

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 13 interpretados). Os conceitos-atributos podem também variar de diferentes formas. Se a atitude ou a preferência é de interesse, as dimensões podem ser representadas pelos rótulos bom/mau,

agradável/desagradável ou positivo/negativo (Lane et al, 2007).

O IAT é construído através de software informático especializado (e.g. E-Prime) e apresentado aos participantes por meio de um computador, preferencialmente num laboratório com as condições apropriadas à recolha dos dados. O procedimento deste instrumento divide-se em 5 blocos (Greenwald et al, 1998; Lane, Banaji, Nodivide-sek, & Greenwlad, 2007; Oliveira & Miranda, 2012). No primeiro bloco são apresentados os conceitos-alvo (e.g. flores vs. insetos), numa tarefa de aprendizagem. Um dos conceitos está localizado no canto superior esquerdo do ecrã e o outro no direito e a cada um corresponde uma de duas teclas, que os participantes vão pressionando à medida que os estímulos vão surgindo, consoante as indicações iniciais de cada bloco (e.g. quando o item pertencer à categoria do lado esquerdo, carregue na tecla E; quando o item pertencer à categoria do lado direito, carregue na tecla I.). No bloco 2, a tarefa é idêntica à inicial à exceção da troca dos conceitos-alvo pelos conceitos-atributo (e.g. bom-mau). Depois dos blocos de aprendizagem, é realizado o primeiro teste crítico da primeira tarefa combinada: os conceitos-alvo e os conceitos-atributo aparecem simultaneamente no ecrã de forma combinada, de modo congruente (e.g. flores e bom vs. insetos e mau) ou de modo incongruente (e.g. flores e mau vs. insetos e bom) e a ordem de apresentação deve ser contrabalançada. No bloco 4 são apresentados os mesmos conceitos-alvo e estímulos do bloco inicial, invertendo a posição espacial em que apareceram inicialmente (e.g. insetos vs. flores). Finalmente, o último bloco é o teste crítico da segunda tarefa combinada, muito idêntico ao bloco 3, com a exceção de que a combinação se inverte, consoante o aplicado anteriormente, isto é, os conceitos-alvo e os conceitos-atributo aparecem no ecrã de forma combinada, de modo incongruente (e.g. insetos e bom vs. flores e mau) ou de modo congruente (e.g. insetos e mau vs. flores e bom).

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 14 A diferença na latência de resposta nos pares específicos conceito e atributo (e.g. inseto-bom e flor-mau), em comparação com outro conjunto de pares (e.g. inseto-mau e flor-inseto-bom), fornece o índice da força relativa da associação entre os emparelhamentos. Ou seja, se o primeiro conjunto produz respostas mais rápidas que o segundo, pode concluir-se que a força relativa da associação flor-bom e insetos-mau é maior do que entre flor-mau e insetos-bom, o que reflete uma preferência implícita pelas flores, comparativamente aos insetos (Lane et al., 2007, Oliveira & Miranda, 2012). É chamado a este efeito, o efeito IAT (ou medida D) e é calculado através da diferença entre os tempos-de-reação nos blocos congruente e incongruente.

O efeito associado ao IAT observa-se assim quando os tempos-de-reação são significativamente mais rápidos para uma combinação congruente dos conceitos (e.g. flor – bom) do que para uma combinação incongruente (e.g. inseto – mau) (Oliveira & Miranda, 2012). A medida D é conceptualmente similar ao efeito do d de Cohen ao indicar a força e direção das associações entre os conceitos e as avaliações (Greenwald et al., 2003; Oliveira & Miranda, 2012). Os resultados positivos indicam uma preferência relativamente ao objeto que foi implicitamente preferido, em média. O ponto zero indica indiferença implícita, ou seja, a não existência de diferença nas forças de associação entre os blocos críticos. Por outro lado, resultados negativos apontam uma maior associação entre a combinação incongruente (Lane et al., 2007; Oliveira & Miranda, 2012).

Desde a proposta do primeiro IAT que os procedimentos de análise evoluíram. Aquele que melhor se adequa, nos dias de hoje, foi apresentado por Greenwald e colaboradores (2003) e baseia-se em critérios psicométricos, como a sensibilidade a influências conhecidas, consistência interna, correlações com medidas explicitas e/ou resistência à influência de

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 15 variáveis externas (Oliveira & Miranda, 2012). Na secção de Análise Estatística será descrito em mais pormenor os passos de cálculo deste algoritmo.

