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O Crescimento da Atividade dos Aposentados

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Academic year: 2021

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O Crescimento da Atividade dos Aposentados

*

Vânia Cristina Liberato UFMG/Cedeplar

Palavra-chave: aposentado, atividade.

1. Introdução

Com o envelhecimento da população brasileira é esperado um número cada vez maior de aposentadorias. E de fato a participação de aposentados na população têm crescido rapidamente em resposta ao processo conjunto de envelhecimento populacional e de maturação do sistema previdenciário público, além do aumento da longevidade dos brasileiros. Examinando-se o conjunto de aposentados entre 40 e 80 anos de idade na região urbana do país retratados nas PNADs, consta-se que em 1978 os homens aposentados representavam 26% da população masculina, e de acordo com os últimos dados disponíveis - em 1999 -, estes já correspondem a 33%. O mesmo crescimento é notado entre as mulheres que aumentam sua participação de 13% para 21% no período. Concomitante ao crescimento da participação de aposentados, constata-se a elevação na taxa de atividade destes. Nesse mesmo período a taxa de atividade tanto de homens quanto de mulheres aposentados aumentou cerca de 10 pontos percentuais. Assim, registra-se que 33% dos homens aposentados eram economicamente ativos em 1999, e entre as mulheres, o correspondente era de 16%.

O entendimento dos fatores atuantes no crescimento da atividade econômica desse segmento em específico - aposentados - torna-se relevante não só pelo esperado crescimento contínuo da participação dos aposentados na população, como também pelas incertezas a cerca das implicações de mudanças recentes na legislação do sistema público de previdência sobre o nível de atividade econômica destes.

Este trabalho visa demonstrar o crescimento da atividade econômica dos aposentados no setor urbano do Brasil através dos dados das PNADs dos anos setenta

* Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado

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até o final dos anos noventa, buscando associar o aumento da escolaridade média e a queda da idade média à aposentadoria ao crescimento da atividade econômica dos aposentados. Paralelamente, serão contrastados os rendimentos de aposentados segundo a condição de atividade numa tentativa de investigar se a oferta de trabalho do aposentado seria uma estratégia de defesa de renda. A opção pelo urbano se deve ao esforço de contornar as mudanças metodológicas ocorridas ao longo das diversas PNADs, nas quais o conceito de trabalho é expandido de modo que atividades que anteriormente não eram consideradas como trabalho passam a sê-lo, afetando muito mais o setor rural que o urbano. Neste estudo os dados foram arranjados de modo a preservar a compatibilidade da série de PNADs, excluindo-se as atividades anteriormente não consideradas1.

Assim, este trabalho é apresentado em quatro seções além desta introdução. Na segunda seção, primeiramente serão apresentadas e contrastadas a evolução das taxas de atividade de aposentados e não aposentados ao longo dos anos setenta, oitenta e noventa e, após isto, as taxas de atividade dos aposentados serão decompostas segundo a escolaridade. Na terceira seção, será demonstrado, através do modelo proposto por HAJNAL (1953), a tendência de queda da idade média à aposentadoria nas últimas décadas. Na quarta seção serão confrontados rendimentos individuais e de aposentadoria entre aposentados ativos e inativos. Após estes, na quinta seção serão colocadas as considerações finais do trabalho.

2. Atividade econômica

2.1 Participação econômica e condição de aposentadoria

1 O novo conceito de trabalho da PNAD a partir de 1992 inclui: a) ocupações remuneradas em dinheiro, mercadorias

ou benefícios, na produção de bens ou serviços; b) ocupações remuneradas em dinheiro ou benefícios no serviço doméstico; c) ocupações sem remuneração na produção de bens e serviços, desenvolvidas durante pelo menos uma hora na semana; em ajuda a instituição religiosa, beneficente ou de cooperativismo; como aprendiz ou estagiário; d) ocupações desenvolvidas pelo menos uma hora por semana na produção de bens e na construção de edificações e benfeitorias para o uso próprio ou de pelo menos um membro da unidade domiciliar.

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Devido às particularidade do ciclo de vida ativa de homens e mulheres as análises durante todo o trabalho são distintas para os sexos. Com o intuito de contornar as mudanças metodológicas no conceito de trabalho na série de PNADs, optou-se por limitar o estudo ao setor urbano do país. O corte etário usado durante todo o trabalho será de pessoas entre 40 e 80 anos por considerar-se rara a aposentadoria antes dos quarenta e que até os oitenta anos a grande maioria já tenha alcançado as condições para a elegibilidade da aposentadoria.

