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Identidade de lugar e relações intergrupais : estudo da ecologia das freguesias urbanas e suburbanas de Ponta Delgada

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

IDENTIDADE DE LUGAR E RELAÇÕES

INTERGRUPAIS: ESTUDO DA ECOLOGIA DAS

FREGUESIAS URBANAS E SUBURBANAS DE PONTA

DELGADA

Tânia Cristina Pereira Pimentel

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Cognição Social Aplicada

(2)

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

IDENTIDADE DE LUGAR E RELAÇÕES

INTERGRUPAIS: ESTUDO DA ECOLOGIA DAS

FREGUESIAS URBANAS E SUBURBANAS DE PONTA

DELGADA

Tânia Cristina Pereira Pimentel

Dissertação, orientada pelo Prof. Doutor: José Manuel Palma-Oliveira

Dissertação, co-orientada pela Prof. Doutora: Maria Fátima Campos Bernardo

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Cognição Social Aplicada

(3)
(4)

i

ABSTRACT

This thesis addresses the place identity and intergroup relations from the study of the

ecology of four urban parishes and four suburban parishes of the municipality of Ponta

Delgada. Other studies have already tested the knowledge that the processes underlying

the identity of place and its impact on intergroup relations are psychologically similar to

the processes involved in the identification of any social group. In this perspective,

place identity influences perception and behavior in relation to places and their

residents, as well as in relation to other places with which they are compared. In order to

verify this reasoning was a field study of eight parishes of Ponta Delgada with the aim

to explore the influence of place identity in the perception of its residents (ingroup) and

other parishes and its residents (outgroup).

According to social identity theory in general the results of this research showed that the

identity of the place

to the parish correlated significantly and positively with the identity

of place in the city, with social identity, with the perception of entitatividade ingroup,

with the perception of ingroup homogeneity, with the place attachment, with the

perception of quality and prestige, and the intergroup differentiation of some parishes

studied. In addition to the study of the ecology of the parishes this investigation also

sought to contribute to whether identification with a place can lead to the same kind of

discrimination as developed by social groups. Was more accurate allocation of physical

and positive stereotypes regarding parishes that contributed to a better understanding of

discrimination made by non-residents.

Keywords: social identity, place identity, place attachment, stereotypes, intergroup

(5)

ii

RESUMO

A presente tese aborda a identidade de lugar e as relações intergrupais a partir do estudo

da ecologia de quatro freguesias urbanas e quatro freguesias suburbanas do concelho de

Ponta Delgada. Já testado noutros estudos temos o conhecimento de que os processos

subjacentes à identidade de lugar e o seu impacto em termos de relações intergrupais

são psicologicamente semelhantes aos processos envolvidos na identificação de

qualquer grupo social. Nesta perspectiva a identidade de lugar influencia a percepção e

o comportamento em relação a lugares e aos seus residentes, bem como em relação a

outros lugares com os quais são comparados. De modo a verificar esse raciocínio foi

realizado um estudo de campo com oito freguesias do concelho de Ponta Delgada sendo

o objectivo explorar a influência de identidade de lugar na percepção de freguesia dos

seus moradores (endogrupo) e de outras freguesias e os seus residentes (exogrupo).

De acordo com a teoria da identidade social no geral os resultados da presente

investigação comprovaram que a identidade de lugar à freguesia correlacionou-se de

forma significativa e positiva com a identidade de lugar à cidade, com a identidade

social, com a percepção de entitatividade do endogrupo, com a percepção de

homogeneidade do endogrupo, com o vínculo ao lugar, com a percepção de qualidade e

prestígio, e com a diferenciação intergrupal de algumas freguesias estudadas. Para além

do estudo da ecologia das freguesias esta investigação também pretendeu contribuir

para saber se a identificação com um lugar pode levar ao mesmo tipo de discriminação

como a desenvolvida pelos grupos sociais. Foi apurada uma maior atribuição de

estereótipos físicos e positivos em relação às freguesias que contribuiram para uma

melhor compreensão da discriminação feita pelos não residentes.

Palavras Chave: identidade social, identidade de lugar, vínculo ao lugar, estereótipos,

(6)

iii

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, José Manuel Palma-Oliveira, que longe ou perto sempre teve uma

palavra de ânimo nas horas mais incertas. Agradeço a sabedoria transmitida e o gosto

com que orientou este trabalho.

À minha orientadora, Maria de Fátima Campos Bernardo, que sempre acompanhou com

seriedade e cientificidade esta tese. Agradeço o tempo dispendido no esclarecimento de

todas as dúvidas e detalhes e a forma cativante com que explicava cada pormenor. A sua

orientação e rigor científico foram fundamentais para o resultado final da tese.

Aos professores do Núcleo de Cognição Social Aplicada, que me fizeram conhecer e

tomar gosto pelo núcleo.

À minha colega, Carla Margarida Faria Botelho Medeiros, que mais do que uma

companheira de trabalho e de luta se revelou uma irmã de coração. Agradeço todo o

tempo dispendido a ouvir e partilhar as dúvidas. Obrigada pela positividade e

optimismo em cada conquista e em cada derrota na tese. Agradeço todas as risadas que

me fizeram sentir viva quando o cansaço era uma constante. A amizade foi a base

fortalecedora e impulsionadora para continuar.

À minha avó, Ilda da Conceição Silva Pimentel, uma pessoa que sempre acreditou em

mim e me orientou ao longo de todo o meu percurso de vida. Agradeço o amor

incondicional, a força, o carinho e tudo o que de positivo me transmitiu. Obrigada, por

tudo. Sempre terei orgulho em lembrar a fantástica mulher que és.

Aos meus pais, José Manuel Silva Pimentel e Lúcia de Fátima Pereira Pimentel que

sempre acreditaram que conseguiria atingir os meus objectivos e me motivaram a

continuar a percorrer o caminho académico. Agradeço o esforço feito para compreender

a minha angústia quando as coisas nem sempre corriam como eu esperava. Obrigada,

pelo carinho, pela compreensão e por desculparem as minhas ausências.

Ao meu irmão, Fernando José Pereira Pimentel, que na sua inocência de criança sempre

se preocupou em saber se eu estava bem e me questionava o que fazia e para que servia.

(7)

iv

Agradeço a sua compreensão pelas ausências nas brincadeiras a que me convidava.

Obrigada, pela companhia nas horas mais silenciosas e tumultuosas.

Ao meu companheiro, Bruno Alexandre Vieira Botelho, que compreendeu a minha

posição e me apoiou no que podia. Agradeço o carinho, e a força que me ajudaram a

perceber que não estava sozinha neste caminho.

Agradeço ao meu avô, José Correia Pimentel, que embora já não esteja presente

fisicamente tem um lugar especial no meu coração. Foi também por ele que me dediquei

a atingir ao que me propôs porque sei que quer esteja onde estiver está orgulhoso de

mim. Agradeço por pelo pai presente que foi em minha vida.

Aos meus avós maternos, que sempre me apoiaram e se preocuparam com o meu

bem-estar nesta jornada.

Às minhas colegas de residência, que me fizeram ver que o mundo para além das ilhas

era bom. Agradeço as boas horas passadas a conviver e a trocar ideias.

Às pessoas que contribuíram para concretizar a parte prática da tese. Agradeço a todos

quantos se disponibilizaram a responder aos questionários para o estudo.

