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Sintomas Otoneurológicos em Escolares

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Academic year: 2021

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Maria Luisa Dizioli Pereza; Naira de Fátima Dutra Lemosb; Maria Rita Aprilea*; Fátima Cristina Alves Branco-Barreiroa

Resumo

Distúrbios da linguagem oral e escrita podem ser consequência do comprometimento da postura, equilíbrio corporal e coordenação motora e complicar as relações espaciais, afetando a aprendizagem e a comunicação. O seguinte estudo objetiva investigar a prevalência de sintomas otoneurológicos em crianças em idade escolar, bem como verificar a associação entre a presença desses sintomas e o desempenho em avaliação de leitura e escrita. 55 crianças, entre 9 e 11 anos, alunos de escolas públicas e particulares de São Paulo, participaram deste estudo. Os procedimentos adotados foram: questionário sobre queixas otoneurológicas e avaliação de leitura e escrita com base no ato de recontar uma história previamente selecionada de acordo com o nível escolar. O desempenho nesta avaliação foi classificado em satisfatório e insatisfatório com base na produção escrita subsequente. Encontrou-se pelo menos um sintoma otoneurológico em 80% dos escolares, sendo que as queixas mais frequentes foram enjoo durante o movimento (56,3%) e desequilíbrio (40%). Na avaliação da leitura e da escrita, 41,8% dos alunos tiveram desempenho satisfatório, enquanto 58,2% tiveram desempenho insatisfatório. Dos alunos com pelo menos um sintoma otoneurológico, 56,8% apresentaram desempenho escolar insatisfatório. Por outro lado, o mesmo desempenho insatisfatório foi atingido por 63,6% dos alunos que relataram não ter qualquer queixa. Foi encontrada alta prevalência de sintomas otoneurológicos nos escolares estudados, sendo o enjoo ou tontura durante o movimento a queixa mais frequente. Não foi encontrada associação significativa entre presença de sintomas otoneurológicos e gênero, idade e desempenho na avaliação de leitura e escrita.

Palavras-chave: Doenças Vestibulares. Criança. Leitura e Aprendizagem. Abstract

Oral and written language disorders may be a consequence of the impairment of posture, body balance and motor coordination and they complicate spatial relations, affecting learning and communication. This paper aims at investigating the prevalence of otoneurological complaints in school-aged children, as well as verifying the association of these symptoms with the reading and writing evaluation performance. 55 children, between 9 and 11 years old, students in private and public schools in Sao Paulo participated in this study. The procedures adopted were: a questionnaire on otoneurological complaints and a reading and writing assessment based on retelling a story previously selected according to school level. The performance in this evaluation was classified into satisfactory and unsatisfactory based on the subsequent written production. It was found at least one otoneurological complaint in 80% of the students, being that the most frequent ones were motion sickness (56.3%) and unbalance (40%). In the reading and writing assessment, 41.8% of the students performed satisfactorily while 58.2% performed unsatisfactorily. 56.8% of the students with at least one otoneurological complaint performed unsatisfactorily. On the other hand, 63.6% of the students with no otoneurological complaints also performed unsatisfactorily. A high prevalence of otoneurological complaints was observed in the evaluated students, and motion sickness and unbalance were the most frequent complaints. There was no significant association between otoneurological symptoms and the performance in the reading and writing assessment.

Keywords: Vestibular Diseases. Child. Reading and Learning.

Sintomas Otoneurológicos em Escolares

Otoneurological Symptoms in School-Aged Children

aUniversidade Anhanguera de São Paulo, Programa de Mestrado em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social, SP, Brasil bUniversidade Federal de São Paulo, Faculdade de Medicina, SP, Brasil

*E-mail: mrita.aprile@gmail.com

1 Introdução

Crianças acometidas por distúrbios vestibulares, também denominados vestibulopatias ou labirintopatias, podem ter o equilíbrio corporal comprometido e podem relatar sintomas como: tontura, enjoo ou tontura durante o movimento, zumbido e dificuldade para ouvir.

A ocorrência de distúrbios no sistema vestibular, durante a infância, pode causar alterações no desenvolvimento motor e na aquisição das linguagens oral e escrita, afetando as habilidades de comunicação, o comportamento psicológico e o rendimento escolar1.

