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4. Capítulo II

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CAPÍTULO II

DOS NÚMEROS DA INCLUSÃO

Mas direi também que mudar implica saber que fazê-lo é possível. Paulo Freire

2.1 Políticas Públicas de Inclusão e os Números: não se trata de minorias

A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz em seu art. 1º que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”, porém, uma sociedade que desvaloriza o potencial humano, através de discriminação, preconceitos e exclusão, não pode melhorar sua qualidade de vida, e, consequentemente, fica limitada em seu desenvolvimento cultural e econômico. Isso porque as interações sociais se ampliam e são enriquecidas na medida em que se faz necessário ler, participar, interagir neste mundo, de maneira livre, democrática e com a preservação da dignidade e dos direitos da pessoa.

Nesse sentido, observamos que a Declaração de Salamanca (1994) reafirma o compromisso de muitos países em proporcionar “Educação para Todos” através dos sistemas de ensino inclusivos, com propostas e metas para garantir que o acesso à educação e a qualidade do atendimento educacional para todos os alunos sejam uma realidade. Assim, os países signatários, entre eles o Brasil, buscam atender às recomendações feitas na Declaração de Salamanca:

[...] escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e super-dotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados.(1994,p. 01)

Apesar dessas diretrizes, presentes no documento acordado por vários países, no ano 2000, o Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, era um país com 14,5% de sua população com algum tipo deficiência, o que significava 24,6 milhões de pessoas com algum tipo de incapacidade ou deficiência.

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Esses números deram um salto expressivo em 2010, revelando quase 24% 1da população brasileira, ou seja, 45,6 milhões de brasileiros, com algum tipo de deficiência. Assim temos a matrícula de 588 mil alunos com NEE no ano de 2011, não significando que estes alunos receberam AEE, mas que sua necessidade educacional foi registrada pelo Censo, possibilitando visibilidade para que as políticas públicas possam alcançá-los de alguma forma a garantir seus direitos.

O registro desse crescimento expressivo nos números de alunos matriculados é percebido como positivo pelas entidades envolvidas com os direitos da pessoa com deficiência, pois, revela que as questões de inclusão e acessibilidade não podem ser vistas como interesse de uma minoria.

2.2 Censo Populacional de 2000 a 2010: uma década de transformações para as pessoas com deficiência

No transcorrer dessa década ocorreram conquistas significativas das pessoas com deficiência no campo político, social e educacional. Utilizaremos os dados do censo escolar de 2000 e 2010 para estabelecer um diálogo com a inclusão. Perguntamos o que de fato tem acontecido nas escolas, que mostra uma mudança no sentido de priorizar atendimento especializado integrado para alunos com e sem deficiência?

Trazemos para reflexão a Política Nacional de Inclusão, suas garantias quanto à educação dos alunos com NEE, recorrendo aos dados estatísticos quantitativos que mostram o universo desses alunos matriculados no ensino regular a partir desses documentos, observando reflexivamente de que forma tem se dado nas escolas, na esfera nacional, estadual e municipal, em Juara/MT, o atendimento especializado desses alunos especificados no censo como alunos da Educação Especial.

Nossa conversa, iniciada com os números da população brasileira, através do Censo Populacional, pesquisado pelo IBGE, mostra crescimento na população de pessoas com deficiência. Não necessariamente deficientes que não existiam em outros censos, mas que podem ter se apresentado como tal por causa da consolidação de políticas de Inclusão.

1 Dados da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.pessoacomdeficiencia.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=890, acesso dia 03/12/2012.

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Considerando que há um consenso mundial que 10% da população apresenta algum tipo de deficiência, esse percentual se eleva, em se tratando de países subdesenvolvidos, em situação de conflitos ou catástrofes. O Brasil tem um índice elevadíssimo de pessoas com deficiência. Os censos do IBGE tem registrado um aumento preocupante, haja vista que no Censo Populacional e Estatístico do IBGE de 2000 era 14,5% da população. O Censo de 2010, apesar das críticas das entidades das pessoas com deficiência de que os instrumentos de colete de dados não possibilitavam a dimensão exata de pessoas com deficiência, revelam, ainda assim, números assustadores, 24%, ou seja, 45,6 milhões de pessoas.

