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~\j .
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO: A RECUPERACIO
pdS-KEYNESIANA DA ECONOMIA DO EMPREGO DE
KEYNES
Banca Examinadora
Prof. Orientador:
Dr. Lui2 Antonio
de 01
Lve íra Lima
1199200614
" 11111111111111 111111111 1111" 111111 I11
FUNDAC~O GET~LIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAClo DE EMPRESAS DE SIO PAULO
GILBERTO TADEU LIMA
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO: A RECUPERAC~O P6S-KEYNESIANA
DA ECONOMIA DO EMPREGO DE KEYNES
Disserta~io apresentada ao curso de
P6s-Gradua~io da EAESP/FGV. ~rea de
Concentra~io: Economia de Empresa
-como pr~-requisito para obten,lo do
título de Mestre em Economia de
Em-sa.
Orientador:
Prof. Dr. Luiz Antonio
de Oliveira Lima
SÃO PAULO
Fundação Getulio Vargas . ESUJIa de Administração de Empresa!l deS:ltnp~."o
Bih,iotpr.;t
1991 1199200614
---~ mem6ria de minha querida miei cuja
aus@ncia ~ presen~a em
todos os
mo-mentos de minha vida
le ao carinho e
dedica~io sempre intensos de meu
in-criveI pai; devo-lhes quem sou e
tu-aquilo que vier a conseguir.
Ao afeto
e ternura
de minha
meiga
Ao carinho e bem-querer da
dedicada
,
,)
\, I I
The composition
of this book has been for the author
a
long struggle of escape, and
so must the reading
of it be
for most
readers if the author's
assault
upon them is to be successful,-
a struggle of escape
from habitual modes of
thought and
expression,
The
ideas
which are
here
expressed so laboriousl~ are
extremel~
simpIe and should
be obviou., The
diffi-cult Iies, not in
new
ideas, but
in escaping from
the old ones, which ramif~, for those brought up
as
most of us have been, into ever~ corner of our minds
",
"
Índice
Agradecimentos
Introdu~io i
I. O ke~nesianismo neocl'ssico
2. O conteddo bisico da síntese neocl'ssica 6
3. A contribui~lo de J.R. Hicks: conteddo e deficiincias 15
4. A reavalia~io de J. Hicks 35
5. Pigou e o efeito riqueza 39
6. Modigliani e o efeito Ke~nes 52
11. O ke~nesianismo'desequilibrista
2. Clower e a essincia do ke~nesianismo desequilibrista 74
3. As contribui~5es de Leijonhufvud 108
111. O neo-ricardianismo
1. Introdu~io 121
2. O conteddo b~sico da abordagem neo-ricardiana 123
3. Ke~nes e o longo período i37
4. A importincia das expectativas e da incerteza 149
IV. O pós-ke~nesianismo
153
2. Tempo histórico, expectativa e incerteza: o nexo l6gico 157
3. O conceito de economia monet'ria 176
Y
190
I "
"i
5. A importincia dos contratos monetirios 213
6. A importincia analítica das posi,ões de longo período 217
Conclus~o 223
Agra.decimentos
Nio a.penas durante a. elabora~io da
presente
disserta~io,
mas, inclusive,
ao longo
de todo o programa de mestrado na
EAESP/FGV, tive
o prazer de contar, em diferentes momentos,
com o
a.poio e
estímulo de
v'rias pessoas. Ainda que sob o
risco de
cometer eventuais
omissões,
registro
aqui
meus
agradecimentos
~s pessoa.s que seguem.
Ao meu orientador,
Prof. Luiz Antonio de Oliveira Lima., cujo
tra.balho l~cido,
sério e
dedicado de orienta~io
foi sempre
fundamental
para.
o
encaminhamento
d e st
aos lnteresses intelectuais escusos
importante
ponto
de
referincia
para
o
exercício de minha atividade acadimica.
Aos Profs. Fernando Nogueira da Costa, Esdras Borges Costa e
Luiz Carlos Bresser Pereira, pelos pertinentes
coment~rios
e
profícuas sugestões
oferecidas
quando
da defesa do projeto
desta disserta~io.
Com o
Prof. Luiz Carlos, em particular,
acabei por
contrair um
enorme débito
por seu
incentivo e
apoio em
diversos est~gios
de
minha
forma~io
pessoal
e
í
n
te
lectua
1 .Ao
Pro+.Paul Davidson,
pelo encorajamento
recebido ainda
nas fases iniciais da presente disserta~io.
Ao Prof.
Fernando Cardim
Carvalho,
por
seus
proveitosos
comentários
quando
este trabalho
era pouco
mais
que
uma
, . d . I'·
serle .e lcelas esparsas.
Aos Profs.
do Departamento
de Economia
da EAESP/FGV,
pelo
ambiente
intelectual
CILU';~mui to
contribuiu
para
minha
forma~io
acadêmica.
o
convivio
com
os
Profs.
Roberto
Vellut :i.n:i.,
Rob er
t Níco l , Gf.~r·(;\ldoGardenalli,
Fernando
Dall 'acqua, Marcos Cintra Albuquerque
e Jos~ Antonio Martins
foi bastante
profícuo. Em
especial,
agrade~o
aos
Profs.
Arthur Barrionuevo
e Yoshiaki
Nakano pela
oportunidade
de
desfrutar de sua amizade.
Ao pessoal
da biblioteca
da EAESP/FGV,
pela
dedica~io
ppaciência no atendimento
de minhas solicita,ões.
Ao pessoal
do CPD
da EAESP/FGV,
pela presteza e eficiência
quando dos inevitáveis problemas
que tive com o computador.
Ao pessoal
da CPG
e
SPG
da
EAESP/FGV,
pelo
empenho
e
compreensio
no trato de minhas questões burocráticas.
Ao pessoal da Diretoria da EAESP/FGV,
pelo apoio estrat~gico
e ínc ent ívo .
\
(
A Isolete,
amiga de
primeira hora,
pelo carinho e torcida
nos momentos
de ansiedade e alegria. Oc:upar um lugar em seu
enorme cora,io ~ algo realmente gratificante.
,,/',.• ',
;Last but nat least,
as
amizades
conquistadas
junto
aos
colegas de curso:
~lvaro Guedes, pelo apoio e incentivo constantes.
- Antonio
Carlos, companheiro
de trincheira
na árdua luta
contra a economia tradicional.
- Carlos
Alcides, pelo companheirismo
e estímulo à forma~io
ampla.
- Elton Eustáquio,
pelo prazer do convívio.
José Márcio, pelo apoio constante e produtivas
discuss5es.
- Maria Ester, pelo afeto e exemplo de determina,io.
- Patrícia Helena, pela singeleza e incentivo.
Paulo
Arvate, pelo
espírito de
companheirismo
p
apoio
. t rí ~lrres:rl(OS.
- Silvio MizU9uchi,
pelo convívio agradável e estimulante.
- Vitória Cristina, pelo incentivo e colabora,io
constantes.
i
Situada na
irea de história da teoria econ8mica, a presente
disserta,io ocupa-se
de uma
avalia,io integrada
e crítica
dos
fun
d ament
os
da
economia
do
emprego
formulada por
John Ma~nard
Ke~nes empreendidas
por quatro
vertentes da
teoria econ8mica
contemporinea.
essencialmente
descritivo-analítica,
esta
disserta,io
nio
apenas apresenta
os elementos
fundamentais das leituras em
inclusive, procura, com base numa delas, qual
seja, a
pós-ke~nesiana,
coteji-las entre si com o propósito
similaridades
e
principais
divergincias.
