• Nenhum resultado encontrado

São Pedro da Ericeira de 1622 a 1855: estudo demográfico

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "São Pedro da Ericeira de 1622 a 1855: estudo demográfico"

Copied!
321
0
0

Texto

(1)UNIVERSIDADE DO MINHO INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS. SÃO PEDRO DA ERICEIRA DE 1622 A 1855 Estudo demográfico. Maria da Conceição Coelho dos Reis. Guimarães 2003.

(2) UNIVERSIDADE DO MINHO INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS. SÃO PEDRO DA ERICEIRA DE 1622 A 1855 Estudo demográfico. Dissertação de mestrado em História das Populações. Maria da Conceição Coelho dos Reis Orientação: Professora Doutora Maria Norberta Amorim. Guimarães 2003.

(3) ÍNDICE. Introdução. 1. Capítulo I - São Pedro da Ericeira – uma apresentação. 4. Capítulo II - Metodologia e fontes. 13. 1. A metodologia..............................................................................................15 2. As fontes ......................................................................................................17 Capítulo III - A Nupcialidade. 21. 1. Sazonalidade dos casamentos ......................................................................22 2. Idade dos nubentes ao primeiro casamento ..................................................25 2.1 Idade média ao primeiro casamento ...................................................25 2.2 Repartição por grupos de idades ........................................................28 2.3 Idades combinadas dos nubentes solteiros..........................................29 3. Viuvez e recasamento..................................................................................32 4. Celibato definitivo.......................................................................................34 5. Naturalidade dos nubentes............................................................................37 6. Considerações finais sobre a nupcialidade ....................................................39 Capítulo IV - A Fecundidade. 40. 1. Movimento sazonal dos nascimentos...........................................................41 2. Repartição dos nascimentos segundo os sexos .............................................44 3. Taxas de fecundidade legítima e idade média da mãe ao nascimento do último filho ......................................................................................................45 4. Influência da idade ao casamento nas taxas de fecundidade legítima ...........48 5. Ausência de filhos segundo a idade da mulher ao casamento .......................50 6. Espaçamento dos nascimentos.....................................................................51 6.1 Intervalo protogenésico......................................................................52 6.2 Intervalos intergenésicos sucessivos ..................................................57 7. Número de filhos nascidos por união...........................................................59 8. Duração das uniões .....................................................................................62. ii.

(4) 9. Distribuição das famílias completas segundo o número de filhos.................63 10. Concepções pré-nupciais, ilegitimidade e abandono ...................................66 10.1 Concepções pré-nupciais .................................................................67 10.2 Ilegitimidade....................................................................................70 10.3 Abandono ........................................................................................73 11. Considerações finais sobre a fecundidade ...................................................74 Capítulo V - A Mortalidade. 75. 1. Sazonalidade dos óbitos ..............................................................................77 1.1 Sazonalidade ao óbito dos menores de sete anos .................................77 1.2. Sazonalidade ao óbito dos maiores de sete anos .................................79 2. Mortalidade excepcional .............................................................................80 2.1 Mortalidade de crise dos menores de sete anos ...................................81 2.2 Mortalidade de crise dos maiores de sete anos ....................................84 3. Mortalidade infantil.....................................................................................90 4. Mortalidade geral. Esperança de vida. .........................................................92 5. Considerações finais sobre a mortalidade .....................................................98 Capítulo VI - Uma aproximação à Mobilidade. 99. 1. Opções metodológicas...............................................................................100 2. Mobilidade associada ao casamento ..........................................................102 3. Estadias de curta duração: os refugiados da 3ª Invasão Francesa................105 4. Uma aproximação à emigração: os ausentes aos recenseamentos militares de 1856 a 1860 ...................................................................................................107 5. Considerações finais sobre a mobilidade ....................................................109 Capítulo VII - Evolução e estrutura da população. 110. 1. Movimento de casamentos e de nascimentos ..............................................111 2. Movimento de óbitos..................................................................................114 3. Evolução de quantitativos populacionais ....................................................116 4. Estrutura da população ...............................................................................119 Conclusão. 122. Fontes............................................................................................................125. iii.

(5) Bibliografia....................................................................................................127 Índice de quadros...........................................................................................133 Índice de gráficos...........................................................................................135 Apêndice genealógico ....................................................................................136. iv.

(6) Introdução A escolha do mestrado em História das Populações resultou do interesse que tenho em estudar, com a maior profundidade possível, a vida de uma comunidade em período de Antigo Regime, um estudo que pretendo multifacetado, abrangendo homens e instituições, dinâmicas sociais e estratégias de poder – projecto ambicioso, que só tem viabilidade se faseado. A Ericeira é um desafio para quem persegue esse objectivo. Concelho em miniatura, limitado à Vila mas com fortes ligações ao meio rural envolvente, o seu território reduzido alimenta as esperanças do investigador de poder “apanhar” a complexidade de fenómenos sociais não visíveis – e muito menos compreensíveis – numa escala superior. A existência de um rico e não explorado espólio documental a atestar a vivência quotidiana dos que a habitaram é mais um factor a apelar à investigação. Esta atracção cedo se revelou, concretizando-se em trabalhos de investigação que exploraram principalmente (mas não só) o riquíssimo fundo documental da Santa Casa da Misericórdia. Uma certa insatisfação, porém, acompanhou a conclusão desses trabalhos, uma vontade de ir mais longe na investigação, de saber mais. As questões que ficavam por responder eram sempre da mesma índole – referiam-se aos indivíduos investigados, ao seu posicionamento na comunidade, à própria comunidade. Quem eram, que idade tinham, em que contexto familiar e social viviam... Estas eram as interrogações que recorrentemente surgiam, quer se estudasse a forma como a pirataria muçulmana actuara sobre os marítimos da Vila, quer se estudassem os critérios de distribuição de dotes que a Misericórdia atribuía anualmente a jovens pobres que pretendiam casar, quer se estudasse o processo de constituição da própria instituição. Assim, aos poucos, foi-se formando a convicção de que era imprescindível começar por conhecer a população naquilo que ela tinha de mais elementar – os seus actos vitais, o encadeamento genealógico dos indivíduos que a constituíam, os seus comportamentos demográficos – se se pretendia abordar, de forma consistente, a vivência daquela comunidade no passado. Propus-me, deste modo, reconstituir a paróquia de São Pedro da Ericeira e realizar o estudo de micro-análise demográfica que a paróquia reconstituída propicia, utilizando para esse fim a metodologia desenvolvida por Maria Norberta Amorim.. 1.

(7) Estava no campo da Demografia Histórica tal como a entende Luiza Marcílio1: uma ciência que pretende descobrir os fenómenos vitais (o nascer, o reproduzir-se, o morrer) mas que, nessa descoberta, atrás das taxas e dos coeficientes revelados, descobre também uma complexidade de factores que vão do puramente biológico ao social, económico e ecológico, dos comportamentos individuais e das atitudes colectivas até ao nível das mentalidades. A metodologia de reconstituição de paróquias assenta em fontes de origem paroquial – os livros de registo dos baptismos, dos casamentos e dos óbitos. Para S. Pedro existem, em relativo bom estado de conservação, livros paroquiais a partir de 1622. A série prossegue ininterrupta e disponível na Torre do Tombo até 1896, excepto para os registos de baptismo, que terminam dois anos antes. Atendendo às limitações de tempo que este tipo de trabalho sempre comporta foi necessário definir os marcos temporais do mesmo. E se era de toda a conveniência fazer recuar o estudo até ao início da série, já o fim levantou algumas dúvidas – inicialmente pensado para terminar em 1820, foi prolongado até 1855 de forma a contemplar importantes perturbações de âmbito demográfico que se percebeu existirem para além da data previamente estipulada. Prolongou-se a observação, por esse motivo, até 1855, fazendo-se coincidir o fim da análise com o ano da extinção do concelho da Ericeira. Paróquia em que coexistiram três importantes grupos sócio-profissionais – marítimos, proprietários/negociantes e rurais – teria sido de todo o interesse uma análise diferencial dos fenómenos demográficos. A menção da profissão dos intervenientes nos actos, porém, só se torna sistemática na década de sessenta do século XIX, o que inviabilizou essa abordagem. Sempre que justificável e quando a dimensão da amostra o permitia confrontei o comportamento demográfico dos residentes no núcleo urbano – a Vila – com o dos residentes na sua envolvente rural. Privilegiei ainda a análise comparativa entre paróquias do continente localizadas em zonas geográficas distintas e com sistemas de organização social diversificados. Compilei 13.090 nascimentos, 3.502 casamentos e 8.885 óbitos. Reconstitui numa primeira fase as famílias, estabeleci depois os elos genealógicos entre elas, e finalmente desmembrei-as criando uma base de dados com as “histórias de vida” de 16.426 indivíduos, conseguindo uma amostra sólida sobre a qual trabalhar.. 1. Marcílio, Maria Luiza (org.) – Introdução. In População e Sociedade: Evolução das sociedades préindustriais, p. 11.. 2.

