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A MODERNIZAÇÃO DOS AGROECOSSISTEMAS E SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: uma dualidade vivenciada no povoado de Pedra Branca/Curaçá/BA

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A

MODERNIZAÇÃO

DOS

AGROECOSSISTEMAS

E

SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: UMA DUALIDADE

VIVENCIADA NO POVOADO DE PEDRA BRANCA/CURAÇÁ/BA

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RESUMO

O presente artigo objetiva discutir sobre a modernização dos agroecossistemas e sustentabilidade socioambiental, uma dualidade vivenciada pelos ribeirinhos do povoado de Pedra Branca-Curaçá/BA. Trata-se de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa e, para desenvolvê-la, fez-se uma garimpagem bibliográfica e utilizou-se a técnica de observação in lóco, e analise de discurso da população local. Mediante os resultados observados, percebeu-se que a margem do rio São Francisco está bastante degradada por inúmeras ações antrópicas, concluindo-se que é urgente a necessidade de uma sensibilização da comunidade para a preservação dos recursos naturais e também a contextualização do currículo escolar com a realidade do referido povoado, buscando formar cidadãos reflexivos e conscientes capazes de no futuro associar desenvolvimento e sustentabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Agroecossistemas; Ecossistemas; Preservação.

ABSTRACT

This article aims to discuss the modernization of agro-ecosystems and environmental sustainability, a duality experienced by the riverside village of Pedra Branca-Curaçá/BA. This is an exploratory, qualitative, and to develop it, became a mining literature and used the technique of in situ observation and analysis of discourse of the local population. From the results observed, it was noted that the margin of the Sao Francisco River is severely degraded by numerous human activities, concluding that there is an urgent need for community awareness for the preservation of natural resources and also the context of the school curriculum with the reality of that town, trying to form reflective and conscious citizens capable of associating the future development and sustainability.

KEYWORDS: Agroecosystems, Ecosystems, Conservation.

1. INTRODUÇÃO

O Povoado de Pedra Branca é uma comunidade ribeirinha, situada às margens do rio São Francisco, no Município de Curaçá/BA, no Semiárido baiano. Por volta do ano de 1919, onde hoje está situada Pedra Branca havia apenas um morador, conhecido por seu Chicó, que sobrevivia do que a natureza lhe oferecia: plantava roça, criava animais, pescava e o seu meio de transporte era uma canoa. Até 1940 havia uma grande dificuldade por parte da população em conseguir mantimentos e eram “forçados” a buscar estes muito longe de suas áreas de origem. Formavam grandes comboios2, com vários animais e se deslocavam em busca de alimentos como mel, farinha e rapadura. (LOPES, 2000).

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Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco (Doutoranda em Educação (USF/AR); Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano). cleciapacheco@hotmail.com; Reinaldo Pacheco dos Santos (Especialista em Gestão Escolar; Licenciando em Matemática – UPE). reinaldo-pacheco@hotmail.com.

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Os tropeiros3, como eram conhecidos, precisavam se locomover de um lugar para outro em busca de mantimentos e, enfrentavam grandes desafios, como por exemplo, atravessarem rio juntamente com seus animais ou suas montarias. A travessia nas idas e vindas dos tropeiros, feita no rio São Francisco no trecho entre Pedra Branca e municípios pernambucanos, ficou conhecido como Porto de Pedra Branca. Os moradores relatam que havia muitas rochas brancas nesse povoado que refletiam a luz do Sol e, por conta disso a referida denominação. Segundo LOPES (2000, p. 123):

Os moradores das redondezas de Pedra Branca, até 1937, frequentavam a feira do Ibó, a 30 quilômetros de distância, rio abaixo, o que era muito sacrificante. Percebendo essa dificuldade e as vantagens que se poderiam tirar dela, o Sr. Barnabé e um comerciante do Ibó deram início a uma feirinha, aos sábados, no porto da Pedra Branca, “pra ficar mais perto pro povo”. Depois de iniciarem a feirinha, algumas pessoas começaram a levantar casas ao redor do espaço onde ela acontecia e, assim, o porto foi se transformando em povoado.

Foi assim que surgiu o povoado de Pedra Branca. Na década de l980, a comunidade de Pedra Branca vivenciou um período de conquistas. Por volta da década de 1980 foi instalada a rede elétrica e a água encanada, posteriormente instalou-se um posto telefônico e, em 1989, chegou à balsa que possibilitou o transporte de veículos pesados, como caminhões e outros, entre Pedra Branca/BA e outras localidades do Estado da Bahia e Pernambuco.