Vale
ressaltar, entretanto,
que
a
matéria-P}- íma
com
que lida
a
presente
disserta~io
nio
I·f:,.~.,
c omoadiantamos acima,
o conjunto da obra teórica de Ke~nes, mas
somente sua
teoriza~io acerca
da determina~io
do nível de
ocupa~io do potencial produtivo numa economia estruturada em
demonstrar a possibilidade
lógica do desemprego involuntirio
numa e c on omí a
de
mercado,
nio
se
constitui
na
Jnica
referência para
apreendermos e
analisarmos a
economia
do
emprego de
Ke~nes, mas,
inclusive, como
veremos ao
longo
uma série
de outros
escritos que giram ao
:i.i
Quanto aos
autores envolvidos,
adotamos uma taxonomia
que,
apesar de
inescapavelmente
arbitrária e, portanto, passível
de discordincias,
nos permitirá posicionar
adequadamente
as
vertentes teóricas em questio. Considerando-se
que as linhas
;divisórias entre
determinados
paradigmas
nem
sempre
suficientemente
nítidas,
adotaremos
ao longo deste trabalho
que pretendemos
caracterizar
o
n~cleo conceitual
b~sico da
interpreta~io
dos
fundamentos da
economia
do
emprego
de
Ke~nes compartilhado
de maneira relativamente
consensual
por
um cert o
con
íun
to
de
aut ores .
''./0primeil"() srus o .
on deenfeixamos
as
leituras rotuladas
de
convencionais,
objeto de
resenha e análise o ke~nesianismo
neoclássico
e o
ke~nesianismo
desequilibrista.
No segundo,
agrupando agora
duas
leituras
consideradas
como
alternativas,
1T1(~1"e c e r~10
apresenta~io
e análise tanto o pós-ke~nesianismo
como o
neo-r' íc a rd:i.<:l.nismo .
Conv~m salientar
que com
esses rótulos pretendemos
abarcar
apenas as características
definidoras
gerais de cada uma das
vertentes analíticas
acima citadas,
delineando o
conjunto
mais amplo de aprecia~aes
acerca dos fundamentos da economia
do emprego
de Ke~nes
compartilhadas
pelos
autores que
as
A
despeito
das
dificuldades
inerentes
a
uma
tentativa
de
alinhamento
dessa
natureza,
analítico dos
blocos interpretativos
em questio, dotando-os
de um
grau mínimo
e definido
de homogeneidade
teórica~,
lil
arbitrariedades
~
parte
lfundamental
para o encaminhamento
deste trabalho.
Com isso,
queremos
registrar
apenas
que
algumas especificidades
das formula~ões
dos vários autores
envolvidos merecerio
apenas
destaques
laterais
e
lmesmo
assim
lsomente
quando
caracterizarem
uma
diferencia~io
suficientemente
relevante
para o
eixo básico
da exposi~io
que segue.
Esse corte
rígido se justifica pois o escopo da
análise
que
pretendemos
empreender
nio
abarca
questões
outras que nio a substância do posicionamento
interpretativo
de cada
uma dessas
vertentes em rela~io aos fundamentos da
economia do
emprego formulada por Ke~nes. Noutras palavras,
formulações ~
nível de
estratégias de
política econômica
lprogresso técnico,
valor
ldistribuiçio
lcrescimento e ciclo
econômico
letc.
serio diretamente
incorporadas somente
na
medida
em
que
sejam
parte
indissociável
desse
esfor,o
interpretativo,
já que nio objetivamos efetuar uma avaliaçio
de todo o conjunto de contribuições
teóricas de cada uma das
vertentes analíticas acima citadas.
Contudo
lnio pretendemos meramente localizar. os autores e os
debates em
questão na
história intelectual
contemporinee.
Imiscuindo-nos
nas
próprias
controvérsias
em
jogo,
procuraremos
argumentar,
ancorados basicamente nas leituras
alternativas
lparticularmente
na pós-ke~nesiana,
contra
a
maneira
pela
ke~nesianismo
qual
o
ke~nesianismo
neoclássico
odesequilibrista
interpretaram
(eainda
iv
do volume
de emprego numa economia capitalista
contidas nos
escritos de
Ke~nes. Noutros
termos, nos alinharemos
com os
pós-ke~nesianos
(principalmente)
e
neo-ricardianos
com
o
intuito de
elencar as
principais
críticas
e obje~ões
que
podem ser
levantadas contra o processo de neoclassizaç~o
ao
qual Ke~nes foi (e ainda tem sido) submetido pelas vertentes
teóricas convencionais
mencionadas
acima.
Nio obstante
a natureza supostamente
camale8nica
da própria
o
que
permitiria
admitir,
ao
menos
em
principio,
que
a mesma
comporta
variadas
interpretatões,
procuramos
argumentar
apenas que,
em rela~io
às
leituras
convencionais,
a
interpreta~io
dela realizada pela vertente
pós-ke~nesiana
capta
elementos
fundamentais
muito
mais
inovadores e
relevantes
para
o
correto
entendimento
da
lógica da
máquina capitalista.
Convém registrar,
c on t ud o ,que essa
concep~io nio reflete uma postura apologética
e/ou
deificante
quanto
às eventuais
virtual idades analíticas
da
economia pós-ke~nesiana,
vale dizer, nio pressupõe
que esta
vertente tenha sido capaz de decifrar e dar a ~ltima palavra
sobre o enigma ke~nesianD;
antes disso, procuramos
sustentar
apenas que
os
elementos
analíticos
e
teóricos
por
ela
destacados
no
conjunto da
economia do
emprego
de
Ke~nes
configuram
um ponto de partida fundamental para a constru~io
de uma
consistente
teoria
alternativa
sobre a determina~io
do nível de produ~io e emprego em economias de mercado.
v
Apesar do
árduo, mas
bem-sucedido,
esforço
realizado
por
Ke~nes para
escapar das
ve
Ihas lcelas
'1" (neo c aSSlcas. seus
)1"enunciados teóricos
fund~mentais
sofreram.
por
parte
de
algumas vertentes
interpretativas.
avalia~5es
equivocadas
que. via de regra. acabaram por aprisioná-los num castelo de
arquitetura pré-ke~nesiana.
justamente o
tipo de
lugar do
qual. após enormes lutas. ele conseguiu escapar. Ele próprio
parecia bastante consciente da possibilidade
de ser vitimado
por esse
tipo de
incompreensio. Conhecedor do campo minado
no
qual
estava
plantando
suas
sementes
revolucionárias.
Ke~nes procurou
registrar. como expresso na epígrafe acima.
as dificuldades
envolvidas na incorporaçlo de novas idéias.
Como detalharemos
ao longo
dos
dois
primeiros
capítulos
apresentados
a
seguir.
as
correntes
interpretativas
do
pensamento de
Ke~nes inauguradas
pelos
escritos
de
John
Hicks
(ke~nesianismo
neoclássico)
e
R.
Clower
eA.
LeiJonhufvud
(ke~nesianismo
desequi1ibrista)
configuram uma
demonstra,io cabal
de
quio
resistentes
sio
as
muralhas
dentro
das
quais
nos
colocam
as
velhas
id~ias.
Como
procuraremos
demonstrar
com base
nos referenciais
teóricos
pós-ke~nesiano
(principalmente)
e neo-ricardiano,
as
duas
vertentes convencionais
em questlo
nio lograram sucesso em
sua
tentativa
de
expressar
os
elementos
efetivamente
revolucionários
da
economia
do
emprego
de
Ke~nes.
nlo
obstante
tenham
sido
originariamente
concebidas
com
o
ví
intento de fazi-lo. No caso do ke~nesianismo neocl~ssico,
postulamos que a microfundamenta~io neocl~ssica por ela
realizada da macroeconomia de Ke~nes acaba por restringir,
equivocadamente, a validade da formula~io de Ke~nes a um
caso particular da formula,io (neo)clássica supostamente
mais geral. Por sua vez, Clower e Leijonhufvud, muito embora
tenham intitulado suas principais contribui~5es com o
ín tutt o de
I· .
