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A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

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Academic year: 2021

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Professor: Rafael Cunha

A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações Gerais:

A palavra introdução é formada a partir do verbo latino ducere (levar, transportar, puxar sem descontinuidade, conduzir) e do prefixo intro-, derivado do advérbio latino intro “dentro (especialmente de casa)”. A partir da etimologia do vocábulo, fica nítido o entendimento do que seria o ato de introduzir o texto: conduzir o leitor para o seu interior, dando noções sobre sua orientação geral e sua organização.

Em outras palavras, o leitor deve “sentir-se em casa” já na introdução, de modo que possa identificar o tema em discussão e prever, genericamente, qual o posicionamento defendido pelo enunciador.

1.2. Funções/Objetivos:

Como acabamos de ver, uma introdução minimamente eficiente deve revelar apenas o necessário para situar o leitor no texto, estimulando-o a prosseguir com a leitura. Para que isso aconteça, o parágrafo deve conter os dois aspectos anteriormente mencionados:

a) A explicitação do tema, ressaltando a relevância da questão em debate. Essa função é sobremaneira importante, uma vez que é a partir dela que o enunciador revela para a banca ter compreendido integralmente a proposta.

b) A sugestão de uma abordagem para o tema, especificando qual o ponto de vista a ser defendido ao longo do texto.

Observação: Uma introdução, para ser considerada excelente, deve conter um “algo mais”; ela deve ser capaz de atrair o leitor, atiçando sua curiosidade. Isso pode ser obtido mais facilmente se nela estiver contida uma tese. Entende-se que a tese é a idéia central do texto, a partir da qual derivam os argumentos. Uma tese bem construída garante maior unidade à redação, facilitando o entendimento do leitor. Esse ponto será mais bem explicado no momento da resolução dos exercícios propostos.

1.3. Estratégias:

É preciso ressaltar, antes de tudo, que não existe uma “receita” única e infalível para se construir uma boa introdução. Isso vai depender de inúmeros fatores, entre eles o conhecimento de mundo do enunciador e o entendimento do tema propriamente dito. Contudo, algumas técnicas introdutórias podem (e devem) ser assimiladas pelos alunos, a fim de que as funções da Introdução sejam cumpridas com a maior eficiência possível e que a banca examinadora possa observar o texto com bastante “simpatia” (lembre-se: a primeira impressão conta muito!). Vamos a elas.

1.3.1. Introdução por Citação dos Argumentos

É a mais tradicional das modalidades de introdução. Consiste em, após fazer uma contextualização genérica do tema, construir um rápido “trailer” dos pontos que serão aprofundados no desenvolvimento, normalmente com palavras-chave. Costuma-se associar essa estratégia à que vem a seguir (“Contextualização Específica”).

Exemplo

Tema: Estatuto do Desarmamento

Atualmente, os brasileiros parecem ter que se conformar com uma triste realidade no momento em que ligam a tevê ou lêem os jornais: o grande número de crimes cometidos com a manipulação de armas de fogo. No intuito de dificultar essa prática, o governo criou um projeto de lei que prevê grandes restrições à comercialização desses armamentos em nosso país. Nessa perspectiva, aspectos comerciais, sociais e, principalmente, humanos devem ser avaliados para que se chegue a uma conclusão minimamente polêmica sobre a questão.

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1.3.2. Introdução por Contextualização Específica

Consiste em relacionar o ponto central da discussão a um panorama, um cenário, um pano de fundo, enfim, um painel – construído com o repertório de conhecimentos do enunciador – que enfatiza a importância do tema. Os tipos são diversos, e entre eles destacam-se: a introdução por base histórica, a alusão a situação concreta, a enumeração de “flashes” e a apresentação de dados estatísticos. A seguir, temos alguns exemplos:

Exemplos

Tema: A consciência política do brasileiro.

Durante mais de duas décadas, desde o golpe militar de 64 até a eleição de Fernando Collor de Mello como Presidente da República no fim dos anos 80, o brasileiro manteve-se distante das urnas. Não é difícil imaginar que, nesse contexto de afastamento eleitoral, a maior parte da população também tenha acabado por distanciar-se da própria política. Hoje, o que vemos é uma população descrente e desinteressada, que vota mais por receio das punições do que por dever cívico consciente e direito cidadão.

Tema: A intolerância no mundo contemporâneo.

Onze de setembro de 2001. Nesse dia, o mundo parava – completamente atônito – em frente à tela da televisão. As torres gêmeas caíam e, com elas, simplesmente desmoronava a sensação de segurança que certos grupos e países possuíam. Contudo, uma nova grande realidade emergia juntamente com a ameaça terrorista: a questão da intolerância no mundo contemporâneo e as formas de se combater, em todos os níveis, esse mal.

Tema: Como o brasileiro deve lidar com um país em crise?

Crise econômica. Crise política. Crise ambiental. Crise de valores. Até mesmo crise de energia... Infelizmente, é nesse contexto de crise em que vive (sobrevive?) o brasileiro contemporâneo. Para lidar com essa situação, diversas medidas são – ou deveriam ser - tomadas, desde o investimento em educação, passando pelo combate aos corruptos até a atenção à Floresta Amazônica. Somente desse modo se pode evitar a saída derradeira: a porta do avião.

Tema: Analfabetismo funcional no Brasil.

Pesquisas revelam que cerca de setenta por cento dos brasileiros enquadram-se, com maior ou menor grau de intensidade, em um dos maiores problemas educacionais de nosso país: o analfabetismo funcional. Essa disfunção ocorre quando a pessoa lê e escreve, mas não é capaz de entender aquilo que foi lido. Sem dúvida, tal malefício traz diversos prejuízos ao indivíduo e à sociedade, devendo ser combatido em sua raiz mais profunda - a educação de base.

