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Artigo
original
Impacto
das
taxas
moderadoras
sobre
a
utilizac¸ão
de
cuidados
de
saúde
pediátricos:
estudo
aplicado
a
crianc¸as
em
idade
escolar
na
cidade
de
Coimbra
Carlota
Quintal
a,b,∗,
Helena
Tavares
ae
Óscar
Lourenc¸o
a,baFaculdadedeEconomia,UniversidadedeCoimbra,Coimbra,Portugal
bCentrodeEstudoseInvestigac¸ãoemSaúde,UniversidadedeCoimbra,Coimbra,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa22dejulhode2015 Aceitea9dejaneirode2016 On-linea13demaiode2016 Palavras-chave: Taxasmoderadoras Riscomoral Cuidadospediátricos Portugalr
e
s
u
m
o
Esteestudopretendeavaliaroimpactodastaxasmoderadorasnautilizac¸ãodecuidados pediátricoseaperspetivadospaissobrefatorescondicionadoresdaprocura.
Foiconstruídoumquestionário;preenchidoporpaisdecrianc¸asentre6-18anos.Usámos omodelobinomialnegativoparaavaliarosefeitossobreutilizac¸ãodecuidados.
Aamostrainclui203crianc¸as(109isentas).Serisentotemefeitopositivo(negativo)na utilizac¸ãopormotivodoenc¸a(prevenc¸ão);rendimentoeescolaridadedospaistêmefeitos mistos;talcomoisento*rendimento–efeitosnãosignificativos.
Pelosresultados obtidos,astaxas moderadoras nãoafetama utilizac¸ãodecuidados, questionando-seajustificac¸ãoparaasuaexistência.
©2016OsAutores.PublicadoporElsevierEspa ˜na,S.L.U.emnomedeEscolaNacionalde Sa ´udeP ´ublica.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Impact
of
moderating
fees
on
utilisation
of
paediatric
health
care:
Study
applied
to
school
age
children
in
the
city
of
Coimbra
Keywords: Moderatingfees Moralhazard Paediatriccare Portugal
a
b
s
t
r
a
c
t
Thisstudyaimstoassesstheimpactofmoderatingfeesonutilisationofpaediatrichealth careandtheperspectivesofparentsregardingfactorsthatinfluencedemand.
Aquestionnairewasdeveloped;datawasself-reportedbyparentsofchildrenaged6-18. Toassesstheeffectsonutilisationweusedthenegativebinomialmodel.
Thesampleincludes203children(109exempt).Beingexempthasapositive(negative) impactonutilisationduetoillness(prevention);incomeandparents’educationhavemixed effects;thesamehappenstoexempt*income–effectsnotsignificant.
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:qcarlota@fe.uc.pt(C.Quintal). http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2016.01.001
0870-9025/©2016OsAutores.PublicadoporElsevierEspa ˜na,S.L.U.emnomedeEscolaNacionaldeSa ´udeP ´ublica.Este ´eumartigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Basedontheresultsobtained,moderatingfeesdonotaffectutilisation,raisingthe ques-tionontheirjustification.
©2016TheAuthors.PublishedbyElsevierEspa ˜na,S.L.U.onbehalfofEscolaNacional deSa ´udeP ´ublica.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Astaxasmoderadoras(TM)correspondemapagamentos efe-tuados pelo consumidor no momento da utilizac¸ão, cuja finalidade é, em teoria, moderar a procura, reduzindo o consumoexcessivodecuidados(fenómenodoriscomoral). Noentanto, ao introduzir um pagamento no momento da utilizac¸ão,talpoderáconstituirumabarreira aoacessoaos cuidadosdesaúde.Sendoagarantiadesteacessoimportante paratodaapopulac¸ão,nocasodasaúdeinfantil,arelevância vemreforc¸adapeloimpactoqueestatemnolongoprazo.A saúdeinfantiléumdosmaisimportantesfatorespreditores doníveldesaúdeedaprodutividadenavidaadulta,easaúde destesadultosiráporsuavezafetarobem-estardagerac¸ão seguinte1.
EmPortugal,nasequênciadacriseeconómico-financeira edoMemorandodeEntendimentoassinadoentreogoverno portuguêseoFundoMonetárioInternacional,oBancoCentral EuropeueaComissãoEuropeia,oregimedasTMfoirevistoem 2011,sendoreafirmadooseupapeldemoderac¸ãodaprocura, negando-seexplicitamentequalquerrelac¸ãocomo financi-amentodoServic¸oNacionaldeSaúde(SNS).Ascrianc¸asaté aos12anos(inclusive)foramincluídasnogrupodosisentosde pagamento.Assim,apesardeapartirde2010todosos meno-resdeidadeteremacessoàrededecuidadospediátricos,para efeitosdeisenc¸ãodeTMsóforamconsideradasascrianc¸as menoresde13anos.
Perante estasituac¸ão, com o presente estudo pretende--se avaliaro impacto das TMem idade pediátrica sobre a utilizac¸ãodecuidadosdesaúde,bemcomoaferirapercec¸ão dospaissobreastaxasesobreosfatorescondicionadoresda decisãodeprocurarcuidadosparaosseusfilhos.Umavezque aisenc¸ãodopagamentofoialargadaatodososmenoresem 2015,apertinênciadessamedidadepolíticaserádiscutidaà luzdaevidênciaobtida.Paraatingirosobjetivospropostos,foi construídoeaplicadoumquestionárioem2escolasdoensino público.Paraestimaroimpactodastaxassobreautilizac¸ão, recorremosa ummodelo decontagem(binomialnegativo). Globalmente,nãoseencontrouevidênciaquesustentea exis-tênciadeTM.
