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Quem Apresenta Melhor Rendimento Escolar,Meninas ou Meninos?

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Academic year: 2021

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Quem Apresenta Melhor Rendimento Escolar,Meninas ou

Meninos?

Lindamir Salete Casagrande

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Marilia Gomes de Carvalho

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Resumo

Este estudo faz parte de uma pesquisa maior que visa analisar as relações de gênero na

sala de aula de Matemática. O objetivo deste artigo é analisar o rendimento escolar de

meninas e meninos nas disciplinas de Matemática, Língua Portuguesa, Ciências,

Geografia, História e Inglês de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental brasileiro. Com

base na metodologia quantitativa, analisou-se as médias finais de 13 turmas de 5ª a 8ª

série de um colégio Estadual localizado no centro de Curitiba, capital do Paraná, no ano

de 2008 sob a perspectiva de gênero. Observou-se que as meninas foram a maioria dos

estudantes que obtiveram médias finais superiores a 8,0 em quase todas as matérias e

séries. As exceções foram Geografia e Inglês da 6ª série onde o número de meninos foi

maior do que o de meninas. Quando lançamos o olhar para as médias gerais pode-se

observar que nas seis disciplinas analisadas as médias femininas são superiores às

masculinas. Elas também constituem a maioria dos estudantes que tiraram notas acima

de 8,0 em todas as disciplinas analisadas e a maioria dos que obtiveram médias acima

de 8,0 em Matemática e em Língua Portuguesa simultaneamente. O número de alunas

aprovadas também superou o de meninos em todas as séries. Com base nestes dados

pode-se concluir que as meninas têm rendimento escolar melhor do que os meninos

nesta etapa do ensino fundamental.

Palavras-chave: Rendimento Escolar; Ensino Fundamental; Relações de Gênero.

1

Doutoranda em Tecnologia pelo Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relações de Gênero e Tecnologia – GeTec. E-mail: lindasc@utfpr.edu.br.

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Doutora em Antropologia Social. Professora do PPGTE/UTFPR e coordenadora e pesquisadora do GeTec. E-mail: mariliagdecarvalho@gmail.com.

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Introdução

A participação das mulheres no meio científico e tecnológico tem aumentado nos últimos anos, porém este aumento vem ocorrendo de forma lenta. Muitos fatores podem contribuir para que elas não se interessem por estas carreiras. Estudos apontam que dentre estes fatores podemos encontrar o pouco estímulo familiar (TABAK, 2002; VELHO e LEON, 1998; FARIAS, 2005; SOBREIRA, 2005; SANTOS, 2009 dentre outros), o tratamento diferenciado dado por professores que incentivam mais os meninos do que as meninas a se interessarem pela Matemática (WALKERDINE, 1995: AUAD, 2006; CARVALHO, 2001, dentre outros), a socialização diferenciada de meninos e meninas, os interesses pessoais, dentre outros. Estes fatores, isoladamente ou agrupados podem influenciar no rendimento escolar dos estudantes.

Muito se fala sobre a capacidade intelectual das mulheres. Existe um argumento corrente no senso comum de que as mulheres têm menos capacidade para os estudos matemáticos. Pesquisadores de diversas partes do mundo desenvolvem seus estudos com o intuito de desconstruir esta suposta verdade. Outros buscam na biologia, na genética, na cultura razões que justifiquem este argumento. Toda vez que os resultados de pesquisadores renomados são divulgados tornam-se notícia na mídia e reavivam este debate. No início do ano 2010 foi veiculado em diversos sites (MUNDO ESTRANHO, dentre outros) os resultados de um estudo realizado nos Estados Unidos da América que aponta que as mulheres podem ter o mesmo desempenho em Matemática do que os meninos se a elas forem ofertados estímulos adequados. Segundo o site, este mesmo estudo indica que elas ainda têm menos confiança em si mesma. Em países que se verifica menor desigualdade de gênero o desempenho feminino melhora.