IAT Preservativo

Existem trabalhos realizados no âmbito da medição das atitudes implícitas em relação ao preservativo, com recurso ao IAT (Czopp et al., 2004; Marsh et al., 2001). Esta variação do instrumento exige que seja associado o estímulo preservativo a outros estímulos, os quais podem abranger um elevado número de possibilidades, uma vez não existir uma categoria contrastante para o preservativo. Noutros estudos sobre atitudes implícitas, por exemplo face ao racismo e ao preconceito, são apontadas categorias-alvo contrastantes: “brancos” e “negros” ou “homossexual” e “heterossexual”. (Oliveira & Miranda, 2012). Contudo, em estudos nos quais se pretenda estudar as atitudes face a qualquer objeto ou categoria social, é necessário também ter especial atenção aos estímulos utilizados correspondentes aos alvos de estudo. É desejável que os estímulos sejam familiares e de fraca sensibilidade social, visto esperar-se que as pessoas não tenham atitudes favoráveis nem desfavoráveis relativamente à categoria contrastante (Czopp et al., 2004).

No estudo de Czopp e colaboradores (2004) com o IAT para o preservativo, os autores utilizaram uma categoria neutra para associar com o preservativo (árvores), enquanto no estudo de Marsh e colaboradores (2001) foi utilizada uma categoria difusa (não preservativo). No entanto, a utilização de categorias difusas pode trazer problemas, uma vez não representar um conceito distinto, não formando um conceito com significado e independente (Czopp et al., 2004).

Objetivos Gerais

Na literatura considera-se ser o uso do preservativo guiado pelas atitudes implícitas em situações habituais e por atitudes explícitas em situações deliberadas, embora se considere a

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 16 relação casual ora um contexto de deliberação (Czopp et al., 2004) ora um contexto automático (Marsh, et al., 2001) e o inverso para o relacionamento regular. Empiricamente ambas as previsões foram encontradas, o uso do preservativo nas relações regulares foi predito pelas atitudes implícitas e nas relações casuais não apresentou correlação com as explícitas (Marsh et al., 2001). Contrastando, as atitudes explícitas predisseram a probabilidade de os participantes usarem preservativo com um parceiro casual e as implícitas com um parceiro regular (Czopp et al., 2004). Julgamos necessário, por isso, esclarecer o papel atitudes implícitas no uso do preservativo nos dois tipos de relacionamento.

O trabalho proposto tem como principal objetivo a criação de um Teste de Associação Implícita para avaliar as atitudes face ao preservativo numa amostra portuguesa, bem como o estudo da sua correlação com atitudes explícitas.

Como objetivo mais específico, o presente trabalho pretende articular os resultados obtidos com os de outros estudos com vista a clarificar a importância das atitudes implícitas e explícitas em dois contextos relacionais diferentes – regular e casual.

Hipóteses

Hipótese 1 – as atitudes explícitas predizem o comportamento do uso do preservativo numa relação casual e as atitudes implícitas predizem o seu uso numa relação regular (Czopp et al., 2004).

Hipótese 2 – existe uma correlação positiva, mas baixa, entre as atitudes implícitas e explícitas face ao preservativo (Czopp et al., 2004).

Hipótese 3 – as participantes do sexo feminino têm atitudes mais positivas em relação ao uso do preservativo enquanto os participantes do sexo masculino têm atitudes mais negativas (Cunha-Oliveira et al., 2009; Sacco et al., 1991).

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 17 Método

Participantes

Participaram neste estudo 69 estudantes da Universidade de Lisboa, 39 no estudo prévio para a construção do IAT e 30 na investigação propriamente dita.

Procedimentos

Foi realizado um estudo prévio (Anexo 1) para encontrar palavras de diferentes valências e imagens para os diferentes estímulos, essenciais à construção do IAT. Para se conhecerem as palavras mais agradáveis ou desagradáveis nesta população, cada participante teve acesso a um caderno com uma lista de palavras para avaliar quão agradáveis ou desagradáveis eram. No respeitante às imagens, aos participantes foi apresentado um caderno com imagens de árvores, cadeiras e/ou portas com o objetivo de avaliarem quão agradáveis, neutras ou desagradáveis eram os objetos representados pelas imagens.

