UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA
CATARINA
CENTRO
SOCIO
ECONOMICO
r -v
PROGRAMA
DE
POS-GRADUAÇAO EM
ADMINISTRAÇAO
PLANEJAMENTO
GOVERNAMENTAL:
UM
INSTRUMENTO
A
SERVIÇO
DO PODER
MARIA
JosÉ
MENEZES
DISSERTAÇAO SUBMETIDA
COMO
REQUISITO
PARA A
OBTENÇÃO
DO
GRAU
DE
MESTRE
ll
PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL;
UM
INSTRUMENTO
A
SERVIÇO
DO PODER
MAR|A
JOSE
MENEZES
- ~ 1
ESTA D|SSERTAçAo
PorJULGADA
ADEQUADA
PARA A OBTENÇAO DO
T|TuLo
DE
MESTRE EM
AD|v||N|sTRAÇÃo
(AREA DE
cONcENTRAÇAoz ADM|N|STRAÇAo
PuBL|cA), E
APROVADA
EM
SUA
FORMA
FINAL
PELO
CURSO
DE
PÓS-GRADUAÇÃO.
Prof. Antonio Niccoló GriIIo
COORDENADOR
DO
CURSO
APRESENTADA
PERANTE
A BANCA EXAMINADORA
COMPOSTA
DOS
PROFESSORES:
Prof. Ubiratan
Simões
Rezende, Ph.D.PRESIDENTE
Prof. Nelson Colossi, M.Sc.
Aos
meus
pais"O
planejamentodeve
ser orientado para o povo.Deve
serconstruído
em
torno dohomem,
de suas necessidades, desejos e esperanças, sua conveniência e sua felicidade”.J. M.
CAMPBELL
V
APRESENTAÇÃO
Consubstanciando a última etapa
de
um
programa
de
estudos desenvolvido para a obtenção do grau de Mestreem
Administração pela Universidade Federalde
Santa Catarina, este trabalho representa o resultadode
uma
somação
de
esforços
e
um
justo prêmio aosque
dele participaram quer direta, quer indiretamente.Em
primeiro lugar, mencionominha
família, especialmentemeus
pais, osquais
me
ensinaram o caminhoda
paciência, perseverança e humildade, qualidadesque
me
foram essenciais à realização desta Monografia.Destaco, também, a valiosa contribuição dos professores orientadores Nelson Colossi e Ubiratan
Simões Rezende
que,combinando
dedicação intelectual ecompreensão
humana, proporcionaram-me o apoio necessárioao
desenvolvimentoda
pesquisa.
'
Dado
o risco de omissão, generalizo omeu
agradecimento a tantosquantos cooperaram,- inclusive
com
palavrasamigas de
motivação e estímulo,cumprindo-me ressaltar a coordenação,
bem
como
professores, colegas e funcionáriosdo curso.
Quanto
a mim, sinto-me plenamenterecompensada
pelo sacrifício, pois tivea oportunidade de familiarizar-me
com
uma
área de estudo cuja importância avultano
de
realizarum
trabalho que,ao
menos, denunciasseuma
crescente marginalizaçãoda
grande maioria
da
sociedade,dada
a existência, a nível mundial,de modelos de
planejamento altamente elitistas, malgrado administrados
em nome
daquela sociedade.Assim
sendo,ao tempo
em
que
pesquisava aspectosde
tão grande relevo, no planomacrossocietário, concretizava o intento - dentro
do que
me
foi possível -de
desenvolver
um
trabalhoque
expressasseminha
preocupaçãocom
o
serhumano,
particularmente
com
aquelesque
sofrem,de
forma mais intensa,com
asconseqüências negativas
da
imposiçãode
valores no direcionamentoda
vidahumana
associada. 4
VII
REsuMo
Em
termosde
decidir antecipadamenteo
que
sedeve
fazer, planejaré
uma
atividade própria do ser humano; portanto,
sempre
existiu.O
planejamento governamental se iniciou, contudo, na Rússia,após
a Revolução bolchevista, mais precisamente nadécada
dos 20,como
um
instrumento aserviço do desenvolvimento econômico.
Desde
então, gradativamente e,com
o
declínioda
ideologia liberalista, a intervençãodo
Estadona economia passou a
seruma
atividade constante, principalmente
em
paísesem
desenvolvimento.A
própriacrescente complexidade
com que
se revestem as necessidadese
aspiraçõesda
sociedade tem exigido, cada vez mais,
um
embasamento
científicodos
critériosnorteadores do processo de
tomada de
decisões.1
Ressalta-se, contudo,
que
a capacidade racionalizadorado
processode
planejamento não é condição suficiente para o prevalecimento dos interesses públicos
sobre os privados, pois isto
depende da
representatividade e poder concedidosaos
segmentos
integrantesde
toda a sociedade. Infere-se, dessa forma,que
a
atividadeplanejadora encerra sérios riscos, caso
venha
a se vincular basicamente a interessesparticulares de grupos minoritários
que
detenham
o poder.As
formasde
aplicação do planejamento governamental variamem
funçãode. diferentes condições históricas, políticas e econômico-sociais de
cada
país.No
insere o planejamento do Estado, quais sejam: as
economias
de
planificaçãocentralizada, tendo sido utilizado,
como
exemplo, aURSS
e as economias mistas,onde
coexistem livre iniciativa e intervenção estatal.
Nas
economias
centralizadas, o planejamento substitui osmecanismos de
mercado no
direcionamentodo
sistema econômico, ou seja, o que determina ofuncionamento deste são
normas
e decisões govemamentais.O
govemo
é o único agente planejador e aexecução
dos planos é praticamente privativa do setor público, oqual centraliza a
economia
nacional. _Nas
economias
mistas, o planejamento não substitui o sistema de preçosmas
sim, corrige suas distorções, a fim deque
a alocaçãode
recursosaumente
aeficiência econômica,
sendo que
a influência dogovemo
pode
ser exercidade
formadireta ou indireta.
Observa-se, não obstante] a busca
de
um
modelo
eclético, visando aconciliação
do dinamismo da
livre iniciativa inerenteao
capitalismocom
aracionalidade
que
caracteriza o planejamento centralizado, procurando-se evitar odesperdício
da
produção capitalista ou a lentidão burocrática da administraçãosocialista.
