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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAIBA GABABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BENEDITO DA SILVA

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAIBA

GABABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BENEDITO DA SILVA

ACÓRDÃO Agravo em Execução Nº 2014069-24.2014.815.0000

RELATOR: Dr. João Batista Barbosa, Juiz Convocado para Substituir o Exmº Des. João Benedito da Silva

ORIGEM: Juízo de Direito da Vara Militar AGRAVANTE: Euzébio Félix do Nascimento ADVOGADO: Franciclaudio de França Rodrigues

AGRAVADA: Justiça Pública

AGRAVO EM EXECUÇÃO. CRIME MILITAR. CUMPRIMENTO DE PENA EM ESTABELECIMENTO CASTRENSE. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL. EXPRESSÃO DO PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. VIABILIDADE DE ACESSO A REGIME MENOS GRAVOSO. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI Nº 7.210/84. POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. ANÁLISE DOS REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA PROGRESSÃO. AUSÊNCIA DE

MANIFESTAÇÃO PELO JUÍZO A QUO.

IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE EXAME PELO JUÍZO AD QUEM SOB PENA DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. DEVOLUÇÃO DOS AUTOS PARA AFERIÇÃO DAS CONDIÇÕES INDISPENSÁVEIS À TRANSPOSIÇÃO PARA REGIME MAIS BENÉFICO. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

- Constituindo a progressão de regime prisional expressão do princípio da individualização da pena, possibilita-se a transposição para regime de cumprimento de pena menos gravoso mediante a aplicação subsidiária da Lei nº 7.210/84, ainda que se trate de militar recolhido em estabelecimento castrense, desde que satisfeitas as exigências legais.

- Uma vez que a decisão recorrida não se manifestou, concretamente, sobre as condições objetivas e subjetivas para a alteração do regime de cumprimento de pena, devem os autos retornar o juízo ad quem, sob pena de supressão de instância.

A C O R D A a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, por unanimidade, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO AGRAVO, NOS

(2)

TERMOS DO VOTO DO RELATOR.

R E L A T Ó R I O

Cuida-se de Agravo em Execução (fls. 83/91) interposto por Euzébio Félix do Nascimento contra decisão proferida pelo Juízo de Direito da Vara Militar (fls. 79/80), a qual indeferiu pedido de progressão do regime prisional fechado para o semi-aberto.

Em suas razões recursais, argui, inicialmente, que, apesar de o regime de progressão de pena, no âmbito militar, ter sido esquecido pelo legislador, essa lacuna começou a ser preenchida pelos tribunais superiores, a exemplo do STJ, que, tendo como parâmetro julgamento proferido pelo STF no HC nº 104.174/RJ, acolheu a aplicação subsidiária da Lei de execuções Penais aos processos de execução referentes a militares em cumprimento de pena em presídios castrenses.

Como base nesse entendimento, o agravante busca a alteração do seu regime de cumprimento de pena, a fim de que possa progredir do regime fechado para o semi-aberto.

Aduz, para tanto, haver cumprido mais de 1/6 do total da pena que lhe fora imposta (5 anos), ou seja, já transcorreram mais de 10 (dez) meses do início da execução, ocorrida em 07/07/2013.

Sustenta, também, não ser aplicável ao caso a Lei nº 11.464, de 28/03/2007, pois os fatos, em relação aos quais foi apenado, ocorreram após a vigência dessa lei. Assim, considera estar apto à progressão para o regime semi-aberto.

Em sede de contrarrazões (fls. 175/177), o Ministério Público pugnou pelo provimento do agravo.

Instada a ofertar parecer, a Procuradoria de Justiça opinou pelo provimento do recurso (fls. 188/191).

É o relatório voto.

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Noticiam os autos que, perante o Juízo da Vara Militar, o ora agravante requereu a progressão do regime fechado para o semi-aberto, invocando, para esse fim, o disposto nos arts. 66, inciso III, “c”, 11, 112 e 126, todos da Lei nº 7.210/84 c/c o art. 190 da LOJE, haja vista decisão tomada pelo STJ com base em entendimento do STF, adotado no HC nº 104.174/RJ.