~eyneslan ~;anamlCS and the ecanamics af keynes, no caso de
nio captar os elementos de ruptura e os insights inovadores
contidos nos fundamentos da economia do emprego legada por
Em fun~io do car~ter histórico-teórico de~ta disserta~io,
julgamos conveniente concluir a presente introdu,io com uma
breve digressio acerca da natureza e das virtualidades de
an<~I:i.S(~~s cu ío horizonte temporal extrapola os limites
estreitos daquilo que se convencionou chamar de fronteira do
especulativa, incursio pelos meandros da epistemologia, da
filosofia da história e da sociologia da ciincia pretendemos
apenas argumentar que o progresso científico em teoria
econ8mica nio pode prescindir de retornos periódicos ao
v íí
para o
fato de
que a histdria da teoria econômica nio pode
ser
vista
como
algo
que
presta-se
somente
ao
deleite
arqueológico
daqueles
interessados
em organizar o (de outro
modo) confuso arquivo da histdria. Ao contrário~
acreditamos
que o
progresso da prdpria teoria econômica tem na histdria
das idéias
passadas
(cronologicamente
falando)
ume
fonte
significativa
de
estimulos para o processo de auto-reflexio
ao qual
ela deve
recorrentemente
se
submeter. Libertar
a
ciência econômica do reducionismo
imobilista ao qual ela foi
reduzida pela
epistemologia
positivista,
onde
a
razio
é
concebida apenas
na sua
dimensio instrumental,
nos parece
absolutamente
fundamental
para que
avancemos no sentido de
promover a necessiria retomada de sua consciência
reflexiva .
.---A nosso juizo, valorizar a histdria da teoria econômica
como
fonte permanente
e mecanismo
eficiente de auto-reflexio
~,
sem d~vida, um passo efetivo na dire,io dessa recupera~io.
A
histdria
das idéias econômicas
é um campo do conhecimento
cientifico
onde
as polêmicas
e controvérsias
inegavelmente
se constituem
na prdpria atividade normal desenvolvida
pelos
teóricos que a elas se dedicam. Sendo a economia uma ciência
social
(:...•..,
in
exor av eIment econdicionada
pela
mJltiplas
interpret.:a,5es acerca de um mesmo objeto analítico
é
uma
clara indica,io de robustez, vigor e dinamismo,
enio
viii
con tr ibu indo ,
cll:~·for·ITla:i.
ne qU
ivoe a , p
.:1.1".":1.o p
r'0!3
r'(~:S~,;(Jfia e 11,::~pr6pria teoria econ8mica.
Assim, a
atividade
tipicamente
científica
nio configura
um
processo
meramente
16gico, vale dizer, algo condicionado
por
e l ement
o sinclusive,
socialmente
determinado.
Por
ter sua
abordagem
lógico-analítica
dos
influenciada
por
fatores
sociológicos,
psieoló!3:i.cO·'5
E'investigador
forçosamente
impregna
suas
idéias eeonBmicas
de juizos de valor. O próprio
processo
de
adesio a
um certo
conjunto
de idéias econBmicas,
por parte
d a c omun íd ad eClen lTlca, segue uma lógica que extrapola
. t' 1"os
limites da
órbita estritamente
científica
(Earl
P.90).
Entretanto,
convém salientar
de antemio
que o fato dp
reconhecermos
esse
condiciona~ento
valórico
do processo
de
conhecimento
nio
conduz ao
relativismo
epistemológico,
a
menos que
o
ideal
onírico
da
verdade
absoluta
seja
o
parâmetro
de avalia~io
empregado.
Por seu
turno, essa multiplicidade
interpretativa
inerente,
tra~o que
ao mesmo
tempo incita
e modela
a
evolu~io
da
teoria econ8mica,
mas
nio
nega
seu
car~ter
cientifico,
somente
poderá
ter suas
virtudes
apreendidas
e exploradas
produtivamente
caso nos imbuamos daquilo
que o filósofo
José
Arthur
Giannotti
sugestivamente
chamou
de
principio
da
tolerância
epistemológica,
a saber, o reconhecimento
de que
ix
as ciências
alimentam-se
nio
apenas de
vigorosos debates,
mas, acima de tudo, da oposi~io mais radical entre os virios
paradigmas
que sustentam as diferentes vertentes teciricas. ~
semelhança do
que ocorre
numa
socledade
totalitária,
um
determinado
campo
científico tende
a involuir sempre que o
debate, o
questionamento
e
a diversidade
deixam de
fazer
parte
do
ritmo
cotidiano
dos
acontecimentos.
Como
bem
observou o
filcisofo da ciência
I.Lakatos
(1975, P. 155),a
coexistência
competitiva
de
variados
paradigmas
nio
configura uma
anomalia epistemológica,
tende a
ativar o
padrio normal de progresso científico.
Ao
contrário do
que defendem
os
ideólogos
do
totalitarismo
intelectual,
a
competi,iQ paradismática,
onde o pluralismo
analítico é
sempre preferível
ao monismo
teórico, é
algo
que, ao
recorrentemente
fomentar a (auto-)reflexio,
cria as
condi~5es necessárias
- mas
nem sempre
suficientes
- para
que a ciência econômica adquira uma dinimica progressiva.
Salvo para
algumas vertentes
teóricas postulantes
de
uma
identidade epistemológica
entre a
ciência econômica
e
as
ciências naturais, o pluralismo paradigmático
que engendra
-e ci -eng-endrado por
- essa competição permanente nio cialgo
comprometedor
do
virtuosismo
científico
tio almejado pelos
economistas,
mas,
ao contrário,
configura
um
ingrediente
essencial para
o
fortalecimento
da
dinimica
do
próprio
progresso
teórico
em
economia.
Sem
ddvida,
seria
um
autoritarismo
intelectual
enorme
desvalorizar
essa
x
multiplicidade
com
o argumento
de que
ela polui o esforço
analítico com alguma variedade de relativismo
epistemológico
Essa funcionalidade
da diversidade
paradigmática,
por
sua
ao
emergir
exatamente
de
um
ambiente
intelectual
aparentemente
caótico,
configura um
paradoxo
apenas
para
aqueles que
insistem em
conceber a
teoria econ8mica
como
(mais) uma
área do
conhecimento
humano onde a unicidade,
a
consensual idade
e
a
universalidade
podem
e
devem
ser
alcançadas
através
da utilizaçio
competente
de
mecanismos
positivos
de
validaçio e
refutaçio.
Ao procurar demonstrar
que o
investimento
é
uma fonte de instabilidade
justamente
por ser
~til, M.
Kalecki corretamente
nos lembrou
que em
várias circunstâncias
o próprio objeto analítico em questio,
~
nio
sua
representaçio
teórica,
é
algo
inerentemente
paradoxal.
Ou
como sentenciou
Marx, a verdade científica
é
sempre um
paradoxo, se
julgada pelo senso comum engendrado
pela experiincia
cotidiana,
já
que esta apreende somente a
aparincia efimera das coisas.
Contudo, devemos
ter em mente que as idéis que pisam
àcena
das d
ívers ênc
ías
oerman en t es
não brotam do nada
(boot<ffitrapst
b ears ) , não resu l
tando , muito
meno s , da
operacão
de algum
t••í
c
coide
':.i.:....
~. ~.r.::..:..L •. .l=_ •.·1.··il·. h""1i,-;<11', '--",,(-,,,,.!.....·t1.·..··1 ..· ..·I..t,ll::l=, r"l,,=..<li ci ..",,-,..us t:..·,.:.:.·I- ··.11····.··.::1"'.--' 0'.1.xi
con
text os , p(~l<~ v:i.):;f.~o
convenc
ícnal
do
(!1a.ini:i·t.'''e~~fIr.Como bem
observou o
Prof. Ignácio
Rangel, em economia,
àsemelhan~a
do que
ocor re na natur eza ,
exnih iI a , nib i I :do nada nada
SE:tira.
