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DESVELANDO A IDENTIDADE DO PEDAGOGO NO DISCURSO DOS PROFESSORES DO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

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DESVELANDO A IDENTIDADE DO PEDAGOGO NO DISCURSO DOS PROFESSORES DO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

Isabel Marinho Costa – UFPB Introdução

Nos últimos anos do século XX, a identidade do pedagogo tem sido objeto de reflexão e debate entre estudiosos e especialistas em educação. Os discursos antagônicos apresentados por estes profissionais em congressos, seminários e encontros de educação com o objetivo de debater sobre a formação do pedagogo e as práticas educativas, resultam na criação e reestruturação de documentos institucionais que diferenciam de acordo com os interesses econômicos e políticos das instituições públicas e privadas, e abrangem ainda mais a complexidade das discussões em torno da questão.

Com a inclusão de cursos de graduação em pedagogia cuja modalidade é a distância, as discussões em torno da especificidade do pedagogo aumentaram, instigando os educadores a reverem os aspectos legais referentes as atribuições e atuações. No Brasil, os cursos de pedagogia na modalidade a distância tem favorecido a compartimentalização do conhecimento e atuação do pedagogo para a educação infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, descaracterizando o pedagogo-especialista, resultando na perda de espaço de discussão teórico-prática da pedagogia e do exercício profissional do pedagogo especialista.

Não se pode negar as mudanças estruturais e funcionais que se fazem necessárias a educação e a prática educativa do pedagogo. Porém, habilitar o pedagogo para exercer suas atribuições apenas na docência em nível infantil e fundamental não dá conta de responder através de seu trabalho, às novas necessidades que lhe são exigidas para melhorar a qualidade social da escolarização.

Nesse sentido, este estudo tem por objetivo apresentar características que apontem a identidade do pedagogo no discurso dos professores do curso de pedagogia na modalidade a distância da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, ainda que em sua estrutura curricular esta identidade esteja voltada apenas para a docência na educação infantil. Para tanto, investigou-se o ambiente virtual de aprendizagem – AVA, especificamente os fóruns de discussão, por possibilitar o resgate histórico-discursivo dos fatos e da linguagem.

Para Pêcheux (1975) a formação discursiva determina “o que pode e deve ser dito”, a partir de uma posição dada numa conjuntura, numa certa relação de lugares, no interior de um aparelho ideológico e inscrita numa relação de classes. Para ele, toda formação discursiva é determinada por uma formação ideológica a que aquela se filia. É a formação discursiva que interpela o indivíduo em sujeito do discurso, o qual fala a partir dos lugares possíveis que ocupa em uma dada formação discursiva. Portanto, ao extrair os registros dos professores sobre o assunto em questão identificou-se a formação discursiva desenvolvida pelos professores sobre a identidade do pedagogo.

Na formação discursiva dos professores toda e qualquer pessoa pode ocupar qualquer cargo na área educacional desde que tenha competência adquirida na prática docente, ao mesmo tempo em que renega a defesa de uma formação acadêmica específica na área pedagógica para os especialistas em educação e a de que o docente pode atuar na gestão ou exercer funções referentes aos especialistas.

1. A Crise de Ser Pedagogo

“Ser professor, ou especialista?”. Estas e outras questões perpassam as discussões entre professores e especialistas em educação. Uns definem o pedagogo como sendo um profissional habilitado para exercer suas atribuições profissionais fora da sala de aula, através da pesquisa e planejamento educacionais, supervisão escolar e orientação educacional, psicopedagogia, gestão de sistemas escolares, coordenação pedagógica e formação continuada em escolas e outras instituições, além da participação na definição de políticas educacionais (Stricto sensu). Outros

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se referem ao pedagogo como sendo qualquer professor que exerce suas atividades em quaisquer níveis e modalidades de ensino (Lato sensu). Para (MURIBECA, 2001) “É bastante desconfortável nos percebermos como responsáveis pela formação de uma categoria de profissionais cuja atuação tem sido constantemente questionada, inclusive pela própria agência formadora”.

