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Educação infantil: contextualizando as práticas adotadas pelos educadores/ Child education: contextualizing the practices adopted by educators

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761

Educação infantil: contextualizando as práticas adotadas pelos educadores

Child education: contextualizing the practices adopted by educators

DOI:10.34117/bjdv5n10-146

Recebimento dos originais: 10/09/2019 Aceitação para publicação: 11/10/2019

Tatiane Sônia Gurski Melnik Jaremko

Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR-UV Pós Graduada em Educação Infantil - Práticas na sala de aula – FACULDADE SÃO BRAZ

Instituição: Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR Endereço: Colônia Uma - Serra do Tigre, s/n, Interior, Mallet-PR, Brasil

E-mail: tatimelnik@hotmail.com Franciéli Arlt Lopes

Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR Mestra e Doutoranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI

Instituição: Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR

Endereço: Rua Col. Amazonas, s/n – Centro União da Vitória – PR, Brasil E-mail: fr_lopes33@yahoo.com.br

RESUMO

O objetivo principal da pesquisa é averiguar o processo pelo qual surge o conceito de infância e o contexto da Educação Infantil, ponderando quanto as práticas utilizadas em um Centro Municipal de Educação Infantil, no sentido de obsevar se estas seguem os objetivos propostos no Referencial Curricular Nacional e nas Diretrizes Curriculares. Nesta conjuntura, o método adotado para a realização desta pesquisa, constituiu-se a partir de estudos bibliográficos, amparado em apreciações documentais e com relatos de experiência no âmbito da Educação Infantil. A partir deste estudo, concluiu-se que esta modalidade de ensino teve seus princípios reformulados, constituindo-se em uma instituição que visa o cuidar e o educar, no entanto, os educadores desconsideram a relevância desses documentos.

Palavras-chave: Educação Infantil. Prática docente. RCNEI. Diretrizes Curriculares. ABSTRACT

The main objective of the research is to investigate the process by which the concept of childhood and the context of early childhood education arises, considering how the practices used in a Municipal Center of Early Childhood Education, in order to observe if they follow the objectives proposed in the National Curriculum Reference and the Curriculum Guidelines. At this juncture, the method adopted for this research was constituted from bibliographic studies, supported by documentary appraisals and reports of experiences in the scope of early childhood education. From this study, it was concluded that this teaching modality had its

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 principles reformulated, becoming an institution that aims to care and educate, however, educators disregard the relevance of these documents.

Keywords: Early Childhood Education. Teaching practice. RCNEI. Curriculum Guidelines.

1 INTRODUÇÃO

Por meio das mudanças recorrentes na sociedade, o conceito de infância passou por diferentes concepções. Décadas anteriores as crianças eram consideradas adultos em miniaturas, onde desempenhavam a mesma função que os adultos. Foi somente com o passar dos anos que se percebeu que as crianças necessitavam de maiores cuidados para a sua formação, educação e sobrevivência. Sendo assim, passaram a ser vistas com outros olhos e a infância foi sendo cada vez mais valorizada.

As mudanças decorrentes em relação ao conceito de infância são esplanadas no início do trabalho, realizado por meio de estudos embasados na obra de Ariès (1981), que apresenta a forma como a criança era vista a partir do século XII.

Por meio do surgimento do conceito “infância”, altera-se o modo como as instituições trabalham com crianças de 0 a 6 anos. O modo assistencialista predominante em séculos anteriores passou a ser menos utilizado e foi sendo substituído pelo conceito de que, na Educação Infantil, deve-se trabalhar visando o cuidar, oeducar e obrincar, contribuindo para um bom desenvolvimento das crianças. (ARIÈS, 1981).

Nesse contexto, as instituições de Educação Infantil modificam o tratamento destinado às crianças, no qual se evidencia no presente estudo, o processo da constituição da Educação Infantil, sob a ótica do tratamento dado às crianças nesses locais.