1.3.3. Introdução por Sugestão

Consiste em fazer alusões culturais ou citações alegóricas (comparações, por exemplo), a fim de chamar a atenção do leitor para a importância da questão.

Exemplo

Tema: A transgressão às leis no contexto contemporâneo.

Segundo o filósofo grego Aristóteles, “a lei é a razão livre da paixão”. A julgar pelo panorama atual, esse precioso ensinamento vem sendo constantemente desvirtuado. Para muitos, a paixão - como sinônimo de interesses e desejos pessoais - revela-se elemento inerente à observância de uma lei, e, o que é pior, pode ser o pretexto necessário para que esta não seja sequer cumprida.

1.3.4. Introdução por Conceituação Exemplo

Tema: A importância da família.

Em sua etimologia, educar significa elevar, conduzir a um patamar superior. No contexto contemporâneo, a condução do indivíduo a um plano mais elevado depende de diversos elementos, seja a escola, seja o meio social, seja a índole de cada um. No entanto, tudo indica que um fator é mais essencial que todos os outros: a presença da família.

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1.3.5. Introdução por Questionamento(s) Exemplo

Tema: Identidade cultural brasileira.

Muito se discute sobre a existência de uma identidade cultural do brasileiro. De fato, em um contexto de globalização como o que vivemos, as dúvidas sobre as marcas de uma verdadeira “brasilidade” tendem a surgir. Nesse sentido, cabe perguntar: o que é identidade cultural? Estamos sendo vítimas de dominação estrangeira? Podemos perder nossas principais características? É possível se opor à globalização, reafirmando nossos traços?

1.4. Fórmulas Desgastadas

Já foi dito que uma “pitada” de originalidade é sempre bem-vinda em qualquer redação, conferindo uma espécie de bônus (em termos de nota) ao enunciador. Do mesmo modo, evitar construções previsíveis, se não permite ganhos, ao menos evita perdas. Por isso, procure ao máximo evitar construções com formato clichê, como “Desde a Antigüidade, o homem (...)” ou “A humanidade, desde os primórdios, (...)”. Esse tipo de alusão, além de desgastada, não revela qualquer tipo de base cultural do aluno, já que as referências são extremamente genéricas ou inexatas.

EXERCÍCIOS

1) O parágrafo abaixo foi construído para uma redação que versava sobre a invasão dos estrangeirismos na Língua Portuguesa. Avalie-o, verificando se foram cumpridos os requisitos de uma boa introdução:

A Língua Portuguesa não nasceu da forma como é falada e escrita hoje. Ela vem de uma série de transformações sofridas pelo Latim, que incorporou elementos estrangeiros e, por assim dizer, evoluiu. Nesse sentido, a atual absorção, pela nossa língua, de vocábulos de outros idiomas, principalmente de origem norte-americana, não pode ser considerada propriamente uma novidade. Mais do que isso: seria paradoxal enxergar a chegada desses termos como uma “invasão” prejudicial.

2) Como vimos na parte teórica, a tese é a idéia central da redação, a partir da qual derivam os argumentos. Dito de outro modo, uma tese sólida constitui uma espécie de “espinha dorsal” do texto, servindo de base para que a argumentação seja bem sucedida. Sua tarefa, neste exercício, consiste em distinguir os parágrafos que possuem tese daquele que não possui, aproveitando, ainda, para inferir qual seria a estratégia mais bem construída.

a) Tese explícita

b) Tese sugerida (ou implícita) c) Tese ausente (em suspensão) Tema: Estatuto do Desarmamento Introdução 1:

( ) Assaltos. Seqüestros-relâmpago. Homicídios em larga escala. Não, não se trata de um roteiro de filme feito para o cinema americano, mas de acontecimentos presentes no dia-a-dia do cidadão das grandes cidades. Muitos questionam se existe algum meio para reverter esse processo. Uma lei que cria empecilhos para a compra, o porte e o manuseio de armas de fogo tem dado visibilidade à questão.

Introdução 2:

( ) Assaltos. Seqüestros-relâmpago. Homicídios em larga escala. Não, não se trata de um roteiro de filme feito para o cinema americano, mas de acontecimentos presentes no dia-a-dia do cidadão das grandes cidades. Na tentativa de reverter esse processo, o governo criou um estatuto que estabelece limites para o porte de armas de fogo. Na verdade, tal medida revela-se totalmente inócua, já que não atinge o verdadeiro causador da violência: o poder paralelo do tráfico.

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Introdução 3:

( ) Assaltos. Seqüestros-relâmpago. Homicídios em larga escala. Não, não se trata de um roteiro de filme feito para o cinema americano, mas de acontecimentos presentes no dia-a-dia do cidadão das grandes cidades. Um estatuto que limita o porte de armas de fogo foi criado pelo governo para apagar esse quadro. Entretanto, uma questão crucial se impõe: é possível diminuir a violência aplicando uma lei que só produz efeitos para o cidadão comum?

Observe o parágrafo de introdução abaixo, elaborado por um aluno a partir do tema “De que forma a globalização pode afetar a população brasileira?”

Desde o final do século XV, quando os países ibéricos lançaram-se aos oceanos em busca de um caminho marítimo para as Índias, o mundo vem se globalizando. Hoje, com o advento das novas tecnologias, as fronteiras entre as diversas nações praticamente inexistem, o que, sem dúvida, traz inúmeras implicações nos planos econômico, social e cultural de todas as sociedades. Analisar esses fatores é de fundamental importância para entender a complexidade do fenômeno.