2. BREVE REVISÃO CONCEITUAL E DE LITERATURA

Na concepção de Triviños (1987, p. 101) a revisão da literatura ou fundamentação teórica, é o fundamento que orientará a pesquisa e é também um componente indispensável a qualquer tipo de pesquisa. Desta maneira, iniciarei breve fundamentação e conceituação teórica acerca da temática abordada.

O Semiárido brasileiro é uma região caracterizada por forte insolação, altas temperaturas e regimes marcados pela escassez, irregularidade e concentração das precipitações num curto período, de três meses, em média. Ocupa uma área de 982.563 km², contendo cerca de 1.133 municípios, sendo que a região Nordeste com 1,56 km² (18,2% do território nacional) detém a maior parte do Semiárido brasileiro (ANGELOTTI; SÁ; MELO, 2009, p. 41).

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A partir da década de 1970, as atenções se voltaram para o processo de modernização do Semiárido, por conta da agricultura irrigada, entendida naquela época como sendo o elemento chave que transformaria a realidade semiárida, com condições climáticas consideradas competitivas, isto é, por conta da forte insolação diária e anual, favoreceriam a produção irrigada de frutas tropicais que pudessem atender as exigências do mercado interno e principalmente externo e modificaria a realidade semiárida da época. (SILVA, 2009).

Os investimentos estatais no setor agrícola permitiram a criação de grandes polos de desenvolvimento com a agricultura irrigada, constituindo assim, um novo modelo produtivo em áreas do Semiárido brasileiro. No entanto, estudos e pesquisas têm demonstrado alguns limites técnicos nos perímetros irrigados. De acordo om Christofidis, (2001, p. 182) “no Semiárido brasileiro as informações das entidades publicas que têm responsabilidade pela irrigação, CODEVASF e DNOCS, situam a área salinizada decorrente da irrigação em 5.500 ha”. Não a questão da salinização dos solos, mas principalmente as praticas inadequadas da agricultura irrigada têm provocado maior fragilidade ambiental dos ecossistemas naturais, seja flora ou corpos hídricos.

Partindo dessas premissas é relevante conceituar agroecossistemas, que são ecossistemas utilizados para a agricultura possuindo os mesmos processos, componentes interações que o ecossistema natural. No entanto, além das funções ecológicas atreladas a processos como ciclagem de nutrientes, ciclo hidrológico e clima, possui a função de produção excedente àquela necessária a manutenção do próprio ecossistema, voltada ao atendimento das necessidades humanas (PARK & COUSINS, 1995 Apud UZÊDA, 1999, p. 2).

Corroborando com tal conceituação, Altieri (1989) define agroecossistemas como sistemas abertos que recebem insumos e exportam produtos. Segundo este autor os agroecossistemas diferem dos ecossistemas naturais, pois estes reinvestem grande parte da sua produtividade para manter a estrutura física e biológica necessária para sustentar a fertilidade do solo e a estabilidade biótica. A exportação de alimentos e colheitas limita esse reinvestimento nos agroecossistemas, tornando-os altamente dependentes de insumos externos para completar a ciclagem de nutrientes e o equilíbrio das populações faunísticas e florísticas que nele habitam.

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Partindo do pressuposto de que o agroecossistema é um ecossistema utilizado pela agricultura, destacamos que este deve ser sustentável para que possa dar resultados positivos. Dessa maneira é importante apontar o que podemos denominar de ecossistema. Na visão de Conway, 1985 (Apud UZÊDA, 1999, p. 6) ecossistema sustentável é aquele que mantém a produtividade mediante situações de estresse e distúrbios, incluindo aqueles causados por perturbações intensas ou de larga escala. Ou seja, no caso da irrigação da agricultura, o uso intensivo dos solos provocam estresse e desequilíbrios neste, sendo necessário o uso de adubos e fertilizantes, que na maioria das vezes não são naturais, mas que ajudam na recomposição da fertilidade do solo.

