• Nenhum resultado encontrado

Anais do! V Seminário Nacional Sociologia & Política!

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Anais do! V Seminário Nacional Sociologia & Política!"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

Anais do !

V Seminário Nacional Sociologia & Política

!

14, 15 e 16 de maio de 2014, Curitiba - PR!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

!

ISSN: 2175-6880

(2)

O DISCURSO DEMOCRÁTICO E A OPOSIÇÃO OCIDENTE/ORIENTE: UMA LEITURA PÓS-COLONIAL SOBRE A COREIA DO NORTE E O IRAQUE.

Trabalho apresentado ao V Seminário de Sociologia & Política da UFPR.

AUTORAS: Tamires Maria Alves;

Nemayda dos Santos Furtado Maia; Monise Raquel da Silva Valente.

(3)

RESUMO

Como grande parte do arcabouço teórico é comumente produzido nos grandes centros de poder, também seus valores acabam sendo engendrados nos demais países. O “orientalismo” é uma expressão utilizada para demonstrar o logocentrismo existente nessa dicotomia entre os valores não-ocidentais e não-ocidentais. Dessa forma, a democracia, por exemplo, é difundida pelos países ocidentais, como um valor universal, que deve ser aplicado nos demais países do sistema internacional. Teorias alternativas, como o pós-colonialismo, vêem a democracia como uma das formas possíveis de governo, todavia não como o único arranjo de governo plausível no mundo contemporâneo.

A proposta desse trabalho é questionar a ideia da universalização da democracia, e demonstrar que talvez a expansão desse modelo não esteja necessariamente ligada, como muitas vezes é propagado pelas potências mundiais, ao bem estar da comunidade internacional e do país em questão. Esse argumento será baseado em dois exemplos diferentes: o caso do Iraque e da Coréia do Norte. O primeiro foi invadido de forma violenta sob o pretexto da expansão da democracia. No segundo caso, apesar de viver sob um sistema ditatorial ferrenho, a Coréia do Norte não gerou a comoção dos países democráticos para expandirem os valores liberais para além de suas fronteiras. Nos dois casos temos países marginalizados pelo sistema internacional, e com uma grande desigualdade social no campo doméstico. A questão da desigualdade, portanto, será trabalhada nos dois âmbitos: no doméstico e no internacional.

(4)

INTRODUÇÃO

Nesse trabalho observaremos, como foram posicionados, numa relação logocêntrica, os atores no sistema internacional nos dois casos analisados. Os Estados que não adotaram sistemas democráticos passaram a ser vistos como objetos vis-à-vis os Estados Unidos e a comunidade internacional, que, por sua vez, foram construídos como sujeitos e percebidos como “superiores” aos olhos desta mesma comunidade. Essa distinção hierárquica desigual que existe entre Estados Unidos e países que não adotaram a democracia como forma de governo vigente também possibilitou que uma das narrativas fosse silenciada, enquanto a outra fosse propagada.

A partir das premissas pós-coloniais, consideramos que a caracterização de um país como um todo, ou seja, de sua política, religião, seus programas de desenvolvimento, entre outros aspectos, como “ameaçadores”, é um processo construtivo de valores. Logo, este trabalho tem também uma justificativa ética, pois tenta desmistificar essa imagem “ameaçadora” que os países que são considerados “antidemocráticos” têm na comunidade internacional, e demonstrar como, a partir desta caracterização, são criadas condições de possibilidade para que intervenções e práticas violentas sejam conduzidas contra esses Estados. Nesse sentido, esse trabalho questiona ainda as diversas implicações desencadeadas por um discurso democrático e representações dos países.

Em suma, esta pesquisa analisa, utilizando-se da teoria pós-colonial, o discurso dominante em torno da democracia articulado pelos chefes de Estado ocidentais e pela mídia internacional na representação do Iraque e da Coreia do Norte enquanto ameaças internacionais, procurando questionar as implicações e consequências destas representações no cenário internacional.

(5)

DEMOCRACIA

Tratar de democracia no contexto internacional implica percebê-la em um contexto amplo de relações de poder e ideologia que influenciam não só a retórica e a atuação dos países, mas também os estudos, teorias e percepções gerais em torno dos quais o tema se estrutura. Como grande parte do arcabouço teórico é comumente produzido nos grandes centros de poder, também seus valores acabam sendo engendrados nos demais países, ou utilizados para determinar um olhar normativo acerca das formas mais apropriadas de orientação da ação política ou governamental. A democracia, neste contexto, é difundida pelos países ocidentais como um valor universal e pouco questionável, que deve ser aplicado, sem distinções, aos demais países do sistema internacional.