3) Para construir o parágrafo, o referido aluno utilizou-se de duas estratégias de introdução distintas. Identifique-as, retirando o(s) trecho(s) que justificam sua resposta.

4) Embora bem escrita do ponto de vista formal/estrutural, a introdução apresenta um defeito no que diz respeito ao seu conteúdo. Que defeito é esse? Justifique sua resposta baseando-se na proposta do tema. INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS TEXTO FULANO DE TAL

O anonimato é como fortaleza sitiada: quem está nele quer dele sair, e quem está fora quer entrar nele. O lema de quem está no

anonimato é: que falem mal de mim, mas que falem. O lema de quem perdeu o anonimato é: não se fala na mulher de César. Tal atitude ambivalente quanto ao anonimato é coisa recente. Épocas anteriores assumiam posições mais decididas. Em tempos arcaicos, ter nome conhecido significava estar exposto a poderes nefastos. O conhecimento do nome conferia ao inimigo armas destrutivas, já que a força vital ( mana) está escondida no nome. Por isso os nomes eram guardados em segredo, e por isso o nome de Deus é impronunciável. Na Antigüidade, ter nome significava não tanto ser falado, mas ser cantado. E já que os poetas que cantam os nomes não passam de bocas das Musas, ter nome significava quase ser divinizado. Na Idade Média, ser anônimo significava poder humildemente agir para a maior glória de Deus, e ter nome significava, portanto, cair na tentação do pecado mortal do orgulho. Na Idade Moderna, fazer nome significava permanecer na memória coletiva (portanto, entrar em Museu, imaginário ou não), e ter nome significava alcançar a imortalidade (por exemplo: a das academias). Atualmente ter nome é problema.

Algumas razões da problematicidade da fama são estas: é muito fácil penetrar na memória coletiva, dada a comunicação de massa. Basta participar de programa televisionado do tipo

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Chacrinha1. É igualmente fácil ser esquecido. Basta mudar o programa. A memória da massa é muito fugaz, e pode sê-lo. Pode sê-lo porque existem memórias infalíveis: os cartões perfurados2 dos computadores. O problema é pois este: onde quero ter nome, na massa ou no cartão perfurado? Se na massa, ficarei esquecido. Se no cartão, serei desumanizado. Chato isto.

Ainda existem academias, museus, anais de sociedades elegantes, enciclopédias e nomes de ruas. Posso querer fazer nome em tais memórias arcaicas, chamadas “da elite”. Não serei nem esquecido, nem lembrado, mas embalsamado. A imortalidade das múmias ainda é possível. Não parece valer a pena. Só satisfaz à vaidade. Portanto, morreu a fama.

Igualmente morreu o anonimato. Na Idade Moderna, ser igual a outros significava querer ser melhor que o vizinho. Competição no anonimato em busca de nome. Atualmente, ser igual aos outros significa não querer distinguir-se do vizinho. Mas como todos querem ser excêntricos, significa querer ser excêntrico para não distinguir-se. Eis a solução do problema: fazer do nome "Fulano de Tal" nome famoso. Em suma: no futuro próximo todos serão famosos. Democracia? Não, fascismo.

(FLUSSER, Vilém. Ficções filosóficas. São Paulo: EdUSP, 1998.)

Chacrinha - apresentador de televisão dos anos 60 cartões perfurados - equivalentes aos disquetes dos atuais computadores

5) O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser aborda o problema da fama historicamente, observando como ele se teria manifestado em tempos arcaicos, na Antigüidade, na Idade Média, na Idade Moderna e na contemporaneidade.

Explique a diferença entre os tempos arcaicos e a contemporaneidade, quanto ao desejo de obter alguma fama.

6) Segundo o texto, atualmente dois aspectos contraditórios entre si tornam a fama um problema. Aponte esses aspectos.

7)O fascismo é um regime autoritário, baseado na dominação.

Na conclusão do texto, esse regime é relacionado à disseminação da fama. Apresente a fundamentação, subentendida no texto, que sustenta essa relação.

GABARITO

5)Enquanto nos tempos arcaicos as pessoas procuravam se proteger no anonimato, nos tempos modernos persegue-se a fama a qualquer preço.

6)É fácil ser famoso, mas é igualmente fácil ser esquecido. 7)Uma dentre as possibilidades:

A dominação pelas formas de poder autoritário é favorecida pela massificação de padrões de comportamento.

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2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Definição

O desenvolvimento constitui a maior parte do texto dissertativo, e é nele que a introdução é expandida. Sua função principal consiste em defender a visão de mundo do enunciador, explicitada ou sugerida no primeiro parágrafo do texto. É desnecessário dizer que o desenvolvimento é a parte mais importante da dissertação, pois é nele que surgem os principais recursos argumentativos – justamente aqueles que vão ser responsáveis pelo convencimento do leitor.

2.2. Parágrafo

Quando pensamos no conceito de “parágrafo”, é comum o imaginarmos sob o escopo puramente formal, como um emaranhado de linhas que se distinguem do todo por haver um espaçamento entre a primeira palavra e a margem esquerda da página. Essa visão é nitidamente equivocada, uma vez que a verdadeira noção de parágrafo vem do plano semântico – e não estrutural.

Como dissemos, a maior parte do espaço do texto é “consumida” na fase do desenvolvimento. Para que seja possível ao leitor compreender o todo textual, é imperativo que o raciocínio do enunciador seja dividido em “etapas’ ou “segmentos’ menores. Cada um desses segmentos é o que chamamos parágrafo. Então, podemos definir assim:

Parágrafo é a unidade do texto que desenvolve um núcleo semântico principal, associado a núcleos acessórios, que devem ser articulados entre si para produzir sentido.

