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Os Direitos das Minorias sob Proteção da ONU

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FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 18, n. 1/2, p. 49-65, jan./fev. 2008. 4949494949

Resumo: o problema das minorias constitui um fenômeno que interessa ao mundo inteiro, isto é, relações pacíficas entre minoria e maioria e entre minoria e governo. O respeito à identidade de qual-quer grupo é parte de um recurso precioso para a sociedade multidistinta e com múltiplas etnias. A diversidade de culturas, costumes, línguas e religiões são fatores que hoje em dia ainda seguem abrindo abismos entre os povos. Contudo, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e as Nações Unidas conseguiram importantes mudanças nesta aproximação, diminuindo as diferenças e promovendo o de-senvolvimento destas pessoas.

Palavras-chave: minorias, intolerância, ONU, direitos essen-ciais, país de acolhida

Ângela Maria Aires Teixeira

OS DIREITOS DAS MINORIAS SOB A PROTEÇÃO DA ONU*

E

ste tema não deve ser tratado somente sob um ponto de vista eminen-temente jurídico. Certamente teremos que, sem nenhuma pretensão de sermos experts nas matérias de ordem sociológica, cultural, geográfico e ainda econômica, abordarmos algumas vezes sobre elas, com os quais está intimamente ligado.

A questão minoria é antes de tudo de natureza eminentemente social. A origem dos deslocamentos são a fome, a falta das expectativas básicas de vida normal, a perseguição e a proibição de professar determinada religião. Dentro disto se extrai o fato de que estes grupamentos de pessoas, são originados geral-mente de maneira involuntária. Por isto a força de coesão entre seus membros deve ser forte para sua própria sobrevivência e proteção. Talvez a tolerância de antanho em que povos diferentes viviam (ou sobreviviam) com seus

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tes ou como minoria dominada, se converteu em uma consciência própria de seus reclamos. Levy-Strauss1 (apud STEINER; ALSTON, 1996, p. 1000) se

aprofunda neste tema quando define a diversidade de cultura

como um fenômeno natural, porém os povos têm mais tendência a considerar a diferença como algo anormal e ultrajante [segue ainda dizendo da existência de] reações cruéis, antipatia instintiva, repug-nância para o modo de vida ou crenças, aos quais nos não estamos acostumados e a que denominamos bárbaros.

DEFINIÇÕES

Segundo Humprhey (apud STEINER; ALSTON, 1996), o termo minorias significa “grupos dentro de um país que diferem do grupo domi-nante na sua cultura, religião, língua e os quais usualmente desejam manter e cultivar sua própria identidade cultural, lingüística e religiosa”. Também sinalizando que a expressão “proteção das minorias” poderia ser normalmente “ambas incluídas como proteção à discriminação e contra a assimilação”

(HUMPREY apud STEINER; ALSTON, 1996, p. 1003)2.

Chama muita atenção o aspecto protecionista contra a assimilação, este é um fator de relevante importância no mundo globalizado, em que este processo evolutivo e de desenvolvimento rápido conduz a massa a um com-portamento uniforme, principalmente dos costumes.

O eminente professor Steiner (1996) defende o uso do termo étnico como palavra de referência para todas as minorias semelhantes, qualquer que seja suas distintas características, a partir daqui usados para grupos di-versos como os negros e judeus nos EUA, ciganos na Hungria, Kurdos no Iraque, Russos na Georgia, Tamil no Sri Lanka, coptos no Egito, turcos na Alemanha. A questão deste tipo de definição englobando tais minorias, tende a ser muito mais complexa, porque etnia somente se aplica aos negros, kurdos e turcos. Os demais não são etnia propriamente dita porque seus arraigos em países diferentes como os judeus e ciganos não os faz ser uma etnia porque houve a miscigenação. Sabemos que os judeus sefardím (ascendência espanhola, marroquina) e asquenazím (ascendência alemã, eslava) são fisicamente dife-rentes, incluindo os costumes, tendo entre si somente a unidade religiosa. Os ciganos espanhóis são diferentes dos existentes no Brasil. Os coptos no Egito são legítimos egípcios com a diferença apenas da crença religiosa porque são cristãos e não muçulmanos como a maioria egípcia. Para Yacoub (1995) os grupos estáveis que possuem elementos de continuidade, as minorias

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cas são consideradas simultaneamente minorias lingüísticas. Habitualmente uma língua comum é o coração da própria cultura de uma minoria étnica.

Para caracterizar um grupo dentro de um estado como minoria, esta nos conta um pouco sobre sua situação política, econômica e cultural. As relações com a maioria dominante ou com outras minorias são amigáveis ou hostis. A minoria deve ser bem integrada, às vezes em direção à assimilação voluntária ou devem ser ambas as duas rechaçadas pelos grupos dominantes e tenta manter seu próprio caráter distinto.