Na
verdade, muitas diferenças fundamentais entre os dois sistemas estãofora dos estreitos limites da economia: referem-se ao lugar
do
individuo na sociedade eao
graude
aceitação dos valores individuaiscomo
condicionantesdo
cursodos
acontecimentos.
ix
A
intervenção do Estado via planejamento se faz mais premente nos paísesditos subdesenvolvidos, face à necessidade
de
se imprimir aoseu
processode
desenvolvimento
um
ritmo aceleradoque
diminua adefasagem
que
os separa dos países considerados mais desenvolvidos. 'Utilizando-se
como
marco
referencial a América Latina, procurou-seevidenciar, não obstante, que o planejamento para o desenvolvimento
tem
acarretadoconseqüências nefastas aos países
onde
ele é implementado. Tais conseqüências dizem respeito, mormente, à subordinaçãoao
podereconômico
internacional,bem
como
a certa negligência às responsabilidades sociais, por parte do Estado, o qualtem
servido basicamente a interesses privados. Assim, o processo
de
desenvolvimento temcontemplado tão-somente
uma
minoria -ao
adotar técnicas produtivas e padrõesde
consumo
próprios dos países mais desenvolvidos - sendo,também,
incapazde
corrigirdistorções inerentes à estrutura econômico-social.
Especificamente no Brasil, os planos
de
governonão têm
representado, damesma
forma, os interesses da maioriada
sociedade, oque
implica dizer,não têm
atendido às necessidades sociais básicas.
Na
verdade,desde
seus primórdios, o planejamento brasileiro tem-secaracterizado por
uma
crescentehegemonia do
Poder Executivo, a parde
uma
crescente centralização do processo decisório ensejando,
também,
uma
aliança entre o governo tecnoburocrático e a grandeempresa
capitalista, quer nacional - estatal eprivada - quer transnacional.
O
processode
desenvolvimento tem, portanto,determinados setores
da
economia, às expensasde
uma
subordinaçãodo
Brasilao
sistema capitalista internacional.
Assim
sendo, a experiência brasileiraem
planejamentotem
conduzidoa
uma
ênfase acentuadaao
tecnicismo e à racionalidade econômicana
definiçãode
diretrizes econômico-sociais, as quais
passaram
a se voltar, cada vez mais, paraaspectos
econômicos da
realidade - malgrado as intençõesde
cunho social -e
a senortear basicamente por critérios
de
eficiênciaem
detrimentode
valoresessencialmente societários.
Com
efeito, malgrado suas diferentes formasde
aplicação, o planejamentogovernamental realiza-se via aparato burocrático, vinculando-se, assim,
ao
instrumental político-administrativo do Estado. Conseqüentemente, é lícita a crença
de
que
o planejamento constituium
instrumento manipulado poruma
elitecom
acesso
ao
processo decisório
da máquina
estatal.Cumpre,
então, assinalarque
ofenômeno
burocrático insere-seno
conhecimento administrativo, considerado por muitos dos seus estudiosos
como
um
conhecimento instrumental a serviçodo
poder, quer econômico, quer político. Portanto,o planejamento
que
se efetua no contextode
burocracias associa-se inevitavelmenteao
poder, vale dizer, aos interessesde
uma
minoria, vez que o processo decisórioburocrático é elitista. Tal minoria impõe, então, seus valores ao restante
da
sociedade,do
que
decorreo
não
atendimento de muitas das necessidades básicasda
vida socialxi
Assim é
que
naURSS,
a tecnoburocraciaque
dirige a sociedadea
partirde
uma
dominação
burocrática,tem
servido basicamente aos interessesda
burocraciacomo
classe dirigente, presen/ando seus privilégios e obstaculizando as reivindicaçõesdos
demais componentes da
sociedade, isto é, as necessidades sociaisnão têm
sidodevidamente atendidas. »
Nos
países capitalistas monopolistas - basicamenteEUA
e EuropaOcidental - observa-se que, paralelamente
ao
desenvolvimento das instituiçõesdemocráticas, tem havido
uma
expansão
das burocracias governamentais, nas quais desenvolve-seum
planejamento a serviço dos capitalistas - monopolistas eoligopolistas -,
sem
deixar de servir aos tecnocratas. Confunde-se, no planejamento degoverno, objetivos públicos
com
objetivos das grandes firmas - eda
empresa
privadade
modo
geral -, oque
traduz-senuma
negligência às necessidades sociaisnão
relacionadas
com
o interesse econômico._
No
que tange aos países capitalistas dependentes, o planejamento tem-seefetuado, não raro, através
de
um
Poder
Executivo forte acom
alto graude
centralização, estando a serviço
da
classe capitalista esendo
uma
forma de atecnoburocracia estatal assumir poder crescente no âmbito
do
Estado.Dessa
forma, o crescimento econômico, elitista e concentrador, tem sidoum
valorque
predomina sobre a justiça social.O
planejamento governamental no âmbitoda
tecnoburocracia brasileira, damesma
forma, tem sidoum
planejamento predominantementeeconómico que
burocrático governamental,
que
aquele planejamento ensejou,tem
resultadonuma
estrutura político-administrativa
com
escassa pemieabilidade à participaçãoe
representação dos diversos
segmentos que
integram a sociedade, e,numa
defesade
interesses
do
grande capital, tanto nacional quanto estrangeiro.Assim
sendo, o planejamento brasileironão
tem refletidoos
valoressocietários, porquanto os problemas sociais ligados
ao
desenvolvimentonão
sãodevidamente interpretados, vez que as variáveis
que não
asde
'naturezaeconômica
são alijadas
do modelo
de desenvolvimento. Por conseguinte, o quadro referencialque
informa os responsáveis pelas decisões dissocia-se
da
realidade social, sobre a qualpassam
a imperar valores economicistas e racionalistas, incapazesde
dar respostassatisfatórias às necessidades da vida
humana
associada.A
título de considerações finais este trabalho sugere, então, a participaçãocomunitária
no
processo de planejamento, a fimde que
o serhumano
-ontologicamente participante - constitua o fundamento e o fim da vida social
e
opovo
torne-se sujeito
da
história e nãomero
espectador.Dessa
forma,a
participaçãocomunitária
na
definiçãode
diretrizes públicas,como
concepção de
uma
políticahumanista, representa
uma
alternativa 'às tendênciasdesumanizadoras
da
concentração
do
poder, querem
mãos
do
capital, querem
mãos
do
Estado,ou de
uma
ABsTRAcT
ln terms of previously deciding
what
should be done, planning is an activitypertaining to
human
beings, consequently it has always existed. However,govemmental
planning started in Russia after the Bolshevik Revolution,more
preciselyin the 1920's, as an instrument which
was
at the service of economic development.Gradually, ever since,
and
with the fall of liberalist ideology, the intervention of theState in the
economy
came
tobe a
constant activity, specially in developing countries.The
increasing complexity with which are coated the necessities and aspirations of asociety, have claimed, in an increasing fashion, a scientific basis for the leading criteria
of the decision-making process.