Para o estudo propriamente dito, inicialmente, cada participante teve acesso a um de dois cenários sexuais (Anexo 2), um de namoro e outro de engate, e foi incitado a imaginar-se na situação descrita. Em seguida respondeu a duas perguntas com ele relacionadas: quão provável era os personagens usarem preservativo naquela situação, utilizando uma escala de 6 pontos, que variou entre 1 (muito improvável) e 6 (muito provável) e quão arriscado seria se tivessem tido relações sexuais sem preservativo naquela situação, numa escala de 101 pontos, que variou de 0 (situação mais segura que consegues imaginar) até 100 (situação mais

arriscada que consegues imaginar).

Seguidamente, os participantes responderam ao Teste de Associação Implícita relativo ao preservativo, utilizando o software E-Prime. No Bloco 1, a tarefa dos participantes consistiu em categorizar o mais rápido e corretamente possível cada estímulo, ie imagens de preservativos e de portas. No bloco seguinte a tarefa foi semelhante, com exceção das

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 18 categoriais iniciais que foram substituídos pelos conceitos agradável e desagradável, através dos respetivos estímulos (e.g. traição, repugnante, amor, amigo) (Bloco 2). No Bloco 3, as tarefas foram combinadas, requerendo aos participantes que categorizassem o estímulo preservativo com uma palavra agradável de um lado do ecrã (e.g. no lado esquerdo) ou o estímulo porta com uma palavra desagradável do outro lado do ecrã (e.g. no lado direito). Os Blocos 4 e 5 foram idênticos aos 1 e 3, respetivamente, com exceção de exibirem uma inversão de compatibilidade entre os dois pares de conceitos, incongruente vs. congruente ou vice-versa.

Por último, os participantes responderam a duas escalas de atitudes explícitas e a duas perguntas relacionadas com o uso prévio do preservativo, consoante o estatuto relacional em que se encontravam. Perguntou-se, por meio de respostas abertas, “no último mês, se teve um parceiro regular, quantas vezes teve relações sexuais em que usou preservativo e quantas sem usar preservativo?” e “no último mês, se teve um parceiro casual, quantas vezes teve relações sexuais em que usou preservativo e quantas sem usar preservativo?”

Os participantes foram recrutados via Internet, pelas redes sociais, e-mail e em faculdades. Os participantes completaram a experiência individualmente nos laboratórios da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, respondendo ao IAT, questionários de atitudes explícitas e aos dados sociodemográficos por computador. Para o estudo prévio não foi requerido aos participantes que respondessem aos cadernos presencialmente, procedendo-se procedendo-sempre por via online.

O presente estudo foi aprovado pela Comissão de Deontologia da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 19 Materiais

Recolheram-se dados sobre atitudes implícitas face ao preservativo, por meio do “Teste de Associação Implícita” (IAT, Greenwald et al., 1998), construído para o efeito (Anexo 3). Para a sua construção foi necessário realizar um estudo prévio para recolha de imagens e palavras para as categorias e atributos a utilizar. Avaliaram-se também atitudes explícitas face ao preservativo, através da “Escala de Atitudes Face ao Preservativo” (Sacco et al., 1991; Anexo 4) e da “Escala Multifatorial de Atitudes Face ao Preservativo” (Reece et al., 2010; Anexo 5). Recolheram-se dados sociodemográficos, nomeadamente idade, sexo, crenças religiosas, orientação sexual e estatuto relacional e ainda dados sobre o uso prévio do preservativo no âmbito de relacionamentos regulares e casuais.

Construção do IAT Estudo Prévio

Palavras

Com o objetivo de avaliar as palavras adequadas para o estudo das atitudes implícitas, adaptadas à população, foi realizado um estudo-piloto de valência de palavras, com a colaboração de 15 participantes. Foram solicitados a indicar quão agradável ou desagradável era o que se encontrava representado por cada palavra, utilizando uma escala de Likert de 7 pontos. Foram selecionadas palavras a partir de Garcia-Marques (2003), no âmbito do conhecimento das dimensões de familiaridade e valência subjetivas de palavras abstratas e concretas em língua portuguesa, adequadas a futuras experiências psicológicas, nomeadamente no estudo das atitudes. As palavras escolhidas tiveram um máximo de 4 sílabas, para evitar flutuações no tempo de leitura e perceção. De modo a não facultar uma lista demasiado extensa de palavras para evitar o desinteresse e o cansaço na tarefa, foram realizadas 4 versões com 20 palavras por página em diferentes ordens, num total de 60 palavras. Cada participante

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 20 respondeu a uma versão. Foram selecionadas as 5 palavras, em média, consideradas mais agradáveis e as 5, em média, mais desagradáveis, para integrarem a experiência.