Daí a necessidade de um intenso debate de sensibilização da comunidade agrícola em torno da implementação de práticas agrícolas sustentáveis principalmente no contexto do Semiárido, onde os solos já são comprometidos pelo alto índice de evaporação natural por conta das altas temperaturas. Agricultura sustentável tem sido definida como uma prática que envolve o manejo adequado dos recursos, visando à satisfação das necessidades do homem, mantendo ou realçando a qualidade do ambiente e conservando os recursos naturais (FAO, 1989). Desse modo, a agricultura sustentável deve ser entendida como aquela preocupada em adequar o manejo de uso do solo à realidade semiárida, com praticas que levem em consideração a resiliência4 dos ecossistemas, até porque os agroecossistemas interagem com outros ecossistemas e principalmente, com os sistemas econômicos e sociais. De acordo com Vitousek & Hooper (1994) Apud Uzêa, (1999, p. 7):

O desenvolvimento de uma agricultura sustentável deve estar fundamentado no uso dos recursos dentro de limites renováveis e em mecanismos de controle da eficiência do uso desses recursos. Porém, deve se ter em mente que os limites renováveis dos recursos são características inerentes a cada ecossistema em particular.

Hole (1981) Apud Uzêa (1999, 7) afirma haver uma forte ligação entre a complexidade interna de um ecossistema e a eficiência do uso dos recursos, principalmente quando se trata da ciclagem denutrientes. No entanto, os solos escolhidos para serem utilizados pela atividade agrícola irrigada foram os melhores, os mais férteis, entretanto, com o passar dos anos e com a intensidade e má utilização desses solos, os mesmos já apresentam sinais elementares de degradação e de crise.

4 Capacidade que um ecossistema apresenta, após momento de adversidade, conseguindo se adaptar ou evoluir positivamente frente

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Portanto, para Furtado (1974), a orientação geral do desenvolvimento capitalista é por si só excludente e “o custo, em termos de depredação do mundo físico, desse estilo de vida, é de tal forma elevado que toda tentativa de generalizá-lo levaria inexoravelmente ao colapso de toda uma civilização, pondo em risco as possibilidades de sobrevivência [...]”. (FURTADO, 1974, p. 75).

3. MODERNIZAÇÃO DOS AGROECOSSISTEMAS E A

SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL: UMA DUALIDADE?

Sendo o povoado de Pedra Branca uma comunidade ribeirinha, cuja estabilidade depende quase exclusivamente do rio São Francisco, vivem uma dualidade – a pratica da agricultura irrigada, quase que a única forma de sustento familiar e a necessidade de preservação dos ecossistemas - que são afetados direta ou indiretamente por conta da prática agrícola desordenada e intensiva.

As águas do rio São Francisco irrigam todos os cultivos agrícolas do povoado que dispõe de: banana, cebola, arroz, entre outros, sendo que, somente o arroz, exige cerca de 15.000.000 litros de água para irrigar apenas 1 hectare, por safra. As duas espécies citadas anteriormente também necessitam de bastante água, porém, não tanto quanto o arroz. Na verdade, a prática agrícola antiga e mais comum no povoado é a monocultura5 que acarreta aumento de incidência de das pragas e doenças, esgotamento da fertilidade natural do solo, falta de equilíbrio natural, entre tantos outros aspectos. Porto-Gonçalves (2008, p. 1) afirma que:

A agricultura através de monocultivos é uma das principais inovações do chamado mundo moderno. Antes de ser um fenômeno técnico, como costuma serem apresentadas, as monoculturas são um fenômeno político. Ou melhor, são um fenômeno ao mesmo tempo técnico e político. Até o século XVI, as práticas agrícolas sempre se caracterizaram pela diversidade de cultivos e pela associação da agricultura com a criação de animais e com o extrativismo (de madeira, de lenha, de frutos selvagens). As primeiras grandes monoculturas foram implantadas no arquipélago dos Açores, na África, e depois na América. Até então não se conhecia em qualquer lugar do mundo um grupo social, uma comunidade ou um povo que se caracterizasse por tais práticas.

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A prática da monocultura já mencionada e fundamentada anteriormente empobrece consideravelmente o solo, esgotando-o e gradativamente tornando-o improdutivo ao longo dos anos, em certos casos sem reversão. Além disso, os adubos químicos utilizados na irrigação também são vilãos no processo degradatório, pois são arrastados pela chuva até as margens do rio contaminando assim a água que será fornecida aos habitantes do povoado.