O pleito foi indeferido pelo Juízo de 1º grau, em cuja decisão preponderaram os seguintes fundamentos: a) ausência de caráter vinculante dos precedentes oriundos do STJ e do STF; b) o art. 61 do CPM traz clara exceção reservada aos presos militares reclusos ou detentos em presídios civis, exceção essa que, interpretada a contrario sensu, induz à conclusão de que presos recolhidos em estabelecimentos prisionais militares sujeitam-se às regras específicas da legislação pertinente; c) a despeito de a legislação castrense não ter mecanismo de liberação gradual dos apenados, prevê a possibilidade de livramento condicional nos termos do arts. 89 e seguintes do CPM; e d) o regime mais severo de liberação gradual seria compensado pelas condições pessoais e funcionais dos presos neles recolhidos.

Inconformado com o referido decisum, o apenado manejou o presente recurso, sustentando novamente a alteração do entendimento dos tribunais superiores em relação à aplicação subsidiária da Lei de execuções Penais aos processos de execução de militar cumprindo pena em presídios castrenses.

Pois bem. A despeito dos judiciosos fundamentos assentados pela magistrada na decisão combatida (fls. 79/80), razão parcial assiste ao agravante em qualificar-se à obtenção do benefício almejado, obviamente a ser concedido se presentes os requisitos exigidos pela legislação de regência.

À primeira vista, deparando-se com a regra insculpida no art. 61 do CPM, pode o exegeta, em uma simples interpretação a contrario sensu de seu âmbito de incidência, ser conduzido à ilação de que os apenados militares, sujeitos a cumprimento de pena em instalações castrenses, estariam excluídos da aplicação subsidiária da legislação penal comum, a qual lhes asseguraria, dentre outros benefícios e concessões, a progressão de regime de pena.

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Eis o teor desse dispositivo:

Art. 61 - A pena privativa da liberdade por mais de 2 (dois) anos, aplicada a militar, é cumprida em penitenciária militar e, na falta dessa, em estabelecimento prisional civil, ficando o recluso ou detento sujeito ao regime conforme a legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar.

Contudo, em razão da unidade sistêmica que ordena todo o ordenamento jurídico, tem-se que o direito aplicável à espécie não pode resultar da interpretação de uma única regra isolada, mas, sim, da compreensão do sistema de normas globalmente concebido, onde as regras jurídicas guardam, entre si, uma harmonia lógica. Detalha-se, apenas, que, concernentemente às normas constitucionais, essa harmonia decorrerá de uma relação hierárquica de subordinação por parte das normas infraconstitucionais, as quais extraem daquelas seu fundamento de validade.

Sendo assim, pode-se afirmar, categoricamente, que uma interpretação restritiva à progressão de regime não se sustenta quando confrontada com o arsenal principiológico positivado pela Carta Magna, em especial com o princípio fundamental da individualização da pena.

Parte essa assertiva do fato de que o processo de concretização individual da pena não pode se restringir simplesmente à operação de dosimetria, mas deve, igualmente, ser observado quando da fase de execução, pois, conforme lição de Alberto Silva Franco, “é na execução que a pena, cominada em abstrato pelo legislador e ajustada pelo juiz à situação singular, encontra o seu momento de maior concreção. É aí que o processo de individualização chega à sua derradeira etapa: a da pena real que adere, de modo definitivo, à pessoa do condenado (in “Crimes Hediondos, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 164).

Sobre tal enfoque da individualização, oportuna transcrição de trecho do voto condutor proferido pelo Min. Marco Aurélio no HC nº 82.959/SP:

Dizer-se que o regime de progressão no cumprimento da pena não está compreendido no grande todo que é a individualização preconizada e garantida constitucionalmente é olvidar o instituto, relegando a plano secundário a justificativa socialmente aceitável que o recomendou ao legislador de 1984. E fechar os olhos ao preceito que o junge a condições pessoais do próprio réu, dentre

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as quais exsurgem o grau de culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade, alfim, os próprios fatores subjetivos que desaguaram na prática delituosa.

[…]

Assentar-se a esta altura, que a definição do regime e modificações posteriores não estão compreendidas na individualização da pena e passo demasiadamente largo implicando restringir garantia constitucional em detrimento de todo um sistema e, o que e pior a transgressão a princípios tão caros em um Estado Democrático como são os da igualdade de todos perante a lei o da dignidade da pessoa humana e o da atuação do Estado sempre voltada ao bem comum

Destarte, constituindo a progressão de regime carcerário mais um fator de projeção do princípio da individualização da pena, não há dúvida que esse direito, assegurado constitucionalmente, não possa, absolutamente, vir a ser subtraído dos destinatários do art. 5º da Carta Magna, dentre os quais se encontra o ora agravante, individualmente considerado.