(8)

v

ÍNDICE

Abstract……...i

Resumo……….….ii

Agradecimentos………....iii

Índice……….v

Lista de Figuras………vi

Lista de Tabelas………...vii

Lista de Quadros……….viii

1. Introdução………..………1

1.1. Relações intergrupais: príncipios básicos da teoria da identidade social,

estereótipos e fenómenos de grupo………...3

1.1.1. A teoria da identidade social e da teoria da auto-categorização…3

1.1.2. Identidade e Estereótipos………...6

1.2. Compreensão da identidade de lugar no âmbito da teoria da identidade

social………..11

1.2.1. Identidade de lugar………..11

1.2.2. Vínculo ao lugar………..14

1.2.3. Implicações da identidade: favoritismo e discriminação……….20

2. Estudo da identidade de lugar e das relações intergrupais: Estudo da ecologia

das Freguesias Urbanas e Suburbanas de Ponta Delgada...21

2.1. Objectivos do estudo………21

2.2. Método………..22

2.3. Resultados……….…28

2.4. Discussão………..43

3. Conclusões………55

Referências Bibliográficas……….………..……59

Lista de Anexos………...70

(9)

vi

Lista de figuras

Figura 1. Mapa da área de estudo.

(10)

vii

Lista de tabelas

Tabela 1. Dados demográficos das freguesias estudadas.

Tabela 2. Distribuição das médias e frequências das características demográficas dos

participantes.

Tabela 3. Médias e desvio-padrão de algumas medidas dependentes.

Tabela 4. Médias e teste Post Hoc de Tukey da Entitatividade.

Tabela 5. Médias e teste Post Hoc de Tukey da Homogeneidade.

Tabela 6. Médias e teste Post Hoc de Tukey da Identidade de Lugar à Freguesia.

Tabela 7. Médias e teste Post Hoc de Tukey da Identidade de Lugar à Cidade.

Tabela 8. Médias e teste Post Hoc de Tukey da Identidade Social.

Tabela 9. Médias e teste Post Hoc de Tukey do Vínculo ao Lugar.

Tabela 10. Médias e desvio-padrão da diferenciação intergrupal das 8 freguesias.

Tabela 11. Médias e desvio-padrão da percepção de prestígio e qualidade.

Tabela 12. Correlações e significâncias entre medidas dependentes.

(11)

viii

Lista de Quadros

Quadro 1: Frequências de categorias por freguesias urbanas.

Quadro 2: Frequências de categorias por freguesias Suburbanas.

(12)

1

1. INTRODUÇÃO

A vida em grupo faz parte da evolução do homem enquanto ser sociável e distinguível

das demais espécies (Caporael, 1997). Investigadores como Tajfel assumem uma

estreita interligação entre os processos de identidade social e de relações intergrupais

(Jesuíno, 2002). A vida em sociedade e as exigências estruturais dos grupos sociais

requerem o envolvimento de elementos básicos da psicologia como a cognição, a

motivação e a emoção como forma de promover a coordenação social. A interacção

social entre os indivíduos é essencial por permitir moderar entre as necessidades do

organismo e as exigências do meio físico quando o indivíduo sente que o “eu” faz parte

da grande unidade social. A virtude do homem em viver em sociedade e experimentar

interacção social exige-lhe que estabeleça relações de cooperação e de obrigatoriedade

recíproca (Sumner, 1906). Como indica Abrams (2006) sendo as relações sociais a base

para uma vida eficaz as pessoas dependem fortemente do consenso e das normas sociais

para se orientarem e terem a noção do que é importante a nível positivo e negativo e o

que consideram sem valor no mundo. A partir do exposto verifica-se que o grupo

continua a constituir um tema central da Psicologia Social (Jesuíno, 2002). A interacção

social ocorre em diversos lugares e, neste sentido, tal como as pessoas, os objectos e

actividades, os lugares são uma parte integrante do mundo social e fazem parte das

relações entre os indivíduos e, por conseguinte, são importantes mecanismos através dos

quais a identidade é definida e mantida (Proshansky, Fabian, & Kaminoff, 1983).

A identidade de lugar é conceituada como uma subestrutura da identidade social do

“eu”, que consiste em aspectos de auto-conceitos que são baseados na ideia de pertença

a grupos geograficamente definidos, diferente do que propôs Proshansky et al., (1983)

que defendiam implicitamente uma visão da identidade de lugar como parte da

identidade pessoal. Os lugares podem ser vistos como categorias sociais, com um

significado social compartilhado, como resultado da interação entre os elementos de um

grupo, e não apenas como um cenário onde ocorre a interacção. É importante ressaltar

que, de acordo com a teoria da identidade social (SIT), um grupo é definido como um

fenómeno psicológico, ou seja, um grupo existe, na medida em que se acredita na sua

real existência. É neste sentido que o lugar existe, por ser feita a delimitação psicológica

que define os seus limites (Bernardo & Palma-Oliveira, 2012). A importância do lugar

tem sido descurada pela psicologia social e abrangida pela psicologia ambiental com

(13)

2

grande foco no estudo dos sentimentos que as pessoas desenvolvem em relação aos

lugares significativos nas suas vidas, nomeadamente, com o estudo do vínculo ao lugar

(Manzo, 2003; Knez, 2005; Kyle, Graefe & Manning, 2005). O vínculo ao lugar é

definido como o elo afectivo que as pessoas estabelecem com os ambientes específicos

onde tendem a permanecer e onde se sentem confortáveis e seguras (Hidalgo &

Hernández, 2001). O vínculo pode ser desenvolvido em diversos lugares que diferem

em termos de dimensão e funcionalidade como a casa, o bairro, a cidade, os locais de

lazer, as comunidades rurais, entre outros (Hay, 1998b). O conceito ainda é influenciado

por variáveis como a mobilidade, o tempo de residência no lugar, os significados e a

pertença aos lugares (Hay, 1998b). O tempo de residência tem sido a variável mais

explorada a nível do estudo do vínculo ao lugar já que suporta a ideia de que o tempo

que as pessoas vivem no lugar conduz a que se sintam mais ligadas a ele (Riger &

Lavrakas, 1981; Taylor, Gottfredson, & Brower, 1984). A vizinhança é um factor

importante para a interacção de identidade e meio ambiente. (Sampson, 1988). A

capacidade das pessoas serem vizinhas constitui-se num recurso importante para a vida

em sociedade. Os vizinhos podem ser descritos como um recurso valioso para o

sentimento de bem-estar e para um envolvimento confiante com os aspectos práticos da

vida em sociedade (Abrams, 2006). As características físicas do bairro, assim como as

características sócio-demográficas da sua habitação são elementos importantes na

promoção ou inibição de vizinhança.

Resumindo o lugar é uma expressão das condições psicológicas mais profundas de cada

indivíduo relativo a um ponto particular no tempo e no espaço. Além da Psicologia

Ambiental a Psicologia Social é potencialmente importante na investigação dos lugares

a partir dos seus quadros particulares de referência. Dependendo da disciplina que o

assume o lugar é visto como essencialmente físico, social, cognitivo, comportamental,

cultural, temporal, e espiritual (Speller, 2005). Como os lugares também não podem ser

compreendidos independentemente das pessoas que os experimentam (Bernardo, 2011)

é necessário ter em atenção que as relações sociais entre indivíduos e grupos nos lugares

têm de ser compreendidas no âmbito das relações intergrupais em que estão presentes

processos de discriminação e formação de estereótipos (Gaertner & Schopler, 1998).

O presente estudo teve a vantagem de conhecer uma realidade mais abrangente do

funcionamento das freguesias e das relações intergrupais lá decorrentes dado ter havido

uma partilha de dados o que permitiu alargar a amostra (N=320).

