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Proc.º n.º R. Co. 20/2012 SJC-CT

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Proc.º n.º R. Co. 20/2012 SJC-CT

Sumário: Designação dos membros dos órgãos de fiscalização das

sociedades comerciais. Consentimento expresso dos revisores oficiais de

contas. Deliberação social. Eventuais vícios desta.

Qualificação do

correspondente registo.

Recorrente: Teresa …., solicitadora.

Recorrida: Conservatória do Registo Comercial de …..

I – Relatório

1 – Em 26 de março de 2012, a coberto da ap. n.º .., foi requerido na

conservatória do registo comercial de ….. um registo de designação do fiscal único e do

seu suplente para o triénio de 2011/2013, com respeito à sociedade comercial «Polis …..

– Sociedade para a Requalificação e Valorização ….., S.A».

Para instrução do pedido foi apresentada uma ata da reunião da assembleia geral

da referida sociedade, realizada em 24 de Janeiro de 2012, bem como dois documentos

escritos dos quais constam as declarações de aceitação dos cargos prestadas pelos

revisores oficiais de contas, em conformidade com o disposto no n.º 7 do artigo 50.º do

Decreto-Lei n.º 487/99

1

, de 16 de Novembro, que aprovou o Estatuto da Ordem dos

Revisores Oficiais de Contas.

2 – O registo peticionado foi efetuado com o caráter de provisório por dúvidas. Do

correspondente despacho de qualificação consta como causa subjacente à motivação

minguante o facto de se pretender uma nomeação dos órgãos de fiscalização para o

triénio de 2011/2013, o que equivale a dizer que se pretende uma nomeação cujo início

remonta a data anterior à da deliberação social, sendo que o n.º 3 do artigo 391.º do

CSC prescreve que se conta como completo o ano civil em que os administradores forem

designados.

3 – Com vista à refutação das razões aduzidas no despacho de qualificação foi

interposto o presente recurso hierárquico (ap. …/20120516), alegando-se na respetiva

petição que a deliberação social tem precisamente como objetivo fazer retroagir os seus

1 Este diploma foi alterado pelo Decreto-Lei 224/2008, de 20 de Novembro, que procedeu à sua republicação.

(2)

efeitos ao início do ano de 2011, o que foi expressamente aceite pelos nomeados, sendo

que não existe qualquer prescrição legal que tal impeça.

Do disposto no n.º 3 do artigo 391.º do CSC apenas se pode extrair que as

nomeações são feitas por anos civis completos e que se pretende evitar que as mesmas

sejam feitas ou contadas por frações de anos.

Solicita, por isso, que seja concedido provimento ao recurso, ordenando-se à

conservatória que proceda à conversão do registo referente à ap. … de 26 de março de

2012.

4 – Diverso é, porém, o entendimento do senhor conservador que vem, ao abrigo

do disposto no n.º 1 do artigo 101.º-B do CRC, sustentar o despacho em crise,

esgrimindo os argumentos que aqui damos por integralmente reproduzidos sem prejuízo

de salientarmos que nele se invoca o n.º 4 (em vez do n.º 3 referido no despacho ora

impugnado) do artigo 391.º do CSC respeitante à nomeação de administradores (não dos

membros dos órgãos de fiscalização, que é realmente o facto que está em tabela, é bom

que se frise já) que estipula que os administradores se mantêm em funções até nova

designação, o que faz pressupor que a nova designação se destina a produzir efeitos

apenas para futuro.

Ora, tendo em conta a finalidade do registo comercial importa saber, e dar a

conhecer a terceiros, em cada momento quem representa a sociedade, pelo que os

efeitos da nomeação não podem valer retroativamente, nem pode estar sujeita a critérios

do acaso, oportunidade ou conveniência.

Invoca, ex novo, o artigo 376.º do CSC – relativo à assembleia geral anual – para

dele extrair a conclusão de que os acionistas devem reunir no prazo de três meses a

contar da data do encerramento do exercício para procederem às eleições que sejam da

sua competência, sob pena de os infratores sofrerem as cominações previstas na lei.

