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FEIÇÕES CÁRSTICAS NO PARQUE ESTADUAL DO IBITIPOCA/MINAS GERAIS (PEI)

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Academic year: 2021

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FEIÇÕES CÁRSTICAS NO PARQUE ESTADUAL DO

IBITIPOCA/MINAS GERAIS (PEI)

Lilian Carla Moreira Bento liliancmb@yahoo.com.br Prof. Substituto do Instituto de Geografia da UFU

Sílvio Carlos Rodrigues silgel@ufu.br Docente do Instituto de Geografia da UFU

RESUMO: Considerando que o Parque Estadual do Ibitipoca, localizado nos municípios de Lima Duarte, Santa Rita do Ibitipoca e Bias Forte, no sudeste de Minas Gerais, faz parte do Distrito Espeleológico Ibitipoca com grande quantidade e diversidade de cavernas esculpidas em quartzito, o objetivo desse trabalho é refletir sobre o processo de carstificação envolvido na gênese dessas feições. A metodologia empregada constituiu-se, em síntese, de revisão bibliográfica pertinente ao tema, trabalhos de campo na área de estudo e trabalhos de gabinete, momento em que ocorreu a integração e análise dos dados. Conclui-se na expectativa de que esse processo de carstificação em rochas quartzíticas, aqui estudado, possa ser repassado aos turistas através do geoturismo e que o Parque Estadual do Ibitipoca, em destaque para suas cavernas, seja visto muito além de sua beleza cênica, mas como uma página de evolução do planeta Terra que merece ser interpretada, valorizada, divulgada e (geo) conservada.

PALAVRAS-CHAVE: Carste. Quartzito. Geoturismo.

ABSTRACT: Taking into consideration that the Parque Estadual do Ibitipoca, located in the cities of Lima Duarte, Santa Rita do Ibitipoca and Bias Forte, in the southeast of Minas Gerais, is parto of the Ibitipoca Speleological District with a great quantity and diversity of caves shaped in quartzite, the objective of this paper is to reflect upon the process of karstification involved in the genesis of those cavesThe methodology used has constituted, to sum up, of bibliographical revision concerning the theme, field works in the study area and office work, the moment when integration and data analysis took place. One has concluded in the expectation that this karst process in quartzite rocks here studied may be given to tourists through geotourism and that the Parque Estadual do Ibitipoca, remarking their caves, may be seen beyond its scenical beauty, but as an evolution page of the Earth planet which deserves to be interpreted, valued, publicized and (geo) conserved.

KEY-WORDS: Karst. Quartzite. Geotourism.

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O Parque Estadual do Ibitipoca (PEI) é uma unidade de conservação do Estado

de Minas Gerais que apresenta grande beleza cênica a qual está associada, entre outros, ao processo de carstificação em quartzitos, destacando-se um grande número de cavernas.

O termo carste tem sido usado para designar feições ou formas de relevo geradas a partir da dissolução de rochas calcárias, até meados da década de 1980, surgindo a partir dos estudos do sérvio Jovan Cvijic na região de Kras. Atualmente chegou-se a conclusão de que o que condiciona uma paisagem cárstica não é a litologia, pois toda rocha em algum momento e sob uma condição específica pode ser susceptível ao intemperismo químico (FORD; WILLIAMS, 1989, FORD, 2000 apud HARDT; PINTO, 2009).

Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é compreender o processo de carstificação em rochas quartzíticas, a partir do estudo de caso das cavernas encontradas no Parque Estadual do Ibitipoca.