(14)

3

1.1.Relações intergrupais: príncipios básicos da teoria da identidade social,

estereótipos e fenómenos de grupo

1.1.1. A teoria da identidade social e da auto-categorização

A Teoria da Identidade Social (SIT) e a Teoria da Auto-Categorização (SCT) têm sido

as teorias mais difundidas e amplamente utilizadas em psicologia social, dada a sua

aplicabilidade científica na explicação das relações intergrupais em geral, na relação do

indivíduo com o endogrupo, e na compreensão da influência das cognições individuais

para os fenômenos de grupo (Brown, 2000).

As pesquisas em identidade social começaram com foco explícito nos problemas de

discriminação e etnocentrismo intergrupal e não na natureza psicológica dos grupos. A

SIT não se centra na concepção individual de mente humana e defendeu uma definição

interdependente das caracteristicas sociais e psicológicas dos indivíduos e dos grupos

(Turner & Reynolds, 2010). A partir da sua formulação (Tajfel, 1970) a SIT tem

influenciado as pesquisas no âmbito das relações intergrupais, desde a investigação de

factores como o ambiente do grupo, a qualidade da relação e o estado dos grupos, o

nível de identificação, a percepção de homogeneidade e a diferenciação intergrupal que

conduz à formação de estereótipos. Champbell (1958) também introduziu o conceito de

entitatividade para referir o grau com que um grupo é percebido como real e com uma

entidade real. Mais tarde outros investigadores vieram mostrar a real importância da

entitatividade na interpretação de fenómenos como formação de impressões e de

estereótipos (Hamilton & Sherman, 1996).

Para a Psicologia Social o grupo pode ser definido dentro do indivíduo sendo este o

princípio central da SIT (Tajfel & Turner, 1979; Tajfel, 1978). A hipótese central é que

os indivíduos tentam distinguir os grupos que pertencem de outros grupos a fim de

alcançarem uma identidade social positiva (Bernardo & Palma-Oliveira, 2012). Neste

sentido, a identidade social é definida como o auto-conceito de um indivíduo que deriva

do seu conhecimento, da sua participação num grupo social e no valor e significados

relacionados com a adesão ao grupo (Tajfel, 1981, p. 255). Assim, segundo a SIT além

do indivíduo possuir uma identidade pessoal que o torna único também tem uma

percepção social, julgamento e comportamento afectados pela sua participação em

diversos grupos sociais que reflectem diferentes níveis de categorização da identidade

social. Nesta linha teórica surge a SCT desenvolvida por Turner (1985) que explora de

maneira mais geral os processos individuias e de grupo e "está preocupada com os

(15)

4

antecedentes, natureza e consequências psicológicas na formação de grupo” (Turner,

1985, p.78). A SCT centra-se na análise dos processos através dos quais as pessoas se

definem em termos de categorias sociais, ou seja, reconhece a possibilidade de uma

multiplicidade de identidades (Bernardo & Palma-Oliveira, 2012). Como sugere Hogg e

Abrams (1988) a ideia de múltiplas indentidades assenta no facto dos indivíduos e dos

grupos se poderem tornar salientes consoante os contextos. A também foca três pontos

essenciais. O primeirio ponto da SCT está relacionado com a distinção entre identidade

pessoal e social e que sugere a hipótese de que a identidade social é uma base nos

processos de grupo mais elaborada (Turner, 1978, 1982) O segundo aponta uma

distinção entre identidade pessoal e social a partir da noção de níveis de

categorização (Turner, 1985). E o último ponto foca a construção da teoria da

auto-categorização como um processo reflexivo de julgamento social (Turner, Oakes,

Haslam & McGarty, 1994). A SCT responde ao como os estereótipos são formados,

nomeadamente a partir do processo de categorização (Allport, 1954; cit in

Garcia-Marques & Garcia-Garcia-Marques, 2003), e ainda foca que os estereótipos reflectem um

conjunto de propriedades partilhadas pelos membros dos grupos que os distinguem e

reforçam o estabelecimento psicológico de fronteiras entre os grupos e as categorias

sociais, assim como, a aglutinação psicológica dos membros dos grupos e das

categoriais sociais.

A combinação da SIT e SCT fornece uma teoria compreensiva sobre os

comportamentos de grupo e os processos subjacentes a fenómenos de grupo, como a

formação de estereótipos. A teoria da categorização estende a definição de

auto-conceito focando que a identidade social se traduz em representações despersonalizadas

do “eu” que implicam uma mudança de percepção do “eu” como membro

intercambiável de algumas categorias (Turner et al., 1987). Deste modo, a percepção do

“eu” pessoal apresenta uma convergência entre duas perspectivas teóricas,

designadamente, a categorização social e a comparação social, ambas muito usadas para

o estudo das atitudes e comportamentos do endogrupo. O conceito de categorização

social foi gerido por Tajfel (1957) a partir da percepção de objetos para a percepção de

grupos. É um processo cognitivo universal de simplificação da realidade que pressupõe

a percepção de discrição dos grupos em vez de descritos como contínuos. Estes grupos

estão associados a um significado emocional o que também acontece por processos de

comparação social. Os estereótipos sociais são assim constituídos e neste contexto são

(16)

5

entendidas como formas de organização subjetiva da realidade social e são regulados

por mecanismos sócio-cognitivos, e são fundamentais para a interação social e a

integração dos indivíduos (Bernardo & Palma-Oliveira, 2012).

Sendo a base de identidade social o processo de comparação social podem ser

destacados dois aspectos. O primeiro relaciona-se com a relevância das comparações

sociais espontâneas na avaliação de pessoas do mesmo grupo, e o segundo diz respeito à

escolha do exogrupo para estabelecer o processo comparativo (Bernardo &

Palma-Oliveira, 2012). O processo de auto-categorização como um membro de um grupo é

inerentemente comparativo e também é contextual e relativa (Turner & Reynolds,

2010), ou seja, o processo de comparação social permite o aumento da percepção de

homogeneidade entre os membros do grupo, e o aumento da percepção de diferenciação

entre o endogrupo e o exogrupo.

Posteriormente a visão de de identidade conduzida num continuum como postulado pela

SIT e SCT é alterada por Brewer e Gardner (1996) que introduzem três diferentes níveis

de “eu” social. O primeiro nível alude ao “eu” individual que deriva da representação do

“eu” como pessoa exclusiva e diferente dos outros indivíduos. Por sua vez, o “eu”

relacional é definido em termos das conexões e papéis das relações com outros

significados (Aron, Aron, Tudor, & Nelson, 1991; Cross & Madson, 1997; Markus &

Kitayama, 1991). E o “eu” colectivo designa as propriedades prototípicas partilhadas

entre os membros de um endogrupo (Turner et al., 1987). O segundo e terceiro nível de

“eu” concebidos por Brewer e Gardner (1996) representam duas diferentes formas de

identidade social. A diferença crítica entre esses níveis é de que o “eu” relacional é

personalizado e incorporado numa relação diádica entre o “eu” e outras pessoas

próximas onde a extensão dessas relações é feita sob a forma de conexões interpessoais.

Por seu turno, o “eu” colectivo compreende conexões despersonalizadas com os outros

dada a pertença do “eu” colectivo a um grupo simbólico. Deste modo, a identidade

colectiva não exige conhecimento interpessoal mas depende da partilha de símbolos e

representações cognitivas do grupo como uma unidade independente das relações

pessoais estabelecidas dentro do grupo (Brewer & Yuki, 2007). Corroborando com a

distinção entre o “eu” relacional e o “eu” colectivo Yuki (2003) acrescenta que as

características predominantes em termos comportamentais e de conhecimento da

identidade de um grupo podem ser influenciadas pelos contextos culturais o que é

(17)

6

consistente com a ideia de existirem diferentes bases para a atracção e entitatividade de

grupo e na formação de estereótipos.

