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Pelotas, RS 2008 ISSN 1806-9193 Dezembro, 2008Características do cultivo
de pêssegos da região de
Pelotas-RS, relacionadas
à disponibilidade de água
para as plantas
Carlos Reisser Júnior
Luis Carlos Timm
Vitor Emanuel Quevedo Tavares
Editores técnicos
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1ª impressão 2008: 100 exemplares
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Reisser Júnior, Carlos
Caracteristicas do cultivo de pêssegos da região de Pelotas -RS, Relacionadas à disponibilidade de água para as plantas / Carlos Reisser Júnior, Luis Carlos Timm, Vitor Emanuel Quevedo Tavares. -- Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2008.
21 p. -- (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 240). ISSN 1516-8840
Pêssego - Prunus Persica - Manejo de água - Clima. I. Timm, Luis Carlos. II. Tavares, Vitor Emanuel Quevedo. III. Título. IV. Série.
Autor
Carlos Reisser Júnior
Eng. Agríc., Dr. em Fitotecnia
Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS (reisser@cpact.embrapa.br)
Luis Carlos Timm,
Eng. Agríc., Dr. em Agronomia
Prof. da UFPel, Pelotas,RS (lcartimm@yahoo. com.br)
Vitor Emanuel Quevedo Tavares.
Eng. Agríc., Dr. em Ciência e Tecnologia de Sementes
Prof. da UFPel, Pelotas,RS (veqtavares@yahoo. com.br)
Apresentação
O adequado conhecimento dos sistemas de produção
componentes da matriz produtiva é fator importante na busca de viabilidade econômica dos estabelecimentos rurais. Por outro lado, a disponibilização de novas tecnologias, por vezes, deixa os agricultores indecisos. Que tecnologias são mais adequadas uma vez que sua situação é única e diferenciada? Alguns fatores como localização geográfica, microclima,
topografia, qualidade do solo, disponibilidade de água, posição solar, culturas predominantes na região, assistência técnica, mercado, capacidade de investimento e conhecimentos de gestão, enfim, são diferenciais e estratégicos para a tomada de decisão.
O agricultor familiar faz parte dessa realidade e o conhecimento de seu sistema de produção é fundamental na definição de quais tecnologias adotar.
A região sul do Brasil é caracterizada pela agricultura
familiar onde o cultivo de flores, hortaliças, leite e frutas têm apresentado crescimento acentuado. A disponibilização de tecnologias apropriadas, o estímulo de políticas públicas e novas formas de comercialização são fatores que têm contribuído para os bons resultados destas atividades.
O sistema de produção de pêssego na região de Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, é típico da agricultura familiar e envolve um grande número de famílias o que lhe atribui características únicas e especiais.
Dentre os fatores componentes ou que influem sobre o sistema de produção de pêssego a disponibilidade ou oferta de água apresenta aspectos relevantes em determinados
períodos do ciclo produtivo da cultura. Desta forma, um melhor conhecimento dessas fases da cultura e sua interação com as necessidades de água pela planta, passam a ser estratégicos para que se obtenha resultados técnicos e econômicos satisfatórios.
Chefe-Geral
Embrapa Clima Temperado Waldyr Stumpf Junior
Sumário
Características do cultivo de pêssegos da região de
Pelotas-RS, relacionadas à disponibilidade de água
para as plantas ...
Planta ...
Clima ...
Conclusão ...
Referências ...
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Características do cultivo
de pêssegos da região de
Pelotas-RS, relacionadas
à disponibilidade de água
para as plantas
1. Planta
Carlos Reisser Júnior
Luis Carlos Timm
Vitor Emanuel Quevedo Tavares
O pessegueiro por ter de origem na China, onde o volume de precipitações ao longo do ano é variável e baixo, adquiriu características que se adaptam a este tipo de condição. A dormência é uma destas características e serve para escapar de épocas de frio e de baixa necessidade de água, que lhe são restritivas ao seu desenvolvimento. A falta de água, ou escassez durante parte da fase vegetativa, determina redução no consumo com pouca influência na produtividade, e durante a fase de crescimento lenta do fruto pode proporcionar melhor qualidade à fruta com aumento dos açúcares e adequada acidez. A redução do tamanho dos frutos relacionada com a baixa umidade no solo, não determina ausência de produção de frutos e, portanto não influi na preservação da espécie.
Ainda devido às condições climáticas da região de origem, o pessegueiro apresenta, bem marcados, os períodos onde a falta de água reduz a produtividade de forma significativa. Uma das fases importantes onde a água é fundamental para a garantia de
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Características do cultivo de pêssegos da região de Pelotas-RS, relacionadas à disponibilidade de água para as plantas
quantidade de células que definirão os seus frutos é o período de saída da dormência, onde ocorre a polinização das flores. Nessa fase a falta de água pode reduzir o número de células bem como aumentar o abortamento de flores. Outra fase onde a água é fundamental para o aumento do tamanho dos frutos é a de crescimento rápido dos frutos, que ocorre duas a três semanas antes da maturação dos frutos. Nesta fase o tamanho dos frutos é diretamente proporcional a disponibilidade de água no solo. A terceira fase importante é após a colheita, quando a planta armazena energia para o próximo ciclo produtivo. Neste período, a planta necessita absorver nutrientes do solo e a disponibilidade de água é fator fundamental para isto.