Taxas
moderadoras:
moderac¸ão
versus
barreira
AsTMcorrespondemapagamentosdiretosrealizadospelos consumidores no momento da utilizac¸ão dos cuidados de saúde. O argumento teórico para a existência de TM nos servic¸os de saúde reside nas especificidades do setor da saúde,emconcreto,naincertezaquantoaomomento eao valordoscuidadosdesaúdequecadaconsumidornecessita. Éestaincertezaqueestánaorigemdossegurosdesaúde2.
A-Bt Q,D P, Cmg Q P1 Q1 A QD Cmg
Figura1–Efeitodeumataxamoderadorasobreaprocura decuidados.
Os segurosde saúdedevem aquiserentendidoscomo um conceitoamplo,nosentidodatransferênciade responsabi-lidades financeiras para terceiros e distribuic¸ão dos riscos individuais porumcoletivo.Inclui,assim,oseguropúblico e oseguro privado. Emqualquer doscasos, a presenc¸ado segurodiminuioprec¸oapagarpeloconsumidor,oquepode motivarumaalterac¸ãodecomportamentosconduzindoaum aumentodaprocuradecuidados.Estefenómenoédesignado porriscomoral–«quando2partesseenvolvemnumcontrato emcondic¸õesdesimetriadeinformac¸ão,masposteriormente umadelasrealizaumaac¸ão,quenãoépassíveldeserescrita numcontrato,queinfluenciaovalordatransac¸ão»3.Orisco
moralétambémdenominadopor«abusodosegurado»,sendo umaforma decomportamento racional jáque o consumi-dordepreendequeosseusbenefíciossãoelevados,enquanto os custosde utilizac¸ão serepartem portodos os restantes agentes4.
Na figura 1, ilustramos o efeito do risco moral e da introduc¸ãodeumaTMnocasodeumcosseguro(percentagem doprec¸opagapelosubscritordoseguro)de0%.Nestafigura, temosnoeixoverticaloprec¸o,P,enoeixohorizontala quan-tidade,Q(deconsultas,porexemplo).Admite-seumaprocura elásticaemqueaquantidadeprocuradadependedoprec¸oe, porsimplificac¸ão,admite-seumcustomarginal(Cmg) cons-tante,ouseja,ocustodeumaconsultaadicionalésempreo mesmo.Afunc¸ãoprocurasubjacenteàcurvadaprocura ilus-tradanafigura1podeserrepresentadapelaexpressãogeral: QD=A-BP; nafigura1,seo prec¸o unitárioforP1,a
quanti-dadeprocuradaseráQ1.Estaétambémaafetac¸ãoeficiente
(istoé,ovalorqueoconsumidor estádispostoapagarpor cadaconsultaéexatamenteigualaoseucusto).Contudo,se asconsultasforemgratuitas,aquantidadeprocuradapassaa serA(QD=A,paraP=0).Oexcessodeprocura(A-Q1)éentão
identificadocomoriscomoral.
Aintroduc¸ãodeumaTMt(valorfixoporconsulta)fazcom queovalorsuportadopeloconsumidor passeaserP+tea expressãoda func¸ãoprocura passaa serQD=A-Bt-BP.Para
cadaníveldeprec¸os,aquantidadeprocuradaéagoramenor(a curvadaprocuradesloca-separalelamenteparaaesquerda); paraP=0aquantidadeprocuradapassaaserA-Bt.ATMsurge destemodocomoummeioparamitigarasconsequênciasdo riscomoral.Ouseja,opagamentonomomentodeutilizac¸ão fazcomqueadecisãodeprocurarcuidadostenhaemlinha deconta(pelomenos,emparte)oscustosassociadosenão sóosbenefícios,peloqueoconsumidortendeamoderara procura,conduzindoàreduc¸ãodautilizac¸ãodesnecessáriade cuidados3.
Oestudoempíricomaisconhecidoqueprocurouavaliaro fenómenodoriscomoraléoRANDHealthInsurance Experi-ment(RANDHIE),elaboradonadécadade1970,nosEstados Unidos.Osparticipantesnesteestudoforamdistribuídos ale-atoriamente por diferentes planos de seguros (com níveis variáveisdecomparticipac¸ãonasdespesasmédicas)e acom-panhados durante 5 anos para avaliar, nomeadamente, o efeitonautilizac¸ãodecuidadosmédicos.Esteestudoconcluiu queaprocuradecuidadosmédicosrespondeaoprec¸oe esti-mouaelasticidadeprec¸odaprocuraemvaloresentre0,1-0,25.
Estaexperiênciapermitiutambémanalisaroimpactoda par-tilhadecustosnautilizac¸ãodecuidadosdesaúde,sobrea procuradecuidadosnogrupodascrianc¸ascomidadesinferior a14anos.Osresultadosobtidosindicamqueautilizac¸ãoper capitadosservic¸osmédicosfoiumterc¸osuperiornogrupodas crianc¸ascujasfamíliasbeneficiavamdeumplanodecobertura total,relativamenteaogrupocujasfamíliastinhamumplano decoberturaqueosobrigavaaopagamentode95%das des-pesasmédicas.Osresultadossugeremaindaqueautilizac¸ão de servic¸osem regimede ambulatório diminuiu àmedida queapartilhadecustosaumentou,nomeadamentea proba-bilidadedeconsultamédicaanual,despesasanuaistotaise númerodeconsultasanuais.Quandoiamaumaconsulta,as crianc¸asdoplanodecossegurode95%tinhammenor proba-bilidadedeconsultarumpediatra(emoposic¸ãoaumclínico geral)doqueascrianc¸ascujasfamíliastinhamtaxasde cos-seguromaisbaixas5.