(8) Trabalho minucioso, paciente e por vezes saturante, mas também altamente gratificante. Pela minha mão passou a vida – e também a morte – de todos os que deixaram rasto na freguesia entre 1622 e 1855. E se para o observador comum o resultado final aparece com a aura de rigor e frieza que os números transmitem, para quem compilou pacientemente a informação há uma realidade social muito forte que se esconde por detrás de cada quadro ou gráfico. Recusei, de um modo geral, as intenções interpretativas. Julgo que só cruzando as variáveis demográficas com as variáveis socioculturais e económicas se poderá, com algum rigor, tentar hipóteses explicativas. Mas aí estaremos no campo da História Social. As pistas estão, contudo, abertas, para que outros trabalhos com diferentes enfoques se venham a desenvolver.. 3.

(9) CAPÍTULO I. São Pedro da Ericeira – uma apresentação A vila da Ericeira, situada no litoral atlântico, dista de Mafra, sede do concelho, cerca de 9 quilómetros e de Lisboa aproximadamente 40. Por mar, está 24 milhas marítimas a sul de Peniche e cerca de 12 milhas a norte do Cabo da Roca. A freguesia do mesmo nome ocupa, actualmente, uma área de 12,1 km2 e confronta com as freguesias de S.to Isidoro, de Mafra e da Carvoeira. O seu litoral é talhado sobre uma linha de arribas elevadas, que tanto se encontram em contacto directo com o mar como separadas deste por depósitos areníticos de largura e extensão variáveis. O planalto rochoso, de 30 a 60 metros de altitude, é sulcado por vários cursos de água de caudal intermitente. O solo, argiloso e batido pelo vento marinho, não possui aptidão agrícola, estando a freguesia classificada. como. área. predominantemente. urbana2.. Na. plataforma continental, entre os cabos da Roca e Carvoeiro, o mar da Ericeira – uma extensa bacia arredondada com uma profundidade de cerca de 100 metros e com 20 quilómetros de diâmetro – é rico em diversas espécies marinhas3. O concelho da Ericeira foi instituído por foral concedido aos moradores da Vila por Fernão Rodrigues Monteiro, Mestre da Ordem de Avis, em 1229. D. Manuel confirmou-o em 1513, aquando da reforma geral dos antigos forais. O concelho estava confinado à Vila, não tendo termo. Pela reforma administrativa de 24 de Outubro de 1855 foi extinto e integrado como freguesia no vizinho concelho de Mafra, mantendo sensivelmente os contornos geográficos da sua paróquia. A paróquia de S. Pedro da Vila da Ericeira é bem mais recente do que o concelho: só em 1530, por decisão do juiz eclesiástico encarregado de julgar a acção intentada pelos moradores da Vila que se queixavam de ter de percorrer uma légua de mau caminho para receberem os sacramentos, é que os Beneficiados da Igreja de Santo André de Mafra se viram obrigados a colocar, na então capela de S. Pedro, um capelão. 2 3. Retrato da Freguesia da Ericeira [On-line]. Portugal: INE, Julho 2003. O Restabelecimento do Concelho da Ericeira: Percurso Histórico desde 1855, p. 200-201.. 4.

(10) residente com carta de cura de almas. Na decisão do juiz pesou o facto da população da Ericeira ultrapassar já, nessa data, os quatrocentos indivíduos4. Uma descrição sumária mas precisa do que era a paróquia em meados do século XVIII dá-a o pároco Lucas Palhano Cordovil na Memória com que responde ao inquérito lançado em 1758 a todas as paróquias do reino5: Ericeira c. Torres Vedras 1. Esta Villa fica na Provincia da Estremadura, he do Patriarchado de Lisboa, e Comarqua de Torres Vedras. 2. He senhorio della, ao prezente, o Marquez do Louriçal. 3. Tem trezentos e sincoenta e tres vizinhos, pessoas de comunhão mil cento e oito, menores cento e quarenta e sete. 4. Está cituada junto a hum monte sobre roxa vizinha ao mar, della se descobrem a Serra de Cintra, e Convento de N. Sra da Penha, que dista tres legoas. 5. Tem seu termo tão pequeno, que nelle não tem povoação algua. 6. A sua Parochia fica quazi fora da villa, e nesta freguesia se comprehende o Lugar de Fonte boa dos nabos, que está no termo de Mafra. 7. O seu orago he S. Pedro, e tem sinco Altares, o mór em que está o SS mo Sacramto e tem na boca da Tribuna as Imagens de S. Pedro e S. João Evangelista, fora do cruzeiro a de S. Sebastião, N. Senhora da Conceyção, do Rozario e de S. Miguel; e tem hua nave som te . Tem tres Irmandades, a de S. Pedro, S. Sebastião e Almas. 8. O seu Parocho he Cura e aprezentado pelo Em. mo Sr Cardeal Patriarcha, e renderá huns annos por outros oitenta mil rs.. 12. Tem Mizericordia, a qual foi instituida por Francisco Lopes Franco, com consentimto do povo, e a dotou com quatro centos mil rs., e a confirmou S. Magde, ficando elle e seus sucessores sendo Padroeiros della, e terá mais de renda, hum anno por outro, cento e sincoenta mil rs., com que com correm os pescadores da ditta Villa por contrato feito com o ditto instituidor na sua ereção. 13. Tem tres Ermidas hua no meyo da Villa, junto ao mar de N. S ra da Boa Viagem (vocação do Forte que ha, o qual está muy arruinado) e fora da Villa, da parte do Sul junto ao mar a de S ta Marta, que são administradas pelo povo, outra da parte do Norte de S. Sebastião que é administrada pela sua Irmandade. 15. O fruto que os moradores recolhem em mayor abundancia he vinho. 16. Tem Ouvidor, que nomeia o Senhorio della, dous Juizes ordinarios e officiaes da Camara, que o mesmo Senhorio confirma. 22. Tem hua feira em 25 de Julho, que he franca dois dias. 23. Não tem correyo, mas serve-se do da villa de Mafra, que dista desta hua legoa. 24. Dista de Lisboa seis legoas. 25. Tem o privilegio de se não fazerem soldados nesta villa, por serem os moradores della obrigados á guarnição do seu Forte. 24. Tem porto do mar em costa braba, todo cheyo de pedras e não admite mais embarcações que as de pescar, ou pouco mayores. 26. No terremoto de 1755 padeceo muito aballo em todas as cazas, de que ficarão muitas paredes abertas, e quazi tudo está repa[ra]do. Aos interrogatorios que aqui faltam não ha que responder.. 4 5. Silva, J. d’Oliveira Lobo e – Anais da Vila da Ericeira, p. 134-135. Diccionario Geographico, vol.13, nº 28, p. 229.. 5.

