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Agricultura Familiar e Políticas Públicas: um estudo de caso comparado em Canápolis e Coromandel, MG. 1

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Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2009,

Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

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AGRICULTURA FAMILIAR E POLÍTICAS PÚBLICAS: UM ESTUDO DE CASO

COMPARADO EM CANÁPOLIS E COROMANDEL, MG.

canasc38@yahoo.com.br

APRESENTACAO ORAL-Políticas Sociais para o Campo

CARLOS ALVES DO NASCIMENTO1; SAMANTHA REZENDE MENDES2;

JUCYENE DAS GRAÇAS CARDOSO3; IRLENE JOSÉ GONÇALVES SOUTO4.

1,2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU, UBERLÂNDIA - MG - BRASIL; 3,4.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLÂNDIA - MG - BRASIL.

Agricultura Familiar e Políticas Públicas: um estudo de caso comparado

em Canápolis e Coromandel, MG.

1

Grupo de Pesquisa: Políticas Sociais para o Campo

RESUMO

O artigo objetiva apresentar algumas conclusões de uma pesquisa de campo realizada com agricultores familiares dos municípios de Canápolis e Coromandel, pertencentes ao Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (TMAP), estado de Minas Gerais. O artigo defende que a agricultura familiar pesquisada encontra-se fragilizada em importantes aspectos, configurando-se uma possível tendência ao abandono das atividades agrícolas. As conclusões reforçam os argumentos, de outras pesquisas, sobre a importância imprescindível do apoio de política públicas, especialmente para os pequenos e mais fragilizados agricultores familiares.

Palavras-chave: agricultura familiar, modernização, pluriatividade, políticas públicas.

Family Farming and Public Policy: a compared case study in Canápolis

and Coromandel, MG.

ABSTRACT

The paper aims to present some conclusions of a field research made with family farmers of Canápolis and Coromandel Counties, pertaining to Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (TMAP), state of Minas Gerais. The paper support that the family farmers surveyed are weakened in important aspects, with a possible tendency to the desertion of the agricultural activities. The findings reinforce the arguments of other research on the vital importance of public policy support, especially for smaller and more vulnerable family farmers.

1

Os autores agradecem ao CNPq (Processo Nr. 479430/2007-1) e à FAPEMIG (Convênio PPM-00388-08) por terem financiado a pesquisa de campo da qual resultou este artigo.

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Key words: farm family, modernization, pluriactivity, public policy. 1. INTRODUÇÃO

O aprofundamento das práticas capitalistas na agricultura brasileira, entre outras transformações, provocou importantes modificações nas relações sociais de produção, com fortes impactos sobre o emprego rural. Vários estudos têm mostrado que nas áreas rurais das macrorregiões do Brasil, especialmente naquelas em que ocorreu de forma mais intensa a modernização da agricultura (Centro-Sul), vem se registrando uma tendência de redução da População Economicamente Ativa – PEA agrícola. Em paralelo a essa tendência, uma outra, em sentido contrário, também está sendo observada: o crescimento da PEA rural não agrícola (CAMPANHOLA e GRAZIANO da SILVA, 2000). No bojo desse processo as unidades de produtores familiares agropecuárias por conta-própria também sofrem transformações no sentido de levá-las a se converter progressivamente em famílias (rurais ou urbanas) não agrícolas (NASCIMENTO, 2009).

Todas essas transformações no mundo do trabalho da população rural também podem ser verificadas no estado de Minas Gerais, particularmente no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (TMAP), região de cerrado que incorporou o atual padrão tecnológico hegemônico da agricultura a partir da década de 1970 – região onde se encontram os dois municípios que nos serviram de estudo de caso. Introduziu-se nessa mesorregião não somente um novo padrão tecnológico como também novas culturas, que requerem intensa força de trabalho, e que até então eram pouco praticadas na região. Num primeiro momento (décadas de 1970 e 1980), ocorreu uma elevação do emprego assalariado em detrimento de outras formas de ocupação. Entretanto, à medida que novas tecnologias passaram a ser introduzidas nessas culturas, particularmente a mecanização, notadamente na fase da colheita das safras, o resultado acabou sendo negativo para o emprego rural (GARLIPP, 1999; ORTEGA et al., 2004).

Além de afetar os trabalhadores assalariados especializados, importa destacar – para os propósitos do presente texto – que também atinge os pequenos agricultores familiares por conta-própria da região, que complementam sua renda como trabalhadores temporários em tempo parcial, especialmente na colheita do café. Sem essa fonte de renda extra, suas propriedades precisariam ser superexploradas de modo a compensar a perda daquela outra fonte. As alternativas – seja através da pluriatividade (conciliação de atividades agrícolas com atividades não agrícolas), seja, no limite, na conversão da família agrícola em família não agrícola –, que vêm sendo buscadas por esse segmento da agricultura familiar regional, constitui-se em nosso objeto de estudo.

Nesses termos, as pesquisas de campo realizadas nos municípios de Canápolis e Coromandel tiveram como propósito central entender as razões que fazem com que um determinado conjunto de unidades familiares “resistam” aos efeitos da modernização da agricultura, que tem impacto negativo sobre o emprego agrícola e sobre os pequenos produtores familiares. Adicionalmente, procurou-se identificar se a modernização do setor gera uma possível tendência de a família agrícola vir a se tornar família pluriativa ou família não agrícola. Assim como também analisar se a pluriatividade constitui-se em uma

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estratégia da família para manter-se no meio rural e na atividade agrícola ou se ela decorre de uma necessidade, em razão da ausência de alternativas (apoio estatal) para agricultura, configurando-se ou não como um passo transitório para as famílias se converterem de vez em famílias não agrícolas.

As hipóteses de trabalho foram: i) a modernização agrícola (exigências de uso intensivo de insumos modernos e caros, etc.) pode estar forçando muitos pequenos produtores familiares a abandonar suas atividades agrícolas; e ii) Programas oficiais como, por exemplo, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, podem estar servindo como fatores atenuantes da hipótese anterior.

O presente artigo está estruturado em mais três seções, além desta introdução. Na primeira apresenta-se a evolução dos diferentes tipos de famílias rurais mineiras nos períodos de 1992 a 1999 e 2001 a 2007, com destaque para as famílias de conta-próprias agrícolas e pluriativas. Na segunda seção, apresentam-se os resultados dos dois estudos de caso referentes às pesquisas de campo em Canápolis e Coromandel. Por fim, na última seção são tecidas as considerações finais.

2. A EVOLUÇÃO DA PLURIATIVIDADE E DE OUTROS TIPOS FAMILIARES NO MEIO RURAL MINEIRO

Os tipos de famílias que compõem o universo das famílias rurais mineiras que serão analisadas são classificados segundo a posição na ocupação dos membros da família (empregador, conta-própria, assalariado, não ocupado)2 e, em seguida, pelo ramo de atividade em que estão inseridos (agrícola, não agrícola, pluriativo)3. Essa tipologia de famílias é a mesma adotada pelo Projeto Rurbano (IE/Unicamp). Construiu-se essa tipologia a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

As Tabela 1 e 2 mostram a distribuição e evolução do contingente de famílias residentes nas áreas não metropolitanas rurais agropecuárias4 no estado de Minas Gerais,

2 Se na família houver algum membro empregador, tal família é classificada como empregadora. Não havendo nenhum empregador, mas pelo menos um própria, a família é compreendida como de conta-própria. Na ausência de empregador e de conta-própria, a família será considerada de assalariados caso algum membro esteja ocupado na semana de referência da PNAD como tal. Não havendo nenhum ocupado na família, a mesma é considerada como família de não ocupados.