O RANDHIE parece assim fundamentar a utilizac¸ão de taxas para moderar a procura, dada a sensibilidade desta últimafaceavariac¸ões dosprec¸os pagospeloconsumidor. Todavia,aevidênciacontinuaaserrelativamenteescassae algumasressalvassãonecessáriasnesteponto.Porumlado, oraciocíniosubjacenteàanálisedafigura1assumequea ini-ciativadeprocurarcuidadosédoconsumidor.Ora,nosetor dasaúde,devidoàassimetriadeinformac¸ãoeàrelac¸ãode agênciaqueseestabeleceentreoconsumidoreoprestador decuidados,muitasvezesadecisãodeprocurarcuidadosé influenciadaoumesmodeterminadapeloprestador.Nestes casos,édiscutívelaintroduc¸ãodetaxasparamoderara pro-cura.Poroutrolado,háquedistinguirentrecustomonetário ecustoeconómico.Oconsumodecuidadosmédicosrequer tempoeotempotemumcustodeoportunidade3,6. Assim,
emmuitoscasosnosetordasaúde,ocustodeoportunidade é maisrelevante do queo custo monetário. Novamente,a introduc¸ãodetaxasparamoderaraprocuranestassituac¸ões pode serdiscutívelpelasuaeficácia reduzida.Acresce que nãoéfácilidentificarclaramenteoqueéconsumoexcessivo, frívoloouineficiente7,8.Aprópriainiciativadeprocurar
cuida-dosdependedaapreciac¸ãoqueosconsumidoresfazem,quer sobrea suanecessidade, quersobreobenefíciodos cuida-dosareceber.AsTMpodemassimpenalizardiferentemente, consoante o níveldeliteracia emsaúdedoutilizador9.Por
fim,emboraagénesedas TMestejaassentenamoderac¸ão daprocuraenãonofinanciamentodossistemasdesaúde,em muitosdospaísesatingidos pelarecentecriseeconómicae financeiraassistiu-seaoaumentodoscopagamentosporparte dosutilizadores10.Estatendênciatemsidocriticada
precisa-menteporapresentarumfracopotencialparapoupanc¸as11,
bem como porque a evidência sugereque a predisposic¸ão paraprocurarcuidadosporpartedeindivíduoscompoucos recursos financeiros pode diminuir como consequênciado aumentodoscopagamentos10.Nestecontexto,asTM
pode-rão constituirumabarreira aoacessoa cuidadosdesaúde efetivosenecessários,ferindoosprincípiosda proporciona-lidadedospagamentosedaigualdade deacessoparaigual necessidade12.
Taxas
moderadoras
em
Portugal
EmPortugal,asTMestãoprevistasdesdeacriac¸ãodoSNS, em1979.Alegislac¸ãoposteriorsemprefoimantendoa possi-bilidadedestastaxas,nomeadamenteaLeideBasesdaSaúde (Lei48/90de24deagosto),atéque,em1992,estassão efe-tivamenteinstituídascom oDecreto-Lei n.◦ 54/92 de11 de
abril,aplicando-seameiosauxiliares dediagnósticoe tera-pêutica,prestac¸ãodecuidadosdesaúdenasconsultasenos servic¸osdeurgênciahospitalaresedoscentrosdesaúde.Mais tarde,em2006,sãointroduzidastaxasparainternamentoe atoscirúrgicos emregimede ambulatório, tendosido con-tudorevogadasem2009(oquevaideencontroàsreservas referidasnasecc¸ãoanteriorsobreoscasosemquea inicia-tivadaprocuranãopartedoutilizador).Oregimeatualdas TM,emboratendojásofridodiversasalterac¸ões,datade2011 (Decreto-Lein.◦113/2011,de29denovembro),alturaemque
foirevistonasequênciadaassistênciafinanceira internacio-nalaPortugaledoMemorandodeEntendimento.Esteregime entrou emvigor emjaneiro de2012. Apesardas restric¸ões financeiraseorc¸amentaisemquePortugalseencontrava,a revisãodosistemadeTMfoiapresentadacomouma«medida catalisadora daracionalizac¸ãoderecursosedocontroloda despesa,aoinvésdeumamedidadeincrementodereceita, atendendonãoapenasàsuadiminutacontribuic¸ãonos pro-veitosdoSNSmas,acimadetudo,pelocarácterestruturante queasmesmasassumemnagestão,viamoderac¸ão,dos recur-sosdisponíveis,quesão,pordefinic¸ão,escassos»(citandoo próprio decreto).Efetivamente, emtermos relativos,asTM nãoconstituemumafontedefinanciamentorelevante,sendo o seu peso no total das receitas do SNS pouco acima de 1%13.