Partindo desses números, tentamos quantificar quantos frequentam a escola, para isso observamos o Censo Educacional de matrículas, os quais registram o número de matrículas de todo o território brasileiro, especificando esferas administrativas das escolas.

Censo Educacional – Matrículas

Ano Alunos Matriculados na

Educação Especial Alunos matriculados em classes comuns 2000 382,2 mil 81,7 mil 2010 702,6 mil 484,3 mil 2012 820,4 mil 620,7 mil Fonte: MEC/Inep

O que pretendíamos verificar com este trabalho é se tem acontecido a Inclusão, com qualidade na esfera educacional. Pois, para garantir o acesso e a permanência, com progressão e aprendizagem dos alunos, a escola precisa reconhecê-los como pessoas com deficiência, com NEE, e trabalhar com suas potencialidades, de maneira diversa e com qualidade. Concordamos com a Declaração de Salamanca onde se lê que “inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao desfrutamento e exercício dos direitos humanos.” (1994, p.05)

Segundo a nota presente no Portal Brasil2, de 06 de setembro de 2011, o número de alunos com necessidades educacionais especiais matriculados no sistema regular de

2 Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/04/18/cresce-inclusao-de-deficientes-em-sala-comum, acessado em 30/10/2012.

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ensino público cresceu 493%, em dez anos, período de 2000 a 2010, revelando uma década de transformações nas políticas de educação brasileiras, com a prática da Inclusão destes alunos, em todos os Estados, garantindo a estes uma “suposta” acessibilidade física, à comunicação, à aprendizagem e à participação no contexto escolar, conforme princípios da Educação Inclusiva. No entanto, a matrícula pode ser apenas uma formalidade dos sistemas de ensino regular e suas escolas, para cumprimento à lei para se eximirem de responsabilidade e penalização jurídica. A Inclusão extrapola a ocupação do espaço físico, a simples presença do aluno na escola, para o sentimento de pertencer a, fazer parte de...

As estatísticas dos censos escolares registram os números que correspondem aos interesses do governo, pois necessita comprovar a efetivação da política de Educação Inclusiva aos organismos internacionais, dos quais recebe recursos para tal. A exemplo de outras políticas, faltam investigações que apontem a realidade da inclusão de cada estado e, consequentemente, seus municípios. O Estado de Mato Grosso carece ser pesquisado, uma vez que não tem estudos que mostrem como ocorre ou não ocorre a Inclusão de alunos com NEE.

2.3 Censos Escolares: um olhar reflexivo sobre os números do ano 2000 e do ano de 2010

O Ministério da Educação – MEC, divulga a “Evolução da Educação Especial no Brasil”3, na qual podemos verificar que, no ano 2000, havia 382,2 mil alunos matriculados na Educação Especial, sendo 300,5 mil em escolas especializadas e classes especiais; e 81,7 mil alunos matriculados em escolas regulares ou classes comuns.

Em 2010, o MEC apresentou dados do Censo Escolar onde registrou 51,5 milhões de matriculados na Educação Básica, pública e privada, deste país. Destes, 702,6 mil são atendidos pela Educação Especial, dados estes que podem ser verificados na indicação da nota de rodapé, como pode ser lido, no ítem 5, da nota técnica, emitida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, e divulgada pelo MEC, em 20 de dezembro de 2010. A boa notícia é que, em 2010,

3 Evolução da Educação Especial no Brasil – disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/brasil.pdf

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75,8% dos alunos matriculados na Educação Especial são atendidos pelas escolas públicas, mas como dissemos não sabemos como são atendidos e a qualidade da Inclusão.