(11) Se fizemos apelo a este documento foi porque achámos que ele fornecia elementos importantes para tentarmos perceber o espaço em que se movimentava e o modo como vivia a comunidade sobre a qual incide este trabalho, no tempo que ele estuda. A Ericeira de hoje é uma Ericeira cosmopolita, virada para o turismo, quase sucumbindo sob a pressão urbanística. Perante este cenário dificilmente a imaginação consegue reconstruir a rusticidade de que se revestia a vida na Vila há trezentos, duzentos ou mesmo cem anos.. A paróquia de São Pedro da Ericeira em meados do século XIX*. Fonte: [Carta dos Arredores de Lisboa]: folha 32, editada pelo Estado Maior do Exército em 1897. * - Limites da paróquia desenhados por nós tendo em conta a população assistida.. A Vila, muito antiga, foi sempre essencialmente marítima. Localizada no topo de uma arriba sobranceira ao mar, em relativa segurança face aos corsários muçulmanos6, desenvolveu-se à volta do pequeno porto natural em forma de concha. A 6. Sobre o impacto da pirataria muçulmana ver, de M. Conceição Reis – A Pirataria Argelina na Ericeira do Século XVIII.. 6.

(12) sua paróquia, por englobar também, devido à proximidade geográfica, o lugar de Fonte Boa dos Nabos e alguns casais dispersos do vizinho termo de Mafra – um concelho eminentemente rural –, tinha uma composição mais diferenciada. No cômputo geral, porém, o peso da população rural era diminuto7. As actividades marítimas – tanto a pesca como, principalmente, a cabotagem – ocupavam no passado a maioria da população activa e eram o suporte da economia da Vila. Os numerosos produtos que circulavam através do porto da Ericeira (os mais importantes sendo o milho, de que a região era carente e que as rascas da Ericeira carregavam nos portos de Viana e de Caminha, e o vinho e derivados, de que era excedentária e que encaminhava predominantemente para o sul) alimentavam uma ampla rede de distribuição que se estendia muito para além do limite geográfico da paróquia e que requeria agentes com elevado poder económico, sendo previsível (embora ainda não estudada) a existência de uma elite de “homens de terra” detentora de largos capitais. Os “homens do mar”, organizados na sua corporação marítima cuja direcção cabia aos mestres das embarcações, formariam certamente o grupo social mais estruturado. A importância do porto da Ericeira como entreposto comercial durante a primeira metade do século XIX é atestada pela existência de uma alfândega na Vila, cuja jurisdição se estendia de Cascais até à Figueira da Foz8. O início da exploração do caminho de ferro enquanto meio de transporte preferencial a partir de meados do século XIX ir-se-á reflectir negativamente no transporte marítimo costeiro9. O pequeno mas florescente porto da Ericeira entrará em decadência, utilizado a partir de então quase exclusivamente para abrigo das embarcações de pesca artesanal. Será preciso aguardar pelo fim do século para se assistir ao renascer das actividades ligadas ao mar, desta vez através da instalação, por investidores de Cascais, de armações de pesca de sardinha para fins industriais, facto que trará à Ericeira novas técnicas e novas gentes10. Será uma retoma de curta duração, que se esgotará pouco anos depois de terminada a 1ª Grande Guerra. É também por essa época – finais do século XIX – que as mentalidades se abrem face à natureza, determinando comportamentos que rasgarão novos rumos à pacata vila 7. Segundo o Mappa da divizão parochial da Comarca de Mafra – apresentado com mais detalhe noutra parte do trabalho – a população rural corresponderia, em 1864, a 17% da população da paróquia. 8 Silva, J. d’Oliveira Lobo e – ob. cit., p. 154. 9 Alegria, Maria Fernanda – A organização portuária portuguesa e a sua evolução de 1848 a 1910, Revista de História Económica e Social, nº 15 (1985), p. 1-29. 10 Silva, J. d’Oliveira Lobo e – ob. cit., p. 99.. 7.

(13) piscatória. As preocupações com o corpo e com a saúde levam a burguesia endinheirada a procurar o contacto com o mar – ao banho de mar é reconhecido inicialmente valor terapêutico, mas aos poucos, à medida que os corpos se libertam, é assumido como puro prazer11. Os jogos, os piqueniques e os saraus animam a vida da Ericeira nos três meses de Verão. Esta mudança traduz-se, para as gentes da terra, numa fonte de receita complementar, cujo peso irá aumentando com o correr do tempo. Condições naturais favoráveis – praia de banhos abrigada com extenso areal, mar rutilante e fortemente iodado, clima ameno – associadas à hospitalidade das gentes, às características típicas da malha urbana, à atracção que representava a actividade piscatória sempre presente (a faina, a lota, o colorido do porto) foram os atributos que tornaram a Ericeira procurada por um cada vez maior número de pessoas. Frequentada no fim do século XIX por famílias aristocráticas de Lisboa detentoras de casa própria, a procura do descanso à beira-mar foi-se gradualmente alargando às famílias da classe média, que se deslocavam à Ericeira para aí passarem a época balnear em casas alugadas aos naturais da Vila. Vinham predominantemente de Lisboa, mas também do Ribatejo e mesmo do Alentejo12. A Ericeira dota-se então de centros de diversão para satisfazer os veraneantes: sala de teatro, casino, animatógrafo... Estrutura-se em função do turismo e assume duas vidas determinadas pela sazonalidade – uma durante o verão, animada e cosmopolita, outra no inverno, pacata e provinciana13. Nos anos sessenta do século XX o turismo de praia adquire nova dinâmica. Mais e mais pessoas procuram a orla marítima para passar férias no Verão, umas férias mais curtas e usufruídas preferencialmente entre Julho e Setembro. A Ericeira, já com longa tradição como local de vilegiatura junto ao mar, acusa os efeitos dessa dinâmica. Novas infra-estruturas surgem – hotéis, pensões e estalagens onde dormir, restaurantes e cafés onde conviver, que se enchem não apenas com nacionais mas também com estrangeiros. Nos anos setenta, com o advento da “semana inglesa” e com a massificação do automóvel como meio de deslocação, alteram-se os hábitos – os indivíduos já não procuram o mar exclusivamente para passar as férias mas também para o descanso do fim de semana. A sazonalidade adquire novos ritmos, mais curtos. Ao verão – a época alta – segue-se, durante o resto do ano, a alternância entre os dias úteis e os fins de 11. Corbin, Alain – Coulisses. In Philippe Ariès e George Duby (dir.) – Histoire de la Vie Privée, vol. 4, p. 561-562. 12 O Restabelecimento do Concelho da Ericeira..., p. 212-218. 13 Sobre os ritmos sazonais na Ericeira ver, de Rita Jerónimo – Sazonalidade e Tradição: A construção social do tempo na vila da Ericeira.. 8.

(14) semana. Surge o conceito de segunda habitação, adquirida ou alugada ao ano. Como consequência a pressão urbanística aumenta de forma explosiva, tomando de assalto as colinas da envolvente rural. A Vila torna-se um presépio, o núcleo antigo preservado quase miraculosamente pela Estrada Nacional que o contorna. E foi a indústria do turismo que tomou o lugar que outrora pertencera à actividade marítima enquanto dinamizadora da economia da Vila. A pesca, aos poucos, tem-se vindo a extinguir. O molhe, que defendia o porto das investidas do mar, cedeu há alguns meses perante a força das vagas. E a praia dos Pescadores – também chamada praia do Peixe, ou da Ribeira, ou do Porto – foi, no verão de 2002, concessionada como praia de banhos. Toldos e chapéus de sol substituíram os barcos varados na areia, toalhas coloridas espraiam-se onde antes havia redes, a euforia dos banhistas contrasta com a sisudez dos pescadores... Mas falar da Ericeira – do que ela é hoje e do que foi ontem – é falar, forçosa e acima de tudo, do mar. Foi ele que condicionou e continua a condicionar a vida das gentes que, por um motivo ou por outro, aqui aportaram. Temos vindo a caracterizar, na longa duração, o espaço, os recursos, os modos de vida na paróquia de São Pedro da Ericeira, agora freguesia da Ericeira. Falta, nesta apresentação que se quer breve, falar da sua população. A ocupação humana da Ericeira tem particularidades que decorrem da sua actual vocação turística e que impõem a diferenciação entre população residente (aquela que nos interessa analisar) e população flutuante, aquela que em determinadas épocas do ano e por períodos mais ou menos curtos se instala na Vila por motivos de lazer. Só para se ter uma ideia do peso desta segunda componente recorremos ao censo de 2001 e verificámos que, enquanto o número de famílias residentes era de 2576, o número de alojamentos familiares ascendia a 6314, ou seja, cerca de duas vezes e meia o número daquelas. Valores que não nos servem para estimar efectivos humanos em períodos de pico estival, pois os dados apenas reflectem o número daqueles que nas suas permanências temporárias na Ericeira utilizam habitação própria. Para sabermos como evoluiu a população residente utilizámos os censos de 2001 a 1864, que apresentamos em quadro. Calculámos também as relações de masculinidade da população aos censos por poderem fornecer pistas interessantes sobre emigração diferencial.. 9.

