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CARSTE EM ROCHAS QUARTZÍTICAS DA GRUTA DO SALITRE, DIAMANTINA - MG

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Academic year: 2019

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CARSTE EM ROCHAS QUARTZÍTICAS DA GRUTA DO SALITRE, DIAMANTINA - MG

Fernanda Cristina Rodrigues de SOUZA Acadêmica do curso de Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Rua Severino de Lima, 131A. Bairro Cícero Passos. Pirapora (MG). CEP: 39270-000 f.cristina65@yahoo.com.br

Hernando BAGGIO Msc e Profº na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Av. das Indústrias, s/n. Bairro Industrial. Pirapora (MG). CEP: 39270-000 hernandobaggio@yahoo.com.br

Wallace Magalhães TRINDADE Msc e Profº na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Av. das Indústrias, s/n. Bairro Industrial. Pirapora (MG). CEP: 39270-000 wallacegeografo@yahoo.com.br

Resumo

Este estudo tem como objetivo apresentar as principais características da morfologia cárstica da Gruta do Salitre, localizada no município de Diamantina - MG, desenvolvida em rochas quartzíticas do Supergrupo Espinhaço, Formação Sopa-Brumadinho. O procedimento metodológico utilizado pautou-se em: planejamento da pesquisa; consulta ao Cadastro Nacional de Cavernas (CNC) e Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE); revisão bibliográfica acerca da temática; revisão cartográfica (mapa topográfico e geológico); trabalho de campo para conhecimento técnico da área, georreferenciamento e observação das feições cársticas existentes; análise e tratamento dos resultados obtidos e, finalmente, elaboração da parte escrita. Destaca-se que a gênese da Gruta do Salitre, desenvolvida em rochas quartzíticas, corresponde ao mesmo processo de formação do carste em litologias carbonáticas.

Palavras-chave: Carste não carbonático; Gruta do Salitre; Quartzito; Diamantina - MG.

INTRODUÇÃO

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o abandono da designação da geomorfologia cárstica conforme o tipo litológico, mas mediante as características fisiográficas e o processo de dissolução.

Ressalta-se que diversos estudos na África, Venezuela e outros países demonstram a existência de morfologias cársticas em litologias não carbonáticas e mostram que a gênese destas corresponde ao mesmo processo que ocorre em rochas carbonáticas. Esses trabalhos explicitam registros de dissolução da rocha e feições semelhantes às verificadas em carbonato. Isso demonstra que as morfologias cársticas originadas pelo processo de dissolução não devem ser consideradas pseudocarste.

No Brasil, os estudos do carste não carbonáticos são mais recentes e as principais referências sobre o carste não carbonático são Hardt (2003, 2009), Auler (2004), Willems et al (2004, 2008), Rodet et al (2009), Morais (2009), Uagoda et al (2006), Borghi (2007) e Travassos & Virela (2007). Estes estudos analisam o carste desenvolvido, principalmente, em arenitos e quartzitos das regiões de São Paulo, Tocantins, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Roraima.

Com isso, percebe-se a importância em desenvolver pesquisas sobre o carste em ambientes não carbonáticos com a finalidade de contribuir para a ampliação do conhecimento sobre o patrimônio espeleológico.

A justificativa do presente estudo consiste na importância de desenvolver pesquisas sobre o sistema cársticos, em função dos poucos estudos desenvolvidos sobre essa área, realizados por estudiosos ingleses, franceses e alemães.

Assim, este estudo tem como objetivo apresentar as principais características da morfologia cárstica da Gruta do Salitre, localizada no município de Diamantina - MG, desenvolvida em rochas quartzíticas do Supergrupo Espinhaço, Formação Sopa-Brumadinho.

METODOLOGIA

O procedimento metodológico utilizado constituiu-se de três etapas, compostas por pesquisa em gabinete, campanha de campo e tratamento dos resultados obtidos.

Primeira Etapa: Pesquisa em gabinete

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revisão cartográfica (mapa topográfico e geológico).

Segunda Etapa: Trabalho de Campo

Realizou-se trabalho de campo para conhecimento técnico da área, georreferenciamento, observação das feições cársticas existentes e elaboração de registros icnográficos.