1.1.2. Identidade e estereótipos

A relação entre identidade e formação de estereótipos tem conhecido alguma

controvérsia nos estudos. Alguns têm suportado a hipótese de que a identidade está

positivamente relacionada com o preconceito (Hewstone, Rubin e Willis, 2002) de

forma inversa no sentido em que a identidade impulsiona atitudes fora do grupo e não

dentro do grupo (Jetten, Spears, & Manstead 1997). Outros apontam uma associação

fraca e inconsistente entre identidade e preconceito (Mullen, Brown, & Smith, 1992). E

ainda alguns dados experimentais mostram que as manipulações de identidade podem

aumentar o preconceito (Branscombe & Wann, 1994; Perreault & Bourhis, 1999).

O certo é que existem algumas similaridades na forma como se formam impressões

sobre os indivíduos e sobre os grupos, embora existam diferenças que contribuem para

apurar as propriedades de estereótipos de grupo (Smith & Mackie, 2007).

A teoria da identidade social foi a pioneira na explicação de preconceito intergrupal.

Esta teoria remete para a necessidade dos membros do grupo aumentarem a auto-estima

positiva bem como a identidade social positiva dentro do grupo (Tajfel & Turner, 1979),

ao qual posteriormente, Luhtanen e Crocker (1992) acrescentaram que o conceito de

auto-estima colectiva assentava nas evoluções individuais de identidade social e no

papel das relações dos membros do endogrupo que contribuiam para a auto-estima

pessoal. Por sua vez, Hogg e Abrams (1990; cit in Hewstone, Rubin e Willis, 2002)

sugeriram duas hipóteses de auto-estima. A primeira apontando o preconceito

intergrupal como o responsável pelo aumento da auto-estima e a segunda sugerindo que

a auto-estima quando ameaçada ou deprimida leva ao preconceito intergrupal.

Por seu turno, Brewer (1991) apresentou a teoria da distintividade óptima como a única

teoria motivacional a explorar um modelo duplo sobre o preconceito intergrupal, ou

seja, a única a sugerir que a identidade social opera de duas formas opostas,

nomeadamente, na necessidade de identificação com o grupo e na necessidade do

endogrupo se diferenciar dos grupos externos. O facto é que normalmente os indivíduos

sentem-se motivados a identificar-se com grupos que possam proporcionar um

equilíbrio óptimo entre essas duas necessidades. Já a teoria da redução da incerteza

subjectiva de Hogg (2000) refere que os indivíduos são motivados a reduzir a incerteza

(18)

7

subjectiva e para isso devem identificar-se com os grupos sociais que determinam

normas claras sobre o comportamento, o que reflecte favoritismo que não é mais do que

a explicação das diferenças percebidas resultando em positividade intergrupal.

Os estereótipos definidos por Lippmann (1992; cit in Smith & Mackie, 2007) são,

portanto, considerados imagens mentais simplificadas sobre o que parecem e o que

fazem os grupos. São representações cognitivas dos grupos humanos e das categorias

sociais que costumam a ser partilhadas socialmente. Estas representações cognitivas

estão carregadas de significado emocional que quando assumem um carácter negativo

definem o preconceito (Garcia-Marques & Garcia-Maqrues, 2003). Por sua vez, a

categoria social, a partir da perspectiva de um observador externo, é percebida como um

conjunto de dois ou mais indivíduos que partilham pelo menos um atributo que os

distingue das outras catagorias sociais (Deutsch, 1973, Horwitz & Rabbie, 1982; cit in

Jesuíno, 2002). A SCT reforça que a categorização social acontece para dividir o mundo

em grupos sociais (Smith & Mackie, 2007). Segundo Turner (1982) os membros de uma

categoria social podem transformar-se num grupo psicológico quando se

auto-percepcionam como membros pertencentes à mesma categoria social. Para autores

como Gaertner e Schopler (1998) o preconceito é visto como um efeito de intragrupo do

qual derivam fenómenos como a entitatividade, a satisfação e o favoritismo pelo

endogrupo.

Os estereótipos começaram por assumir duas funções basilares. A função heurística que

permite delimitar mentalmente os labirintos sociais em que o indivíduo vive, e a função

defensiva que permite justificar as desigualdades e injustiças sociais. Para Allport

(1954; cit in Garcia-Marques & Garcia-Marques, 2003) os estereótipos eram

considerados o resultado de um processo cognitivo básico designado de categorização.

Tajfel (1969) remeteu para a necessidade de apostar na interação dos factores sociais

com os mecanismos cognitivos básicos para explicar o comportamento humano e

apontou uma teoria assente em três conceitos basilares na tentativa de responder ao

como (teoria da categorização), ao o quê (teoria da assimilação) e ao quando (processo

de busca de coerência) dos estereótipos concebendo a abordagem cognitiva. Esta

perspectiva cognitiva conhece uma consolidação com o trabalho de Hamilton e Gifford

(1976, texto 2; cit in Garcia-Marques & Garcia-Marques, 2003) a partir da abordagem

do processo de estereotipização segundo uma vertente de discriminação dos grupos. A

discriminação avaliativa dos grupos humanos é considerada um dos fenómenos

(19)

8

psicológicos básicos que se encontra associado aos estereótipos e aos preconceitos e

constitui-se o principal fundamento da perspectiva cognitiva dos estereótipos.

Para além dos estereótipos incorporarem características físicas, interesses típicos e

objectivos, actividades e ocupações preferidas, características similares também

abrangem o que os grupos fazem e o que gostam de fazer e os traços de personalidade

dos membros do grupo que despertam sentimentos e emoções positivas ou negativas

nos outros (Smith & Mackie, 2007). As emoções podem ter importantes efeitos nas

interacções pessoais com membros de grupos estereotipados (Smith & Mackie, 2007).

Os estereótipos positivos podem representar atributos dos quais os membros do grupo

se orgulham em afirmar mesmo que esses atributos tenham consequências negativas.

Este tipo de estereótipos pode fazer parte de um padrão geral de atitudes paternalitas em

relação a um grupo social que reforça a fraqueza e dependência do grupo (Glick &

Fiske, 1996). As consequências psicológicas dos estereótipos são a superestimação

uniforme e de expectativas rígidas sendo a tradução social dessas consequências o

preconceito e a discriminação. Mais importante do que o conteúdo negativo ou positivo

dos estereótipos é a questão de serem precisos ou imprecisos (Smith & Mackie, 2007).