No Brasil, pesquisas (CARVALHO, 2001, AUAD, 2006, dentre outras) têm sido feitas para compreender as relações de gênero na sala de aula e no interior das escolas de modo geral nas quais é possível perceber que as estudantes brasileiras não são menos capazes do que os meninos na aprendizagem de Matemática.

Um estudo realizado por nós versou sobre a participação das mulheres no quadro docente do Paraná na disciplina de Matemática, analisou-se os resultados do concurso público para professor de Matemática ocorrido em 2007 em 32 núcleos de educação. Elas foram a maioria dentre os aprovados em todos os núcleos, chegando a se aproximar de 85% em alguns deles (CASAGRANDE; CARVALHO, 2008). Em outro estudo pesquisamos a participação das mulheres nos dois cursos de Licenciatura em Matemática ofertados por Universidades Federais no Estado do Paraná, um na capital e outro no interior. Em ambos, as mulheres são a maioria das concluintes (CASAGRANDE; CARVALHO, 2007). Talvez este resultado justifique o maior número de aprovadas no concurso. Para participar dele era necessária a graduação em Matemática. Este estudo foi baseado no método

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quantitativo não permitindo a identificação de possíveis causas para a predominância das mulheres nestes cursos.

Em outro estudo, analisamos as informações coletadas junto a estudantes de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental sobre como eles se relacionavam com a Matemática. Para este estudo aplicou-se um questionário com dez perguntas, seis de múltipla escolha e quatro abertas buscando compreender um pouco mais sobre os estudantes que observávamos para a pesquisa de nossa tese de doutorado. Este estudo mostrou que não há diferença muito significativa na forma como os meninos e as meninas percebem sua relação com a Matemática. Mostrou também que mais meninas do que meninos dizem gostar de Matemática bem como afirmam serem bem sucedidas nas avaliações de Matemática (CASAGRANDE; CARVALHO, 2009).

Com o intuito de contribuir para a discussão sobre as relações de gênero na educação e a participação feminina nas carreiras científicas e tecnológicas, iniciamos no ano de 2008 o projeto de pesquisa para uma tese de doutorado a ser defendida no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia - PPGTE da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR. O objetivo desta tese é interpretar se as relações de gênero no interior da sala de aula de Matemática influenciam nas expectativas profissionais de meninos e meninas, direcionando os primeiros para as carreiras científicas e tecnológicas3 e as segundas para a área das ciências humanas e do cuidado.

Para melhor fundamentar a tese, realizamos o estudo cujos dados serão apresentados neste artigo, por considerar importante saber como é o rendimento dos alunos e alunas nas mais variadas disciplinas e de modo especial em Matemática. Este conhecimento pode contribuir para a compreensão de como é o relacionamento dos estudantes com a Matemática e auxiliar a teorização sobre o tema. Desta forma, os dados relativos ao rendimento escolar no ano de 2008 no Colégio Centenário4 serão apresentados e analisados neste artigo à luz da teoria de gênero. Sendo assim, serão analisadas as informações referentes ao rendimento escolar de meninos e meninas de treze turmas sendo três da 5ª série, quatro da 6ª série, três da 7ª série e três da 8ª série do ensino fundamental do Colégio Centenário que pertence à rede Estadual de ensino e localiza-se no bairro Rebouças na Região central de Curitiba, capital do Paraná5. Os estudantes abrangidos por esta pesquisa pertencem à faixa etária entre 11 e 14 anos com exceção dos alunos que, por repetirem algumas séries, encontram-se atrasados em seus estudos e por isso, fora desta faixa etária.

O Colégio pesquisado foi fundado há mais de 100 (cem) anos e oferece Ensino Fundamental, Médio e Educação de Jovens e Adultos – EJA, além de cursos de idiomas (Francês e Espanhol). Pelo fato de estar localizado na área central da cidade, com várias possibilidades de acesso por transporte coletivo, em uma região predominantemente comercial, a maioria dos alunos deste colégio vem de

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Neste artigo, quando se fala em carreiras científicas e tecnológicas, estamos nos referindo às carreiras vinculadas as ciências tradicionais, bem como as carreiras que envolvem o uso e desenvolvimento de artefatos tecnológicos avançados. Estão excluídas destas as ciências humanas e as ciências sociais. Isso não significa que não as consideramos como Ciências.