3 Se, por exemplo, numa família de conta-próprias houver pelo menos um membro ocupado na agricultura e nenhum outro fora da agricultura, então essa família é classificada como de conta-própria agrícola. Caso a referida família de conta-própria tivesse pelo menos um membro na atividade agrícola e pelo menos um outro ocupado em outro setor, essa seria uma família de própria pluriativa – é considerado família de conta-própria pluriativa “tradicional” no caso de combinação de um conta-conta-própria agrícola e um assalariado agrícola na mesma família (não consideramos pluriativa “tradicional” a família de assalariados que tem dois, ou mais, membros assalariados agrícolas). Se o caso fosse de pelo menos um membro ocupado fora da agricultura e nenhum outro na agricultura, essa seria uma família de conta-própria não agrícola. As mesmas combinações podem ser repetidas para as famílias de assalariados e de empregadores.

4 As áreas censitárias consideradas rurais pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD –, compreendem cinco tipos: 1) área rural de extensão urbana; 2) aglomerado rural (povoado); 3) aglomerado rural núcleo; 4) aglomerado rural (outros); 5) área rural exclusive aglomerado rural. O rural agropecuário,

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nos períodos de, respectivamente, 1992 a 1999 e 2001 a 2007. Limitar-nos-emos a analisar de forma mais detida as famílias de conta-próprias e as famílias de assalariados, uma vez que ambas, tanto em 1999 quanto em 2007, abrigavam mais de 80,0% do total das famílias mineiras em análise. Somente quando necessário, serão feitos comentários sobre os demais tipos familiares, apenas no intuito de reforçar argumentos sobre aqueles dois tipos familiares mais expressivos.

Pode-se ver nas Tabelas 1 e 2 que o contingente total de famílias cresceu significativamente5, em ambos os períodos analisados. As semelhanças entre essas duas Tabelas, no entanto, param aí. Observe-se que no período 1992 a 1999 (Tabela 1) o crescimento significativo do total das famílias rurais mineiras em análise foi impulsionado pelo crescimento também significativo das famílias de assalariados (2,0%a.a.) – especialmente, nesse caso, as famílias de assalariados pluriativas (4,0%a.a.) e as famílias de assalariados não agrícolas (6,5%a.a.) – e das famílias de não ocupados (8,0%a.a.). A Tabela 1 mostra ainda que o conjunto das famílias de conta-próprias apresentou queda significativa (-2,2%a.a.), decorrente notadamente da redução também significativa do número das famílias agrícolas (-3,2%a.a.).

A Tabela 2, por sua vez, parece sugerir que, no período 2001 a 2007, o crescimento significativo (0,9%a.a.) do total das famílias rurais mineiras em análise se deveu, diferentemente do período anterior, ao crescimento do número de famílias de conta-próprias (1,8%a.a.), sendo que, nesse caso, decorrente do crescimento significativo das famílias de conta-próprias pluriativas (1,8%a.a.) e das famílias de conta-próprias não agrícolas (8,4%a.a.). Não é de se desconsiderar também a manutenção do forte crescimento significativo das famílias de assalariados não agrícolas (6,2%a.a.), entre 2001 e 2007.

No que respeita à questão que nos importa discutir nesta seção – isto é, a pluriatividade das famílias de conta-próprias rurais mineiras (agricultura familiar mineira) – as Tabelas 1 e 2 registram informações que confirmam as análises de Nascimento (2005, 2006, 2007, 2008). Ou seja, confirmam as observações desse autor, as quais sustentam que a pluriatividade tende a declinar ou a não crescer em decorrência da existência de uma tendência de abandono das atividades agrícolas “tradicionais” – no caso de ausência ou insuficiência de políticas públicas para contrarrestar tal tendência – por parte de uma fração do conjunto das unidades agricultoras familiares.

A Tabela 1 mostra que nos anos 1990 enquanto as famílias de conta-próprias agrícolas declinaram significativamente a uma taxa média de 3,2%a.a., as famílias de conta-próprias pluriativas permaneceram estáveis (no sentido estatístico). Dessa observação podemos fazer duas considerações: i) as famílias de conta-próprias pluriativas

portanto, é constituído pela soma dos números 3 e 5. A idéia de separar o rural agropecuário é tentar reconstruir os espaços considerados predominantemente agrícolas que são por excelência espaços apropriados por um único dono (público ou privado).

5 O qualificativo significativo concerne ao teste estatístico feito para verificar se a evolução dos dados (número de famílias) apresenta alguma tendência, de crescimento ou de queda. Dessa forma, sempre que for usado doravante esse qualificativo (representado pelos asteriscos que acompanham algumas taxas nas Tabelas) a intenção será a de mostrar que os dados apresentam uma certa tendência estatística, de modo que nos casos em que as taxas de crescimento das Tabelas não estiverem acompanhadas de asteriscos significará que as mesmas não são estatisticamente significativas e, portanto, não representam nenhuma tendência – o que poderá ser traduzido, por conseguinte, como uma estabilidade na evolução dos dados.

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não conseguiram conter o declínio significativo (3,0%a.a.) do número de famílias de conta-próprias ‘agrícolas + pluriativas’ (agricultura familiar), Tabela 1; e ii) a redução do número de famílias de conta-próprias agrícolas não implicou em conversão destas em famílias de conta-próprias pluriativas, mas muito mais provavelmente na conversão em famílias de assalariados (rurais) pluriativos e não agrícolas (famílias rurais não agrícolas) – que cresceram significativamente a uma taxa média anual de 4,0% e 6,5%, respectivamente (Tabela 1) – e ou em famílias de não ocupados, que exibiram uma taxa significativa de crescimento de 8,0%a.a., no período de 1992 a 1999 (Tabela 1).

Observe-se que, diferentemente do que a literatura internacional e nacional aguardariam, as unidades familiares que deixaram de ser estritamente agrícolas não se converteram em famílias pluriativas. Ou seja, a pluriatividade não se mostrou uma alternativa para aquelas famílias que deixaram de ser famílias agrícolas, nos anos 1990. Parte dessas famílias pode ter se tornado famílias de assalariados não agrícolas – esse tipo familiar cresceu a uma taxa significativa média de 6,5%a.a. –, e, outra parte, pode ter se convertido em famílias de não ocupados, cuja taxa de crescimento significativo desse tipo familiar alcançou a média de 8,0%a.a..

Tabela 1: Evolução do número dos diferentes tipos de famílias, segundo o local de domicílio: Minas Gerais, 1992-1999. (1.000 famílias)

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6 NÃO METROPOLITANO

RURAL AGROPECUÁRIO

Empregador com 3 ou mais assalariados 11 9 10 8 8 7 5 -7,2 ***

Agrícola 4 3 - 4 4 - -

Pluriativo 6 5 6 - 3 4 3

Não-agrícola - - -

Empregador com até 2 assalariados 41 42 53 35 45 39 50 1,0

Agrícola 24 23 29 18 30 24 30 2,3 Pluriativo 16 18 21 16 14 13 19 -1,3 Não-agrícola - - - Conta Própria 344 315 337 319 301 288 294 -2,2 *** Agrícola 210 188 184 206 166 172 159 -3,2 *** Pluriativo 99 100 123 91 105 84 103 -1,0 Agrícola + Pluriativo 308 288 307 297 271 255 262 -3,0 *** Não-agrícola 35 27 30 22 30 33 32 0,0 Assalariados 303 343 327 335 342 350 368 2,0 *** Agrícola 224 250 222 233 242 222 254 0,5 Pluriativo 40 45 45 47 45 54 55 4,0 *** Não-agrícola 39 48 60 55 54 75 59 6,5 *** Não Ocupados 58 56 63 69 79 101 85 8,0 *** TOTAL 756 764 790 766 775 786 802 0,7 ***

Nota: exclusive as famílias sem declaração de renda e tipos de famílias com menos de 6 observações a) estimativa do coeficiente de uma regressão log-linear contra o tempo. Neste caso, o teste t indica a existência ou não de uma tendência nos dados.