Terceira Etapa: Trabalho em gabinete

Constituiu-se da análise e tratamento dos resultados obtidos, confrontando-os com o debate científico que atualmente se faz presente sobre o carste e, finalmente, elaboração da parte escrita e geração de mapas no software ArcGis 9.2.

LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS FISIOGRÁFICAS DA ÁREA DE ESTUDO

O município de Diamantina está localizado no Vale do Jequitinhonha, a aproximadamente 292 km de Belo Horizonte - MG. O acesso ao município é feito pelas rodovias federais BR-259 e BR-367.

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Figura 1: Localização do maciço da Gruta do Salitre, Diamantina – MG, no contexto estadual, municipal e local.

Fonte: Geominas

Org: TRINDADE (2010)

Segundo a classificação de Köppen (1948), o tipo climático é o Cw (Tropical de Altitude). Na estação seca, as temperaturas raramente ultrapassam os 30°C, e na estação chuvosa as temperaturas ficam em torno dos 18°C. A amplitude térmica anual não é muito elevada, e o índice pluviométrico anual médio é 1.404 mm.

O tipo vegetacional é composto predominante por espécies vegetais dos Biomas Mata Atlântica e Cerrado, com suas várias gradações fitofisionômicas: Cerrado Típico, Cerrado Ralo, Campos Rupestres, Campos Limpos, Matas Ciliares/Galeria e Formações Campestres (IEF/PERPRETO 2004).

Dentro do quadro litogeomórfico regional, desenvolveu-se a cobertura pedológica constituída pelas classes de Neossolos, Latossolos, Cambissolo, Organossolo e afloramentos rochosos (IEF/PERPRETO 2004).

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CONTEXTO GEOMORFOLÓGICO

A Serra do Espinhaço se comporta como o maior divisor hidrográfico entre as bacias do centro-leste brasileiro e a do rio São Francisco. O planalto do Espinhaço, caracterizado como um conjunto de terras altas, está orientado no sentido N-S. Segundo Saadi (1995), a denominação “serra” esconde, no entanto, uma realidade fisiográfica que seria melhor definida pelo termo “planalto”.

A Serra do Espinhaço é composta pelos compartimentos dos planaltos meridional e setentrional, com direções gerais SSE-NNW e SSW-NNE, respectivamente, que são separados por uma zona deprimida alongada na direção NW-SE (SAADI, 1995). Apesar dos compartimentos terem resultado do mesmo processo geotectônico, correspondem a dois planaltos litoestrutural e morfologicamente diferenciados.

Consoante Saadi (1995), o compartimento meridional, no qual está localizada a área de estudo, inicia-se nas nascentes do rio Cipó, próximo a Belo Horizonte e se estende até o município de Couto de Magalhães - MG. A altitude média da superfície situa-se em torno de 1.200m e o ponto culminante, no Pico do Itambé, equivale a 2.062m.

Do ponto de vista geológico, a característica fundamental da Serra do Espinhaço Meridional é a predominância absoluta dos quartzitos que, em toda extensão do compartimento, compõem uma cobertura rígida, no entanto, densamente fraturada e cisalhada. As formas de relevo resultantes de sua esculturação pela dissecação fluvial são representadas, majoritariamente, por cristas, escarpas e vales profundos adaptados às direções tectônicas estruturais (SAADI, 1995).

Ressalta-se que a evolução geomorfológica da Serra do Espinhaço foi condicionada pelos fatores estruturais, morfoestruturais, morfotectônicos e paleoclimáticos (SAADI, 1995). As superfícies de aplainamento paleogênicas encontram-se representadas pelos planaltos com alinhamentos de cristas e com monadnocks quartzíticos.

CARSTE QUARTZÍTICO DA GRUTA DO SALITRE

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Sopa-Brumadinho, orientada no sentido NW-SE.

Na Figura 2, a Gruta do Salitre apresenta-se compartimentada em três unidades fisiográficas: 1) O canyon que dá acesso ao poljé e à gruta; 2) o poljé do Salitre; 3) e os salões.

Figura 2: Imagem de orbital da Gruta do Salitre. 1. canyon; 2. poljé e 3. vista parcial do salão.