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bairros distantes, da periferia da cidade de Curitiba ou mesmo de Municípios da Região Metropolitana de Curitiba. Segundo a diretora do Colégio, os alunos do Ensino Médio, em sua maioria trabalham no centro de Curitiba e procuram este Colégio porque a sua localização permite que eles conciliem o trabalho e o estudo. Esta é a realidade de muitos jovens brasileiros. Por este motivo, muitos deles, ao mudarem de trabalho, mudam também de escola. Segundo a diretora Ana Clara, isso dificulta que eles estabeleçam uma relação duradoura e coesa com a escola, uma vez que esta se torna provisória. Segundo a mesma diretora, os estudantes do Ensino Fundamental procuram este Colégio devido a qualidade do ensino ofertado.

Os dados foram coletados com base no Edital de Resultado Final do ano de 2008, no qual encontramos as médias finais dos alunos. Foram analisados os Editais de todas as turmas do ensino fundamental. Foi um trabalho manual, pois nestes relatórios não há a desagregação por gênero. Como só tive acesso à versão impressa destes relatórios, foi necessário fazer a separação dos alunos com base nos nomes e de forma manual. Alguns nomes não permitiam que fosse definido o gênero dos alunos, porém como foram poucos os casos, isso não interferiu no resultado final da pesquisa. Os dados foram organizados em quadros que serão apresentados no decorrer deste estudo.

Análise dos dados

Para esta pesquisa analisou-se o Edital de Resultado Final de todas as turmas do ensino fundamental de 5ª a 8ª séries do Colégio Centenário. Neste Edital constavam os nomes dos alunos, as séries, as médias em cada disciplina e o resultado. O resultado poderia ser aprovado, aprovado pelo conselho de classe6 ou reprovado. Foram analisadas as notas de 415 alunos, sendo 208 meninos, 207 meninas. Observando o Quadro 1 pode-se perceber que elas estão concentradas nas séries finais e eles nas séries iniciais.

Inicialmente analisou-se o número de alunos e alunas que obtiveram médias finais iguais ou superiores a 8,0. Considerou-se que estas seriam notas excelentes e que desta análise estariam excluídas a notas dos alunos e alunas que passaram por conselho de classe, ou seja, tiveram suas médias aumentadas pelos professores. Por esta análise pode-se saber qual dos gêneros obteve o maior número de estudantes que se destacaram por conseguirem médias consideradas por nós como excelentes.

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Será neste colégio que faremos toda a pesquisa para a tese. Os Colégios Estaduais e as Escolas Municipais oferecem ensino gratuito a todos os alunos. São instituições mantidas pelos governos Estaduais e Municipais a partir dos impostos pagos pela população.

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Nas escolas paranaenses são realizadas reuniões bimestrais com os professores de todas as disciplinas de cada

turma para avaliação do rendimento dos estudantes. Essas reuniões são denominadas de conselhos de classe. Este conselho tem a autonomia de aprovar alunos que não tenham obtido a nota mínima para ser aprovado que é 6,0 em uma ou mais disciplinas. Isso ocorre na última reunião do ano do conselho de classe.