Queixas como mudança súbita de comportamento, agitação, perturbação do sono, cefaleia, medo de altura e de escuro,

quedas, insegurança psíquica, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, perda de consciência, náusea, vômito e incapacitação física crônica também devem ser considerados como indícios de distúrbios do sistema vestibular1.

Sonolência e diminuição da atenção, altamente indesejáveis nesse período crítico da formação intelectual, também foram descritos como sintomas presentes em crianças com distúrbios vestibulares2.

A prevalência de distúrbio vestibular em crianças é baixa, e as crianças com esse diagnóstico não apresentam tipicamente queixa principal relacionada ao equilíbrio corporal. Sintomas relacionados à perda auditiva neurossensorial, síncope e cefaleia estão associados às vestibulopatias na infância3.

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De todos os sintomas relacionados à vestibulopatia na criança, o mais relatado é a cefaleia, enquanto o segundo mais presente é a tontura4.

A criança sofre os efeitos dos distúrbios vestibulares em sua vida diária tanto quanto o adulto, apresentando por causa disso comprometimento cognitivo e isolamento social que influenciam direta e negativamente em seu desenvolvimento normal5.

A disfunção do sistema vestibular provoca no individuo, além do desconforto físico, sensações distorcidas do corpo, dos objetos que o circundam e das relações espaciais, não lhe permitindo avaliar com precisão o tamanho, peso ou extensão dos membros6.

Um estudo que comparou a percepção espacial de crianças com e sem distúrbio vestibular apontou pior desempenho das crianças com vestibulopatia em relação ao aproveitamento da folha de papel ao desenhar, ao desenho do corpo humano e à proporção entre os objetos. Concluiu, portanto, que o diagnóstico precoce da vestibulopatia é importante para que o tratamento/reabilitação seja iniciado e sintomas, como a desorientação espacial, não influenciem na aprendizagem7.

Os distúrbios da linguagem oral e escrita podem ser consequência do comprometimento da postura e do equilíbrio corporal e da coordenação motora, que dificultarão as relações espaciais e o adequado contato com o meio ambiente, alterando a aprendizagem da criança e sua habilidade de comunicação.

Um estudo brasileiro8 mostrou relação estatisticamente

significativa entre tontura e dificuldades para ler e copiar em crianças com queixas de dificuldades escolares.

O mau rendimento escolar ou um distúrbio da linguagem escrita ou oral deve ser considerado como indício de labirintopatia9.

Crianças, todavia, podem ter dificuldade em descrever suas tonturas, confundindo-as com mal-estar indefinido, por não saberem exatamente o que sentem e por não terem o domínio da linguagem10.

Dada a ocorrência de distúrbios otoneurológicos em escolares com a possibilidade de intercorrências no desempenho escolar, caracteriza-se como necessidade especial o preparo dos professores para que reconheçam indícios e/ ou possíveis sintomas dessas patologias em seus alunos e orientem os pais ou responsáveis a encaminhar a criança para investigação detalhada com profissional especializado.

Este artigo sistematiza estudo cujo objetivo foi investigar a prevalência de sintomas otoneurológicos em escolares. Além disso, o estudo investigou a prevalência desses sintomas de acordo com as variáveis: gênero, idade, tipo de escola e desempenho em avaliação de leitura e escrita, bem como verificou a associação entre a presença desses sintomas e o desempenho em avaliação de leitura e escrita.

2 Material e Métodos

O desenho deste estudo foi transversal descritivo e analítico, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Bandeirante Anhanguera, sob protocolo número 282/12.

O estudo foi realizado em duas escolas públicas, localizadas na zona norte de São Paulo. Após explicação da professora aos escolares, foram entregues 175 cartas-convites com o termo de consentimento livre e esclarecido, das quais retornaram assinadas 41 (23%). Por conveniência e seguindo o mesmo procedimento, foram incluídos 14 escolares de uma escola particular da mesma região. Ao todo, foram, portanto, avaliados 55 escolares de ambos os sexos, entre nove e treze anos.

Da amostra, foram excluídos os escolares com diagnóstico ou suspeita de transtorno de déficit de atenção (TDA), dislexia, doenças do sistema neurológico ou atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, dados baseados na informação da professora. Também foram excluídos aqueles cujos pais não assinaram o termo de consentimento.