***, **, * significam respectivamente 5%, 10% e 20%.

Fonte: Microdados PNAD/IBGE - Tabulações Especiais do Projeto Rurbano.

1993 1995 tx cresc. (% aa.)

TIPO DE FAMÍLIA 1996 1997 1998 1999 1992/1999ª

LOCAL DE DOMICÍLIO /

1992

A Tabela 2, diferentemente da Tabela 1, mostra que a pluriatividade cresceu no interior da agricultura familiar mineira, no período de 2001 a 2007. As Tabelas 3 e 4 ajudam a entender essas duas observações divergentes entre as Tabelas 1 e 2. As Tabelas 3 e 4 mostram a evolução da população economicamente ativa ocupada em atividades agrícolas e não agrícolas, nos mesmos períodos dos dados das Tabelas 1 e 2, períodos 1992 a 1999 e 2001 a 2007, respectivamente.

Observe-se que é possível relacionar a redução significativa das famílias de conta-próprias agrícolas e da agricultura familiar em seu conjunto (famílias de conta-conta-próprias ‘agrícola + pluriativo’), Tabela 1, ao declínio também significativo tanto da PEA agrícola por conta-própria (2,8%a.a.) quanto da PEA agrícola não remunerada (3,8%a.a.), Tabela 3. Essa última certamente são os familiares da PEA por conta-própria, o que reforça a idéia de que a redução da PEA agrícola por conta-prória e não remunerada tem implicação direta na redução das unidades familiares por conta-própria agrícolas.

Tabela 2: Evolução do número dos diferentes tipos de famílias, segundo o local de domicílio: Minas Gerais, 2001-2007. (1.000 famílias)

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7 NÃO METROPOLITANO

RURAL AGROPECUÁRIO

Empregador com 3 ou mais assalariados 10 3 7 6 9 7 6 -0,4

Agrícola 3 2 2 2 3 2 2

-Pluriativo 5 1 5 3 4 2 1

-Não-agrícola 1 1 1 2 2 2 2

-Empregador com até 2 assalariados 42 33 42 38 34 36 26 -5,3 **

Agrícola 28 18 26 25 17 24 13 -7,5 * Pluriativo 13 12 16 10 15 8 10 -5,4 Não-agrícola 1 3 1 3 2 4 2 -Conta-Própria 253 266 257 237 273 284 281 1,8 * Agrícola 159 148 141 135 152 164 156 0,9 Pluriativo 77 92 89 85 90 89 93 1,8 * Agrícola + Pluriativo 236 240 229 220 241 253 249 1,2 Não-agrícola 18 26 28 17 31 31 32 8,4 * Assalariados 352 302 302 343 340 334 339 0,8 Agrícola 258 219 212 233 241 222 234 -0,5 Pluriativo 47 41 47 53 50 50 45 1,2 Não-agrícola 47 42 43 57 49 62 60 6,2 *** Não Ocupados 81 78 92 91 87 79 96 1,7 TOTAL 738 682 701 715 742 740 747 0,9 *

Nota: exclusive as famílias sem declaração de renda e tipos de famílias com menos de 6 observações a) estimativa do coeficiente de uma regressão log-linear contra o tempo. Neste caso, o teste t indica a existência ou não de uma tendência nos dados.

***, **, * significam respectivamente 5%, 10% e 20%.

Fonte: Microdados PNAD/IBGE - Tabulações Especiais do Projeto Rurbano.

tx cresc. (% aa.) 2001/2007ª LOCAL DOMICÍLIO / TIPO DE FAMÍLIA 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Observe-se que a pluriatividade, nos anos 1990 (Tabela 1), não foi atingida negativamente, não houve registro de queda significativa (sentido estatístico, embora a taxa de 1,0%a.a. seja negativa), mas, por outro lado, também não cresceu. Ou seja, a redução da PEA agrícola não afetou a ponto de fazer declinar a pluriatividade, mas afetou a ponto de evitar que a pluriatividade crescesse. Por outro lado, as atividades não agrícolas, que cresceram significativamente (Tabela 3), devem ter contribuído para evitar que o declínio da PEA agrícola ocorresse entre as famílias pluriativas; ou seja, as rendas das atividades não agrícolas podem ter contribuído para manter as atividades agrícolas dos estabelecimentos das famílias pluriativas. Já entre as famílias estritamente agrícolas a queda da PEA agrícola certamente se fez mais intensa.

A relação apresentada nos dois últimos parágrafos acima faz sentido da mesma forma que se pode considerar que tem sentido a relação entre o crescimento significativo da PEA não agrícola assalariada (4,0%a.a.), Tabela 3, com o crescimento significativo do número de famílias assalariadas não agrícolas (6,5%a.a.), Tabela 1.

Tabela 3: Evolução da PEA restrita* ocupada, segundo o local de domicílio: Minas Gerais, 1992-1999. (1.000 pessoas)

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Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

8 NÃO METROPOLITANO RURAL AGROPECUÁRIO População Ocupada 1.447 1.461 1.472 1.394 1.388 1.321 1.445 -0,9 Agrícola 1.182 1.190 1.161 1.134 1.103 1.006 1.129 -1,6 ** Assalariados 454 506 464 458 479 447 526 0,5 Conta-Própria 348 309 326 329 303 280 273 -2,8 *** Empregadores 52 48 60 41 51 43 53 -0,9 Não remunerados 329 327 311 306 270 237 276 -3,8 *** Não-Agrícola 264 271 311 261 285 315 317 2,3 ** Assalariados 174 175 211 204 204 237 219 4,0 *** Conta-Própria 74 82 77 48 67 65 79 -1,5 Empregadores 6 3 9 3 4 5 5 -0,6 Não remunerados 10 11 14 5 11 8 13 -0,9

(*) PEA restrita: exclui os não remunerados que trabalham menos de 15 horas na semana e os que se dedicam exclusivamente à produção para autoconsumo e à autoconstrução.

a) estimativa do coeficiente de uma regressão log-linear contra o tempo. Neste caso, o teste t indica a existência ou não de uma tendência nos dados.

***, **, * significam respectivamente 5%, 10% e 20%.

Fonte: Microdados PNAD/IBGE - Tabulações Especiais do Projeto Rurbano.

1999 tx cresc. (% aa.) 1992/1999ª LOCAL DE DOMICÍLIO /

PEA restrita* 1992 1993 1995 1996 1997 1998

Em relação ao período 2001 a 2007, comparando-se as Tabelas 2 e 4, observe-se que – em sentido inverso ao observado na análise comprativa entre as Tabelas 1 e 3 – entre 2001 e 2007 não houve mais redução do número de famílias de conta-próprias agrícolas e houve crescimento significativo da pluriatividade, 1,8%a.a. (Tabela 2), ao passo que também não se registrou mais declínio da PEA agrícola por conta-própria (Tabela 4). Em relação às famílias de assalariados não agrícolas (Tabela 2) e à PEA não agrícola de assalariados (Tabela 4), a relação continua a mesma, ou seja, ambos os casos registraram crescimento significativo.

