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Vivências de militares em missões internacionais : o impacto nas relações conjugais

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

VIVÊNCIAS DE MILITARES EM MISSÕES INTERNACIONAIS: O

IMPACTO NAS RELAÇÕES CONJUGAIS

Maria Margarida Lopes Barbudo

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

VIVÊNCIAS DE MILITARES EM MISSÕES INTERNACIONAIS: O

IMPACTO NAS RELAÇÕES CONJUGAIS

Maria Margarida Lopes Barbudo

Dissertação orientada pela Professora Doutora Rita Francisco

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

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i Agradecimentos

À minha orientadora, Professora Doutora Rita Francisco, pela confiança, conhecimento, constante incentivo, excecional disponibilidade e contributo para este meu percurso pessoal e profissional.

Ao Major Renato Santos, por todos os incentivos, pela sua experiência, partilha e disponibilidade extraordinária e única.

À Tânia, pela partilhar de ideias, conhecimentos e interajuda ao longo deste projeto.

À minha família. Ao meu pai, combatente do Ultramar e ex-Furriel Miliciano, pelas histórias de Guerra e vivências militares que comigo sempre partilhou, pelos seus valiosos ensinamentos de coragem e por todo o apoio ao longo deste percurso, permitindo-me chegar até aqui. Ao meu irmão, por acreditar sempre em mim, pelo apoio e compreensão neste ocupado ano.

À minha estrela maior, mãe, pelo exemplo de determinação e força, porque apesar de teres partido cedo de mais, serás sempre o meu melhor exemplo.

À Tixa, pela sua amizade inigualável, bons momentos e constante presença na minha vida. À Carolina Gonçalves, pela confiança, amizade e todos os incentivos.

A todos os que se cruzaram comigo neste percurso, em especial à Ana Frade, Ana Ferreira, Ana Romão, Gonçalo Silva, Rafaela Rosa, Carina Marques, Márcia Pinhal e Cátia Silva.

Ao Dr. Tiago, agora um amigo, pela inspiração, pelos sábios ensinamentos e oportunidade de aprendizagem.

Aos militares e cônjuges deste investigação, à Escola Prática de Infantaria de Mafra, pela sua disponibilidade e colaboração.

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ii RESUMO

A participação do militar numa missão internacional é um acontecimento normativo para uma família militar. Dependendo de especificidades como a duração, localização geográfica e recursos disponíveis durante a missão, este pode ser um evento indutor de stress familiar, mas também potenciador do fortalecimento da relação conjugal, ao mesmo tempo que são ativadas estratégias de coping. O presente estudo exploratório tem como objetivos centrais identificar e analisar as estratégias de coping utilizadas e os recursos dos militares portugueses e cônjuges, durante uma missão internacional, de modo a atenuarem as consequências da ausência física e emocional, assim como identificar benefícios e dificuldades, pessoais e conjugais. Partindo de um recorte do universo de militares e cônjuges, a amostra é constituída por 14 participantes (sete do sexo feminino e sete do sexo masculino) e através da análise de conteúdo abdutiva, realizada com recurso ao software QSR NVivo10, foi possível identificar o foco em atividades extra-trabalho como a principal estratégia de

coping mais utilizada, sendo os meios de comunicação o principal recurso usado pelo casal.

Do mesmo modo, dificuldades relacionadas com a comunicação são as mais reconhecidas pelos membros do casal, enquanto o reconhecimento da importância que cada membro tem para o outro, bem como o fortalecimento e clarificação da relação conjugal são os aspetos positivos que os cônjuges reconhecem como associados à participação do militar numa missão internacional. Por fim, são apresentadas as limitações desta investigação e apontadas as implicações do mesmo para futuras investigações para a intervenção com famílias militares.

Palavra-chave: Militares, Missão Internacional, Sub-sistema Conjugal, Dificuldades, Potencialidades, Recursos

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iii ABSTRACT

The military involvement in international mission is a normative event for a military family. Depending on the length specificities, geographical location and available resources during the deployment, this can be a family stress inducing event, but also increases strengthening of the conjugal relationship, while coping strategies are activated. This exploratory study aims to identify and analyze the central coping strategies used and the resources of the Portuguese military and partners during an international mission, in order to mitigate the consequences of the absence of physical and emotional contact, and identify personal and marital’s benefits and difficulties. Starting from a clipping from the universe of military and partners, the sample consisted of 14 participants ( seven females and seven males ) and through content analysis abductive performed using the software QSR NVivo10 was possible to identify the focus on extra- work activities, such as the main coping strategy used, being the communication the main resource used by the couple. Similarly, communication related difficulties are the most recognized by the members of the couple, while recognizing the importance that each member has to the other as well as strengthening and clarifying the marital relationship are the positive aspects that partners recognized as associated with the involvement of the military in an international mission. Finally, we introduce the limitations of this research and outline the implications of the same for future research for intervention military families.

Key-Words:, Military, International Mission, Conjugal Sub-System, Difficulties, Potencialities, Resources

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iv ÍNDICE GERAL Resumo ………. ii Abstract ……… iii Introdução ... 1 I. Enquadramento Teórico ... 2 1. O Sub-sistema conjugal………...2 2. A separação………4 3. Meios de Comunicação………...5 4. Ciclo da Missão………...6 5. Dificuldades e Desafios………...9 6. Benefícios e Potencialidades………...11 II. Metodologia ... 14 1. Enquadramento Metodológico ... 14 2. Desenho da Investigação ... 15 2.1. A Questão Inicial ... 15 2.2. O Mapa Conceptual ... 15 2.3. Objetivos ... 15 3. Estratégia Metodológica ... 16

3.1 Seleção e Caraterização da Amostra ... 16

3.2 Instrumentos Utilizados ... 17

3. 3 Procedimento na Recolha de Dados ... 18

3.4 Análise dos Dados ... 18

III. Análise de Resultados e Discussão ... 20

Conclusão ... 47

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v APÊNDICES

Apêndice I – Guião do Focus Group

Apêndice II – Questionário Sociodemográfico

Apêndice III – Consentimento Informado

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Ser militar – no mar, em terra ou no ar –, é uma condição alicerçada numa

vocação, identificação, ou, até mesmo, paixão, que se destina a servir a

Pátria... o Povo… a Nação.

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo insere-se no projeto “Eu, Tu & Nós” incluído no âmbito do apoio que o Exército Português oferece às famílias dos militares. Como objetivo central este projeto pretende “encontrar e desenvolver os recursos familiares, internos e externos, que permitam à família, e por sua vez ao miliar, adaptar-se à alteração da homeostasia familiar, contribuindo desta forma para o aperfeiçoamento da resiliência familiar” (Academia Militar, 2012, p.7). O projeto e, particularmente, o presente estudo ganham, assim, justificação uma vez que a investigação no ponto supracitado é bastante reduzida, havendo “pouca aplicabilidade e conhecimento de programas orientados especificamente para as famílias dos militares portugueses, com expressividade de investigação e de prática” (Academia Militar, 2012, p.7). Assim, este estudo, integrado na primeira de três fases do projeto – estudo exploratório de

natureza qualitativa com base num recorte da amostra de familiares de militares que já experienciaram a ausência de um familiar durante uma Missão internacional - visa averiguar

de que modo o sub-sistema conjugal, em particular, é afetado pela participação do militar português numa missão internacional. Para isso, e partindo do princípio de que o impacto do deslocamento do militar, no seio da sua família, é enorme (Academia Militar, 2012), é necessário analisar as principais dificuldades e potencialidades, reconhecidas tanto a nível individual como relacional, associadas à participação numa missão internacional.