Ressaltando o critério objetivo em que o grupo em questão deve constituir uma minoria não dominante da população (relevantemente pe-queno porcentual da população ainda que seja um substancial número de pessoas) e seus membros devem ter partes características distintas tais como religião, raça, ou língua, algumas destas características são imutáveis natu-rais; outras (objeto de força ou constrangimento) podem ser mudadas. E o critério subjetivo, donde membros deste grupo devem por em evidencia o sentido de pertencer a grupos e também tem o desejo manifesto de seguir como um grupo distinto. Assim como está materializado na Recomendação n. 1225 do Comitê de Direitos Humanos, em seu art. 1º, que define mino-ria nacional como pessoas nas seguintes condições:

a) residem no território de um estado e são seus cidadãos; b) mantêm firmes e permanentes laços com aquele estado; c) manifestam suas dis-tintas características étnica, cultural, religiosa ou lingüística; d) são sufi-cientemente representativos, mas de modo geral são em menor número que o resto da população daquele estado; e) são motivados pelo interesse em preservar juntos o que constitui sua identidade comum, incluindo sua cultura, sua religião e sua língua.

Algumas destas distintas definições nos dão uma ampla margem para conclusões. Se um membro de tal minoria se mantem isolado por decisão própria ele evidentemente se assimilará, porém se vive exercitando as carac-terísticas próprias dos demais é porque tem o interesse em que o patrimônio cultural seja perpetuado. E por conseguinte mantem seu direito a suscitar a proteção que necessite.

O EFEITO TORRE DE BABEL

Tomamos como ilustração clássica a perseguição milenar que sofreram os judeus, seja religiosa, cultural ou lingüística. Contudo graças ao seu grande

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poder de coesão e manutenção de seus próprios costumes, principalmente a religião, fizeram renascer sua língua ancestral. Existem atualmente como na-ção e Estado, ainda que antes viveram perseguidos em países contrários a seus costumes como os islâmicos, os extremadamente católicos, a Rússia czarista e Alemanha nazista. Lograram, depois de três mil anos, o fortalecimento, por haverem sempre posto em prática a célebre definição de Capotorti3 (apud

STEINER; ALSTON, 1996, p. 1004) em que “as minorias devem mostrar implicitamente o sentido de preservar seus costumes, língua, religião e tradi-ção”. Ainda que seja obsoleta esta definição, parece ser a mais objetiva.

Muitos grupos desafortunadamente não tiveram o mesmo destino. Etnias quase pereceram, como os armênios e muitas línguas estão fadadas ao esquecimento mesmo de breve menção em livros didáticos.

As minorias podem também se produzir nos países mais ricos e mais fortes. Em cada delas, os direitos violados dos indivíduos pertencentes as minorias, freqüentemente conduzem a tensões sociais e conflitos que vêm à tona com um aumento repentino nos últimos anos. Isto representa hoje, um dos fatores que mais contribuem para a desestabilização e que ameaçam não somente o tecido econômico, social e político dos Estados, mas também sua integridade territorial. Esta dupla perspectiva põe a tutela das minorias no centro de debate mundial, como expressa o pensamento de Kedzia4 (1998). Cabe razão em parte, deixando

de lado a previsão drástica, porque a desestabilização não vem de baixo para cima e sim o contrário. É verdade que a união de um povo como nação pode mudar governos instáveis. Soe ocorrer em Estados tradicionalmente fracos, porque o Reino Unido luta há séculos contra os católicos na Irlanda, já os países da antiga União Soviética e Checoslovaquia não conseguiram formar um governo de coalizão com ninguém, somente lograram a secessão.

São mundos díspares, por isto as minorias estão sob a proteção da Declaração para as Minorias Pertencentes a Grupos Étnicos, Lingüísticos e Religiosos (ONU, 1992), ademais das proteções internacionais.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS A Perseguição

D. Monge (apud MORSINK, 1999, p. 1013), delegado do Peru na época da elaboração da Declaração de 1992, para a proteção das minorias, definiu a questão falando da experiência de seu próprio país sobre a destrui-ção da civilizadestrui-ção Inca:

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A História mostrou como e quantos choques ou genocídios acontece-ram. O crime sempre começa com a destruição dos símbolos espirituais e culturais dos grupos perseguidos, são tomados sob o pretexto da alegada inferioridade mental. Era natural que os grupos raciais fossem privados da vida espiritual por parecerem inferiores aos demais. O direito deveria intervir em tempo para proteger os grupos humanos contra a persegui-ção e a destruipersegui-ção.

Desde os imemoráveis tempos bíblicos, os diferentes por costumes e principalmente por crença eram comumente perseguidos e colocados sob a jurisdição forçada do povo dominante. A miscigenação de raças, culturas e cos-tumes, ao longo dos séculos, tem sua cota importante de contribuição para a amenização destes fatos. Porém não são suficientes para deter as guerras e con-flitos internos e interestatais. Nações eram consideradas inferiores ou subumanas, como podemos depreender das palavras do diplomata peruano. Em um passa-do não muito distante, no século XVI, o escravismo negro era uma prática legal e aceitável. Os africanos, em geral da África Subsaariana, foram levados à força para o continente americano e ali permanecem desde 400 anos. As vítimas ainda hoje em dia continuam vivendo discriminadas pela sua cor e religião dita pro-fana, atentatória contra a igreja. A partir de então, viram alijados os direitos mais elementares de um ser humano (culto, costumes, língua e tradição).