(15) QUADRO 1 EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE (1864-2001). População residente. Ano do censo. Relação de. Alojamentos. H/M. H. M. masculinidade. ou Fogos. 2001. 6597. 3325. 3272. 101,6. 6314*. 1991. 4538. 2201. 2337. 94,2. 4280*. 1981. 4635. 2305. 2330. 98,9. 2720*. 1970. 2420. 1180. 1240. 95,2. -. 1960. 3445. 1601. 1844. 86,8. 965. 1950. 3463. 1656. 1807. 91,6. 922. 1940. 3116. 1493. 1623. 92,0. 1132. 1930. 2626. -. -. -. 868. 1920. 2695. -. -. -. 734. 1911. 2617. -. -. -. 702. 1900. 2572. -. -. -. 737. 1890. 2519. -. -. -. 723. 1878. 2903. 1372. 1531. 89,6. 803. 1864. 3111. 1495. 1616. 92,5. 885. * - Identificados como “alojamentos”(1981) ou “alojamentos familiares”(1991 e 2001).. A população apresenta uma evolução irregular. A um decréscimo gradual até ao fim do século XIX, sucede-se um período de trinta a quarenta anos de estagnação. O censo de 1940 apresenta uma evolução positiva notável, tendência que se manterá na década seguinte. Ao censo de 1960, que reflecte uma década de crescimento nulo, segue-se uma quebra importante revelada pelo censo de 1970. A população quase duplica no censo seguinte, mantendo-se depois estável. Finalmente, no censo de 2001, a população evidencia um crescimento extraordinariamente elevado. Não podemos deixar de colocar a hipótese de que a emigração (para o Brasil? para Lisboa?) esteja na origem da retracção das últimas décadas do século XIX e da estagnação das primeiras décadas do século XX. Sabe-se que a actividade marítima entrou em crise a partir de meados do século XIX e, sendo o suporte da economia local, deve ter contribuído para desestruturar os restantes sectores. Não podemos também esquecer que foi nessa mesma época que o concelho da Ericeira foi extinto, com todos os efeitos negativos daí decorrentes: redução das receitas autárquicas, redução do aparelho administrativo, redução do investimento público local, devendo estes factores ter conduzido à partida de um número significativo de residentes. Por outro lado, o 10.

(16) turismo levou décadas até se tornar uma indústria consolidada. Até lá servia como complemento às economias domésticas debilitadas, era uma ajuda para os tempos difíceis do inverno quando retirar o sustento do mar era uma incerteza. De qualquer modo, se a emigração está na origem da recessão dos contingentes populacionais, ela deve ter sido em grande parte suportada por ambos os sexos, já que as relações de masculinidade não acusam grandes distorções. O abrandamento do crescimento da população nos anos 50 do século XX poderá estar ainda associado à crise económica já equacionada, continuando a emigração a ser a explicação mais plausível para a retracção da população, uma emigração que agora eventualmente se dirigia a outros destinos (África? França? Lisboa?). A relação entre os efectivos do sexo masculino e os do sexo feminino – desfavorável aos primeiros – dá consistência a esta hipótese. O censo de 1970 levanta-nos muitas dúvidas quanto à validade dos valores que apresenta. É verdade que se viviam momentos de intensa emigração para os países ricos da Europa e que um número significativo de jovens alimentava a guerra colonial, hipóteses de explicação adiantadas por Alexandre Sarmento quando tenta interpretar os resultados do censo de 1970 e a redução de efectivos verificada em quase todos os distritos do país14. Mas os resultados do censo são uma “estimativa a 20% dos questionários de alojamento recolhidos”, com uma margem de erro previamente calculada e considerada aceitável pelos seus divulgadores15. Inclinamo-nos para que essa margem de erro possa ter sido excedida em alguns casos e que resida nesse facto a “anormalidade” dos dados encontrados para a Ericeira quando comparados com os dos censos enquadrantes. A evolução positiva que se verifica nas últimas décadas pode derivar não apenas de uma maior estabilidade dos naturais, mas da tendência que se verifica por parte de pessoas que viviam e trabalhavam em Lisboa para transferirem as suas residências habituais para a Ericeira, quer por se terem aposentado, quer porque as melhorias da rede rodoviária entre a Ericeira e a capital já permitem fazer diariamente esse percurso com relativa comodidade. A população da Ericeira é o objecto do nosso estudo, um estudo de microanálise demográfica que situámos entre 1622 e 1855. Servindo-nos da informação. 14. Sarmento, Alexandre – 11º Recenseamento da População do Continente e Ilhas adjacentes - 1970, Revista do Centro de Estudos Demográficos, n.º 19 (1971), p. 161-176. 15 Censo de 1970 – estimativa a 20% , vol. I. Nota introdutória.. 11.

(17) colhida nos censos modernos observámos como a população evoluiu entre 1864 e 2001. Regrediremos agora no tempo, entrando no período pré-estatístico. Para atingirmos os objectivos que nos propusemos teremos de recorrer a metodologias e a fontes adequadas, próprias da Demografia Histórica. É disso que trataremos em seguida.. 12.

(18) CAPÍTULO II. Metodologia e fontes O objectivo deste trabalho é, como já referimos, desenvolver o estudo analítico dos comportamentos demográficos da população residente na paróquia de São Pedro da Ericeira no período balizado pelos anos de 1622 e de 1855, correspondendo o primeiro marco à disponibilidade de fontes históricas adequadas à prossecução do estudo e o segundo ao ano em que o concelho da Ericeira, por reforma administrativa, foi extinto e incorporado como freguesia no concelho de Mafra. Estudar as populações do passado sob o prisma enunciado é o objecto da Demografia Histórica enquanto disciplina autónoma, uma disciplina que utiliza métodos de historiador na organização das fontes e técnicas de demógrafo no apuramento dos indicadores clássicos das variáveis demográficas16. Embora o interesse pelas populações e pela sua quantificação se manifestasse desde os primórdios da estruturação dos Estados – em Portugal através de inquirições, arrolamentos, listas paroquiais, numeramentos e outros –, a primeira abordagem científica incidindo sobre uma população deve-se a John Graunt, que em 1662 publicou um estudo baseado nas bills of mortality londrinas. É ainda de Inglaterra que procede, já em finais do século XVIII, o polémico estudo que relaciona população e subsistências, da autoria do pastor Thomas Malthus, advogando o celibato em castidade dos pobres como medida preventiva contra o crescimento da população acima do nível permitido pelos recursos. O francês Achille Guillard utilizou, em 1855 e pela primeira vez, o termo Demografia, à qual associava duas dimensões – num sentido amplo abrangeria a história natural e social das populações, num sentido restrito ocupar-se-ia do conhecimento matemático das populações tomado sob várias perspectivas. As definições da Demografia evoluíram até à Segunda Guerra Mundial para uma óptica mais fechada que privilegiava o rigor do quantitativo. Contrariando esta tendência, A. Landry, em 1945, chama a atenção para a dimensão qualitativa da disciplina. É do reconhecimento destas duas vertentes na mesma ciência – a quantitativa e a qualitativa – que irão surgir os vários ramos da Demografia17. Também com o pós-guerra surge, entre os demógrafos, um interesse novo pelo estudo dos fenómenos demográficos incidindo sobres as populações do passado. Um 16 17. Amorim, M. Norberta – Demografia Histórica: um Programa de Docência, p. 7. Nazareth, J. Manuel – Introdução à Demografia: Teoria e Prática, p. 64-70.. 13.