Neste sentido, a presente dissertação está organizada em distintos capítulos, começando pelo Enquadramento Teórico. Neste é apresentada uma revisão de literatura sobre o sub-sistema conjugal, a separação, os meios de comunicação, o ciclo da missão, as dificuldades e desafios, e benefícios e potencialidades inerentes à missão internacional. É, assim, considerado e desenvolvido o estado da arte relativamente à participação do militar numa missão internacional e a sua influência no sub-sistema conjugal.

A mesma prossegue com a apresentação da Metodologia, onde é detalhado o Enquadramento Metodológico, o Desenho da Investigação, no qual está incluída a questão inicial, o mapa concetual e os objetivos do estudo, a Estratégia Metodológica, que contém informação relativa à seleção e caraterização da amostra, descrição dos instrumentos utilizados, o procedimento seguido na recolha dos dados e a análise dos mesmos.

Por fim, é apresentada a Análise de Resultados e Discussão, seguindo-se as Conclusões daí retiradas.

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2 I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

A década de 90 serve como referencial para Portugal e para as suas Forças Armadas como o marco que origina uma crescente participação militar portuguesa em operações no exterior. Tal ocorre no âmbito das chamadas “novas missões em apoio da política externa do Estado e satisfação dos compromissos internacionais assumidos” (Rocha, 2000, p. 73), concomitantemente com um processo intenso de restruturação que abarcou todos os sectores da Instituição Militar. Neste seguimento, é importante estar ciente das mudanças que têm ocorrido ao longo do tempo no que à guerra e missões concerne. São disso exemplo as experiências das últimas décadas, nomeadamente no Golfo, na Bósnia/Kosovo e Afeganistão (Allen, Rhoades, Stanley & Markman, 2011; Telo, 2002). Os desafios do serviço militar durante a guerra nos tempos contemporâneos, incluindo as missões de combate repetidas, a sua extensão e as separações familiares, representam ameaças sem precedentes à integridade e bem-estar dos militares e suas famílias (De Burgh, White, Fear & Iversen, 2011; Bowen, Martin, & Mancini, 2013). Tendo em conta as operações em curso, mostra-se de grande importância abordar os efeitos que as missões têm, em particular, para os cônjuges.

Para Bowen (1990), servir o Exército é mais do que uma escolha ocupacional, sendo uma opção que se reflete em todos os aspetos da vida, exigindo um alto nível de compromisso, dedicação e sacrifício das necessidades familiares e pessoais para cumprir a missão a que se propôs. Aqui, é tida em conta a definição de De Burgh e colaboradores (2011) que classificam o indivíduo militar como o membro alistado de todas as classes e ramos de serviço, e o cônjuge como o parceiro que coabita com ele, podendo ou não estarem casados. Hollingsworth (2011) acrescenta que cada família é única e experiencia a missão de forma diferente. A maioria dos militares não enfrenta os problemas sozinho, pois segundo os dados da Inner City Fund International (2010, citado por Bowen et al., 2013), muitos são casados e outros encontram-se em relações amorosas sérias.

1. O Sub-sistema conjugal

A família, segundo Relvas (2004), é una e única, sendo vista como um todo, uma globalidade, bem como uma emergência dos elementos que a compõem. Deste modo, tendo por base a Teoria Geral dos Sistemas1 (Bertalanffy, 1966), cada família enquanto sistema, isto

1 A Teoria Geral dos Sistemas (TGS) destina-se a “elaborar propriedades, princípios e leis que são caraterísticos dos ‘sistemas’ em geral, independentemente das suas particularidades, da natureza dos seus elementos e das relações entre elas” (Bertalanffy, 1966, p. 192).

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é, enquanto um complexo de elementos em interação, é um todo mas é, igualmente, parte de sistemas, ou seja, de contextos mais amplos nos quais se integra, tais como a comunidade e a sociedade em geral. Ela não existe no vácuo, está incorporada dentro de uma variedade de sistemas maiores (Bronfenbrenner, Kessel, Kessen, & White, 1986). Não obstante, dentro da própria família existem outras totalidades mais pequenas – os sub-sistemas (Relvas, 2004). Estes são criados por “interações particulares que têm que ver com os indivíduos neles envolvidos, com os papéis desempenhados (…) e com as normas transacionais que se vão progressivamente construindo” (Relvas, 2004, p. 13). Deste modo, é possível diferenciar vários sub-sistemas, nomeadamente, o individual, constituído pelo próprio indivíduo; o parental, com funções executivas, tendo a seu cargo a proteção e educação das gerações mais novas; o filial, que surge com o nascimento do primeiro filho modificando o sistema, seguindo-se outros filhos; o conjugal, que abrange marido e mulher, o casal; e o fraternal, constituído pelos irmãos (Relvas, 2004). Neste estudo iremos focar o sub-sistema conjugal, uma vez que o foco principal da investigação é analisar a influência que a participação de um militar português numa Missão internacional tem neste sub-sistema específico.

Segundo Narciso e Ribeiro (2009), a relação conjugal é a mais íntima que, maioritariamente, homens e mulheres estabelecem de forma voluntária, podendo definir-se casal como uma “unidade complexa, paradoxal e nunca terminada” (Relvas, 2004, p. 73). Neste sub-sistema conjugal, a complementaridade e a adaptação recíproca são aspetos importantes do seu funcionamento (Sousa, 2006), sendo que uma das suas funções é o desenvolvimento de fronteiras e limites que protejam o casal da intromissão de outros membros. Tal permite que as suas necessidades psicológicas sejam satisfeitas, constituindo-se assim um suporte para o casal lidar com o stress intra e extra familiar. É no quotidiano do casal que os sentimentos se desenvolvem e os comportamentos se estruturam, construindo-se o vínculo entre marido e mulher do qual depende, em grande parte, o êxito da relação conjugal (Bucher, 1996). A separação física dos cônjuges, consequente à participação do militar numa missão internacional, pode ser vista como um acontecimento não-normativo e, como tal, ser uma fonte de stress para a díade. Neste sentido, tal acontecimento por implicar mudanças no sub-sistema, num período específico do seu ciclo vital, e, ao mesmo tempo permitir à família evoluir, é classificado como Crise (Relvas, 2004).

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4 2. A Separação

O cumprimento de missões requer que o militar percorra o mundo a fim de proteger os interesses da nação e manter a paz mundial (Punke, 1952). Como tal, as missões são uma forma de vida para famílias militares (Dimiceli, Steinhardt, & Smith, 2010) que se veem, muitas vezes, obrigadas a deslocalizações geográficas com pouco aviso prévio (Black,1993) e raramente ocorrem sem consideráveis sacrifícios pessoais e relacionais (Bell & Schumm, 1999). Neste sentido, uma das grandes especificidades que a vida militar confere é a frequente separação e isolamento da família, cônjuge, amigos e sociedade alargada (Bell & Schumm, 1999; Ender & Segal, 1998; Wood, Scarville, & Gravino, 1995). Tal pode originar tensões únicas, tanto para a família como, em particular, para a relação conjugal, sendo que na presença de maior apoio social (e.g., familiares, amigos, outros cônjuges de militares ou apoio de grupos formais) verifica-se uma melhor adaptação a este afastamento (Bey & Lange, 1974; Wood et al., 1995; Fisher, Zaslavsky, & Blendon, 2008). Assim, a separação inevitável proporciona como oportunidades o crescimento pessoal do cônjuge, independência e desenvolvimento de novas amizades. Alguns militares relatam ficar orgulhosos da forma como os seus cônjuges tratam dos assuntos de família na sua ausência (Jacobs & Hicks, 1987 cit. por Wood et al., 1995), bem como a felicidade associada ao reencontrarem-se com as famílias (Pincus, House, Chrisenson, & Adler, 2001), sendo acompanhados pela consciência de que a missão e o sacrifício de serem uma família militar são importantes e valorizados (Bowen et al., 2013). Todavia, diversos estudos têm sugerido que determinados cônjuges, quando confrontados com a ausência do militar, são mais propensos a um maior desajustamento, nomeadamente aqueles que são mais jovens e que estão casados com militares em escalões hierarquicamente inferiores (Fisher et al., 2008; Rosen, Durand, & Martin, 2000). Como tal, geralmente, têm menos experiência de vida civil e militar, o que pode reduzir a sua capacidade para lidar com a tensão da separação (Martin & Ickovics, 1987). Como resultado, e segundo Van Vranken, Jellen, Knudson, Marlowe e Segal (1984) e Hollingsworth (2011), se esta ocorrer durante quatro a 15 meses, mesmo que sob as melhores circunstâncias, é muito stressante, particularmente se um dos cônjuges estiver em perigo todos os dias e o outro estiver a passar por mudanças nas suas funções, responsabilidades e rotinas familiares. Neste sentido, e segundo os estudos de Wood et al. (1995) e Burrell, Adams, Durand e Castro (2006), pode verificar-se um aumento da ansiedade, incerteza e solidão, tanto para os militares, como para os seus cônjuges, assim como diminuição da proximidade relacional, satisfação e suporte emocional. Merolla (2010) acrescenta que, neste