No entanto, não existe nenhuma medida de exactidão ou inexactidão da maioria dos

estereótipos até porque muitos conceitos estão incluídos em estereótipos comuns. O que

algumas pesquisas encontraram foi que os estereótipos podem ser exactos em direcção e

também em grau (Jussim, 2005). Mas os estereótipos também podem ser imprecisos,

sobretudo, quando é feita uma visão amplificada do estereótipo a todos os membros do

grupo. Contudo, seja qual for o seu conteúdo, características positivas ou negativas,

descrições precisas ou imprecisas, os estereótipos são uma parte real da vida social dos

indivíduos (Smith & Mackie, 2007) e a vida em sociadade é confrontada por categorias

sociais e grupos diferentes que estão constantemente a formar estereótipos e a ser

estereotipados. A percepção de entitatividade dos grupos facilita a categorização porque

parte de uma ideia de homogeneidade do grupo. Como sugerem Hamilton e Sherman

(1996) a percepção de entitatividade assenta em mecanismos de processamento de

informação que dão origem a homogeneidade percebida, levando a entitatividade a

assumir um papel central nos fenómenos de grupo, nomeadamente, na formação de

estereótipos. Spencer-Rodgers, Williams, Hamilton, Peng, e Wang (2007) referem que

as pessoas são motivadas a diferenciar o endogrupo do exogrupo e a favorecer o

endogrupo como forma de melhorar a sua auto-estima. No entanto, para Abelson,

(20)

9

Dasgupta, Park e Banaji (1998) o exogrupo é percepcionado como mais entitativo do

que o endogrupo que são considerados mais unidos e ameçadores. Já para Crump,

Hamilton, Sherman, e Thakker (2005) esta ideia descaí pois ao autores reconhecem o

endogrupo como mais entitativo e com um alto valor de identidade social

(Spencer-Rodgers, Williams, Hamilton, Peng, & Wang, 2007). Assim o endogrupo por ser

importante e significativo para os seus membros leva a que os indivíduos sejam

frequentemente motivados a percebe-lo como unido e coeso (Castano, Yzerbyt, &

Bourguignon, 2003), enquanto os exogrupos são percebidos como mais homogéneos

(Spencer-Rodgers, Williams, Hamilton, Peng, & Wang, 2007).

Preconceito e discriminação intergrupal em função do status e poder do grupo

Diversos autores interpretam o preconceito intergrupal sob diferentes perspectivas. Para

Leonardelli e Brewer (2001) o preconceito é motivado pela necessidade de estabelecer

identificação com um grupo, enquanto Brewer (1991) aponta que quando é atingido um

certo grau de identificação, a polarização do endogrupo é motivada pela necessidade de

diferenciação intergrupal. Estas duas evidências encontraram suporte nos trabalhos

sobre preconceito intergrupal de grupos mínimos (Leonardelli & Brewer, 2001). Os

grupos mínimos com distinção óptima apresentam maior identificação e satisfação com

o endogrupo e uma maior auto-estima, revelando a existência de uma relação positiva

entre a satisfação com o grupo e o preconceito intergrupal. Este padrão de resultados é

contrário para os grupos maioritários que apresentam a existência de uma relação

negativa entre a satisfação com o grupo e o preconceito intgergrupal. O preconceito

intergrupal resultante do tamanho de grupo, status, e poder é manifestado mais por

grupos minoritários, que apontam favoritismo, do que por grupos maioritários (Mullen

et al., 1992).

Segundo o paradigma do grupo mínimo (MGP; Tajfel, Biling, Bundy, & Flament, 1971)

o preconceito não é apenas visto como um efeito intragrupo. Em estudos onde os

participantes foram divididos em categorias sociais e onde a interacção foi excluída

também se verificou uma avaliação mais favorável dos membros do endogrupo em

relação á avaliação feita aos membros do exogrupo. Para Hewstone, Rubin e Willis

(2002) o preconceito é um efeito intergrupal e traduz a tendência sistemática de um

membro avaliar de forma mais favorável o seu grupo e de forma menos favorável o

exogrupo, usualmente o que se designa por favoritismo. Para Brewer (1979) o

(21)

10

preconceito intergrupal aumenta quando a barreira entre os grupos se torna mais

saliente. Quanto mais entitativos os grupos se consideram maior o favoritismo

(sentimento positivo) demonstrado para com os membros do endogrupo, o que contribui

para o aparecimento de preconceitos intergrupais (sentimento negativo). No entanto,

embora o preconceito aumente pelo facto das barreiras entre os grupos estarem mais

salientes, a entitatividade do endogrupo é considerada a causa proximal do preconceito,

enquanto a saliência das barreiras é uma das variáveis que afecta a entitatividade e, por

sua vez, conduz ao preconceito.

De acordo com a pesquisa experimental e a literatura sobre discriminação intergrupal os

grupos mais discriminativos são os minoritários (Mullen, et al., 1992) sendo as teorias

da distintividade óptima e da identidade social apontadas como basilares na descrição

das motivações que levam os grupos maioritários e minoritários a emitirem

comportamento de discriminação. A discriminação intergrupal refere as diferenças de

comportamento directo expresso pelos membros dos endogrupos que beneficiem o

grupo interno e coloquem em desvantagem os membros do exogrupo.

Segundo a teoria da distintividade óptima (Leonardelli e Brewer, 2001) os indivíduos

preferem grupos com uma identidade social positiva e que apresentam uma maior

diferenciação em relação ao exogrupo. A satisfação e a identificação com o grupo são

elementos que em conjunto podem designar como os membros dos grupos apresentam

discriminação e porque o fazem. Neste sentido, quando a identidade e a satisfação são

elevadas, o grupo é considerado possuidor de uma distintividade óptima e, logo tende a

ser considerado mais discriminativo. No caso em que a identidade e a satisfação são

baixas, os grupos são considerados sem distintividade óptima e não apresentam motivos

para discriminar. Mas já no caso em que a identidade é elevada e a satisfação é baixa, as

funções de discriminação levam a aumentar a diferenciação intergrupal (Leonardelli &

Brewer, 2001). Outros autores esmiúçam que a baixa auto-estima do grupo é

responsável pela discriminação como forma de a restaurar a auto-estima (Rubin &

Hewstone, 1998) e de acordo com postulados anteriores, assumindo que os grupos

minoritários são inseguros (Sachdev & Bourhis, 1984, 1991) vão discriminar mais á

medida que a sua auto-estima diminui.

(22)

11

1.2. Compreensão da identidade de lugar no âmbito da teoria da identidade social

1.2.1. Identidade de lugar

A definição de lugar assenta na relação do indivíduo e dos grupos com o seu ambiente

físico o que conduz à evocação de sentimentos de pertença (Sime, 1986).

Essencialmente o lugar é definido por dimensões físicas e sociais que o tornam único. A

identidade de lugar é definida como uma subestrutura da identidade pessoal que

incorpora as cognições sobre o mundo em que os indivíduos vivem, designadamente, as

memórias, ideias, sentimentos, atitudes, valores e preferências acerca dos diversos

ambientes em que estão inseridos (Proshansky et al., 1983). Mas também do ponto de

vista do observador externo as pessoas são descritas em termos de pertença a esses

lugares específicos (Bernardo, 2011). Cuba e Hummon (1993) demonstram que a

identidade de lugar é mediada por um conjunto de factores sociais. Portanto, embora a

identidade de lugar seja influenciada pelas qualidades dos próprios lugares, a

identificação com um lugar também é formada pelas interpretações pessoais de lugar,

pelas experiências dos indivíduos com os lugares, e pelas características demográficas

presentes. Para Kaplan (1983) e Korpela (1989) o lugar de residência assume papel de

facilitador na manutenção da identidade e da auto-estima positiva.