(19) dos aspectos que convocava a atenção dos especialistas relacionava-se com o comportamento da fecundidade legítima em período pré-estatístico – uma fecundidade que se cria perto da natural – e o acompanhamento da sua evolução até se atingir o novo regime demográfico, este caracterizado por atitudes de controlo voluntário da natalidade. Em suma, procurava-se uma análise longitudinal do fenómeno da fecundidade. Essa abordagem requeria a exploração de novas fontes e uma metodologia adequada à sua organização em moldes tais que tornasse viável a aplicação, aos dados assim obtidos, dos métodos de análise estatística próprios da Demografia. A Demografia Histórica – a nova disciplina vocacionada para a análise longitudinal dos fenómenos demográficos – obteve a sua certidão de nascimento em 1956, com a publicação da metodologia desenvolvida por Louis Henry, demógrafo, e por Michel Fleury, arquivista, sobre os registos paroquiais franceses. Em termos muito sumários, a metodologia de reconstituição de famílias de Fleury/Henry – designação por que ficou conhecida – visava agrupar, numa única ficha de família, todos os actos vitais respeitantes a um mesmo casal e à sua descendência, possibilitando a análise demográfica posterior. A informação sobre os casamentos, nascimentos e óbitos era recolhida nos livros de registo paroquiais em séries contínuas, registada em fichas de acto e depois organizada por famílias, tendo como fio condutor o nome dos indivíduos. Largamente utilizada em estudos monográficos desenvolvidos um pouco por todo o lado, apresentou algumas dificuldades quando aplicada sobre os registos paroquiais portugueses. Coube a Maria Norberta Amorim desenvolver, de forma independente, uma metodologia alternativa mais adaptada às nossas fontes paroquiais. Foi essa metodologia que, como já referido, utilizámos neste trabalho.. 14.

(20) 1. A metodologia Desenvolvida por Maria Norberta Amorim, a metodologia de reconstituição de paróquias, no seu estádio actual, reflecte os aperfeiçoamentos sucessivos que a experiência de muitos anos da autora trabalhando no campo da Demografia Histórica e as novas tecnologias informáticas foram tornando possíveis18. Não vamos ser exaustivos na apresentação da metodologia – ela é por demais conhecida pelos que se interessam pela Demografia Histórica. Evocaremos apenas as etapas principais do seu desenvolvimento, a metodologia tal como se apresenta hoje e, por último, a forma como a utilizámos. Foi em 1971, ao pretender estudar os movimentos das séries vitais da população da paróquia transmontana de Rebordãos, que Norberta Amorim gizou a sua metodologia de reconstituição de famílias que, em desenvolvimento posterior permitido pelo suporte informático, viria a alargar-se à reconstituição de paróquias. O aspecto mais importante a ressaltar é que não se tratou de uma adaptação da metodologia de Fleury/Henry aos registos portugueses, mas de uma abordagem diferente e original tendo em vista alargar o campo da pesquisa demográfica. O preenchimento de fichas de acto para os baptismos, casamentos e óbitos ainda esteve presente, tal como no método de Fleury/Henry. Mas a utilização de cadernos alfabetados e do primeiro nome do chefe de família como índice no processo de identificação das famílias; a abertura das fichas de família a partir do nascimento do primeiro filho (ou do casamento, no caso de famílias não fecundas), fichas onde ia sendo englobada toda a informação relacionada com os membros do agregado familiar; o enriquecimento das fichas de casamento e de óbito por cruzamento com as fichas familiares, num processo de acompanhamento da vida dos indivíduos – são aspectos inovadores e que diferenciam a metodologia de reconstituição de famílias utilizada em Rebordãos da metologia francesa. No início dos anos oitenta o método seria aperfeiçoado no sentido de maior economia de tempo e de maior rigor. O registo dos actos de baptismo em ficha própria foi abolido por a sua informação ser, na quase totalidade, redundante em relação à que era registada nas fichas de família, e por se mostrar mais eficaz o processo de inserção da criança na família através do cruzamento a partir da fonte. Esta simplificação foi ensaiada no trabalho desenvolvido sobre S. Pedro de Poiares. 18. Amorim, M. Norberta – Uma Metodologia de Reconstituição de Paróquias, Braga, 1991. Também: Evolução demográfica de Três Paróquias do Sul do Pico: 1680-1980, p. 13-41. Muitos mais trabalhos da autora haveria a referir, mas a descrição mais detalhada da metodologia encontra-se nestas duas obras.. 15.

(21) O passo seguinte foi dado ainda nos anos oitenta – o recurso à informática permitiu não só a organização mais célere dos actos vitais em fichas de família, como o cruzamento posterior dessa informação “de forma a acompanhar, em encadeamento genealógico, a história de vida de cada residente, tenha ele nascido na paróquia, entrado nela pelo casamento ou simplesmente nela ter falecido”19. Passou-se deste modo da reconstituição de famílias à reconstituição de paróquias, e o novo método foi aplicado com sucesso sobre a reconstituição de três paróquias do sul do Pico. A reconstituição de paróquias processa-se em três fases. A primeira fase corresponde à reconstituição das famílias, tem por base os registos de nascimento, de casamento e de óbito, e pressupõe um trabalho aturado de crítica e de cruzamento de fontes; a segunda fase, inteiramente automática, corresponde à criação de fichas individuais dos naturais da paróquia a partir do cruzamento e do desmembramento das fichas de família, e nelas consta não apenas a informação sobre os actos vitais do indivíduo mas também os respectivos elos genealógicos; a terceira fase, manual, corresponde a um trabalho sistemático de revisão e de apuramento da informação tanto sobre as fichas de família como sobre as fichas de indivíduo, destacando-se a marcação nas fichas de família de datas correspondendo ao início e ao fim da observação (nos casos pertinentes) e a sua classificação segundo uma tipologia convencional, assim como a inclusão nas fichas individuais dos não naturais da paróquia para os quais existam actos vitais. O produto final serão dois ficheiros informáticos – um com a informação organizada por família, o outro com a informação organizada por indivíduo – prontos para serem utilizados no estudo dos fenómenos demográficos ou para, enriquecidos por cruzamento com outras fontes, servirem de base a estudos no âmbito da história social ou da família. Na execução deste trabalho seguimos rigorosamente a metodologia de reconstituição de paróquias desenvolvida por Norberta Amorim, embora apoiando a organização da informação em programas desenvolvidos por nós sob ACCESS, o que nos permitiu levar mais longe a automatização dos procedimentos, agilizar as pesquisas nominais e prescindir do registo paralelo em papel. Respeitámos a estrutura dos dois ficheiros finais de forma a não gerar incompatibilidades difíceis de ultrapassar na fase de apuramento dos indicadores demográficos. Não utilizámos quaisquer convenções relacionadas com datas de início e/ou de fim da observação – equivalentes a entradas e. 19. Amorim, M. Norberta – Uma Metodologia de Reconstituição de Paróquias, p. 4-5.. 16.

(22) saídas da paróquia – por desajustadas face a problemas de identificação e de sub-registo que enfrentámos no trabalho com as fontes e face às características sociais, económicas e culturais que julgamos estarem associadas à paróquia de São Pedro da Ericeira durante o período em estudo.. 2. As fontes A metodologia de reconstituição de paróquias utiliza os registos paroquiais de baptizados,. casamentos. e. óbitos. como. fontes. de. informação. privilegiada.. Opcionalmente, a base de dados construída a partir dos registos paroquiais pode ser complementada e consolidada pelo cruzamento com outras fontes nominais, quer de origem paroquial quer civil. Como exemplo das primeiras temos os róis de confessados e das segundas os recenseamentos eleitorais ou militares. No nosso trabalho utilizámos apenas os registos paroquiais – a dimensão da paróquia e as limitações de tempo que estes trabalhos sempre comportam não nos permitiu ir mais longe. Recolhemos 13.090 nascimentos, 3.502 casamentos, 8.885 óbitos ao longo dos 233 anos que são objecto do nosso estudo e que organizámos inicialmente em famílias para depois as desmembrarmos em “histórias de vida” de cada residente encadeadas genealogicamente. Dispusemos de séries ininterruptas, desde 1622, dos três tipos de acto. A sua exploração, porém, nem sempre resultou fácil, a qualidade dos registos dependendo em primeira instância do cuidado e do rigor do redactor mais do que das normas existentes ou hierarquicamente recomendadas. É sobre essas dificuldades e sobre a forma como elas se reflectem na base de dados, produto final da reconstituição da paróquia, que faremos incidir a nossa atenção. Os livros paroquias de São Pedro da Ericeira encontram-se depositados na Torre do Tombo, em Lisboa. Com início em 1622, a série prolonga-se sem lacunas até 1894 para os baptismos e até 1896 para os casamentos e para os óbitos. É constituída por 48 livros – 3 livros mistos e os restantes 45 livros dedicados a um só tipo de acto. Embora parte dos livros se encontre microfilmada, foi-nos permitido trabalhar sobre os originais. O estado de conservação dos livros mistos é mau, apresentando-se estes corroídos pela acidez da tinta e fragilizados pela humidade. O livro Misto 1 apresenta quatro folhas cortadas na parte dedicada aos baptismos (fls. 64 a 67v), o que provoca um hiato na informação entre 17 de Junho de 1646 e 10 de Outubro de 1649. Os 17.