Apesar de
filhas legitimas
de seu
tempo, do
qual
herdam
marcas profundas,
uma análise acurada das origens das idéias
econômicas
certamente
nos levará
para além
das fronteiras
estreitas
do
presente,
tornando
falso
imaginar
que
uma
tem~ticas
passadas
seja
uma
contribui~;o
importante para a história da teoria econBmica,
mas
1'1;0para
o avanço da própria teoria. Já para os 9uardi5es e idolatràs
da fronteira oficial da ciência econBmica - seletos magos da
mod ern
ídad e dot ado s
de uma, concep cão
ht:J.rd eci enc:e (A\"j,cl;"l1984)
da
prática e
do aprendizado
da teoria
econBmica-,
de
um
exercício
extemporineo
e
autotélico,
devendo
ser reservado
ao
doce
deleite saudosista
dos historiadores
da teoria
econBmica.
I:;:J~tomando
Desca\"tes
(p::3.r·t(:;:
I
do
J.J.iSCUI"S'O),s
í mrslesmen t e
expulsam a
história
do
corpo
de
conhecimento
econômico
propriamente
dito.
Seguem
fielmente
o
dito
do
mestre:
imaginam que
quando somos
excessivamente
curiosos
acerca
daquilo
que
ocorreu
no
passado,
acabamos
nos
tornando
ignorantes em
rela~io ao
presente. Como
observou
Tolipan
13),
a
validade
desse
retorno
periÓdico
ao
passado,
nio
o
concebendo
como
um
mero
arquivo
morto
merecedor somente de curiosidade
sem compromisso
científico,
xu.
i
algo
forte e
recorrentemente
questionado
por aqueles que
consideram desnecess~rio
o estudo
da
hist6ria
da
teorIa
econ{3mica.
No entanto,
alargar o
foco analítico no sentido de colocar
um
determinada
conjunto
de
+or mu
1as;;:ÕE~'::; ec onom" i.c a s numaperspectiva
hist6rica
mais ampla
é algo fundamental
para o
entendimento
e
compreensio
de sua própria essência. Sendo o
conhecimento
econômico
um
prOCE~S~;O (E~ n ao,.,um
E~StC)qUE~f t ,., ....
(Q:açae5 lnlCla15
dad as ), os
da
intelectual
guardam
entre
si
uma
estreita
rela,io
de
interdependência
16gica.
Como salientou o físico e filósofo
we must
consider the
process in
which things have become,
what the~ are starting out from, what the~ once were, and in
which the~
continue to
change and to become something else
Po rtanto .
fundamental
avaliarmos
event
ua1pertinácia
dessa
experiência
recuperat6ria
ad o t an d o ,,1.concep,io
50ft sciencede
saber
econ{3mico
<Arida
1984),reconhecendo
a
necessidade
deri) um trabalho sério e atento
de resgate
dos antecedentes
das idéias,:ii)
estabelecimento
de seu
eixo condutor
e nexos causais e iii) delimita~io
de
paralelismos
e
diferen~as
em
rela~io
-61'""~;'\ ::loversões
alternativas
ap enas
x iU.
Contudo, uma análise cuidadosa da lógica dos diversos campos
científicos
nos
permite inferir
que a
real importincia
do
•n •
uma c
ien c ra
qualquer
fum tema
na
agenda de lutas travadas no presente pelos agentes que fazem
parte do
campo científico
em questio.
No
caso
do
campo
cientifico
habitado
pelos
economistas,
um
importantes
objetos de disputa é
ómonopólio da imposi~io da
defini~io
legitima
e
autorizada
do
que
seja
realmente
merecedor
de
aten~io científica por parte da comunidade.
Em
termos da disserta,io
que ora introduzimos,
podemos concluir
que nio
é o
retorno aos escritos originais de Ke~nes em si
que
fdesqualificado,
mas,
na realidade,
um afastamento
da
fronteira, seja
para revisitar
Ke~nes,
Marx,
mesmo Walras. Nio importa a matriz tedrica a ser revisitada,
mas o
retorno em
si. Afinal,
os manuais
de economia mais
modernos e sofisticados
já incorporariam
o que de importante
pos~:;a.m
c ont
e r .perspectiva,
insistir quanto ~ importincia
de retomar certas
idéias abandonadas
ao
longo
da
história
é
visto
pelos
adeptos
da
"boa" t eor
ía
econ ôm
íca como
umaherE~l!;i;:,
típ:i.c,:\
daqueles
que
nio estio
preparados
- ou mesmo habilitados
-para acompanhar
os movimentos
da fronteira oficial. Aqueles
que ousam
preparar uma
d:i.sserta~io imbuídos
da
concepçio
50ft 5Clence
sio enquadrados
pelos epígonos
da
no,io
de
+r
on
te
íra do
ccnh ec
ímen to come) "meros ' h
í.at crLad cr es .
POl"xiv
digressio sobre a funcionalidade de anilises históricas como a que segue, que a história da teoria econômica é capaz de desempenhar um papel ativo no avanço qualitativo da própria teoria econômica.
Assim, uma anilise atenta do campo cientifico habitado pelos
economistas seres sociais dotados de um capital
intelectual específico que pautam sua atuaçio pelo empenho em valorizi-lo - permite-nos detectar o desenrolar de um processo recorrente de lutas onde disputa-se, entre outras coisas, o monopólio do estabelecimento da defini~io legitima e autorizada do que seja efetivamente merecedor de aten~io científica por parte da comunidade. Por conseguinte, a subvalorizaçio de um retorno ao pa~s~~9 é parte integrante de uma estratégia mais ampla de disputa pelo monopólio da
autoridade científica. Para entendermos a lógica do
funcionamento do campo científico em economia, em particular a atitude depreciativa por parte dos adeptos da concep,io
hal~i SCien0? em rela,io ~ história da teoria econômica,
é
fundamental que incorporemos, portanto, uma série de
elementos da sociologia da particular alguns
formulados pelo filósofo e sociólogo francis Pierre Bourdieu
(1983a 1983b). Sua sociologia da ciincia, ao revelar
coisas ocultas e muitas vezes reprimidas, criando problemas
d
t
.
t ,.." .e geran. o conS.ranglmen~os para as varIas ClenClas, exorciza qualquer filosofia idealista da ciincia. Esta, ao postular
xv
ciência desenvolve-se de acordo com sua lógica imanente, ou,
em outras palavras, que os cientistas (econ8micos inclusive)
sio dotados de uma concep~io imaculada, neutra do ponto de
vista valórico, de sua atividade, acaba por descrever o
campo científico de maneira totalmente equivocad~: ~egundo
BOU1"d:i.(-:~u,"0 mundo cí ent í
r
í coé
o p~.lco d(7,"uma conc orr ên c íaque, orientada para a busca de lucros específicos (prêmios,
o Nobel e outros, prioridade da descoberta, prestígio, etc.)
e assumida em nome de interesses específicos ( Lsto '::'<- ,
irredutíveis aos interesses econ8mic:os em sua forma comum e
questio uma hagiografia científica da qual
participam os cientistas e da qual eles necessitam para
Por conseguinte, enganam-se aqueles que, cegamente escorados
numa visio purista do processo científico, :i.mr.l.g:i.n;:\mque o
campo científico habitado pelos economistas, enquanto arena
de lutas polít:i.cas pela dom:i.na~io científica, nio tem sua
c on d iciem ad a
respondendo unicamente a um conjunto de €.~"1E~ITIt:~ntos
engendrados meramente pela busca do progresso da ciência.