A coleta de dados foi realizada nas escolas em setembro de 2012, com diferença de tempo de uma semana para cada escola, sendo a aplicação dos instrumentos realizada pela própria professora da classe, com duração de 50 minutos.

Para a investigação da presença de sintomas otoneurológicos foi utilizado um questionário fechado, baseado em De Deus et al.11, com respostas fechadas (nunca/

uma vez/ algumas vezes/sempre) para a presença de tontura, desequilíbrio corporal, zumbido, dificuldade para ouvir, sensação de ouvido tampado, enjoo ou tontura durante o movimento e hipersensibilidade a sons.

Para a avaliação da leitura e escrita, os escolares realizaram leitura individual e silenciosa do texto: “Ai, que dor de dente” (conto popular de domínio público), selecionado de acordo com a escolaridade. Posteriormente, foi solicitado que recontassem a história, usando suas próprias palavras, em papel timbrado. Foi permitida a consulta ao texto e à professora, e o tempo para realização da atividade não foi previamente determinado.

A leitura do texto e a produção escrita realizada na atividade de reconto foram realizadas em sala de aula, sob a supervisão da professora. As análises dos recontos e preenchimento dos protocolos foram feitos pela pesquisadora.

Na avaliação dos recontos, foram analisados os

seguintes aspectos: leitura (velocidade, exatidão, entonação, compreensão, necessidade de auxílio ou não para o reconto, nível de detalhes e identificação de personagens e cenários); construção de texto (itens linguísticos, identificação de personagens e cenários, número de enunciados completos e flexão de verbos); ortografia, seguindo o padrão de avaliação do texto, como gênero literário, segundo padrões recomendados pelo Ministério da Educação - MEC.

Para avaliação da compreensão da leitura e análise da produção escrita, foi utilizado protocolo baseado em Sousa

et al.12 e Corso et al.13, que compreende a análise da leitura

considerando os seguintes aspectos: o aluno a) reconta sem auxílio; b) identifica personagens; c) identifica cenários;

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d) sequencia os eventos de forma coerente; e) reconta sem inferências, inversões de sentido de frases ou relato de fatos não presentes no texto, preservando o sentido da história.

Quanto à análise da escrita, foram utilizados os seguintes critérios: a) usa letras maiúsculas no início das frases e em substantivos próprios; b) pontua corretamente; c) comete somente erros ortográficos previsíveis para seu nível de escolaridade (troca entre s / ss / ç / x / sc e u/l; d) faz a concordância verbal corretamente.

A partir da análise dos resultados de desempenho dos alunos nos procedimentos aplicados, os escolares foram divididos em dois grupos: G1 – com dificuldade de leitura e escrita (desempenho insatisfatório) e G2 – sem dificuldade de leitura e escrita, conforme protocolo (desempenho satisfatório).

Foi considerado desempenho satisfatório na avalição de leitura e escrita atender a todos os requisitos descritos na análise (100%).

A análise estatística foi realizada em seis etapas, sendo que as prevalências foram apresentadas na forma de valores absolutos e porcentagem. Na primeira, foram identificadas as características sócio-demográficas da amostra. Na segunda, foram descritas as prevalências na amostra, por gênero e por tipo de escola. Na terceira, foram apresentadas as prevalências de cada uma das sete queixas otoneurológicas, previamente relacionadas para o estudo. Na quarta, foram apresentados os resultados da avaliação de leitura e escrita, tanto geral (total de crianças independente de gênero e tipo de escola) quanto por gênero e tipo de escola. Na quinta, foi realizada a análise bivariada para verificar o desempenho geral na avaliação de leitura e escrita, bem como por gênero e tipo de escola. E, por último, na sexta etapa, foi realizada a análise bivariada para verificar a existência de relação entre a presença de sintomas otoneurológicos e o desempenho na avaliação de leitura e escrita.

Para possibilitar melhor compreensão do problema e análise estatística adequada, nesta etapa as variáveis foram reagrupadas: as respostas “nunca” e “uma vez” foram agrupadas em “não relata queixa(s) otoneurológica(s)”; as respostas “algumas vezes” e “sempre” foram agrupadas em “relata queixa(s) otoneurológica(s)” e as respostas “não sei” e em branco foram agrupadas em “não sabe/não respondeu”.