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Série Gênero M F 5ª 50 42 6ª 69 56 7ª 50 52 8ª 39 57 Total 208 207

Quadro 1: Total de alunos por série e gênero Legenda: M – Masculino; F - Feminino

Fonte: Edital de Resultado Final do Colégio Centenário

Os números relativos a esta análise estão sintetizados no Quadro 2. Nele podemos perceber que a porcentagem de meninas com notas iguais ou superiores a 8,0 supera a de meninos em quase todas as disciplinas e séries. As exceções são Geografia e Inglês na 6ª série e Geografia na 7ª série. Em Matemática a porcentagem de meninas foi superior à de meninos em todas as séries sendo que na 7ª e 8ª a porcentagem de meninas foi superior ao dobro da porcentagem de meninos. A 6ª série foi a que apresentou maior equilíbrio entre os números relativos às meninos e aos meninos. Estes dados contradizem o argumento de Velho e Leon (1998) de que seria por volta da 7ª série que as meninas começam a ter problemas com Matemática e a perderem o interesse por esta disciplina. O menor rendimento ocorre um ano antes, na 6ª série, porém não se pode afirmar que elas perdem o interesse pela Matemática a partir desta série, pois o rendimento volta a melhorar nas séries seguintes. Temos ainda que considerar que se passou uma década entre a realização dos dois estudos. Como a maturidade dos estudantes vem mudando nos últimos anos, isso pode justificar o fato de que esta suposta perda de afinidade, que poderia se refletir na baixa das notas, não esteja mais ocorrendo.

Disciplina 5ª série 6ª série 7ª série 8ª série

M F M F M F M F n % n % n % n % n % n % n % n % Matemática 7 14 10 23,8 8 11,6 8 14,3 4 8 10 19.2 3 7,7 10 17,5 Língua 8 16 12 28,6 7 10,1 10 17,9 3 6 6 11,5 2 5,1 5 8,8 Portuguesa Ciências 15 30 23 54,8 2 2,9 4 7,14 12 24 14 26,9 1 2,6 3 5,3 História 7 14 14 33,3 8 11,6 8 14,3 2 4 8 15,4 2 5,1 7 12,3 Geografia 13 26 16 38,1 10 14,5 7 12,5 7 14 7 13,5 1 2,6 2 3,5 Inglês 8 16 13 31 9 13 7 12,5 5 10 12 23,1 4 10 11 19,3

Quadro 2- Número de alunos com médias finais superiores a 8,0 por série, por disciplina e por gênero Legenda: M – Masculino; F – Feminino; n – número absoluto; % sobre o total de estudantes do gênero em cada série.

Fonte: Edital de Resultado Final do Colégio Centenário

Como as meninas superaram os meninos em quase todas as disciplinas, pode-se concluir que elas se destacam no que se refere a notas excelentes. Na disciplina de Ciências as meninas também se sobressaem. Algo que nos chama a atenção é o baixo número de estudantes, de ambos

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os gêneros, com notas acima de 8,0 em ciências na 8ª série. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de que neste ano a disciplina se divide em Física e Química, assuntos com os quais eles não estão familiarizados. Porém, mesmo nesta série a porcentagem de meninas que atendem este requisito é o dobro da porcentagem de meninos o que pode indicar que elas estão se adaptando melhor a este novo conteúdo. Porém como o número absoluto é muito baixo, não se pode fazer nenhuma afirmação definitiva.

Física e Química fazem parte das disciplinas básicas para as carreiras científicas e tecnológicas e os estudantes, meninos e meninas, apresentam menor rendimento do que nas demais séries cujos conteúdos são mais voltados para a área da Biologia. Este pode ser um indício de que os jovens têm dificuldade em compreender conteúdos voltados para a área científica tradicional, entretanto cabe ressaltar que isso ocorre com todos os estudantes e não somente com as meninas.