É inconcebível que num mundo globalizado e moderno cujas infor-mações se deslocam com rapidez de fração de segundos, haja ainda subju-gados, espoliadas de bens e direitos. Alguns direitos estão prescritos em leis, tratados, carta de intenções, porém, na prática, a amplitude de violações é muito maior que estes escritos podem impedir, basta que os signatários as cumpram. O antigo costume de subjugar os povos dominados pelas guerras perdidas, ainda vem sendo praticado hoje com o vemos refletido em países da África: tribus versus tribus, (Zaire versus hutus, Ruanda versus tutsis) de culturas e costumes quase similares destruindo-se mutuamente. Não se condena aqui as atitudes dos bárbaros antigos, porque era parte da sua tra-dição, não existiam os direitos humanos. Pergunto e agora com todos os aparatos protecionistas a tais pessoas? A comunidade internacional, no pós-guerra pensou que o mundo tomaria um alivio com a terrível lição. Porém ele seguiu desenhando novas nações e fronteiras, criando um quebra-cabe-ças com pequebra-cabe-ças que não se encaixam entre si, fato que seguramente não tar-dou a mudar com a conseguinte redimensão dos países atuais.

Se acompanharmos a evolução do mapa-múndi desde os últimos 100 anos, vemos que estão se delineando cores diversas, marcos fronteiriços

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diferentes, línguas que até então estavam restringidas a poucos. Possivelmente veremos os nomes de República de Tuva, Quirquizia, Tadjiquistão e Timor, que comumente não estão nos noticiários, salvo em circunstancias muito excepcionais. Estes passaram da não-existência como nação ao status de país ou em transição, assim reconhecidos pela ONU, seguramente depois de tentativas, conflitos e guerras no grande caleidoscópio global.

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A Proteção nos Precedentes Tratados Internacionais

Entre as duas guerras mundiais e os muitos conflitos selvagens, durante o meio século de movimentos dos direitos humanos, têm demonstrado de que maneira os conflitos afetam profundamente a política internacional. A Subcomissão dos Direitos Humanos da ONU começou seus estudos em 1947, matéria levada a cabo somente em 1966 com a aprovação pela Assembléia Geral das Nações Unidas dos dois Pactos relativos aos direitos humanos. De fato o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) adotou o termo de 20 anos de discussão e que entra em vigor somente em 1976, 31 anos após a Carta das Nações Unidas (NNUU) reconhecendo sem ambigüidade as mino-rias como matéria de direito internacional. Voltando no inicio do século passa-do este direito já se encontrava sob os auspícios da antiga Sociedade das Nações (1919), obtendo progresso o regime de proteção a estas minorias.

Na Europa, surgem no marco das tardias guerras de religião do sécu-lo XVII, no suposto de que a eliminação da dissidência religiosa se tornaria impossível. Constatada a impossibilidade de aniquilação da minoria, ou simplesmente de proibição de sua manifestação exterior, estas se traduziram em normas jurídicas que algumas potências assumiram internacionalmente o compromisso de proteger ou tolerar as práticas religiosas de determinadas comunidades.

Após a finalização da Primeira Guerra Mundial, constrói-se pela primeira vez um autêntico sistema juridico-internacional de proteção dos direitos das pessoas pertencentes a minorias de modo preventivo, criado pelas potências vencedoras, quais sejam, os tratados que puseram fim à Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versailles arts. 86 a 93, que impôs à Polônia, Romênia, Grécia, Checoslovaquia e Iugoslávia disposições de proteção à minorias que viviam dentro de suas fronteiras. Assim como os tratados es-pecíficos para as minorias, as declarações unilaterais de alguns estados no momento de sua entrada na Sociedade das Nações e acordos particulares firmados entre países vizinhos. As regras são basicamente as mesmas dentro destes instrumentos, especialmente aquele firmado entre Polônia e os

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cipais países aliados e associados em 1919, serviriam de modelo para os demais em virtude de sua anterioridade, podemos citar, entre eles:

• Tratados de Paz: quatro dos cinco tratados de paz incluíam cláusulas nas quais as potências vencidas se obrigam ao respeito dos direitos das minorias existentes em seus respectivos territórios firmados com Áustria, Bulgaria Neully, Hungría-Trianon, Turquía-Sevrès e Checoslovaquia, Tratado de Saint-Germain-en-Laye, en 1919;

• Declarações Unilaterais. Cinco outros estados vieram compelidos pela Sociedade das Nações a emitir declarações unilaterais em que se obrigavam a respeitar suas minorias internas como condição previa para seu ingresso na organização (Albânia, Estónia, Letônia e Iraque).

• Tratado de Versailles: firmado entre EUA, Reino Unido, França, Itália, Japão e Polônia em 1919 concernente ao reconhecimento da indepen-dência da Polônia e a proteção de suas minorias.