Segundo Guerra; Silva e Mattos (2000) afirmam que “A degradação ambiental resulta das alterações introduzidas no ambiente pela atividade humana. Há algumas dezenas de anos, essas modificações eram limitadas às áreas mais densamente povoadas, mas atualmente atingem toda a biosfera” (GUERRA; SILVA; MATOS, 2000, p. 35). De acordo com a óptica de FAVALLI; PESSÔA; ANGELO, (2009, p. 99):

Para reduzir os efeitos negativos gerados pelo uso do solo na agricultura, o agricultor deve adotar algumas práticas, como: preservar parte da vegetação natural, deixando algumas árvores grandes, troncos e vegetação rasteira, para que cresçam novamente após a colheita; não cultivar por muitos anos seguidos o mesmo local, permitindo uma rotação entre o cultivo e a vegetação característica do local; evitar a monocultura; realizar um estudo local onde se pretende cultivar, avaliando os possíveis impactos sobre o meio ambiente e os seres vivos; reduzir o uso de produtos agroquímicos.

Sendo assim, a sustentabilidade ambiental implica a recuperação e conservação de recursos naturais dos ecossistemas no Semiárido. Uma produção apropriada requer a combinação de diferentes manejos. Nos cultivos agrícolas, deverão ser consideradas, entre outras, a consorciação e a rotação de culturas, considerando as praticas de manejo sustentado da caatinga, incluindo os métodos de irrigação apropriados à realidade regional e às condições da agricultura familiar. (SILVA, 2009).

Portanto, para conviver no espaço Semiárido significa saber “viver com” como afirma Pimentel (2002, p. 193). Para este autor, “significa a possibilidade de interação e coexistência dentro de uma logica de reciprocidade, da aceitação e do cuidado [...]”. Entretanto, essa convivência só será satisfatória a partir da contextualização do currículo escolar, onde será possível a conscientização das crianças, futuros cidadãos pedrabranqueses. A educação contextualizada no Semiárido, parte do pressuposto de que o currículo contextualizado “seja baseado na ideia de que só é possível dar mais sentido ao processo de ensino e aprendizagem si se construir na historicidade dos

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sujeitos sociais, intersubjetividade, especialmente dentro da complexidade de tais processos históricos”. (Souza, 2005, p. 98).

4. METODOLOGIA

Na concepção de Triviños (1992, p. 96): "Qualquer que seja o ponto de vista teórico que oriente o trabalho do investigador, a precisão e a clareza são obrigações elementares que deve cumprir na tentativa de estabelecer os exatos limites do estudo". Fundamentada em tal afirmação tentar-se-á nesse trabalho obter o maior rigor metodológico possível, a fim de seguir o referencial metodológico que embasa este trabalho.

A presente pesquisa é de natureza qualitativa, e se dedica à compreensão dos significados dos eventos, sem necessidade de apoiar-se em informações estatísticas. Quanto aos objetivos possui caráter exploratório, onde tem “como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema” (GIL 1991, p. 45-46).

Quanto ao delineamento da pesquisa esta possui um caráter bibliográfico, onde se fundamentou por meio de fontes secundárias - literaturas (livros, artigos, revistas) - que abordam sobre agroeossistemas, ecossistemas e sustentabilidade de maneira geral e especificamente sobre a convivência no espaço Semiárido brasileiro e a própria historia do povoado pesquisado.

No que diz respeito à coleta de dados, utilizou-se a observação que tem como principal objetivo a obtenção de informações por meio dos órgãos dos sentidos do investigador durante permanência in loco. A observação não consiste somente em ver ou ouvir, mas também em analisar o fato ou fenômeno observado. Sendo assim, fizeram-se visitas ao local durante os meses de janeiro a junho de 2012, com uma visita mensal, onde foi possível observar a realidade ambiental local, visualizar o perfil marginal do rio São Francisco e obter maiores informações por meio de conversas informais e/ou análises dos discursos da população local.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente artigo busca discutir sobre a modernização dos agroecossistemas, suas consequências e a questão da sustentabilidade socioambiental, no povoado de Pedra

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Branca/BA. De acordo com Triviños (1987, p. 101), "os instrumentos utilizados na pesquisa, o questionário, a entrevista, a observação, etc., para a coleta de informações, são iluminados pelos conceitos de uma teoria". Partindo desse pressuposto teórico, apresentar-se-á os resultados obtidos na pesquisa por meio das observações efetuadas in

loco, e embasado nos referenciais teóricos.

