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Os desafios migratórios no pós ii guerra mundial / The migratory challenges in the post ii world war

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.62301-62310 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Os desafios migratórios no pós ii guerra mundial

The migratory challenges in the post ii world war

DOI:10.34117/bjdv6n8-600

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:26/08/2020

Lucas Antonio Fávero

Mestrando do programa Sociedade, Cultura e Fronteiras da UNIOESTE. Licenciado em História e bacharel em Direito, atua como professor na rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu – Paraná

lukasafavero@hotmail.com

Emily Rayana da Cruz Ressel

Aluna especial da disciplina “Formação jurídica e política das democracias latino-americanas’ do programa de mestrado e doutorado em Sociedade, Cultura e Fronteiras da UNIOESTE. Atua como

professora na rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu- Paraná emilyrayana@live.com

Elaine Cristina Francisco Volpato

Doutora pela Universidade Federal do Paraná, docente do programa de Mestrado e Doutorado em Sociedade, Cultura e Fronteiras da UNIOESTE

elacrisfr@hotmail.com

RESUMO

O Presente texto buscou analisar as migrações no contexto do pós guerra, fazendo um paralelo com os momentos econômicos vividos pelos países no período. Em momentos de recuperação econômica os imigrantes são bem vindos para fazer trabalhos que os nacionais consideram de segunda categoria. No entanto, quando os países entram em recessão, os imigrantes são considerados os causadores dos problemas vivenciados. Os desafios se tornam cada vez maiores em um cenário de crescente desastres ambientais e intolerância, fazendo dos Estados importantes atores na proteção e criação de políticas voltadas ao acolhimento do imigrante. Observou-se que a integração e a alteridade são importantes mecanismos para superação dos preconceitos.

Palavras-chave: Migrações, Território, Pós-guerra.

RESUMEN

El presente texto buscó analizar las migraciones en el contexto de la posguerra, haciendo un paralelo con los momentos económicos vividos por los países en el período. En momentos de recuperación económica los inmigrantes son bienvenidos para hacer trabajos que los nacionales consideran de segunda categoría. Sin embargo, cuando los países entran en recesión, los inmigrantes son considerados los causantes de los problemas vivenciados. Los desafíos se vuelven cada vez mayores en un escenario de creciente desastres ambientales e intolerancia, haciendo de los Estados importantes actores en la protección y creación de políticas dirigidas a la acogida del inmigrante. Se observó que la integración y la alteridad son impostantes mecanismos para la superación de los prejuicios.

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1 INTRODUÇÃO

Uma característica de todas as espécies animais é “fugir” quando sente que seu habitat não lhe proporciona mais maneiras de continuar vivendo. Durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de pessoas fugiram dos desastres e horrores provocados por regimes totalitários. A América foi uma das regiões que receberam muitos desses imigrantes, no início do século passado.

Hoje muitos buscam a Europa para fugir dos conflitos principalmente no Oriente Médio e África. Palco de constantes conflitos (religiosos ou políticos) que deixa a população em uma situação calamitosa. Conflitos que muitas vezes são motivados pelo fator econômico, uma vez que a região é a maior produtora de petróleo do mundo, abastecendo os mercados da Europa e dos Estados Unidos.

Os debates sobre os fluxos migratórios tomaram as mídias formais e informais (redes sociais), as discussões baseadas no senso comum, geralmente estão carregadas de estereótipos e preconceitos. Revelam um crescente nacionalismo, vendo o território como um espaço de exclusão do outro.

É cada dia mais frequente comentários xenofóbicos contra aqueles que buscam nada além de melhores condições de vida para si e para a sua família, fazendo um processo marcadamente humano, de migrar.

2 METODOLOGIA E MATERIAIS

Com o objetivo de analisar os fluxos migratórios a partir da segunda Guerra Mundial, o presente estudo deseja descrever aspectos dos processos migratórios e as crescentes barreiras impostas pelos Estados Nacionais. O método de pesquisa escolhido é o indutivo-dedutivo e, de modo mais específico, far-se-á a recuperação bibliográfica sobre o tema e a análise de documentos pertinentes.

3 RESULTADO DA PESQUISA

Os processos de movimentação do homem na terra são documentados desde o surgimento da espécie. Sejam em figuras (desenhos rupestres) nas cavernas ou mesmo os modernos sistemas de identificação nos postos aduaneiros dos países. Movimentar-se faz parte da natureza humana e pode ocorrer por diversos fatores como: clima, cultura, catástrofes e ainda por trabalho.