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sentido, as separações físicas baseadas nas missões, durante as quais a comunicação dos cônjuges é limitada e incerta, são um desafio à subsistência relacional do casal. Todavia, o cônjuge ausente pode ajudar a diminuir a ansiedade e a promover a adaptação do parceiro durante o seu afastamento (Rosenfeld, Rosenstein, & Raab, 1973, citado por Hunter & Hickman, 1981), envolvendo-se na ajuda com as questões familiares e decisões que surgem enquanto está ausente, assegurando, assim, à família, o seu interesse e preocupação (Hunter & Hickman, 1981). Durante este afastamento todos mudam de alguma forma e verifica-se uma adaptação nos papéis familiares para compensar a ausência do militar (Baker, Cove, Fagen, Fischer, & Janda, 1968). Além disso, a mulher devido às suas experiências ao assumir o papel de chefe de família torna-se mais independente (Jones, 1977, citado por Hunter & Hickman, 1981). Deste modo, as famílias precisam reconhecer de forma realista o impacto desta separação forçada, pois “cada um irá experimentar mudanças nos papéis e sentido próprio, o que poderá criar um desafio após o regresso do militar e prejudicar os esforços para voltar à vida familiar normal” (Pisano, 2010, p.1). Hunter e Hickman (1981) referem que o sucesso da adaptação à separação requer que a família desenvolva e aplique padrões construtivos de

coping. Segundo Lazarus e Folkman (1984) o indivíduo, quando exposto a um acontecimento

stressante (e.g., participação numa Missão internacional), é capaz de ativar estratégias de

coping para lidar com a fonte de stress. Estas podem ser focadas no problema – agir

ativamente para resolver a situação ou alterar a fonte de stress (e.g., atuar para resolver a situação, aceitar o prolema e procurar apoio) - ou focadas na emoção – tentativa de reduzir o sofrimento emocional causado pela fonte de stress (e.g., evitar o problema ou distanciar-se dele). De modo a reduzir as incertezas criadas pela separação, o principal recurso usado pelas famílias durante a missão internacional, sobretudo como tentativa de atenuar o sofrimento emocional, é o uso dos meios de comunicação (Merolla, 2010).

3. Meios de Comunicação

A comunicação mostra-se de maior importância para ajudar a uma melhor adaptação conjugal à separação (Schumm, Bell, Ender, & Rice, 2004). De facto, para alguns cônjuges, a comunicação intensa com o parceiro pode reduzir a sensação de isolamento e solidão, sendo um meio facilitador das interações familiares, permitindo manter e melhorar o casamento, relacionamentos íntimos e amizades à distância.

O uso de novos meios de comunicação ocorre dentro do contexto de uma grande característica importante do séc. XX, e início do séc. XXI: a rápida expansão das tecnologias

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de informação (Schumm et al., 2004). Assim, a comunicação pode ser conceptualizada como

Retardada (e.g., cartas, encomendas via correio e e-mails) ou Interativa (e.g., chamadas

telefónicas, mensagens instantâneas, videochamadas e videoconferências) (Carter, Loew, Allen, Stanley, Rhoades & Markman, 2011; Greene, Buckman, Dandeker & Greenberg, 2010). O telefone é a forma de comunicação interativa mais estudada, sendo considerado como muito útil para a transmissão de informações com conteúdo sensível, difícil ou controverso, enquanto as outras formas de comunicação, que são menos interativas, são vistas como mais vantajosas para a transmissão de outros tipos de informações (Schumm et al., 2004). Como tal, atualmente, os militares esperam, não só terem um serviço de correio eficiente, mas também a oportunidade de acederem a telecomunicações rápidas e pessoais (Schumm et al., 2004). Deste modo, a comunicação, sobretudo em eventos familiares importantes como aniversários e aniversários de casamento, acaba por ser, como referem Pincus e colaboradores (2005), benéfica para a saúde mental do militar em Missão, para a sua moral e eficácia no trabalho, bem como para evitar a perda de intimidade conjugal. Não obstante, e uma vez que a falta de comunicação pode aumentar o risco de desenvolvimento de problemas de saúde mental, é importante assegurar que os meios de comunicação estão acessíveis e disponíveis durante a Missão (Greene et al., 2010), principalmente nas fases em que os cônjuges se encontram física e geograficamente distantes.

4. Ciclo da Missão

Dada a noção da missão como um processo (Sheppard, Malatras, & Israel, 2010), são várias as conceções baseadas em fases, descritas pela literatura. É então essencial que se promova a sua compreensão de modo a que se possam evitar crises e se minimize a necessidade de intervenção ou aconselhamento psicológico.

Tanto a American Psychological Association (APA, 2007) como Rebecca e Wolff (2011) referenciam quatro fases distintas da missão que incluem a pré-missão, que corresponde ao período em que ocorre a notificação para a partida; a missão, propriamente dita; o reencontro, na qual ocorre a preparação antes do militar voltar a casa; e o pós-missão ou reintegração, que equivale ao período após o retorno do militar. Já Pincus e colaboradores (2001), sendo sensíveis às múltiplas transições que ocorrem durante o período de uma missão, conceptualizam o ciclo da missão em cinco fases distintas: pré-missão, missão, manutenção, pré-reencontro e pós-missão, cada uma caracterizada por um determinado período de tempo específico, bem como por diversos desafios emocionas que devem ser ultrapassados por cada

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membro da família. Deste modo, e uma vez que um dos problemas na vida das famílias dos militares é a gestão do stress associado ao referido ciclo (Esposito-Smythers et al., 2001), importa estar ciente das principais considerações referentes a cada uma das fases. De seguida é descrita cada uma delas.

1. Pré-missão, na qual o tempo de duração é extremamente variável, iniciando-se com a ordem de alerta para a missão e terminando quando o militar sai efetivamente de casa; durante a mesma os cônjuges podem ir sentindo, alternadamente, sentimentos de negação e antecipação da perda, havendo um esforço para dar tempo para momentos marcantes (Pincus et al., 2001);

2. Missão, que corresponde ao período da partida do militar de casa até, sensivelmente, ao término do primeiro mês da missão, caracterizando-se por um turbilhão de emoções e na qual algumas esposas de militares relatam sentirem-se desorientadas e oprimidas, enquanto outras se sentem aliviadas. Enquanto o militar se encontra geograficamente distante da sua família, o cônjuge passa a acarretar com as responsabilidades financeiras que antes eram compartilhadas, verificando-se mudanças ao nível das rotinas domésticas, papéis e responsabilidades, tenta manter-se ocupado e gerir as suas necessidades pessoais (e.g., tempo próprio), podendo procurar apoio de outros cônjuges de militares em missão (Joseph & Afifi, 2010; Lapp et al., 2010; Pincus et al., 2001; Rebecca & Wolff, 2011).