(23) restantes livros da série estão razoavelmente conservados embora a corrosão provocada pelo tipo da tinta utilizada nos assentos esteja presente em muitos deles, sendo ainda a leitura dificultada pelo trespasse da mesma. Quanto ao conteúdo, os registos que apresentam maior qualidade na informação são os de casamento – nome próprio e apelido dos nubentes, estado, naturalidade, filiação, local de residência dos pais, identificação das testemunhas, nome do cônjuge defunto quando se trate de viúvo ou de viúva, são elementos quase sempre presentes. A informação sobre a paróquia onde os noivos cumpriram os preceitos quaresmais nos três anos anteriores ao casamento é comum a partir de finais do século XVII, mas já é rara no século XIX. Os assentos de nascimento são pobres em informação: nome próprio da criança, data de baptismo e de nascimento (esta a partir de 1720), filiação, estado civil dos pais e nome dos padrinhos. Não há, durante todo o período, qualquer referência aos avós, à profissão ou à idade dos intervenientes adultos, o que aliás é comum aos três tipos de registo (baptizados, casamentos e óbitos). Os registos de óbito vão perdendo qualidade à medida que avançamos no tempo: perde-se a informação quanto à situação em que ocorreu o óbito, aos sacramentos administrados, aos sufrágios, ao testamento e testamenteiros, e à situação económica do defunto, mantendo-se apenas a sua identificação, naturalidade, estado e filiação se solteiro (por vezes só o nome do pai) e local de residência. Se esta é a linha geral verificada, não significa que todos os redactores a tenham seguido da mesma forma – o procedimento que se observa mais frequentemente é a tendência para registos cada vez mais sucintos, existindo períodos em que numa única página se registaram catorze actos de baptismo, o que atesta da sua pobreza. As maiores dificuldades encontradas advêm, como é já comum encontrar referido em trabalhos que utilizam os registos paroquiais como fontes nominais, da inexactidão dos redactores quando identificam os intervenientes nos actos. Terra de gente simples, os paroquianos de S. Pedro usavam, quando adultos, apenas o nome próprio e um apelido (ou alcunha). Só a partir de meados do século XVIII alguns elementos do sexo masculino usam dois apelidos, muitas vezes por adopção da alcunha como nome de família, não atingindo estes casos 25% das famílias constituídas durante a fase de reconstituição da paróquia. A situação agrava-se quando se reporta às mulheres – o seu segundo nome, adoptado no acto do casamento, é constantemente alterado, substituído por nomes considerados equivalentes pelo pároco quando de algum modo ligados à mãe de Jesus (Conceição equivalendo a Rosário, ou a Maria, ou a 18.

(24) Assunção, para só mencionar alguns), ou pelo nome da respectiva mãe, ou por um nome aleatoriamente atribuído e alterado de filho para filho. Situação que se agrava, como é óbvio, com o costume de atribuir o nome de Maria à primeira filha (ou às seguintes se esta falece). Uma dificuldade sentida pelos próprios párocos, como testemunha o depoimento do pároco Bernardo de Faria quando, em Setembro de 1674, é chamado a baptizar uma criança do sexo feminino: “registei a Maria, a qual lhe queriam pôr por nome Rosa Maria, e pondo eu dúvida, lhe puserão por nome Maria. E fasso esta declaração porque nesta tão pequena terra ha a maior duvida nos nomes das pessoas que a meu ver ha em outra parte da Christandade”. Foi a existência de numerosos casais homónimos e as alterações frequentes verificadas nos nomes das mulheres-mães – uma tendência que se agravou em finais do século XVIII e prosseguiu por todo o século XIX até ao fim do nosso trabalho – que mais problemas nos levantou e cujas consequências nefastas só o esforço e a persistência conseguiram minimizar. Os registos de óbito são frequentemente referidos como constituindo outro problema difícil de ultrapassar por quem pretende através deles estudar o fenómeno da mortalidade ou saber quando faleceram os membros de uma paróquia em reconstituição. É clássico o sub-registo quase completo da mortalidade das crianças menores de sete anos até períodos bastante tardios, assim como também é clássico o pouco cuidado que os párocos punham na identificação do indivíduo quando registavam o seu óbito, principalmente tratando-se de adultos solteiros ou de viúvos. Os registos paroquiais da Ericeira não representam excepção nem nos problemas de sub-registo nem nos de identificação ao óbito. Contudo, no que respeita ao registo da mortalidade dos “menores”, verificou-se que ele se processou de forma sistemática desde 1741, em período mais recuado, portanto, do que o verificado em outras zonas do país, nomeadamente no norte. Quanto ao sub-registo geral ao óbito e à falta de elementos que permitissem a identificação do indivíduo defunto, um factor decisivo contribuiu para reduzir o efeito negativo da habitual falta de rigor – a existência de um livro Índice, realizado a partir dos livros paroquiais pelo pároco Manuel Maria Ferreira, trabalho que este iniciou em 1858. Este pároco realizou, com extremo rigor, índices para os três tipos de acto e para toda a série desde 1622. Utilizámos o dos óbitos, depois de aferido pelos respectivos livros de registo. O pároco Manuel Ferreira não só trasladou os assentos como recuperou do cartório paroquial inúmeras notas de óbito que nunca foram transcritas para os livros, diminuindo drasticamente o sub-registo em alguns períodos. Sempre que lhe foi possível corrigiu os elementos de identificação errados e 19.

(25) acrescentou os que se encontravam em falta (nomes do cônjuge ou dos pais). Teve ainda o cuidado de deixar perceptível qual a informação adicionada por ele (que colocou entre parênteses) e qual a original. Em termos de sub-registo grave em todos os tipos de acto há a registar o período entre 1798 e 1805, em que foi pároco o P.e José Franco de Matos. Sempre que anomalias nas fontes paroquiais possam redundar em distorção dos resultados na fase de apuramento dos indicadores demográficos, não só relembraremos detalhadamente a situação anómala original como estabeleceremos, para cada caso, o método mais eficaz de evitar distorções.. 20.