Segundo Bou.rdieu (1983a):
Uma autêntica ciência da ciência só pode constituir-se com a condição de recusar radicalmente a
oposi~ão abstrata (...) entre uma análise imanente ou interna, que caberia mais propriamente
à
epistemologia e que restituiria a lógica segundo a qual a ciência engendra seus próprios problemas e, uma análise externa, que relacional"Ía esses problemas às condiç:ões sociais de seu aparecimento U983a,
xvi
Segundo Bourdieu. ,ft t.
uma au(en :lca ciência da • ft •
ClenCla deve fundar-se na pressuposi~io de que a atividade científica nio ~ algo autônomo em rela~io ao contexto maior no qual ela
encontra-se inserida. Em especial, é fundamental que
tenhamos em mente que esse contexto - o campo científico em seu sentido amplo - se caracteriza pelo desenrolar de uma luta aberta e desenfreada pela dominaçio científica. Assim se manifesta Bourdieu:
É o campo científico. enquanto lugar de luta política pela domina~ão científica. que designa a cada
pesquisador. em fun~ão da posi~ão que ele ocupa. seus problemas, indissociavelmente políticos e científicos. e seus métodos, estratégias científicas que, pelo fato de se definirem eKpressa ou objetivamente pela referência ao sistema de posi~ões políticas e científicas constitutivas do campo científico, são ao mesmo telpo estratégias políticas. Não há 'escolha'científica que não seja uma estratégia política de investimento objetivamente orientada para a maKimiza~ão do lucro propriamente
científico, isto
é,
a obtenção do reconhecimento dos pares-concorrentes (1983a, p.126-7).Enquanto espaço de manifesta~io de relaç5es de poder, no qual as posiç5es relativas dos agentes sociais envolvidos encontram-se definidas de antemio, o campo científico cl uma arena de l~tas que têm por objetivo o monopólio da violência legítima (autoridade científica', luta esta travada entre aqueles que pretendem conservar a estrutura da distribuiçio do capital específico, de um lado, e aqueles que buscam subverter essa estrutura distributiva, de outro lado. Entre
outras coisas, o campo científico pode ser definido,
portanto, por meio da caracterizaçio dos pivôs e dos móveis das disputas e dos interesses específicos em questio. Nas palavras de Bourdieu, "[al estrutura do campo é um estado da
rela~io de for~a entre os agentes ou as instituiç5es
xvi :i.
capital específico acumulado no curso das lutas
anteriores, orienta as estratégias ulteriores (1983b, p. (,0) .
Assim, a luta pela autoridade científica coloca frente a frente dois grandes grupos de agentes, ambos com interesses,
\
estratégias e pr~ticas bastante diferenciadas. De um lado, se,alinham aqueles que, sendo detentores de um elevado capital social, orientam sua atua,io como investidores co~ o :i.ntu:i.tonão apenas de ma><imizar os lucros simbólicos (reputação, prestígio, venera,ã6 por parte dos novatos,
instincias variadas de
congressos, reuni5es anuais, etc.) franqueados pela posi,5o ocupada, mas, inclusive, com o firme e decidido propósito de manter a mesma. De outro lado, se agrupam aqueles que, estando numa situação desfavor~vel dentro do establlshment
intelectual, canalizam suas forças para a subversão da ordem estabelecida. Em termos do recorrente debate em torno da
importincia da história da teoria econômica, observamos que, novamente emprestando' a ta><onomia proposta por Arida (1984), esses grupos empregam,
science e soft science. A desqualificação ou, quando muito,
a subvaloriza,ão dessa disciplina é parte integrante de uma estratégia de consagração e conservação nitidamente baseada n a d e l LmLt ac ão rígida dos limites espaço-temporais da produç~o científica supostamente relevante. Com :i.ss o ,
xv í U.
(oficial, diga-se de passagem) podem pronunciar-se com rela~io ao que efetivamente deve ser considerado digno do rótulo de científico. Ao fossilizarem o passado da ciência econômica, entronizarem sua fronteira espa~o-temporal (vale novamente a ressalva acima) e se auto-proclamarem como os ~nicos capazes de promover o progresso da teoria econômica, os inquilinos do sublime que dominam o colégio invisível dos economistas exercem .um rígido poder de violência simbólica. Este poder simbólico, ao permitir a imposiçio legitima de qualificações aos diversos conte~dos da ciência econômica,
igualmente permite inculcar nos novatos um arbitr~rio cultural que nega qualquer sentido efetivo ~ história da teoria econômica.
Portanto, mesmo a definiçio dos objetos de disputa na luta ci~ntifica é parte integrante da própria luta científica. Ao con se suí retn impor sua c on c ep c ão h<xrd sci ence, o s dom ínan t es acabam por impor uma definiçio de ciência de acordo com a qual a virtude consiste em ter ,ser e fazer aquilo que eles
têm, sio e fazem. Aqueles que insistem em adotar um
comportamento alternativo - os que possuem uma visio
---
50ftsempre velado, sofrendo, via de regra, formas variadas de e}(ecra~io e exclusio acadêmicas. Coloca Bourdieu (1983a):
Na luta em que cad~ um dos agentes deve engaj~r-se para impor o valor de seus produtos e de sua própria autoridade de produtor legítimo, está sempre em jOgO o poder de impor uma detini~ão da ciência que m~is esteja de acordo com seus interesses específicos. A defini.ão @ais apropriada será a que lhe permita ocupar legitimamente a posição dominante e a que assegure, aos talentos cientificas de que ele é detentor a título pessoal ou institucional. ~ mais alta posi~ão na hier~rquia dos valores
xix
científicos (...) Existe assim, a cada momento, uma hierarquia social dos campos científicos - as disciplinas - que orienta ~ortemente ~s prátic~s e, particularmente, as 'escolh~s' de 'vocaç:ão'. No
interior de cada um deles há uma hierarquia social dos objetos e dos métodos de tratamento (P.127-8).
Ao reservarem
para si próprios
espa~os específicos
e cativos
de consagra~io
- Incorporando,
por exemplo,
-matemiticos
cada
vez mais
sofisticados-,
'f~"
on
t (~:i.l"a P01" pr'í var a =(-(JI'1011'll'~ d(J~'1.':. •••• <.'_R_!!)~ ~s·llcrtQChistoricistas
necessirios
~ sua caracteriza~io
como ciência .
•... .---~---.~ ..----~-~.-
"---
//.---cc>nhE~cimE.'nt
o
eccn
ômíco
ne) cont I:::-x_t-º---d<:\.
bC\ta
1 h<:.... I:l"avc~dCo.no
campo científico
dos economistas
para legitimar
a economia
c omo c:i.ên ci
Co.
autônoma
e
isenta
de
resquícios
do
passado,
é
a
estratégia
utilizada
pelos
fronteira
do
conhecimento
e, simultaneamente,
preservar
sua
entanto,
apesar de auferirem
vultuosos
lucros simbólicos
com
essa estratégia,
condenam
a
ciência econômica
a
vitórias
tipicamente
de Pirro.
(.
.1.
I. O KEYNESlANISMO NEOCL~SSlCO
In economics !lOU cannot convict !lour opponent of errar - !lOU can onl!l convince him of'it. And, even if
!lOU are right, !lOU cannot convince him, H there is a det'ed in !lotlrpower5 ot per5uasion aná
exposition or H his head 1S alread!l 50 filled with contrar!! !lations that he cannot catch the c1ues to !!our thought which !lOtlare tr!!ing to throw at him.
John Ma!!nard Ke!lnes (CW, Vol. XIII, p. 470).
í • Tnt r oduc ão
Por terem alterado profunda e decisivamente os rumos da
teoria econBmica contemporânea, os escritos de John Ma~nard
no grande expoente do pensamento econBmico deste s~culo.
conferindo ao seu autor o merecido privil~gio de habitar a
gal~ria dos grandes mestres em economia conhecidos pela
hist6ria da humanidade.