However, it is
emphasized
that the rational capacity of the planning processis not a sufficient condition to
have
the public interest prevail over the private interest,since this
depends
on the representativenessand power
attributed to thesegments
ofthe entire society. This way, it is inferred that the planning activity includes serious risks
in case it
becomes
basically attached to the particular interests of minority groups whichhold power.
.
The
forms of application of governmental planning vary as functions ofdifferent historic, political
and
socioeconomic conditions of every country. This studyeconomies
of centralized planning, for example in the Soviet Union,and
mixed-economies where
free initiativeand
state intervention coexist side by side.ln centralized economies, planning substituted the market
mechanism
in themanagement
of the economic system, in other words, what determines the functioningof such a system are
govemmental
decisionsand norms.The
government
is the onlyplanning agent
and
the execution of the plans is practically dominated by the publicsector, which centralizes the national economy.-
ln mixed-economies, planning does not substitute the-system of price but it
corrects its distortions, so that the allocation of resources increases
economic
efficiency,
hence
government influencemay
be exercised in direct or indirect forms.One
observes a search for an eclectic modelaimed
at the conciliation of thedynamism
of free initiative inherent in capitalism and the rationality which characterizescentralized planning; trying in this way, to prevent the waste of capitalist production or
the bureaucratic slowness of socialist administration. ln reality,
many
of the differencesbetween
the two systems are placed outside of the narrow limits of theeconomy:
theyrefer to the place of the individual in the society
and
the degree of acceptance ofindividuals' values as conditioners of the course of events.
The
intervention of the State via planning ismore
prevalent in countrieslabeled underdeveloped, due to the necessity to imprint in their development process
an accelerated rhythm which will decrease the lag which separates
them
from countriesconsidered to be developed.
XV
Using Latin America as a point of reference, the intention
was
tomake
evident that planning for development
has
caused ominousconsequences
to thecountries
where
it is implemented.Such consequences
are related, chiefly, to thesubordination to international
economic
power; andalso, the State's negligence ofsocial responsibilities, which basically has sen/ed private interests. Hence, by adopting
techniques of production
and
pattems of consumption pertaining tomore
developedcountries, the development process has considered only a minority. Also, it is incapable
of correcting inherent distortions in the social-economic structure.
ln Brazil, specifically, the
govemmenfs
plans have not represented, in thesame
fashion, the interests of the majority, which implies that the basic socialnecessities
have
notbeen
taken care of.ln reality, since its beginning, Brazilian planning has been characterized by
an
increasinghegemony
of the Executive Power, in conjunction vvith an increase in thecentralization of the decision-making process, offering, also,
an
alliancebetween
thetechnobureaucratic government
and
the grand capitalist industry - be it national(belonging to the State
and
private sectors) or transnational.Hence, the process of development has basically benefited the
concentration of capital income, and the modernization of certain sectors of the
economy
at theexpense
of the subordination of Brazil to the intemational capitalist`
Therefore, the Brazilian experience with planning has created
an
accentuated emphasis on technicality
and
aneconomic
rationality in the definition ofsocioeconomic policies, which are tumed, increasingly, to the
economic
aspects ofreality -in spite of intentions of social character -
and
basically guided by criteria ofefficiency, in detriment to the values which essentially pertains to society at large.
In effect, in spite of its different forms of application,
govemmental
planningis fulfilled through bureaucratic apparatus, hence, it is linked to the political-
administrative instrument of the State. Consequently, the belief is licit that planning
constitutes
an
instrument which is manipulated byan
elite which has access to thedecision-making process of the State's machine.
S
Then, it is necessary to point out that the bureaucratic
phenomenon
isplaced in the administrative knovvledge, considered by
many
asan
instrumentalknowledge in the service of power, be it
economic
or political. Therefore, the planningwhich is executed in the context of .bureaucracies is, inevitably, associated with that
power, in the interests of a minority, since the bureaucratic process of decision-making
is velitist.
Such
a minority, then, imposes its values on the rest of society, resulting in theneglect of
many
of the basic necessities of ordained social life.Thus, in the Soviet Union, the technobureaucracy which directs society from
a bureaucratic domination, has, basically, served the interests of the bureaucracy as
the leading class, preserving its privileges and opposing the vindication of the
..
ln capitalist monopolist countries (basically
USA
and
Westem
Europe)one
observes, parallel to the development of the democratic institutions,
an
expansion ofgovemmental
bureaucracies in which there is a development of planning in the serviceof the capitalists (monopolists
and
oligopolists)and
technobureaucrats. Publicobjectives
and
the objectives of the big firms are mixed up ingovernment
planning-
also the private industry in general temis - which is translated into
a
negligence ofsocial necessities, which are not related to
economic
interest.ln reference to dependent capitalist countries, planning has
been
carried out through a strong ExecutivePower and
with a high degree of centralization at theservice of a capitalist class
and
being a form of the state's technobureaucracy toassume
increasingpower
in the realms of the State. ln this manner,economic
growth(elitist
and
concentrated) hasbeen
a value which predominates over social justice.The
governmental planning in the realm of the Braziliantechnobureaucracy, in the
same
manner, has been a predominantlyeconomic
planningwhich casts aside a great part of the population.
The
consolidation of the decision-making
power
of the bureaucratic governmental apparatus, which that planningenvisioned, has resulted in a political-administrative structure with scarce permeability
of the participation
and
representation of the varioussegments
which form a society,and
in defense of the interests of the great capital,be
it national or foreigner.ln this case, Brazilian planning has not reflected the values pertaining to
society, since the social problems tied to development are not duly interpreted, since
decisions is dissociated from the social reality, over which are imposed economists
and
rationalists values incapable of giving satisfactory
answers
to the necessities ofordained
human
life. 'ln sum, as final considerations, this work suggests the participation of the
community in the planning process, so that the
human
being - ontologically participant -constitutes the ground
and
reason of the social life and, the peoplebecome
subject ofhistory
and
notmere
spectators. ln this way,community
participation ln the definition ofpublic policies, as
a
conception ofa
humanistic policy, represents an altemative to thedehumanized
tendencies of the concentration of power, be it in the hands of capital orsuMÁR|o
1 .
INTRODUÇAO
... ..012.
PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL:
UM QUADRO
REFERENCIAL
TEÓR|co
... ..os 2.1. Implicações Conceituaisdo
PlanejamentoGovemamental
... ..O8 2.2. Variáveis Determinantesda
Necessidadede
Planejare do
Tipode
Planificação ... ..132.2.1.