Tabela 4: Evolução da PEA restrita* ocupada, segundo o local de domicílio: Minas Gerais, 2001-2007. (1.000 pessoas)

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9 NÃO METROPOLITANO RURAL AGROPECUÁRIO População Ocupada 1223 1172 1143 1163 1215 1220 1204 0,3 Agrícola 996 931 897 892 945 933 913 -0,7 Assalariados 470 417 407 455 467 443 414 -0,4 conta-própria 245 248 234 219 248 267 252 1,1 empregador 52 33 48 42 41 36 26 -7,0 * não remunerado 228 234 208 176 189 187 221 -2,3 Não agrícola 227 241 246 271 270 287 291 4,3 *** Assalariados 171 160 167 213 180 201 210 4,2 *** conta-própria 43 64 62 46 66 67 68 5,6 * empregador 3 5 7 6 5 9 6 -não remunerado 10 11 10 6 19 9 8 -1,2

(*) PEA restrita: exclui os não remunerados que trabalham menos de 15 horas na semana e os que se dedicam exclusivamente à produção para autoconsumo e à autoconstrução.

a) estimativa do coeficiente de uma regressão log-linear contra o tempo. Neste caso, o teste t indica a existência ou não de uma tendência nos dados.

***, **, * significam respectivamente 5%, 10% e 20%.

Fonte: Microdados PNAD/IBGE - Tabulações Especiais do Projeto Rurbano.

LOCAL DE DOMICÍLIO /

PEA restrita* 2005 2006 2007

tx cresc. (% aa.) 2001/2007ª 2001 2002 2003 2004

Enfim, o que se quis mostrar com essa análise comparativa entre os dados das Tabelas acima apresentadas é que a pluriatividade só tem perspectiva de experimentar uma trajetória de crescimento sustentável em um contexto de não abandono das atividades agrícolas tradicionais (evidenciado pela não redução da PEA agrícola por conta-própria e não remunerada, assim como, por conseguinte, pela não redução do número de unidades familiares de conta-próprias agrícolas). Nascimento (2009) e Kageyama (2008) mostram que a dinâmica da pluriatividade em uma determinada região rural encontra-se muito mais determinada pela dinâmica da sua PEA agrícola (ocupada por conta-própria) do que pela dinâmica das atividades não agrícolas presentes no seu entorno.

Essa é a razão dos dois estudos de caso realizados em Canápolis e Coromandel, dois municípios do estado de Minas Gerais: tentar testar in loco a hipótese de trabalho de que existe uma tendência dos pequenos agricultores familiares abandonarem as atividades agrícolas, comprometendo a pluriatividade.

3. ESTUDOS DE CASO: CANÁPOLIS E COROMANDEL

O objetivo desta seção consiste em apresentar algumas conclusões de duas pesquisas de campo realizadas nos municípios de Canápolis e Coromandel, pertencentes ao estado de Minas Gerais, cujo propósito e hipóteses de trabalho já foram explicitados na seção introdutória deste texto.

Os municípios de Canápolis e Coromandel estão localizados na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (TMAP), no estado de Minas Gerais. O município de Canápolis ocupa uma área de 845,24 km2, com uma população de 11.313 habitantes. O

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município de Canápolis apresenta um IDH médio de 0,755 (PNUD, 2000), com um PIB per capita de R$ 36.602,00, ocupando, em 2006, a 89ª posição no país (IBGE, 2009). A principal fonte de renda desse município provém da atividade agropecuária diversificada, com destaque para a produção de abacaxi e cana-de-açúcar. O município de Coromandel ocupa uma área de 3.296km2, com uma população estimada em 28.296 mil habitantes. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) cresceu 11,49% entre 1991 e 2000: de 0,705 para 0,786. Esse crescimento foi atribuído a três dimensões: longevidade, educação e renda respectivamente. A agropecuária é uma das principais fontes de renda do município, com destaque para a pecuária, considerada sua economia principal.

Quanto à metodologia utilizada, obtivemos listas de nomes dos produtores rurais de Canápolis junto a instituições tais como: Sindicato dos Produtores Rurais de Canápolis, Cooperativa dos Produtores de Abacaxi de Canápolis, Instituto Mineiro de Agropecuária e Secretaria Municipal de Agricultura. Em Coromandel as instituições que nos forneceram as listas de nomes foram: Cooperativas de produtores rurais (CAMDA e COOXUPE), Sindicato de Produtores Rurais de Coromandel, Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e Associação de exportação de cafés especiais. Após excluídos os nomes repetidos nas diferentes listas, considerou-se amostra aleatória simples e, com base no cálculo de proporções, utilizando-se o fator de correção de população finita, dimensionou-se os tamanhos das amostras em 65 e em 83 produtores, de Canápolis e de Coromandel, respectivamente.

3.1. Análise dos resultados da pesquisa de campo

Do total das amostras de 65 famílias, em Canápolis, e de 83 famílias, em Coromandel, apenas 43 famílias da amostra de Canápolis e 64 famílias da amostra de Coromandel compuseram o conjunto da agricultura familiar pesquisada6. Consideramos agricultura familiar apenas as famílias de empregadores com até dois empregados ou famílias de conta-próprias, ambos os tipos agrícolas e ou pluriativos, e com estabelecimentos de no máximo 120 hectares, em Canápolis, e 160 hectares, em Coromandel, correspondendo, em ambos os casos, a quatro módulos fiscais. Dessa forma, a diferença entre o total da amostra pesquisada, em cada um dos municípios, e a amostra selecionada como agricultura familiar são famílias que não se enquadraram nessa definição de agricultura familiar.

No conjunto da agricultura familiar de cada um dos dois municípios em análise, predominam as famílias de conta-próprias, 79,1% em Canápolis, e 82,8% em Coromandel, conforme pode ser visto na Tabela 5. Se observarmos as famílias de conta-próprias e as famílias de empregadores com até dois empregados permanentes, as famílias pluriativas têm um grande peso – 60,5% entre as famílias canapolenses pesquisadas, e mais de um terço (35,9%) entre as famílias coromandelenses pesquisadas (Tabela 5). Se considerarmos apenas as famílias de conta-próprias, que são a maioria, essas porcentagens, da participação relativa das famílias pluriativas, atingem 43,4% das famílias de conta-próprias

6 A constatação dessa composição só foi feita ex-post às entrevistas e tabulação dos dados. Cabe esclarecer que em virtude de não termos tido condições de sabermos a priori quais produtores rurais eram, da lista de nomes que obtivemos, agricultores familiares, a amostra sorteada aleatoriamente ficou com essa composição.

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coromandelenses pesquisadas, e mais da metade (58,8%) das famílias de conta-próprias canapolenses pesquisadas. Como o universo da agricultura familiar pesquisada está concentrado entre as famílias de conta-próprias – sem empregados permanentes, ou seja, predomínio de força de trabalho familiar – centraremos nossas observações nesse tipo familiar – que apresenta forte presença de famílias pluriativas. Essas observações justificam nosso interesse maior sobre as famílias de conta-próprias pluriativas, embora nos ocupemos também das famílias de conta-próprias estritamente agrícolas, uma vez que nos importa inferir sobre as perspectivas desse tipo familiar vir a se tornar família pluriativa, ou permanecer apenas como família agrícola, ou ainda vir a se converter diretamente em família (rural ou urbana) não agrícola.

Do conjunto da agricultura familiar por conta-própia da nossa amostra relativa a Canápolis (34 famílias), 67,6% (23 famílias) produzem em estabelecimentos com até 10 hectares, e, da amostra relativa a Coromandel (53 famílias), 54,7% (29 famílias) produzem em estabelecimentos com até 40 hectares. Ou seja, mais da metade do universo da agricultura familiar entrevistada trabalha em estabelecimentos rurais relativamente pequenos, para os padrões brasileiros. Em Canápolis, se considerarmos apenas as famílias pluriativas, são 16 as famílias – ou seja, 47,1% das 34 unidades familiares por conta-própia – que produzem em estabelecimentos com até 10 hectares. Em Coromandel, das 29 famílias por conta-própria que produzem em estabelecimentos familiares com até 40 hectares, 37,9% (11 famílias) são famílias pluriativas.