Relativamenteàscrianc¸aseadolescentes,édenotarque apenasem2010foiasseguradooacessoporpartedetodosos
utentesatéaos18anosàrededecuidadospediátricosdoSNS, istoapesardePortugalterratificadoem1990aConvenc¸ãodas Nac¸õesUnidassobreosdireitosdacrianc¸a,queadefinecomo todooserhumanocommenosde18anosdeidade,exceto sealeinacional conferiramaioridademaiscedo.Não obs-tanteestealargamentonoacessoaoscuidadospediátricosem 2010,noanoseguinte,aquandodarevisãodoregimedasTM, aisenc¸ãodoseupagamentofoi mantidasomentepara «as crianc¸asatéaos12anosdeidade,inclusive»(art.4.◦,alínea
b).Apenasrecentemente,comaúltimaalterac¸ãoaoregime dasTM(Decreto-Lein.◦61/2015de22deabril),surgeentãoa
isenc¸ãodopagamentoparatodososutentesatéaos18anos, comasubstituic¸ãodaanteriorredac¸ãodoart.4.◦,alíneab)por,
simplesmente,«osmenores».Asjustificac¸õesavanc¸adas(no decreto)paraestaalterac¸ãopassampelaobrigatoriedadede consultasmédicasdos15-18anosestabelecidanoPrograma Nacional de SaúdeInfantil e Juvenil, epelo estímulo indi-retoaoaumentodanatalidade.Odecretorefereaindaquea isenc¸ãosejustificacomosobjetivosdepromoverasaúdejunto daquelesquetêmmaisaganharemadotarhábitossaudáveis, ede garantira eliminac¸ãode quaisquer constrangimentos financeirosnoseuacessoaosservic¸osdesaúdeassegurados peloSNS.Destemodo,oargumentodamoderac¸ãodaprocura pareceserultrapassadopelaimportânciaestratégica reconhe-cidaàsaúdeinfantojuvenilepelapreocupac¸ãocomeventuais barreirasaoacesso.
Muitoemboraestejamidentificadasasvantagense possí-veisdesvantagensdasTM,patentesderestonossucessivos documentoslegais,existepoucaevidênciaemPortugalsobre osefeitosdasTMnaprocuradecuidadosdesaúde,querpara ocasodapopulac¸ãoemgeralquerparaocasodecrianc¸as eadolescentes.Osdadosqueexistemapontamnosentidode umafracamoderac¸ãodaprocuraexercidapelasTM,conforme aseguirseresume.
Barroset al.14 analisarama utilizac¸ão efetivade
urgên-ciasnumhospitaldeumagrandecidade,antesedepoisdo aumentodasTMem2012,tendoconcluídoquenãose verifi-couumareduc¸ãoestatisticamentesignificativadautilizac¸ão deurgênciasemresultadodoaumentodastaxas.Comrecurso ainquérito,estesautoresapuraramaindaquenoscasosem queos indivíduossesentiramdoentesenão recorreram a cuidadosdesaúde,1%foidevidoafaltadecapacidadede paga-mentodaTMe5,5%considerouquenãovaliaapenapagá-la. ConcluemassimqueasTMnãofuncionaramcomouma bar-reiraimportanteaoacessoacuidadosdesaúdenecessários, emboratenhamdesencorajadoorecursoacuidadosdesaúde quandooseuvalorparaocidadãoerabaixo.
Um estudo da Entidade Reguladora da Saúde15, com o
mesmoanodepublicac¸ãoqueoanteriorestudo,utilizando dadosdeumaamostradeprestadoresdecuidadosdesaúde primáriosedecuidadoshospitalaresdoSNS,ecomparando dadosde atividade nos anosde 2011e 2012,concluiu que nos cuidados hospitalares não ocorreu qualquer variac¸ão estatisticamenterelevantenautilizac¸ãodeconsultasde espe-cialidade,enquanto a utilizac¸ãode urgênciascaiu, masde formauniformeemutentesisentosenãoisentos,oquenão podeseratribuídoaumefeitodemoderac¸ãopromovidopelas taxas.Emrelac¸ão aos cuidadosde saúdeprimários, houve umareduc¸ãodasconsultasmasdeformamaisacentuadanos utentesisentos(efeitoquepodedever-seàreduc¸ãoglobaldo
consumodebenseservic¸os,sobretudoporpartedosisentos porinsuficiênciaeconómica).
Especificamente em termos da procura de cuidadosem idadepediátrica,umestudode2012,combaseemdadosa nívelnacionaldeepisódiosdeurgênciaeemdadosdaUnidade LocaldeSaúdedeMatosinhos sobreepisódios deurgência, consultasexternaseconsultasnoscentrosdesaúde,concluiu queasTM, quenaalturaeram pagasapartirdos13 anos, nãotinhamimpactonaprocuradecuidadospediátricosnos servic¸osdeurgência16.Nesteestudonãofoitambémdetetada
descontinuidadedaprocuradecuidadosapartirdos13anos nocasodasconsultasexternas,aocontráriodoquesucedeu nos cuidadosprimários. Aautoraavanc¸a comoexplicac¸ões paraestesresultadosofactodeoutroscustos,comootempo de espera edistânciaaos servic¸os, serem maisrelevantes, sendoquenoscuidadosprimários,portratar-sedecuidados preventivos,seriaexpectávelmaiorsensibilidadedaprocura aoprec¸o.