é
for~oso reconhecer que sua magnumconstitui no mais importante tratado de economia publicado
século. In <:l.U91..1. r' <:l.c!01" a t r' <:1.c! i ç::";{o
macroeconBmica, a obra de Ke~nes é dotada de atributos que
<:\190 :i.nc<:l.p;,;\;,"?, qualquer tipo de
indiferença. ~ semelhan~a de outras obras que marcaram
profundamente sua época na história do pensamento econBmico,
a TG sobreviveu a ela. Demonstrando profundo vigor p
densidade intelectuais, ela ainda suscita, passados mais de
c :i.nquen t a anos primeira edi~ão.
interpreta,ôes das mais variadas. Elogiada ou criticada,
,.,
r.:.
escritos que giram ao seu redor. como por exemplo o ccilebre
e apocalíptico artigo de 1937 (CW XIV, p. 109-23), ao terem
influenciado significativamente a maneira pela qual
tratados. teórica e praticamente, D~;; pr oblerna s r. .
e con om Ic o s
contemporâneos relacionados ao importante par
produ~io-1"E:VO 11..1.Ci on an cIo própri,,\ ciên c :i.;::1.
econ6mica~. Nio surpreende, portanto. o fato de ter ela
suscitado uma multiplicidade enorme de polêmicas. Possuído
que era pela síndrome da originalidade p por um espírito
altamente vaidoso, por' qu an to meITIbr' o t
:í.
pic o do 1.91oom-sbu r»saber que neste sciculo nenhum outro economista causou tanta
polêmica quanto ele. Lamentaria profundamente, contudo,
saber que sua obra nio deixou de ser atingida por uma
fortíssima torrente de sínteses (neo)clássicas das mais
variadas. a despeito dos árduos esfor~os de preservaçio
realizados por seus verdadeiros discípulos.
Escrita com o intuito de investigar, com base no princípio
da demanda efetiva, os determinantes do nível de produçio e
emprego a curto prazo, a
TG
ci apresentada por Ke~nes comouma alternativa analítica ao que haVIa sido proposto atci
entio. com" base na lei de Sa~ e na teoria quantitativa da
moeda. como a teoria do emprego como um todo. Ao contrário
de J. S. Mill e A. Marshall, por exemplo, autores que sempre
1."lf Ke~nes, along with MarK, Darwin, Freud, and Einstein, belongs in the pantheon of seminal thínkers \Ilho triggered modero intel lectual revolut íons. it is because of the contribution to econoeics. both as a science and as a relevant guide to public poHc~, that is conhined in his
procuraram salientar
formula~5es teóricas, minimizando os elementos
who laid stress on his own originalit~ and the breaks 1n hlS
own th:i.nl<j.íl~j l.oJ:i.tht he P<3.~:;t··(Cor·l-~:J 1.?7a, p . 4). Pa·ca
t
ant
o ,(~1E~ r E~Co r1-.(~U , nio apenas nessa obra, mas, inclusive,
:i.dé:i.a~:f,a UIYI
importante artifício retórico. Tendo em vista diferenciar
suas vis5es teóricas e, em menor grau, seus posicionamentos
políticos, ele criou a noçio de uma ortodoxia estabelecida,
convertendo-a, após batiz~-la de economia cl~ssic:a, em seu
com essa ortodoxia para que seus escritos tivessem a
ressonincia necess~ria. Ke~nes assim expôs sua estratégia:
M!i motive is, of course, not in arder to get read. But
it
ma!ibe needed in order to get understood(...) Iexpect a sreat deal of what Iwrite to be water ofT a duck's back. Iam certain that it wíll
be eater oH a duck's back unless Iam suHicientl~ strong in Iil!icríticiss to Torce the classrcals to
make rejoinders. I «ant, so to speak, to raise a duSti because it 1S onl!iout of the controvers~ that
\IIil1aríse that what
r
am sa~ing wi 11 set understood (CIA XIII, p. 548, destaque original)..AdE~ITI::\:i.~;. 1;:·~mPE~nhou····seem demon stra r qUE~ h av ía
formulado uma teoria macroecon6mica geral, vale dizer, uma
capaz de incorporar a ortodoxia entio dominante como um mero
Essa generalidade, por sua vez, pode ser
c.Logo no inicio da TG, Ke!ines observou: "The classical econamists' was a name invented b::lMarx to cover Ricardo and James Mill and their predecessors, that is to sa::lTor the founders of the theor~
lIlhich culainated in the Ricardian econoaics. I have becoae accustomed, perhaps perpetr<i.ting a
solecism, to include in 'the classical school' the lolloNers of Ricardo, those, that is to sa!i,who
adopted and perfeded the theor!i of the Ricardian eccnoaics, includins (for example) J. S. Mil!.
Marshall, Edgeworth and Prof. Pigou" (CW
VII,
P. 3, destaque original).3.Eis como Ke!ines abre a TG: "I have cal led thís book the General Theory
ar
Emplo!JlI/ent,Interesi andHoney, placing the emphasis on the prefix general. The object of sueh a title is to contrast the
character of m:t arsuaents and conclusions with those of the clsssicsl theor~ ar the suhiect , ueon
IIIbichIwas brought UI'. and which doainates the ecenosíc thousht , both pradical and tbeoret ical , 01
the soverníns and acadeaíc classes of tb is senerat íon, as it has tor a hundred sears past" (CW VII, p,
4
associada a tr~s características diferentes da TG (O'Donnel1
1.73··..6), qua is s~:·~j;';l.m,(:i.) C) f;';l.tode ser eI a uma
t
E~o r i\1 elo pr od
utC) Co mo um tod
o (C
v.JV I I,
Fi. x xi i, H H Vi ), (:i. i )sua compatibilidade com a exist~ncia de um espectro variado
de níveis de equilíbrio de emprego (CW
VII,
P.3, 16-7 ;
Asimakopulos 1988, p. 130 i Hansson 1985, P. 332), enquanto
a ortodoxia clissica permanecia confinada ao equilíbrio a
p1en o (,:·~mp1"(~~go, e (iii) sua aplicabilidade a todas as
circunstâncias sob as quais pudesse ocorrer a produçio
capitalista. Sobre este ~ltimo atributo, O'Donne11 (1989, p.
1.76) ob s e r vou .
Its relevance is claised to be independel1t, for ínstance, of whether the state 15 desocrat íc ar
totalitarian, ar of whether prices and wages are rigid, stick~ ar pertectl~ flexible, ar of whether
the 5hort or long 15 in questiono B~ 1mp1ication, orthodox~ ís a particular case ap1icable 0111~under narro\ller conditions.
Assim, Ke~nes procurou demonstrar a incorreçio da formu1açio
clissica para o entendimento da opera~io de uma economia de
mercado, particularmente no que diz respeito aos fatores
responsáveis pela determinaçio elo grau de utilizaçio de sua
capacidade produtiva. Com o intuito de demonstrar que
pleno emprego nio
é
o estado---~
---capItalIstas, ele procurou demolir a suposiçio clássica
n o1" Ina1 dtZ~
~~::- __S_~_:i.st:~nc jJ'~~~~!~_ qU(:;.·_-gngE:J1dr::,'.IYI---.e..
!li<:1.nté!TI
---~~~-
<:lo P 1E~n a octiPac ~ío do .::~ f-;:\-t'-C7-i"-\""~:>----.. .... P~...I"ori ut i vo<:... nE~'::>s<:l. ,:"economias. A missio que ele impôs a si mesmo nio foi
'--~----mE'r \':\.!TIE~~
t;
o;. .~;---
cfoi-~:~
f o~1~~I~""I" o P"".1"ad :i.9 m;';1. 0'?n t g{o d om:i.n a n t (":, comoacreditam os leitores convencionais de sua obra, mas, ao
••I::r' ]~~.r(~~1.~:J :i.n t h
e
h:i. ~:;t
Di" ~j o f econ OITl:i.c:s h,':I. ~:; t he (:::H:i.~;;t
in ~;Jparadigm - and those who paraded it - been dealt with so
hai" ~:;h 'I.~ ::':\S 1<(.:~~ne s d i d IJJ:i. t h t h (~~c:'1 ,.~.s ~:;:i. cs .. (Coi"j"~'l 1. ('} 7 B , p . 6).