De acordo com a literatura recente, as taxas de atividade dos homens idosos - considerando-se como idoso a pessoa acima de sessenta anos - têm se mantido estável ou até mesmo decrescente durante a última década (CAMARANO, BELTRÃO, PASCOM, MEDEIROS, GOLDANI, 1999; WAJNMAN, OLIVEIRA, OLIVEIRA, 1999), porém, por trás dessa estabilidade identifica-se um movimento contraditório: enquanto a taxa de atividade dos não aposentados é decrescente a dos aposentados é crescente. A diferença é ainda mais notável com o corte a partir de 40 anos, como pode ser observado no GRAF. 1, apresentado na seqüência, que lista as taxas de atividade masculina por idade segundo a condição de aposentadoria nos anos de 1978, 87 e 99. A curva de atividade masculina total é naturalmente decrescente com a idade, o mesmo acontecendo com a curva dos não aposentados. A curva de atividade dos aposentados, porém, tem seu pico em idades intermediárias, de 45 a 54 anos, variando conforme o ano analisado. Observe que a atividade dos aposentados apresenta destacada elevação entre 1978 e 1999 em todas as idades, chegando a cerca de 50% no grupo 50-54.

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Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 1

Taxa de Atividade Masculina por idade segundo condição de aposentadoria 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 grupo etário

total 78 apos 78 napos 78

total 87 apos 87 napos 87

total 99 apos 99 napos 99

Entre as mulheres - GRAF. 2 na seqüência -, assim como entre os homens, a atividade econômica total e das não aposentadas é decrescente com a idade enquanto a atividade das aposentadas tem seu pico em idades intermediárias (45-49). Todavia, diferentemente dos homens, as curvas de atividade feminina são crescentes no tempo independentemente da condição de aposentadoria, com significativa elevação da atividade das aposentadas de 1987 para 1999. De certo essas curvas estão refletindo um efeito de coorte decorrente do crescimento da atividade feminina nos anos 60 e 70, cujas participantes, em grande parte, chegam aos anos noventa à idade madura, parte delas aposentada.

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Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 2

Taxa de Atividade Feminina por idade segundo condição de aposentadoria 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 grupo etário

total 78 apos 78 napos 78

total 87 apos 87 napos 87

total 99 apos 99 napos 99

A constatação do significativo crescimento das taxas de atividade entre os aposentados motivou o estudo dos possíveis fatores atuantes nesse processo. Com esse intuito, na subseção seguinte serão analisadas a evolução da escolaridade média da população aposentada no setor urbano do país e as taxas de atividade dos aposentados segundo os níveis de escolaridade.

2.2. A escolaridade dos aposentados

A população do país, em geral, apresentou nas últimas décadas crescimento significativo no nível de escolaridade e isso não foi diferente no grupo de idade mais avançada. Para ilustrar o avanço da escolaridade da população aposentada são apresentados os GRAF. 3 e 4, que revelam a evolução do número médio em anos de estudo de homens e mulheres aposentados por condição de atividade ao longo dos anos. Observe que a escolaridade média é crescente independentemente da condição de atividade, mas os economicamente ativos possuem os maiores crescimentos, com

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substancial elevação no diferencial de escolaridade entre os dois grupos no final dos anos noventa, sobretudo entre as mulheres.

Fonte: PNAD/ IBGE.

GRÁFICO 3 GRÁFICO 4

Número médio de anos de estudo da Pop. Masculina aposentada por condição de

atividade 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 78 81 84 87 90 93 96 99

apos ativo apos inativo

Número médio de anos de estudo da Pop. Feminina aposentada por condição de

atividade 2 3 4 5 6 7 8 78 81 84 87 90 93 96 99

apos ativo apos inativo

A seguir, são apresentadas as TAB. 1 e 2, que listam a participação de aposentados e de aposentados ativos segundo grupos de escolaridade, respectivamente. Note-se, na Tabela 1, que tanto para homens quanto para mulheres registra-se significativa redução na participação de analfabetos entre os aposentados ao passo que começa a se destacar o crescimento da participação dos grupos de maior escolaridade no final do período.