No entanto, apesar da relevância do conceito, a definição e operacionalização do

conceito de identidade de lugar tem sido prejudicada por descartar os processos sociais

e motivacionais subjacentes à identificação das pessoas com os lugares (Twigger-Ross,

Bonaiuto & Breakwell, 2003; Droseltis & Vignoles, 2010). Portanto, os aspectos sociais

do lugar que interferem também no processo identificação com o lugar têm sido

negligenciados por apenas ser dada primazia aos aspectos físicos do lugar. Esta lacuna

reduz o lugar apenas a espaço físico e deu azo a trabalhos (Lalli, 1992) que tentaram

juntar a dimensão social do lugar à identidade de lugar por meio das relações sociais

mostrando que o lugar é mais do que um espaço físico já que desperta sentimentos

acerca do ambiente e do seu significado que evocam a relação entre as qualidades dos

lugares e as características e relações que as pessoas estabelecem com eles (Speller,

2005). Esta nova visão leva a que a identidade de lugar passe a ser reforçada também

pelo ambiente social do lugar e não apenas pelas suas dimensões físicas (Twigger-Ross,

Bonaiuto, e Breakwell, 2003). Neste sentido identidade social e de lugar estão

estreitamente relacionadas pois os indivíduos têm tanta necessidade de pertencer a

grupos sociais como a lugares sobre os quais nutram sentimentos de pertença e que

(23)

12

transmitam valores e significado emocional, como o seu local de residência. Já

Proshansky (1978, p. 155) definiu a identidade de lugar como um processo complexo e

multidimensional que compreende as dimensões que definem a identidade pessoal do

indivíduo em relação ao ambiente físico. A identificação com o lugar sugere, portanto,

um processo de construção de uma “identidade” através da identificação do indivíduo

com um cenário (Speller, 2005). Para Graumman (1983) a identificação do indivíduo

com um lugar assenta em três processos, nomeadamente, o processo de identificar o

ambiente; de ser identificado no ambiente; e de identificar-se com o ambiente, sendo

este último processo o mais importante para definir a identidade de lugar. Este processo

assume a modelação do indivíduo com alguma coisa que não tem de ser real e pode ser

apenas simbólica. Essa função simbólica permite que os lugares se transformen em

objectos de identificação que tendem a ser estimados e conservados. Neste sentido,

Graumman (1983, p.314) aprontou que “no fundo não há identidade social que não

tenha relação com o lugar (Proshansky, 1978) e com as coisas (Graumman, 1974)”.

A identidade de lugar ainda é tratada por diferentes abordagens como a sintetizada por

Droseltis e Vignoles (2010). A primeira relaciona-se com a extensão do “eu”, ou seja, a

ideia de que o lugar é experenciado cognitivamente como fazendo parte do “eu”

(Proshansky, et al, 1983). Alguns achados empíricos validam esta conceptualização,

como por exemplo, o facto de pessoas que tiveram o seu território violado por roubo

apresentarem um perfil qualitativamente semelhante de sofrimento psicológico, embora

menos intenso, do que pessoas que sofreram violações corporais a partir de roubo ou

violação sexual (Wirtz & Harrel, 1987). Outra abordagem aponta a ideia de que o lugar

pode ser congruente com atitudes, valores e disposições comportamentais do “eu” ao

qual Feldman (1990) introduz que cada pessoa tem uma identidade ligada a um tipo

específico de lugar (por exemplo, edifícios altos, pequenas casas de campo). Deste

modo, a mobilidade residencial não implica uma redefinição da ligação entre

pessoa-lugar, se as áreas velhas e novas de residência estão em consonância com a identidade

de lugar do sujeito (Feldman, 1990). Ainda uma outra abordagem explora a noção de

“eu ecológico” (Bragg, 1996), também capturado pelo conceito de identidade ambiental

(Clayton & Opotow, 2003; cit in Droseltis & Vignoles, 2010), em que os indivíduos

desenvolvem uma sensação subjectiva de fazer parte do seu ambiente físico. Esta noção

também tem alguma ligação com o conceito de enraizamento que foi examinado no

contexto de ambientes residências (McAndrew, 1998), em termos de ligações ao lugar

(24)

13

(Hidalgo & Hernández, 2001) ou como um constructo multidimensional associado ao

tempo de residência e pertença ao lugar (Moore, 1999). Nas últimas décadas a

identidade de lugar tem sido associada a uma conotação temporal por se considerar

existir uma ligação entre o indivíduo e o seu passado, presente e futuro no lugar

(Speller, 2005). Por sua vez, outra abordagem da identidade de lugar expõe a noção de

congruência entre o “eu” e o lugar marcando a ideia de que o lugar é de alguma forma

semelhante à personalidade do indivíduo. Essa congruência tem sido examinada por

exemplo através do vínculo à residência (Twigger-Ross & Uzzell, 1996). A congruência

entre o “eu” e o lugar deve ser vista como uma componente de identificação das pessoas

com os lugares, assim como defende a SIT a similaridade com estereótipos de grupo é

uma componente importante na identificação das pessoas com os grupos. Deste modo, a

imagem que se tem de um lugar é semelhante à que se tem das caracteristicas de um

indivíduo. Já a última e mais comum abordagem tem focado a identidade de lugar em

termos de vínculo ao lugar. As ligações emocionais aos lugares têm sido consideradas

importantes no estabelecimento de limites entre as pessoas e os lugares. O local de

residência tem sido visto como uma unidade transacional que permite que o indivíduo

estabeleça uma relação com o presente e o passado, e entre a experiência e a memória

que contribuem para estabelecer vínculo ao lugar. Como sugere Bonaiuto, Breakwell, e

Cano (1996) uma forte identificação com o lugar leva a percepcioná-lo como menos

negativo, tal como uma forte identidade nacional leva a percepcionar o país em termos

ambientais como menos negativo, especificamente, menos poluido em todos os locais.

Assim compreende-se a existência de uma conexão entre avaliação positiva do lugar e

identificação com o lugar de residência (Fleury-Bahi, Félonneau, Marchand, 2008). Ou

seja, o sentido de pertença ao lugar e o sentimento de que o lugar contribui para a

identidade pessoal promove uma avaliação positiva por parte dos residentes. Portanto, a

identificação com o lugar de residência está estreitamente ligada á percepção que cada

indivíduo faz sobre a sua imagem social, sobretudo, no que se refere á qualidade de

relações com a vizinhança. Seamon (1979) fornece evidência qualitativa de que a

habitação pode ser o lugar mais importante para o desenvolvimento de identidade de

lugar, embora outros estudos indiquem que a residência desempenha um papel

secundário na construção de um sentido de casa (Lavin & Agatstein, 1984). Na

literatura, a relação entre o vínculo ao lugar e identidade de lugar não é consensual,

embora haja unanimidade no reconhecimento de que os dois conceitos estão

(25)

14

intimamente relacionados (Chow & Healey, 2008; Hernandez, Hidalgo,

Salazar-Laplace, e Hess, 2007; Lewicka, 2008). De acordo com Hernandez et al., (2007) e

Lewicka (2008), o vínculo ao lugar e a identidade de lugar são conceitos distintos mas

ambos relacionados com as ligações que as pessoas estabelecem com os lugares. No

intuito de esclarecer a relação entre esses dois conceitos, Hernandez et al., (2007),

desenvolveram um conjunto de estudos que demonstraram que o vínculo ao lugar

precede a formação da identidade local.

Sendo os lugares fontes de identidade a definição dos grupos sociais e a afirmação da

sua identidade podem ser por eles influenciadas.

1.2.2. Vinculação como fonte de identidade ao lugar

Proshansky et al., (1983) embora tenham falado de afectos quando descreveram a

identidade de lugar desatenderam as ligações emocionais ligadas ao conceito ao qual

outros autores (Giuliani, 2003) abrangeram a vinculação ao lugar. Deste modo, a

identidade de lugar passa a assentar num núcleo emocional que se manifesta nos laços

formados em relação ao lugar. Assim a par da vinculação que os indivíduos podem

estabelecer uns com os outros, a vinculação ao lugar, seja à casa ou a outros lugares de

referência do passado, presente ou futuro, representa um importante contributo para a

formação da identidade do indivíduo (Speller, 2005).