Imagens

Após autorização para a utilização das imagens do International Affective Pictures

System (IAPS), utilizaram-se exemplares desta base de dados como estímulos para as

categorias de árvores e de preservativos. No entanto, apenas consta uma imagem de preservativo (#4613) nesta coletânea. As restantes utilizadas foram selecionadas na web, tendo em atenção a sua adequação ao estudo.

Aquando da escolha das imagens, deparámo-nos com imagens de árvores que não eram suficientemente esclarecedoras e até bastante agradáveis, contrastando com a neutralidade desejada. Deste modo, para além de terem sido retiradas mais imagens de árvores da Internet, procedeu-se também à seleção de imagens de portas e cadeiras na web, por se mostrarem objetos mais neutros (Godinho, Gaspar, Marques & Lima, não publicado). Para averiguar a valência e apurar quais das categorias se mostravam mais neutras (árvores, portas ou cadeiras), foi realizado um estudo-piloto com 24 participantes (um participante respondeu a dois cadernos, 13 participantes a um e 10 participantes aos três cadernos, para que fosse possível acelerar o processo de recolha de dados). À semelhança do estudo-piloto das palavras, os participantes inferiram sobre quão desagradável, neutro ou agradável era o que se encontrava representado por cada imagem, utilizando uma escala de Likert de 7 pontos (1 – desagradável, 4 – neutro, 7 - agradável). Foram elaboradas 4 versões com um total de 10 imagens. Através destes cadernos conseguiu apurar-se que as portas foram considerados objetos mais neutros do que as árvores e as cadeiras, tendo sido selecionadas para o estudo as 5 imagens de portas consideradas mais neutras.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 21

Cenários Sexuais

Foram construídos dois cenários, um relativo a uma situação de namoro e outro de engate, a partir de guiões existentes sobre os mesmos relacionamentos (Alvarez & Garcia-Marques, 2008).

O cenário relativo ao namoro descrevia um casal que namorava há mais de um ano, que nunca teve relações sexuais e decide encontrar-se num determinado dia para dar um passeio, acabando por trocar algumas carícias. A dada altura decidem dirigir-se para casa e acabam por ter relações sexuais. O cenário relativo ao engate descrevia um casal que se conheceu naquela noite, numa discoteca, os quais depois de trocarem algumas carícias decidem ir para casa de um deles, terminando por se envolverem sexualmente.

Teste de Associação Implícita (IAT)

O uso do IAT, neste estudo, envolveu como conceito-alvo o preservativo e como categoria neutra as portas, com recurso a imagens. Como categoria-atributo, foram utilizadas palavras agradáveis e desagradáveis, facilmente associadas exclusivamente à sua categoria superordenada (e.g. “paraíso” para agradável e “tortura” para desagradável), representando o seu conjunto tanto quanto possível todos os aspetos do conceito.

O procedimento do IAT dividiu-se em 5 blocos, descritos de seguida, em que os blocos 3 e 5 corresponderam aos blocos críticos, de onde se extraíram os dados relevantes do IAT.

Bloco 1 – Aprendizagem do par de conceitos-alvo. Foram apresentados os dois

conceitos-alvo do estudo, preservativo e porta, um posicionado no canto superior esquerdo e o outro no canto superior direito do ecrã. A cada conceito foi atribuída uma de duas teclas, “E” e “I”, que os participantes premiram à medida que surgiam os estímulos associados a cada um

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 22 dos conceitos no centro do ecrã, ie, imagens de preservativos e de portas. A tarefa dos participantes consistiu em categorizar o mais rápido e corretamente possível cada estímulo.