Ademais, considerando apenas o total dos estabelecimentos rurais com até 50 hectares de tamanho (31 famílias), pode-se ver na Tabela 7 que, em Canápolis, 77,4% (24 famílias) da agricultura familiar por conta-própria entrevistada não é proprietária das terras em que trabalham – se observarmos apenas as unidades familiares que trabalham em estabelecimentos com até 10 hectares de área (23 famílias), aquela proporção aumenta para 91,3% (21 famílias). Em Coromandel, a proporção de não proprietários é menor, mas ainda assim chega a quase 14,0%.

Tabela 5: Distribuição dos Tipos de Famílias da Agricultura Familiar, segundo a posição na ocupação e o ramo de atividade: Canápolis e Coromandel, MG, 2008.

Nr. Fam. % Fam (Pos. Ocup.)

% Fam. (Ramo Ativ.) Nr. Fam.

% Fam (Pos. Ocup.)

% Fam. (Ramo Ativ.)

Empregador com até 2 empregados 9 20,9 11 17,2

Agrícola 3 7,0 11 17,2 Pluriativo 6 14,0 0 0,0 Conta-próprias 34 79,1 53 82,8 Agrícola 14 32,6 30 46,9 Pluriativo 20 46,5 23 35,9 43 100,0 100,0 64 100,0 100,0 TIPO DE FAMÍLIA Canápolis Coromandel

FONTE: Dados coletados na pesquisa de campo e elaborados pelos autores.

Tabela 6: Distribuição da agricultura familiar, segundo faixas de tamanho de área e a condição do produtor na ocupação e o ramo de atividade: Canápolis e Coromandel, MG, 2008.

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NOTA: O tamanho máximo dos estabelecimentos da agricultura familiar pesquisada é, em Canápolis, de 90 hectares, e, em Coromandel, de 160 hectares.

FONTE: Dados coletados na pesquisa de campo e elaborados pelos autores.

Tabela 7: Distribuição da agricultura familiar, segundo faixas de tamanho de área e a condição do produtor na ocupação e o ramo de atividade: Canápolis e Coromandel, MG, 2008.

Nr. Fam. % Nr. Fam. % Nr. Fam. % Nr. Fam. % Nr. Fam. %

Proprietário 7 22,6 5,0 17,2 4 14,3 2 8,3 2 8,7 Arrendatário 24 77,4 24,0 82,8 24 85,7 22 91,7 21 91,3 Total 31 100 29 100 28 100 24 100 23 100 Proprietário 33 86,8 25,0 86,2 16 88,9 12 92,3 - -Arrendatário 5 13,2 4,0 13,8 2 11,1 1 7,7 1 100 Total 38 100 29 100 18 100 13 100 1 100 0 até 10 hectares Canápolis Coromandel 0 até 40 hectares

Condição do Produtor 0 até 50 hectares 0 até 30 hectares 0 até 20 hectares

FONTE: Dados coletados na pesquisa de campo e elaborados pelos autores.

Em outras palavras, essas primeiras observações estão mostrando que, além de parte significativa do universo da agricultura familiar pesquisada trabalhar em estabelecimentos relativamente pequenos, parte também significativa destas unidades familiares são de não proprietários. Essa informação reforça a hipótese de trabalho que aponta para uma situação de latente tendência dos pequenos produtores familiares a abandonarem as (ou a serem expulsos das) atividades agrícolas, em parte, por terem pouco acesso à terra e, por outra parte, por dependerem de possibilidades, não necessariamente asseguradas, de renovação dos contratos (formais ou informais) de arrendamento das propriedades em que exercem os trabalhos familiares.

Analisou-se também os diferentes tipos de famílias segundo faixas de tamanho de área dos estabelecimentos, incluindo um indicador de nível tecnológico7. Esse indicador

7

O indicador foi construído com base nas respostas ‘sim’ ou ‘não’ sobre se no estabelecimento o produtor usa assistência técnica, tração mecânica, se aduba o solo, se faz correção do solo (calcário), se faz análise do solo, se usa sementes certificadas, se tem energia elétrica para beneficiamentos. Somou-se essas variáveis e dividiu-se pelo número delas, obtendo uma variação entre 0 e 1 para os diferentes estabelecimentos. No caso de Coromandel, como majoritariamente a agricultura familiar pesquisada é formada por pequenos produtores pecuaristas (leite e queijo), o índice de nível tecnológico calculado compreende, além daquelas variáveis

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foi construído para medir o grau de intensidade de envolvimento do produtor rural com melhorias para elevar a produtividade do estabelecimento. Trata-se de um indicador que varia entre 0 e 1, de sorte que quanto mais próximo de 1, maior é o envolvimento da unidade produtiva com fatores que permitem a melhoria da produtividade. Ou seja, quanto mais próximo de zero ou mais próximo de 1, a possibilidade da unidade familiar ser produtiva – e, portanto, mais apta ao mercado – será menor ou maior, respectivamente.

No que se refere à amostra de Canápolis, observe-se na Tabela 8 que do total de 31 famílias de conta-próprias (agrícolas e pluriativas), 58,1% (correspondendo a 18 famílias) são de famílias de não proprietários que exercem suas atividades produtivas em estabelecimentos com no máximo 5 hectares de terra. Dessas 18 famílias, 44,4% (8 famílias) apresentam indicador de nível tecnológico abaixo da média (no máximo 0,43) – se considerarmos o indicador um pouco acima da média (0,57), a proporção de famílias, de não proprietários, com até 5 hectares de terra, sobe para 77,8% (14 famílias). Do total de famílias de conta-próprias não proprietárias exercendo atividades agrícolas em estabelecimentos com até 10 hectares de tamanho (21 famílias), 42,9% (9 famílias) apresentam indicador de nível tecnológico abaixo da média (no máximo 0,43). Considerando o índice de indicador tecnológico de 0,57 (ou seja, um pouco acima da média) e estabelecimentos com até 10 hectares, compreende-se 76,2% (ou 16 famílias) das unidades familiares de não proprietários da referida faixa de tamanho de estabelecimento.

Essas 16 famílias canapolenses – com pouca terra para produzir, não proprietárias e com reduzido grau de envolvimento com melhorias tecnológicas nos estabelecimentos – constituem 37,2% do conjunto da agricultura familiar total da amostra pesquisada. Ou seja, bem mais de um terço da agricultura familiar pesquisada, em sua maioria famílias pluriativas, apresenta características que apontam para sua fragilidade em permanecer na atividade agrícola como fonte de geração de renda.

Entre as unidades familiares proprietárias canapolenses, nota-se que a situação não é tão melhor do que a das unidades não proprietárias. 43,0% das unidades familiares proprietárias têm no máximo 30 hectares de terra e o indicador de nível tecnológico não é melhor do que para os produtores não proprietários – constatação que reforça a situação de fragilidade sumariada no parágrafo anterior.

Do ponto de vista da amostra pesquisada relativa a Coromandel, a Tabela 8 também mostra que do total de famílias de conta-próprias proprietárias com estabelecimentos com até 40 hectares de tamanho (25 famílias), praticamente a metade deles (12 famílias ou 48,0%) apresenta indicador de nível tecnológico abaixo da média (no máximo 0,49). Essa proporção aumenta expressivamente, para 84,0% (21 famílias), se for considerado o indicador de nível tecnológico de 0,57 (isto é, um pouco acima da média). Ou seja, embora os proprietários, na amostra de Coromandel, diferentemente de Canápolis, sejam predominantes, também apresentam a característica de executarem suas atividades

informadas (porque também esses pequenos pecuaristas produzem milho para silagem e um pouco de cana para ração, ambos como complemento às possibilidades de pasto existentes), as seguintes variáveis: se tem reprodutor de raça definida, se faz controle de doenças, se utiliza tanque de resfriamento, se o tanque de resfriamento é próprio, se faz controle fitossanitário, se faz inseminação artificial e se possui ordenhadeira mecânica.