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População Masculina - 40 a 80 anos - Brasil Urbano

78 81 84 87 90 93 96 99

Analfabeto 0,27 0,23 0,27 0,24 0,23 0,23 0,21 0,18

Primário Incompleto 0,30 0,30 0,28 0,27 0,27 0,27 0,25 0,24

Primário Completo 0,34 0,35 0,35 0,36 0,35 0,34 0,35 0,36

Primeiro Grau Completo 0,04 0,06 0,06 0,07 0,08 0,08 0,10 0,11

Segundo Grau Completo 0,05 0,07 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0,10

Total 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

População Feminina - 40 a 80 anos - Brasil Urbano

78 81 84 87 90 93 96 99

Analfabeto 0,49 0,47 0,43 0,40 0,36 0,36 0,32 0,28

Primário Incompleto 0,20 0,21 0,20 0,21 0,22 0,22 0,21 0,21

Primário Completo 0,22 0,24 0,25 0,26 0,27 0,25 0,26 0,26

Primeiro Grau Completo 0,07 0,06 0,08 0,08 0,09 0,09 0,11 0,12

Segundo Grau Completo 0,02 0,02 0,04 0,05 0,07 0,08 0,10 0,12

Total 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Fonte: Pnad/IBGE.

Distribuição dos aposentados segundo grupos de escolaridade

TABELA 1

Da mesma forma, a análise da distribuição dos aposentados ativos por grupos de escolaridade – TAB. 2 - demonstra a redução da participação dos menos escolarizados em contrapartida à elevação da participação dos mais escolarizados, sendo essa variação mais expressiva entre as mulheres.

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População Masculina - 40 a 80 anos - Brasil Urbano

78 81 84 87 90 93 96 99

Analfabeto 0,20 0,20 0,21 0,18 0,19 0,21 0,15 0,12

Primário Incompleto 0,28 0,27 0,25 0,25 0,25 0,24 0,24 0,22

Primário Completo 0,35 0,36 0,36 0,39 0,35 0,33 0,35 0,38

Primeiro Grau Completo 0,08 0,06 0,07 0,09 0,10 0,09 0,12 0,12

Segundo Grau Completo 0,10 0,11 0,11 0,10 0,11 0,13 0,14 0,16

Total 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

População Feminina - 40 a 80 anos - Brasil Urbano

78 81 84 87 90 93 96 99

Analfabeto 0,37 0,33 0,25 0,25 0,21 0,24 0,16 0,14

Primário Incompleto 0,25 0,20 0,21 0,20 0,20 0,20 0,20 0,17

Primário Completo 0,23 0,25 0,32 0,30 0,25 0,26 0,26 0,24

Primeiro Grau Completo 0,08 0,13 0,09 0,14 0,13 0,12 0,14 0,16

Segundo Grau Completo 0,07 0,09 0,13 0,11 0,21 0,18 0,23 0,28

Total 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

Fonte: Pnad/IBGE.

TABELA 2

Distribuição dos aposentados ativos segundo grupos de escolaridade

Aparentemente, no final dos anos noventa mais do que no início dos anos oitenta, a escolaridade parece crescer em importância na explicação da continuidade dos aposentados no mercado de trabalho, haja vista o crescimento na participação dos grupos de maior escolaridade entre os ativos em contrapartida ao decréscimo dos menos escolarizados. No futuro, é esperado que a educação seja ainda mais influente na atividade das pessoas maduras devido ao contínuo e rápido crescimento da escolaridade média dos brasileiros em geral, o que tende a tornar o mercado de trabalho mais competitivo e, assim, a qualificação do trabalhador poderá ser decisiva.

2.3 Taxa de atividade dos aposentados segundo escolaridade

O GRAF.5 e o GRAF. 6 , apresentados a seguir, permitem visualizar as taxas de atividade de aposentados homens e mulheres, respectivamente, total e por grupos de

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escolaridade desde os fins dos anos setenta até o final dos anos noventa. Primeiramente, repare que a taxa de atividade total dos aposentados, que até o início dos anos oitenta mantinha-se praticamente estável, próximo de 23% para os homens e de 7% para as mulheres, aumentou expressivamente entre os anos 1984 e 1987, registrando-se aí uma mudança de patamar nessas taxas. Nesse período, a taxa de atividade masculina passa para 31% e a feminina para 11%. No período seguinte, o crescimento da taxa total masculina perde o ímpeto, ficando estável em 33% até o final da série, enquanto a feminina segue em crescimento contínuo. Note-se ainda que as taxas de atividade são crescentes com o nível de escolaridade e, ao final do período, superiores às do início independentemente do nível de escolaridade e do sexo. Os destaques são para as altas taxas de atividade dos homens com estudo secundário, que mantém crescimento contínuo a partir de 1990, passando a 52% em 1999, e para o significativo crescimento da atividade das aposentadas nessa condição, aproximando-se de 40% no último ano.

Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 5 GRÁFICO 6

Taxa de atividade da Pop. Masc. Aposentada (40 a 80 anos) por Pnad, segundo grupos de

escolaridade 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 78 81 84 87 90 93 96 99 Pnad tx

Analfabeto Primário incomp.

Primário comp. 1º Grau comp.

2º Grau comp. total

Taxa de atividade da Pop. Fem. Aposentada (40 a 80 anos) por Pnad, segundo grupos de

escolaridade 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 78 81 84 87 90 93 96 99 Pnad tx

Analfabeto Primário incomp.

Primário comp. 1º Grau comp.

2º Grau comp. total

A relação positiva entre escolaridade e taxas de atividade dos aposentados permite sugerir que o crescimento da escolaridade da população aposentada seja um dos fatores que propiciou o aumento das taxas de atividade dos aposentados dos anos oitenta para os anos noventa, uma vez constatado o aumento das participações dos mais escolarizados entre os ativos. Acrescente-se a isso, o fato de que as pessoas com maior

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grau de escolaridade tendem a se aposentar mais cedo, o que será demonstrado na próxima seção.

3. A idade Média à aposentadoria

Tendo como base o modelo sintético que estima a idade média ao primeiro casamento (Singulate Mean Age At Marriage - SMAM), proposto por HAJNAL (1953)2, buscou-se adaptar sua metodologia e estimar a idade média à aposentadoria urbana no Brasil para homens e mulheres, separadamente. Evidentemente, a aplicação de tal modelo implica estabelecer certos pressupostos. Assim, ficam pressupostos a ausência de movimentos migratórios rural-urbano, a não seletividade da mortalidade segundo a condição de aposentadoria e que ninguém se aposenta antes de 40 anos de idade e que até os 80 anos todos que tinham que se aposentar já o fizeram3. Foram utilizados dados da população total e da população não aposentada por sexo em grupos trienais de idade entre 40 e 81 anos das Pnads de 1978 a 1999.

3.1 Metodologia

1) Cálculo da proporção de não aposentados por grupo etário trienal - P(i); 2) Cálculo do número de anos-pessoa vividos no estado não aposentado – RS2:

- RS2 = RS1 +40, sendo RS1: ) * ( 13 1 ) ( 1 =

P n RS i ,

sendo n o intervalo etário e 40 a idade limite inferior da aposentadoria.

2 A descrição metodológica do modelo é encontrada no Manual X das Nações Unidas, indicado nas

Referências Bibliográficas deste trabalho.

3 Constata-se que entre os homens o percentual de aposentados aos quarenta anos de idade é muito

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3) Estimação da proporção dos se aposentam (RM),com base na proporção dos que permanecem não aposentados após os 79 anos (RN).

2 ) (U(13) U(14)

RN = + ,

onde é a proporção dos não aposentados no grupo etário 76-78 e U é a proporção correspondente no grupo 79-81.

) 13 (

U (14)

Assim tem-se a proporção dos que permanecem não aposentados após os 79 anos e podemos obter por diferença a proporção dos que se aposentaram- RM:

RN

RM = 1−

4) Cálculo do número de anos-pessoa vivido pela proporção dos não aposentados -RS3. Desde que RN corresponde à proporção dos que não se aposentam, até a idade 79, o total de tempo gasto no estado de não aposentado por essa proporção será;

RN

RS3 =79*

5) O cálculo da IMA é obtido como da seguinte forma:

RM RS RS

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3.2 Resultados e comentários

O GRAF.7 apresenta os resultados para o cálculo da Idade Média à

aposentadoria (IMA) urbana masculina e feminina no período de 1978 a 1999, sendo os espaços em branco nas curvas correspondentes aos anos em que não houve a pesquisa (PNAD). Mesmo tendo-se em mente que os resultados obtidos tendem a ser superestimados por efeito metodológico, estes são tidos como satisfatórios quando analisados na sua tendência temporal. Tanto a IMA masculina quanto a feminina são mais baixas no final do período.