Bloco 2 – Aprendizagem do par de conceitos-atributo. Tratou-se de um bloco idêntico

ao primeiro, tendo sido trocados os conceitos iniciais por dois conceitos novos – agradável e desagradável – e respetivos estímulos.

Bloco 3 – Teste crítico da primeira tarefa combinada. Os alvo e os

conceitos-atributo apareceram simultaneamente de forma combinada, de modo congruente (preservativo - agradável vs. porta - desagradável) ou incongruente (preservativo - desagradável vs. porta - agradável). A cada par de conceitos foram atribuídas as mesmas teclas, “E” e “I”, e os participantes premiam à medida que surgiam os estímulos associados a cada um dos conceitos no centro do ecrã, ie, imagens de preservativos ou portas e palavras agradáveis ou desagradáveis. A tarefa dos participantes consistiu em categorizar o mais rápido e corretamente possível cada estímulo.

Bloco 4 – Aprendizagem da inversão espacial dos conceitos. Este bloco apresentou os

mesmos conceitos-alvo e estímulos do bloco inicial, invertendo a posição em que apareciam, ou seja, porta à esquerda e preservativo à direita do ecrã.

Bloco 5 – Teste crítico da segunda tarefa combinada. Esta tarefa foi idêntica à do bloco

3, com exceção da combinação entre os dois pares de conceitos ter sido invertida, resultante da troca de posição dos conceitos-alvo, incongruente a categorização preservativo - desagradável e congruente a categorização porta - agradável.

Em cada bloco houve um total de 20 ensaios de categorização e a ordem dos estímulos foi apresentada aleatoriamente, embora um igual número de exemplares de cada categoria tenha sido apresentada (e.g. 10 imagens e 10 palavras). Neste estudo foram realizadas quatro

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 23 ordens de IAT diferentes, com o objetivo de contrabalançar quaisquer efeitos da sequência dos blocos e tanto o estímulo agradável como o desagradável foram categorizados à esquerda ou à direita do ecrã.

Atitudes Explícitas

Recorreu-se a duas das escalas mais utilizadas na avaliação das atitudes explícitas face ao preservativo, a Escala de Atitudes Face ao Preservativo (EAFP; Sacco, et al., 1991) e a Escala Multifatorial de Atitudes Face ao Preservativo (EMAFP; Reece et al., 2010). No que respeita à primeira escala utilizada, não é conhecida uma adaptação ou validação para a população portuguesa. Foi pedida autorização ao autor para a sua tradução e adaptação em amostras portuguesas. Esta escala contempla 57 itens divididos em oito fatores: impacto interpessoal, efeito na experiência sexual, autocontrolo, atitude global, risco percebido, inibição, promiscuidade e segurança na relação. Dependendo do propósito da investigação, tanto as subescalas separadamente como a escala total podem ser uma mais-valia na medição das atitudes explícitas em relação ao uso do preservativo. Para este estudo apenas foram utilizados quatro fatores, nomeadamente o efeito na experiência sexual, com um total de 10 itens (e.g. os preservativos são limpos), (α = .90), a atitude global, com 9 itens (e.g. o preservativo deve ser usado quando não conhece muito bem o(a) seu(sua) parceiro(a)), (α =.59), a desinibição, com 4 itens (e.g. eu não me sinto inibido(a) por comprar preservativos), (α = .81), e a segurança na relação, com 5 itens (e.g. o preservativo não é necessário se eu planear casar com a pessoa) (α = .75), por serem os fatores mais apropriados ao propósito da investigação, ajudando igualmente a reduzir a extensão da escala. Deste modo, esta seleção resultou num total de 28 itens, (α = .86). A resposta foi efetuada através de uma escala de Likert de 7 pontos (0 – discordo totalmente, 4 – nem concordo nem discordo, 6 – concordo totalmente) e os valores podem oscilar entre 0 e 6 valores. Um valor mais alto sugere que o indivíduo tem

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 24 uma atitude mais positiva em relação ao uso do preservativo, e verifica-se o contrário quando os valores são mais baixos.