Disciplina 5ª série 6ª série 7ª série 8ª série

M F M F M F M F Matemática 8,57 8,77 9,08 8,8 8,35 8,77 8,2 8,44 Língua Portuguesa 8,61 8,92 8,61 9,04 8,4 8,66 8,6 8,46 Ciências 9,16 9,04 9,3 8,37 9,01 9,07 9,2 8,96 História 8,98 9,2 9,02 9,06 8,0 8,7 8,35 8,34 Geografia 8,77 8,98 8,62 8,93 8,49 8,9 8,0 8,5 Inglês 8,81 9 9,1 9,2 8,42 8,72 8,4 8,31

Quadro 3- Média dos alunos com médias finais superiores a 8,0 por série, por disciplina e por gênero Legenda: M – Masculino; F - Feminino

Fonte: Edital de Resultado Final do Colégio Centenário

O Quadro 3 apresenta a média dos alunos com notas iguais ou superiores a 8,0. Nele pode-se perceber que as médias femininas são superiores na maioria das disciplinas e séries. Em Matemática as médias das meninas superam as dos meninos em três das quatro séries. A média deles nesta disciplina só é superior na 6ª série. Em ciências acontece o contrário. As médias deles são superiores na 5ª, 6ª e 8ª séries e as delas na 7ª série. Convém salientar que mesmo que a diferença não seja muito grande, ela existe em favor das meninas. Com base nestes dados pode-se concluir que elas são mais numerosas dentre os estudantes que se destacam por obterem médias finais iguais ou superiores a 8,0 e suas médias também são mais elevadas. Se considerássemos apenas as notas para classificar os estudantes como brilhantes, as meninas seriam a maioria.

Analisado os estudantes que obtiveram média anual igual ou superior a 8,0 em Língua Portuguesa e em Matemática simultaneamente (Quadro 4), a porcentagem de meninas supera a de meninos significativamente. Considerando os números absolutos, encontramos 10 meninos e 24 meninas, ou seja, o número de meninas é maior do que o dobro do número de meninos. Estes dados contradizem a crença popular de que

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os meninos são bons em matemática enquanto as meninas são hábeis verbalmente e, mais grave ainda, que estas habilidades são diferenças sexuais inatas refletindo uma organização cerebral específica dos sexos e,

portanto, imutáveis, pré-determinadas biológica e geneticamente. (SILVA, s/d) A mesma autora argumenta que “uma avaliação das notas escolares mensurando conhecimentos e aptidões matemáticas, favorecem as meninas” (SILVA, s/d), argumento este comprovado nesta pesquisa. Série Gênero M F n % n % 5ª 2 4 8 19 6ª 5 7,2 7 12,5 7ª 2 4 6 11,5 8ª 1 2,6 3 5,3 Total 10 4,8 24 11,6

Quadro 4- Notas iguais ou superiores a 8,0 em Matemática e em Língua Portuguesa

Legenda: M – Masculino; F - Feminino; n – número absoluto; % sobre o total de estudantes do gênero em cada série.

Fonte: Edital de Resultado Final do Colégio Centenário

Quando se observa o rendimento dos estudantes nas seis disciplinas analisadas nesta pesquisa, o número de estudantes que obtiveram médias iguais ou superiores a 8,0 em todas estas disciplinas é reduzido, porém há uma predominância das meninas em três das quatro séries. A maior diferença encontra-se na 5ª série que concentra ainda o maior número de estudantes que se enquadram neste quesito de análise (Quadro 5). Considerando os números absolutos, são cinco meninos e dezessete meninas que obtiveram notas excelentes em todas as disciplinas analisadas, ou seja, a quantidade de meninas é mais do que o triplo da quantidade de meninos.

Série Gênero M F n % n % 5ª 2 4 8 19 6ª 2 2,9 3 5,4 7ª 0 0 5 9,6 8ª 1 2,6 1 1,7 Total 5 2,4 17 8,2

Quadro 5- Todas as médias iguais ou superiores a 8,0

Legenda: M – Masculino; F – Feminino; n – número absoluto; % sobre o total de estudantes do gênero em cada série.

Fonte: Edital de Resultado Final do Colégio Centenário

Analisando as médias finais de todos os estudantes que concluíram o ano letivo (Quadro 6) pode-se observar que as notas das meninas também são mais elevadas do que a dos meninos em todas as disciplinas e séries. A diferença em muitos casos não é muito significativa, porém favorece as meninas. Em algumas disciplinas como Língua Portuguesa e Inglês nas 5ª e 6ª séries, História e

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Geografia na 5ª a diferença entre a média deles e delas ultrapassa 1,0 ponto em favor das meninas. Se considerarmos que a escala de avaliação é de 0 a 10, esta diferença é significativa.