A migração é uma característica da raça humana desde seus primórdios. Sejam movidas por catástrofes naturais que dificultam sua sobrevivência, como secas, vulcões e inundações, sejam motivadas pelos males provocados pelos homens, como a guerra e a

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perseguição política ou religiosa, as pessoas sempre migraram em busca de melhores condições de vida e, assim, a raça humana te sobrevivido (CPMI da Emigração, 2006).

Se migrar nos séculos passados era algo mais complexo que envolvia romper com todos os laços familiares, hoje com as novas tecnologias de comunicação tornou-se menos penoso deixar aqueles que fazem parte do convívio em busca de melhores alternativas. No entanto, outras dificuldades são postas, principalmente pelos países desenvolvidos.

As migrações tem sido um desafio nas políticas e relações entre os países que muitas vezes é tratado como caso de polícia, de discriminação ou mesmo de prisão. Basta ligar a televisão e o assunto está cada dia mais presente nos noticiários, geralmente com um teor negativo.

Não se pode delimitar o espaço que uma pessoa deve ou não habitar com base em um documento que diz onde ela nasceu, os critérios do jus soli e jus sanguini utilizados para concessão do direito a cidadania não podem ser absolutos, pois pode gerar milhões de apátridas. A Declaração da ONU é clara em seu artigo 13° ao dizer: “Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país”, e ainda em seu artigo 15° “Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.”

Dentro das políticas de estado percebemos uma mudança de posicionamento com relação à migração nas ultimas décadas, principalmente entre os anos pós-segunda Guerra Mundial e a atual crise do sistema capitalista.

A segunda Guerra Mundial foi fator para intensificação das migrações pelo mundo, a fuga dos regimes fascistas (principalmente por aqueles que eram perseguidos por sua religião, cor ou sexualidade), a fome trazida pela guerra gerando escassez de alimentos e os bombardeios, causaram o êxodo de europeus para várias regiões inclusive a América Latina. Os números não são precisos, no entanto acredita-se que milhões tenham deixado as áreas de conflito.

O número de refugiados durante a Segunda Guerra Mundial, tanto na Europa quanto no Oriente é bastante controverso. As cifras geralmente variam entre 8 milhões até 70 milhões, dependendo da fonte consultada. De qualquer forma, houve, durante este conflito, deslocamentos em massa de populações que fugiam do avanço nazista e ao mesmo tempo, um deslocamento forçado, para fazendas e fábricas, que utilizavam pessoas para o trabalho escravo ou sua colocação em campos de concentração (PAIVA, 2008, p. 3).

Mais do que buscar uma melhor qualidade de vida, naquele momento a migração era crucial para a manutenção da vida. Muitos Judeus saíram da Europa e foram para os Estados Unidos nesse período. Durante e logo após a Guerra os imigrantes eram amplamente aceitos (ou tolerados) pela maioria dos países.

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Com o fim da Guerra e os planos elaborados pelos vencedores principalmente pelos Estados Unidos, a Europa precisava ser reconstruída. Alemanha e França estavam arrasadas, a falta de mão de obra levou para lá um grande contingente de imigrantes principalmente africanos e asiáticos. Eric Hobsbawm (2014) argumenta que essa migração foi patrocinada pelos Estados devido à escassez de pessoal. Esses migrantes na maioria das vezes foram bem aceitos.

Por inúmeros motivos, entre eles o fato de que a imigração na Europa do pós-guerra foi em grande parte uma solução patrocinada pelo Estado a escassez de mão de obra, os novos imigrantes entraram no mesmo mercado de trabalho que os nativos, e com os mesmos direitos, a não ser onde foram oficialmente segregados como uma classe de trabalhadores convidados temporários, e portanto inferiores. (HOBSBAWM, 2014, p.304).

Reconstruir um continente era uma tarefa para inúmeras mãos, o medo das influências socialistas vindas do leste causava no governo estadunidense uma corrida para estabelecer uma barreira capitalista forte e acima de tudo um exemplo para fulminar qualquer pretensão expansionista da União Soviética na região.

No entanto como constata Hobsbawn, surge um novo problema que passa a ser cada vez mais constante na sociedade europeia de uma maneira geral. O preconceito com relação à diversidade étnica dentro da própria classe trabalhadora. Se antes o preconceito estava presente nas políticas de alguns governos autoritários (fascistas), agora passa a surgir o conflito de forma de aceitação de forma mais acentuada dentro das próprias classes operárias.