A metodologia empregada para atingir esse objetivo envolveu:

a) Revisão bibliográfica: baseou-se na leitura e fichamento de obras referentes à caracterização da área de estudo e sobre estudos de carstificação em rochas não carbonáticas.

b) Trabalhos de campo: ocorreram no PEI para reconhecimento da área, enfatizando as cavernas, com anotação das coordenadas geográficas através de um aparelho de GPS modelo Juno ST da Trimble e documentação fotográfica.

c) Trabalhos de gabinete: permitiu a integração e análise dos dados obtidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O PEI é uma unidade de conservação com 1488 ha criada em 1973, localizada entre os municípios de Lima Duarte, Santa Rita do Ibitipoca e Bias Forte (Figura 1) e segundo pesquisas, as rochas predominantes no parque são os quartzitos associados ao Grupo Andrelândia – Proterozóico Médio (NUMMER, 1991; DNPM, 1991; ZAIDAN, 2002; SILVA, 2004; RODELA, 2010), não se encontrando na área rochas carbonáticas.

Por se tratar de uma área bastante metamorfizada não é tarefa fácil distinguir as rochas aflorantes, pois se trata, na verdade, de um complexo litológico que abrange desde quartzitos (de granulação média a grosseira, com teor baixo e alto de mica), a gnaisse finamente bandado, micaxisto, biotita, muscovita etc. sendo os primeiros de

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maior expressão local (90%) e representando a unidade superior do Grupo

Andrelândia na região.

Sobre isso o DNPM (1991) relata que os quartzitos encontrados são de granulometria média a grosseira, há níveis de transição para tipos com aspecto de quartzo de veio, com pouca mica e minerais coloridos e apresentam estrutura com orientação plana, geralmente alongada. Subordinadamente a esses quartzitos grosseiros aparecem outros mais finos e micáceos, geralmente onde as cavernas tendem a ser esculpidas.

Figura 1: Localização da área de estudo

A gênese das cavernas do Ibitipoca está associada a dois momentos distintos, envolvendo processos também distintos. Num primeiro momento, o nível de base ficou estável fazendo com que um fluxo de água (lento, ácido devido ao acúmulo de matéria-orgânica como presenciamos nos cursos d’água do parque e constante, pois o índice pluviométrico na região é elevado) entrasse em contato com as rochas predominantes, no caso os quartzitos, através de seus pontos de fraqueza (fraturas, falhas e planos de acamamento com abundância de mica e quartzito mais fino), e a partir disso provocasse a dissolução da sílica (quartzo) e dos minerais presentes nas micas e feldspatos (aluminossilicatos) (BENTO, 2014).

Aqui é relevante ressaltar o papel das descontinuidades no processo de carstificação de rochas siliciclásticas, haja vista que nesse tipo de rocha “[...] a infiltração da água superficial segue zonas de descontinuidades da rocha, principalmente fraturas e as estratificações, associadas à ocorrência de depressões com sistemas de lineamentos” (ROBAINA; BAZZAN, 2008, p. 63).

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Dando continuidade ao processo, num segundo momento, houve o aumento do

nível de base local, o que na região está associado aos movimentos neotectônicos e consequente diferença entre o nível de base local e regional, cerca de 250-350 metros, fazendo com que a velocidade da água fosse aumentada, potencializando seu poder erosivo. Desde então ao papel da dissolução passa a ser somado o da remoção mecância de grãos de quartzo, formando uma rede de condutos cilíndricos, parecidos com pipes. A formação de condutos maiores (condutos de dissolução) e das galerias ocorre através do alargamento e interligação desses condutos cilíndricos, além do abatimento de blocos.

Quanto à evolução dessas cavernas, Corrêa Neto et al (1997, p. 9), aponta o papel do controle estratigráfico no sentido de que a medida que as galerias aumentam na vertical, entram em contato com o quartzito grosseiro e este sendo mais resistente ao processo erosivo inibe esse alargamento, mas induz na horizontalização e aprofundamento das galerias, momento que há controle dos fraturamentos, sendo que nas cavernas de maior porte, como a dos Moreiras (673 m) e dos Viajantes (440 m), “a direção e a inclinação das galerias são ditadas pela intersecção de fraturas com o plano da camada de quartzito mais friável [...]”.