Métodos
Construc¸ãoeadministrac¸ãodoquestionário
Considerandoosobjetivosdopresenteestudo,foiconstruído umquestionárioparaarecolhadeinformac¸ão,tendosido apli-cadoem2escolaspúblicasda cidadedeCoimbra,umado ensino básico/secundárioeoutra apenascom o1.◦ ciclode
ensino.Aescolhadesteslocaisparaaplicac¸ãodoquestionário foimotivadapelaintenc¸ãodeobterumaamostraheterogénea quantoaoconsumodecuidadosdesaúde,ouseja,quepodia ounãoterutilizadocuidadosdesaúde.Claramente,aselec¸ão derespondentesemservic¸osdesaúde,ondeapenas inclui-ríamos osutilizadores de cuidados,não garantiaarecolha deumaamostraheterogéneanoconsumo.Talcomoreferido noutroestudo14,aavaliac¸ãodassituac¸õesemquedeveriater
havidorecursoacuidadosdesaúdemastalnãosucedeunão épassíveldeserrealizadacomrecursoadadosdeutilizac¸ão dosservic¸os,justificando-sedestemodotambémaopc¸ãopelo questionário.Operíododerecolhadedadosfoi28deabrila 12demaiode2014,alturaemqueasTMaindaseaplicavam acrianc¸asapartirdos13anos.Foramdistribuídos465 ques-tionários,tendocomocritériooequilíbrioentreonúmerode crianc¸ascomidadesaté13anos(isentasdepagamento)eo númerodecrianc¸ascomidadesigualousuperiora13anos. Consideradaestarestric¸ão,aescolhadasturmasemparticular paraaaplicac¸ãodosquestionáriosfoiumadecisãodo conse-lhodiretivo,nocasodaescolasecundária;naescolabásica,os questionáriosforamadministradosatodasasturmas.O ques-tionáriodestinava-seaserpreenchidoporpais/encarregados deeducac¸ãodecrianc¸ascomidadescompreendidasentre6-18 anos,nãoisentosdopagamentodetaxasporoutromotivoque nãoaidade.Restric¸õesdetempoefinanceirascondicionaram oprocessoamostral, quernonúmerodeunidadesaincluir noestudo,quernadeterminac¸ãoderegrasquegarantissema aleatoriedadeabsolutadaamostra.Umaconsequênciadestes condicionamentosedorecursoaumaamostrade conveniên-ciaéanãoinclusãodecrianc¸asresidentesemmeiorural.
Por ser um questionário distribuído em meio escolar, foi necessário cumprir os requisitos da Direc¸ão Geral de
Tabela1–Definic¸ãodasvariáveisindependentes
Variável Definic¸ão Média
Idade Idadedacrianc¸a 11,60
Isento =1seidadedacrianc¸a<13anos 0,537
Esbommb =1seestadodesaúdedacrianc¸a,reportadopelospais,ébomoumuitobom 0,862
Numcrianc¸as N.◦decrianc¸asnoagregadofamiliar 1,739
Rend 1 =1serendimentolíquidomensaldoagregado≥250De≤500D 0,074
Rend 2 =1serendimentolíquidomensaldoagregado≥501De≤900D 0,133
Rend 3 =1serendimentolíquidomensaldoagregado≥901De≤1.500D 0,246
Rend4 =1serendimentolíquidomensaldoagregado≥1.501De≤2.000D 0,227
Rend5 =1serendimentolíquidomensaldoagregado≥2.001D 0,32
Básico =1seníveldeescolaridadedamãecorrespondeaoensinobásico 0,143
Secundário =1seníveldeescolaridadedamãecorrespondeaoensinosecundário 0,227
Superior =1seníveldeescolaridadedamãecorrespondeaoensinosuperior 0,625
Educac¸ão para a autorizac¸ão da suaaplicac¸ão, bem como, obterautorizac¸ãodosconselhospedagógicosdasescolas.
Emrelac¸ãoàestruturaesecc¸õesdoquestionário,esteera constituídopor3gruposdequestões:dadosdofilho/educando (idade, género e estado de saúde – conforme percecio-nado pelos pais); dados do agregado familiar (residência, composic¸ão do agregado, nível de escolaridade dos pais, segurodesaúdealémdoSNSerendimentomensallíquido– porescalões)eutilizac¸ãodecuidadosdesaúde.Estaúltima parte do questionário incluía perguntas sobre a utilizac¸ão de cuidados médicos nos últimos 6 meses por motivo de doenc¸a(número deconsultas,razõesesefoiporiniciativa própriaouporindicac¸ãodeterceiros–quem?).Nestaparte doquestionáriotambémseprocuravasaberse,peranteuma situac¸ãodedoenc¸a,nãohouverecursoaservic¸osdesaúdee porquê.Oquestionárioincluíaaindaumaperguntasobreo númerodevezesquerecorreuaservic¸osdesaúdenos últi-mos6mesespormotivosdeprevenc¸ão/promoc¸ãodesaúde. Numaoutrapergunta,etendoemcontaqueoscustos asso-ciadosaoconsumodecuidadosmédicosvãoalémdocusto monetário,foramapresentadosváriosfatores(distânciaà uni-dadedesaúde,tempodeespera,dificuldadenotransporte, horada ocorrência eTM), perguntando-sequal oseu grau deimportâncianadecisãodeprocurarcuidados,emcasode doenc¸a ligeira oumoderada. Paraavaliar ograu de impor-tância, usou-se uma escala de Likert com 4 níveis: muito importante,importante,indiferenteepoucoimportante.Esta mesmaescalafoi tambémutilizadaparapercebera impor-tância das TM paraa decisão de recorrera umservic¸ode urgênciahospitalar.Aterceirasecc¸ãodoquestionárioincluía aindaumaperguntaquevisavaobterograude concordân-ciacom4afirmac¸õessobreTM:i)asTMsãonecessáriaspara evitarautilizac¸ãoexcessivadecuidadosdesaúde;ii)asTM sãonecessáriasparaajudarafinanciaroSNS;iii)para mui-tas pessoas as TM sãouma barreira aoacesso a cuidados desaúde;iv)havendoTM,aisenc¸ãodopagamentodeveser alargadaatéaos18anos.Paracaptarograudeconcordância usou-seumaescaladeLikertcom5pontos,desdeodiscordo plenamenteatéaoconcordoplenamente.Aperguntaiii)foi inspiradaemestudoprévio14,noqualosautoresconstataram
queosinquiridosrespondiamdeformadiferente,consoante sereferissemaoseuprópriocomportamentoouaodasoutras pessoas.