Dessa forma, a condição mínima para que a criança fosse classificada em “relata queixa(s) otoneurológica(s)” era ter respondido “algumas vezes” em pelo menos uma das sete questões.

Foi adotado o nível de significância de 5% (0,050) e foram utilizados os programas LHStat versão 3.5 e Microsoft ® Office Excel © 2010.

3 Resultados e Discussão

Dos 55 alunos que compuseram a amostra, 39 (70,7%) eram do gênero feminino e 16 (29,3%) do gênero masculino.

Com relação à idade, 3 (5,5%) dos alunos tinham 9 anos, 42 (76,4%) tinham 10 anos, 7 (12,7%) tinham 11 anos, 2 (3,6%) tinham 12 anos e 1 (1,8%) tinha 13 anos.

Quanto ao tipo de escola, 41 (74,5%) dos escolares frequentavam escola pública e 14 (25,5%) escola particular.

Dos 55 escolares estudados, 44 (80,0%) relataram pelo menos um sintoma otoneurológico e 11 (20,0%) não relataram. Dos 44 escolares com sintomas otoneurológicos, 32(72,7%) eram meninas e 12 (27,3%) meninos e 32 (72,7%) estudavam em escola pública e 12 (27,3%) em escola particular.

Com relação aos sintomas otoneurológicos, o enjoo ou tontura durante o movimento foi relatado por 31 (56,3%) dos escolares, seguido pelo desequilíbrio relatado por 22 (40%) e por sensação de ouvido tampado e hiperacusia relatados por 18 (32,7%) escolares (Tabela 1). Cabe ressaltar que cada escolar podia relatar mais do que um sintoma.

Tabela 1: Frequências absoluta e relativa da prevalência de sintomas otoneurológicos em escolares (n = 55) Queixa Otoneurológica Não Sim não responderamNão sabem/

Tontura 38 (69,1%) 14 (25,4%) 03 (05,5%)

Desequilíbrio 33 (60,0%) 22 (40,0%) 00 (00,0%)

Zumbido 31 (56,4%) 10 (18,1%) 14 (25,5%)

Dificuldade para ouvir 37 (67,3%) 09 (16,4%) 00 (16,4%)

Ouvido tampado 30 (54,5%) 18 (32,7%) 07 (12,7%)

Enjoo ou tontura ao movimento 24 (43,6%) 31 (56,3%) 00 (00,0%) Hipersensibilidade a sons 32 (58,2%) 18 (32,7%) 05 (09,1%) Fonte: Dados da pesquisa.

Quanto ao número de sintomas otoneurológicos, 13 (29,5%) dos 44 escolares com queixas relataram apenas um sintoma, enquanto 9 (20,45%) relataram dois sintomas, 9 (20,45%) relataram três, 7 (15,9%) relataram quatro, 2 (4,5%) relataram cinco, 2 (4,5%) relataram seis e 2 (4,5%) relataram sete sintomas.

Referente à avaliação de leitura e escrita, dos 55 alunos, 23 (41,8%) tiveram desempenho satisfatório e 32 (58,2%) insatisfatório. Com relação ao desempenho por gênero nessa avaliação, 19 (48,7%) das meninas e 4 (25%) dos meninos tiveram desempenho satisfatório (p=0,1092). Com relação ao

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tipo de escola, 12 (29,3%) dos alunos de escola pública e 11 (78,6%) dos alunos de escola particular tiveram desempenho satisfatório (p=0,0089).

Dos 44 escolares com pelo menos um sintoma otoneurológico, 19 (43,2%) tiveram desempenho satisfatório na avaliação de leitura e escrita. Dos 11 escolares sem queixa otonerológica, 4 (36,4%) tiveram desempenho satisfatório (p=0,1092).

Não foram encontradas associações estaticamente significativas entre o desempenho na avaliação de leitura e escrita e as queixas de enjoo durante o movimento (p=0,5760), tontura (p=0,9060), zumbido (p=0,6294), desequilíbrio ao andar (p=0,6624), dificuldade para ouvir (p=0,5980), sensação de ouvido tampado (p=0,6666) e hipersensibilidade a sons (p=0,7444).