Por intermédio destes dois conceitos a história da pedagogia apresenta as diversas reconfigurações pelas quais passou e ainda vem passando o curso de pedagogia e respectivamente, a atuação do pedagogo. Reconfigurações estas, embasadas no plano econômico e político do governo atual.

No ano de 1939 foi criado no Brasil o curso de pedagogia com a estruturação que era chamada de esquema 3+1, ou seja, em três anos o aluno do curso de pedagogia poderia obter o diploma de bacharel que o habilitaria para o exercício de cargos técnicos na área educacional e o de licenciado após mais um ano de curso. Em 1945 com a Lei 5.540/68 e o posterior parecer 252/69, foi acrescido ao curso de pedagogia habilitações destinado a formar profissionais técnico-administrativos (administradores, orientadores e supervisores) e professores para as disciplinas do ensino normal.

Em meados de 1980 a associação nacional pela formação dos profissionais da educação – ANFOPE aponta a necessidade de se superar a fragmentação das habilitações e especializações pela valorização do pedagogo escolar.

Atualmente, o ministério de educação – MEC e o conselho nacional de educação – CNE tem provocado a mobilização de educadores para rediscutir a formação de profissionais da educação. Considerando ter se tornado comum, no discurso dos educadores, especialmente entre os que atuam em universidades, a identificação dos cursos de pedagogia com os cursos de magistério, voltados para formação das séries iniciais de ensino.

Esta crise pode ser compreendida então, como um reflexo da crise social, política e também pedagógica. Hoje, mais do que nunca, observa-se uma insatisfação generalizada dos alunos, professores e especialistas em educação. Já não se sabe quais as atribuições do pedagogo que tem formação em pedagogia, porém com especificidade para atuar apenas na educação infantil, enquanto outros também pedagogos, mas, com formação para atuar apenas como especialista em educação. O que ocorre, é que no contexto escolar e educacional, as práticas educativas necessitam de um pedagogo (especialista ou docente) que assuma as funções relativas ao campo técnico e pedagógico e com as especificidades necessárias à realidade em que atua.

No que diz respeito ao curso de pedagogia na modalidade a distância, a crise de ser pedagogo (especialista ou docente) é explícita no discurso dos professores que apesar de conhecerem o Projeto político pedagógico – PPP do curso e compreenderem que o mesmo forma profissionais para atuar apenas junto ao segmento educacional na faixa etária de 0 a 6 anos, enfatizam atribuições especificas ao pedagogo especialista em educação e não apenas ao docente. Alguns recortes apontam estas características no discurso dos professores:

Componente curricular: X

Objetivo do componente curricular: Oferecer instrumental necessário para reflexão e prática do exercício docente na educação infantil.

Fórum: O professor na educação infantil: como intervir na realidade que está posta? Aprendente A: Bem, acho que em vez de ficarmos falando, falando e falando devemos mesmo intervir na sala de aula do professor que não ensina, ou não sabe ensinar. Na verdade, é muito fácil dizer que ensina, quero ver na prática como isso acontece. Nós estamos sendo formados para ser pedagogos, e o pedagogo não tem que ficar o tempo todo só na sala de aula. Aprendente B: É verdade colega, precisamos ser realistas. Se somos pedagogos, não podemos simplesmente assistir aos colegas agirem com demagogia. Em reuniões de planejamento me dá até náuseas, cada um que queira falar mais bonito que o outro, quando a gente vai para realidade do dia a dia, a coisa fica feia mesmo. A realidade é dura e o professor não pode perder mais tempo falando precisa fazer alguma coisa diferente.

Professor: Caríssimas, vocês estão cobertas de razão. Muitos professores sabem utilizar do discurso para afirmar que sabe fazer o que o outro não sabe, mas, quando parte

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para a prática então vemos que prevalece o discurso. O pedagogo precisa realmente ter a habilidade necessária para intervir nas práticas de professores que tem esse tipo de atitude. Aproveitem a oportunidade para fazer a diferença.

Aprendente C: Oi gente! Olha só! Como professora não faço melhor porque ás vezes não sei o que fazer, mas, tenho certeza que quando me tornar pedagoga, ai sim, saberei o que fazer e como ajudar as colegas. Afinal, pedagogo é pedagogo, não acham.