Recentes investigações têm se debruçado no estudo do conceito de lugar a partir da

identidade de lugar e da vinculação ao lugar de forma estática, por considerarem a

vinculação e a identidade ao lugar como condições, transições e processos da relação

entre pessoa e ambiente estáveis no tempo (Speller, 2005). No entanto, segundo

Giuliani (2003) a relação entre pessoa e lugar é dinâmica assim como a modificação dos

laços afectivos ao longo da vida, o que confere a vinculação ao lugar como um processo

desenvolvimentista. Por sua vez, Low e Altman (1992) apontam a vinculação ao lugar

como um conceito integrador que envolve padrões de vinculação. Estes padrões são

relativos a afectos (cognições e acções), aos lugares (que variam em escala de

especificidade e tangibilidade), aos diferentes actores sociais (indivíduos, grupos e

culturas), às relações sociais (indivíduos, grupos e culturas), e a aspectos temporais (que

podem ser lineares ou cíclicos). Para Brower (1980; cit in Speller, 2005) a vinculação ao

lugar forma-se e desenvolve-se a partir da associação do lugar à auto-imagem do

indivíduo ou da sua identidade social.

(26)

15

Giuliani (2003) apresenta uma proposta de vinculação ao lugar como um laço

vinculatório dirigido à casa ou a objectos que traduzem um estado psicológico de

bem-estar aquando da presença ou acesso do indivíduo ao objecto, ou um estado de

desamparo derivado da ausência ou afastamento do indivíduo em relação ao objecto.

Ainda Milligan (1998) trata a vinculação ao lugar em termos do grau de significado das

experiências dos indivíduos nos lugares por assumir a vinculação ao lugar como o laço

emocional desenvolvido com o espaço físico a que foi dado significado devido à

interacção. Nesta definição são tidas em conta as experiências passadas e futuras dos

indivíduos com os lugares que remetem a memórias ou a expectativas futuras.

Hernández, Hidalgo, Salazar-Laplace e Hess (2007) tentam demonstrar que a identidade

de lugar e a vinculação ao lugar não funcionam de maneira sobreposta afirmando que os

residentes naturais e que vivem há muito tempo num lugar apresentam níveis

semelhantes de vínculo e de identidade de lugar, enquanto os residentes não naturais ou

com menos tempo de residência num lugar apresentam diferentes níveis de vinculação

ao lugar. A proposta de Bernardo e Palma (2005) é de que a escolha da residência e a

congruência com essa expectativa são variáveis que podem ser importantes na relação

com o lugar. Mudar de residência, seja de modo voluntário ou involuntário, tem efeitos

imediatos e significativos sobre o vínculo ao lugar e conduz ao desenvolvimento de

sentimentos em relação ao novo lugar, enquanto a identidade com o lugar permanece

intacta, pois só após um longo processo de interacção com o novo lugar é que a

identidade se vai construindo gradualmente (Wester-Heber, 2004).

Do ponto de vista social e psicológico a identidade ao lugar retrata a forma em que os

lugares delimitados estão repletos de significado pessoal, social e cultural e constituem

um quadro significativo em que a identidade é construída, mantida e transformada. O

trabalho de Hernández, Hidalgo, Salazar-Laplace e Hess (2007) retratou que as pessoas

apresentam mais vínculo e identidade com a sua cidade e ilha do que propriamente com

o bairro onde vivem. Esta situação pode dever-se ao facto das cidades e,

particularmente, a ilha acarretarem mais conteúdo significativo e simbólico enquanto os

bairros carecerem de simbolismo e são considerados lugares mais instáveis para viver,

ou seja, existe uma maior probabilidade dos indivíduos se deslocarem dos bairros para

irem viver para outro bairro do que propriamente para outra cidade ou ilha.

Os indivíduos ainda usam os lugares para demonstar a si mesmos e aos outros as suas

qualidades. Os lugares estão envolvidos na construção de identidades pessoais de

(27)

16

histórias de vida que diferenciam o indivíduo, bem como na associação de atributos a

pessoas que pertencem a uma determinada categoria social (Goffman, 1963). Deste

modo, os lugares funcionam como uma forma de comunicar a identidade social. Os

lugares ainda são tidos para desenvolver um sentimento de vínculo. Nesse sentido, a

identificação com o lugar irá reproduzir os laços emocionais inerentes ao lugar e pode

também envolver um sentimento de valores e interesses comuns que são partilhados. A

sensação de que o indivíduo pertence aquele lugar e está “em casa” (Seamon, 1979).

Embora menos estudada nesse âmbito a vinculação ao lugar pode estar envolvida com

lugares caracterizados por contexto simbólico. Por exemplo, grandes espaços urbanos,

com as suas tradições, monumentos públicos, mitos e que fornecem uma cultura local

que apoia a identidade de lugar para os moradores da zona.

O sentimento de vínculo a um lugar proporciona ligações positivas com as

configurações físicas e sociais do lugar e, portanto, estabelecer vínculo com um lugar

significa estar satisfeito com a área de residência em comparação a outros lugares

(Guest & Lee, 1983; Cuba & Hummon, 1993; Mannarini, Tartaglia, Fedi, & Greganti,

2006). Também o investimento temporal e financeiro, a coesão e controlo social e o

baixo medo do crime são indicadores de bairros saudáveis e de satisfação com o lugar

de residência (Schorr, 1997; cit in Brown, Perkins, & Brown, 2003). Brown, Perkins e

Brown (2003) demonstram que os residentes de bairros com boas condições físicas e

sociais podem apontar um vínculo ao bairro mais positivo. O vínculo ao lugar pode

então ser encarado como um recurso para revitalizar os bairros que enfrentam

problemas a nível de declínio físico, perda de coesão e controlo social e também se

demonstrar uma mais-valia para a melhoria da qualidade de vida nos bairros.

A importância do prestígio na identidade de grupo e como fonte de auto-estima

Os lugares têm sido estudados não apenas como foco a uma referência temporal mas

também a partir das noções de lugar, em termos de objectos, casas, vizinhança,

comunidades, regiões e nações (Low e Altman, 1992) que lhes configura ou não

prestígio e qualidade. No entanto, a investigação sobre a indentidade de lugar tem

focado a importância da identidade de forma individualista e na tentativa de enquadrar a

identidade de lugar às relações intergrupais vai ser usada a identidade de lugar como

auto-categorização em termos de lugar, assente nos princípios da SIT (Tajfel, 1978,

1981; Tajfel & Turner, 1979) e da SCT (Turner, 1985, 1987). Esta abordagem também

(28)

17

tem sido seguida por outros autores (Lewicka, 2008; Hernandez et al, 2007; Droseltis &

Vignoles, 2010). Como indicado pela SIT a motivação básica de um indivíduo para se

identificar com um grupo específico prende-se com o sentido de alcançar distinção

positiva (Brown, 2000). Assim, os indivíduos que apresentem um alto nível de

identificação com o seu grupo tendem a agir em favor do seu grupo e a manter uma

imagem

positiva

do

mesmo

(Hewstone,

Rubin,

&

Willis,

2002).

Transpondo esta ideia para um lugar específico, podemos esperar que os indivíduos com

níveis elevados de identificação tenham uma percepção mais positiva de seu espaço do

que os não-residentes.