Por meio da compreensão da importância da Educação Infantil para o desenvolvimento da criança, o Estado toma medidas para garantir esse direito a todas as crianças desde o seu nascimento. Nesse contexto, são elaboradas leis para fazer valer os objetivos destinados à faixa etária de 0 a 6 anos, tais como a LDB, que visa garantir o direito à educação de qualidade a todas as crianças, na qual elas deverão receber cuidado e educação. Além da LDB, destacamos os documentos norteadores: as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil.

O método adotado para a realização desta pesquisa, constitui-se a partir de estudos bibliográficos, amparado em análises documentais, mais especificadamente utilizando o RCNEI e as DCNEI, acrescida de situações vivenciadas no âmbito da Educação Infantil.

Por meio desta pesquisa, objetiva-se tornar visível o contexto histórico pelo qual a Educação Infantil passou até chegar à sua forma atual, abordando o surgimento do conceito

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 infância, o desenvolvimento do processo histórico sob o qual a criança passou a ser valorizada como um ser de direitos, necessitando de maiores atenção e cuidado.

Objetiva-se, também, apresentar a importância dos documentos norteadores, que foram desenvolvidos para subsidiar a prática dos educadores das crianças de 0 a 6 anos de idade, refletindo a sua aplicabilidade no âmbito escolar.

Diante desse contexto, esta pesquisa pretende demonstrar a relevância do RCNEI e das DCNEI, documentos norteadores para as práticas pedagógicas no âmbito da Educação Infantil.

2 A INFÂNCIA E A INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL.

Na contemporaneidade, compreende-se por infância o período correspondente à faixa etária de 0 a 6 anos de idade. Porém, nem sempre foi assim: emdécadas anteriores, as crianças eram vistas como adultos em miniaturas, na forma de comportarem-se e vestirem-se, devendo desempenhar a mesma função dos adultos. Por meio de análises realizadas nas pinturas, observa-se que “até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la. [...] É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo” (ARIÈS, 1981, p.50).

Um fator que contribuiu para que não houvesse o conceito de infância naquele período, é a mortalidade infantil, que apresentava um índice elevado na época. Devido ao grande número de mortes de crianças, os pais não se apegavam a elas, pois seu futuro era incerto. As famílias acolhiam as crianças, não as desprezavam, mas as tratavam como se estas fossem um adulto em miniatura. Não havia divisão das tarefas, ambos desempenhavam as mesmas. Desse modo, os conhecimentos que as crianças adquiriam davam-se pela vivência e pela ajuda prestada na execução das atividades. O fato de as crianças serem consideradas adultos em miniaturas, é notório nas pinturas da época, que representavam as crianças com aparências de um adulto, porém com estatura menor, usando vestimentas semelhantes às dos adultos (ARIÈS, 1981).

No século seguinte, passa-se a compreender que há diferenças em relação às idades. Através das representações do século XIII, constata-se que houve tentativas de apresentar o conceito de infância. As pinturas buscavam uma representação mais realista da criança, retratando-a em suas formas naturais. Em relação às primeiras representações, Ariès (1981) descreve que

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 [...] a descoberta da infância começou sem duvida no século XIII, e sua evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornam-se particularmente numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII. (ARIÈS, 1981, p.61).

O conceito de infância tornou-se mais significativo no século XVII, pois nesse período foi retratado um maior número de crianças sozinhas (ARIÈS, 1981).

A partir do reconhecimento da criança como um ser diferente do adulto, surge a necessidade de vesti-la de forma com que fosse possível distingui-la dos demais. Nessa conjuntura, nos retratos do século XVII, constata-se que “a criança, ou ao menos a criança de boa família, quer fosse nobre ou burguesa, não era mais vestida como os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à sua idade.” (ARIÈS, 1981, p.70). Através da mudança nos trajes das crianças, compreende-se que essa passa a ser vista de outra forma.

Um novo sentimento de infância havia surgido, em que a criança, por sua ingenuidade, gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração e de relaxamento para o adulto, um sentimento que poderíamos chamar de “paparicação”. (ARIÈS, 1981, p.158).