3. Manutenção2 que dura desde o primeiro mês até, aproximadamente, ao décimo oitavo mês; este é um momento em que se estabelecem novas fontes de apoio e novas rotinas. Para o membro do casal que fica, o momento durante a missão pode parecer uma eternidade, experienciando uma série de altos e baixos emocionais (Lowe, Adams, Browne & Hinkle, 2012) e problemas como depressão, choque, irritação, aumento da distância emocional, solidão, disforia, perda do emprego, crises financeiras, perda de parentes próximos ou vizinhos, doenças, medo ou dor antecipatória (Bey & Lange, 1974; Kelley, 1994; Spolyar, 1974; Wood et al., 1995; Wright, Burrell, Schroeder, & Thomas, 2006). Lapp e colaboradores (2010) resumem em cinco os grandes fatores de stress para os cônjuges, sendo eles: 1) preocupação, relativamente aos perigos e mudanças nas relações; 2) a espera, nas chamadas telefónicas, e-mails, etc.; 3) o estar sozinho, assumir responsabilidades anteriormente compartilhadas; 4) assumir o dobro das responsabilidades, cuidar dos filhos e da casa; 5)

2 Na versão original “sustainment” – fornecimento de pessoal, logística e outros apoios necessários para manter e prolongar as operações militares (http://www.thefreedictionary.com, Maio 2013).

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solidão/isolamento. Assim, revela-se importante que, durante a missão, os casais mantenham o seu relacionamento enquanto lidam com situações potencialmente geradoras de stress (Joseph & Afifi, 2010). Todavia, apesar dos muitos obstáculos que enfrentam, a grande maioria dos cônjuges e familiares ultrapassa esta fase com sucesso, começa a olhar para a frente e a pensar no regresso a casa do militar (Decker, 1978), dependendo dos seus próprios recursos internos para facilitar a adaptação durante este período.

4. Pré-Reencontro, corresponde, essencialmente, ao mês antes do soldado voltar para casa, e carateriza-se pela antecipação do regresso a casa do militar, pela excitação e apreensão, uma vez que é incerta a forma como irão reagir perante as mudanças que ocorreram durante a missão. É também marcada por alguma dificuldade na tomada de decisões (Pincus et al., 2001). O reencontro entre o militar e o cônjuge começa a ser o principal tema nos telefonemas e nas cartas. As mulheres, sobretudo, tendem a romantizar o reencontro e idealizam o seu cenário; algumas vão “preparando a casa, a si mesmas, preparam-se para a reaprendizagem sexual e antecipam o grau de romance” (Wood et al., 1995, p. 224).

5. Pós-missão, composta pela reunião, momento em que o militar regressa da missão, e reintegração, chegada efetiva a casa e reencontro com a família (Blais, Thompson, & McCreary, 2009; Doyle & Peterson, 2005; Military One Source, 2010). Tal como na fase da pré-missão, também esta tem um período de tempo variável que depende de cada família em particular, com duração normal de três a seis meses. Destaca-se, particularmente, por ser um período de lua de mel para o casal. Todavia, a alegria e alívio sentidos durante esta fase podem desaparecer com uma mistura de emoções e ambivalência de sentimentos caraterizados pela ansiedade e raiva, incluindo o medo, de rejeição e exclusão do cônjuge, por parte do militar, sentindo-se desnecessário (Hall & Simmons, 1973; Metres, McCubbin, & Hunter, 1974; Rebecca & Wolff, 2011; Stoltz, 1954). Como tal, e embora todas as variáveis de satisfação que o regresso acarreta, este pode perturbar a dinâmica familiar, levando a uma nova renegociação de papéis, responsabilidades, rotinas, bem como um novo funcionamento familiar, à perda de independência, à necessidade de espaço próprio e ao facto de terem de lidar de novo com um “normal” relacionamento (Lapp et al., 2010; Morse, 2006; Pincus et al., 2001; Rebecca & Wolff, 2011). Pisano (2010) salienta que, muito embora possa haver o desejo de agir de forma diferente, assim que o militar regressa é comum as famílias terem dificuldade em mudar os padrões de comportamento antigos e voltarem rapidamente às suas rotinas anteriores. Bey e Lange (1974) referem que a deterioração na comunicação e a

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diminuição da intimidade são causadores de conflitos e dificuldades conjugais durante esta fase, pelo que deverá haver um trabalho conjunto para se conhecerem um ao outro novamente e readaptarem-se ao facto de voltarem a estar juntos (Lowe et al., 2012; Pisano, 2010). Segundo Blais e colaboradores (2009), este período pode estar associado a alterações que afetam a qualidade de vida no que aos relacionamentos íntimos e às atitudes referentes à carreira militar concerne. Assim, o regresso a casa e o período da pós-missão parecem ser fases potencialmente críticas do ciclo da missão (Pincus et al., 2001). Independentemente da intensidade da exposição a eventos traumáticos, a receção no regresso a casa é relevante numa tentativa do militar legitimar e validar os seus atos e sacríficos feitos durante a missão (Bolton, Litz, Glenn, Orsillo, & Roemer, 2002).

Posto isto, importa ter presente que esta descrição do ciclo é simplesmente um dispositivo heurístico, facilitador do pensamento sobre a missão militar, e pode não captar com precisão a experiência de todas as famílias (Sheppard et al., 2010). Não obstante, devido ao grau de envolvimento na vida militar por parte das famílias ser muito elevado, torna-se crucial analisar o impacto que o supracitado ciclo tem na saúde emocional e comportamental das famílias dos militares (APA, 2007). Neste sentido, e por serem as fases potencialmente mais críticas do ciclo para a díade conjugal (Pincus et al., 2001), o presente estudo foca-se nas principais dificuldades e benefícios reconhecidos pelos militares e cônjuges no que às fases da missão (2), manutenção (3), pré-reencontro (4) e pós-missão (5) diz respeito e às suas influências no sub-sistema conjugal.

5. Dificuldades e Desafios

Assumindo-se desde logo que o Exército Português não está frequente e necessariamente sujeito a situações idênticas às que são vivenciadas pelos militares norte-americanos, por exemplo, que constituem as amostras da maioria dos estudos publicados sobre esta temática, considera-se que as situações de perigo, afastamento e ausências familiares fazem desta profissão uma atividade caracterizada pelo stress (Baltazar & Salvador, 2012; Britt, Adler, & Bartone, 2011). Embora muitos dos fatores de stress associados com as imposições da vida militar não sejam novos, os desafios do serviço militar durante a guerra nos tempos atuais (incluindo a duração das missões, missões de combate repetidas e as separações familiares) representam ameaças sem precedentes à integridade e bem-estar dos militares e das suas famílias (Bowen et al., 2013).

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Como tal, diversos autores têm identificado desafios e dificuldades pelos quais, tanto o militar, como o seu cônjuge e o próprio sub-sistema conjugal passam ao longo de todo o ciclo da missão (e.g., Wood et al., 1995; Wright et al, 2006; De Burgh et al., 2011).

Inúmeros são os fatores de stress relacionados com o contexto militar, mais concretamente

com as missões de Paz (Bartone, 2006), tendo estes o potencial de afetar a saúde física e

mental dos militares (Waller et al., 2012). Os mesmos incluem a adaptação ambiental, saudade (Han & Kim, 2001), separação física da família, ansiedade pré-missão (Litz, Maguen, Wang, & Cook, 2004; MacDonald, Chamberlain, Long, Pereira-Laird, & Mirfin, 1998), o testemunhar as atrocidades e a carga de trabalho (Ward, 1997). Para De Brugh e colaboradores (2011), tais fatores de stress podem levar a sintomas de trauma dos militares, como a dissociação, ansiedade, problemas sexuais e de sono.