Matemática é a disciplina onde as médias masculinas e femininas estão mais próximas. A diferença entre as médias diminui quando a idade dos estudantes aumenta. Na 7ª e 8ª séries, em todas as disciplinas analisadas a diferença foi menor do que nas 5ª e 6ª série. Silva (s/d) argumenta que “meninos e meninas mais novos apresentam poucas diferenças de gênero em matemática. As diferenças começam a aparecer e acentuar aos treze anos crescendo durante o curso secundário.”

Os dados aqui apresentados corroboram este argumento porem o rendimento deles não supera o delas, apenas se aproxima. Como esta pesquisa é baseada no método quantitativo, não é possível perceber quais as razões para isso acontecer.

Disciplina 5ª série 6ª série 7ª série 8ª série

M F M F M F M F Matemática 6,02 6,82 6,08 6,79 6,42 6,51 6,32 6,54 Língua Portuguesa 6,07 7,18 5,83 6,91 5,86 6,39 6,03 6,45 Ciências 7,13 7,97 5,43 6,19 7,01 7,14 6,07 6,16 História 6,05 7,32 5,82 6,68 5,68 6,42 6,12 6,31 Geografia 6,34 7,35 6,22 6,71 6,21 6,54 6,13 6,3 Inglês 5,79 7,11 5,53 6,73 5,99 6,82 6,67 6,78

Quadro 6- Média de todos os alunos por série, por disciplina e por gênero Legenda: M – Masculino; F - Feminino

Fonte: Edital de Resultado Final do Colégio Centenário

Com base nestes dados podemos afirmar que as meninas têm rendimento escolar superior aos meninos em todas as disciplinas. Não é possível perceber diferença significativa entre as médias em Matemática e em Língua Portuguesa. Segundo notícia veiculada no site www.mundoestranho.abril.com.br, estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE aponta que os meninos se saem melhor nos testes de Matemática e as meninas em leitura. Os dados desta pesquisa não corroboram a afirmação de que as meninas têm mais habilidades verbais e meninos mais habilidades para a Matemática, pois as diferenças entre as notas das meninas e dos meninos em Matemática e Língua Portuguesa são pequenas. Estes dados indicam que as meninas se saem tão bem quanto os meninos na Matemática e que os meninos se aproximam do rendimento das meninas em Língua Portuguesa. Na 8ª série, o rendimento deles supera o delas nesta disciplina.

Analisando o resultado final dos estudantes (Quadro 7) pode-se observar que as meninas foram a maioria dos alunos aprovados. Elas superaram os meninos em todas as séries. Na 5ª série o número de meninas aprovadas foi o dobro do número de meninos aprovados e na 8ª série, esta diferença foi ainda maior a favor das meninas. Estes números se invertem quando se trata da aprovação por conselho de classe. Neste tipo de aprovação, o número de meninos é superior ao de

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meninas, entretanto esta diferença não é muito expressiva. Na 5ª série o número de meninos aprovados por conselho de classe foi o triplo do número de meninas. Eles também superam as meninas na 7ª série sendo que elas são maioria na 6ª e na 8ª série.

Série Aprovados/as Aprovados/as por Reprovados/as Desistentes e

conselho de transferidos/as classe M F M F M F M F 5ª série 15 30 21 7 15 4 10 6 6ª série 24 25 23 27 24 3 6 10 7ª série 17 21 21 15 14 10 3 5 8ª série 8 22 23 26 8 9 5 8 Total 64 98 88 75 61 26 24 29

Quadro 7- Resultado final por série e gênero Legenda: M – Masculino; F - Feminino

Fonte: Edital de Resultado Final do Colégio Centenário

Ser aprovado por conselho de classe significa que em pelo menos uma disciplina os estudantes não alcançaram a média 6,0, nota mínima para a aprovação na rede estadual de ensino do Estado do Paraná, ou seja, reprovaram. No Estado do Paraná, os professores têm autonomia para aprovar alunos que não tenham conseguido a aprovação nas avaliações realizadas durante o ano letivo se considerarem que o estudante tem condição de avançar nos seus estudos7.