Análiseevariáveis
Relativamenteàanálisededados,iniciámoscomuma aná-liseexploratóriadosdadosrecorrendoàestatísticadescritiva. Apósestaetapadescritiva,eparaestimaroefeitode diver-sosfatoressobreautilizac¸ãodecuidados(emcasodedoenc¸a e em caso de prevenc¸ão), especificámos um modelo eco-nométrico que faz a regressão da utilizac¸ão dos cuidados sobre um conjunto de variáveis. A utilizac¸ão de cuidados desaúdefoimedidarecorrendo a2indicadores:1) número deconsultasmédicasnos6mesesanterioresàaplicac¸ãodo questionário por motivosde doenc¸a e 2) número de vezes que recorreuaservic¸osde saúdenos6mesesanterioresà aplicac¸ãodoquestionáriopormotivosdepromoc¸ãodesaúde (incluindo consultas programadas de vigilância de saúde infantil).Avariávelindicadoradautilizac¸ãodecuidadosno presenteestudoéumavariável inteiraenãonegativa,pelo queasespecificac¸õeseconométricasdafamíliadosmodelos decontagemsãoadequadasnestecontexto.Omodelo bino-mialnegativoé,deentreestes,umdosmaisutilizadosnas aplicac¸õesdeeconomiadasaúde17–19.
Doconjuntoderegressoresusados,temosparticular inte-resse navariável «Isento»(impactodas TM)enainterac¸ão desteefeitocomorendimento(paraaveriguarseainfluência dastaxasnautilizac¸ãodependedefatoressocioeconómicos). Avariável«Isento»éumavariávelbináriaquevaleumsea crianc¸aestá isentadopagamento deTM(idade<13)eque vale 0 caso contrário. Claramente esta variável é exógena, poisaisenc¸ãodependedeumlimiardeidadenão determi-nadopelacrianc¸anempelospaisdesta.Estacaracterísticade exogeneidadeasseguraqueoestimadordoefeitoisenc¸ãoé consistente.
Atabela1apresentaadesignac¸ãoedefinic¸ãodasvariáveis explicativasutilizadasnaanálisederegressão.
Caracterizac¸ãodaamostra
A amostra final inclui 203 crianc¸as; foram recolhidos 208inquéritos,sendoque5foramexcluídosporexistirisenc¸ão dopagamentodeTMporinsuficiênciaeconómica–ataxade respostafoi,assim,de44,73%.Das203crianc¸as,82(40,40%) são dosexomasculino, e109(53,70%) têmidade inferiora 13 anos. Emtermos de isentos/não isentos obteve-seuma
P ercentagem de re spondent es 0 5 10 15 20 25 30 35
6-9 anos 10-12 anos 13-15 anos 16 + anos Figura2–Utilizac¸ãodecuidadosdesaúde(motivodoenc¸a) porgruposetários.
amostra relativamente equilibrada, conforme pretendido. Oestadodesaúde,consoantepercecionadopelospais,éna maioria doscasos (86,2%) bom oumuito bom. Noque diz respeitoaorendimentofamiliar, maisde metadeda amos-tra(54,7%)apresentaumrendimento líquidomensalacima de1.500D.Tratam-setambémdefamíliasresidentes sobre-tudoemambientecitadino (87,7%)ecom elevadonívelde escolaridade(cercademetadedospaiscompletaramumnível deensinosuperior).Maioritariamente,osagregadosincluem uma(41,9%)ou2(46,8%)crianc¸ase,noquedizrespeitoao segurodesaúde, repartem-seessencialmentepelo SNSem exclusivo(38,9%)epelosubsistemaADSE(43,3%), suplemen-tarmenteaoSNS.
Resultados
Utilizac¸ãodecuidadosdesaúde
Emrelac¸ãoàutilizac¸ãodecuidadosdesaúde,asrazões apon-tadasparaessautilizac¸ãoforamessencialmenterotina(44,6% dasrespostas)epormotivodedoenc¸asúbita(41,6%doscasos). Oscentrosdesaúdecorrespondemàsestruturasmais utiliza-daspelospais(82,8%),seguidosdoshospitaispúblicos(12,8%). Adecisãodeprocurarcuidadosfoimaioritariamentepor ini-ciativaprópria(74,9%).
Especificamenteemtermosdeutilizac¸ãodecuidadosnos últimos6mesesporsituac¸ãodedoenc¸a,82,76%dospais refe-riramqueutilizaramcuidadosdesaúde(39,4%correspondem aumautilizac¸ãoapenas,sendoamédia2vezeseodesvio padrão2,12).Afigura2apresentaosutilizadoresporidades, nãosevisualizandonestaanálisediferenc¸asentreautilizac¸ão porcrianc¸ascommenosemaisde13anos.
Nocaso dautilizac¸ão de cuidadospreventivos, a média obtida foi 1,49, sendo o desvio padrão 1,86. Conforme mencionadoatrás16,pelasuanatureza,estautilizac¸ãopode
sermaisinfluenciadapelo prec¸o. Apresenta-seporisso na figura3adistribuic¸ão,porgruposetários,das crianc¸asque nãoutilizaramcuidadosdesaúdepormotivodeprevenc¸ão. Também nesta situac¸ãonão sobressai umpadrão de (não) utilizac¸ãofaceaopontodecortedos13anos.