Do mesmo modo, as exigências do Exército juntamente com os fatores de stress e eventos de vida quotidianos podem causar um aumento de stress para os cônjuges dos militares (Drummet, Coleman, & Cable, 2003). O stress subjacente à missão pode levar a que os cônjuges relatem a presença de diversas reações emocionais e algumas preocupações, tais como sentimentos de solidão, tédio, depressão, ansiedade de separação, raiva e culpa, distúrbios de sono, sobrecarga e mudanças nos papéis familiares, dificuldades financeiras, perda de emprego, preocupação com a subsistência do relacionamento conjugal a longa distância e apreensão pela segurança do militar (Allen et al., 2011; Black, 1993; Cook & Speirs, 2005; Decker, 1978; Drummet et al., 2003; Fisher et al., 2008; Palmer, 2008; Rosen, et al., 2000;Van Vranken et al, 1984; Warner, Appenzeller, Warner, & Grieger, 2009; Wright et al., 2006; Wood et al., 1995). Relativamente ao funcionamento do sub-sistema conjugal, este defronta-se com exigências, pessoais e institucionais, e desafios cada vez mais complexos como o alto ritmo e intensidade das missões, bem como os perigos associados com os requisitos operacionais contemporâneos (Bowen et al., 2013; Chandra, Burns, Tanielian, & Jaycox, 2011). Segal (1988) listou cinco das principais exigências intrínsecas e transversais às famílias militares que deverão ser consideradas, sendo elas: 1) o risco de ferimento ou morte do militar, 2) a mobilidade geográfica, 3) a separação periódica do militar face à restante família, 4) a residência em países estrangeiros, e 5) pressões que o papel normativo coloca sobre os membros da família por estes pertencerem à comunidade militar. Mais tarde, Booth e Johnson (1994) e Wright e colaboradores (2006) referem que associada à participação numa missão internacional, que quanto mais longa mais efeitos adversos poderá ter para a díade conjugal (Karney & Crown, 2007), poderá estar o aumento da propensão para o divórcio,

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aumento dos conflitos conjugais, decréscimo da felicidade conjugal, resultantes das reduzidas interações entre a díade, bem como o desenvolvimento de níveis de stress devido a alguma frustração sexual ou (in)fidelidade do cônjuge.

No entanto, apesar das tensões associadas ao serviço militar e às missões, em particular, bem como à possibilidade de deterioração dos casamentos (Karney & Crown, 2007), tem sido difícil encontrar evidências de que o stress militar seja realmente responsável por problemas no sub-sistema conjugal. De facto, ao longo de um período em que as exigências militares têm aumentado significativamente, as taxas de separação conjugal têm aumentado apenas gradualmente (Karney & Crown, 2007). No entanto, segundo Angrist e Johnson (1998) há diferenças consideráveis quando o membro militar do casal é a mulher, considerando que a taxa de divórcio é maior em famílias em que a mulher é o membro militar em comparação com famílias onde o membro alistado é o marido.

Posto isto, de facto, as missões representam um esforço significativo tanto para o membro alistado, como para o cônjuge (Gibbs, Clinton-Sherrrod, & Johnson, 2012), importando, por isso, reconhecer os principais desafios e dificuldades, subjacentes ao serviço militar, com que ambos se deparam, tanto a nível pessoal, como relacional. Segundo Sheppard e colaboradores (2010), as famílias militares não estão inerentemente em risco por si só, podendo, mesmo, ser um grupo saudável – os fatores de stress enfrentados por estas, apesar de torná-las numa população especial, não fazem delas uma população em situação de risco em geral.

6. Benefícios e Potencialidades

Muito embora as consequências negativas do serviço militar tenham recebido mais atenção ao longo dos tempos, deve notar-se que as mudanças pessoais e relacionais decorrentes da participação numa missão internacional podem ser positivas, podendo ser mais prevalentes que as negativas (Karney & Crown, 2007). Assim, e uma vez que o desajustamento à missão não é inevitável (Hollingsworth, 2011), de modo a reduzir o impacto que este acontecimento stressante pode ter na família, nomeadamente no que à relação conjugal diz respeito, importa identificar a existência de fatores familiares protetores que sirvam de amortecedores entre o sujeito e a situação stressante. Assim, o afeto, o suporte emocional, a satisfação conjugal, a existência de limites claros, a coesão, a comunicação aberta e adequada sobre a missão, a competência de resolução de problemas, a clareza

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relativamente às questões de controlo, isto é, o que pode ou não ser alterado, e o significado atribuído à missão, são variáveis importantes na determinação do modo como a família responde aos fatores de stress associados à missão, promovendo estratégias de coping saudáveis e atitudes pró-militares (Antonovsky & Sourani, 1988; Huebner et al., 2010; Kelley, 1994; Mabe, 2009; Sousa, 2006; Wiens & Boss, 2006). Bell (1991, citado por Bell & Schumm, 1999) sumariou em duas as estratégias de missão que considerou serem fundamentais para os cônjuges de militares: desenvolverem metas individuais e de família. Estas incluem manter as rotinas familiares, procurar informações relevantes sobre o Exército e a missão, aceitar a falta de controlo sobre os eventos da missão, procurar apoio social de amigos, parentes, Grupos de Apoio à Família e familiares de outros militares, ser voluntário ou ter atividades de tempos livres, comunicar com o militar e abrir canais de comunicação dentro da própria família (Bell, 1991, cit. por Bell & Schumm, 1999). Assim, o apoio da família é fundamental e melhora os níveis de desempenho, associando-se a uma perceção de eficácia do militar relativamente àquilo que lhe é pedido para fazer (Bell & Schumm, 2005). Da mesma forma, quanto mais positivo for o sentimento da família relativamente ao Exército, menor é o stress percebido, tanto pelo militar, como pelo cônjuge e restante família (Allen et al., 2011). Deste modo, é possível identificar diversos benefícios ou potencialidades associadas à vida militar, tanto para o membro alistado, como para a família e dinâmica conjugal. Designadamente, aumento dos níveis de auto-estima que decorrem da realização de uma tarefa difícil em circunstâncias desafiadoras, aumento da maturidade, aumento do bem-estar pessoal, crescimento pessoal e profissional, reflexão pessoal sobre os objetivos de vida, independência social, oportunidade de progresso na carreira, bem como melhorias ao nível económico (Castaneda et al., 2009; Elder, 1986; Elder, Gimbel, & Ivie, 1991; Hall & Jansen, 1995; Litz et al., 2004; Karney & Crown, 2007). A missão pode, ainda, estar associada a um aumento salarial (Karney & Crown, 2007) e sensação de maior proximidade familiar (Castaneda et al., 2009). Ainda que existam desafios associados à Missão e a mesma possa apresentar riscos para a dinâmica conjugal, muitos casais mantêm relações satisfatórias, o casamento pode ser fortalecido e, à medida que a Missão se vai desenvolvendo, verificar-se uma maior estabilidade relacional (Karney & Crown, 2007; Wood et al., 1995).

Por conseguinte, muito embora à participação portuguesa em missões internacionais possam estar associados enormes gastos financeiros, bem como mudanças ao nível do funcionamento do sub-sistema conjugal, por exemplo, a sua importância é inegável (Gomes, 2008; Pinto, 2012) e as potencialidades devem ser reconhecidas.