A maioria dos escolares (76,7%) entrevistados tinha 10 anos de idade, concordando com o determinado pela lei n° 11.274, que define como 10 anos a idade a frequentar a 4ª série/5º ano do ensino fundamental I.

Quanto à maior concentração de estudantes do gênero feminino (70,4%), deve-se ao caráter de participação voluntária e consentida. Em outros termos, as meninas se mostraram mais interessadas em participar do estudo do que os meninos, assim como os pais das meninas se mostraram mais dispostos a autorizar a participação.

Não houve indicativo de que os pais que concordaram em participar do estudo tivessem indicação ou suspeita de que os filhos tivessem problemas otoneurológicos ou risco de alteração vestibular. Pelo relato das professoras das escolas públicas que aplicaram os testes, o consentimento se deu pelo valor e confiança que pais da camada social frequentadora desse tipo de escola dão ao trabalho da escola e da professora. Houve um caso em que o responsável escreveu no termo de consentimento: “se for para o bem de meu filho, autorizo”. Já na escola particular, também houve o componente “confiança no trabalho da professora”, mas, ao contrário da pública, os pais se interessaram em obter retorno dos resultados.

A prevalência de pelo menos um sintoma otoneurológico foi elevada (80%) nos escolares que participaram do estudo A.

A maioria dos escolares estudados (56,4%) relatou mais de dois sintomas e 40,0% deles mais de três sintomas.

Com base em exames otorrinolaringológicos e audiológicos e avaliação vestibular, um estudo brasileiro8

encontrou multiplicidade de sintomas em escolares, porém com menor frequência em relação ao que foi levantado neste estudo. Pode-se inferir que, mesmo com a adequação das perguntas ao vocabulário dos escolares e com a abertura para que pudessem resolver qualquer dúvida, sempre resta a possibilidade de que alguma incerteza possa surgir no momento da resposta.

A prevalência de sintomas otoneurológicos por gênero foi semelhante, concordando com outros estudos14,15.

Da mesma forma, a prevalência de sintomas otoneurológicos foi semelhante nos dois tipos de escola

(pública e particular). Não foram encontrados estudos na literatura que corroborem este achado.

Segundo relato das professoras, nas escolas públicas os alunos não fizeram qualquer questionamento. Já no particular, os alunos apresentaram maior dinâmica, interagindo e relatando casos em que sentiram algum desconforto otoneurológico, como enjoo e tontura.

Na investigação de cada tipo de queixa otoneurológica relatada, foi observada a dificuldade que a criança tem para descrever o que sente ou se lembrar dos sintomas. Muitas vezes, são mal interpretados pela mãe, confundindo os sintomas com outros relacionados a doenças de outras origens, como observado por outros autores2. Para minimizar a possibilidade

de má interpretação, as perguntas do Questionário de Sintomas Otoneurológicos foram formuladas de modo a descrever os sintomas, e não nomeá-los.

Dentre os sintomas otoneurológicos referidos pelos escolares, os de maior prevalência foram: enjoo ou tontura durante o movimento (56,3%) e desequilíbrio corporal (40,0%) (Tabela 1). Cabe ressaltar que todos os escolares entrevistados souberam responder se sentiam ou não esses dois sintomas. A ocorrência de enjoo durante o movimento foi mais alta (43,4%) que a observada em outro estudo 16. Quanto à queixa

de desequilíbrio corporal, este estudo encontrou prevalência maior que a identificada em estudo internacional3 (22%).

As queixas com menor prevalência foram zumbido (18,1%) e dificuldade para ouvir (11,4%), sendo que estas foram as que geraram mais dúvidas, visto que 25,5% e 16,4% dos escolares, respectivamente, não souberam responder se sentiam zumbido e dificuldade para ouvir.

A queixa de zumbido foi relatada por 18,1% da amostra estudada (Tabela 1), discordando de outros estudos com crianças brasileiras que observaram ocorrência deste sintoma entre 28,7% e 38%17-19. Contudo, a pesquisa concorda com

estudos realizados em crianças de 7 anos, na Suécia (13%)20, e

com crianças de 6 a 16 anos (15,01%), realizados na Turquia21.

Encontramos ocorrência de menor queixa de hipersensibilidade a sons (32,7%) (Tabela 1), quando o resultado é comparado a estudo realizado em Campinas (40,6%)19 e a outro da região sul do Brasil (42%)18, e mais

próximo ao de outro estudo realizado em São Paulo (29,7%)17.