A migração em massa trouxe um fenômeno até então limitado, pelo menos desde o fim do império Habsburgo, apenas aos EUA e, em menor escala, a França: a diversificação étnica e racial da classe operária e, em consequência, os conflitos dentro dela. O problema não estava tanto na diversidade étnica, embora a imigração de pessoas de cor diferente, ou passíveis de ser classificadas como tais fizesse aflorar um racismo sempre latente mesmo em países considerados imunes a ele. (HOBSBAWM, 2014, p. 303)

O motor da migração no período foram os planos econômicos para reconstrução da Europa que eram da ordem de 17 bilhões de dólares nos ano de 1949 e 1951 e muitos países se habilitaram para conseguir os dólares americanos que já davam à tônica nos negócios internacionais. Assim, com o financiamento estadunidense ao final da década de 1950 a Europa já conseguia apresentar uma grande recuperação econômica atraindo muitos imigrantes.

O montante da ajuda norte-americana no contexto do plano Marshall, organizando em torno de empréstimos vinculados a compra de produtos daquele país e de outras modalidades de financiamento da produção européia, permitiram o soerguimento da Europa Ocidental. Ao final da década de 1950 a região voltava a apresentar um amplo desenvolvimento industrial (SARAIVA, 2008, p.202)

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Após o período de grande necessidade de trabalhadores para reconstrução no pós guerra, o migrante acaba sendo para muitas nações considerado um inconveniente. A migração se torna indesejável geralmente em períodos de recessão da economia. O baixo crescimento causado por fatores internos ou externos, causando poucas ofertas de emprego tende a causar nas políticas governamentais o recrudescimento nas fronteiras.

Costa e Reusch (2016) esclarecem que a força de trabalho dos imigrantes foi e é muito importante para as economias nacionais dos países desenvolvidos. No entanto, em momentos de recessão econômica e falta de empregos eles passam a ser vistos como fatores desfavoráveis, uma vez que constituem geralmente uma mão de obra menos qualificada e por isso mais suscetível ao desemprego em momentos de recessão causando mais problemas sociais.

É fundamental destacar a importância dos imigrantes para o estabelecimento das economias nacionais da maioria dos países desenvolvidos, assim, eles não podem agora ser vistos como um peso apenas porque a situação não está favorável (COSTA; REUSCH, 2016, p.278).

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos é um exemplo de como os imigrantes estão sendo culpabilizados pelos problemas inerentes a sociedade capitalista que passa por uma de suas crises. Com a queda nas taxas de emprego, procurou-se buscar “culpados” para as mazelas vividas e estes culpados foram os imigrantes latinos. A proposta de recrudescimento nas políticas migratórias, a construção de um muro que os separaria do México, dentre outras propostas segregacionistas fizeram parte da campanha vencedora do pleito eleitoral.

Se em tempos de “boa onda” econômica os mexicanos eram bem aceitos para fazer trabalhos que os estadunidenses não queriam fazer, hoje são tidos como os culpados pela falta de emprego. Buscar no outro o problema é sempre uma saída mais fácil que aceitar as próprias falhas.

Na Europa, a política antimigratória tornou-se lema de partidos políticos. Assim, o crescimento de partidos políticos de direita em diversos países, como Alemanha, França, Inglaterra e Itália, é preocupante. Nas últimas eleições na Alemanha, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve 12,9% dos votos com um discurso islamofóbico e antieuropeu.

Os avanços dos partidos neonazistas nas últimas eleições foram um alerta para a nova onda de nacionalismo provocado pela crise, onde os imigrantes, sobretudo muçulmanos, são tidos como inimigos. A volta do Partido Nacional Democrático ao parlamento alemão é um sinal claro de que mesmo em sociedades tidas como de primeiro mundo e que passaram por processos tão traumáticos, ainda pode surgir movimentos extremamente excludentes.

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Apesar das atrocidades do período de Guerra terem levado às agendas políticas a necessidade de proteção aos Direitos Humanos contra abusos cometidos pelos Estados culminando com a criação da Organização das Nações Unidas (1945) e a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, os períodos de crise ainda trazem a tona movimentos de segregação.