5 – A situação jurídica acolhida nas tábuas com pertinência para a resolução da

matéria vertida nos autos é a seguinte:

Insc. n.º 2 – Ap…./20090203 – Designação de membros de órgãos sociais para o

trénio de 2008/2010.

(…)

Fiscal único: Filipe, ….., SROC, representada por José ….. – ROC;

Suplente: Patrício, …., SROC, representada por Jorge … – ROC.

Data da deliberação:2008-12-15.

(3)

Insc. n.º 6 – Ap. ../20120326 – Provisório por dúvidas – Designação de membros

de órgãos sociais.

Fiscal único: Patrício, ….., SROC.

Suplente: Carlos ……, ROC.

Data da deliberação: 24 de Janeiro de 2012.

Esta designação tem como particularidade o facto de o fiscal suplente no anterior

triénio passar agora a fiscal único efetivo, sendo representado pelo ROC que

representava o anterior fiscal único efetivo – SROC, isto é, por José …..

II – Saneamento

1 – Descrito sumariamente o quadro factual relevante e a controvérsia que opõe

recorrente e recorrido, e verificando-se que o processo é o próprio, as partes têm

legitimidade, o recurso foi tempestivamente interposto (a notificação foi efetuada em 16

de abril e recurso anotado em 16 de maio) e que inexistem questões prévias ou

prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito do presente recurso hierárquico,

cumpre apreciar.

2 – O objeto do recurso prende-se precisamente com a possibilidade, ou não, de

designação dos membros dos órgãos de fiscalização, cujo regime jurídico encontra

consagração legal nos artigos 413.º e seguintes do Código das Sociedades Comerciais

(doravante CSC), para um triénio (2011/2013) cujo início é reportado a momento

anterior ao da própria assembleia geral (24.01.2012) em que se deliberou, por

unanimidade, a designação agora posta em crise.

Curiosamente, porém, nem a conservatória centrou a questão no âmbito devido –

que a tratou como se estivesse perante uma nomeação dos membros dos órgãos de

administração – nem a recorrente (sugestionada, talvez, pelo teor do despacho a

impugnar) conseguiu tal desiderato, pois que se limitou a contestar a interpretação do

preceito legal mencionado no despacho de qualificação (e posteriormente corroborado no

despacho de manutenção) – artigo 391.º do CSC, relativo à designação de

administradores – não a sua errónea convocação.

III – Pronúncia

Em face do que precede, a posição deste Conselho vai expressa na seguinte

Deliberação

(4)

I – A deliberação da assembleia geral consubstanciada na ata

2

apresentada

para titular o registo de designação dos membros do órgão de fiscalização não

2 Da análise do teor da ata subjacente ao registo decorre que o Estado e os Municípios de V….., de E… e C…, detentores da integralidade do capital social da sociedade comercial «Polis …. – Sociedade para a Requalificação e Valorização …., S.A.», se reuniram em assembleia geral no dia 24 de Janeiro de 2012, ao abrigo do disposto no artigo 54.º do CSC, e deliberaram, inter alia, sobre a eleição dos membros dos órgãos de fiscalização para o triénio correspondente a 2011/2013, por unanimidade.

Muito embora se desconheça o contexto real que originou a situação descrita, o certo é que não se afigura muito curial que a deliberação seja tomada em 2012 e que se pretenda que a mesma produza efeitos a partir de 1 de Janeiro de 2011. No entanto, os membros dos órgãos de fiscalização podem até ter exercido, de facto, algumas das funções previstas no artigo 421.º do CSC, ou exercer agora as que ainda seja possível, já que eles aceitaram exercer o cargo com efeitos a partir do início do ano de 2011 e aquela vicissitude não interfere com a qualificação do registo.