• A Convenção para Prevenção e a Repressão ao Crime de Genocidio, em 1948, devido ao massacre de armênios pelos turcos em 1915 e dos judeus e ciganos por Alemanha hitlerista, recolheu a adesão de quase a totalidade da comunidade internacional.

• Declaração dos povos indígenas elaborado pela Subcomissão da ONU para a prevenção das medidas discriminatórias e proteção das minorias, que prevê a autodeterminação sob a forma de um direito à autonomia e autogoverno.

Contudo, o PIDCP é o fiel reflexo dos numerosos temores que em 1966 continuavam provocando a proteção específica das minorias. Repre-senta a virtualidade de ser a primeira norma jurídica com pretensões de aplicação universal que protege aos membros das minorias de todos os es-tados que ratificaram dito convênio.

POVOS AUTÓCTONES E INDÍGENAS (DICCIONARIO DEL USO…, 1980)

Nos textos das Nações Unidas originalmente em francês, que tratam deste tema, referem-se pueples autochtones como povos indígenas. O Dicio-nário de uso do espanhol (1980) tampouco faz distinções entre os dois ter-mos, definindo como “indígena, nativo, aborigem ou pessoa que nasceu na terra, pessoa da terra”. Na filologia, do latim autochthones, e deste ao grego autoc, mesmo e thonos terra: “1. Aplica-se aos povos ou gentes que são origi-nários do mesmo país em que vivem. 2. Diz-se do que nasceu ou é originário do mesmo lugar donde se encontra”. Significa então que todas as pessoas que

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nasceram em determinado país são natas e autóctones. Na realidade esta é uma definição da qual discrepo, pois tanto os costumes, a fala popular, as historias que se ouve contar pelos antepassados, a cultura e tradição herdadas por seus descendentes, e os livros idôneos colocam cada um em seu lugar. Isto é o que sucede com os fracophonos que são nada mais que franceses que imigraram para o Canadá há séculos quando os indígenas já se encontravam ali.

O aspecto tratado pela Observação n. 235 das NNUU foi a inclusão

dos povos indígenas entre as minorias titulares de direito de proteção sob o art. 27 do referido Pacto. Enquanto a tendência anterior e adotada pela maior cor-rente de estudiosos era a de reconhecer a estes grupos determinados um status particular caracterizado ou não pela atribuição também ao direito à autode-terminação. Ademais daqueles normalmente reconhecidos aos povos. Segun-do o Comitê, não existe dúvida de que tais grupos constituem minoria, ou pelo menos também minoria e que conseqüentemente são titulares de tais direitos. A inclusão dos povos indígenas entre as minorias contempladas no PIDCP foi em virtude de algumas decisões emanadas das comunicações in-dividuais apresentadas por pessoas pertencentes a tais comunidades, para fa-zer valer os direitos previstos neste Pacto, come assim sustenta Pocar (1998). Ainda que estejam contemplados pelos órgãos das NNUU, estes povos merecem uma atenção especial em virtude de suas especificidades muito peculiares. Pô-los sob as mesmas condições de proteção com os francóphonos, os vascos de Espanha e outras minorias ditas civilizadas e os indígenas, é inadequado. Quando aqueles têm entre si laços de língua e nem tanto de religião ou crença, parece ser visível mostra de nivelar os desiguais de forma igual. O ideal seria uma política de desenvolvimento respeitando suas par-ticularidades, insistindo na não assimilação.

Quanto aos outros autóctones e seus direitos? Temos que por em relevo a particular situação dos esquimós do Canadá que criou em 1993 um ter-ritório autônomo, o Nunavut, no norte, para 17 mil innuits, alargando seu leque de direitos sociais e civis. O direito internacional não prevê direito de secessão em nome da autodeterminação para as minorias. Exemplo de Québec, também região do Canadá que não tem direito legal de secessão sobre o território alegado que é composto de minoria lingüística dentro de um Estado – os francophonos quebecois, no qual a maioría é de um grupo lingüístico diferente. Esta população é seguramente titular por inteiro de usar sua própria língua.

Primeiro, a discrepância de que as duas minorias façam parte de mes-mo catálogo de direitos comes-mo se fossem iguais. Ainda que os indígenas tenham sua própria declaração e sejam objeto de proteção especial em países que elas

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existem. Canadá é um país que pode tomar como exemplo de convivência entre as duas minorias, os quebecois e os innuits, que foram reconhecidos pela convivência pacífica naquele país. Por ultimo, os países que têm somente os indígenas como minoria, estes são os verdadeiros autóctones, pessoas da terra, pois são grupos homogêneos entre si que não se pode sequer imaginá-los fora de seu habitat natural, porque são parte da paisagem, da terra mesma.

A adoção de medidas internas de cada país ratificante do Pacto Inter-nacional para os Direitos Civis e Políticos, depende de vários fatores como disponibilidade financeira, interesse em fazê-lo e o reconhecimento dos quais serão suas contribuições ao Estado. É patente e inquestionável que em um país desenvolvido tem mais de uma ou várias minorias sejam religiosas e lingüísticas que são as predominantes ademais das culturais, estas tem uma tendência a viver em guetos, para depois tentarem a integração ou até a as-similação. Temos distintos tipos de maioria-convivência-minoria, por isto não podemos fazer uma aproximação ou generalizar as condições, porque são desiguais considerando a forma de vida e principalmente o país em que vivem, sob a forma de governo a que estão submetidos.