(26) CAPÍTULO III. A Nupcialidade Iniciar o estudo demográfico de uma comunidade do passado pela análise da Nupcialidade, é uma abordagem já clássica nos trabalhos que utilizam a metodologia de reconstituição de paróquias de Norberta Amorim. A justificação mais frequentemente invocada radica no facto do matrimónio religioso, em período de Antigo Regime, marcar o início do período reprodutivo dos casais, condicionando desta forma a fecundidade legítima. Com efeito, em Portugal, a Igreja Católica cedo desenvolveu uma pastoral virada para a aplicação dos preceitos tridentinos, nomeadamente no que se referia à obrigatoriedade dos casais sacramentarem a sua união antes de iniciarem a vida em comum. Matéria regulamentada nas Constituições Sinodais, a sua aplicação prática era. acompanhada. pelos. visitadores. eclesiásticos,. enviados. a. inspeccionar. periodicamente as paróquias da diocese20. O esforço frutificou, e embora ainda em 1720, em Carta Pastoral21, o então Patriarca de Lisboa Dom Tomás de Almeida se visse na necessidade de relembrar a matéria aos fiéis, não é abusivo considerar que o processo da renovação das gerações se iniciava com o casamento religioso e que assim se manteve, sem contestação, até meados do século XIX. Iniciar o estudo demográfico de uma comunidade pela análise da Nupcialidade apresenta ainda a vantagem de proporcionar ao investigador, desde cedo, um campo de reflexão muito alargado. Variável fortemente influenciada (e condicionada) por elementos de ordem económica, social e cultural, a observação do comportamento dos seus indicadores conduz – mesmo que involuntariamente – à formulação de hipóteses explicativas que não se confinam ao campo demográfico. Deste esforço resulta uma aproximação multi-facetada à comunidade, que enriquecerá, certamente, as análises posteriores.. 20. Pelos capítulos de algumas visitações que chegaram até nós apercebemo-nos como estava entranhado, em São Pedro da Ericeira, o velho uso que permitia aos “esposos de futuro” viverem em comunhão. Ver a este respeito Visitações e Pastorais de São Pedro da Ericeira: 1609-1855, p. 134. 21 Visitações ..., p. 140-142.. 21.

(27) 1. Sazonalidade dos casamentos Alterações de comportamento em relação à sazonalidade dos fenómenos demográficos no passado, requer, em geral, a observação de períodos longos. O casamento não é excepção – reflexo de práticas culturais e de modos de vida das populações, só a média duração permite a observação de mudanças significativas nas opções dos indivíduos quanto ao mês do casamento. Optámos, assim, por dividir o período em estudo em dois sub-períodos de cerca de cem anos (1622-1719 e 17201819) e num terceiro, já no século XIX e em período perturbado pela mudança do regime político, de trinta e cinco anos (1820-1855).. QUADRO 2 SAZONALIDADE DOS CASAMENTOS. Evolução do comportamento Índices 1622-1719. 1720-1819. 1820-1855. Janeiro. 152. 144. 230. Fevereiro. 211. 142. 126. Março. 26. 17. 22. Abril. 56. 97. 65. Maio. 74. 83. 68. Junho. 64. 68. 91. Julho. 76. 143. 58. 107. 95. 136. Setembro. 88. 114. 79. Outubro. 97. 107. 98. Novembro. 243. 164. 170. Dezembro. 7. 27. 58. Agosto. 22.

(28) GRÁFICO 1 SAZONALIDADE DOS CASAMENTOS. Evolução do comportamento Índices 300. 250. 200 1622-1719 1720-1819. 150. 1820-1855 100. 50. Dez. Nov. Out. Set. Ago. Jul. Jun. Mai. Abr. Mar. Fev. Jan. 0. Observando o quadro dos valores mensais por período e o gráfico respectivo verificamos que, ao longo dos quase dois séculos e meio, existe um padrão comum aos três períodos. Comecemos por Novembro, mês em que as frequências dos casamentos se elevam bruscamente, sendo o preferido pelos nubentes dos dois primeiros períodos para se unirem; o mês de Dezembro, de interdito religioso imposto pelo Advento, quebra a subida, apresentando-se como o mês com menos casamentos entre 1622-1719, e o segundo nos restantes períodos; em Janeiro e Fevereiro o número de casamentos volta a ser extraordinariamente elevado; no mês de Março, o respeito pelo preceito quaresmal restringe os casamentos a valores insignificantes; de Abril a Outubro as frequências apresentam valores medianamente baixos, excepto em Julho ou Agosto, alternadamente, quando o número de casamentos se eleva a valores próximos dos verificados em meses de inverno. A existência desta constância não impede, porém, que se verifiquem alterações quando se desce a uma análise mais fina. Ressalta o período intermédio, entre 17201819, em que os picos e as quebras se apresentam mais esbatidos, os meses de inverno para os quais não existem restrições religiosas e o mês de Julho praticamente nivelados. A maior homogeneidade observada nestes cem anos, porém, não se manterá entre 18201855, acentuando-se novamente as discrepâncias entre os vários meses ainda que de forma menos evidente do que entre 1622-1719. Também a atitude face aos preceitos. 23.

(29) religiosos acusa evolução, a aproximação à contemporaneidade traduzindo-se num menor respeito pelos interditos, especialmente os relacionados com a época adventícia. Pensamos que a distribuição dos matrimónios pelos diversos meses do ano está intimamente ligada à sazonalidade das actividades que garantem a subsistência das populações. Sendo a paróquia de São Pedro da Ericeira constituída por duas comunidades distintas – uma, largamente maioritária, que vive essencialmente do mar e residindo na Vila, outra, de pequena dimensão, que vive da terra e dispersa pela periferia rural – achámos interessante comparar o comportamento das duas comunidades face ao mês do casamento.. GRÁFICO 2 COMPARATIVO DA SAZONALIDADE DOS CASAMENTOS (1622-1855). Índices 350 300 250 Paróquia. 200. Vila 150. Rural. 100 50. Dez. Nov. Out. Set. Ago. Jul. Jun. Mai. Abr. Mar. Fev. Jan. 0. Como se pode verificar pelo gráfico comparativo, o comportamento das duas comunidades, ao longo dos cerca de 230 anos que estudámos, é distinto. A periferia rural apresenta os matrimónios mais concentrados nos meses de Novembro, Janeiro e Fevereiro, mantendo valores baixos de Abril a Outubro, precisamente quando o trabalho nas hortas e na vinha requerem mão de obra intensiva. Já no núcleo urbano os casamentos estão mais dispersos, podendo esta dispersão corresponder a uma maior heterogeneidade da população – se é verdade que a actividade marítima é a que ocupa a maioria da população, os homens de negócios e os oficiais mecânicos também aí residem. Os meses de inverno, em que as condições climatéricas adversas obrigam à redução das actividades ligadas ao mar, são aqueles em que mais se casa; na primavera 24.

(30) a actividade marítima recomeça em força, numa tentativa de repor as economias domésticas debilitadas, retardando os casamentos; no verão, casa-se em Julho e em Agosto, meses de calmaria no mar e de festa em terra.. 2. Idade dos nubentes ao primeiro casamento O estudo dos indicadores ligados à idade com que os indivíduos se casavam é extremamente interessante, não apenas porque permite detectar situações de mudança associáveis a alterações da conjuntura económica, mas também porque fornece elementos para uma maior compreensão dos hábitos culturais da comunidade. Acresce ainda – e agora de um ponto de vista puramente demográfico – que o estudo da idade ao casamento produz informação da maior relevância para a interpretação do comportamento da variável com que mais directamente se interliga, a fecundidade legítima. A nossa abordagem privilegiou a análise transversal do fenómeno, interessados que estamos em encontrar períodos de mudança, mais do que comportamentos geracionais. Desprezámos, na nossa observação, os quarenta e oito anos iniciais, de forma a garantir o tratamento adequado de todos os nascidos dentro do nosso período de observação. Como trabalho prévio, ensaiámos periodizações decenais para as idades média, mediana e modal, na tentativa de identificarmos mudanças significativas nos comportamentos. Adoptámos, finalmente, a mesma periodização que já utilizáramos no estudo da sazonalidade: três períodos, o primeiro entre 1670 e 1719, o segundo, mais longo, com início em 1720 e terminando em1819, e o último entre 1820 e1855.. 2.1 Idade média ao primeiro casamento. Respeitando a periodização encontrada, calculámos a média, a moda e a mediana das idades dos nubentes solteiros, assim como a sua distribuição por percentis. Apresentamos o respectivo quadro e o gráfico com as idades médias ao primeiro casamento depois de normalizadas pelo método das médias móveis.. 25.