Acresce, ainda, que as contas apresentadas e aprovadas na referida assembleia geral dizem respeito ao ano de 2010. Por conseguinte, poder-se-á inferir daqui que as contas respeitantes ao ano de 2011 ainda não terão sido prestadas, podendo, eventualmente, estar dependentes da concretização desta designação.

Por outro lado, a violação dos deveres da administração, designadamente os de convocação tempestiva da assembleia geral (artigo 376.º do CSC), não impede a convocação posterior da assembleia, apenas sujeita os responsáveis a sanções, incluindo responsabilidade civil (artigo 72.º do CSC). Neste sentido, veja-se MENEZES CORDEIRO, in Código das Sociedades Comerciais Anotado, 2009, pág. 933.

É que, ao contrário do que defende o recorrido, que atenta exclusivamente na administração e nos preceitos legais a esta atinentes e nunca na fiscalização como se do mesmo órgão se tratasse e não tivesse regulamentação própria (no que é secundado pela recorrente especialmente no que respeita à citação das normas legais aplicáveis), as funções exercidas pelo conselho fiscal ou pelo fiscal único diferem substancialmente das funções exercidas pelo conselho de administração ou pelo administrador único, pois estes representam e vinculam a sociedade (artigo 408.º do CSC) e, sendo assim, é muito importante que em cada preciso momento se saiba com a máxima exatidão possível quem detém tais poderes representativos e vinculativos, tendo em conta que o registo comercial se destina a dar publicidade à situação jurídica das entidades elencadas no artigo 1.º do CRC, tendo em vista a segurança do comércio jurídico – cfr., também, o prescrito nos artigos 405.º e segs. do CSC.

Diversamente, à fiscalização, cuja estrutura e composição quantitativa e qualitativa se encontra prevista nos artigos 413.º e 414.º do CSC, incumbem os poderes e deveres que se encontram elencados nos artigos 420.º e segs. do CSC.

A designação e substituição do fiscal único e do suplente, que têm de ser revisores oficiais de contas (ROC) ou sociedade de revisores oficiais de contas, não podendo ser acionistas, ocorre nos termos previstos no artigo 415.º e segs. do CSC, competindo-lhe, por força do disposto no artigo 420.º, n.º 1, entre muitas outras atribuições, fiscalizar a administração da sociedade, verificar a regularidade dos livros, registos contabilísticos e documentos que lhe servem de suporte, a extensão da caixa e as existências, a exatidão dos documentos de prestação de contas, elaborar anualmente relatório sobre a sua ação fiscalizadora e dar parecer sobre o relatório, contas e propostas apresentadas pela administração.

De salientar que, sem prejuízo designadamente do prescrito no n.º 2 do artigo 82.º do CSC, a função deste é essencialmente exercida, digamos, num plano interno da sociedade por contraposição à função da administração cuja atuação se encontra vocacionada para interagir com terceiros, vinculando a sociedade pelos negócios jurídicos que celebre perante eles.

(5)

padece de qualquer vício, pelo que é insuscetível de afetar negativamente a

qualificação do referido registo, em face do que se encontra preceituado no

artigo 56.º do Código das Sociedades Comerciais

3

e no artigo 47.º do Código do

Registo Comercial.

II – A validade da designação dos membros dos órgãos de fiscalização bem

como do correspondente registo nas conservatórias competentes está

dependente do consentimento expresso prestado pelos respetivos revisores

oficiais de contas em documento escrito, por força do prescrito no n.º 7 do

artigo 50.º do Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de novembro, requisito que se

verificou no caso concreto

4

.

Por outro lado, verifica-se que o legislador procedeu ao enquadramento sistemático da questão nos seguintes termos: criou um conjunto de normas próprias e distintas relativas à administração e um conjunto de normas igualmente próprias e distintas relativas à fiscalização.

Quando pretendeu que alguma norma respeitante à administração fosse aplicável à fiscalização procedeu expressamente às remissões consideradas pertinentes (artigos aplicáveis por remissão: 395.º, n.º 3, 396.º, 399.º, n.º 1, 408.º, 409.º, etc.).