Conforme cremos ser a intenção das NNUU de incluir os indígenas conjuntamente com as demais minorias se reflete no temor de que nos paí-ses donde elas existem não haja leis nem política que os salvaguardem do extermínio, perseguições ou da perigosa assimilação.

A TITULARIDADE DO DIREITO

O direito é individual porém, ninguém fala uma língua sozinho, muito menos professa uma religião de modo isolado. Quando manter, preservar e ensinar a cultura própria se não há outros receptores interessados que con-juguem a mesma filosofia de vida ou ideal, evidentemente esta não continua e desaparece. O Comitê quis apenas dar direito a um cidadão qualquer que tendo tais características, pode ser até um estrangeiro a chegar em um país ratificante e ter direito a freqüentar seu culto religioso, buscar seus compa-triotas ou iguais para a prática da língua ou ainda participar de eventos culturais do próprio povo com seus costumes típicos, conforme sua prefe-rência e escolha.

Os direitos de membros de uma minoria de utilizar sua língua não são limitados às atividades de caráter privado, porém também usado para os meios de comunicação em geral. Em particular, as minorias devem ser livres para publicar sua imprensa e imprimir livros em seu próprio idioma, sem ser submetidas à necessidade de obter uma autorização governamental.

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Um Estado não pode limitar os cidadãos aos direitos do citado Pacto. Como não é necessário que seus membros sejam cidadãos do Estado para que exista uma minoria. Vale dizer, não é condição sine qua non para a existência de uma minoria um período de estadia em determinado país. Sempre que sejam encontradas características de identidade cultural, religiosa ou lingüística, bem como pessoas pertencentes a grupos de trabalhadores imigrantes ou turistas, poderiam ser titulares deste direito previsto no Pacto.

DIREITOS BÁSICOS DAS MINORIAS E OBRIGAÇÕES MÍNIMAS DO ESTADO

A afirmação “[...] adotarão medidas [...]”, e as expressões os direitos e obrigações de ambas partes acolhidos pela Declaração de 1992 são abstratas intenções de ações futuras, não materializando em concreto, providências. As-sim como soem ser as declarações e carta de intenções. A despeito disto, alguns estados se adiantaram adotando medidas que facilitam sobremaneira a vida sociocultural de suas minorias. Um aspecto que se deve ter em conta: os direitos praticáveis pelas minorias, desde que não sejam atentatórios contra o direito interno e mais ainda contra os costumes do pais de acolhida. Como as questões de poligamia, direito sucessório, adoção, ablação (mutilação sexual) feminina, prática em países islâmicos e tribos africanas, cujos membros insistem em praticá-las mesmo vivendo na imigração ocidental. Os direitos regulamentados não limitam a cultura minoritária, mas fazem com que encontrem um concerto pacífico entre minorias e governo como os que vimos a seguir:

• Direito de gozar de sua própria cultura, de professar e praticar sua própria religião e utilizar sua própria língua em lugares públicos e particulares livremente e sem ingerência nem discriminação alguma.

• Direito de participar da vida cultural, religiosa, social, econômica e pública. • Direito de tomar parte efetiva em nível nacional nos casos que são

interes-sados.

Os Estados, por seu turno, protegerão a existência e a identidade na-cional ou étnica, cultural, religiosa e lingüística das minorias dentro de seus territórios respectivos e fomentarão as condições para a promoção dessa iden-tidade. Adotarão medidas apropriadas, legislativas e de outro tipo, para lograr estes objetivos, e ainda a adotarão medidas para criar condições favoráveis a fim de que as pessoas pertencentes a minorias possam expressar suas carac-terísticas e desenvolver sua cultura, idioma, religião, tradições e costumes, salvo nos casos em que determinadas práticas violem a legislação nacional e sejam contrárias às normas internacionais.

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Esta é uma questão relevante no embate de Estado de acolhida e os costumes minoritários. Cremos que a falta de integração, demonstrados pela recusa em aceitar a cultura dominante, opõe dificuldades para falar a língua oficial, usar trajes ocidentais etc, são fatores impeditivos ao acesso a um bom emprego por exemplo. Costumam transformar seus guetos em pequenos pedaços do país originario, como ocorre em Marselha – França, bairros Saint Gilles e Anderlercht em Bruxelas, El Cerezo e Macarena em Sevilla e com a grande massa turca residente em cidades alemãs, como Munique. Os novaiorquinos diferem os habitantes dos bairros do Bronx, Brooklyn e Harlem como típicos de judeus, italianos e negros porque são de predomi-nância destes grupos.

Há quase duas décadas, Carrillo Salcedo (1984, p. 11)6 afirmava, e

suas palavras permanecem atuais como para serem empregadas sempre que

nunca até hoje havia vivido a comunidade humana sob a ameaça de uma extinção total, nunca até hoje havia existido uma única socieda-de humana sobre a terra, com problemas globais aos que socieda-devemos enfrentar globalmente.