A
Necessidade de Planejar ... ..142.2.2. Variáveis
que
Determinam o Tipode
Planificação ... ..182.3.
O
Processode
Planejamento ... ..212.3.1. Considerações Iniciais ... ..22
2.3.2. Caracteristicas do Processo
de
Planejamento ... ..242.3.3. Requisitos do Processo
de
Planejamento ... __292.4. Planejamento: Aspectos Técnicos e Políticos .... ... ..
CRÍTICA
DO
PLANEJAMENTO PARA
O
DESENVOLVIMENTO
... ..443.1.
Origem do
PlanejamentoGovemamental
... ..463.2. Características
do
Planejamento Governamental nos DiferentesSistemas
Econômicos
... ..503.3. Modalidades
de
Intervençãodo
Estado naEconomia
... ..583.4.
O
Planejamentonos
Paisesem
Desenvolvimento ... ..7O3.4.1. Características dos Países
em
Desenvolvimento ... ..713.4.2.
Os
Objetivosdo
Planejamento nos Paísesem
Desenvolvimento:
Uma
Interpretação Crítica ... ..764.
A
CONSOLIDAÇÃO DA TECNOBUROCRACIA
BRASILEIRA
A
PARTIR
DA
EXPERIÊNCIA
EM PLANEJAMENTO
... ..844.1.
A
Hegemonia
do Poder
Executivo no Período 1930-45 ... ..874.2.
A
PolíticaEconômica
Liberal Pós-1945 e a Tentativade
Retorno àHegemonia
do
Poder
Executivo a Partirde
Vargas:O
Período4.3.
O
período 1956-63 e o Crescente Desenvolvimentodas Funções
do
Poder Executivo ... ..98
4.4.
O
Período Pós-1964 e a Consolidaçãodo
Poder de
Decisão da Tecnoestrutura Estatal ... ..1074.4.1. Análise dos Planos
do
PeríodoPós-64
... ..108_ 4.4.2. Considerações Finais sobre o Período Pós-64 ... ..126
5.
PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL, BUROCRACIA
E
PODER
... ..133. 5.1. Burocracia, Planejamento e Poder: .Álgumas Considerações.. ... ..135
5.2.
O
Planejamento na Tecnoburocracia Soviética ... ..1455.3.
O
Planejamento no Estado Capitalista Monopolista eno
Estado CapitalistaDependente
... ..15O 5.3.1.O
Planejamento no Estado Capitalista Monopolista ... ..15O 5.3.2.O
Planejamento no Estado CapitalistaDependente
... ..1545.4.
O
Planejamento no Âmbitoda
Tecnoburocracia Brasileira ... ..1576.
coNsioERAçõEs
|=iNA|s ... ..1s5RE|=ERÊNciAs
BlB|_|oGRÁl=|cAs ... ..1'ro2
Planejamento
Govemamental, além de
constituir-seem
disciplinaintegrante
da
áreade
concentraçãodo
Curso,é
também
matéria inerente a estudosvoltados à Administração de Entidades Públicas,
um
dos pilaresdas
linhasde
pesquisa propostas peloPrograma de Pós-Graduação
em
Administração da
Universidade'i
/ Federal
de Santa
Catarina.V
Seu
estudo insere-senum
valiosocampo
de
pesquisa, faceà
sua própria complexidade - tendoem
vista os crescentes problemasque
se apresentam àssociedades
modernas
- eao
seu recente desenvolvimento,do que têm
resultado osmais variados debates acerca
de
suas proposiçõese
experiências.Assim
éque
o planejamentogovemamental
foi setomando, cada
vez mais,uma
áreade
conhecimento enriquecida pelas contribuições teóricas
dos
mais diversosramos da
Ciência
(como
por exemplo, Administração, Economia, Sociologia e_ Política),bem
como
pela praxe dos diferentes sistemas político-econômicos.Dessa
forma, este trabalho resultada
percepção das variáveisacima
consideradas, a par do interesse
em uma
análise mais profunda acerca das conseqüênciasda
atividade planejadorado
Estado para a melhoriada
vida socialordenada.
Evidentemente,
há que
se mencionar os naturais óbices -dada
a vastabibliografia pertinente - à
consecução da
tarefa, postoque
um
trabalhocomo
estepoderia revestir-se de
uma
amplitude enciclopédica. Todavia, definidos certosparâmetros e, conseqüentemente, delimitado
o
estudo, este tornou-se perfeitamenteProcurar-se-á, então, fomiar
um
quadro referencial teóricoque
preencha
um
vácuo
existentena
bibliografia -não
obstantea
sua jámencionada
vastidão -,porquanto serão sistematizados,
num
só trabalho, aspectos tão relevantescomo
a
identificação
de
variáveisque
referenciem o planejamento a partir das experiênciasdesenvolvidas intemacionalmente e
no
Brasil.O
estudo propõe-se, então,em
linhasgerais, a partir
do amplo
quadro teórico existente, caracterizar o planejamentonas
suas
diferentes formas
de
aplicação, enfatizando a sua realização via aparato burocrático,o
que
o vinculaao
instrumental político-administrativodo
Estado.Conseqüentemente,
deverá permitir a constatação
de
que
ele se constituinum
instrumento manipulado poruma
minoria,com
acesso
ao processo decisórioda máquina
estatal, vale dizer,ao
poder,
sendo
incapaz,como
corolário, de atender efetivamente às necessidadesda
sociedade.