Por força da previsão do artigo 391.º, n.º 4, do CSC, privativo da designação dos administradores, quando os administradores são nomeados por prazo certo, mantêm-se, como regra, em funções até nova designação.

O que bem se compreende, tendo em conta as funções de representatividade e de vinculação da sociedade já assinaladas.

Pois bem, em relação à fiscalização o legislador (que se presume ter consagrado as soluções mais acertadas e que soube exprimir o seu pensamento em termos adequados – n.º 3 do artigo 9.º do Código Civil), que teve o cuidado de regulamentar os termos da designação e da substituição dos membros fiscalizadores não consagrou no artigo 415.º do CSC idêntica norma à do n.º 4 do artigo 391.º, nem procedeu a qualquer remissão, por uma singela razão que está relacionada, como é bom de ver, com a especificidade própria das funções exercidas por cada um daqueles órgãos, não havendo, assim, qualquer lacuna concernente à designação da fiscalização a colmatar por aplicação analógica (se, por acaso, essa intenção perpassou pelo espírito do recorrido).

3 A deliberação social que designou os membros dos órgãos da fiscalização, segundo cremos, não padece de qualquer nulidade, sabendo-se que, em regra, a mera anulabilidade não fere o registo de qualquer provisoriedade.

Com efeito, são nulas as deliberações sociais tomadas com inobservância do prescrito no artigo 56.º do CSC e não vislumbramos qualquer razão, nem de índole procedimental nem de substância, que nos leve a defender o enquadramento da deliberação em causa na facti species da aludida norma – cfr., sobre o ponto, entre muitos outros, MENEZES CORDEIRO, in Código das Sociedades Comerciais Anotado, 2009, págs. 220 e segs., bem como PINTO FURTADO, in Deliberações dos Sócios, 1993, págs. 281 e segs.

4 Por força do disposto no n.º 7 do artigo 50.º do Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de novembro, que aprovou o Estatuto da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (ROC) e das Sociedades de Revisores Oficiais de Contas (SROC), a validade da designação dos membros dos órgãos de fiscalização bem como do

(6)

Em consonância com o exposto, é entendimento deste Conselho que o presente

recurso hierárquico merece provimento.

Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 17 de dezembro de

2013.

Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora.

Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 19.12.2012.

correspondente registo nas conservatórias competentes está dependente do consentimento expresso prestado pelos nomeados em documento escrito.

No caso vertente, além da aludida ata, o pedido de registo em causa foi também instruído com as imprescindíveis declarações de aceitação proferidas pelos Revisores Oficiais de Contas (ROC) ora designados, reportadas ao triénio de 2011/2013, donde se poderá extrair a conclusão de que o período de exercício de funções dos ROC fica balizado pelo prazo previsto para a nomeação (três anos segundo os estatutos desta sociedade) e pelo prazo referido no documento de consentimento à nomeação (que, em princípio, serão coincidentes), mas nunca superior ao fixado estatutariamente nem ao período aceite pelos nomeados, designadamente, por virtude da tardia deliberação da assembleia geral da sociedade, sob pena de se frustrar o escopo que a aplicação do referido artigo 50.º pretende acautelar, tornando-o de todo inoperante.

Sublinhamos, por fim, que não se ignora, nem se pretende escamotear, a real existência de atraso, mas talvez o mesmo seja proveniente do facto, assumido claramente na ata, de ainda «não estarem estabilizadas as competências determinadas pela publicação da nova Lei Orgânica do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território», sendo que tal facto não determina, per si, uma qualificação desfavorável do pedido de registo.

De qualquer modo, por força do prescrito no artigo 10.º, alínea i), do RRC, que determina que, como menção especial, conste da inscrição de designação dos membros dos órgãos de fiscalização a data da deliberação, os efeitos retroativos encontram-se, assim, patenteados no registo peticionado, que deverá agora ser convertido em definitivo e com a indicação do triénio em causa.

Referências

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