A rigor, o longo listado de problemas mundiais que citou, evidentemente não se referia aos das minorias em concreto. Contudo se pode de tal maneira incluí-los no rol, pois que os problemas continuam e somente mudam de aparência, obrigando a legisladores e Estados a adaptar, arranjar condições adversas transformando-as em pacíficas.

AS MEDIDAS DE APLICAÇÃO PRÁTICA

Reclamações Individuais no Âmbito do Comitê de Direitos Humanos Poucas foram as reclamações admitidas para as quais estão legitima-das as pessoas físicas e resolvilegitima-das pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU em relação com os direitos das minorias proclamadas no Pacto. Porém a interpretação do Comitê foi progressista. Como ensina Salado Osuna (1997),

dito órgão não é competente para decidir sobre o fundo do assunto, somen-te pode opinar, mas se opina que houveram violações, pode recomendar o que considera oportuno a fim de que sejam reparadas suas conseqüências.

Como não tem força coercitiva, na realidade suas recomendações são levadas em conta como no caso de Sandra Lovelace contra o Canadá, em que este país, de pronto, alterou sua legislação para efeito de adaptação ao

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informe internacional. Apesar deste Estado em questão, a regra geral é que os paises envolvidos têm que demonstrar a boa vontade de fazê-lo e corrigir as distorções que eventualmente existam nas suas leis domésticas ou costu-mes frontalmente atentatórias ao direito violado.

Casos Ominiak, Lubicon Laake Band outros versus Canadá, Lansman versus Finlandia, Guesdon versus Francia e Lovelace versus Canada

• Comunicação n. 167/1984 – caso Ominiyak e Lubicon Lake Band versus Canadá: trata de uma alegação de violação do direito da comunidade indígena e de seus membros de dispor das riquezas e recursos naturais do território que haviam ocupado desde tempos imemoráveis, com a conseqüente ameaça ao tipo de vida e de cultura da mesma comunidade. • Comunicação n. 511/1992 – caso Lansman versus Finlândia: pela ameaça originada pela atividade mineradora efetuada pelo Estado em detrimento da continuidade de uma atividade tradicional consistente na criação de renas por parte da comunidade Sami sobre o território ocupado. Subli-nhando a ligação da utilização do território como direito dos pertencentes às minorias de ter uma vida cultural própria.

• Comunicação n. R6-24/1977 – caso Sandra Lovelace: autora de uma comunicação ao Comitê sobre a questão que foi registrada por uma indígena Maliseet. En 1970, se casou com um homem não indígena e de conseqüência perdeu o direito e status de indígena sob o Ato Indígena Canadense, que prevê na sua Seção 12, que se uma mulher membro de tribos indígenas como esta dos maliseet se casar com homem não indígena, ela não mais pertenceria ao grupo e logicamente perderia todos os benefícios de residir na reserva indígena. Resulta que Lovelace divorciou-se de divorciou-seu marido e queria voltar a viver na sua terra com sua gente, porém este direito lhe foi denegado. Então ela alegou discriminação em razão do sexo e violação aos arts. 2-1,3, 23, -1-4 y 27 del PIDCP. O Comitê no exame da matéria decidiu comunicar ao Canadá a violação deste governo baseado na lei interna que violava o art. 27 do Pacto. Este país reconheceu o direito da autora e tomou a medida de alterar o Ato Indígena.

À vista destas comunicações não podemos de deixar passar desaper-cebido o fato de que, estas somente foram levadas a cabo contra países de-senvolvidos e que lograram efeito. Por outro lado somos levados a pensar nas situações ocorridas nos países da África, Ásia e Oriente Médio que não aceitaram o controle do Comitê. A falta de informação e desinteresse destes Estados deixam suas minorias totalmente ao arbítrio e mercê absoluta de

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ações sem resposta, gerando violações e conflitos. Quando chegam ao co-nhecimento da imprensa ou organismos internacionais, a situação já criou raízes ou males irreversíveis. Os estados mais fortes devem trabalhar no sen-tido de influir sobre os mais débeis, para que a reconhecida prática de maus tratos contra seus cidadãos, cesse.

ADOÇÃO DE MEDIDAS INTERNAS EM ALGUNS PAÍSES

A questão das minorias ocupa posição de destaque entre os temas da ordem do dia sobre as atividades dos relatórios do Comitê de Direitos Huma-nos: Relatório especial sobre a tortura inspecionou os casos das minorias da Republica Yugoslava-Kosovo, China-Tibet, India-Kashmir, Russia-Rep.Tcheca. O avanço verificado no seio do Comitê, na elaboração de pro-grama centrado na conversão dos padrões mínimos humanitários internacionais nos direitos internos culminou com a inclusão das seguintes estratégias: • campanha internacional para a promoção mundial da Declaração sobre

direitos das pessoas pertencentes a grupos étnicos, lingüísticos ou religiosos;