No Colégio Centenário um número significativo de estudantes reprovaram como pode-se perceber pelos dados apresentados no Quadro 7. Os meninos são a maioria dos estudantes reprovados. Este número é superior ao dobro do número de meninas reprovadas. A série que apresenta o maior número de reprovados é a 6ª série. Nesta série há a predominância masculina nestes números. As meninas reprovadas só superam os meninos na 8ª série e a diferença é de apenas uma estudante. Este número aumentaria significativamente se não houvesse a aprovação por conselho de classe, pois pode-se observar que o número de estudantes a provados no conselho de classe supera o número de estudantes aprovados.

Observando o número de alunos que não concluíram o ano letivo encontramos a predominância feminina. As razões para a não conclusão são a desistência e a transferência de Colégio ou de turma. Por esses números pode-se perceber que a evasão escolar foi pouco superior a 10% do total de alunos matriculados.

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Recentemente este fato virou polêmica na mídia paranaense depois que um pai reclamou do fato de seus filhos

terem sido aprovados pelo conselho de classe. Este pai considerava que seus filhos não tinham condições de serem aprovados e questionava esta atitude. Ele considerava que “isso serve de incentivo para outros alunos. Muitos alunos devem deixar de estudar porque já sabem que vão passar de ano” (GAZETA DO POVO, 2010). A Secretaria de Estado da Educação – SEED se manifestou por meio da secretária do Núcleo Regional de Ensino Márcia Lopes. Ela afirmou que no Estado não existe a aprovação automática. Segundo ela, “O conselho é soberano. Quando a criança vai para o conselho de classe, é para que a escola faça uma análise do aluno.” (GAZETA DO POVO, 2010) Estes estudantes podem ou não ser aprovados.

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Considerações finais

Os dados desta pesquisa mostram que as meninas obtiveram resultados melhores do que os meninos no ano de 2008 em todas as disciplinas analisadas. Esta superioridade foi expressa por meio do número de meninas que obteve notas iguais ou superiores a 8,0; por meio das médias finais dos estudantes; e também pelo número de aprovados. Os dados aqui analisados mostram que o argumento de que as meninas têm menos habilidade em Matemática do que os meninos não se sustenta. Evidenciam a necessidade de mudança neste discurso. Há a necessidade de se evidenciar isso por meio de pesquisas e publicações com o objetivo de contribuir com a mudança na forma de pensar e no discurso sobre a capacidade intelectual das mulheres.

Por ser um estudo quantitativo não é possível perceber como estas notas são construídas e tampouco as razões para que ocorra diferença no rendimento dos estudantes. Porém se evidencia que elas, independente das razões, obtêm melhores notas do que eles. Em conversas informais com alguns professores, ouvimos o argumento de que as médias não refletem a realidade de aprendizagem. Segundo esses professores, as notas são compostas por meio de diversas atividades e o fato das meninas serem mais disciplinadas a fazerem todas as atividades faz com que elas obtenham notas melhores do que a deles. Este argumento converge para o estudo de Walkerdine (1995) no qual ela afirma que dificilmente as meninas são reconhecidas como brilhante. O bom rendimento delas é atribuído ao seu trabalho árduo. Carvalho (2003) considera que temos que olhar com desconfiança para os números expressos nas notas pois considera que são múltiplos os fatores que definem estas médias. Para esta autora, o rendimento na avaliação escolar difere do rendimento em testes e não significa aquisição de conhecimento. Argumenta ainda que “essas três coisas têm pontos em comum, mas não necessariamente indicam que as meninas aprendem mais do que os meninos pelo fato de receberem conceitos melhores.” (CARVALHO, 2003, p. 188)