O segundo instrumento avalia as atitudes relativamente ao preservativo, enquanto objeto em si mesmo e não em relação ao seu uso. Tal como acontece com a EAFP, também não se conhece uma adaptação ou validação desta escala para a população portuguesa. A escala está facultada ao público e foi traduzida para este estudo. A escala divide-se em 3 fatores, num total de 14 itens: eficácia percebida, com 3 itens (e.g. nada eficaz/ eficaz na prevenção de infeções sexualmente transmissíveis), (α = .806), viabilidade, com 5 itens (e.g. difícil/fácil de usar), (α = .637), e afetividade, com 6 itens (e.g. diminui/aumenta o prazer sexual), (α = .767). O total da escala revelou um alfa de Cronbach de .811. A resposta recorreu a um diferencial semântico de 7 pontos, em que cada item foi avaliado num par de adjetivos ou frases com dois pólos (positivo e negativo; e.g. sujo/limpo). Os resultados podem oscilar no intervalo de 1 e 7 valores, sendo 1 revelador de uma atitude mais negativa e 7 de uma atitude mais positiva em relação ao preservativo em si.

Análise estatística

Este estudo correlacional utilizou uma análise quantitativa para o tratamento dos dados. Para a realização destas análises, utilizou-se o software estatístico SPSS, v. 22.

Para a descrição da amostra foram usadas as estatísticas descritivas média e desvio-padrão.

Com o objetivo de estimar a confiabilidade das escalas de medida das atitudes explícitas utilizou-se o alfa de Cronbach. Calcularam-se também as correlações entre os fatores de cada escala, através da correlação de Pearson.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 25 Recorreu-se também à correlação de Pearson para analisar a associação entre as atitudes implícitas, as explícitas, o uso prévio do preservativo e a probabilidade de uso do preservativo nos dois cenários.

Para calcular o uso prévio do preservativo em situações passadas, foi criado um índice através das respostas dadas pelos participantes: nunca usa preservativo (0 pontos); não usa preservativo no engate (1 ponto); não usa preservativo no namoro (2 pontos); usa preservativo às vezes (3 pontos); usa sempre preservativo no namoro ou no engate (4 pontos); e usa sempre preservativo nas duas situações (5 pontos).

Para a análise da relação entre os cenários e as medidas implícitas e explícitas utilizou-se o teste-t para amostras independentes, análiutilizou-se de medidas repetidas e regressão linear múltipla.

Para calcular o efeito do IAT foi utilizado, primeiro, o Algoritmo D (Greenwald et al., 2003; Oliveira & Miranda, 2012). Nesta análise, (1) apenas se utilizaram os dados dos blocos críticos (B3 e B5), tendo sido (2) eliminados os dados dos ensaios com tempos de reação (TR) superiores a 10.000 ms e (3) os dos participantes que em mais de 10% dos ensaios tiveram TR menores de 300 ms. Em seguida, (4) calculou-se o desvio-padrão de todos os ensaios dos blocos 3 e do bloco 5, (5) a média dos TR resultantes para cada bloco crítico e a (6) diferença entre eles, subtraindo-se o bloco congruente do bloco incongruente (bloco incongruente - bloco congruente). Por fim, (7) foi dividida cada diferença pelo desvio-padrão associado (calculado no passo 4) e (8) calculada a média do quociente do passo 7.

Não foi requerido aos participantes que corrigissem as suas respostas antes de avançarem para o ensaio seguinte. Deste modo, a literatura adverte a) que apenas se devem utilizar os ensaios das respostas corretas nos passos 3 e 4 e, b) antes de se completar o passo 5,

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 26 que se substitua os TR das respostas erradas pelo valor da média de todos os ensaios corretos do bloco, somando a uma penalização de 600 ms. Estes valores oscilam entre -2 e +2 e indicam a força relativa de associação entre os conceitos e “assume-se que um D positivo significativamente diferente de 0 é indicador de uma maior associação entre os conceitos do bloco onde estes se consideram combinados de forma congruente, do que no bloco onde estes se combinam de forma incongruente. Por outro lado, um D negativo indicará uma maior associação entre os conceitos da combinação considerada incongruente” (p. 240, Oliveira & Miranda, 2012).

De forma a obter dados do IAT que indicassem somente as atitudes implícitas dos participantes face ao preservativo, foram criados quatro índices. Um índice que combinou os TR das tarefas em que foram emparelhados os preservativos com as palavras agradáveis, o segundo os preservativos com as palavras desagradáveis, o terceiro as portas com as palavras agradáveis e o quarto as portas com as palavras desagradáveis. Assim, para avaliar as atitudes implícitas dos participantes face às portas e aos preservativos, os quatro índices foram examinados usando uma análise de variância 2 (alvo: preservativos ou portas) × 2 (avaliação: agradável ou desagradável).