Em
termos específicos, pode-se considerarcomo
objetivos deste estudoos
que seguem:
_ - formar
um
mapa
cognitivo sobre considerações fundamentais acercado
planejamentogovemamental
enquanto áreade
conhecimento;- apresentar o
modelo de
planejamento prevalecenteem
cada
um
dos
sistemas politico-econômicos existentes;
- analisar criticamente a experiência
de
planejamentonos
paisesem
4
- interpretar a experiência brasileira
em
planejamento, dentrode
um
enfoque crítico;
- investigar e evidenciar
a
vinculação entreo
planejamentogovemamental
e o aparato burocrático
do
Estado,no
que
concerne tantoà
experiência intemacional quanto nacional, e- sugerir a participação comunitária
como
estratégia adequada'à
soluçãodos problemas e atendimento
das
necessidades e desejosda
vidaem
sociedade.A
_ Espera-se, portanto,_que
os
resultados deste trabalho sirvamde
importante subsídiopara professores e alunosde
cursosde
Graduação
e Pós-Graduação,mormente
na áreade
Ciências Sociais,bem como
a executivos da AdministraçãoPública, especialmente os
que
se relacionam direta ou indiretamentecom
oplanejamento governamental. '
Para a realização deste estudo recorrer-se-á basicamente a
um
método
descritivo
de
identificaçãode
situações oude
teorias, na tentativade
melhorcompreensão
de relaçõesde causa e
efeito, visando organizar sistematicamente osaspectos
fundamentaisdo
assunto e, assim, atenderaos
objetivos propostos.Em
última instância, será utilizado o
método
de trabalho dialético discursivo, que,segundo
BRUYNE
(1977, p. 68), éum
esforço epistemológicoque
procura destacar os traçoscomuns
ou, ao contrário, diferenciadosde
um
caso para outro, de todas as abordagenscientíficas
que
visam prestar contasdos
desenvolvimentosque
se desenrolam noAssim é que
será desenvolvidauma
Monografiasob a forma de
Dissertação, a qual, para
SALVADOR
(1977, p. 35-6) “resultade
um
estudo teóricode
natureza reflexiva... exigindo
a
capacidadede
sistematização dedados
coletados,sua
ordenação e
interpretação... tendo, assim,como
propósito principal,a
exposiçãoou
explanação, explicação
ou
interpretaçãode
fomwa sistemática eordenada
de
idéiassobre
um
determinado tema”.2
PLANEJAMENTO
GOVERNAMENTAL:
UM
Em
termos de decidir antecipadamenteo que
sedeve
fazer, planejaré
uma
atividade própria do serhumano;
portanto,sempre
existiu. Contudo,nas
últimasdécadas, essa atividade inteligente tem assumido
um
papel preponderantena
sociedade
em
vistada
crescente complexidadeda
vida social organizada.Nas
instituições, tantode
caráter públicocomo
privado, é indiscutível aascendência
do
planejamentocomo
um
instrumento auxiliar parao
desempenho
das
difíceis tarefas administrativas.
É mesmo,
dentre as funçõesde
gerência, a primeiradelas, seguida de: organizar, dirigir e controlar.
No
âmbito govemamental, o planejamentoganhou
relevo principalmentecom
a
crescente complexidadeda economia
e,com
o geométricoaumento
populacional e suas múltiplas necessidades,
bem como com
o próprio desenvolvimentocientifico e tecnológico registrado nas sociedades
modemas.
_ Por essas razões, o planejamento,
como
atividade inerente aum
gruposocial ordenado e civilizado,
tem
sido mostrado porum
grandenúmero de
autores,que
embora
enfocando-o sob diferentes prismas,mantêm
alguns pontosem
comum.
Assim, o presente capitulo tem por finalidade examinar,
de
perto,algumas
considerações fundamentais para a
compreensão
maisadequada do que
sejaplanejamento, especificamente a nivel de governo.
Dessa
forma, será analisadoem
primeiro lugar o conceito
de
planejamento governamental, procurando-se enfocar asdiferentes conotações do termo utilizadas por diversos autores. Objetiva-se,
com
isso,8
visualização
de
planejamentono
contexto deste estudo.A
seguir, aprofundando-se aanálise, serão
examinadas
as principais variáveisque
determinama
necessidadede
planejar,
bem como
o
tipode
planificação utilizadoem
cada
sociedade. Outro aspectofundamental
que
este capítulo deverá contemplar refere-seao
planejamentocomo
um
processo, isto é: as características fundamentais
de que
se revesteo
processode
planejamento,
bem
como
os principais requisitos paraque
ele seja, realmente,capaz
de intervir
na
sociedadee na ordenação de
seu sistema econômico. Por último, serãoabordados dois outros aspectos importantes
que
devem
ser estudados para melhor entendimentodo que
seja planejar: os aspectos técnicos e políticos do planejamento.2.1.
IMPLICAÇOES
CONCEITUAIS
DO
PLANEJAMENTO
GOVERNAMENTAL
A
aceitaçãodo
planejamentocomo
instrumentode
atuaçãodo
setor público fez consideráveis progressos 'nas três últimas décadas,dada a
crescente complexidadeda
vidahumana
associada, oque tem
exigido,cada
vez maisacentuadamente,
um
embasamento
científico dos critérios norteadoresdo
processode
tomada
de decisões.O
conhecimento, cada dia maior, de métodos e técnicasde inten/ençao sobre a realidade social tem conduzido tanto
adotarem, explicitamente, o planejamento
em
suasatividades
como
uma
das maneiras mais racionais ecientíficas de administrar os recursos e minimizar os riscos
de ação”
(CARVALHO,
1973, p. 13).CINTRA
(1977, p. 14) observaque
"aceitarou não o
planejamentono
tratamento das crises ciclicas e
na
promoção do
desenvolvimentoeconômico e
social já deixoude
sermarca
distintiva destaou
daquela orientação político-ideológica”.O
aludido autor chama, então, a atenção para o fato
de que o
planejamentopassou a
servisto
como
indispensávelao
desenvolvimentoe
planejar,como
ser racional porexcelência na
condução
dos assuntos públicos. Para ele (p. 42) “não haveriacomo
fugir à disjuntiva: ou se adere
ao
planejamentoou
se opta pela irracionalidade”.O
planejamentotem
sido visto,também,
como
a forma habitualde
participação
de
órgãos administrativos na elaboraçãodas
diretrizes públicas.Nesse
sentido, MILLETI' (1968, p. 135) afirma:
“Uma
parcela do processo planejador govemamental cuidadas diretrizes. Estas são decisões amplas, que envolvem,
geralmente, juízos de valor e que consubstanciam as
'
metas da ação estatal.
As
decisões desse caráter são tãoimportantes a ponto de serem consubstanciadas por vezes
em
códigos.Na
verdade, constitui praxe corrente dogovemo
federal eem
algunsgovemos
estaduais principiaruma
lei importante poruma
declaração de diretrizes.O
planejamento de diretrizes é a própria essência do
interesse de
uma
repartição pública pelas suas atividadesi
,io
Uma
outraconcepção de
planejamentoé
ade que
ele é “produtode
um
complicado processo
de
sucessivas decisões,um
processo que,em
várias fases,considerou metas, altemativas
e
resultados, conduziuà
escolhade
um
cursode ação
preferível
e fixou
a sequênciade
ações, propostas concretamenteem
tennosde
tempo,espaço
e custo”.(FRIEDMANN,
1959, p. 8).HILHORST
(1975, p. 145)define
planejamentocomo
“o processoque
objetiva causar
uma
combinação
ótima de atividadesem
uma
área específica e pelaqual
a
utilização dos instrumentosde
politica seja coordenada, considerados osobjetivos
do
sistemae
as limitações impostas pelos recursos disponíveis”.Observa-se, assim,
que
o planejamentotem
sido encaradocomo
um
procedimento lógico, isto é, maneirasde
atuarembasadas
em
conhecimento cientificoque
norteiam qualquer atividadehumana.