No interior de algumas cavernas, nas galerias mais superficiais, visualizaram-se algumas microfeições, tais como: pequenas caneluras formadas pelo escoamento da água ao longo das paredes da rocha, provocando sua erosão e microtravertinos constituídos de argila expansiva e formados em associação com presença constante de água corrente.

CONSIDERAÇÕES

Diante do que foi exposto depreende-se que a gênese das cavernas do PEI envolveu o processo de dissolução como agente inicial na modificação das rochas quartzíticas, contribuindo para que outros processos como erosão e abatimento de blocos fossem somados, originando as feições cársticas encontradas no parque, com destaque para as cavernas.

No PEI a formação de feições cársticas tem; portanto, no processo de carstificação em quartzitos um dos responsáveis pela geração de feições cársticas de grande beleza cênica e com uma rica geodiversidade, sendo as cavernas e demais feições cársticas apenas uma amostra, fazendo do parque a sétima unidade estadual mais visitada no Brasil (MMA, 2004) e com um grande potencial para a prática do geoturismo.

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Recomenda-se que essas feições sejam inseridas nos programas de educação

e interpretação ambientais do parque para que a natureza seja vista, apreciada e entendida de forma sistêmica e integrada, possibilitando o nascimento de uma percepção ambiental baseada no meio ambiente por inteiro e não apenas na sua metade biótica.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos ao IEF – Instituto Estadual de Florestas por ter concedido licença para realização da pesquisa no parque.

REFERÊNCIAS

BENTO, L. C. M. PARQUE ESTADUAL DO IBITIPOCA/MG: potencial geoturístico e proposta de leitura do seu geopatrimônio por meio da interpretação ambiental. 2014. 185 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2014.

CORRÊA NETO, A. V.; et al. Gruta das Bromélias (MG042), Serra do Ibitipoca, município de Lima Duarte: uma das maiores cavernas em quartzito do mundo. Espeleo-Tema, v. 18, p. 1-12, 1997.

DNPM. Programa levantamentos geológicos básicos do Brasil. Lima Duarte. Folha SF.23-X-C-VI. Belo Horizonte: DNPM/CPRM, 1991. 201 p.

HARDT, R.; PINTO, S. dos A. F. Carste em litologias não carbonáticas. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 10, n. 2, p. 99-105, 2009.

MMA. Diagnóstico da visitação em parques nacionais e estaduais. 2004.

NUMMER, A. R. Análise estrutural e estratigrafia do Grupo Andrelândia na região de Santa Rita do Ibitipoca, Lima Duarte, MG. 1991. Dissertação (Mestrado em Geociências) – Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1991.

ROBAINA, L. E. de S.; BAZZAN, T. Feições cársticas em rochas siliciclásticas no oeste do Rio Grande do Sul. Revista brasileira de Geomorfologia, a. 9, n. 8, p. 53 – 64, 2008. Disponível em:

<http://www.ugb.org.br/final/normal/artigos/RBG_9.2/Art%2005%20-%20Feicoes%20-%209n2.pdf>. Acesso em: 07 set. 2011.

RODELA, L. G. Relevo do Parque Estadual do Ibitipoca, Sudeste de Minas Gerais. In: COLÓQUIO DE PESQUISADORES DE TURISMO, HOSPITALIDADE, PAISAGEM E RECURSOS NATURAIS: INTEGRANDO IDÉIAS, 1., 2010, São Paulo. Anais... São Paulo: Universidade Nove de Julho, 2010, p. 225-245.

SILVA, S. M. da. Carstificação em rochas siliciclásticas: estudo de caso da Serra do Ibitipoca, MG. 2004. 143 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal de Belo Horizonte, Belo Horizonte, 2004.

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ZAIDAN, R. T. Zoneamento de áreas com necessidade de proteção ambiental no

Parque Estadual do Ibitipoca – MG. 2002. 209 f. Dissertação (Mestrado em Ciências ambientais e florestais) – Instituto de florestas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, 2002.

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