Em outras palavras, o parágrafo de desenvolvimento jamais poderá desenvolver duas idéias principais. Cada uma dessas idéias, separadamente, deverá estar contida em um único parágrafo.

Além disso, devemos considerar também como deve ser a estrutura interna de um parágrafo-padrão de desenvolvimento. Nesse sentido, podemos afirmar que duas partes são inerentes a um bom parágrafo: o tópico-frasal – um período-síntese da idéia que será desenvolvida – e a ampliação – que nada mais é do que o “desembrulhar” do tópico-frasal.

Leia com atenção o exemplo abaixo, escrito para uma redação sobre a criminalidade no Brasil: Além disso, deve-se atentar para os fatores socioeconômicos implicados no processo. Ao contrário do

que pensa a maioria, não é a pobreza, mas sim o contato desta com a riqueza, que faz com que a criminalidade seja tão presente em nossa sociedade. De fato, em um país em que crianças descalças, sem qualquer perspectiva de ascensão social, fazem malabarismos para pessoas trancadas no interior de seus confortáveis veículos, é mais provável que o crime surja como uma grande “válvula de escape”.

No parágrafo de desenvolvimento anterior, o primeiro período constitui o tópico frasal; os demais períodos são responsáveis pela ampliação – no caso, feita pelo processo de exemplificação.

2.3. Coerência

Em uma análise superficial, ser coerente significaria “não cair em contradição”. Entretanto, uma análise mais aprofundada permitiria trabalhar a coerência como a produção de sentido para o texto dissertativo. Essa “produção de sentido” deve ser buscada sob duas perspectivas distintas, mas complementares; é o que chamamos de coerência interna e de coerência externa.

Entende-se por coerência interna o conjunto de informações não contraditórias e seqüenciadas logicamente que compõem o todo textual. Por exemplo, em um texto em que se busca avaliar as causas, as conseqüências e propor soluções para uma determinada questão – cada um desses tópicos desenvolvido em um parágrafo -, parece coerente fazer com que os parágrafos do desenvolvimento sigam exatamente a ordem anunciada. Do contrário, teríamos uma situação no mínimo “estranha”: a proposição de soluções para um problema pouco conhecido em profundidade (devido à ausência das causas) pelo leitor.

A coerência externa, por sua vez, trata da associação do texto com o mundo em que vivemos. Em outras palavras, de nada vale uma redação que produz sentido internamente se ela não possui um vínculo de razoabilidade com a realidade exterior. Um exemplo disso ocorreria em uma redação em que, ao buscar as soluções para o problema da violência no Brasil contemporâneo, o enunciador propusesse o fim das favelas e o extermínio dos traficantes de drogas. Ora, essa “possibilidade” prescinde de coerência

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externa por diversos motivos: a) a maioria dos habitantes das comunidades carentes não são violentos; b) mesmo que fossem, seria impossível simplesmente dar um “fim” aos conglomerados habitacionais (onde colocar tanta gente?); c) não existe, oficialmente, pena de morte no Brasil; d) os traficantes não são os únicos responsáveis pela violência. Assim, é claro que o grau de apreciação do corretor sobre um texto desse tipo seria baixo, o que implicaria uma nota ruim.

2.4. Coesão

A coesão e a coerência estão intimamente ligadas. Se a segunda é responsável pela parte do conteúdo, pode-se dizer que à primeira cabe a responsabilidade sobre o plano formal do texto. Sem dúvida alguma, é impossível um texto produzir sentido sem que haja algum tipo de ligação entre suas partes. É aí que entra o conjunto de mecanismos conhecido como recursos de coesão.

Os recursos de coesão são inúmeros: pronomes, advérbios, sinônimos, epítetos, metonímias, frases de apoio, termos-síntese, entre outros, contribuem para um melhor entendimento do texto. No futuro, uma aula específica trará maiores esclarecimentos e considerações sobre tais mecanismos.

Na aula de hoje, é válido destacar dois recursos principais: os conectivos (ou conectores), entre os quais se destacam as conjunções coordenativas e subordinativas, as palavras ou expressões denotativas e os advérbios; e os chamados “ganchos” semânticos, que são espécies de “pontes” para a continuação do raciocínio.

A seguir, listamos alguns dos principais recursos argumentativos de que o aluno pode dispor para construir seu desenvolvimento. Analise-os com cuidado.

2.5. Argumentação

Argumentação é, grosso modo, um conjunto de procedimentos lingüísticos utilizado pelo enunciador para convencer o leitor, obtendo sua adesão. A seguir, listamos alguns dos principais recursos argumentativos de que o aluno pode dispor para construir seu desenvolvimento. Analise-os com cuidado. 2.5.1. Recursos Argumentativos

2.5.1.1. Argumento de Autoridade

Caracteriza-se pela citação de um pensamento ou frase de uma autoridade no assunto que está sendo debatido. Entenda-se como autoridade o indivíduo que possui algum tipo de “especialização” no assunto em pauta e é reconhecível pelo homem médio.

Há prós e contras na utilização desse tipo de argumento. O seu emprego é positivo quando permite evidenciar capacidade de leitura e reflexão por parte do enunciador, inter-relacionando discursos. É o que chamamos de intertextualidade. O caráter negativo, por sua vez, resulta do perigo de o pensamento que compõe o texto seja mais expressivo e contundente que o discurso do próprio enunciador. É por isso que o argumento de autoridade deve ser utilizado sempre com comedimento e bom senso, sob pena de retirar a marca de pessoalidade do discurso.