Este sentimento, a paparicação, é um conceito que surge através da convivência do adulto com a criança pequena. De acordo com Ariès (1981, p.163),

O primeiro sentimento de infância – caracterizado pela “paparicação – surgiu no meio familiar na companhia das criancinhas pequenas. O segundo, ao contrário, proveio de uma fonte exterior à família: dos eclesiásticos ou dos homens da lei, raros até o século XVI, e de um maior número de moralistas no século XVII, preocupados com a disciplina e a racionalidade dos costumes.

A paparicação consiste em uma distração dos adultos sobre as crianças, pois estes adoravam as brincadeiras e expressões que eram realizadas pelos pequenos. Dessa maior convivência com as crianças devido às paparicações, os adultos passam a preocupar-se mais com a higiene e com a saúde física da criança, resultando em um número cada vez menor de mortalidade infantil.

Através de pequenos gestos, que foram sendo modificados ao longo dos séculos em relação à criança, essa passa a ser concebida atualmente como um ser importante, sua fase (infância) passa a ser valorizada pela sociedade, que visa atender a essafaixa etária da melhor forma possível.

Compreende-se que a concepção de criança foi sendo construída e modificada com o passar dos anos, mas vale ressaltar que, em uma mesma época, a criança passa a ser vista e

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 tratada de diferentes modos, dependendo do contexto, da cultura e da classe social na qual está inserida. Em relação ao tratamento dado às crianças, o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil, documento norteador das Práticas Pedagógicas da Educação Infantil, apresenta duas formas pelas quais as crianças são vistas na contemporaneidade,

Boa parte das crianças pequenas brasileiras enfrentam um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida e ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em geral todos os cuidados necessários ao seu desenvolvimento. (BRASIL, 1998, p.21, v.1).

O modo de tratamento dado à criança, depende do contexto social e econômico no qual ela vive. Observa-se que, nas famílias de maior poder aquisitivo, as crianças são mais estimuladas e tem mais acesso à cultura, diferente das famílias de baixa renda, onde se privilegia as necessidades básicas da criança.

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, a criança é definida como um

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2010, p.12).

O conceito dado à criança altera-se com as mudanças recorrentes na sociedade, bem como o atendimento prestado a elas, pois, em séculos passados, as crianças permaneciam na vivência com os pais em suas próprias moradias. Porém, com a industrialização e devido ao fato de as mulheres estarem inseridas no mercado de trabalho, essas passaram a frequentar instituições que visavam, inicialmente, somente o cuidar. Essas instituições foram modificando-se no decorrer dos tempos, garantindo, atualmente, um atendimento às crianças voltado ao cuidar, aoeducar e ao brincar.

Esse atendimento destinado às crianças de 0 a 6 anos de idade é algo recente. Sanches (2004) apresenta que o primeiro conceito de creche surgiu na Europa, no final do século XVIII, início do século XIX, com o objetivo de receber crianças de 0 a 3 anos, filhas (os) de trabalhadores.

No Brasil, a forma pela qual surgiu o atendimento à criança pequena é semelhante, assim como apresentamTozetto; Macenhan; Almeida; (2014),

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 A educação das crianças pequenas no Brasil iniciou-se com caráter assistencialista. Somente na metade do século XIX, em decorrência do capitalismo com as recém-criadas fábricas, as mães da classe operária precisavam de lugares para deixar os seus filhos menores durante o período de trabalho, entretanto, elas ainda eram muito pequenas para irem para a escola. (TOZETTO; MACENHAN; ALMEIDA, 2014, p.35).

O surgimento do conceito de creches assistencialistas, citado por Tozetto; Macenhan; Almeida; (2014), refere-se ao fato de estas terem como função principal, o cuidado da criança em relação à alimentação, àsaúde, àhigiene e à segurança física.