(31) QUADRO 3 IDADE MÉDIA DOS NUBENTES AO 1º CASAMENTO. (por períodos). ------------------ Homens ------------------Período. Obs.. ------------------- Mulheres ------------------. Idades Média. Modal 25. Obs. Percentis 50 75. Idades Média Modal 25. Percentis 50 75. 1670-1719. 178. 28,4. 23/25. 24,1 27,7 32,1. 227. 26,0. 23. 21,7. 24,6 29,6. 1720-1819. 902. 26,5. 24. 23,2 25,7 28,8. 1057. 23,7. 21. 20,7. 22,9 25,7. 1820-1855. 485. 27,9. 28. 24,4 27,5 30,7. 518. 25,0. 21. 21,9. 24,4 27,6. GRÁFICO 3 IDADE MÉDIA AO 1º CASAMENTO. (médias móveis de 3 décadas) 31 29 27 25 23 21 19 17. Homens. 1850-1855. 1840-1849. 1830-1839. 1820-1829. 1810-1819. 1800-1809. 1790-1799. 1780-1789. 1770-1779. 1760-1769. 1750-1759. 1740-1749. 1730-1739. 1720-1729. 1710-1719. 1700-1709. 1690-1699. 1680-1689. 1670-1679. 15. Mulheres. Numa primeira constatação, apercebemo-nos de que o período intermédio (1720-1819) apresenta uma baixa notória na idade média dos nubentes de ambos os sexos quando comparada com o período anterior: uma redução de 1,9 anos para os homens e de 2,3 anos para as mulheres, e que coloca as idades médias ao primeiro casamento respectivamente em 26,5 e em 23,7 anos. Essa queda na idade ao casamento, regular durante cerca de um século como ressalta do gráfico das médias móveis, é em certa medida recuperada no período seguinte (1820-1855), embora de forma menos gravosa: mais 1,4 anos para os indivíduos do sexo masculino e mais 1,3 anos para os do sexo feminino. 26.

(32) Em termos de distribuição, apercebemo-nos que 75 % da população masculina que casou pela primeira vez o fez até aos 32,1 anos entre 1670-1719, até aos 28,8 entre 1720-1819 e até aos 30,7 entre 1820-1855. A mesma observação feita sobre a população feminina resulta em idades até aos 29,6 anos (1670-1719), até aos 25,7 anos (17201819) e até aos 27,6 anos (1820-1855). Quando analisamos a diferença de idades entre os dois sexos – muito clara no gráfico – verificamos a constância com que os homens se apresentavam ao casamento mais tarde do que as mulheres. É uma tendência que se acentua de período para período: 2,4 anos mais velhos no primeiro período, 2,8 anos no segundo e 2,9 no terceiro. Coloca-se-nos agora a questão de saber se os naturais de S. Pedro casavam tendencialmente mais cedo ou mais tarde que os seus contemporâneos nascidos noutras regiões. Tentámos um quadro comparativo, procurando estudos que, utilizando a mesma metodologia, incidissem sobre populações com características distintas. Elegemos: Romarigães, uma paróquia rural do Alto Minho; a zona urbana de Guimarães, no Baixo Minho; Selmes, uma paróquia rural no Baixo Alentejo; e uma paróquia algarvia, Conceição de Tavira, essencialmente agrícola à época.. QUADRO 4 QUADRO COMPARATIVO DA IDADE MÉDIA AO 1º CASAMENTO. Região. Paróquia. Períodos. Alto Minho. Romarigães (1). Guimarães. Estremadura. Zona urbana (2). Ericeira. Homens. Mulheres. 1690-1749. 23,0. 27,9. 1750-1799. 26,8. 27,0. 1800-1849. 24,3. 27,8. 1700-1779. 24,8. 24,4. 1780-1819. 24,3. 22,5. 1670-1719. 28,4. 26,0. 1720-1819. 26,5. 23,7. 1820-1855. 27,9. 25,0. Baixo Alentejo. Selmes (3). 1820-1859. 25,0. 22,5. Algarve. Conceição de Tavira (4) 1737-1799. 25,8. 23,8. 1800-1849. 25,4. 22,5. Fontes: (1) Santos, Carlota M. F. - Santiago de Romarigães, Comunidade Rural do Alto Minho, p.126. (2) Amorim, M. Norberta B. - Guimarães de 1580 a 1819. Estudo Demográfico, p. 89 e 104. (3) Godinho, Anabela Silva Comportamentos Demográficos de uma Freguesia Rural do Baixo Alentejo: Selmes (séculos XVIII-XIX), p.26. (4) Pinto, José A. de Faria – Estudo Demográfico de uma Paróquia Algarvia: Conceição de Tavira (Séculos XVIII-XIX), p. 31-32.. 27.

(33) Da comparação com a paróquia rural do Alto Minho sobressai de imediato a diferença de comportamento quando se observa a idade relativa com que os dois sexos contraíam matrimónio – as mulheres apresentando-se ao casamento com idade superior à dos homens –, e quando se observa a idade média elevada com que as mulheres se casavam – superior a 27 anos em todo o período –, esta última verificação parecendo corresponder a uma tendência das paróquias rurais da região minhota22. Encontrámos mais afinidades com o núcleo urbano de Guimarães e com as paróquias rurais do sul, os homens casando mais velhos do que as mulheres e estas casando com idades idênticas ou inferiores às das ericeirenses; de notar, contudo, que os homens da Ericeira se casavam mais tardiamente do que os naturais de Guimarães ou das paróquias mais a sul.. 2.2 Repartição por grupos de idades. Mantendo a mesma periodicidade que utilizámos nas observações anteriores, verificámos a proporcionalidade com que se distribuíam, por intervalos etários de cinco anos, os casamentos realizados na paróquia entre 1670-1855.. QUADRO 5 REPARTIÇÃO POR GRUPOS DE IDADES AO 1º CASAMENTO. % Homens. Mulheres. 1670-1719. 1720-1819. 1820-1855. 1670-1719. 1720-1819 1820-1855. <15. 0. 0. 0. 1. 0. 0. 15-19. 2. 3. 3. 13. 18. 10. 20-24. 29. 40. 27. 39. 50. 45. 25-29. 35. 38. 41. 23. 23. 32. 30-34. 21. 14. 22. 14. 6. 8. 35-39. 9. 4. 5. 7. 2. 3. 40-44. 2. 1. 1. 2. 1. 1. 45-49. 1. 0. 1. 0. 0. 0. 50 e mais. 1. 0. 0. 0. 0. 0. A repartição por grupos de idades vem confirmar os resultados anteriores. Com efeito, a maioria dos homens casa-se entre os 20 e os 29 anos (64% no período entre 22. Ver, sobre os comportamentos demográficos do Minho, o trabalho de síntese de M. Norberta Amorim – O Minho: comportamentos demográficos através da informação paroquial, Ler História, n.º 36 (1999), p. 9-43.. 28.

Imagem

GRÁFICO 1
GRÁFICO 2
GRÁFICO 3
GRÁFICO 4
+7

Referências

Documentos relacionados

Os estudantes deverão apresentar pelo menos um seminário (em dupla ou individualmente) ao longo do curso, os quais versarão sobre temáticas propostas por mais de um

Já o salto horizontal, durante a aterrissagem dos membros inferiores (não mensurou o efeito do piso) o atleta recebe uma força de impacto em N de 2,5 x a massa corporal total 19

Também foi aplicado o Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares, com o objetivo de identificar a presença de queixas de dor entre os participantes,

NOME DO EMPREGADO ANTONIO HILARIO RIQUERME ANTONIO HILARIO RIQUERME ANTONIO HOBOL ANTONIO HOBOL ANTONIO HOBOL ANTONIO HOBOL ANTONIO HOBOL ANTONIO JOSE CASTRO DO NASCIMENTO ANTONIO

Jose Mario Frasneli Maria Luiza Machado Menten Daneila Cacuso Bellarde dos Santos. Jose Inacio Barbosa de Garcia Francisco dos Santos Neto Francisco

a) Desenvolvimento inicial do problema. b) Elaboração de comentário metodológico sobre artigo da área. d) Leitura dos textos e participação nas conversas sobre questões

- Termo de Acordo para Apoio na Desocupação das Áreas de Risco – Mais recente- mente, no dia 30 de dezembro de 2019, houve o consenso quanto a pactuação de Termo de Acordo para

CONCLUSION: Taken sets, our results demonstrate that the adoption of different exercise training programs (intermittent high intensity or continuous moderate) to the short-term