Por seu turno, sem que se olvide das peculiaridades e da relevância da função por eles exercida, certamente não teve o Legislador Constituinte como propósito excluir os militares do âmbito de tal proteção individual, pois, se quisesse fazê-lo, tê-lo-ia feito de maneira expressa, apontado as exceções a eles aplicáveis quer no mesmo, quer em outros dispositivos da Constituição. Ora, na Constituição Federal, inexiste sequer uma previsão normativa que venha a tolhê-los do direito à individualização da pena em quaisquer de suas projeções.

Nesse sentido, trecho do voto do Min. Carlos Ayres de Brito no HC nº 97.256/RS:

Por isso que nela própria, Magna Carta, nenhuma exceção foi aberta à incidência da personalização da reprimenda. Nenhuma. Nem por ocasião do atuar legislativo do Estado nem nas subsequentes fases da dosimetria e do regime de execução intramuros penitenciário.

Também, não seria permitido ao legislador infranconstitucional atuar nessa seara, de modo a restringir demasiadamente os contornos de um direito constitucionalmente assegurado, pois, se assim o fizesse, findaria por tornar sem efeito o próprio preceito constitucional do qual emanou.

Logo, mesmo que o Código Penal Militar, em seu artigo 61, nada diga a respeito da extensão da legislação penal comum ao militar recluso em estabelecimento

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castrense, tal omissão não legitima a adoção de uma interpretação, a contrario sensu, que impeça a fruição pelo agravante de um dos benefícios assegurados ao preso militar recolhido em estabelecimento prisional civil, qual seja, a progressão para regime de cumprimento menos severo.

In casu, atentando-se para o princípio da individualização da pena, a solução que melhor se ajusta à hipótese dos autos é aquela que possibilita ao apenado usufruir das benesses da legislação comum, no que tange à progressão do regime prisional, livrando-o, assim, de um prolongado e deletério cumprimento da pena em regime fechado.

De fato, ao agravante deve ser assegurada a aplicação subsidiária da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal), a fim de que, em relação a ele, sejam aferidos os requisitos objetivos e subjetivos exigidos para sua transposição do regime fechado para o semi-aberto, nos termos do art. 112 da referida lei.

A propósito, analisando situação análoga, vertida nos autos do HC nº 104.174/RJ, eis o excerto do voto condutor do Min. Carlos Ayres de Brito:

Nessa contextura, entendo contrária ao texto constitucional a exigência do cumprimento de pena privativa de liberdade sob regime integralmente fechado em estabelecimento militar, seja pelo invocado fundamento da falta de previsão legal na lei especial, seja pela necessidade do resguardo da segurança ou do respeito à hierarquia e à disciplina no âmbito castrense.

Estribado em tal entendimento, impende, contudo, ressaltar que a análise de tais requisitos deverá ser efetuada pelo Juízo a quo, sob pena de supressão de instância, pois, consoante se observa da decisão fustigada (fls. 79/80), a magistrada restringiu seu exame apenas à impossibilidade abstrata de concessão do regime de progressão ao apenado, sem proceder a maiores digressões concretas.

Firme em tais razões, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO AGRAVO, para reconhecer a aplicação subsidiária do art. 112 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal), remetendo os autos à instância a quo, a fim de que seja analisado o preenchimento das condições objetivas e subjetivas para concessão de regime de pena menos gravoso ao agravante.

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Presidiu a sessão o Exmo. Sr. Des. Joás de Brito Pereira Filho, Presidente, em exercício, da Câmara Criminal. Participaram do julgamento, o Exmo. Sr. Dr. João Batista Barbosa ( Juiz convocado em substituição ao Exmo. Des. João Benedito da Silva), relator, o Exmo. Sr. Des. Luis Silvio Ramalho Junior e o Exmo. Sr. Dr. José Guedes Cavalcanti Neto,( Juiz convocado em substituição ao Exmo. Des. Carlos Martins Beltrão Filho. Presente à sessão o Exmo. Sr. Dr. Manoel Henrique Serejo da Silva, Procurador de Justiça.

Sala de Sessões da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, aos 12 (doze ) dias do mês de março do ano de 2015.

Dr. João Batista Barbosa Juiz de Direito Convocado

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