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produtivas em estabelecimentos relativamente pequenos (até 40 hectares para produtores de pecuária extensiva) e com nível tecnológico relativamente baixo.

A Tabela 9 mostra a distribuição das unidades familiares de conta-próprias, segundo faixas de tamanho de área (limitadas a 50 hectares), que obtiveram algum tipo de crédito (PRONAF e/ou algum outro tipo de crédito bancário) para financiamento das atividades nos respectivos estabelecimentos. Das 31 famílias canapolenses com até 50 hectares de terra, 22 delas (70,9%) declararam ter tido acesso a algum tipo de crédito8. Observe-se que foi entre as unidades familiares canapolenses com até 5 hectares que se concentrou o número de estabelecimentos com acesso a crédito (15 famílias ou 48,4% do total de famílias de conta-próprias do estrato de área de até 50 hectares). Das 23 famílias de conta-prórias canapolenses com até 10 hectares de terra, 17 delas (73,9%, que também corresponde a 54,8% das 31 famílias de conta-prórias com até 50 hectares de terra) declararam ter tido acesso ao crédito do PRONAF (Tabela 9).

Tabela 8: Distribuição do número de famílias, segundo a posição na ocupação, o ramo de atividade, faixas de tamanho de área e um índice de nível tecnológico: Canápolis e Coromandel, MG, 2008. Agrícola (Nr Fam) Pluriativo (Nr Fam) Agrícola (Nr Fam) Pluriativo (Nr Fam) Agrícola (Nr Fam) Pluriativo (Nr Fam) Agrícola (Nr Fam) Pluriativo (Nr Fam)

De 0 até 5 0,14 1 Mais de 5 até 10 0,43 1

0,29 2 Mais de 10 até 20 0,43 2 0,43 2 3 0,48 1 1 0,57 2 4 0,57 6 1 0,71 3 0,71 1 0,86 1 Mais de 20 até 30 0,14 1 Mais de 5 até 10 0,14 1 0,36 1 0,29 1 0,43 1 1 0,43 1 0,57 1 0,57 1 Mais de 30 até 40 0,29 1 0,71 1 0,43 1 Mais de 10 até 20 0,57 1 0,49 1 1 Mais de 20 até 30 0,14 1 0,57 1 1 2 0,57 1 0,64 1 0,86 1 0,79 2 1,00 1 Mais de 40 até 50 0,38 2 Mais de 30 até 40 0,14 1 0,50 1 Mais de 40 até 50 0,43 1 0,57 3 1 1 0,57 1 0,86 1 Proprietário Arrendatário

Conta-própria Conta-própria Conta-própria Conta-própria

CANÁPOLIS COROMANDEL Faixas de área (Em Hectares) Índice de nível tecnológico Condição do produtor Faixas de área (Em Hectares) Índice de nível tecnológico Condição do produtor Proprietário Arrendatário

FONTE: Dados coletados na pesquisa de campo e elaborados pelos autores.

Em Coromandel, das 29 famílias de conta-próprias com até 40 hectares de terra, mais de um terço (31,0%) declarou ter tido acesso aos recursos do PRONAF (Tabela 9). Chama à atenção o fato de que em Coromandel as unidades familiares de conta-próprias

8

Na Tabela 9 só consta o contingente de famílias que efetivamente declarou ter tido acesso a algum tipo de crédito.

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declararam acesso ao crédito exclusivamente do PRONAF – observe-se que a quantidade de famílias coromandelenses constantes na parte superior da Tabela 9 é a mesma da parte inferior dessa Tabela – o mesmo pode ser observado entre as 17 famílias de Canápolis, com até 10 hectares de terra.

Essas informações sobre o acesso ao crédito bancário, público ou privado, revelam que as unidades familiares mais fragilizadas são as que mais recorreram ao crédito bancário – além, obviamente, daquelas que não tiveram acesso. Isso é compreensível porque são as unidades produtoras que têm menos recursos próprios para produzir. Estas famílias mais fragilizadas tiveram acesso aos recursos exclusivamente do PRONAF (no caso de Canápolis, tratam-se das famílias com até 10 hectares). Dadas as características de fragilidade apontadas anteriormente, percebe-se que o PRONAF pode estar representando uma importante fonte de apoio para os pequenos produtores contornarem aquelas fragilidades e lograrem permanecer resistindo às adversidades do setor, preservando sua identidade de agricultor, sem abandoná-la.

Tabela 9: Distribuição do número de famílias da agricultura familiar (com até 50 hectares) que tiveram acesso a alguma modalidade de crédito bancário (pronaf e ou outra fonte), segundo a posição na ocupação, o ramo de atividade e faixas de tamanho de área: Canápolis e Coromandel, MG, 2008.

Agrícola (Nr Fam.) Pluriativo (Nr Fam.) Agrícola (Nr Fam.) Pluriativo (Nr Fam.) De 0 até 5 4 11 Mais de 5 até 10 2 1 Mais de 10 até 20 1 2 2 Mais de 20 até 30 2 1 Mais de 30 até 40 2 1 Mais de 40 até 50 1 2 De 0 até 5 4 11 Mais de 5 até 10 2 1 Mais de 10 até 20 1 2 2 Mais de 20 até 30 2 1 1 Mais de 30 até 40 2 1 Mais de 40 até 50 1 1 2

PRONAF e outras fontes de crédito Canápolis Conta-próprias PRONAF Faixas de Área (Em hectares) Coromandel Conta-próprias

FONTE: Dados coletados na pesquisa de campo e elaborados pelos autores.

Continuando a concentrar as análises nos estabelecimentos considerados até aqui mais fragilizados, é possível observar que do total das 102 pessoas – entre as famílias de conta-próprias canapolenses com até 10 hectares de terra – com 10 anos ou mais de idade, 59,8% têm 25 anos ou mais de idade (considerando todas as faixas de idade posteriores) e não têm o 2o grau (ensino médio) completo. Essa proporção é semelhante a que foi encontrada em Coromandel (60,0%) – entre as famílias de conta-próprias com até 40 hectares de terra. A baixa escolaridade da maior fração de pessoas analisadas significa um dificultador para que estas pessoas possam se inserir no mercado de trabalho assalariado e que, portanto, pode ser um elemento que dificulte o abandono das atividades agrícolas, por razões de maiores exigências de escolarização por parte do mercado de trabalho. Jovens e adultos alegavam nas entrevistas, em ambos os municípios pesquisados, dificuldade de

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inserção no mercado de trabalho, em virtude da pouca oferta de oportunidades ocupacionais, mas também devido à sua baixa escolarização, e, por esta razão, sentiam-se forçados a continuar na “lida do campo”, esperando dias melhores na agricultura.

Outros entrevistados apontavam como dificultador para abandonar as atividades agrícolas – e que, portanto, permaneciam agricultores pluriativos (com algum filho, ou a cônjuge, ocupada em alguma atividade não agrícola) – o “custo de saída” da atividade, uma vez que já haviam gasto um montante para edificar uma certa infra-estrutura. A despeito da dificuldade de auferir retornos remuneradores dos investimentos realizados, decorrente da instabilidade da atividade agrícola, e dos baixos recursos próprios para enfrentar os momentos adversos da atividade, a baixa escolaridade, e o custo de abandonar a infra-estrutura montada (sem alternativas visíveis no horizonte do mercado de trabalho urbano), explicam a permanência de muitos dos entrevistados nas atividades agrícolas, não obstante as características de fragilização mostradas anteriormente.

Tabela 10: Distribuição do número de pessoas* da Agricultura Familiar (com até 10 hectares de terra, em Canápolis, e com até 40 hectares de terra, em Coromandel, segundo faixas de idade e escolaridade: Canápolis e Coromandel, MG, 2008.