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13

Neste sentido, e face à escassez de investigação com a população militar portuguesa que foque o impacto que uma missão internacional tem na vida familiar, principalmente ao nível do funcionamento do sub-sistema conjugal, importa saber de que modo tal sub-sistema é afetado, durante e após a missão. São, por isso, os objetivos específicos da presente dissertação: 1) identificar e analisar as estratégias de coping e os recursos usados pelos militares portugueses e cônjuges, durante uma missão internacional, de modo a atenuarem as consequências da ausência física e emocional do cônjuge; 2) identificar a ocorrência de possíveis benefícios pessoais e para a dinâmica conjugal, subjacentes à participação do membro militar numa missão internacional; e 3) identificar a ocorrência de dificuldades e desafios pessoais e conjugais resultantes da participação do militar numa missão internacional.

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14 II. METODOLOGIA

1. Enquadramento Metodológico

O presente estudo insere-se na primeira fase (de três) do Projeto “Eu, Tu & Nós” – estudo exploratório de natureza qualitativa com base num recorte da amostra de familiares de militares que já experienciaram a ausência de um familiar durante uma missão internacional. Como objetivo central este projeto pretende “encontrar e promover os recursos familiares, internos e externos, que permitam à família, e por sua vez ao miliar, adaptar-se à alteração da homeostasia familiar, contribuindo desta forma para o aperfeiçoamento da resiliência familiar” (Academia Militar, 2012, p. 7). Com ele pretende-se investigar, planear, executar e propor um programa de intervenção, adaptado à realidade do Exército Português, de “promoção da resiliência nas famílias dos militares que participam em missões".

Por este ser um estudo descritivo e exploratório, pretendendo-se obter informação com maior riqueza e profundidade de modo a permitir uma compreensão mais alargada dos fenómenos – partindo do relato das experiências de cônjuges e militares que participaram, pelo menos uma vez, numa missão internacional ao longo da sua carreira –, optou-se por uma abordagem de natureza qualitativa. Tal deve-se, igualmente, ao facto de esta procurar, essencialmente, a “compreensão da dinâmica do Ser Humano, sendo os fenómenos (apreendidos) o seu objeto de estudo principal e os objetivos da pesquisa a interpretação das relações de significado dos fenómenos tal como são referidos pelas pessoas” (Turato, 2005, p. 511). Assumimos, assim, que o nosso estudo tem subjacente o paradigma de investigação pós-positivista, uma vez que é dada ênfase aos processos e significados a partir das próprias expressões dos participantes, e que consideramos a possibilidade de, através da nossa investigação, ter uma noção apenas aproximada da realidade (Guba & Lincoln, 1994).

De um modo geral, as pesquisas de carácter qualitativo exigem a realização de entrevistas (geralmente longas e semiestruturadas), sendo crucial que se definam critérios segundo os quais são selecionados os participantes que compõem o universo da investigação, já que há uma influência direta na qualidade das informações a partir das quais se construirá a análise e que permitirá chegar à compreensão mais ampla do problema delineado (Duarte, 2002). Deste modo, dentro da panóplia de técnicas qualitativas para recolha de dados, optou-se pelo focus group por este possibilitar a congregação de pessoas que em comum têm alguma

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característica ou experiência, neste caso, a participação do militar português numa missão internacional, desenvolvendo-se uma discussão na qual o foco é um tema ou área de interesse para todos, a fim de gerarem dados mais ricos, provenientes da interação entre os participantes (Gondim, 2003; Kitzinger, 1995)

2. Desenho da Investigação 2.1. A Questão Inicial

Na presente dissertação parte-se da seguinte questão inicial:

De que modo a participação do militar português numa missão internacional afeta o sub-sistema conjugal, durante e após o decorrer da mesma?

2.2. O Mapa Conceptual

2.3. Objetivos

Para a presente investigação foram definidos os seguintes objetivos:

1) Identificar e analisar as estratégias de coping e os recursos usados pelos militares portugueses e cônjuges, durante uma missão internacional, de modo a atenuarem as consequências da ausência física e emocional do cônjuge em missão;

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2) Identificar a ocorrência de possíveis benefícios pessoais e para a dinâmica conjugal, decorrentes da participação do membro militar numa missão internacional;

3) Identificar a ocorrência de dificuldades e desafios, pessoais e conjugais, resultantes da participação do militar numa missão internacional.

3. Estratégia Metodológica

3.1 Seleção e Caraterização da Amostra

Neste estudo optou-se por uma amostra de conveniência, procurando selecionar os melhores informadores sobre o tema, considerando-se que permitiriam uma rica amostragem de ideias e reflexões. Assim, esta é constituída por 14 participantes (N= 14, 7 mulheres e 7 homens), dos quais 7 são cônjuges de militares, com idades entre os 25 e os 33 anos (M= 29,

DP= 3,6) e 7 são militares, com idades entre os 26 e os 38 anos (M= 30, DP= 4,1). A amostra

corresponde a um recorte do universo de militares e cônjuges (sem correspondência entre si) que integram a Escola Prática de Infantaria de Mafra (Portugal) de diferentes patentes militares – Primeiro Cabo (2), Primeiro Sargento (2), Segundo Sargento (1), Tenente (6), Capitão (2), Major (1) - e com diferentes participações em missões internacionais, sempre integrados num contingente – Afeganistão (3), Uganda (7), Timor (4), Kosovo (2), Somália (1). O quadro 1 apresenta uma síntese das características dos participantes no estudo.

Quadro 1 – Caracterização da Amostra

Participante Sexo Idade

Estado Civil Atual Estado Civil (Última Missão) Posto do Militar Nº Missões Internacionais do Militar Local Missões Internacionais do Militar

1. Militar Masculino 30 Casado Solteiro Tenente 1 Afeganistão

2. Militar Masculino 28 Casado Casado Tenente 1 Afeganistão

3. Militar Masculino 28 União Facto

União

Facto Tenente 2 Afeganistão

4. Militar Masculino 27 Casado União

Facto Tenente 1 Uganda

5. Militar Feminino 26 União Facto

União

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6. Militar Masculino 38 Casado Casado Major 3

Timor (2 vezes), Kosovo

7. Militar Masculino 32 União Facto

União

Facto Tenente 1 Uganda

8. Cônjuge Masculino 33 Casado União

Facto 1º Cabo 1 Uganda

9. Cônjuge Feminino 32 Casado Casado Capitão 1 Timor

10. Cônjuge Feminino 30 Casado Casado Capitão 1 Timor

11. Cônjuge Feminino 25 Casado União Facto

Sargento 2 Uganda

12. Cônjuge Feminino 25 Casado Casado 1º

Sargento 2

Kosovo, Somália

13. Cônjuge Feminino 26 Casado União Facto

Sargento 1 Uganda

14. Cônjuge Feminino 32 União Facto

União

Facto Tenente 1 Uganda

3.2 Instrumentos Utilizados - Guião de entrevista de focus group

Com vista ao aprofundamento do tema, o guião de entrevista (APÊNDICE I) foi o instrumento selecionado como fonte principal de recolha de dados e ajuda na condução do debate criado (Flick, 2005). Tal como Morgan (1998) alertou, na entrevista de focus group deverão sempre ser tidos em linha de conta quatro aspetos fundamentais: abordar ao máximo os tópicos relevantes, fornecer dados o mais específicos possíveis, promover uma interação que explore os sentimentos dos participantes com alguma profundidade e ter em conta o contexto pessoal usado pelos participantes para gerarem as suas respostas.

Assim, este foi construído no sentido de permitir uma progressão natural entre os tópicos, tendo estes sido cuidadosa e criteriosamente predeterminados e sequenciados com base na análise da situação (Oliveira & Freitas, 1998). O mesmo era composto por 16 questões, cada uma com um propósito próprio e distribuídas pelas seguintes categorias: abertura (para os participantes se conhecerem), introdução (que iniciou a discussão do tema), transição (de modo a fazer-se a transição progressiva para as questões-chave), questões-chave

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18

(para obter uma visão sobre as áreas de interesse central do estudo), conclusão (de modo a ajudar a investigadoras a determinarem onde se focarão, correspondendo ao remate da discussão) e, por fim, a questão resumo (Morgan, 1998).