O pessegueiro apresenta um sistema radicular que inicialmente é pivotante, porém se ramifica e se desenvolve lateralmente com o crescimento da planta. As raízes são extensas e pouco profundas, localizando-se mais de 90% nos primeiros 50 cm de profundidade do solo. A textura do solo é uma das características importantes para um bom desenvolvimento das raízes, pois determina a capacidade de aeração do solo, da qual as raízes são dependentes para seu crescimento.
O sistema radicular da cultura é que define a quantidade de água disponível para a planta transpirar. A capacidade de armazenamento de água nos solos da região de Pelotas é aproximadamente 40, 50 mm (Figura 1), equivalente a
aproximadamente a 40, 50 L/m2. Uma planta com copa de 3
metros de diâmetro tem disponível aproximadamente 280 L para sua transpiração quando este solo encontra-se em sua capacidade máxima.
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Figura 1. Características físico-hídricas de diferentes solos cultivados com pessegueiros da região produtora de pêssegos de Pelotas-RS. CC- Capacidade de campo (%), PM- Ponto de murcha (%), CAD- Capacidade de água disponível (mm). Embrapa Clima Temperado, Pelotas-RS, 2007.
Uma outra característica do pessegueiro é sua rápida
hidratação. Alguns trabalhos mostram que após alguns dias sem água, mesmo apresentando sintomas de deficiência, após a irrigação a planta retorna aos mesmos níveis de hidratação de quando estava sem falta de água. Isso faz com que a falta de água durante alguns dias, em determinadas fases do ciclo vegetativo, não influa negativamente em sua condição, não sendo, portanto, fator permanente de prejuízo fisiológico. O pessegueiro responde ao estresse hídrico com redução de seu crescimento, sendo este o primeiro indicativo de deficiência hídrica. É possível de se observar que plantas submetidas à restrição hídrica reduzem, em curto prazo, o crescimento de brotações, assim como o diâmetro de seu tronco a mais longo prazo. Em condições de estresse extremo o enrolamento e queda das folhas e, posteriormente, a morte, também podem ocorrer (Figura 2).
O tamanho dos frutos também é afetado pela falta de água, principalmente quando esta ocorre no período de rápido crescimento dos frutos (Figura 3). Outro indicador de estresse hídrico é o funcionamento estomático, que aumenta a
resistência a perda de água à medida que esta é reduzida em seus tecidos. A redução de água no solo também pode ser verificada através do potencial de água na folha, medido na primeira hora da manhã, ou também feita com tensiômetros, pois existe boa relação entre estas determinações.
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Foto: F
abiano Simões
Na região de Pelotas, devido ao clima, as plantas das cultivares precoces, que possuem um menor período entre a floração e a colheita, são as menos afetadas por deficiências hídricas, visto que normalmente, o excesso de água vindo do período de inverno é suficiente para abastecer a planta. Essas cultivares apresentam menor variação em produtividade, porém com um potencial produtivo menor (Figura 4). Nessa região, que apresenta uma elevada probabilidade de ocorrência de déficit hídrico no solo, no verão, não foi avaliada a influência da irrigação após a colheita.
Figura 2. Níveis de desfolhamento devido à restrição hídrica de plantas de pessegueiro cultivar Maciel. Pelotas, 2007.
Figura 3. Foto da variação do tamanho dos frutos de pessegueiro conforme a disponibilidade hídrica ao longo do ciclo da cultura (T1 mais água, T4 menos água). Embrapa Clima Temperado, 2006.
Foto: F
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Em regiões onde as precipitações são escassas durante o ciclo vegetativodo pessegueiro, é recomendado que o manejo da cultura seja feito com restrição de água em algumas fases da cultura visando melhora da qualidade e economia de água. Durante a fase I e II de crescimento do fruto, é possível diminuir em até 65% a evapotranspiração máxima da cultura,
equivalendo a uma economia de água de 1.600 m3 ha-1.
Uma outra maneira de se manejar a água é manter o nível de umidade do solo entre de 50% e 75% da água disponível (CAD) que é calculada através da diferença entre a capacidade de campo (CC) e o ponto de murcha permanente (PM) do solo, nas fases menos sensíveis da cultura, e acima de 75% da CAD durante as fases mais sensíveis.
Figura 4. Gráfico em Blox Plot da produção média (Kg/ planta) de 10 variedades de pessegueiro de ciclos precoce, médio e tardio, da coleção de plantas da Embrapa Clima Temperado. Pelotas, 2005.
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Os tensiômetros também podem ser usados para manejo da água, visto que, por possuírem boa relação com o potencial de base da água na folha, permitem manejar a água durante a fase II do crescimento do fruto, com potenciais em torno de -0,08 MPa.