2.5.1.2. Argumento de Prova Concreta

É extremamente eficiente se utilizado com correção, pois aparece em forma de dados estatísticos, leis, definições do dicionário, fatos de conhecimento público, entre outros. Dá força e consistência à idéia defendida, uma vez que se baseia na realidade.

2.5.1.3. Argumento Organizado pelo Raciocínio Lógico

Existem três processos principais de organização da argumentação: o dedutivo, o indutivo e o dialético. Em uma aula futura, veremos especificidades acerca de cada uma dessas possibilidades de estruturação do raciocínio.

2.5.1.4. Argumento de Competência Lingüística

Se partirmos do pressuposto de que a palavra é o veículo do pensamento, é necessário, antes de tudo, que tenhamos plena consciência do uso dela (e da linguagem como um todo) para que expressemos com clareza e poder de convencimento o que pensamos. É o que acontece, muitas vezes, em um tribunal: o advogado que possui maior domínio da linguagem pode ganhar o caso em tela se for capaz de convencer o juiz, mesmo sem “provas” concretas daquilo que afirma.

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2.5.1.5. Argumento por Ilustração ou Exemplificação

É o mais comum dos expedientes argumentativos. O uso do exemplo na redação traz duas vantagens principais para o enunciador: a) ilustra a idéia, tornando-a clara para o leitor. b) revela que o enunciador baseia-se na realidade para construir seu argumento, o que faz com que o texto fique mais convincente. É por essa dupla função que o exemplo costuma ser bem-vindo em um texto dissertativo.

Contudo, o excesso de exemplos pode ser prejudicial. Isso porque muitos alunos acabam recorrendo a esse expediente sem qualquer tipo de interpretação da realidade, atendo-se apenas à exposição dos fatos. O texto perde sua força de convencimento e acaba por incorrer em um problema fundamental: torna-se um texto expositivo. Por isso, o expediente do uso de exemplos deve vir sempre acompanhado de bom-senso por parte do enunciador.

EXERCÍCIOS

1. O texto abaixo é um texto literário cujos períodos foram desarticulados entre si e divididos em parágrafos. Sua tarefa consiste em restaurar a configuração original do texto, unindo os períodos sem alterar-lhes a ordem e diminuindo o número de parágrafos. Lembre-se: cada parágrafo desenvolve uma – e apenas uma - idéia principal.

1. Estávamos em plena seca.

2. Amanhecia. Um crepúsculo fulvo alumiava a terra com a claridade de um incêndio ao longe. 3. A pretidão da noite esmaecia. Já começava a se individualizar o contorno das florestas, a

silhueta das montanhas ao longe.

4. A luz foi pouco a pouco tornando-se mais viva.

5. No oriente assomou o sol, sem nuvens que lhe velassem o disco. Parecia uma brasa, uma esfera candente, suspensa no horizonte, vista através da ramaria seca das árvores.

6. A floresta completamente despida, nua, somente esqueletos negros, tendo na fímbria aceso o facho que a incendiou, era de uma eloqüência trágica.

7. Amanhecia, e não se ouvia o trinado de uma ave, o zumbir de um inseto! 8. Reinava o silêncio das coisas mortas.

9. Como manifestação da vida percebiam-se os gemidos do gado; na agonia da fome, o crocitar dos urubus nas carniças.

Leia o parágrafo de desenvolvimento abaixo, feito por um aluno para uma redação sobre a questão ambiental no mundo contemporâneo.

É preciso considerar, antes de tudo, que é nítido o descaso dos políticos com o meio-ambiente. De fato, nossos representantes privilegiam o plano econômico em detrimento da natureza, parecendo esquecer-se do quanto ela é fundamental para a manutenção da humanidade. Além disso, a sociedade também tem sua parcela de culpa. Justamente aqueles que poderiam exigir ações mais eficazes são os primeiros a dar mau exemplo: poluem as águas e o solo, usam produtos ofensivos à camada de ozônio e fazem vistas grossas à destruição das grandes florestas.

2. O parágrafo acima, embora bem escrito do ponto de vista gramatical, apresenta uma falha no que diz respeito a sua estrutura. Identifique esse problema, tecendo os comentários pertinentes.

3. Destaque, do trecho, dois elementos que realizam coesão seqüencial, indicando, ainda, seus valores semânticos.

4. Sublinhe o tópico frasal de cada parágrafo a seguir:

Tema: O mundo virtual é, de fato, um benefício para o ser humano? Parágrafo 1

É notável que a descrença nos sentimentos tidos verdadeiros vem de cedo. De fato, na infância a criança é bombardeada por computadores, video-games e afins, que, além de a retirarem do convívio familiar, trazem a insensibilidade. Dessa forma, a vida virtual “mecaniza” o coração e afasta da realidade demonstrações humanas e reais de afeto, como se certas sensações perdessem a transparência. Evidencia-se a fragilidade do ser, e tal “vácuo sentimental” será aberto pelo avanço tecnológico.

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Parágrafo 2

Além disso, o individualismo crescente, em muito incentivado pela mídia, deturpa e perverte uma série de valores. Nesse contexto, uma onda de pessimismo muito grande é espalhada sobre a sociedade. Com isso, os meios de comunicação recriam um mundo de ilusão – a sociedade do sonho – na tela da TV, no cinema e nos “sites”, tentando encobrir, com uma noção de modernidade, a mediocridade que não condiz com sua situação.

Avalie o parágrafo a seguir, retirado de uma redação sobre o uso de drogas pelos jovens na atualidade.