As creches assistencialistas não visavam “promover a integração entre os aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais da criança” (BRASIL, 1998, p.17, v.1), devido ao fato de terem sido criadas com o objetivo de atenderem crianças de baixa renda. Sendo assim, sua função não era proporcionar um bom desenvolvimento às crianças, e sim apenas garantir um local no qual essas pudessem receber oscuidados fundamentais para a sua sobrevivência.

As primeiras creches que surgiram eram destinadas “predominantemente para os filhos de mulheres que exerciam trabalho extradomiciliar (mães trabalhadoras), para crianças desamparadas, órfãs ou abandonadas” (NUNES; CORSINO; DIDONET, 2011, p. 17). O atendimento aos filhos das mães trabalhadoras sucedeu ao fato de as mesmas terem sido, em grande parte, responsáveis pelo sustento da família e dos filhos, quando não viviam com o pai da criança e dificilmente recebiam ajuda do mesmo.

Essas conquistas que favoreceram as mães, advieramde movimentos organizados por elas mesmas, que reivindicavam a implantação de creches que pudessem atender as crianças menores de seis anos de idade.

Na década de 1970, as trabalhadoras das grandes cidades organizaram-se com o propósito de incluir seus filhos menores de três anos em creches, para que pudessem exercer trabalho extradomiciliar. Dessa forma,

[...] surgiu o Movimento de Luta por Creches, que alcançou visibilidade social, causou impacto nos meios de comunicação e exerceu pressão sobre o governo. Desde o início, as mulheres-mães queriam mais do que “um lugar para deixar os filhos” durante as horas de trabalho. Insistiam em atividades de cuidado e num programa educacional na creche. (NUNES; CORSINO; DIDONET, 2011, p. 27).

Além da participação da mulher no mercado, de trabalho houve outros fatores que contribuíram para o atendimento das crianças tanto em creches como em pré-escolas, sendo

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 os principais fatores: “o fenômeno da urbanização e da industrialização, e as mudanças na organização familiar” (STOCKMANNS, 2014, p.24-25).

A urbanização e a industrialização resultaram em uma maior procura de locais nos quais as mães trabalhadoras pudessem deixar seus filhos, pois a industrialização permitiu a elas a inserção no mercado de trabalho, do qual resultou a construção de novos centros de atendimento às crianças pequenas.

Com a valorização dos Centros de Educação Infantil, cada vez mais se ampliam os estudos a ela referentes, acarretando na compreensão da importância para a criança estar inserida nesses locais, onde por meio de sua frequência, socializam-se com outras, recebem estímulos essenciais para o seu desenvolvimento pleno.

Por meio da compreensão de que o atendimento em creches paraas crianças de 0 a 6 anos de idade é benéfico, esse passa a ser garantido por leis, tais como: a Consolidação da Lei de Trabalho (CLT), que ocorreu no ano de 1943, visando prestar ajuda às mães trabalhadoras, tornando “obrigatória à criação de creches e berçários para os filhos dos funcionários” (TOZETTO; MACENHAM; ALMEIDA, 2014, p.35). Porém, foi somente por meio da publicação da primeira LDB, em 20 de dezembro de 1961, que se tem a preocupação com a educação das crianças pequenas que frequentavam a chamada Pré-Escola, no Título VI da Educação de Grau Primário (TOZETTO; MACENHAM; ALMEIDA, 2014).

Em 1990, através da publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente, foram declarados os direitos das crianças, assegurados pela Lei nº 8.069:

Essa lei dispõe proteção integral à criança e ao adolescente, em seu artigo 1º. Com isso vem reforçar o direito de que todas as crianças, sem distinções, devem ter educação de qualidade acesso à cultura, ao esporte e lazer, para que possam futuramente exercer seu papel dignamente na sociedade (TOZETTO; MACENHAM; ALMEIDA, 2014, p.36).