• adoção pelos Estados de leis que declaram ilegais a discriminação racial, religiosa e cultural;

• lei brasileira aprovada em 1990 e alterada duas vezes com o objetivo de ter maior alcance, incluindo a perseguição e punição à apologia ao nazismo, ademais de considerar como crime os atos ou palavras ofensivas à minorias (negros, nordestinos, amarelos, judeus e árabes). Por ser um país multirracial e conseqüentemente multicultural por sua formação étnica e histórica, gerou no governo uma necessidade de criação de dita lei contra qualquer forma de racismo, seja sexual, racial ou religioso, com penalidades de um a seis meses de prisão ou prestação de serviços à comunidade a quem profere palavras ofensivas a pessoas de grupos raciais ou quem deliberada ou ostensivamente trata de modo desigual ou ultrajante a pessoas outras. Providências Adotadas por Países em Desenvolvimento

• Burundi: encetou campanha através dos meios de comunicação em 1995 visando estimular a tolerância e a compreensão mútua entre os grupos e comunidade com a ajuda de programa de radio e televisão, a produção de outdoors e material audiovisual;

• Camboja: criou programa que compreendeu formas de assistência transmitida como previsão legislativa também para grupos de minorias

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em matéria de imigração e nacionalidade (em relação à minoria vietna-mita);

• Mongólia: realizou um Seminário sob o patrocínio da magistratura em Ulan Bator que incluiu no tema das minorias na administração da justiça; • Geórgia: deu sua contribuição na redação do Anteprojeto sobre direitos

das minorias baseado sobre a Declaração de 1992;

• Filipinas: ocorreu um Seminário no qual foi examinado um listado de insti-tuições nacionais que se opõem à discriminação de grupos particularmente vulneráveis como as minorias étnicas.

Atuação do Reino Unido e Suíça: medidas no campo da proteção de suas minorias

• Difusão no rádio e televisão de programação na língua das minorias ao número de canais que são vistos pela população turca, grega, asiática, afrocaraíbica7 e árabe;

• criação de uma unidade sanitária étnica encarregada de responder às exigências sanitárias das pessoas membros dos grupos étnicos.

• destinação de subvenção e orçamento utilizáveis para a busca emprego; • curso de formação profissional ou para ocupar-se de seus próprios negócios; • garantia às minorias de acesso ao mundo do trabalho e dos negócios em

igualdade de condicões;

• aumento do número de escolas para as minorias;

• publicação de um roteiro de programação sobre educação para os cidadãos cujo objeto é lhes informar quais são seus direitos, a sociedade o respeito aos indivíduos e ao grupo;

• criação de uma comissão federal contra o racismo instituída para o lançamento de uma campanha de progressivo conhecimento no campo da tolerância e da compreensão recíproca e que também dá parecer sobre as vítimas da discri-minação racial através de um serviço legal aberto a elas.

As deficiências que apresentam o sistema atual de proteção das mino-rias são notómino-rias. Entre elas, mais destacável sem dúvida é a escassez e mo-deração dos meios de implementação das disposições previstas nos tratados internacionais vigentes e a prática de ausência de uma coerção internacional que assegure seu cumprimento.

Admitir uma resolução estável dos conflitos pela existência de mino-rias nacionais, depende não tanto de concretizações jurídicas, mas de reformulações profundas de conceitos políticos. Apesar de alguns deles

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rem em plena decadência, seguem presidindo hoje em dia de maneira deter-minante a forma de deter o poder e, em definitiva, de criar o direito. À raiz destas palavras de Ruiz Vieytz (1998), remetemo-nos o pensamento às ações dos estados teocráticos e ditatoriais. Estes não têm os componentes ou a isenção necessários para a aplicação do estado de direito. A invasão do Tibet pela China está inserida nestas perspectivas. Que aconteceu com aquele povo que milenarmente tinham sua própria liberdade de existir, incluso um territó-rio? Atualmente é relegado a uma impiedosa invasão há mais de cinquenta anos, ademais de estar sob um controle de natalidade rigorosissimo, não se aplicando a mesma regra para as chinesas residentes no Tibet. Visível prática de genocídio lento. Desafortunadamente deram um retrocesso gigantesco para a subjugação, não se vislumbrando nem a longo prazo seu término. Exemplo clássico de uma autodeterminação ao inverso, onde os mais oti-mistas vaticinam que em cinquenta anos a nação tibetana na chamada re-gião autonômica estará em extinção e sua história contada em museus e livros. Sem fazer aqui uma comparação entre as medidas adotas por um ou outro pais, ficam evidenciados os fatores que temos em conta: em primeiro lugar o fator financeiro-estrutural – se não há orçamento previsto não se pode oferecer programas de rádio e televisão, escolas e assistência médica exclusiva a uma determinada categoria de pessoas. Logo o fator cultural – se um Estado não têm respeito por seus próprios cidadãos como vai ter por pessoas “raras”, “bárbaras” e que culturalmente os vêem assim? E, por últi-mo, concretização de idéias criativas, isto é, não necessita nenhum dos dois fatores anteriores, senão a vontade de pensar no bem-estar comum. Levar a cabo ações que realmente impliquem na boa qualidade de vida das minori-as. Pode-se pensar que tais ações daqueles primeiros países subdesenvolvi-dos mencionasubdesenvolvi-dos são ínfimas no contexto geral, porém globalmente são um passo gigantesco para a política protecionista ideal. Tendo em conta que muitos deles estão contra suas próprias tradições, pelo menos mostram à comunidade internacional que estão evoluindo, começando por cuidar da própria casa e sua gente.