Conseqüentemente, ele écapaz de
auxiliar,efetivamente, os esforços
da
sociedade parao
alcancede
um
desenvolvimentoeconômico e
social.' '
Contudo, o planejamento “não é
meramente
um
acervode
soluçõesestabelecidas,
mas
um
método
para chegar a soluções,cada
qual dentrodo
seucontexto social concreto”
(FRIEDMANN,
1959, p. 178).Além
disso:“La planificación o programación es una metodologia para
la toma de decisiones.
Toda
decisión envuelve unaelección entre altemativas. Por la tanto
podemos
decir quese trata de una metodologia 'para escoger entre
En un sentido
muy
general, hay dos grandescampos
deelección: el que se refiere a medios o instrumentos. En
A
ambos
casos el problema de elección surge si hay una
relación de ç competencia entre
los objetivos o
instrumentos.
Dos
objetivos son competitivos entre si, siperseguir uno envuelve sacrificar el otro en alguna
medida” (AHUlVlADA, 1968, p. 33).
Portanto,
a
planificaçãonão
é o processode
elaborarum
documento que
se
denomina
planoou
programa. Este éapenas
partedo
processo, consubstanciando-se no conjunto
de
decisõestomadas
pelas autoridades.Da
mesma
forma,FOXLEY'
(1975, p. 1) acentuaque
a planificação consisteem um
“processo imperfecto de exploración sistemática del futuro, yde
dirección ycoordenación
de
los diversos agentes y organizacioneseconómicas
y socialesen
posde
ciertos objetivos nacionales básicos". lsto 'implicaque o
planejamento significa, portautologia, “interferir los
mecanismos espontâneos
del mercado, sustituyéndolos ocorrigiéndolos
segun
se trate deuna
planificación centralizada ode
una caráter flexiblee indirecto”.
Dessa
maneira, o planejamento surgecomo uma
forma de compatibilizar aação governamental
com
as necessidadesda
sociedade, consideradaa
real capacidadede
intervenção existente,bem como
de
ajustar os interesses sociaiscom
os interesses privados.
'
Para tanto, é necessário
que
o planejamento seja“um modelo
teórico para12
certas hipóteses sobre a realidade”
(LAFER,
1975, p. 7),e
que,além
disso,segundo
acentua
CAMPOS
(Mimeo., p. 10),com
base
em
LANDAUER,
“oriente as atividadeseconômicas
atravésde
um
órgão comunal, medianteum
esquema
que descreva,em
termos quantitativos, assim
como
qualitativos, os processos produtivosque
devem
serempreendidos
duranteum
periodode tempo
prefixado”._
Com
base nessas
considerações pode-se entender mais
adequadamente
a afirmativade que o
planejamentoé
uma
preparação para o futuro, envolvendoum
processo
de
escolha entre altemativas (decisões)que busca
otimizar a utilizaçãode
recursos escassos para satisfazer,
num
maior grau possível, necessidades crescentes,isto é: “a) fixar objetivos coerentes e prioridades para o desenvolvimento
econômico e
social; b) determinar os
meios
apropriados para atingir esses objetivos;e
c) pôrefetivamente
em
prática esses meios, tendoem
vistaa
realização dos objetivosvisados”
(BETTELHHM,
1976, p._ 197).O
planejamento governamental constitui,como
conseqüência,“um
aglomerado
organizacional complexo e diferenciadodesempenhando
uma
variedadede
papéisna busca
de: a) dinamização dos pontos-chavedo
governo;e
b)mediação
eintegração das grandes disputas econômico-sociais da sociedade
ou
pelomenos
contribuindo para a legitimação das políticas nacionais”(CORNÉLIO
&
MOLD,
1977,p. 73).
A
análisedesses
conceitos demonstra a importânciado
planejamentono
direcionamento das atividades futuras
de
uma
sociedade.Não
obstante,a
questãoque
analisada
à
luz das diversas variáveis determinantesda
necessidadede
planejaro
que, conseqüentemente, implica
uma
discussão acercado
tipode
planejamentoa
ser implementadoem
cada situação. z_
~
Em
assim sendo, procurar-se-á,no
tópicoque
se segue, apresentar osfatores básicos
que
determinam a necessidadede
planejar e as variáveisresponsáveispelo tipo de planificação a ser utilizado por
cada
sociedade.2.2.
VARIÁVEIS
DETERMINANTES
DA
NECESSIDADE
DE
PLANEJAR
E
Do
Tipo
DE
PLAN|l=|cAçÃo
O
que
se objetiva éuma
apresentaçãodas
principais variáveisque
transformam o planejamento
em
uma
atividade necessária à vidaem
sociedade,bem
como
daquelasque
determinam a modalidadede
intervençãodo
Estado,em
cada
país.Em
última análise, serãoexaminadas
as diferentesabordagens
sobrea
necessidadede
planejare
as variáveis condicionantesda
formade
direcionamento, pelo Estado,14
2.2.1.
A
Necessidade de
Planejar
Naturalmente, os motivos
que
levamao
planejamento sãode
diferentesorigens. Contudo, as variáveis determinantes
da
necessidadede
planejarpodem
seranalisadas
sob
os três enfoques básicos (psicológico,econômico
e político-social)desenvolvidos por
CARVALHO
em
sua obra “Introdução à teoriado
planejamento”,que
serão
aquiexaminados
no sentidode
se investigar o porque
do
planejamentocomo
atividade intrínseca
ao
serhumano
e à vida social ordenada.H
Abordagem
psicológica - o serhumano,
nas suas relações sociaisconducentes
ao
atendimentode
suas necessidades básicas, depara-secom
problemas, isto é, obstáculos
que
se interpõemao
alcance dos seus objetivos e, parasuplantá-los, torna-se' necessário
um
esforço complementarao
previsto.Esse
esforço,para
CARVALHO,
(1973, p. 18) “...é representado por ações voluntárias desenvolvidasa
partirdo
produtodo
conhecimento discursivo, isto é, da forma maiscomplexa de
pensar
que é
o raciocínio".Não
obstante, sabe-seque
o planejamentosem
sempre
é consciente.A
intuição, certamente, participa
do
processo decisório ecom
isto exige, crescentemente,criatividade para enfrentar situações complexas. Por essa razão acentua
CARVALHO
(1973, p. 19): “o conhecimento intuitivo representa importante papel
no
esforçode
superação dos obstáculos
à
açãohumana
voluntária,mesmo
que
a açãoconseqüente
Para esse autor, contudo, o conhecimento discursivo
é
mais importantecomo
procedimento científico (que envolve questão, hipótese e verificação).O
planejamento, por outro lado,
é a
explicitaçãode
uma
seqüência de operaçõesdo
mecanismo
psíquico: conhecimentoda
realidade (questão), decisão (hipótese),ação e
crítica (comprovação ou_ verificação), estando, conseqüentemente, altamente
correlacionado
com
aquele conhecimento.Demonstra
CARVALHO,
dessa forma,uma
alta interdependência entre planejamento e
comportamento
inteligente e,que
as fasesdo processo
de
planejamento (diagnóstico, decisão,ação
e crítica) eqüivalem às fasesda inteligência.