Compreende-se a importância do atendimento às crianças menores de seis anos. Nesse viés, a Lei de Diretrizes de Base da Educação Nacional, Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, passa a compreender a criança como um sujeito de direitos. Por meio de sua promulgação em 1996, a Educação Infantil passa a ser uma função do Estado, deixando de ser de responsabilidade das Secretarias de Assistência Social, tendo como principal responsabilidade educar e cuidar das crianças de 0 a 6 anos.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 A LDB, Lei nº 9.394/96, apresenta uma seção contendo dois artigos direcionados à Educação Infantil, nos quais são apresentados importantes apontamentos referentes à sua função:

Art. 29 A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 30 A educação infantil será oferecida em:

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. (BRASIL, 2011, p.21).

Para a validação desse direito que as crianças passam a adquirir, torna-se necessário possuir estrutura física para atender a população, bem como profissionais capacitados para atuarem com crianças de 0 a 6 anos. Nesse contexto, por meio da LDB, Lei nº 9.394/96, a Educação Infantil passa a ser de responsabilidade e dever do Estado,

[...] que, para sua oferta, estabelece diferentes competências entre os entes que compõem a federação: União, estados, Distrito Federal e municípios. Estes devem atuar prioritariamente na educação infantil e no ensino fundamental; os estados, no ensino fundamental e médio; a União, no ensino superior. Apesar disso, a responsabilidade é partilhada, segundo o princípio da colaboração. A União tem a competência de formular as diretrizes, a política e os planos nacionais e prestar assistência técnica e financeira aos estados e municípios, na medida de suas necessidades. Os estados têm a competência de elaborar diretrizes e normas complementares, além de prestar assistência técnica e financeira aos municípios do seu território. O Distrito Federal tem as competências de estado e de município. (NUNES; CORSINO; DIDONET, 2011, p. 16).

Com o compartilhamento das responsabilidades, coube aos municípios a responsabilidade de garantir estabelecimentos para a implantação da Educação Infantil. Visando atender à demanda estadual,

Muitos municípios utilizam o espaço físico de escolas de ensino fundamental para ampliar turmas de pré-escolas (crianças de 4 a 6 anos), entretanto é importante ressaltar que essa alternativa exige que a proposta pedagógica contemple as especificidades da faixa etária e que o espaço físico esteja adequado para o desenvolvimento do trabalho pedagógico da educação infantil. (NUNES; CORSINO; DIDONET, 2011, p. 47).

Nessa conjuntura, a estrutura das creches é fundamental para que ocorra um ensino de qualidade. As salas devem ser apropriadas de acordo com a faixa etária de cada criança, possuindo banheiros próximos; o refeitório deve possuir espaço físico suficiente para atender

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 a todas as crianças, com mesas e cadeiras de acordo com a sua altura. Caso a estrutura não atenda às especificidades, não há condições de oferecer um ensino de qualidade. É também fundamental os professores estarem capacitados para atuar com essa faixa etária, conforme, ponderam Nunes, Corsino e Didonet, (2011):

A função docente, nesta etapa de ensino, antes exercida por qualquer profissional, passou a ser de responsabilidade de um professor com formação de nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (NUNES; CORSINO; DIDONET, 2011, p. 67).

Compreende-se que é fundamental a atuação de profissionais capacitados nos Centros de Educação Infantil, a fim deque venham a contribuir, por meio de seus conhecimentos, para o desenvolvimento dos alunos, compreendendo, conhecendo e reconhecendo o jeito próprio de cada criança.

O docente deve estar comprometido com a educação das crianças de 0 a 6 anos de idade, possibilitando ambientes estimuladores, brincadeiras que promovam a participação e a socialização, considerando que cada nova geração de crianças é diferente das demais, não sendo possível trabalhar os mesmos conteúdos em décadas diferentes.

Esse atendimento ofertado pelas instituições de Educação Infantil, passou a ser compreendido como algo benéfico para o desenvolvimento da criança. Sua importância foi tão reconhecida que se objetivou ofertá-la a todas as crianças. Mas, um dos fatores que acaba por não tornar possível a realização desta proposta, é o pequeno número de creches em funcionamento, resultando na escolha de vagas, cujo critério principal é o fato de os pais estarem trabalhando.