CONCLUSÃO

As perseguições que geraram as ações protecionistas previstas em leis e tratados, nunca estiveram concretizadas em nenhum lugar por escrito dentro dos quadros de leis de países que soem cometer tais praticas. As nações não necessitam firmar nada. A ação é subjetiva e sutil, ora por meio de invasão ou por genocídio lento8. Quando estes mesmos países vão necessitar de cumprir algum

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ditame de ordem internacional se esquivam de fazê-lo ou se escudam por detrás de escritos vagos em matéria de direitos humanos fundamentais. Este fato tem uma estreita correlação com as decisões das cortes internacionais relativas aos direitos humanos.

Por outro lado as minorias deverão dar resposta positiva aos esforços dos Estados que as acolhe como minoria. Não basta somente adotar uma posição reivindicativa dos direitos de per si ou expectativas de direito. Mas integrar-se totalmente no país, na participação plena de atividades em todos os setores de desenvolvimento, inclusive nas decisões que lhes afetem. Somen-te assim mostram sua capacidade de se autogestionarem e ao destino do gru-po. O desenvolvimento de diálogo entre governo e minorias, seja em nível interno ou internacional pede uma complexa aproximação da situação com respeito à não-discriminação, ao racismo, aos conflitos étnicos e à xenofobia. Com base nos dados investigados analisados, três pontos chave quedam claros e os pomos de manifesto. Primeiro, os processos aos quais se produzem os problemas das minorias: a intolerância, perseguição, a impo-sição de costumes dominantes, são os mesmos que aparecem em distintas regiões do globo onde existem minorias assim reconhecidas. Fatos que se repetem apesar de existir alguns matizes de ordem geográfica e grau de tolerabilidade do país de acolhida. Segundo lugar, a forte tendência dos gover-nos de atuarem desinteressada e morosamente em adotar medidas internas com vistas no apaziguamento das partes, na boa convivência, o respeito mí-nimo à cultura e aos costumes minoritários. Por último, a desinformação dos deveres e direitos recíprocos constantes nas normativas internacionais para eventual e futura adaptação à regulamentação interna.

Notas

1 Claude Levy Strauss é antropólogo e estudioso do gênero humano e seu entorno.

2 John Peters Humphrey é primeiro Diretor da Divisão do Subsecretariado para Prevenção da

Discri-minação e Proteção das Minorias e figura-chave durante a elaboração do anteprojeto da DUDH.

3 Francesco Capotorti foi relator da Declaração dos Direitos das Minorias quando da primeira

ten-tativa da definição oficial da questão minoria. Atualmente, é professor na Itália.

4 Zdislaw Zadia é consultor das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 5 Observação n. 23 do Alto Com. das NNUU para os Direitos Humanos.

6 Antigo juiz da Corte Européia de Direitos Humanos, professor catedrático da Universidade de Sevilla. 7 População existente na América Central, nas ilhas caribenhas, de predominância e origem africana,

também nas chamadas ilhas ABC (Aruba, Bonaire e Curaçau) que praticam o papiamento, dialeto com mistura de espanhol, holandês e uma língua afro.

8 Refere à invasão do Tibet pela China e a política deste país para o povo dominado há mais de meio

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nacionais e ONGs ali instaladas temem que este processo jamais possa retroceder, ja que os tibetanos se convertem cada vez mais em minoria numérica, ademais de estarem assimilando o estilo de vida chinês. “Lhasa ya no es más Lhasa, es China” como disse Fabíola, diretora da ONG Comunidade Humana no Tibet (TVE, canal 2, domingo, 12 de maio de 2001, Espanha).

Referências

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YACOUB, J. Les minorités. Quelle protection? Paris: Desclée de Brouwer, 1995.

Abstract: the problem of minorities is a phenomenon that concerns the entire world, ie, peaceful relations among and between minority and majority and minority government. Respect for the identity of any group is part of a valuable resource for society multidistinta, multi-ethnic. The diversity of cultures, customs, languages and religions are factors which today still follow opening abysses between peoples. However, the International Covenant on Civil and Political Rights and the UN managed to important changes in this approach, reducing differences and promoting the development of these people.

Key words: minorities, intolerance, ONU, essential rights, the host country

Excerto do trabalho apresentado no curso de Doutorado em Direito Internacional Público e Rela-ções Internacionais.

ANGELA MARIA AIRES TEIXEIRA

Doutoranda em Direito Internacional Público e Relações Internacionais pela Universidade de Sevilla. Mestre em Direito Ambiental. Professora Universitária. E-mail: yerdena@terra.com

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