A não adoção de modelos democráticos implica em uma condenação quase que imediata de países e seus governantes, afetando sua imagem e representação internacional. É comum ver em noticiários internacionais países que não adotam o sistema democrático como forma de governo vigente sendo representados como “perigosos”, “retrógrados”, “ameaçadores”, “insanos”, entre outros. Observadas estas questões, o presente trabalho argumenta que estes significados (atribuídos à países não democráticos) não representam a realidade destes países, como é comumente propagado pelos meios de comunicação, mas são contingentes, fazendo parte de um processo de caracterização não natural e com grandes implicações, uma vez que justifica determinadas atitudes violentas de outrem diante deste Estado.

Dado isso, a proposta desse trabalho é questionar a ideia da universalização da democracia, e demonstrar que talvez a expansão desse modelo não esteja necessariamente ligada, como muitas vezes é propagado pelas potências mundiais, ao bem estar da comunidade internacional e do país em questão. Buscaremos, na elaboração deste artigo, problematizar essa ideia veiculada nas mídias e comprada por inúmeros espectadores com base em dois casos distintos: o do Iraque e o da Coréia do Norte.

Os países que não se identificam com os valores ocidentais são marginalizados mediante a “comunidade internacional”, onde na maioria das vezes os países ocidentais ditam as regras. A história da globalização trouxe consigo a a crença na legitimidade dos valores ocidentais. Uma vez que estes passaram a ser vistos como “corretos”, os povos que a eles aderiram tornaram-se os “modernos” e “civilizados” e os demais “bárbaros”, “atrasados”, “lascivos”. (Said, 2003:125). E é através da teoria da modernização que vamos perceber que os Estados vistos como “modernos” acreditam que todos os demais países do sistema internacional devem se adequar à lógica da modernidade.

(6)

É justamente para se opor as teorias tradicionais que acreditam que todos os Estados devem procurar estabelecer a “democracia”, o “liberalismo”, entre outros valores ocidentais (e não universais) que este trabalho visou utilizar alguns conceitos da Teoria Pós-Colonial para enriquecer a argumentação.

A diferente repercussão e ação da comunidade internacional perante os casos analisados justifica sua escolha como objetos centrais desta análise. Em meio a polêmicas envolvendo armas de destruição em massa, ligação com a Al Qaeda e, conforme enfatizaremos aqui, a destituição do governo ditatorial de Saddam Hussein, o Iraque foi invadido por forças norte-americanas, em março de 2003, e Hussein condenado à morte e executado em 2006. O caso da coreia do Norte, por sua vez, parece se agravar ainda mais quando se trata de ameaças nucleares e da existência de um governo ditatorial no país. Apesar das ações e ameaças do governante norte-coreano Kim Jong-un e mesmo de seu pai e antecessor, King Jong-il, e de uma postura de guerra e alerta adotada pelos EUA recentemente, não houve invasão ao país e o contexto atual ainda se mostra incerto. Nos dois casos, portanto, temos países marginalizados pelo sistema internacional e alvos de discursos enfáticos no que diz respeito à crítica aos seus moldes de governo, que não seguiriam de acordo com um modelo democrático ocidental pregado internacionalmente e seriam considerados, portanto, como ameaças a comunidade internacional.

Said contribui com as teorias alternativas que enxergam a democracia como uma das formas possíveis de governo, todavia não como o único arranjo de governo plausível no mundo contemporâneo. É de uma destas teorias, a pós-colonial, que lançaremos mão nesta pesquisa, de forma a dar essência e embasamento à nossa argumentação.

ORIENTALISMO

A noção de “orientalismo”, apresentada com destaque na obra de Edward Said, é uma das principais norteadoras da presente proposta. É a visão a partir da qual se apresenta um logocentrismo existente na dicotomia entre os valores não ocidentais e ocidentais, tanto no discurso quanto na ação dos atores. O orientalismo nada mais é do que a visão do ocidente sobre o oriente, uma ótica deturpada que julga ter melhores aparatos para perceber o que existe de “correto” e “incorreto” nos países orientais, visto que se coloca num patamar “neutro” para julgar e implementar as políticas mais adequadas à estes países orientais, que são vistos como “inferiores”. Nas palavra de Said:

(7)

Orientalismo pode ser discutido e analisado como a instituição autorizada a lidar com o Oriente – fazendo e corroborando afirmações a seu respeito, descrevendo-o, ensinando-o, colonizando-o, governando-o: em suma, o Orientalismo como um estilo ocidental para dominar, reestruturar e ter autoridade sobre o Oriente. (Said, 2007: 29).