Observe que a IMA masculina é decrescente desde os anos setenta até o ano de 1985 e, no intervalo seguinte, apresenta leve aumento. Uma possível explicação para essa reversão momentânea de tendência seria a expectativa presente naquela época quanto à concessão de novos benefícios previdenciários previstos na Nova Constituição, que teve seus trabalhos iniciados em 1986 e sua promulgação em 1988. Naquele período muitos trabalhadores optaram por adiar a aposentadoria numa busca de contraírem maiores benefícios com as novas regras previdenciárias. Note-se que a partir daí a IMA masculina é crescente, tendo um pico no ano de 1992, após a entrada de vigência das novas regras pós-constituição.

Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 7

Idade média à aposentadoria urbana por sexo

57 58 59 60 61 62 63 64 65 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 Pnads idade

(13)

Entre as mulheres a curva apresenta-se bastante instável. Acredita-se que isso seja um resultado conjunto do efeito metodológico, que atua superestimando a IMA feminina mais que a masculina devido à grande proporção de mulheres que foram inativas por toda a vida, sobretudo no início da série, e do expressivo crescimento da atividade feminina que ocorre durante o período de forma que, ao final da série, muitas delas já alcançassem a elegibilidade para a aposentadoria. Mesmo com este parêntesis, a forte tendência de queda verificada na IMA feminina parece condizer com a realidade brasileira, uma vez que as jovens entrantes no mercado de trabalho na década de sessenta e setenta estariam completando por volta de 25/30 anos de serviço nos anos noventa e estas mulheres seriam as responsáveis pelo expressivo rejuvenescimento da IMA feminina.

Em vista da grande diversidade verificada nos atributos entre os trabalhadores brasileiros, especialmente entre os que hoje constituem a parcela idosa, foram feitos os cálculos da IMA por grau de escolaridade. Os resultados obtidos são apresentados nos GRAF. 8 e 9a seguir.

Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 8 GRÁFICO 9

Idade média masculina à aposentadoria por Pnad segundo grupos de

escolaridade 51 53 55 57 59 61 63 81 84 87 90 93 96 99 idade

Primário incomp. Primário comp. 1º Grau comp. 2º Grau comp. total

Idade média feminina à aposentadoria por Pnad segundo grupos de

escolaridade 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 81 84 87 90 93 96 99 idade

Primário incomp. Primário comp. 1º Grau comp. 2º Grau comp. total

Pode-se constatar que, de um modo geral, quanto maior o grau de escolaridade, menor a IMA. Observe que a IMA total, tanto masculina quanto a feminina, é muito

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próxima à IMA do grupo de menor escolaridade, em conseqüência a grande participação deste grupo no total de aposentados: a segunda maior parcela dos aposentados homens e a maior parcela entre elas (Tabela 1). Atente-se para o fato de que apenas o grupo com segundo grau completo apresentou queda significativa na IMA masculina dos anos oitenta para os noventa, ao passo que entre as mulheres esse movimento foi geral, com o mais forte decremento entre as mais estudadas.

Observe ainda que a IMA no grupo de maior escolaridade, independentemente do sexo, é crescente no período de 1984 a 1987. Essa constatação corrobora com a hipótese de que a expectativa pela concessão de novos benefícios previdenciários com a Constituição de 1988 tenha levado ao adiamento da aposentadoria dos brasileiros, uma vez que o contingente mais escolarizado tem maior acesso à informação.

Por outro lado, a tendência da IMA no grupo de maior escolaridade demonstrada pelas últimas três Pnads examinadas é bem distinta entre os sexos. Enquanto a média masculina estabiliza-se em torno dos 56 anos, a feminina sofre uma queda abrupta, passando de 53 para a 49 anos em 1999.

Analisando-se conjuntamente os dados apresentados nessa seção com os da seção anterior é possível se fazer uma associação entre o crescimento no nível de escolaridade da população aposentada e a redução da idade média à aposentadoria, sobretudo entre os mais escolarizados, como um fator atuante no crescimento da atividade econômica dos aposentados brasileiros.

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4. Rendimentos

4.1 Rendimento Individual

Nesta parte serão analisados os rendimentos individuais totais dos aposentados e o rendimento de aposentadoria, em separado, na tentativa de averiguar se os aposentados estariam ofertando trabalho como forma de defender a renda.