A ocorrência de dificuldade auditiva foi inferior (16,4%) (Tabela 1) ao encontrado em outros estudos brasileiros (29,03% e 29%)17,19.

Um estudo22 verificou e analisou a ocorrência de sintomas

e sinais de disfunção do sistema vestibular em 64 escolares com distúrbios de linguagem. Os dados obtidos foram comparados aos de um grupo de 84 escolares sem distúrbios de linguagem. Foi possível concluir que o grupo de escolares com distúrbios de linguagem apresentou maior ocorrência de sintomas e sinais compatíveis com a hipótese diagnóstica de síndrome vestibular.

Embora menos da metade dos escolares (41,8%) tenha tido desempenho satisfatório na avaliação de leitura e

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escrita, quando comparamos os grupos com e sem sintomas otoneurológicos não observamos diferença significativa, uma vez que 43,2% das crianças com pelo menos um sintoma tiveram desempenho satisfatório e 36,4% dos escolares não apresentaram queixas.

Ao investigarem queixas otoneurológicas em escolares, autores8 encontraram menor prevalência de dificuldades

escolares (38,0%). No entanto, embora tenham estudado crianças de idade semelhante, não utilizaram um protocolo de avaliação de leitura e escrita, mas se basearam nas queixas referidas.

Outro estudo mostrou maior prevalência de queixas otoneurológicas em crianças com dificuldade escolar17.

Não foram observadas diferenças significativas entre o desempenho de meninos e meninas na avaliação de leitura e escrita, mas houve significância estatística com relação ao tipo de escola frequentada (p=0,0089), uma vez que a minoria dos alunos de escola pública (29,3%) apresentou desempenho satisfatório, enquanto que a maioria dos alunos da escola particular alcançou esse resultado (78,6%).

Esses dados corroboram com as estatísticas sobre o ensino fundamental da escola pública no Brasil. Segundo dados de 2011 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), cuja avaliação foi promovida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o desempenho em Português de alunos da 4ª série e 5° ano do ensino fundamental é satisfatório em 40%.

Em outras palavras, 60% dos alunos da/do 4ª série/5º do ensino fundamental (EF) não estão aptos a atender aos seis tópicos da Matriz de Referência de Língua Portuguesa da Prova Brasil do SAEB: procedimentos de leitura; implicações do suporte, do gênero e do enunciador na compreensão de texto; relação entre textos, coerência e coesão no processamento do texto; relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido e variação linguística.

Neste estudo, foi observado que 56,8% dos alunos com algum tipo de queixa otoneurológica apresentaram desempenho escolar insatisfatório. Por outro lado, o mesmo desempenho foi atingido por 63,6% dos alunos que relataram não ter qualquer queixa. Portanto, não foi encontrada associação entre o desempenho na avaliação de leitura e escrita e a presença de sintomas otoneurológicos.

Da mesma forma não foram encontradas associações estaticamente significativas entre o desempenho na avaliação de leitura e escrita e os sintomas otoneurológicos quando vistos individualmente.

Dentre os motivos para se ter encontrado associações estatisticamente significativas relacionamos: o viés da amostra, pois a escola pública “puxa” o desempenho para baixo, independente da presença ou não de sintomas; o rigor na definição do que é aluno com sintomas otoneurológicos; dúvidas no preenchimento do questionário; ambiente em que o questionário foi respondido e rigor na avaliação do teste de avaliação de leitura e escrita.

Considerando a importância da relação entre dificuldades escolares e a presença de sintomas otoneurológicos, enseja-se a necessidade de mais estudos visando corroborar os dados aqui encontrados e elucidar aspectos não esclarecidos neste estudo.

4 Conclusão

Pelo menos, um sintoma otoneurológico foi relatado por 80% dos escolares, sendo que enjoo ou tontura durante o movimento e desequilíbrio corporal foram as queixas com maior prevalência.

Não foi encontrada associação significativa entre a presença de sintomas otoneurológicos e gênero, idade e desempenho em avaliação de leitura e escrita. Porém, os alunos da escola pública apresentaram desempenho significantemente inferior na avaliação de leitura e escrita do que os alunos da escola particular.

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Referências

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