Aprendente D: Sabe o que acho. Acho que como professora sou um fracasso mesmo. Minha esperança é que quando eu terminar este curso, seja uma pedagoga de mão cheia.

Aprendente E: Vem cá!!! O que está acontecendo? Sou eu que estou confundindo as coisas ou estamos sendo formados para ser professores?. Pelo que sei o curso está formando a gente para ser pedagogo, porém, para trabalhar como professores da educação infantil. Vocês falam como se agente ao ser pedagogos, não fôssemos ser professores. Afinal, o que vamos ser mesmo?

Professor: Cara aprendente. De fato, o curso de pedagogia a distância forma professores para atuar na educação infantil, porém, suas colegas tem razão, pois apesar desta formação específica vocês também estão sendo preparados para ser pedagogos (especialistas). O que de certa forma diferencia a atuação de vocês na escola.

É importante salientar que apesar da linearidade elementar em geral, apresentada pela comunicação, isto é, pela estrutura e sistematização do fórum, qual seja: emissor, receptor e mensagem, em que alguém fala ou se refere alguma coisa, enquanto outro, baseando-se na mensagem apresentada, decodifica-o. Tem-se a oportunidade de identificar a significação do discurso apresentado, visto que na informação que está sendo repassada há um complexo processo de constituição de sujeitos e produção de sentidos e não meramente informação. São processos de identificação do sujeito, da argumentação, de subjetivação, de construção da realidade.

O registro mostra a indefinição e incompreensão por parte do professor e aprendentes com relação à identidade do pedagogo. A descaracterização do campo teórico-prático e investigativo da pedagogia e das ciências da educação está explícita na discussão apresentada. Assim, reivindica-se a presença atuante de profissionais dotados de capacitação pedagógica para atuarem nas mais diversas instituições e ambientes da comunidade. Portanto, a tese de que a formação do pedagogo deve ter por base a docência precisa ser amplamente entendida, considerando as novas realidades e exigências da prática educativa. Afinal, a ação pedagógica não se resume a ações docentes, de modo que, se todo trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho pedagógico é docente.

2. Há um sujeito pertencente ao discurso? Análise do discurso de professores e aprendentes.

Partindo do pressuposto de que a formação discursiva se define como aquilo que numa formação ideológica dada – ou seja, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica – determina o que pode e deve ser dito (Pêcheux, 1975). Verificou-se a partir da situação apresentada no fórum de discussão, que ainda prevalece indefinições acerca da identidade do pedagogo, bem como, de suas práticas educativas. Aprendentes e professor deixam clara a formação ideológica adquirida a partir da significação de conceitos pré-determinados ou construída por outros.

Nesse sentido, a formação discursiva do sujeito histórico é ao mesmo tempo livre e submissa; isto significa dizer que o sujeito tanto determina o que diz, quanto é determinado pela exterioridade na sua relação com os sentidos. O relato abaixo, deixa claro esta concepção: Aprendente E: ...Pelo que sei o curso está formando a gente para ser pedagogo, porém, para trabalhar como professores da educação infantil. Vocês falam como se agente ao ser pedagogos, não fôssemos ser professores. Afinal, o que vamos ser mesmo?.

É a ideologia que produz o efeito de evidência dos sentidos, fazendo parecer que há uma relação de transparência entre significante e significado, de modo que os sentidos se tornam óbvios, “prontos” para serem reconhecidos e interpelados em um texto. Ainda que tenha a ilusão

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de ser fonte de seu dizer e de ser responsável pelo que diz, o sujeito é, na ótica discursiva, duplamente determinado, em seu pensamento psíquico, pelo inconsciente e em seu funcionamento social, pela ideologia. O relato do professor apresenta evidência dessa ideologia: Professor: Cara aprendente. De fato, o curso de pedagogia a distância forma professores para atuar na educação infantil, porém, suas colegas tem razão, pois apesar desta formação específica vocês também estão sendo preparados para ser pedagogos (especialistas). O que de certa forma diferencia a atuação de vocês na escola.