Fonte: www.googleearth.com.br Org: BAGGIO (2010)

O canyon do Salitre (1) representa uma importante feição estrutural, que além da representatividade geológica, geomorfológica, biológica e paisagística; possui relevância histórica, uma vez que os escravos rebelados se refugiavam entre os labirintos rochosos dessa área.

O canyon do Salitre se posiciona como uma falha rúptil de direção N-S, com aproximadamente 125m de comprimento e largura de 10 a 15 m. As escarpas do canyon exibem estruturas superimpostas a rochas, com dobras e falhas de pequenos rejeitos, atingindo em alguns locais 50m de altura. Observa-se a presença de sistemas karrens horizontais e verticais.

O canyon do Salitre não possui uma drenagem superficial específica; entretanto, há a presença de vegetação arbórea e herbácea exuberantes, o que demonstra a existência de um sistema hídrico subsuperficial nessa área.

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diretamente ao rifte Espinhaço, cuja sedimentação iniciou-se no Paleoproterozóico (± 1,75 Ga), perdurando até meados do Mesoproterozóico (± 1,4 Ga).

O poljé da Gruta do Salitre

O poljé da Gruta do Salitreencontra-se conectado ao canyon. Caracteriza-se por apresentar uma forma semicircular e fisiograficamente apresenta-se como uma depressão fechada. O piso da depressão em alguns locais é constituído por areia branca (N 8) de granulometria média/fina. Nas áreas próximas aos afloramentos rochosos, entretanto, o piso encontra-se coberto por uma camada de argila de descalcificação.

Os paredões escalonados que delimitam o poljé possuiaproximadamente 80m de altura e são constituídos por vários planos de fraturas, com dimensões significativas em alguns pontos. Na zona direita do poljé, sentido do canyon para os salões da Gruta do Salitre, há uma falha expressiva com, em média, 45cm de largura e 18m de comprimento. A Figura 3 mostra algumas falhas e fraturas localizadas no poljé da Gruta do Salitre.

Figura 3: Fratura no quartzito (1) e uma falha expressiva, localizada no poljé da Gruta do Salitre (2)

Foto: BAGGIO (2010) Org: SOUZA, F. C. R. (2010).

Nota-se a presença de diversos alvéolos nas paredes da Gruta do Salitre, que 45 cm

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45 cm

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estão diretamente relacionados ao processo de gênese do carste.

Salões da Gruta do Salitre

A Gruta do Salitre possui dois salões principais, que se encontram em paleoníveis diferentes. A presença desses paleoníveis é consequência da mudança no nível de base local, inferindo uma nova dinâmica no eixo de dissolução da rocha.

Denomina-se como paleonível 1 o salão principal, de fácil acesso; e o paleonível 2 corresponde ao salão secundário, de acesso mais complexo.

O salão principal da Gruta do Salitre possui topograficamente formato afunilado e frontalmente, a forma semicircular. A entrada principal dessa cavidade possui orientação E-W; o perfil transversal possui forma ogival, semicircular, ou seja, equivalente um ângulo de 180º e possui dimensões de 120m de comprimento, 30m de altura na parte central e 70m de extensão.

Diversas microfeições espeleológicas ao longo do piso e do teto demonstram que a gênese da Gruta do Salitre é resultado do processo de dissolução da rocha quartzítica. No piso, há a presença de blocos abatidos, sedimentos clásticos e microfeições espeleológicas, que estão concentradas em áreas restritas e com acesso mais difícil, uma vez que isso inibe a intervenção antrópica.

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I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e

X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro

Figura 4: O salão principal da Gruta do Salitre (A) e as microfeições localizadas no teto do mesmo (B, C e D).

Fonte: SOUZA, F. C. R. (maio/2010)

A entrada do salão secundário localiza-se à direita da entrada do salão principal. O acesso a ele é complexo em função dos declives abruptos e do elevado índice de

A

B

C

D

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blocos abatidos.

A forma transversal da entrada do salão secundário é irregular, com dimensões de 2 metros de largura, 1,5 metros de altura. Entretanto, o interior desse salão possui forma elíptica horizontal e suas dimensões ampliam-se para 25m de largura e 15m de extensão na parte central. Essa área é caracterizada pela zona de penumbra e pela presença de diversas microfeições espeleológicas que comprovam o processo de dissolução do quartzito.