Para analisar as tendências avaliativas dos participantes em relação aos preservativos foram comparados os índices preservativo + agradável e preservativo + desagradável e o mesmo para as portas, comparando, o índice portas + agradável com o índice portas + desagradáveis. Esperava-se uma diferença na associação entre o preservativo e os atributos e uma ausência de diferença entre as portas e os atributos, uma vez tratar-se de uma categoria neutra. Esta previsão permitiria utilizar o IAT apenas recorrendo aos cálculos relativos às associações com o preservativo. Mais concretamente, o cálculo da diferença dos tempos de reacção entre preservativo desagradável - preservativo agradável daria uma medida da atitude

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 27 implícita face ao preservativo. A atitude implícita seria considerada tanto mais positiva quanto maior o valor desta subtracção, uma vez a associação preservativo + agradável ter sido considerada a situação congruente. Contudo, as portas não se mostraram neutras como o esperado e, apesar das atitudes implícitas terem sido calculadas com base no algoritmo apresentado, contabilizando apenas os tempos de reação face ao preservativo, tal coloca inúmeras objecções, nomeadamente que a atitude mais positiva face ao preservativo foi encontrada por comparação com o objecto portas. Deste modo, as atitudes implícitas dos participantes face aos preservativos foram calculadas subtraindo à latência do preservativo + desagradável a do preservativo + agradável, de modo a criar uma pontuação global do IAT, em que valores mais elevados corresponderam a atitudes implícitas mais positivas em relação aos preservativos.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 28 Resultados

Caracterização da Amostra

Participaram neste estudo 69 estudantes da Universidade de Lisboa. Destes, 39 participaram no estudo prévio de construção do IAT e 30 no estudo propriamente dito (12 homens, 18 mulheres; 24 heterossexuais, um homossexual e cinco bissexuais) com idades compreendidas entre os 18 e os 41 anos (M = 22.2, DP = 4.53). Destes participantes, 15 afirmaram ter tido relações sexuais com um parceiro regular e dois declararam ter relações sexuais com um parceiro casual, no último mês.

Análise dos Cenários

Os participantes indicaram ser igualmente provável utilizarem preservativo no cenário social engate (M = 4.63, DP = 1.59) e no cenário social namoro (M = 4.57, DP = 1.34), t(28) = .10, p = .92. Da mesma forma, os participantes percecionaram o cenário engate como tão arriscado (M = 84.19, DP = 7.75) quanto o cenário namoro (M = 81.36, DP = 8.01), t(28) = .98, p = .33.

Encontraram-se, contudo, diferenças relativamente ao género. No cenário de engate, os participantes masculinos afirmaram ser mais provável usarem preservativo (M = 5.67, DP = .52) do que os femininos (M = 4.0, DP = 1.7), t(14) = 2.31 , p < .05. No entanto, quer os participantes masculinos (M = 80.5, DP = 6.12) quer os femininos, (M = 86.4, DP = 8.04), percecionaram o cenário de engate com o mesmo nível de risco, t(14) = -1.54, p = .15. No cenário de namoro, ocorreu o mesmo, os participantes masculinos afirmaram ser mais provável usarem preservativo (M = 5.33, DP = 1.03) do que os femininos (M = 4.0, DP = 1.31), t(12) = 2.05 , p = .06, mas quer os participantes masculinos (M = 77.67, DP = 7.39) quer os femininos, (M = 84.13, DP = 7.72), percecionaram o cenário de namoro com o mesmo nível de risco, t(12) = -1.58, p = .14.

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 29 Avaliação da Valência de Palavras e Imagens

Os resultados mostraram que, de entre as imagens de árvores (M = 4.71, DP = 0.83), de cadeiras (M = 3.68, DP = 0.51) e portas (M = 3.96, DP = 0.47), os participantes percecionaram as portas como objetos mais neutros (Quadro 1). Assim, foram selecionadas as cinco imagens de portas que tiveram, em média, valores próximos do ponto 4 da escala.