É visível no povoado foco da pesquisa, o desmatamento das margens do rio São Francisco para a prática da agricultura, seja ela para exportação ou familiar, assim como o desmatamento da caatinga, único bioma exclusivamente do Brasil, o que deixa o solo totalmente vulnerável aos processos erosivos. A prática da agricultura irrigada é que sustenta 90% das famílias residentes no povoado, no entanto, as praticas intensivas de monoculturas têm provocado certo empobrecimento dos solos, que necessitam de fertilizante e adubos químicos, onde este tem sido um dos grandes vilões de contaminação dos solos e dos corpos hídricos locais.

Em pesquisa divulgada pelo IBGE (2011), sobre saneamento básico no país, foi constatado que, com 6,24%, os agrotóxicos ficaram a frente dos despejos industriais e da atividade mineradora como origens de contaminação. O uso indiscriminado dessas substâncias acaba afetando tanto a vida quanto a saúde da população do povoado pesquisado.

Às margens do rio São Francisco nesse trecho não se percebe a existência da mata ciliar nativa e sim, a disseminação de algarobeiras. A algaroba, Prosopis Juliflora, já está invadindo áreas de caatinga e margem de rios, impedindo a propagação de espécies nativas, visto que a planta possui uma espécie de toxina que inibe a germinação de plantas ao seu redor. Por conta disso, na concepção de Brunet (2008), nos últimos dez anos a algaroba passou de salvadora a vilã no semiárido nordestino.

É possível ver também vasilhas de defensivos agrícolas “flutuando” nas aguas do rio São Francisco e, não só isso, mas garrafas pet, restos de pneus, sacolas plásticas, lixo domestico e, até mesmo, pessoas que se dirigem até a margem do rio para limpar as vísceras de animais abatidos e o fazem dentro desse rio. É notória também a presença de banhistas, que aproveitam as aguas rasas da margem do rio, para banhar-se aos finais de semana, deixando um rastro de poluição nas aguas e nas margens.

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Percebeu-se também o processo de erosão cotidiana efetuada pela balsa, único meio de transporte fluvial capaz de facilitar a travessia de automóveis de passeio, caminhões e scanneas, de motos, pessoas, animais, entre uma margem e outra do rio, que dar acesso ao povoado de Pedra Branca. Esse essencial transporte fluvial também faz inúmeras travessias durante o dia e a cada atracamento feito “no porto” de Pedra Branca, causa também desgaste nas margens provocado pela a erosão fluvial lateral6.

Portanto, todas essas ações antrópicas observadas e sinalizadas são fatores cruciais responsáveis pela degradação dos ecossistemas existentes no povoado foco da pesquisa. Assim sendo, é fundamental um repensar a partir da base, que seria a educação, onde seja possível implementar um currículo contextualizado à realidade ribeirinha e semiárida, visando a conscientização das crianças de hoje que serão os adultos de amanha. É crucial pensar na sustentabilidade local, visando garantir a preservação dos recursos naturais às futuras gerações.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos, esse trabalho é resultado de um estudo minucioso acerca da modernização dos agroecossistemas e da sustentabilidade socioambiental - uma dualidade vivenciada pelos ribeirinhos do povoado de Pedra Branca-Curaçá/BA- que exigiu no decorrer do muita observação, analise, reflexão e síntese. O referido trabalho trouxe uma gama de conhecimento que considero de grande relevância, onde destaco a historia de formação do povoado, as riquezas naturais lá existentes e o processo de modernização agrícola que lá ocorreu a partir da década de 1970.

Foi um estudo realmente, muito interessante e instrutivo, tendo em vista que, por meio da observação foi possível constatar que cerca de noventa por cento da economia familiar local descende da agricultura irrigada, e quem não trabalha como produtor agrícola, presta serviço oferecendo sua mão de obra nas áreas irrigadas.

Percebeu-se também que os moradores se veem entre a necessidade de utilizar os agroecossistemas modernos como fonte de trabalho e renda e a necessidade de

6 A erosão fluvial é resultante da ação dos rios e é lateral quando o desgaste é efetuado nas margens, provocando o alagamento dos

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sustentabilidade ambiental, tendo em vista que é a agricultura irrigada um dos grandes vilões de poluição e degradação dos solos e dos corpos hídricos.

Portanto, é de grande relevância a discussão acerca da sensibilização da população do povoado para a importância da preservação e conservação dos ecossistemas naturais e também da adequação de um currículo escolar contextualizado com a realidade local, buscando conscientizar os futuros cidadãos, que sejam capazes de no futuro associar desenvolvimento e sustentabilidade.

7. REFERÊNCIAS

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