As novas roupagens do capital excluem milhões de pessoas do acesso aos instrumentos básicos para sobrevivência. Busca-se culpar o outro por movimentos internacionais que controlam as economias e deixam milhões de pessoas sem onde viver.

A corrida pelos recursos naturais (petróleo e gás) no oriente médio tem sido fator de instabilidade política na região há muitos anos. O reflexo são as constantes ações militares de grupos rebeldes e governistas, colocando a população em risco e levando-as a buscar na migração uma alternativa para sobreviver.

O relatório Tendências Globais (2017) mostra um crescente número de pessoas forçadas a deixar seu local de origem, pois cerca de 65 milhões de pessoas estão nessa condição. Desses, o número de refugiados (uma das categorias) chegou a 22,5 milhões.

A Síria continua sendo o país de origem de maior parte dos refugiados, com cerca de 5,5 milhões. O conflito interno gera outro problema que está se tornando comum, o deslocamento interno. Síria, Iraque e Colômbia respondem pelos maiores deslocamentos internos forçados, número que chegou a 6,9 milhões no último ano (2016).

A tendência, como mostra o relatório, é a intensificação nos fluxos migratórios. Do total de pessoas que deixaram seu local de origem, pouco mais de 10 milhões o fizeram pela primeira vez. O que preocupa ainda mais a ONU é o elevado número de crianças, que chega a ser mais da metade dos migrantes (ACNUR, 2016).

Os países que mais recebem os imigrantes, ao contrário do que se pensa, são os subdesenvolvidos. Cerca de 84% das pessoas são recebidas por países próximos às regiões de conflito, como a Turquia e o Paquistão.

O conflito na Síria continua fazendo do país o local de origem da maior parte dos refugiados. São 12 milhões de pessoas que estão deslocadas internamente ou fora do país, sendo obrigadas a solicitar refúgio. Nesse ínterim, em 2016 o Sudão do Sul (país da região sul da África) registrou o êxodo de mais de 1,85 milhões de pessoas, número que, somado aos deslocamentos internos, chega a mais de 1,9 milhões.

O relatório mostra um intenso deslocamento de pessoas que saem do Sudão do Sul em direção aos países vizinhos, principalmente Uganda, Etiópia, Sudão, Kenya e Congo. Geralmente os países vizinhos são os que acabam recebendo a maior quantidade de imigrantes e não os países

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desenvolvidos como se tem noticiado. O relatório nos permite perceber a necessidade de se apoiar esses países e não promover a segregação.

O Brasil não está alheio aos fluxos migratórios e até o ano de 2016 havia reconhecido 9.552 pessoas de 82 nacionalidades na condição de refugiado. O maior número de concessões no período foi aos sírios (326), seguido pelos provenientes do Congo (189), do Paquistão (98), da Palestina (57) e de Angola (26).

Os pedidos de refúgio em 2016, em comparação com o ano de 2015, tiveram uma diminuição, segundo o relatório de Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). A principal causa foi à diminuição de haitianos que procuravam o Brasil como destino. Mesmo assim, cresceu muito o número de solicitações provenientes de venezuelanos, chegando a ser um terço do total de pedidos, registrando um aumento de 307%.

Diante disso, o Brasil precisa se adequar às novas tendências de migrações e se preparar para atender às necessidades dos novos tempos. Não se pode criminalizar o imigrante e tratá-lo como caso de polícia. O acolhimento humano com legislação adequada, encaminhando essas pessoas para atendimento adequado pode fazer toda a diferença.

Nesses momentos cresce a xenofobia contra os grupos de pessoas considerados indesejados. Mesmo no Brasil tido como um país acolhedor foram registrados diversos atos contra estrangeiros venezuelanos (que vivem uma crise econômica severa), haitianos (na sua maioria na condição de refugiados pela catástrofe ambiental), ainda libaneses (fugindo da guerra civil) e africanos.

Sayad (1998) argumenta haver nos países de destino a percepção que os imigrantes são transitórios, apenas buscam melhores condições momentâneas para mais tarde retornar aos seus países de origem. Mesmo contrastando com a realidade, essa justificativa alimenta atos xenofóbicos de tentativas de expulsão física e simbólica.

A presença de estrangeiros no espaço nacional é normalmente considerada como provisória, mesmo que a realidade desminta essa representação. A ruptura com esse pensamento resulta em argumentos utilizados em muitas ações xenofóbicas, contrárias a alteridade, como uma maneira de justificar que o estrangeiro não pertence aquele lugar, que causa problemas para a sociedade local e que deve, portanto, ser fisicamente expulso – além da expulsão simbólica que ocorre nas práticas cotidianas em relação a esses sujeitos. (SAYAD, 1998, p. 98).