Said alega ainda que é através do discurso do Orientalismo que o Ocidente ganha poder para analisar, descrever, colonizar o Oriente. Foi através desse discurso que o Ocidente foi capaz de produzir a imagem do Oriente, tanto política quanto econômica, cultural, militar, entre outras. O argumento que Said tenta elucidar é que o Ocidente ganha sua identidade e sua força, a partir da imagem subversiva do “Outro”, justamente por se diferenciar deste “Outro”. Vale ressaltar que até o fim da II Guerra Mundial quem dominava o Oriente e o Orientalismo era a Europa e a partir de então foram os Estados Unidos que passou a ter este papel.

Foucault, quem inspira o trabalho de Said, discorre no seu livro “A arqueologia do saber” (1969), que um discurso é sempre finito, para criá-lo necessariamente se escolhe uma série de acontecimentos e é preciso formulá-los de modo que se tornem uma descrição dos acontecimentos discursivos. Os questionamentos do autor são os mesmos que instigam esta pesquisa, ou seja, por que determinados episódios foram escolhidos em detrimento de outros, e se estes outros tivessem sido os elegidos, quantos discursos distintos poderiam ser realizados? (Foucault, 1986: 30, 31). Portanto, a narrativa etnocêntrica está sendo questionada aqui, uma vez que um dos objetivos deste artigo é problematizar como a narrativa propagada e dominante se constrói em detrimento de outras narrativas silenciadas.

COREIA DO NORTE E IRAQUE

Através dos adjetivos pejorativos atribuídos a estes países, e que os Estados Unidos são capazes de convencer a “comunidade internacional” de que determinadas práticas podem ser implementadas nestes territórios. Uma vez que estes países sejam encarados como ameaçadores. Atrelar nomenclaturas como “rogue states” ou “terrorismo”, “ameaça”, faz com que exista uma urgência sobre a questão, e com isso a mesma passa a ser securitizada e tratada como uma questão prioritária. Segundo Said, atribuir estes significados a estes Estados é uma estratégia que vem sendo perpetuada desde a II Guerra Mundial para que políticas externas americanas sejam tidas como legítimas ao intervirem em territórios de outros países.

(8)

‘Rogue states’ é um termo controverso aplicado por alguns teóricos internacionais para os Estados que eles consideram que “ameaçam” a paz do mundo, incluindo Iraque e Coreia do Norte. Isto significa satisfazer determinados critérios, tais como sendo governados por regimes autoritários que restringem severamente os direitos humanos, são tidos como patrocinadores do terrorismo, e alegam que estes Estados buscam a proliferação de armas de destruição em massa. O termo é usado mais pelos Estados Unidos, embora o Departamento de Estado dos Estados Unidos não use mais oficialmente o termo desde 2000. No entanto, o termo já foi aplicado por outros países.

Referências

Documentos relacionados

Condições de subscrição adicionais: A partir do momento em que a subscrição inicial do capital haja terminado, as subscrições adicionais só podem ter lugar em aumentos de

Candidaturas ao FEG até 31 de dezembro de 2016 (com exclusão das candidaturas retiradas ou recusadas) por Estado- Membro e por tipo

Martinho de Mouros (Mantas, 1984), semelhante a Panóias, temos que pensar que os penedos com incrições votivas teriam estruturas mais ou menos monumen- tais onde se praticaria

f) A informação clara ao consumidor, no ato da compra do produto, da possibilidade de retoma nos termos das alíneas a), d) e e), bem como a manutenção de um

• Para suportes de parede que não estejam em conformidade com as especificações VESA para parafusos padrão, o comprimento dos parafusos pode ser diferente, dependendo

PWM alimentado constantemente ( A corrente que passa pelos R613+R614 não fará mais efeito!! ), essa alimentação ocorre através do diodo D610 e do circuito regulador serie que

(e normais primárias), o ensino da doutrina cristã; o ensino da moral deveria ser feito pelos princípios da educação cívica, pautada pelo sentimento da Pátria, da família,

Por fim, no estado de Sergipe, o município de Nossa Senhora do Socorro destacou-se por ter sete ações coletivas julgadas em segunda instância no Tribunal de Justiça do Sergipe