Enquanto a economia clássica considerava a tend&ncia do
sistelTla ao pleno emprego como algo aHiomático, Ke~nes} ao
contrário, empenhou-se em demonstrar que o equilíbrio aqu{m
---- ---
._---
---~---
---.-.p . xv i .
On the plane of the development of ideas, the saín point of the General Theory ",as that it broke out
of the theological s~stem of orthodox axiomsi Ke~nes was looking at the actual s~stem and tr~ing to ur.derstand ho", aR actual e(onom~ operatesi he brought the argument do",n frol!!timeless stationar~ states into the present, here and no"" when the past cannot be changed and the future Cail!iotbe kno!lln.
revolucionária em sua análise das leis de
movimento da produçio capitalista. a
TG
nio escapou llesa deuma s{rie de movimentos reacionários da teoria econ8mica
contemporânea frente ao seu conte~do essencialmente
anti-
---(neo)clássico. Apesar de ter conseguido se livrar das velhas
id{ias que dominavam a tradiçio intelectual na qual foi
formad04, Ke~nes foi vitimado por uma s{rie de leituras
retrógradas que acabaram por converter suas contribuiç5es
originais na área de economia do emprego em nada malS que
particularidades do modelo (neo)clássico mais geral. Assim,
antes de passarmos para as leituras alternativas da economia
do emprego de Ke~nes) realizamos uma breve incursio pela
4.Como ele próprio ressaltou no prefácio li. edido francesa da TG
(CW
VII, p. xxxi): "For a hundredsears ar lonser English Pol itical Econom:! has heen doainated b:lan orthodox:! (...) In that orthodox:!.
in that ccnt inuous transítíon, lhas brought up. I learnt ít , I hllght ít , I tlrote it. To those
looking trom outsíde I probabl~ still belong to it. SlIbsequent hístor íans of doctr íneeíll resard this
book as in essentiall~ the same tradition. BlIt I ffi:lselfin writing it, and in other recent work which
has led to it , have felt m~seH to be breakíns allla:!trom this orthodox:I, to be in strons react íon
estrutura bisica de do:i.s mov :i.mento s qu.(·?:
descaracterizar o cariter geral da formula,io de Ke~nes, a
saber, o ke~nesianismo neoclissico (neste capítulo)
ke~nesianismo desequilibrista (próximo capítulo),
2. O
conte~do b~sico da síntese neocl~ssicaCom base num modelo estático de equilíbrio geral agregado, a
expressio apropriadamente cunhada por Joan Robinson (1971,
P. 89-90) - promovida pela síntese neoclássica representou a
tentativa desenvolvida basicamente por l+ick s , Han s en ,
Sa~uelson, Modigliani e Patinkin de negar o caráter geral da
teoria do emprego legada por um dos mais ilustres membros do
ti :i.dé:i.aI ' ,:1<":\~:;:I.c<:lo E~·"'<":\. ql..l.e ::t
d (.:: fi:qu i, I
J:
bi":i.C) , qU'·:\.lc 1e·E!r ii1g ~;Imu 1t ânel:) E:IYI i::od os os mercad os, Ln c l u i.n d o o
mercado de trabalho, pode ser considerada uma descriçio
acurada das tendinc:i.as de uma economia de mercado. Contudo,
as for,as capazes de viabilizar o alcance dessa posiçio
tendem a ser, na avalia,io dos ke~nesianos neoclássicos,
5.Foge ao nosso objetivo discutir ~.qui~. versão "moderna" da síntese neoclássica. Após ter sido
fortemente criticado nos anos 60e ao tinal dos anos 70, o ke~nesianismo neoclássico perdeu sua
posü:ão hegemônica primeiro para o monetarismo Hark I (Friedman et sll i) e depois para o monetarismo
If,jrk II ou nova economia clássica (Lucas, Sargent 'etsll i), Nos anos 80, entretanto, presenciamos uma
rea~ão esbo~ada pelos ke~nesianos. Intitulados de novos ke~nesianos, seus representantes novamente
recorrem, ainda que com maior sofistica~ão teórica, à rigidez de pre,os e salários para explicar a
emergência do desemprego involuntário numa economia de aercado. Os novos ke~nesianos pretendem
demonstrar que mesmo numIDodelootimizador com expectativas racionais, eventuais formas de rigidez de
pre~os e salários (menu casts, efliciency ~dges, implicit cantracts, staggered contracts, inter alia)
impedirão o liIarket clearing simultâneo em todos os mercados e, consequentemente, varia~ões na demanda asresada geram efeitos reais. Para uma análise do conteúdo dessa "nova" rormllla~ão, remetemos o leitor
a Phelps <1990, capo 4), Gordon (1990), Greewald e Stiglitz (1987), Fischer (1988), Akerlot e YelIen
<1985>, Rotemberger (1985), Hall e lilien (1979), Blanchard (1983), Bal}, Manki\lle RomerH98S}, e
obstaculizadas em sua açio pela de
formas de rigidez e outras imperfeiç5es,
consequentemente, na demora do sistema em alcançá-la. Como
bem observou Harcourt (1987, p. 204):
Thefefofe there eas <l. role for sovernsent intervent ion to reíntorce and speed up the processes whereb!l
the econolil~ tound its wa!! to its fuI1 empIo!lment equilibrium position; once there, the tradit ional
theor!l of resource al locat íon and íncose distr íbut ion would come ínto íts own asain. Ihat is to sa!l,
an equilibrium position has been sholtln to exist within the bou.nds 01 traditional theors, 50 that
Ke!lnes has a 11lace not so much as a thenr íst but as li. sensíb le pfopagator and ratíonalizer of policies
in the short period, aver the (sele and perhaps permanentl~, as the average leveI of unemplo!lll1ent
reflected a permanent tendenc!l to a deficienc!I in aggregate demando
exp os:i.ç:~~{o d<:\ possibilidade de o c o rr ên c ía do
desemprego involuntário, Ke~nes, por sua vez,
uma consistente c r ftíc a á própria lógica interna do
argumento clássico, uma vez que demonstrou, inclusive quando
adotou a hipótese tradicional de flexibilidade de preços e
. 'I" '
,,:~qu:t..]. )1" 10 a pleno emprego nio era um resultado necessário
(I... í.ma ~i.<t8? , p, 41). Desafiando a formulaçio ortodoxa em seu
solo sagrado, vale dizer, na sua crença inabalável de que o
processo de competiçio seria plenamente capaz de ajustar os
preços de maneira a eliminar os eventuais excessos de
demanda e/ou oferta em todos os mercados, Ke~nes converteu a
TG no cavalo de tróia da teoria econ6mica contempor§nea, ao
fazê-la incorporar alguns elementos ortodoxos para, logo em
seguida, de maneira consistente e persuasiva,
in~meras inconsistências em sua lógica interna, De caráter
indiscutivelmente reducionista, a interpretaçio de Ke~nes
realizada pelo ke~nesianismo neoclássico visa demonstrar,
C)
<.J
de desemprego involuntário, por parte de uma economia de
mercado, pressupôe algum tipo de rigidez ~ baIxa dos
/"
salários e dos pre~os.
por
t
anto, a especifica~ôes ad hoc dessanatureza para caracterizar o sistema ke~nesiano como um
sistema de equilíbrio geral f~,cionando inadequadamente,
va 1(7; dí .r.(7; ••.. , obstaculizado em sua a~io pela opera~io de
restri~ôes aos eficientes mecanismos alocativos de mercado,
essa vertente interpretativa acabou erroneamente reduzindo o
escopo da economia ke~nesiana ao mero estudo de alguns
estados patológicos do modelo walrasiano que ainda nio
haviam sido devidamente analisados (Fitoussi 1983b, p. 3-4 ;
p. 7). Como a teoria do equilíbrio geral
demonstra que existe um conjunto de pre~os relativos para
todos os bens e servi~os capaz de gerar, simultaneamente, o
bom funcionamento de todos os mercados.
involuntário seria algo logicamente impossível num contexto
de plena flexibilidade dos pre~os relevantes da economia.