- Questionário sociodemográfico

Este instrumento foi usado para recolha e registo de dados sociodemográficos dos participantes (e.g., sexo, idade, estado civil, zona de residência), bem como informação associada à vida militar (e.g., posto do militar, número de missões (e locais), data da última missão) (APÊNDICE II).

3. 3 Procedimento na Recolha de Dados

No âmbito do Projeto “Eu, Tu & Nós”, em que este estudo se insere, o Exército Português foi contactado com vista à recolha de dados, dando autorização para tal. Nesta sequência, as investigadoras envolvidas deslocaram-se à Escola Prática de Infantaria de Mafra e realizaram os diferentes focus groups, no período entre Dezembro de 2012 e Março de 2013.

Deste modo, os participantes foram divididos em dois focus groups (FG) de acordo com a sua ligação ao Exército Português (FG1: militares do Exército Português; FG2: cônjuges de militares do Exército Português).

Os focus groups decorreram, de forma geral, num ambiente acolhedor, em salas especificamente reservadas e preparadas para o efeito. Os mesmos tiveram uma duração entre 90 e 120min, aproximadamente.

Previamente ao início da discussão, cada participante leu e assinou o consentimento informado (APÊNDICE III) para a participação no estudo (com garantia de confidencialidade), bem como o questionário sociodemográfico.

As entrevistas dos focus groups deste estudo foram gravadas em formato áudio com conhecimento e autorização prévia dos participantes.

3.4 Análise dos Dados

De modo a agilizar o trabalho de análise de dados, recorreu-se ao software QSR NVivo 10, substituindo, assim, o trabalho manual (tradicionalmente realizado durante esta etapa de pesquisas qualitativas) (Guizzo, Kriziminski, & Oliveira, 2003). Neste sentido, cada

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um dos focus groups foi transcrito na íntegra e, posteriormente, os seus dados foram organizados em unidades de significado (referências), sendo estas definidas como conjuntos de frases sobre o mesmo tema. Seguidamente, passou-se ao processo de codificação, ou seja, as unidades que compartilhavam características comuns foram identificadas e organizadas em categorias específicas, com base em rótulos ou conceitos pré-existentes na literatura (Hutchinson, Johnston, & Breckon, 2010) e na análise do que os participantes foram dizendo ao longo do focus groups. Assim, uma vez que a codificação corresponde à agregação de rótulos de significado para os segmentos dos dados (Charmaz, 2006), foi possível criar nós que proporcionaram áreas de armazenamento em referências de texto codificadas no NVivo (Bazeley, 2010). Sempre que novos conceitos eram identificados, o número de nós aumentava, dando origem, assim, a uma árvore de categorias – constituída por categorias inferiores agregadas a categorias superiores (APÊNDICE IV). De modo a apurar as relações entre conceitos e categorias recorreu-se à funcionalidade de matrizes de codificação que o NVivo 10 permite efetuar (Hutchinson, Johnston & Breckon, 2010).

Posto isto, a categorização foi realizada através de um processo abdutivo (Dalay, 2007), conforme o interesse analítico da investigação. Assim, tendo por base a questão de partida, analisou-se o que os participantes partilharam sobre a sua experiência, comparando-a e contrastando-a com a dos outros. Este processo comparativo permitiu descrever indutivamente as suas experiências comuns – passando do particular para o geral. Igualmente, à medida que os dados iam surgindo, procurou-se sempre obter uma melhor explicação dos mesmos, comparando-os com outros fenómenos paralelos, nomeadamente os encontrados na revisão de literatura, testando-os de forma dedutiva. Como tal, face à questão inicial de investigação, definiram-se, de forma abdutiva, categorias superiores e inferiores, distribuindo os diferentes elementos pelas mesmas.

Informações relativas ao sexo, idade e situação (i.e., a relação do participante com o Exército Português), recolhidas através do questionário sociodemográfico, foram inseridas como atributos dos participantes, analisados de forma qualitativa e cruzados com certas categorias de análise das entrevistas, através das matrizes de codificação.

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20 III. ANÁLISE DE RESULTADOS E DISCUSSÃO

As análises de conteúdo das respostas dos focus group resultaram em 55 categorias interrelacionadas e organizadas num sistema hierárquico. Foram vistas, como tendo potencial maior, quatro categorias principais:

1) Fases do Ciclo de Missão na qual o estudo se centra: durante (que corresponde a 80%

das referências codificadas) e após (20% das referências). Estas foram separadas, respetivamente, em missão (período da partida do militar de casa até ao final do primeiro mês da missão) e pré-reencontro (mês antes do militar regressar a casa), e em reencontro com o cônjuge (assim que o militar chega da missão, podendo durar horas ou até 2 dias) e reintegração na díade conjugal (após o reencontro com o cônjuge, voltar a partilhar tarefas, rotinas, papéis familiares e a casa). Os critérios de inclusão em cada categoria foram a referência ao tema pelos participantes no focus group ou na literatura.

2)

Estratégias de Coping e Recursos individuais (47%) e de casal (53%) usados ao longo

das fases do ciclo de missão aqui referenciadas. As estratégias de coping podem ser cognitivas ou comportamentais, sendo usadas pelos participantes, de forma consciente e intencional, de modo a lidarem com o stress percebido associado à missão. Os recursos são os meios físicos utilizados como mecanismos de adaptação à situação indutora de stress – a separação física inerente à missão internacional.

3) Dificuldades e Desafios (principais fontes de distress e obstáculos físicos e emocionais reconhecidos pelos participantes ao longo da missão internacional) foram codificadas consoante eram sentidos pelo militar (35%), pelo cônjuge (39%) ou pelo casal (26%), separados em intimidade, comunicação, especificidades da vida militar e rutura.

4) Benefícios e Potencialidades (aspetos positivos e possíveis vantagens identificadas pelos participantes subjacentes à participação do militar na missão internacional) associados foram separados igualmente consoante se refiram ao ao militar (49%), ao cônjuge (15%) ou ao casal (36%).

Seguidamente, será apresentada uma análise detalhada das três principais categorias conceptuais encontradas, estratégias de coping e recursos, dificuldades e desafios, e benefícios e potencialidades, tendo em consideração as fases da missão consideradas na primeira categoria – durante e após a missão. De modo a fornecer informações sobre as experiências dos participantes, estão incluídas na explicação de cada categoria algumas das suas citações.

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Estratégias de Coping e Recursos

Individuais: Seis categorias principais surgiram das estratégias de coping e recursos

individuais, atividades extra-trabalho (38%), rede de apoio (amigos/companheiros e família) (31%), planeamento de acontecimentos de vida importantes (10%), partilha de experiências e emoções (10%), foco no trabalho (10%), delimitar a Missão por fases (2%).

Atividades extra-trabalho. Investir em atividades extra-trabalho é a estratégia de

coping a que militares e cônjuges recorrem com mais frequência para atenuarem a ausência

física e emocional sentida. Tal, inclui, principalmente, atividades como ver filmes, ler, jogar matraquilhos ou remodelar a casa.

“ (…) fazermos outras atividades que nos tirem o focar no trabalho nas missões (…) leituras (…).” (participante 6, militar, sexo masculino)

“Eu cheguei a tirar os móveis do sítio e voltar a pô-los no mesmo sítio.” (participante 14, cônjuge, sexo feminino)

Das 20 referências às atividades extra-trabalho, 14 são mencionadas pelos cônjuges, podendo isto sugerir uma maior necessidade destes ocuparem o tempo livre que têm, enquanto aguardam pelo término da missão em que o militar está integrado. Algumas destas atividades envolvem, sobretudo, a remodelação da casa e a preparação de surpresas com vista ao regresso efetivo do militar, “é arranjar o miminho para quando eles chegarem a casa sentirem o conforto, o aconchego.” (participante 11, cônjuge, sexo feminino). Esta é uma estratégia de

coping focada na emoção (Lazarus & Folkman, 1984), isto é, os cônjuges numa tentativa de

reduzirem o sofrimento causado pela principal fonte de stress – a missão internacional – e de modo a evitar lidar diretamente com a situação, investem, por exemplo, em atividades de lazer. Esta coincide com uma das estratégias que Bell e Schumm (1999) identificaram no seu estudo, concomitantemente com tornar-se socialmente ativo e ser voluntário em qualquer instituição ou organização.