Dentro do rendimento individual, aqui apresentado, podem constar rendimentos de aposentadoria pública, do trabalho (quando ocupado) e de aluguéis, entre outros. Assim, os GRAF. 10 e 11 , a seguir, traçam o diferencial do rendimento individual dos aposentados por condição de atividade controlando-se por escolaridade, de homens e mulheres, respectivamente. Fica claro que, independentemente do sexo e do nível de escolaridade, os aposentados na ativa têm rendimentos totais superiores aos aposentados inativos e que, como esperado, a atividade econômica evidencia muito mais o diferencial entre os menos escolarizados. Isso porque os aposentados de mais baixa escolaridade têm menos chances de contar com outros rendimentos tal como aluguéis, rendimentos de poupança, aposentadoria privada e outros, e dessa forma, o rendimento do trabalho dos ativos faz a diferença.

Já no outro extremo, entre os mais escolarizados, a influência do rendimento de trabalho sobre o diferencial é menos clara. Se por um lado é esperado que o rendimento do trabalho dos aposentados com maior grau de escolaridade faça mais diferença do que para os com menos anos de estudo em termos numéricos, uma vez que os salários tendem a crescer com o nível de escolaridade; por outro lado, os aposentados com mais anos de estudo têm mais chances de contar com outros tipos de rendimentos, como por exemplo aluguéis e aposentadoria privada, e isso atuaria reduzindo o diferencial nesse grupo a favor dos inativos.

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Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 10

Diferencial no rendimento de individual do aposentado segundo condição de atividade por grupos de escolaridade -

Pop. Masculina 1,0 1,4 1,8 2,2 2,6 1978 1981 1984 1987 1993 1996 1999 ativo / inativo

primário incomp. 1º grau incomp. 2º grau incomp. 2º grau completo

Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 11

Diferencial no rendimento de individual do aposentado segundo condição de atividade por grupos de escolaridade -

Pop. Feminina 1,0 1,4 1,8 2,2 2,6 3,0 3,4 3,8 4,2 1978 1981 1984 1987 1993 1996 1999 ativa / inativa

primário incomp. 1º grau incomp. 2º grau incomp. 2º grau completo

De todo modo, constata-se que em média os aposentados ativos têm rendimentos individuais superiores aos inativos e, ao final do período, os diferenciais de rendimento individual entre eles apresenta-se em um patamar mais baixo do que no início em todos os níveis de escolaridade e ambos sexos.

(17)

Na próxima subseção, onde serão mostrados os rendimentos puros de aposentadoria, serão discutidas as possíveis causas da redução nesse diferencial e, sobretudo, o forte crescimento no diferencial masculino dos homens com segundo grau dos anos oitenta para os anos noventa.

4.2 Rendimento de aposentadoria

Os rendimentos individuais totais dos aposentados ativos comparados aos dos inativos podem estar se modificando devido à variações nos rendimentos de aposentadoria, variações no rendimento do trabalho, ou nos dois simultaneamente. Buscando-se melhor compreender o que estaria causando a aproximação entre os rendimentos individuais de aposentados ativos e inativos, esta subseção mostra os diferenciais nos rendimentos de aposentadoria ao longo do tempo.

O GRAF. 12, que compara rendimentos médios de aposentadoria de homens ativos e inativos por grupos de escolaridade, demonstra que, em média, o diferencial à favor dos inativos tende a ser crescente com a escolaridade - com exceção do ano de 1978, quando apenas os aposentados ativos com segundo grau completo percebiam rendimento superior ao dos inativos e do ano de 1993. Na comparação temporal, não há uma tendência clara e contínua dentro dos diversos grupos de escolaridade, mas chama a atenção a forte redução no diferencial masculino entre os anos de 1987 e 1993 nos dois grupos de maior escolaridade. Observe que, mesmo com essa diminuição no diferencial masculino entre os mais escolarizados, a desigualdade dentro desses grupos voltam a ser as maiores ao final dos anos noventa. Em parágrafos seguintes essa questão será discutida com maiores detalhes.

(18)

Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 12

Diferencial no rendimento de aposentadoria segundo condição de atividade por grupos de escolaridade - Pop.

Masculina 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 ativo / inativo

primário incomp. 1º grau incomp. 2º grau incomp. 2º grau completo

Diferentemente do que acontece com os homens, para as mulheres - GRAF.13, que segue - o rendimento de aposentadoria das inativas só é constantemente superior ao das ativas nos dois grupos de maior escolaridade, primeiro e segundo grau completo, excetuando-se ao ano de 1978 e 1990. Nos dois grupos com menor escolaridade, os valores das aposentadorias de ativos e inativos estão bem próximos.