Como
corolário,o
planejamento éum
processo inerente aocomportamento
humano
e à atividadehumana
inteligente.Sendo
inerenteao
homem,
éum
processonatural
que
independedo nosso
querer. Conclui, então,CARVALHO
(1973, p. 24):“A passagem desse processo lógico observado na conduta
inteligente do
homem
enquanto individuo para a suaaplicação na sociedade constitui a tarefa mais complexa e
difícil da prática do planejamento.
E
éum
desafio aosindivíduos socialmente organizados.
É
nessa transição queinúmeros equívocos se verificam. Entre eles o de acentuar
a dissociação entre elaboração do plano e sua execução,
gerando
mesmo
contradições entre esses doismomentos
da prática social dos indivíduos”.
Abordagem
econômica
- naabordagem econômica o
autor deseja mostrarsituações-problema
que têm
exigido das populações decisões sobre as ações futuras,16
outras palavras,
na
tentativade
atender às suas necessidades,a
sociedade enfrenta,constantemente, problemas das mais variadas dimensões.
Os
períodosmais
cruciaiscaracterizam as crises
do
sistema econômico, as quais afetam,de
forma substancial,o
processo
de
desenvolvimentoeconômico e
social,bem
como
o
equilibriodo
aludidosistema.
Não
obstante,a
tentativa de minimização dessas crisestem
dividido asopiniões
dos
individuos:de
um
lado, há aquelesque
são favoráveisà
intervençãovoluntária
na
sociedade, ede
outro,há
osque
são inteiramente contráriosa
qualquerintervenção.
É
a tradicional controvérsia entre o liberalismoe
o intervencionismoeconômico,
embora
a ineficácia dosmecanismos de
mercado,bem
como
a
necessidade
de
se obterdesempenho
harmônicodo
desenvolvimento,tenham
exigidocrescente intervenção
do
governo.A
questãoque
se coloca, atualmente, é, então,muito mais
a
respeitodo
grauem
que
ogovemo
deve interferirna
economia.Dessa
forma,CARVALHO
(1973, p.27) conclui que:“O plano surge
como
um
instrumento facilitador dosesforços para se encontrar objetivos
comuns
oucompativeis entre os grandes centros de decisão privados
e,
em
especial, entre Estado e iniciativa privada, facilitandoo estabelecimento de confrontos entre previsões
govemamentais e as dos grupos privados”.
'
Abordagem
político-social - nestaabordagem o
autor discute ainstitucionalização do processo
de
planejamento na sociedade.No
seu
entender, avida coletiva depende, crescentemente,
de
organizações, implicandoa
consideraçãoregulação, cooperação)
no
processo decisório; isto significa “a ampliaçãoda
consciência critica para suplantar a ambigüidade: superação
do
individualismo paraafirmar a individualidade”
(CARVALHO,
p. 28).Isto quer dizer, ainda,
que
com
o
crescerda
vida coletivaaumenta
anecessidade
de
autodeterminação ede ação
voluntária; mas, aomesmo
tempo,aumenta
a necessidadede consenso
ede
organização, paraum
convíviohumanizador. Por isto conclui:
“Quanto maior o grau de organizaçao
em
que se encontrauma
sociedade, mais provável se toma alcançar oconsenso mínimo e a conjugação de interesses...
O
planoconstitui, assim,
um
dos instrumentos mais eficientes paraminimizar a improbabilidade da consecução dos obietivos
de médio e longo prazos, permitindo o controle sobre
um
maior número de variáveis económicas e sociais, além de
reduzir a aleatoriedade dos fenômenos futuros...”
(CARVALHO,
p. 29).Da
análisedessas abordagens
(psicológica,econômica
e politico-social) épossível concluir
que
o planejamento setoma
imprescindívelem
facede
sua inerênciaà atividade
humana
inteligente,da
crescente complexidade das atividadeseconômicas
e da imposição
de
um
maiorconsenso
e organização no direcionamentoda
vidacoletiva; essas necessidades irão definir variáveis importantes para a determinação
do
tipo de planificação
adequado
acada
sociedade. Resta saber quaissão
essas18
2.2.2.
Variáveis
que
Determinam
o
Tipo
de
Planificação
Em
função das peculiaridadesde cada
país - suas condições históricas,econômicas e político-sociais -
a
intervençãodo
Estado, via planejamento, adquireconotações específicas
que
podem
se enquadrarnuma
determinada classificação.Na
análiseque
ora se pretende desenvolver, restringir-se-áa
uma
indicação
das
variáveis fundamentaisque
determinam o tipode
planejamentoem
cada
sociedade,
com
base na classificação utilizada porFOXLEY em
sua
obra “El procesode
planificación”. Para ele, dentre as inúmeras variáveisque
determinamo
tipode
planejamento
de
um
país destacam-se: omarco
sócio-político,o
graude
desenvolvimento alcançado pela
economia
e os fatores institucionais própriosde cada
país.
A
'
~
Marco
sócio-político - a primeiradas
variáveis analisadas porFOXLEY
encontra-se vinculada à forma
como
se distribui o poder entre os diversos grupossociais e os agentes econômicos, implicando
que
uma
maior dispersãodo poder na
sociedade dificulta a implantação
de
uma
planificação centralizada. Por outro lado,quanto mais concentrado esse poder
em um
determinado setor, mais fácil se tornao
manejo
autoritárioda
economia. Por esta razão, a situação sócio-política éum
Ainda
segundo
FOXLEY,
o marco
sócio-político influi na hierarquizaçãodas metas
de
um
plano,em
razão,também, da
fomwacomo
se
encontra distribuído opoder entre aqueles grupos
e
agentes.Em
assim sendo:“Si el poder se concentra en los grupos de
más
hajosingresos, los objetivos de redistribución y pleno empleo
revestirán alta prioridad.