Além dos aspectos psicológicos, não podemos esquecer que é a família o núcleo responsável por ministrar os valores morais, éticos e relativos à cidadania para o indivíduo. Ela também pode ser apontada, ao menos indiretamente, como um dos responsáveis pelo uso de substâncias entorpecentes. Sem dúvida, a falta de orientação adequada pode fazer com que o jovem desvirtue seu comportamento, praticando atos “reprováveis” aos olhos da sociedade, mas que, para ele, nada trazem de danoso.

5. Uma excelente forma de conseguir realizar a coesão entre os parágrafos é fazendo uso dos chamados “ganchos”, isto é, expressões que remetem a outro parágrafo – anterior ou posterior. Nesse sentido, responda: existe “gancho” no parágrafo lido? Se houver, transcreva-o.

6. Transcreva o tópico frasal do parágrafo e diga se seu uso foi adequado ou não.

7. Analise o desenvolvimento da redação abaixo, fazendo os comentários que se mostrarem pertinentes: Tema: Juventude de hoje: rebeldia ou desamor?

A involução do homem

Como marca da sociedade intitulada moderna, a chamada “cultura do ficar” tornou-se bastante popular. Conseqüentemente, é cada dia menor o número de casais que buscam o casamento, em seu formato tradicional, como uma forma de celebrar a estabilidade da relação. O superficialismo e a efemeridade são sintomas de uma juventude abandonada. A família moderna deixa a desejar, a competição acirrada afasta os amigos, o mundo de Narciso é o que resta. Agressivos. Violentos. Mal-educados. Rebeldes? Apenas mal amados.

Carência afetiva não é exclusividade da juventude, mas, com certeza, na faixa etária dos 18 anos, o ser humano requer maior atenção. Sem tempo para dispensar aos aborrecidos adolescentes, os pais, muitas vezes, negligenciam as pistas que indicam se seus filhos apresentam um risco à sociedade. Quem eram os pais daqueles que atearam fogo em um índio? Quem eram os pais daqueles que afogaram um calouro na piscina? Eram, possivelmente, pais ausentes, incapazes de transmitir valores morais básicos.

Básicos, porém, facilmente descartáveis. Quando a lei do mais forte impera, tudo se torna válido, a fim de alcançar sucesso e vitória. Ao menos, é isso que, desde cedo, o mundo ensina àqueles que ainda têm seu caráter em formação. Como fortes e vigorosos gladiadores, os jovens aprendem a ver o “próximo”, em seu sentido bíblico, como um oponente a ser destruído. Mestre em analisar o comportamento humano, afirma Machado de Assis: “O menino é o pai do homem”.

Tendo recebido, enfim, a formação “adequada”, o jovem é capaz de sobreviver, guardando em si um exército de um homem só. A juventude de hoje nasce carente e cercada de inimigos em potencial; cresce certa de que o amor só existe nos contos de fada e só reproduz porque deseja, narcisicamente, garantir a eternidade de sua existência. Sozinho e descrente, o menino marcha rumo ao nada.

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3. CONCLUSÃO 3.1. Objetivos/Funções:

Após a análise das duas primeiras partes da Redação – a introdução e o desenvolvimento -, chegou a hora de tratarmos do desfecho ou encerramento da dissertação. È o parágrafo que convencionamos chamar de conclusão.

É comum o aluno, no momento em que se prepara para escrever o último parágrafo do texto, sofrer de um mal súbito de relaxamento. Isso porque, após ter “quebrado a cabeça” na Introdução e ter criado argumentos coesos, coerentes e consistentes para embasar seu pensamento durante o desenvolvimento, é normal que se tenha a impressão de que o “pior” já passou. Nada mais equivocado. Sem dúvida, a falta de preocupação com as últimas linhas que compõem o texto é uma estratégia totalmente falha, na medida em que a nota pode ser diminuída nessa etapa. Explique-se: ora, se o grau atribuído pela banca examinadora só vem após a leitura de toda a Redação, parece óbvio que uma má impressão ao fim do texto pode diminuir a nota a ser dada ao aluno. Por isso, devemos atentar para a conclusão, que pode ser convertida em mais um instrumento de aquisição de pontos pelo candidato.

Nesse sentido, uma boa conclusão é aquela que cumpre três objetivos, identificados a seguir:

Em primeiro lugar, deve-se ter a preocupação de fazer o leitor perceber que o texto acabou. Do mesmo modo que é frustrante assistir a um filme em que o final só é percebido no momento em que as letras dos créditos começam a aparecer na tela ou quando um comediante não consegue fazer o público perceber que sua piada chegou ao fim, uma conclusão que mais parece um outro parágrafo do desenvolvimento jamais será apreciada pelo examinador. O que fazer, então? As possibilidades são inúmeras, mas uma boa dica é começar o parágrafo com uma palavra ou expressão que tenha valor conclusivo. Palavras e expressões denotativas como “desse modo”, “sendo assim”, “portanto”, “então”, “dessa forma” e outras afins constituem ótimas sugestões.

Em segundo lugar, a boa conclusão deve buscar ser uma decorrência “natural” daquilo que foi dito ao longo do texto. Em outras palavras, ela deve ser uma espécie de síntese ratificadora da argumentação do enunciador. A dica aqui consiste em tentar parafrasear aquilo que foi sugerido como tese ou ponto de vista na introdução. Sem dúvida, trata-se de uma excelente “pedida” para iniciar o parágrafo final.

Por fim, devemos sempre nos preocupar com aquela boa impressão – já mencionada – que deve ter a banca examinadora. Por isso, no espaço que ainda estiver disponível para a confecção do texto, o aluno deverá, no mínimo, manter (e, se possível, elevar) o nível de interesse do leitor. Trata-se de um “algo mais” em relação aos outros candidatos, o que, com certeza, renderá bons frutos em termos de nota. Sobre o cumprimento dessa função, falaremos no próximo item.