Fonte: Pnad/IBGE.

GRÁFICO 13

Diferencial no rendimento de aposentadoria segundo condição de atividade por grupos de escolaridade - Pop.

Feminina 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 ativa / inativa

primário incomp. 1º grau incomp. 2º grau incomp. 2º grau completo

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Retomando-se a questão levantada na subseção anterior, que diz respeito à forte redução no diferencial masculino entre os rendimentos individuais de ativos e inativos no grupo de maior escolaridade no período 1987-93, também aqui, o diferencial nas aposentadorias entre esses mesmos atores reduz-se radicalmente. Sugere-se que este fato tenha relação com a significativa queda no valor do teto previdenciário em salários mínimos ocorrido no período, como pode ser verificado no GRAF. 14, a seguir. Repare que, a partir de 1984, inicia-se uma queda no valor do teto em salários mínimos, com grande expressão no período 87-90, e que este só alcança uma certa estabilidade a partir de 1994.

Fonte: Ministério da Previdência e Assistência Social, Coordenação de Estatística - www.mpas.gov.br

GRÁFICO 14

Valor do teto previdenciário em salários mínimos por ano

6 8 10 12 14 16 18 20 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 Ano SM

Poder-se-ia especular que o achatamento do valor teto do benefício pago pela previdência pública seria fator atuante no aumento da oferta de trabalho dos aposentados como forma de compensar a perda do poder de compra da aposentadoria porque, como já constatado anteriormente, justamente a partir de 1984 se torna expressivo o crescimento da atividade econômica dos aposentados. Por outro lado, não só entre os mais escolarizados - os mais propensos a sentirem os efeitos do achatamento do teto previdenciário - se dá o aumento nas taxas de atividade a partir daquele ano, mas também nos demais grupos de escolaridade, como pôde ser visualizado nos GRAF. 5 e 6, apresentados na segunda seção. Certamente, a afirmação de influência ou não da redução do valor do teto previdenciário sobre a oferta de trabalho dos aposentados

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requer estudos mais aprofundados. Um dos objetivos deste trabalho é ressaltar a necessidade de trabalhos nesse sentido para que sirvam de insumo para prognósticos mais sólidos a cerca da participação da atividade econômica de aposentados.

5. Considerações Finais

A revelação do crescimento das taxas de atividade dos idosos aposentados em oposição à redução da atividade econômica dos idosos não aposentados no setor urbano do país motivou este trabalho. O objetivo foi especular os principais fatores envolvidos no crescimento das taxas de atividade dos aposentados. Para tanto, foram analisados dados sobre escolaridade média e a idade média à aposentadoria e contrastados os rendimentos de aposentados ativos e inativos.

O estudo demonstrou que os aposentados ativos são em média mais escolarizados que os inativos e têm rendimentos de aposentadoria inferiores aos inativos. A análise temporal dos dados permite presumir que a associação entre o crescimento da escolaridade e a redução da idade média à aposentadoria tenha exercido influência no crescimento das taxas de atividade desse segmento. De outro lado, sugere-se que a redução do valor do teto previdenciário nos anos noventa tenha contribuído para a elevação da oferta de trabalho dos aposentados mais escolarizados e, de modo especial da feminina.

Os pontos levantados nesse estudo tornam mais clara a necessidade de estudos intensos sobre as causas da permanência de aposentados no mercado de trabalho brasileiro já que é esperado o crescimento continuado da participação de aposentados na população brasileira como conseqüência do processo de envelhecimento populacional. Trabalhos nessa direção serão essenciais para previsão e avaliação dos impactos das mudanças ocorridas na legislação da previdência social sobre a oferta de trabalho e desigualdade de rendimentos da população madura. Lembre-se que, conforme foi apurado neste trabalho, os menos escolarizados são os que se aposentam mais tardiamente. Com isso, é possível supor que a implantação do fator previdenciário no cômputo do benefício em 1999, que induz ao adiamento da idade de aposentadoria, penalize muito mais os menos escolarizados porque estes são os mais propensos a

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dependência de força física para o exercício de suas atividades. Ademais, a protelação da aposentadoria e/ou o aumento da atividade dos aposentados pode trazer importantes implicações para o mercado de trabalho geral à medida em que a permanência destes no mercado atue pressionando a concorrência por postos de trabalho.

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Referências

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