A
la inversa, si son los grupos demás
altos ingresos los que detentan el poder del estado, lapolitica económica tenderá a oentrarse fuertemente
em
tomo a la maximización del crescimiento, prestando
atención sólo marginal a los efectos que aquél pueda
acarrear sobre la distribución del ingreso o el nivel del
empleo”. (FOXLEY, p. 11).
Grau de
desenvolvimento alcançado
pelaeconomia
-FOXLEY
afirma,quando da
análisedessa
variável,que
muitos estudostêm
evidenciadouma
correlaçãopositiva entre o grau
de
desenvolvimentode
um
país,mormente
em
termosda
importância
do
seu setor industrial, eo
tipode
planificaçáo existente.Nesse
sentidodeclara:
“La experiencia de los países que han estabelecido
sistemas de planificación de tipo imperativo
-
economiassocialistas da Europa Oriental
-
demuestra que lamultiplicación de unidades de decisión en el sistema
económico, fruto' de su mayor desarrollo, obliga a una
evolución del sistema de planificación hacia formas
más
descentralizadas, si se ha de mantener una cierta
eficiencia en el sistema”. (FOXLEY, p. 2).
20
Obsen/a-se, assim,
que
o graude
desenvolvimento alcançado pelaeconomia
atuacomo
condicionante do tipode
planificação, sendoque
um
maiordesenvolvimento
do
sistema econômico exigeuma
descentralizaçãodo
processode
planejamento, ou seja, modalidades de intervenção
que
atribuam maior iniciativaao
setor privado.
H
_ Fatores institucionais próprios
de
cada
país - a análise
de
FOXLEY
centra-se, então,
na
importância relativadesempenhada
pelos setores público eprivado ou, no predomínio, na economia,
da empresa
públicaou
privada. Diz então:“La necesidad
de
planificar varia substancialmente según se tratede
una
economia
enque
predomine laempresa
privadao
la pública; en consecuencia, difieretambien en tipo de planificación
adecuado a
cada situación”(FOXLEY,
p. 2)'.CAMPOS, em
sua obra “Planejamento do desenvolvimentoeconômico
dos paises subdesenvolvidos”, observa
que
no planejamento centralizado,no
qualpredomina o setor público, a administração estatal adquire
uma
enorme
responsabilidade,
em
termosde
decisões econômicas, decisões estasque
eram
anteriormente
tomadas
por unidades individuais, oque
magnifica as possibilidadesde
erro. -
1
De acordo com FIREY, citado por VIEIRA (1976, p. 7) “o grau de estatização de uma economia depende da
distância que separa o pólo econômico, de predomínio privado, do pólo politico, predominantemente
em
mãos doEstado. Por forças sócio-políticas mais do que econômicas quanto mais se aproximarem esses pólos, mais haverá
interpenetração das duas esferas de ação econômica, até se chegar a
um
ponto em que pólo econômico e póloUma
análise mais profunda das variáveismarco
sócio-politico, graude
Kdesenvolvimento
da economia e
fatoresde
ordem
institucional permitiráa
aceitaçãode
que
o Estadodeve
intervirna economia
sem,no
entanto, alijar a participaçãodo
setorprivado
no empreendimento de
conjugar esforços e equacionar recursose
objetivosna
busca
do
desenvolvimento econômico-social.No
próximo tópico, abordar-se-á o planejamento enquanto processo, afim
de
se elucidar alguns aspectos nele envolvidos considerados importantes dentrodo
escopo
deste trabalho. '2.3.
O PROCESSO
DE
PLANEJAMENTO
\
s
Nesta abordagem,
após
uma
rápida digressão sobre o planejamento enquanto processo, serão apresentadas as caracteristicas fundamentaisde quelse
reveste o processo
de
planejamento,com
o propósitode
se formularum
quadroreferencial
que
ofereça subsídios parauma
melhorcompreensão do que
sejaplanejamento governamental.
A
par disso, serão analisados alguns requisitosque têm
sido considerados cruciais
ao
atode
planejar, tendoem
vista sua efetiva contribuição àsolução
dos
problemas econômico-sociais, o que, por certo, ampliará ecomplementará
o
quadro referencial anteriormente aludido.22
2.3.1.
Considerações
IniciaisNas
diferentes conceituações sobre planejamento - já apresentadas nesteestudo - ficou evidenciado
que
o atode
planejar consistenum
processo. Para seratificar tal proposição pode-se recorrer a
CARVALHO
(1973, p. 36),o
qual afirma:“O planejamento é
um
processo,um
conjunto de fasespelas quais realiza
uma
operação. Sendoum
conjunto defases, a sua realização não é aleatória.
O
processo ésistematizado, obedece a relações precisas de
interdependência que o caracterizam
como
um
sistema,como
um
conjunto de partes, coordenadas entre si, demaneira a formarem
um
todo,um
conjunto coerente eharmônico, visando alcançar
um
objetivo finaldeterminado”.
A
complexidadedo
processode
planejamento é, por outro lado,enfatizada por
HILHORST
(1975, p. 140)quando
este procura demonstrarque
asmetas e as variáveis instrumentais
não
podem
serexaminadas
isoladamentemas
sim,umas
em
relação às outras. Neste sentido esclareceque
o atode
planejar passará portrês fases:
-
especificação de
objetivos,que
consiste na determinaçãode
características
da
situaçãoque
se deseja alcançar, conhecidas as característicasda
-
seleção
dos
instrumentosa
serem
utilizados para a realizaçãodos
objetivos, os quais
devem
estarà
disposiçãodos
responsáveis pela realizaçãodas
mudanças
desejadas. Aflora, assim, a tradicional discrepância entre o desejado eo
factível, muitas vezes
contomada
pela escolhado que
éa
favordo
factível, dentrode
um
determinado período, atravésda fixação
de metas; e- utilização
dos
instrumentos,que
éa
própria implementaçãodo
plano.
HILHORST
(p. 142) afirma, então, ser a realimentação condiçãoindispensável para
um
processode
planejamento desembaraçado, ocorrendo talrealimentação entre
cada
uma
das três fases,sendo
a mais importantea que
vaida
terceira para
a
segunda
e primeira fases eque é denominada
avaliaçãoda
eficáciado
plano.
CARVALHO
(1973, p. 36) distingue quatro etapas no processode
planejamento:
-
conhecimento
da
realidade, ou seja,um
processo analítico ede
síntesede conhecimento
da
realidadeem
seus diversos aspectos.A
realidade consisteem um
diagnóstico e prognóstico dos principais indicadores deuma
situação-problema;- decisão,