A dinâmica atual do carste encontra-se em pleno funcionamento e há uma drenagem subterrânea que percorre todo o salão e encontra-se situada próxima à parede do fundo do mesmo. Na estação seca, essa drenagem possui dimensões de 0,5m de largura e 0,5m de profundidade; a coloração da água é clara e a vazão é rápida. Destaca-se a preDestaca-sença de uma camada espessa do mineral pirolusita no interior da drenagem.

O piso é ornamentado por diversas microfeições cársticas, pela areia fina branca (N 8) e nas áreas de influência do rio há sedimentos argilosos de coloração vermelha (2,5YR 5/8). As paredes e o teto são revestidos por microfeições de diversas colorações, distinguindo-se os tons de cinza (N6 a 5GY 6/0), branco (N 8), amarelo (2,5Y 8/8) e avermelhado (2,5YR 5/8). Registra-se a presença de coralóide no centro do teto desse salão, o que evidencia a existência de zona freática.

Portanto, as feições da Gruta do Salitre estão correlacionadas ao processo de dissolução no sistema cárstico e a dinâmica atual da mesma encontra-se em plena atividade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Gruta do Salitre constitui-se numa cavidade natural desenvolvida em rochas quartzíticas, cuja gênese é resultado dos mesmos processos morfológicos desenvolvidos em rochas carbonáticas, ou seja, está relacionado ao processo de dissolução.

Esse sistema cárstico foi segmentado em três unidades fisiográficas principais: o canyon, o poljé e os salões. As características espeleológicas existentes nesse sistema cárstico quartzítico comprovam a ocorrência do processo de dissolução do maciço do Salitre.

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canyon e o poljé. Além disso, há diversos microespeloetemas distribuídos no teto, piso e parede dos salões e uma drenagem no interior do salão secundário. Isso demonstra que a dinâmica do sistema cárstico da Gruta do Salitre encontra-se em processo de atividade contínua.

Torna-se necessário o desenvolvimento de estudos mais sistemáticos sobre a Gruta do Salitre, além da efetivação da proposta de criação da Unidade de Conservação (UC) para garantir a preservação do patrimônio espeleológico municipal.

REFERÊNCIAS

HARDT, R. Formas Cársticas em Arenito: estudo de caso. 2003. Monografia de Especialização. Universidade Estadual Paulista. Rio Claro. 2003, 53p.

HARDT, R. Carste em Arenito: considerações gerais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ESPELEOLOGIA, 27, 2003. Januária. Anais eletrônicos ... Januária. 2003, p.163 – 167.

HYPERLINK "http://www.sbe.com.br/anais27cbe/27cbe" Acesso em: 20/08/2009

INTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS; PERPRETO – PARQUE ESTADUAL DO RIO PRETO. Plano de Manejo do Parque Estadual do Rio Preto. Encarte 4: Planejamento da Unidade de Conservação. Curitiba. 2004.

KOPPEN, W. Climatologia. México. Fundo de Cultura Econômica. 1948.

MUNSELL, A. H. Soil Color Charts. Baltimore. Maryland: Macbeth. 1981. 67p.

SAADI, A. A Geomorfologia da Serra do Espinhaço de Minas Gerais e de suas margens. Geonomos. v.3. n. 1. p.41-63. 1995.

HYPERLINK http://www.igc.ufmg.br/geonomos-3_1_41_63_Saadi.pdf. Acesso em: 15/10/2009

WILLEMS, L; RODET, J; POUCLET, A; MELO, S; RODET, M. J; COMPÉRE, P.H; HATERT, F; AULER, A. A. Karst in sandstones and quartzites of Minas Gerais, Brazil. Cadernos Lab. Xeólóxico de Laxe. Belgium: Corunã. 33. p.127-138. 2008.

Imagem

Figura  1:  Localização  do  maciço  da  Gruta  do  Salitre,  Diamantina  –  MG,  no  contexto  estadual, municipal e local
Figura 2: Imagem de orbital da Gruta do Salitre. 1. canyon; 2. poljé e 3. vista parcial do  salão
Figura 3: Fratura no quartzito (1) e uma falha expressiva, localizada no poljé da Gruta  do Salitre (2)
Figura 4: O salão principal da Gruta do Salitre (A) e as microfeições localizadas no teto  do mesmo (B, C e D)

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