Assim, Ke~nes, para obter seus resultados teóricos relativos
~ possibilidade de equilíbrio aquém do pleno emprego, teria
simplesmente imposto arbitrariamente certas restri~ôes ao
modelo (neo)clássico tradicional. Reportando-se ao consenso
estabelecido em torno da chamada síntese
neoclássica-ke~nesianaJ Hines (1971. p. 7-8) observou:
It would not be overstating the position to sa~ that the prevailing view was that so tar as pure
theor~ eas concerned Ke!lnes would have been !/Iell advísed not to have sr itten the General TheOfJ at
al l . He should have written a note in the Ecoilomic Jourtul (or perhaps more appropriatel~ written a
letter to 'The Times') making the rather obvious observation that in modern capitalist economies mone~
o~.
sose followers of Ke~nes. But then English are \IIell knowfi tor theír love and reverence for ancient monuments and reIies.
Portanto, a síntese neoclássica, termo que aparece pela
pr' íme :i. ra v ez n<:lo 3~~ ed:1.ç: ~;\o do Econ omi cs de ~:l:::\mue1~:;on<: 1 ?!:5~:.:i)d. ,
procura demonstrar que a contribui~~o maior de Ke~nes n~o
as teorias...•._-.-- do valor
--- --
e da moeda.-_._._-
numa teoria da produç~o comoum todo, como ele supunha, mas, sim, ter meramente chamado
a atenç~o para os fatores que impedem o equilíbrio a pleno
emprego no curto prazo. Longe de romper com o modelo
clássico, Ke~nes teria, portanto, tio-somente inaugurado uma
scirie de desenvolvimentos dentro dele. Para tanto, Samuelson
rigid wages was found to be a useful f:i.ctíon " (t9H3, p.
€.?1.6) . flexibilidade de pre~os e
salários, as equa~5es clássicas do mercado de trabalho
determinariam um salário real c:;~.paz de P1"omove r o IIT·:.~rtc et·
de ton an do , a s sím , C) tj"a d:i.c:i.on ;:\.1
mecanismo de ajustamento automático rumo ao equilíbrio a
pleno emprego da mio-de-obra disponível. Dado o produto,
máximo ci estabelecido por uma fun~io de produ~io
que reflete as possibilidades de transforma~io física da
economia, a condiç~o de equilíbrio no mercado de bens
determina simultaneamente a taxa de juros e as propor~5es de
é.Procurando caracterizar a visão aacroeconêaíca consensual que emergiu em meados dos anos 50 nos
Estados Unidos, Samllelson (idem) registrou: "In recent ~ears 90 per cent of American Econoiilistshave stopped being 'Ke~nesian economists'or 'anti-Ke~nesian economists·. Instead the~ have \!IorkedtO\llarda
s~nthesis of whatever is valuable in oIder economics aná in modern theories of income determination.
Ihe result might be cal led neo-classical econoaícs and ís accested in its broad outlines b~ al l but
10
sua renda que os agentes desejam consumir e investir.
Determinadas a renda real e a taxa de Juros, a condiçio de
equilíbrio no mercado monetário estabelece o nível de preços
para um dado estoque monetário. Segundo os adeptos do
ke~nesianismo neoclássico, a grande contribuiçio de Ke~nes
situou-se no ttrreno da política econômica, após ter ele
demonstrado que eventuais desvios em relaçio a esse estado
de eqUilíbrio s50 corrigíveis através do manejo consistente
dos instrumentos fiscais e monetários. Assim, "the theorists
were prepared to concede to those with a more practical turn
of mind that the so called 'Ke~nes special case' is the one
which is empiricall~ relevant for short run polic~. lhe
classics won the intellectual battlei Ke~nes won the polic~
war" (Hines 1971, p. 9). Segundo Hoover (1988):
The idea behind the neoclassical s~nthesis ~as that the ke~nesian anal~sis explains.unemplo~ment and suggests remedies. Dnce tu11 emplo~ment is estab1ished, however (...) the classícal anal~sis 01
resource al1ocation, incorne distribution and welfare economics, alI
Ot
which are grounded inmicroeconomics, becomes relevant (P. 9-10).
Assim, Ke~nes teria apresentado um mero caso especial do
modelo (neo)clássico, caso este caracterizado pela rigidez
salarial. Em outras palavras, o desemprego involuntário
resultaria do fato de a taxa de salários nominais se
encontrar demasiadamente elevada em relaçio ao nível geral
de preços, fazendo com que as unidades produt ivas sejam
incapazes de contratar todo o volume de trabalhadores pelo
nível de salário real vigente. Em Johnson (1961), por
,
exemplo, o equilíbrio aquém do pleno emprego postulado por
Ke~nes ~ concebido por este adepto do ke~nesianismo
u.
o desemprego involuntário
é
uma mera fase transitória dedesequilíbrio resultante dos ajustamentos
experimentada pela síntese neoclássica a partir do final dos
an o s 60 e ln:tClO. , . do s an o s 70'7, al
s
un s a :i.nd<~.surpr·G~E~nd(,:.·m
",·:\t
t:h(~~ numb e r s o f c ont
r í.but or s who ( ... ) den::1( ... ) that downward rigidit~ of wases is central to Ke~nes'
c onc Iu s í on ' (S<":l.lant: :1.:U3 (4). lü:~::!IH~:s , =iH) cont r·,":Í.r· :1.o,
empenhou-se em negar que uma eventual redu~io do nível de
fosse capaz de engendrar, automaticamente, uma
solu~io de pleno emprego. Caso ele tivesse baseado sua
desemprego involuntário ou
inflexibilidade salariais, ele nio teria realmente colocado
nada de revolucionáriCl, uma vez que uma alegaçio dessa
natureza já estava presente, PClr exemplo, em Pisou (1927),
p'":l.r<il. quem seriam flexíveis no
ajustamento de longo prazo. Como observou Gilbert (1982, p.
regarded the full-emplo~ment equilibrium of the classical and neoclassical theories as a special case
Ot
his more general theor!l and one which required assumptions.In
a free-enterprise econom!l withconditions main1!! 01 laissez-faire, the objective Ot his anal!lsis \liasto sho\llthat the torces present
ei ll not necessaríts bring about a full-emplo!lment equilibrium <...) Ke!:lnesput forwtI.rdhís theor!l in
the context of a severe criticism of the classical and neoclassical economists and of Sa~'s law in partícular.
Ao n ão j., • t" .
perceuerem a eXls~enCla de um cisma profundo entre' a
equilíbrio geral fi: monet J.i":i.<l
desenvolvida por adeptos do ke~nesianismo
7.Para uma análise do conjunto de circunstâncias históricas que contribuíram para o declínio da
síntese neoclássica vide Ferr~ e Minsk!l (1990) e Hoover (19BB, capo i). Feiwel (19B5, p. B-10) realiza
uma interessante análise da diminui~ão do entusiasmo do próPiio Samuelson pela síntese neoclássica,
para cuja tarefa tOlilapor base diferentes comentários contidos em diversas edi~ões de seu clássico