De modo a garantir um atendimento de qualidade às crianças de 0 a 6 anos, torna-se necessário que os professores compreendam que a sua função é de extrema importância para um bom desenvolvimento das crianças. Nessa concepção, o MEC desenvolveu, no ano de 1998, o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil.

O RCNEI é um documento norteador, que foi criado para servir de guia de reflexão aos profissionais da Educação Infantil, composto por três volumes que foram distribuídos a todos os educadores da Educação Infantil atuantes naquele período, propondo um atendimento de qualidade por parte da instituição e dos educadores, de modo a

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 [...] contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e municipais. (BRASIL, 1998, p.13. v. 1).

O RCNEI é um referencial que orienta a prática do professor, à medida que expõe objetivos, conteúdos e metodologias, (TOZETTO; MACENHAM; ALMEIDA, 2014, p.36), organizado do seguinte modo,

 Um documento Introdução, que apresenta uma reflexão sobre creches e pré-escolas no Brasil, situando e fundamentando concepções de criança, de educação, de instituição e do profissional, que foram utilizadas para definir os objetivos gerais da educação infantil e orientarem a organização dos documentos de eixos de trabalho que estão agrupados em dois volumes relacionados aos seguintes âmbitos de experiência: Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo.

 Um volume relativo ao âmbito de experiência Formação Pessoal e Social que contém o eixo de trabalho que favorece, prioritariamente, os processos de construção da Identidade e Autonomia das crianças.

 Um volume relativo ao âmbito de experiência Conhecimento de Mundo que contém seis documentos referentes aos eixos de trabalho orientados para a construção das diferentes linguagens pelas crianças e para as relações que estabelecem com os objetivos de conhecimento: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. (BRASIL, 1998, p.7, v. 3).

Em sua estrutura, o RCNEI apresenta conceitos e questionamentos fundamentais ao conhecimento do docente. Porém, o professor da Educação Infantil, em muitos casos, desconsidera a sua relevância pelo fato de o documento não ser exigido pelas instâncias competentes, por constituir-se como um documento norteador das práticas pedagógicas.

Além do RCNEI, há também as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que,

[...] articulam-se às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares de Educação Infantil. (BRASIL, 2010, p.11).

Assim como a LDB, as DCNEI destacam que “é dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção” (BRASIL, 2010, p.12). Porém, o que consta nos documentos, em muitos casos não é o que se aplica na prática. Isso ocorre principalmente em relação aos documentos norteadores das práticas pedagógicas dos docentes da Educação Infantil, que desconsideram a relevância desses documentos,como

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 constatado nassituações vivenciadas em um Centro de Educação Infantil de um Município da Região Sul do Paraná.

Diante das observações realizadas, percebe-se que muitos professores, apesar de reconhecerem a importância do RCNEI e da DCNEI, não utilizam os documentos norteadores da Educação Infantil para embasar suas práticas pedagógicas. Muitos professores buscam atividades em sites, nos quais estão descritos os conteúdos que podem ser trabalhados por meio das atividades que, em muitos casos têm por objetivo principal manter os alunos concentrados em sua execução. Esse método pode até “facilitar” o trabalho docente, porém, deixa uma lacuna no que se refere ao desenvolvimento da criança. Algumas atividades não apresentam a faixa etária para qual devem ser aplicadas, somente os procedimentos a serem realizados e os conteúdos a serem trabalhados. Em sua grande maioria, são atividades impressas, nas quais os alunos desenvolvem pinturas utilizando diferentes técnicas e colagens com diferentes papéis. Quanto às brincadeiras que contribuem para promover a socialização, criatividade e habilidades motoras amplas da criança, essas são pouco desenvolvidas.

Foi possível constatar que a maioria dos professores não utilizam os documentos norteadores em seus planejamentos, sendo que o material adotado como base para a elaboração do planejamento realizado semestralmente é o Plano Político Pedagógico do CMEI, no qual estão descritos os principais conteúdos que deverão ser trabalhados no decorrer do ano, sendo função do professor distribuí-los semestralmente, buscando trabalhar todos os conteúdos. Caracteriza-se, assim, um planejamento centrado apenas em dois documentos burocráticos e sem ação na prática dos professores.