Rede de apoio. Como recurso principal durante a missão internacional destaca-se a rede de apoio, sendo que as principais fontes referidas são a família (52%) e os amigos (48%): “ (…) acho que a família e amigos são dois grandes núcleos” (participante 10, cônjuge, sexo feminino).

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22

Os militares referem, sobretudo, o apoio dos companheiros da missão, principalmente, o(s) colega(s) de quarto/camarata, com quem desabafam, partilham as suas principais angústias, sentindo-se compreendidos por alguém que se encontra na mesma situação.

“Apoiarmo-nos todos muito uns aos outros, sabíamos que estávamos todos a passar pelo mesmo (…) ”. (participante 6, militar, sexo masculino)

Uma das especificidades da vida militar a que os cônjuges se sujeitam é a possibilidade de se verem obrigados a deslocalizarem-se (Black, 1993) para cidades distantes da que nasceram, viveram e na qual se encontram os seus principais vínculos (família e amigos, sobretudo os de infância). No adulto, a vinculação, segundo Berman e Sperling (1994), refere-se à tendência permanente do sujeito para manter a proximidade e o contato com uma ou mais figuras específicas que são percecionadas como potenciais fontes de segurança física e/ou psicológica. Neste sentido, durante a ausência do militar devido à participação na missão internacional por um determinado período de tempo, os cônjuges referem sentir a necessidade de se mobilizarem para junto da sua família e amigos, embora, geralmente, isso implique uma deslocação para outro ponto do país. Esta procura de apoio junto da sua principal rede é designada por Lazarus e Folkman (1984) como estratégia de coping focada no problema, pois a procura de suporte emocional atua como uma tentativa de alterar a fonte de stress – uma das principais consequências da separação física dos cônjuges é o sentimento de solidão por parte do membro não-militar (para uma revisão ver, por exemplo, Decker, 1978).

“ (…) voltei a casa dos pais, rumei ao norte, os primeiros tempos foram bons, matar saudades dos pais e dos amigos (…).” (participante 10, cônjuge, sexo feminino)

Contudo, por norma, estas são missões relativamente prolongadas (Pincus et al, 2001), com a duração de quatro ou mais meses, o que para os cônjuges que têm ocupação laboral na localidade da base militar se torna um impedimento para permanecerem junto da família e amigos durante toda a missão. Deste modo, os cônjuges sentem necessidade de se aproximarem de colegas de trabalho, bem como procurar o apoio junto de outros cônjuges de militares em Missão, de Grupos de Apoio à Família e/ou se ligarem com pessoas que estão a passar pela mesma situação (Bell & Schumm, 1999; Lapp et al., 2010).

“Tinha apoio de grandes amigos da parte do trabalho e, pronto, vizinhos (…).” (participantes 13, cônjuge, sexo feminino)

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23

“ (…) o meu refúgio foi uma amiga minha que trabalhava comigo, que estava comigo todos os dias, e é também esposa do 1º sargento que ainda está em missão.” (participante 12, cônjuge, sexo feminino)

Tal revela-se consistente com o que Decker postulou em 1978 ao referir o apoio externo, através da família e outros contactos sociais (como os amigos), como um componente necessário para uma adaptação bem-sucedida do cônjuge à missão na qual o militar participa. Mais tarde, Bowen (1990) e Hollingsworth (2011) realçam, igualmente, a importância que o apoio social e a ligação do cônjuge com outros sujeitos através de redes informais (como organizações religiosas ou grupos de apoio) e formais (como o local de trabalho ou até mesmo a prontidão da família) têm para a mitigação das dificuldades sentidas devido à separação durante a Missão internacional.

Partilha de experiências e emoções. Para além do recurso à rede de apoio supramencionada, militares e cônjuges incluem a partilha de experiências e emoções, em particular, como estratégia de coping para superarem as dificuldades sentidas ao longo da Missão. Partilharem as experiências que vão tendo, não só com os seus companheiros mais próximos, mas também com os cônjuges, parece ajudar a lidar com a ansiedade sentida devido à separação inerente à missão internacional. Os cônjuges referem, adicionalmente, a importância de percecionarem que não estão sozinhos e não são os únicos a passar por dificuldades, sentindo a necessidade de partilharem as suas vivências com cônjuges de outros militares, por exemplo.

“ (…) à partida todos temos as mesmas angústias e … partilhar e falar de um assunto específico.” (participante 6, militar, sexo masculino)

“ (…) sentirmos que não somos as únicas a passar por aquela situação, que há outras famílias que também ficam cá e que também têm as suas dificuldades.” (participante 12, cônjuge, sexo feminino)

Planeamento de acontecimentos de vida importantes. De modo a dar continuidade a muitos dos projetos que são iniciados antes da partida do militar para a missão, o planeamento de acontecimentos de vida importantes, como uma viagem de casal, revela-se uma das principais estratégias usadas pelos militares e respetivos cônjuges. O casamento surge como o principal acontecimento de vida que é planeado enquanto o militar solteiro se encontra

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ausente. Tal estratégia específica, sobretudo usada pelos cônjuges, parece coadjuvar a dirigir o seu foco para algo distinto que não as saudades do seu parceiro.

“ (…) a minha esposa ficou cá a planear o casamento e acho que… acho que foi bom, também, não só a conversa diária, mas (isso sem dúvida que é fundamental), mas acabou por ser também para ela uma forma de também se manter constantemente preocupada mais com as saudades… o facto de ir ver isto, ir ver aquilo, discutir comigo ‘como é que é, fazemos assim, fazemos assado?’, também acabou por ser uma forma de manter a mente ocupada para além daquela conversa diária normal (…).” (participante 4, militar, sexo masculino)

“ Acho que podemos resumir por planeamento do futuro.” (participante 8, cônjuge, sexo masculino)

Diversos autores, nos seus estudos, relatam haver uma associação negativa entre a participação numa Missão internacional e a satisfação conjugal, assim como a propensão para o divórcio (Amato & Previti, 2003; Booth & Johnson, 1994; Joseph & Afifi, 2010; Rivie, Merrill, Thomas, Wilk, & Bliese, 2012). Todavia, os participantes no presente estudo mostram que a intenção de casar está presente na vida do casal, usufruindo a ausência forçada para o planeamento do casamento. Tal vai ao encontro do que Call e Teachman (1991) sugerem ao referirem que os militares quando regressam da situação de combate têm tendência a casar-se rapidamente.

Foco no trabalho. Centrar a atenção na atividade laboral desenvolvida é uma das estratégias de coping referenciada tanto por militares como cônjuges. Para os primeiros, o treino, o preparar a pasta para o contingente seguinte e o empenho em tarefas específicas da Missão são alguns dos exemplos mencionados do foco consumado no trabalho que estão a desempenhar. Quanto aos cônjuges, estes descrevem que, perante a ausência do militar e como estratégia para colmatar a falta sentida e as horas passadas sozinhos, realizam pós-graduações e aproveitam o horário de trabalho como fontes de ocupação.

“ (…) treinar acho que foi a principal estratégia usada (participante 3, militar, sexo masculino), (...) tentámos estar com algum grau de empenhamento numa determinada tarefa específica.” (participante 4, militar, sexo masculino)

Referências

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