Em estudo anterior (CASAGRANDE; CARVALHO, 2009), ao questionar os estudantes sobre como era o seu rendimento em Matemática, apenas 1/3 dos estudantes afirmaram obter bons resultados em Matemática. Considerando esta porcentagem baixa, os números aqui apresentados são ainda mais baixos. Dentre os 415 estudantes analisados nesta pesquisa, 60 obtiveram média igual ou superior a 8,0 em Matemática. Este número corresponde a menos de 15% dos estudantes. Porém 8,0 é uma nota bem acima da média. Se considerarmos os estudantes que foram aprovados percebemos que este número sobe bastante. Isso nos leva a concluir que existe um grande número de alunos e alunas que obtêm médias entre 8,0 e 6,0, notas consideradas boas pois levam a aprovação.

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assim, poderíamos pensar que o rendimento deles em Matemática seria inferior ao rendimento nas outras disciplinas, entretanto os números desta pesquisa não confirmam isso. A média em Matemática ficou acima de 6,0 em todas as séries enquanto em outras disciplinas essa média ficou abaixo de 6,0 em algumas séries. O rendimento de meninas e meninos em Matemática superou o rendimento em Língua Portuguesa na maioria das séries. Somente em duas disciplinas (Matemática e Geografia) as médias superaram 6,0 em todas as séries. Isso significa que de modo geral o rendimento em Matemática supera o rendimento nas demais disciplinas.

O melhor rendimento escolar não se traduz no incremento do número de mulheres que buscam as carreiras científicas e tecnológicas. Há necessidade de se realizar pesquisas com o intuito de identificar as razões para esta pequena procura de mulheres por carreiras que necessitem de mais conhecimentos matemáticos. A partir desta identificação será possível desenvolver políticas publicas para que se possibilite que um maior número de mulheres se interesse por essas carreiras.

Convém salientar que não pensamos que as mulheres têm obrigatoriamente que se interessar por estas carreiras. Consideramos que as pessoas que se interessam por qualquer profissão, quer sejam as mulheres em profissões com predomínio masculino, os homens em carreiras com predomínio masculino, ou os homossexuais, transexuais e travestis em qualquer profissão, tem o direito de exercê-las sem maiores dificuldades, sem enfrentar obstáculos impostos pelo fato de pertencerem a um ou outro gênero, ter uma ou outra orientação sexual.

Mesmo que as mulheres apresentem melhor rendimento escolar, tenham mais anos de estudo, elas continuam enfrentando problemas no mercado de trabalho. Ao disputarem uma vaga de trabalho, muitas vezes as mulheres perdem-na para homens com menor escolaridade do que elas. Isso se deve pelo fato de que se atribui a elas menor qualificação para o trabalho (CARVALHO, 1996). A autora argumenta ainda que isso não significa que a sociedade falhou na qualificação das mulheres para o mercado de trabalho e sim que foi muito eficiente o papel exercido pela socialização das mulheres que as qualificou muito bem para as atividades domésticas. Características e habilidades adquiridas ao longo da vida são imputadas as mulheres como se fossem “inerentes a uma pretensa ‘natureza feminina’” (CARVALHO, 1996, p.82). Isso acaba se transformando num empecilho para que a sociedade as veja como profissionais capazes e habilitadas para exercerem as mais diversas funções.

Este estudo aponta para transformações das relações dos estudantes com a Matemática, bem como para a necessidade de se realizar mais pesquisas com o intuito de se compreender melhor como ocorrem às relações de gênero em sala de aula. Com o intuito de contribuir com os estudos sobre esta temática, em breve apresentaremos a tese que motivou este estudo.

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Referências

AUAD, Daniela. Educar Meninas e Meninos: relações de gênero na escola. São

Paulo: Contexto, 2006.

CARVALHO, Marilia Pinto de. Mau aluno, boa aluna? Como as professoras avaliam

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Referências

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