Nesse contexto, compreende-se que é fundamental quea equipe pedagógica do CMEI apresente e/ou recorde aos professores a importância do RCNEI e das DCNEI, incentivando-os a lerem e basearem-se nesses para a elaboração das atividades, usando-incentivando-os como subsídio das práticas pedagógicas, pois o acesso dos educadores aos documentos norteadores auxilia no planejamento e, automaticamente, no desenvolvimento das crianças envolvidas no processo educacional.

Nas observações referentes às atividades expostas pelos professores que atuam a mais tempo na carreira do magistério, constata-se que os mesmos apresentam resquícios de uma educação assistencialista, onde os educadores preocupam-se principalmente com o bem-estar das crianças, evitando a realização de atividades que demandam maior atenção e cuidado, com o receio de que a criança possa vir a se machucar ou se sujar.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 Esses docentes compreendem que a Educação Infantil é fundamental para o processo de desenvolvimento da criança, considerando o cuidado como fator principal que se deve ter com as crianças de 0 a 3 anos, alegando, ainda, que para essa faixa etária, é complexo realizar atividades, já que a função principal do docente com educandos dessa faixa etária é essencialmente o cuidar. Tais docentes desconsideram a importância do brincar com as crianças, um fator primordial para o desenvolvimento das mesmas; nos momentos de brincadeiras, disponibilizam brinquedos e não interagem com elas, deixando-as apenas brincarem livremente.

Em relação aos professores que estão atuando a menos tempo, estes apresentam ideias inovadoras, procuram realizar atividades que contribuam para um bom desenvolvimento dos alunos, contemplando o educar, o ensinar e o cuidar. Pelo fato de apresentarem formação recente, obtiveram o contato com o RCNEI em sua licenciatura, considerando-o um instrumento fundamental para o embasamento das atividades.

Constata-se que a não utilização dos documentos norteadores, deixa falho o trabalho desenvolvido pelos professores, e que a disponibilidade do RCNEI e das DCNEI aos docentes atuantes na área é um fator positivo e facilitador do trabalho pedagógico.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste estudo, compreende-se que a infância foi alterando-se de acordo com as modificações ocorridas em relação ao tratamento destinado às crianças e sobre os conceitos destinados à mesma. A criança, primeiramente compreendida como um adulto em miniatura passou a ser vista como um ser que necessita de maior atenção e cuidado, direitos esses garantidos pelo Estado, por meio da LDB/96.

Compreende-se, também, que as instituições de Educação Infantil vigentes, sofreram grandes modificações até apresentarem a sua forma atual. As primeiras instituições de caráter assistencialistas foram sendo remodeladas, constituindo-se em Centros de Educação Infantil que visam o cuidar, o educar e o brincar, possibilitando um pleno desenvolvimento das crianças. De modo a subsidiar a prática docente, foram elaborados e publicados pelo MEC, dentre outros documentos, o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, com o intuito de auxiliar o trabalho desenvolvido pelos professores, atendendo as necessidades individuais, emocionais e cognitivas da criança de 0 a 6 anos, buscando atingir o seu pleno desenvolvimento.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 10, p. 19134-19146 oct. 2019 ISSN 2525-8761 Conclui-se, a partir dos dados obtidos nesta pesquisa, que grande parte dos educadores do Centro de Educação Infantil investigado, desconsidera a relevância destes documentos, apontando que os mesmos não se aplicam na prática, sendo somente úteis para compor o caráter documental da instituição. Cabe ressaltar que têm aqueles que desenvolvem atividades de acordo com as orientações do RCNEI, no entanto, de maneira parcial ou fora do contexto, contradizendo assim, a perspectiva curricular dos documentos norteadores.

REFERÊNCIAS

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Tradução de Dora Flaksman. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981.

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Referências

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