O declínio dos bairros, que se configura tanto por aspectos físicos como sociais dos

lugares, está relacionado com a percepção de prestígio e qualidade dos lugares. Por

exemplo, o vínculo a um lugar é alterado quando os ambientes mudam repentinamente

como nos casos de desastres naturais que influenciam o modo como os indivíduos

passam a identificar-se com o lugar (Brown & Perkins, 1992; cit in Brown, Perkins &

Brown, 2003). Assim o vínculo a um lugar envolve ligações positivas, dinâmicas e

duradouras entre os indivíduos e as configurações físicas e sociais que compõem os

lugares (Brown & Perkins, 1992; cit in Brown, Perkins & Brown, 2003) e, por

conseguinte, essas configurações ajudam a cultivar uma identidade individual e de

grupo. O esforço para manter a identidade quando activado pode conduzir a uma

melhoria dos lugares e, portanto, o vínculo aos lugares pode ser visto como um factor

impulsionador para a revitalização dos bairros.

O investimento temporal e financeiro num lugar pode estar ligado ao tempo de

residência que os indivíduos têm no lugar. Neste sentido, como sugerem alguns autores

quanto mais anos uma pessoa viver num lugar mais vínculo ela expressa (Sampson,

1989; Taylor, 1996). Em relação ao investimento financeiro os indivíduos que apostam

em adquirir casa própria tanto apresentam mais vínculo ao lugar como reconhecem que

o bairro de residência tem qualidade (Taylor, 1996). No entanto, as pessoas que vivem

em habitações não próprias podem ter associações menos ricas e gratificantes do

passado para poderem reunir esforços a fim de revitalizar os bairros em declínio, bem

como, experenciam menos sentimento de vínculo quando comparadas com residentes

naturais e residentes com casa própria. A aparência física das estruturas, como os

grafitis, os telhados pobres e as calçadas decadentes também sinalizam desinvestimento

financeiro do bairro. A baixa eficácia colectiva, relacionada com a coesão e o controlo

(29)

18

social dos bairros, está ligada com o declínio dos bairros, com o volume dos negócios e

com a percepção e taxas reais de crimes violentos (Sampson, Raudenbush, & Earls,

1997). No entanto, as relações de amizade com os vizinhos podem contribuir para um

maior vínculo ao bairro mesmo em condições adversas (Sampson, 1989; Mesch &

Manor, 1998). Os eventos que ocorrem nos bairros e as interacções possíveis permitem

que os habitantes conheçam e valorizem a área e potencialmente aumente o vínculo ao

bairro. Para Brown, Perkins & Brown (2003) o controlo social pode ser um antecedente

de identidade de lugar. A eficácia colectiva pode proporcionar mais sentido de coesão e

controlo social em contextos de bairros organizados conduzindo, assim, a um maior

vínculo ao lugar, pois os moradores sentem menos vínculo aos bairros percebidos como

fisicamente desordenados (McGuire, 1997) ou que se encontram em situação de

degradação (LaGrange, Ferraro, & Supancic, 1992). No entanto, as incivilidades sociais

nem sempre significam falta de vínculo com os lugares. Alguns estudos demonstram

que em algumas áreas onde se denunciaram mais crimes policiais e incivilidades o

vínculo ao lugar é maior (Taylor, 1996). Por exemplo, nos bairros étnicos e

economicamente desfavorecidos, dado ao seu relativo isolamento da sociedade e o

maior suporte que providenciam aos seus moradores, também conduzem a maior

sentimento de vínculo (Fried, 2000). Bernardo e Palma-Oliveira (2012) mostraram com

o estudo de quatro bairros em Lisboa que os moradores têm uma percepção

significativamente mais positiva do seu bairro em termos de qualidade geral, prestígio e

segurança do que os não-residentes, até mesmo quando o estereótipo de um bairro era

muito negativo.

A vizinhança pode ser considerada tanto como um aspecto benigno ou como um aspecto

fundamental para a sobrevivência em sociedade. Ela é em simultâneo uma forma de

comportamento e de orientação da vida social que decorre nos bairros. A orientação

pode ser manifesta por meio de acções activas como a protecção e apoio das pessoas a

quem se considera vizinhos, ou através de acções passivas como a tolerância para com

vizinhos que fazem algo inconveniente. A vizinhança ainda pode ser determinada em

termos de sentimento de identidade quando os indivíduos sentem necessidade de

pertença aos grupos sociais. O reconhecimento de si e do outro como sendo parte de

uma mesma entidade em termos de localização e espaço social também caracteriza o

que se entende por vizinhança. Ser vizinho tem sido descrito em termos de um papel

social que acarreta obrigações associadas a expectativas. Portanto, o que os indivíduos

(30)

19

consideram de bom vizinho irá depender das suas expectativas e necessidades. Para

alguns a definição de bom vizinho traduz-se naquelas pessoas que respeitam a

privacidade enquanto para outros são aqueles que formam uma comunidade activa de

apoio social. Segundo a teoria dos dilemas sociais a vizinhança é considerada um

recurso do qual todos os residentes do bairro podem beneficiar ou sair a perder. Os

benefícios do comportamento cooperativo são tanto sociais como psicológicos.

Residentes de um bairro com claras relações de vizinhança podem experimentar uma

redução da ansiedade perante situações adversas como o crime ou incivilidades, podem

adquirir maior orgulho da sua casa, e podem aprender a confiar nos outros.

A vizinhança tem a capacidade de promover um sentimento de inclusão e maior

referência social aos indivíduos. Os vizinhos podem ser encarados como o ponto de

equilíbrio entre a coesão social e a individualidade, já que o tempo dispendido no

relacionamento com os vizinhos estará de acordo com as necessidades de cada um.

Abrams (2006) sugere que as pessoas mais bem posicionadas a nível económico na

sociedade, com mais autonomia e acesso a diversas redes sociais podem ter menos

tendência a tornarem-se vizinhos enquanto as pessoas mais carenciadas socialmente,

economicamente e geograficamente estabelecem relações de vizinhança a fim de obter

benefícios com esse relacionamento. Para Abrams os grupos maiores por serem

considerados mais heterogéneos também podem assumir menos relações de vizinhança

por não irem ao encontro de objectivos comuns de grupo e valorizarem mais os ganhos

pessoais. Neste prisma, a entitatividade dos grupos serve como base para a vizinhança

onde as pessoas do mesmo grupo esperam comportamentos de cooperação por parte dos

seus membros. Os indivíduos podem valorizar ser um membro de um bairro

diferenciado e com prestígio social o que reforça o seu sentido de pertença ao bairro.

Deste modo, os bairros considerados mais entitativos são capazes de incorporar um

nível mais elevado de vizinhança e de prestígio.

No entanto, as relações de vizinhança podem ser difíceis de manter em áreas que

abarcam mudanças rápidas, como as demográficas. A diferença de idades dos residentes

dos bairros pode reduzir o potencial do bairro e a sua percepção como uma entidade

coesa, levando as pessoas mais velhas a terem dificuldade em socializar com os

membros recém-chegados. Em contrapartida, as pessoas mais velhas podem

experimentar uma maior socialização com os membros recém-chegados ao facilitar-lhes

a sua participação e integração no bairro. Certamente, haverá mais propensão de ajudar

Imagem

Figura 1. Mapa da área de estudo.
Tabela 1. Dados demográficos das freguesias estudadas
Tabela  2.  Distribuições  das  médias  e  frequências  das  características  demográficas  dos  participantes  Santa  Clara  São  José  São  Pedro  São  Sebastião
Tabela 3. Médias e desvios padrões de algumas medidas dependentes
+6

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