Comoreferidoanteriormente,adecisãodeprocurar cuida-dosdesaúdedependedediversosfatores,monetáriosenão
Percent ag em de resp ond entes 6-9 anos 0 5 10 15 20 25 30 35
10-12 anos 13-15 anos 16 + anos Figura3–Crianc¸asquenãoutilizaramcuidadosdesaúde pormotivodeprevenc¸ão.
monetários.Afigura4mostraaimportânciaquecadafator temparaospaisnomomentoemquedecidemprocurar,ou não,cuidadosdesaúdeparaosseusfilhos.Para3quartosdos pais,aexpetativaquantoaotempodeesperaéimportanteou muitoimportanteparaestadecisão.Esteé,deresto,ofator quereúnemaiorpercentagemde respostasnos2níveisde importânciamaiselevados.
Comomostraafigura4,etendoemcontaapercentagemde respostasnascategorias«importante»ou«muitoimportante», aseguiraotempode esperavem adistânciaàunidadede saúde,depoisahoradaocorrênciaeemquartosurgem,então, asTM.Emúltimolugar(commenorpercentagemde respos-tas),temosasdificuldadesdetransporte.Comoseconstata, aimportânciaatribuídaàsTMnãosedestaca,pelo contrá-rio,faceaosoutrosfatorespotencialmentecondicionadores daprocura.Poroutrolado,apesardesetratardeuma amos-tradecrianc¸asquevivemprincipalmentenacidade,metade dospais consideramaindaassimadistânciaàunidade de saúdecomoumfatorrelevante.Focandoespecificamenteno casodeumservic¸odeurgênciahospitalar,apercentagemde paisqueconsideraramastaxascomoimportantesoumuito importantesparaadecisãodeprocurarcuidadosfoisuperior (53,17%).
Peranteapergunta:«Nosúltimos6meseshouvealguma situac¸ão em queestando o seu filho doente não procurou
Distância à unidade de saúde Dificuldades de transporte Tempo de espera Hora da ocorrência Taxas moderadoras
Percentagem de pais que consideram o fator
importante/muito importante
10
0 20 30 40 50 60 70 80
Figura4–Importânciadediversosfatoresparaadecisão deprocurarcuidadosparaosfilhos.
Tabela2–Impactodasvariáveisindependentessobreautilizac¸ãodecuidadosdesaúde
Variável Utilizac¸ão(pordoenc¸a) Utilizac¸ão(porprevenc¸ão)
Coef. P Coef. P Idade 0,0102 0,795 –0,0762 0,205 Isento 0,1092 0,692 –0,4069 0,296 Esbommb –1,1885 0,000 –0,4114 0,163 Numcrianc¸as –0,0099 0,905 0,1386 0,280 Rend1 0,1085 0,718 0,2860 0,527 Rend2 –0,4531 0,183 –0,5319 0,345 Rend 3 –0,0628 0,775 0,3219 0,576 Rend 4 0,2739 0,293 –0,3913 0,389 Básico 0,3256 0,229 0,5427 0,184 Secundário 0,0733 0,636 –0,0202 0,948 Isento*Rend1 –0,5821 0,159 –0,1602 0,796 Isento*Rend2 0,5578 0,215 0,8279 0,175 Isento*Rend3 –0,0731 0,810 –0,6368 0,320 Isento*Rend4 –0,1885 0,580 0,1971 0,710 Constante 1,3978 0,021 0,8174 0,343
cuidadosdesaúde?»,37respondentes(18,2%)referiramque sim,sendoqueamaioriadestes(73%)optoupormedicara crianc¸aporiniciativaprópriae21,6%esperouqueoestadode saúdemelhorasse.
Quantoaosresultadosdaanálisederegressão,atabela2 mostraoimpactodasvariáveisexplicativassobreautilizac¸ão, quer por motivo de doenc¸a súbita, quer por motivo de promoc¸ãodesaúde.
A principal variável de interesse, isento, apresenta um efeito positivo sobre a utilizac¸ão no caso de doenc¸a e um efeitonegativonocasodeprevenc¸ão;contudo,emnenhuma situac¸ão o efeito é estatisticamente significativo. O rendi-mento,talcomoainterac¸ãoentreisentoerendimento,surgem comefeitosmistosesemsignificânciaestatística.Emtermos daescolaridadedamãe,possuirumníveldoensinobásico ousecundário, comparadocom ensino superior,pareceter impactopositivonautilizac¸ãopormotivodedoenc¸asúbita; jáno casode prevenc¸ão, temos umefeito positivo eoutro negativo.Todavia,talcomoemtodasasvariáveisanteriores, osefeitosnãosãoestatisticamentesignificativos.Porfim,o estadodesaúdebom oumuitobom temimpactonegativo
sobreautilizac¸ão, sendosignificativonocasoda utilizac¸ão devidoadoenc¸a.
Percec¸õesdospaissobreastaxasmoderadoras
Aúltimapartedoquestionárioprocuravasaberaopiniãodos paissobreopapeldasTM.Afigura5ilustraasrespostas obti-das.
O papelmoderadordas taxas divideospais, com 42,8% a concordar ou concordar plenamente que as taxas são necessárias para esse fim,existindo exatamente a mesma percentagemdepaiscomaopiniãocontrária.Jánoquediz respeito aopapel definanciamento,existeumamaioria de paisquevêastaxascomessedesempenhoemuitomenos discordamqueastaxasservemparafinanciaroSNS.Apesar deapenas41%dospaisteremconsideradoasTMcomoum fatorimportanteoumuitoimportanteparaadecisãode pro-curarcuidados(conformefigura4),umaesmagadoramaioria (89,1%–figura5)vêastaxascomoumabarreiraparamuitas pessoas.Tambémamaioriaconcordacomoalargamentoda isenc¸ãoatéaos18anos.