Nos trabalhos realizados com a cultura, verificou-se que nem sempre há um aumento de produtividade com a maior disponibilidade de umidade no solo, ao contrário do crescimento de ramos e do tamanho dos frutos. O aumento da produtividade do pessegueiro não tem a mesma relação com disponibilidade de água, que as outras duas variáveis estudadas. Esta resposta da planta foi verificada em trabalhos realizados em plantas adultas, por somente um ano, não permitindo extrapolar a resposta da produtividade da planta irrigada, ao longo de vários ciclos de produção (Figura 5).
Figura 5. Produção (Kg) e número de frutos por planta da cultivar Maciel, mantidas sob restrição hídrica baseada na porcentagem da evapotranspiração máxima da cultura medida em lisímetro de pesagem. Pelotas, 2006.
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2. Clima
A região de Pelotas localizada, entre os paralelos 23°30’ e 33°45’, faz parte, segundo a classificação de Köppen, da região do Brasil que é de clima mesotérmico úmido (Cf), e temperado (Cfb). Esta classificação determina que a temperatura média do mês mais frio situe-se entre 18 e –3°C (C), que no mês mais seco a precipitação seja maior do que 60 mm (Cf) e que, a temperatura média do ar do mês mais quente seja inferior a 22º (Cfb).
O clima predominante Cfb é encontrado nos principais relevos, constituídos de planícies, planaltos e serras com escarpas, depressões e patamares. Apesar da região de Pelotas apresentar elevada probabilidade de ocorrência de deficiência hídrica durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, no restante do ano esta é bastante reduzida, principalmente durante os meses de inverno (Figura 9). É também, comum a ocorrência de geadas e de granizo.
Nesta mesma região, entre 1980 e 1995, conforme Viegas et al (1997), a média dos volumes totais anuais precipitados foi de 1568 mm com desvio padrão de 287 mm e coeficiente de variação de 18,31 % da distribuição interanual.
Na Figura 6 pode-se observar que no Rio Grande do Sul a zona sul do Estado é a que apresenta os menores volumes anuais de chuva e que na norte é onde ocorrem os maiores.
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Figura 6. Média de c
huva anual acumulada durante o período de 1
970 a 20
00 no Estado do Rio
Grande do Sul (F
onte: Embrapa Clima
Temperado. www
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Ao longo do ano a variação da precipitação é pequena e os meses de menor precipitação são novembro e dezembro (Figura7).
Figura7. Variação mensal média da chuva medida na Estação Experimental da Embrapa Clima Temperado/UFPel, média dos anos de 1893 a 2006. Pelotas, 2006.
A variação mensal da evapotranspiração potencial (Figura 8) juntamente com a distribuição mensal da chuva e parâmetros de solo, é que determinam a probabilidade de ocorrência de déficits hídricos. O sul do Estado é uma das áreas onde os maiores déficits são encontrados. Próximo de Pelotas, por exemplo, a probabilidade de ocorrência pode chegar quase a 60% (Figura 9).
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Figura 9. Probabilidade de ocorrência de déficit hídrico maior do que 20mm em solos que armazenam 50mm, 75mm e 100mm ao longo do ano, na Embrapa Clima Temperado, período de 1893 a 2005.
Figura 8. Variação da evapotranspiração potencial média,
medida em tanque classe A, na região de Pelotas, no período de 1957-1984. Fonte: Rio Grande do Sul, 1994
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Na zona sul do Estado do Rio Grande do Sul, de acordo com Motta et al. (1971), considerando-se a normal climatológica de 1931 a 1960, é onde ocorrem os maiores déficits hídricos no solo deste Estado que, em solos que armazenam 100 mm de água, ocorre de novembro a fevereiro. Fora este período, a ocorrência de déficits de água no solo é reduzida. O município de Pelotas, por se inserir nesta região, também apresenta elevadas probabilidades de ocorrência deste fenômeno, apesar de ocorrerem maiores precipitações conforme os mesmos autores.
Para Berlato et al. (2006) na Região sul do Rio Grande do Sul a probabilidade de que as precipitações sejam maiores do que os valores de evapotranspiração de referência é muito baixa durante o período entre metade de novembro e final de janeiro, especialmente no leste, com probabilidades em torno de 25% podendo chegar a 13% no terceiro decênio de dezembro.
Para Viegas Filho et al. (1997), a probabilidade de ocorrência de déficit hídrico em solos com capacidade de armazenamento de 50 mm, pode chegar próximo a 90% na terceira dezena do mês de dezembro, levando-se em conta os dados climáticos coletados entre 1980 e 1995. Já em estudos com dados até 2005, verifica-se que a probabilidade de ocorrência de déficit hídrico, maior do que 20mm, em solos que armazenam 100 mm, é próximo a 50% nos meses de dezembro e janeiro. Nos meses de junho a agosto esta probabilidade é nula (Figura 9).
3. Conclusão
A conjunção dos fatores climáticos que ocorrem na zona sul do Rio Grande do Sul, aliado às características das plantas de pessegueiro, indicam que as ações de investimento em técnicas de irrigação necessitam ser economicamente avaliadas pois, apesar de redução dos riscos de produção, este tipo de investimento pode reduzir a economicidade do sistema tornando-a muito dependente do tipo de comercialização.
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Referências
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