3.2. Estratégias de Diferenciação: 3.2.1. Proposta de Intervenção

Em uma análise superficial, poderíamos nomear esta estratégia como “Proposta de Solução”. No entanto, tal terminologia acabaria por se revelar inadequada, já que, em tão poucas linhas, é quase impossível se propor uma verdadeira solução – de modo que o problema em foco na discussão seja extinto. Na verdade, a nomenclatura com “Intervenção” parece mais adequada, pois o aluno tecerá propostas para que aquela realidade negativa seja, ao máximo, minimizada/atenuada. Segue um exemplo, retirado de uma redação já estudada na apostila 2.

Tema – Consumismo: comportamento natural ou prejudicial?

Fica evidente, portanto, que o consumismo exagerado contribui para o agravamento das mazelas do

país. Para reverter tal quadro, deve-se procurar o resgate da cultura nacional e a recuperação de valores através da mídia. Assim, em vez de propagarem o “comprar”, os veículos de comunicação propagarão o “educar”, fundamental na construção de um país justo. O tênis perfeito será, finalmente, substituído por um Brasil mais igualitário.

3.2.2. Sugestão de Figuras

Consiste em utilizar figuras de linguagem para causar impacto no leitor. As mais indicadas são a metáfora, a comparação, a metonímia, a ironia e a hipérbole. Observe os exemplos a seguir:

(11)

Tema - Por que os políticos brasileiros são os primeiros a transgredir as leis?

Assim, é nítido que a transgressão às leis é um comportamento moralmente aceito – e enraizado - pelos políticos. A julgar por suas últimas ações, a única solução plausível seria a legalização do comportamento corrupto. Talvez desse modo, em se mantendo a coerência de nossos estimados representantes, o brasileiro poderia orgulhar-se de viver em um país mais honesto.

3.2.3. Intertextualidade

Consiste em fazer referências culturais, relacionadas a escritores famosos, filósofos, cientistas, enfim, personalidades em geral. Observe o exemplo:

Tema – A valorização do corpo humano.

Desse modo, fica fácil perceber que vivemos em um contexto de valorização relativa do corpo, com os

indivíduos preocupando-se muito mais com a aparência e menos com a essência. Nunca a frase de Vinicius de Moraes – “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental” – foi seguida tão literalmente. A despeito do pedido de desculpas, o poeta estava equivocado: saúde e inteligência é que são fundamentais.

3.2.4. Conclusão por Reflexão

Consiste em buscar a essência do tema. É uma tentativa de superar a simples discussão da questão, atingindo um plano mais elevado de raciocínio. Veja:

Tema – O trabalho infantil na realidade brasileira (ENEM 2005)

Fica claro, então, que o trabalho de nossas crianças não deve ser visto de modo generalizado, sob

uma ótica maniqueísta, ou para o bem ou para o mal. Um posicionamento mais objetivo dependerá de como a função desempenhada vai influenciar a vida do menor. Contudo, o ponto central jamais pode ser ignorado: nessa questão, o que está em jogo são a felicidade e o futuro de um ser humano.

3.2.5. Introdução de Ressalva

Trata-se de uma tentativa de antecipação a críticas mais contundentes. O enunciador protege-se, reconhecendo algum ponto mais frágil de sua argumentação. Esta estratégia pode ser facilmente relacionada a outras, principalmente no caso da proposta de intervenção. Analise o caso abaixo:

Portanto, um dos maiores flagelos do Brasil atual, o desemprego, pode ser amenizado de modo

relativamente simples. Obras públicas, atuação mais severa de sindicatos, incentivos fiscais e cuidados com a economia podem produzir resultados antes inimagináveis. Resta saber se o governo e a sociedade civil organizada estarão dispostos a atuar juntos nesse processo.

4. O TÍTULO

“Perco pontos se não colocar o título na redação?” Essa dúvida, com certeza, passa pela cabeça de muitos vestibulandos. Independentemente da resposta (que, por sua vez, dependerá de cada banca), o que deve ser compreendido é que uma boa redação sempre deve começar por um bom título. O bom título deve ser sugestivo, fazendo com que o leitor tenha vontade de ler o texto do aluno. Deve também, de algum modo, sugerir em linhas gerais a abordagem que o aluno dará ao tema. E o mais importante: deve fazer tudo isso em poucas palavras, causando o maior impacto possível no leitor. Simples, não? Não, não é. Muitas redações apresentam títulos inócuos, sem qualquer efeito sobre o leitor, pois diversos redatores simplesmente têm preguiça de pensar. Essa despreocupação é totalmente anti-estratégica, na medida em que o título também faz parte da estrutura da redação. Portanto, a partir de agora, o título torna-se obrigatório é deve ser pensado com muito cuidado!

Observação: Evite ao máximo fórmulas desgastadas. O uso da conjunção “ou” e do sinal que indica “versus”, como em “Homens ou robôs” e “Criador x criatura” é um exemplo dessa prática. Slogans publicitários, provérbios copiados literalmente, referências muito genéricas ao tema (“Amor”) e títulos que repetem palavras já presentes no tema também são dispensáveis. Seja criativo!