A B C D E A B C D E

Analfabeto 4 2

Apenas lê e escreve o nome 1 3 2

1ª a 4ª série incompleto 2 10 8 1 3 23 4 1ª a 4ª série completo 1 1 3 2 1 9 23 4 5ª a 8ª série incompleto 8 2 9 11 7 1 1 9 5ª a 8ª série completo 1 1 3 1 7 2 6 3 2º grau incompleto 8 2 1 1 5 2 6 2 2º grau completo 1 3 5 4 4 10 10 2 1 Nível técnico 3 1 Superior incompleto 1 1 1 2 1 Superior completo 1 2 1 3

Não soube informar 1

Faixas de Idade Faixas de Idade

Escolaridade

CANÁPOLIS COROMANDEL

(*) Pessoas com dez anos ou mais de idade.

Legenda: A – 10 a 19 anos; B – 20 a 24 anos; C – 25 a 39 anos; D – 40 a 59 anos; E – 60 anos ou mais.

FONTE: Dados coletados na pesquisa de campo e elaborados pelos autores.

Constatou-se também, reforçando as observações tecidas até aqui, que em torno de 56,5% (em Canápolis) e 58,6% (em Coromandel) das famílias – com até 10 hectares de terra, em Canápolis, e com até 40 hectares de terra, em Coromandel – têm apenas 3 pessoas por família. Considerando que praticamente a metade (em torno de 50,0%) do total de pessoas com dez anos ou mais têm mais de 40 anos de idade – em ambas as amostras pesquisadas – e que os jovens não têm vontade de permanecer – segundo declaração deles próprios – nas atividades agrícolas, pode-se supor uma plausível tendência de maior redução do número dessas famílias, de modo que isso fragiliza ainda mais a perspectiva de crescimento de casos de pluriatividade das famílias. Porque, por um lado, os jovens querem se envolver em atividades não agrícolas e, por outro, os mais velhos irão naturalmente se tornar incapacitados de permanecer exercendo as atividades agrícolas. O

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progressivo abandono das atividades agrícolas desfaz, para as famílias em que esse processo ocorre, o elo agrícola da combinação, própria da pluriatividade, ‘agrícola com não agrícola’. E o resultado, em muitos casos, poderá ser a conformação de famílias rurais de não ocupados (casal de aposentados com filhos residindo nas áreas urbanas) ou de famílias rurais não agrícolas (famílias com pelo menos um membro ocupado em alguma atividade não agrícola e nenhum outro ocupado em atividade agrícola).

Deixou-se a informação sobre as rendas (Tabela 11) por último por causa da dificuldade de inferir satisfatoriamente as diferentes fontes de renda, dado os problemas conhecidos relacionados às declarações dos entrevistados quando se trata de rendimentos. Os produtores familiares entrevistados não têm uma cultura de manter sua contabilidade atualizada – de maneira geral, sequer existe algum controle sobre receitas e despesas –, fato que dificulta uma precisão dos dados levantados. De qualquer forma, julgamos que conseguimos resultados que, embora não exatamente precisos, servem para dar uma noção da importância das rendas não agrícolas entre as famílias pluriativas. Observe-se que entre as unidades familiares pluriativas, em Canápolis, com até 10 hectares de terra, quase 40,0% da renda média familiar provém de fontes não agrícolas9, o que mostra a importância que tem, para estas famílias, as atividades (e as demais fontes de renda) não agrícolas.

Tabela 11: Composição percentual da renda média anual da Agricultura Familiar (com até 10 hectares), segundo diferentes fontes de renda e tipos de famílias: Canápolis, MG, 2008. Município Renda Agrícola (%) Renda Não Agrícola (%) Renda de Aposen/Pe nsão (%) Renda de Outras fontes (%) Renda Média Anual Conta-próprias Agrícola 89,8 0,0 9,3 0,9 21.094,00 Pluriativo 63,0 23,5 4,5 8,9 25.289,50 Conta-próprias Agrícola 95,4 0,0 4,5 0,1 22.985,11 Pluriativo 36,6 60,3 2,5 0,6 16.545,36 TIPO DE FAMÍLIA Canápolis Coromandel

FONTE: Dados coletados na pesquisa de campo e elaborados pelos autores.

Em Coromandel (Tabela 11), a renda do trabalho não agrícola assumiu uma importância bastante expressiva – 60,0% da renda média anual das famílias de conta-próprias pluriativas com até 40 hectares de terra. Contudo, cabe informar que mais da metade da pluriatividade dessas famílias se deve a atividades chamadas de para-agrícolas. Trata-se da atividade de produção de queijo artesanal no interior dos próprios estabelecimentos rurais. E esta é uma atividade que está sendo progressivamente ameaçada pelo crescimento das exigências e fiscalizações sanitárias10, gerando um quadro de

9 As fontes de renda não agrícolas correspondem ao somatório das rendas do trabalho não agrícola com as rendas do não trabalho: aposentadorias (e pensões) e outras fontes de renda (aluguel, rendimentos financeiros, doações, etc.).

10

Como exemplo dessa tendência pode-se mencionar o caso ocorrido em Congonhal-MG, em 2006. O Instituto Mineiro de Agropecuária reforçou a fiscalização do cumprimento da lei 14.185/2002, que

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incerteza entre os pequenos produtores familiares sobre a perspectiva de permanência nessa atividade, de modo que se revela mais um fator tendencial contrário à pluriatividade.

As informações apresentadas nesta seção fornecem subsídios para se pensar acerca da necessidade da ação de políticas públicas que atuem em dois vetores distintos, em que ambos favorecem a agricultura familiar – e, por conseguinte, a pluriatividade: um, ações para apoiar a agricultura dos pequenos produtores e, outro, ações para fomentar a criação de ofertas de oportunidades de ocupação em atividades não agrícolas (e ações de capacitação para os jovens poderem exercê-las) nas redes urbanas que circunvizinham as áreas rurais.

Do ponto de vista das famílias pluriativas, deve-se ficar claro que tais famílias conciliam entre seus membros atividades agrícolas com atividades não agrícolas. Não existe pluriatividade sem o vínculo a uma atividade agrícola. Ou seja, a pluriatividade é constituída por dois vetores de determinação: um ‘lado agrícola’ e um ‘lado não agrícola’. Na falta de um deles, a pluriatividade deixa de existir. Ora, os dados aqui comentados sugerem que não somente o ‘lado não agrícola’ deve ser fomentado, mas também o ‘lado agrícola’ deve ser protegido, valorizado, evitando o abandono das atividades agrícolas pelos pequenos produtores.

A literatura européia (e aí a brasileira a segue) associa a pluriatividade fundamental e exclusivamente às ocupações rurais não agrícolas – ORNAs (o ‘lado não agrícola’), as quais são derivadas de: i) entornos rurais (redes urbanas regionais/territoriais) com economias dinâmicas, ofertantes de ORNAs; ii) estratégias familiares de diversificação de atividades não agrícolas (ORNAs), não necessariamente de sobrevivência: a busca por inserção em novos mercados em resposta às dificuldades financeiras; uma tentativa de reduzir os riscos da atividade agrícola; ou ainda uma resposta às oportunidades surgidas nos mercados de trabalho e de produtos; iii) as migrações de parentes/familiares que se ocuparam em ORNAs, as quais viabilizam remessas de rendas não agrícolas para os estabelecimentos; iv) as infra-estruturas das economias locais, os recursos naturais, culturais e humanos são também aspectos a serem levados em conta ao analisar o maior ou menor êxito da pluriatividade em um determinado território. (REIS, HESPANHA, PIRES, et al., 1990; MARSDEN, 1990; FULLER, 1990; BRUN e FULLER, 1991; ARKLETON TRUST, 1992; OECD, 1998). Os trabalhos desenvolvidos no Brasil não fogem a essa perspectiva de associar a pluriatividade diretamente às ORNAs (KAGEYAMA, 1998; SCHNEIDER, 2003; SACCO DOS ANJOS, 2003; entre outros).