Quadro 1. Imagens de árvores, cadeiras e portas organizadas por ordem crescente das avaliações médias de valência (n=24) Valência Média Desvio-Padrão Árvore 4 3.67 1.496 Árvore 5 3.80 1.521 Árvore 2 4.27 1.163 Árvore 3 4.47 1.060 Árvore 10 4.47 1.060 Árvore 1 4.93 1.981 Árvore 7 5.00 1.558 Árvore 6 5.13 1.407 Árvore 8 5.20 1.014 Árvore 9 6.20 .862 Cadeira 3 2.47 .990 Cadeira 2 2.93 .961 Cadeira 1 3.13 1.246 Cadeira 10 3.40 .737 Cadeira 8 3.80 1.373 Cadeira 9 3.87 1.552 Cadeira 5 4.00 1.414 Cadeira 6 4.07 .884 Cadeira 4 4.20 .941 Cadeira 7 4.93 1.792 Porta 7 3.20 1.424 Porta 3 3.47 1.246 Porta 2 3.87 1.552 Porta 4 3.93 1.335 Porta 1 4.00 1.414 Porta 8 4.00 1.069 Porta 6 4.20 1.320 Porta 5 4.40 2.165 Porta 9 4.67 1.877 Porta 10 4.87 1.302

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 30 No Quadro 2 apresentam-se as 10 palavras consideradas pelos participantes como mais desagradáveis e agradáveis, de um total de 60 palavras (Anexo 1).

Quadro 2. Palavras agradáveis e desagradáveis selecionadas por ordem crescente das avaliações médias de valência (n=15) Valência Média Desvio-padrão Abuso 1.40 .507 Traição 1.40 .507 Humilhar 1.47 .516 Repugnante 1.47 .640 Tortura 1.47 .915 Dignidade 6.40 .632 Excelente 6.40 .737 Amor 6.47 .834 Paraíso 6.47 .743 Amigo 6.53 .640 Atitudes Atitudes Implícitas

A medida D do IAT, que representa a diferença entre os blocos congruente e incongruente foi analisada. Na versão 1, cuja ordem dos blocos críticos foi congruente (preservativo + agradável e porta + desagradável), o valor de .13, embora apresente um efeito fraco, indica que os participantes categorizaram mais rapidamente o estímulo do bloco compatível, ou seja, assumiram uma atitude positiva em relação ao preservativo. Na versão 2, com a ordem inversa dos blocos críticos, o valor de -.44 revelou um efeito mais forte, por se verificar ser significativamente diferente de zero. Isto indica que os participantes categorizaram mais lentamente o estímulo do bloco compatível.

Para avaliar as atitudes implícitas face aos preservativos e às portas realizou-se uma análise de variância entre as categorias (preservativos, portas) e os atributos (agradável,

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As Atitudes Implícitas e Explícitas como Preditoras do Uso do Preservativo 31 desagradável), a partir dos tempos de reação (Figura 1), a qual mostrou a existência de uma interação, F(3, 27) = 12.43, p < .01, 2 = .58.

Comparando o índice preservativo + agradável com o índice preservativo + desagradável encontraram-se diferenças significativas, t(29) = -5.91, p < .001, as quais mostraram uma atitude positiva em relação ao preservativo, ou seja, houve uma maior associação entre os conceitos da combinação congruente, ie entre preservativo e agradável. Em relação à comparação do índice portas + agradável com o índice portas + desagradável, encontraram-se também diferenças significativas, t(29) = 2.75, p < .01, as quais mostraram uma maior associação entre os conceitos da porta + desagradável, indicando assim uma atitude desfavorável em relação às portas, o que contrastou com o estudo prévio, uma vez não se ter mostrado uma categoria neutra para os participantes.

A ANOVA de medidas repetidas utilizando como variáveis dependentes os TR para preservativo agradável e TR para preservativo desagradável e os cenários sexuais como fator

0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1000,00 1200,00 1400,00 Preservativo + Agradável Preservativo + Desagradável Portas + Agradável Portas + Desagradável L atê nc ia s de Re sposta (mili sseg undos)

Tarefa dos Blocos

Figura 1. Tempos de reação (em milissegundos) para os quatro índices dos blocos críticos.

Imagem

Figura  1.  Tempos  de  reação  (em  milissegundos)  para  os  quatro  índices  dos  blocos  críticos.

Referências

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