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EXERCÍCIOS

E.1) Avalie a pertinência e o impacto que cada um dos títulos sugeridos para os temas abaixo possui. Eleja a melhor sugestão para cada caso.

a) Tema 1 – Brasil, pluralidade e contrastes (UFRJ 2002) 1. O Brasil e sua diversidade

2. Singular porque plural 3. Quadro cubista

b) Tema 2 – Até que ponto a corrupção é uma marca da nossa cultura? 1. Navio sem rumo

2. Brasil x corrupção 3. Corrupção: como evitá-la? c) Tema 3 – Efeitos negativos da tecnologia

1. Tecnologia má 2. @lienados 3. Tecnofobia

Leia os trechos com atenção e, em seguida, responda às perguntas propostas.

Conclusão 1

Tema: “Qual a importância do voto na sociedade brasileira?”

Fica claro, portanto, que a importância do voto hoje está relegada a uma minoria que, incrivelmente, ainda se interessa pela política futura do país. Por isso, é preciso resgatar o verdadeiro significado de democracia. Porém, isso de nada adiantará se não se iniciar antes um processo de conscientização das massas, mostrando que o voto deve ser feito de forma responsável e consciente. Conclusão 2

Tema: “O vestibular deve acabar?”

Logo, a extinção desse sistema que funciona apenas como um meio de manter as

elites no poder é mais do que necessária. Afinal, não é justo que apenas uma parcela

da população tenha acesso às universidades, e atitudes demagógicas como o sistema

de cotas de nada servem se não houver um preparo anterior de cada aluno que deseja

ingressar em um curso superior. Resta saber se há interesse político em modificar

esse quadro.

Conclusão 3

Tema: “Terrorismo: uma guerra suja ou uma luta ideológica?”

Por fim, pode-se dizer que o terrorismo hoje representa mais do que uma luta ideológica, estando acima do bom senso da humanidade. Além disso, é uma guerra irresponsável e insana, com atitudes baixas nos ataques aos demais povos que possam vir a discordar ou serem diferentes, em algum aspecto, de seus praticantes. Dessa maneira, em meio a tantos conflitos, a paz mundial torna-se cada vez mais distante, rumo à utopia definitiva.

Conclusão 4

Tema: “Como resolver o problema da seca no Nordeste?

Assim sendo, fica evidente que o problema da seca continuará a existir enquanto providências sérias não forem tomadas, tais como a exploração de lençóis freáticos e a doação de incentivos por parte

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do governo. A mobilização social também é necessária, como no caso do fornecimento de mantimentos por parte das classes mais altas. Mas será que os governos entendem que, no caso da seca, agir intensivamente não seria “chover no molhado”?

(todas as conclusões por M.C., AGOSTO/2010)

E.2) A ressalva é um recurso que consiste em apresentar uma restrição a um determinado aspecto. Essa forma valoriza a conclusão de um texto, já que demonstra uma visão mais ampla por parte de quem escreve. Destaque de uma das conclusões acima um exemplo desse recurso.

E.3) Outra forma de enriquecer sua conclusão é fazer uso de uma reflexão aprofundada, demonstrando que você possui consciência crítica. Identifique, em um dos exemplos, um tipo de reflexão proposta pelo autor.

E.4) Na conclusão 3, o autor demonstra claramente sua posição em relação à pergunta feita no tema. Após reler esse parágrafo, responda:

a) Que posicionamento é esse?

b) Você concorda ou discorda? Justifique.

E.5) Apresentar soluções também é uma estratégia bastante válida para terminar um texto – em alguns casos, é até mesmo essencial que se proponha algo. No caso da conclusão 4, o autor realiza muito bem esse trabalho, mostrando realizações concretas para se resolver o problema da seca. Caso ele não tivesse nenhuma solução prática, em última instância, de que forma ele poderia usar essa mesma tática? E.6) Como se denomina o recurso utilizado pelo autor no último período da conclusão 4?

E.7) Na conclusão 1, o autor constrói a seguinte frase: “por isso, é preciso resgatar o verdadeiro significado de democracia”. Explique-a.

E.8) Apesar de serem de estilos diferentes, as quatro conclusões apresentam um aspecto comum, essencial para um parágrafo desse tipo. Qual?

E.9) O que o autor quer dizer quando afirma que medidas como o sistema de cota são “atitudes demagógicas”?

E.10) A frase “está relegada a uma minoria que, incrivelmente, ainda se interessam pela política futura do país” contém um erro quanto à norma culta da língua. Corrija-o e explique o porquê de estar errado.

GABARITO

E.2) “Porém, isso de nada adiantará se não se iniciar antes um processo de conscientização de massa, mostrando que o voto deve ser feito de forma responsável e consciente.”

E.3) “(...) não é justo que apenas uma parcela da população tenha acesso às universidades, e atitudes demagógicas como o sistema de cotas de nada servem se não houver um preparo anterior de cada aluno que deseja ingressar em um curso superior.”

E.4) a) A idéia de que o terrorismo é uma guerra insana, acima dos dois conceitos propostos pelo tema. b) Resposta pessoal

E.5) Apresentando uma solução utópica e deixando claro que ela é desse tipo. (ex.: “Por mais que seja utópico, o ideal seria fazer...”)

E.6) Ironia

E.7) A real democracia seria aquela que pressupõe direitos e deveres iguais para todos, o que, no caso do sistema eleitoral, seria obedecer a uma estrutura em a população como um todo aprendesse a realizar o ato de votar de forma consciente.

E.8) Respondem diretamente à pergunta do tema.

E.9) Ele demonstra que medidas desse tipo só servem para cativar a população, mas não são soluções práticas de fato, já que não avançam sobre a raiz do problema.

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E.10) No caso de “a minoria”, a concordância deve ser feita no singular, já que não há um termo posterior que tornaria essa concordância opcional. Assim, o correto seria dizer “está relegada a uma minoria que, incrivelmente, ainda se interessa pela política futura do país.

Referências

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