Ora, os dados aqui apresentados sugerem que não somente o ‘lado não agrícola’ (das ORNAs) deve ser fomentado, mas também o ‘lado agrícola’ deve ser protegido, apoiado. Porque, sem o suporte ao lado agrícola e esse vindo a sofrer reveses forçando

regulamenta a produção de queijo-de-minas artesanal, apreendendo e destruindo quatro toneladas do produto por serem considerados clandestinos. A maior fiscalização paralisou a produção de queijo da região, implicando no abandono da atividade por parte dos agricultores familiares – atividade que é de vital importância dadas as condições geográficas da região que não permitem muitas alternativas. As autoridades sanitárias propuseram a construção de instalações novas e adequadas como alternativa, porém, são alternativas para as quais a maioria dos agricultores não dispõem de recursos para atende-las (GONÇALVES, 2007). Essa também é a realidade vivida pelos agricultores familiares entrevistados em Coromandel, que experimentam esse mesmo impasse que ainda está por ser resolvido – essa é a percepção que tivemos, sobre essa situação, nas entrevistas realizadas ao longo da pesquisa de campo.

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pequenos produtores a abandoná-lo, o lado não agrícola, quanto mais dinâmico, e sem políticas que valorizem os pequenos produtores agrícolas, pode viabilizar a conversão de famílias agrícolas em famílias não agrícolas, e não em famílias pluriativas. A seção anterior serviu para sustentar a tese de que é decisiva a trajetória evolutiva da PEA agrícola de conta-próprias para a evolução da pluriatividade; ou seja, não é o dinamismo não agrícola (das ORNAs) das cercanias das áreas rurais o determinante último para a conformação da trajetória da pluriatividade em uma determinada região, mas muito mais a perspectiva que as famílias rurais de conta-próprias têm de manter seu vínculo a alguma atividade agrícola/pecuária.

Por outro lado, a literatura associa também a pluriatividade à modernização da agricultura (ver, por exemplo, CARNEIRO, 1996; SCHNEIDER, 2003; SACCO DOS ANJOS, 2003) uma vez que a modernização significa aumento de produtividade no interior das unidades produtivas familiares e, conseqüentemente, liberação de parte da família para se ocupar em outras atividades, fora da agicultura, resultando em conformação de casos de famílias modernas pluriativas. Contudo, essa literatura não considera os dois lados do movimento dialético presente nesse processo de modernização e de conformação de casos de pluriatividade11. Um dos lados é esse já descrito, da relação entre modernização, aumento de produtividade, liberação de força de trabalho familiar e pluriatividade. O outro, não mencionado por essa literatura, é o de que a modernização significa, para muitos pequenos produtores familiares, exclusão do mercado (decorrente do acirramento da concorrência). Nesse caso, muitos deles ou permanecerão marginalizados na sua relação com a terra, ou se tornarão famílias não agrícolas, porque tenderão a abandonar a atividade agrícola que lhe passa a ser mais onerosa do que o contrário.

Por ficarem marginalizados do mercado (de integração aos circuitos comerciais e produtivos dos agronegócios), haverá sempre a tendência a abandonarem a atividade agrícola, sobretudo, tendo-se em vista alguns fatores que contribuem para essa decisão (forçada pelas circunstâncias), especialmente entre os jovens. Quais sejam: a) a difusão, através dos meios de comunicação de massa, dos hábitos e necessidades urbanos; b) a crescente dificuldade de manter uma atividade agrícola não remuneradora; c) conjunturas duradouras de crise no setor agrícola; d) entornos rurais (economias locais) dinâmicos, do ponto de vista não agrícola, proporcionando maiores oportunidades ocupacionais fora da agricultura; e) o descaso histórico do Estado no tocante ao amparo ao amplo conjunto dos pequenos produtores familiares.

Em muitas das entrevistas essas questões estiveram claramente presentes. Vários agricultores entrevistados relataram que se manter na atividade agrícola é muito arriscado e difícil, mas também o é sair dela, porque o custo de saída, assim como foi o de entrada (no caso, por exemplo, de alguns produtores de abacaxi do município de Canápolis, ou dos pequenos produtores de leite e queijo de Coromandel), é elevado. Nessas condições, em muitos exemplos relatados, o endividamento vai se tornando uma “bola de neve” sem, contudo, saberem como enfrentá-lo satisfatoriamente. Esse é o contexto em que muitos dos entrevistados explicitaram que pretendem recorrer (porque já presenciaram exemplos semelhantes, de vizinhos) à ocupação em alguma atividade não agrícola como um primeiro passo – mais confiável – para ir aos poucos abandonando as atividades agrícolas, para, no

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fim do processo, tornarem-se famílias não agrícolas. Ou seja, vêem a pluriatividade como um processo apenas transitório, como uma etapa confiável na conversão de família agrícola para família não agrícola. Não porque não gostem das atividades agrícolas. Pelo contrário. A questão é que se sentem sem aquele apoio necessário – das políticas públicas – para continuarem insistindo em ser agricultores.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se contribuir com as pesquisas a respeito das transformações pelas quais o meio rural mineiro, assim como do meio rural brasileiro em geral, experimenta, procurando extrair dos microdados da PNAD, e de duas pesquisas de campo, elementos que confirmem ou contradigam as hipóteses de trabalho. Os dados das pesquisas de campo por si só revelam o quadro de fragilidade de parte expressiva do contingente de famílias entrevistadas, o que de certa forma confirma a hipótese de trabalho de que há uma pressão latente para que os pequenos produtores abandonem suas atividades agropecuárias, o que pode ter conseqüências negativas sobre a pluriatividade.

Por outro lado, algumas das características de fragilização assinaladas representam, paradoxalmente, uma força contrarrestante da hipótese de trabalho. Tais características as chamamos de razões espúrias da permanência (mesmo precária) dos agricultores na atividade agrícola, com destaque para: i) pouca oferta de oportunidades ocupacionais não agrícolas (nas sedes dos municípios circunvizinhos); ii) baixa escolarização dos chefes e filhos, dos estabelecimento entrevistados; e iii) o “custo de saída” da atividade agrícola, uma vez já realizado algum investimento para edificar uma certa infra-estrutura.

Os estudos de caso registraram também as dificuldades dos pequenos produtores – muitos deles animados com as possibilidades produtivas da modernização – para atenderem prontamente as exigências da modernização, em virtude do seu alto custo, do baixo retorno e do pouco apoio estatal. O PRONAF, por sua vez, mostrou-se uma razão virtuosa para atenuar as características de fragilização verificada e, por conseguinte, para abrandar uma certa tendência de abandono das atividades agrícolas. Portanto, a ampliação do alcance e recursos de programas governamentais como o PRONAF, e outros como, por exemplo, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) – que assegura demanda, mercado, para a pequena produção –, poderão representar importantes alternativas de redução do que aqui retratamos como um quadro de “fragilidade” da agricultura familiar que a amostra utilizada representa. Esses dois exemplos de vetores de ação (do ‘lado agrícola’), entre outros, podem contribuir para fortalecer a pluriatividade das unidades produtivas familiares, com todos os benefícios que a pluriatividade pode conferir aos pequenos produtores familiares, conforme lhe atribui a literatura pertinente (KAGEYAMA, 1998, 2008; SOUZA 2000; SCHNEIDER 2003; SACCO DOS ANJOS 2003; entre outros).

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Referências

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 ainda,
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