42,8 49,4 89,1 83,3 42,8 35,9 10,8 6,3 14,4 14,7 5,9 4,6 TM são necessárias para evitar uso excessivo de serviços
TM são necessárias para financiar SNS
TM são uma barreira para muitas pessoas
A isenção deveria ser alargada até 18 anos
Percentagem de
respondentes
Concordo/Concordo plenamente Discordo/Discordo plenamente Indiferente
Discussão
Com base nos resultados obtidos neste estudo, a procura decuidadosdesaúdepartiusobretudodainiciativaprópria dospais,oquetraduzumcontextopropícioàaplicac¸ãode taxas com fins de moderac¸ão. No entanto, não se encon-trouevidênciadeumcomportamentodistintonogrupodos pagantes,comparado comos isentos.Adicionalmente,este resultadoparecenão sersensívelao rendimento.Na even-tualidade dastaxas constituírem umabarreira aoacesso a cuidados,esperar-se-iaquerendimentosmaisbaixos tives-semumimpactonegativosobrea utilizac¸ão.Masestenão foiumresultadoconsistente,nemmesmonocasode cuida-dospreventivosondeseadmitemaiorsensibilidadeaoprec¸o. Omesmoocorreucomasvariáveisdeinterac¸ão:estas variá-veis mostram o impacto do rendimento sobre o efeito da variável «isento». Assumindo que para rendimentos mais elevadososerisento,ounão,tempoucaimportância,o expec-távelseria queemrendimentos baixosoefeito da isenc¸ão fossereforc¸ado.Talnãosucedeu.Estesresultadospoderãoter sidocondicionadospelotamanhoecomposic¸ãodaamostra, comumasobrerepresentac¸ãodefamíliascomrendimentos elevados.Masnãoédeexcluir apossibilidadedospais,de facto,seremmenossensíveisaocustomonetárioquandose tratadosfilhos.Estapossibilidadefoitambémavanc¸adano contextodoRANDHIE,ondesedizqueospaisquese encon-tramnuma situac¸ãodepartilha decustostêmtendência a estarmenosdisponíveisparareduzironíveldecuidadosde saúdedosseusfilhosdoqueoseupróprio.Comportamento estequeéreforc¸adoporquestõessociaisederegulamentac¸ão como, por exemplo,a exigência das imunizac¸ões e a vigi-lânciadesaúdenaidadeescolar5.Poroutrolado, talcomo
emBarrosetal.14,poderãoaindaexistirdiferenc¸asentreas
respostassobre«nós» e«os outros».Esta hipótese explica-riaasdiferenc¸asencontradasentreaimportânciadastaxas paraadecisãodeprocurar cuidadosparaosfilhosea opi-niãosobreoefeitobarreiradastaxasemgeralepara«muitas pessoas».
Nesteestudotambémnãoencontrámosevidênciadeum efeitobarreira relacionadocom onívelde escolaridade(da mãe). Novamente, poderá dever-se ao facto dos níveis de ensino superiores se encontrarem sobre representados na amostra.Tínhamos por objetivoexpandir a amostra origi-nal,aplicandooquestionárioemescolasdeconcelhosmenos urbanos;noentanto,oalargamentodaisenc¸ãodasTMpara todososmenoresanulouestapretensão.Contudo,tendoem contaosresultadosobtidosnoutrosestudos14–16,que
apon-tamparaumafracamoderac¸ãodaprocuraporpartedasTM, épossívelqueosnossosresultadosnãosealterassem signifi-cativamentecomumaamostradiferente.Acrescequeoutras condicionantesparaalémdasTMinfluenciamadecisãode procurar cuidados (por exemplo, no caso de crianc¸as resi-dentes emmeiorural, éadmissívelquea importânciados outrosfatorescomoadistânciaouahoradaocorrênciaseja reforc¸ada,masnemtantoopapeldasTM).
Oestudosofreassimdaslimitac¸õesdecorrentesda amos-tramas,poroutrolado,constituiuumajaneladeoportunidade paraavaliaroimpactodasTMnautilizac¸ãodecuidados pediá-tricos,nãosendoatualmentereplicável.
Porfim,éimportantesalientarque,apesardenãoseter encontrado evidência de um impacto significativo das TM sobreautilizac¸ãodecuidados,aexistênciadetaxasé suscetí-veldegerariniquidadesaoníveldofinanciamento,onerando maisquemtemmenosrendimentos.
Conclusões
Nopresenteestudonãoseencontrouevidênciadeumefeito moderac¸ãodasTMsobreautilizac¸ãodecuidadosdesaúde pediátricos,sugerindoqueestasnãocumpriamopapelque teoricamentejustificamasuaaplicac¸ão.Poroutrolado,nãose encontrouevidênciadeumefeitobarreirarelacionadocomo estatutosocioeconómicodospais,sendoesteumaspeto posi-tivo.Assim,econsiderandoqueasTMnuncaforamassumidas comobjetivosdefinanciamentodoSNS(talédito explicita-mentenoDecreto-Lein.◦ 113/2011,de29denovembro),não
seencontra justificac¸ãopara aexistência destastaxas.Em relac¸ãoàspercec¸õesdospaisaferidasnesteestudo, sobres-saem asopiniõesdequeastaxas constituemumabarreira ao acesso para muitas pessoas eque a sua isenc¸ão devia seralargadaatodososmenores.Oconjuntodestes resulta-dos,eressalvandoaslimitac¸õesdoestudo,suportaadecisão, implementadaem2015,deisentardasTMtodososmenores, independentementedosargumentosformalmenteavanc¸ados noDecreto-Lein.◦61/2015de22deabriledoseufundamento,
baseado,ounão,emevidência.
Conflito
de
interesses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
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