São muitas as causas de deslocamentos forçados, destacando motivações causadas pelo aquecimento global que deve tornar as catástrofes ambientais mais frequentes e tendem a causar um movimento migratório ainda maior que os vistos durante e o após a Segunda Guerra. A elevação dos níveis dos mares (combinado com uma grande população que vive nas costas), os constantes

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fenômenos de inversões térmicas causadores de furacões, tornados e ciclones, tende a deixar milhões de pessoas desabrigadas.

Outros fatores causadores de migrações forçadas são conflitos religiosos, como no caso de Myanmar (antiga Birmânia), onde milhões de muçulmanos foram e estão sendo mortos e obrigados a deixar o país, ou o caso do Sudão do Sul na África onde milhares foram mortos ou expulsos nos conflitos das etnias locais.

Os conflitos envolvendo etnias são geradores de instabilidade política como, por exemplo, em Bangladesch, Nepal, Costa do Marfim, Mianmar, entre outros. Segundo dados do relatório da ONU “I am Here, I Belong: the Urgent Need to End Childhood Statelessness” (2015) são cerca de 10 milhões de pessoas vivendo na condição de apátrida no mundo apresentando um grande problema para as Relações Internacionais. Sem contar os milhões de refugiados.

Os desafios dos Estados se tornam cada vez maior na tentativa de conciliar povos que reivindicam espaços em face de outros. O caso mais conhecido é a criação do Estado Israel, originalmente fundado para abrigar o povo judeu que se encontrava disperso desde a diáspora, acabou por inflamar a guerra com os muçulmanos que viviam na mesma região.

Israel rapidamente se tornou uma potência militar fortemente financiada pelos Estados Unidos, avançou as fronteiras delimitadas dificultando a criação de um Estado Palestino. Eric Hobsbawm afirma:

A principal força de perturbação (no oriente médio) era Israel, onde os colonos judeus construíram um Estado judeu maior que o que fora previsto sob a partilha britânica (expulsando 700 mil palestinos não judeus), talvez um número maior que a população judia em 1948, lutando uma guerra por décadas para isso (HOBSBAWM, 2014, p.351).

Neste cenário o Brasil teve seus altos e baixos na política migratória, desde o “descobrimento” tivemos ondas de imigrantes portugueses que trouxeram milhões de africanos na condição de escravos, posteriormente veio a ideia de branqueamento da população com o incentivo da vinda de italianos, poloneses, alemães, ucranianos, entre outros.

As restrições eram pouco vistas. Foram poucas as vezes que as leis se preocuparam em organizar a distribuição dos imigrantes no território nacional. Geralmente eram motivados pela ideia de segurança nacional, limitando a quantidade de pessoas oriundas do mesmo país de ficarem muito próximos, ou ainda não permitindo a entrada de doentes e em alguns casos daqueles que mendigavam ou se prostituíam.

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No período militar a vinda de estrangeiros era tida como um problema de estrema importância, pelo temor da entrada de comunistas ou aqueles tidos como indesejáveis para a ideia de país que os militares buscavam.

Hoje, estamos diante de um cenário de crescimento de grupos preconceituosos no Brasil e no Mundo. Os problemas causados pelos conflitos de poder sejam eles religiosos, territoriais, políticos, entre outros tantos, geram milhões de desabrigados/despatriados. As políticas governamentais devem encarar esses problemas buscando melhorar as condições de vida dessas pessoas vítimas desses processos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Avançar em políticas públicas de acolhimento ao migrante é um desafio cada vez maior para os Estados. Entender que todos fazemos parte de um único planeta com problemas a serem enfrentados por todos é um desafio ainda maior.

Quando se coloca o ser humano, ou melhor a vida humana a frente de interesses econômicos, a transformação passa a ser uma perspectiva mais real. Receber o outro não como inimigo, fugindo do processo binário imposto pela sociedade abre muitas possibilidades.

Se no pós-guerra a Europa se viu em uma situação de desastre, hoje com a economia recuperada e aproveitando-se de mão de obra imigrante, impõem barreiras as suas ex-colônias exploradas nas mais diversas áreas, impossibilitando o acesso ao seu território.

REFERÊNCIAS

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