Não há discurso fechado em si mesmo, pois é constitutivamente invadida por elementos que vêm de outro lugar, de outras formações discursivas que se repetem nela, fornecendo-lhe suas evidências discursivas fundamentais. A materialidade específica da ideologia é o discurso e a materialidade específica do discurso é a língua, trabalha a relação língua-discurso-ideologia, como menciona Pêcheux (1975), não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia: o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido.

Aprendente A: Bem, acho que em vez de ficarmos falando, falando e falando devemos mesmo intervir na sala de aula do professor que não ensina, ou não sabe ensinar. Na verdade, é muito fácil dizer que ensina, quero ver na prática como isso acontece. Nós estamos sendo formados para ser pedagogos, e o pedagogo não tem que ficar o tempo todo só na sala de aula. Aprendente B: É verdade colega, precisamos ser realistas. Se somos pedagogos, não podemos simplesmente assistir aos colegas agirem com demagogia. Em reuniões de planejamento me dá até náuseas, cada um que queira falar mais bonito que o outro, quando a gente vai para realidade do dia a dia, a coisa fica feia mesmo. A realidade é dura e o professor não pode perder mais tempo falando precisa fazer alguma coisa diferente.

Professor: Caríssimas, vocês estão cobertas de razão. Muitos professores sabem utilizar do discurso para afirmar que sabe fazer o que o outro não sabe, mas, quando parte para a prática então vemos que prevalece o discurso. O pedagogo precisa realmente ter a habilidade necessária para intervir nas práticas de professores que tem esse tipo de atitude. Aproveitem a oportunidade para fazer a diferença.

O discurso expresso no texto confirma que o sujeito não é um ser individual, que produz discursos com liberdade: ele tem a ilusão de ser dono do seu discurso, quando é, na verdade, apenas um “efeito” do assujeitamento ideológico.

Verifica-se na textualidade do discurso do professor e dos aprendentes, imprecisões e incertezas que interferem na formação teórica, prática e pedagógica do pedagogo. Portanto, não bastam iniciativas de formulação de reformas curriculares, princípios norteadores de formação, novas competências profissionais, novos eixos curriculares, base comum nacional, etc. faz-se necessário e urgente a estrutura organizacional para um sistema nacional de formação de profissionais de educação que permita definir a identidade do pedagogo epistemologicamente e profissionalmente.

É por assim entendermos que finalizamos este texto, na certeza de sua incompletude, especificamente, a incompletude da formação discursa ideológica, que se modifica de acordo com sua textualidade. Afinal, o texto, enquanto objeto que se constitui em materiais de análise de discurso são provisórios.

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Referências

BARBOSA, Pedro Navarro (org.). Foucault e os domínios da linguagem: discurso, poder e subjetividade. São Carlos: Claraluz, 2004.

FERNANDES, Cleudemar Alves; SANTOS, João Bosco Cabral (org.). Teorias lingüísticas: problemas contemporâneos. Uberlândia: EDUFU, 2003.

GREGOLIN, Maria do Rosário. Foucault e Pêcheux na construção da análise do discurso: diálogos e duelos. São Carlos: Claraluz, 2004.

______, Discurso e mídia: a cultura do espetáculo. São Carlos: Claraluz, 2003.

IMBÉRNON, Francisco. Formação Docente e profissional: Formar-se para a mudança e a incerteza. 3ª edição. Questões de nossa época. São Paulo: Cortez, 2002.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 10 ed. São Paulo: Cortez, 2008.

______. Adeus professor, Adeus professora? novas exigências educacionais e

profissão docente. 4a edição. São Paulo: Cortez, 2000.

MURIBECA, Maria Lúcia Maia. A pedagogia, o pedagogo e a prática escolar. João pessoa: Autor associado. Editora UFPB, 2001.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso. Princípios e procedimentos. Campinas: São Paulo: Pontes, 2003.

PIMENTA, Selma Garrido (org.). Pedagogia e pedagogo: caminhos e perspectivas. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2006.

Referências

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