Esses dados confirmam a política apresentada pelo BRASIL(2010),

A política da educação especial adotada pelo Ministério da Educação estabelece que a educação inclusiva seja prioridade. A política trouxe consigo mudanças, que permitiram a oferta de vagas na educação básica valorizando as diferenças e atendendo às necessidades educacionais de cada aluno, fundamentando a educação especial na perspectiva da integração. (BRASIL, 2010, p.12)

No entanto, a matrícula desses alunos deixa dúvidas quanto à prática da inclusão, porque a estatística agrupa esses alunos de forma obscura, usando referências como classes regulares, classes especiais e escolas exclusivas. No nosso entendimento fundamentado nas diretrizes da política da Inclusão, as classes especiais, embora funcionem em escolas regulares, tem caráter segregativo, contrário aos propósitos da Inclusão. E escolas exclusivas seriam escolas especializadas conforme revela gráfico abaixo:

Gráfico 1

O Gráfico 1 apresenta o aumento no número de matrículas na Educação Especial. Em dez anos, quase dobrou o número de alunos matriculados, tanto na rede

ano 2000 ano 2010 0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 700000 800000 382215 702603

Número de Matrículas na Educação Especial Brasil - 2000 e 2010

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estadual, quanto na escola “privada” grifo nosso. O termo “privada” não esclarece o tipo de atendimento dado aos alunos com NEE, o que se entende como escola particular, mas que no entanto, tratam-se de escolas especializadas. Isso camufla os dados reais da Inclusão no Brasil.

De acordo com o Grafico a seguir, ponderamos sobre mudanças nos números da Inclusão, como aparecia no ano 2000:

Gráfico 2

Podemos observar no Gráfico 2 que no Brasil, ano 2000, havia mais alunos matriculados nas escolas especializadas e nas classes especiais que nas escolas regulares ou classes comuns. Como sabemos que esses dados devem ser informados à UNESCO, supomos que seja o motivo de usarem termos não correspondentes ao tipo de escola e atendimento.

Sabendo disso, estabelecemos nossa comparação com o Gráfico 3, apresentando os dados que o Governo Federal divulga:

Gráfico 3

31.07%

68.93%

Distribuição das matrículas no ano de 2010 (Brasil)

Escolas Especial-izadas/ Classes Es-peciais

Escolas Regu-lares/Classes Comuns

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O Gráfico 3 tenciona mostrar uma “transformação da realidade escolar” a partir de políticas de Inclusão. Podemos constatar através desse gráfico que há mais alunos em classes regulares comuns, no ano de 2010, do que em classes e escolas especializadas. Esses dados nos levam a supor que esteja havendo uma maior iniciativa de incluir os alunos com NEE nas escolas regulares, mas esse processo ainda está sendo construído com base em contradições operacionais e pedagógicas.

Convencidos de que a inclusão não se dá somente pela matrícula do aluno no sistema regular de ensino, mas, principalmente, pelas práticas pedagógicas de atendimento especializado, cujos professores carecem de formação e informação. Do ponto de vista legal, o que tem sido ofertado é um ideal de educação inclusiva, mas que no interior das escolas, não acontece como previsto no discurso da lei.

2.4 Algumas reflexões sobre os números de Mato Grosso

A Educação no Estado de Mato Grosso se constitui de maneira muito particular no cenário brasileiro, apresentando em suas nuances lutas sindicais por melhores condições de trabalho dos profissionais da educação e uma população/comunidade escolar, que está em constante movimento migratório em função do trabalho. Essas duas situações históricas não são os únicos elementos que trazem para a educação suas marcas, todavia caracterizam os movimentos políticos que buscam implantar e implementar políticas de Inclusão, justificados pelos números do Censo Populacional e Censo Escolar. Contudo, é nesse cenário que a Educação Inclusiva se constitui falácia ou verdade, discurso ou prática, números ou pessoas.

A Educação Especial em MT, no período de 2002 a 20054 atendeu um total de 10033 alunos com NEE, sendo 4900 alunos pela rede pública e 5133 nas organizações não governamentais conveniadas com a SEDUC. De acordo com dados de 20095, o Estado ofereceu AEE em 118 municípios, faltando 28 municípios onde esse

4 Fonte: SEDUC/SAEC/ GEE/2006

5 Fonte : Educação Especial De Mato Grosso - Gerência De Informação E Estatística - Censo Escolar-2009

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atendimento precisa ser universalizado. Esse AEE não fica especificado nos documentos públicos como frequencia em classes comuns e atendimento adequado ao tipo de NEE.

No Censo Populacional de 2010, o IBGE identifica, aproximadamente, 600 mil pessoas com deficiência no Estado de MT, representando 22,6% da população, e o Censo Escolar do mesmo ano registrou 10380 matrículas na modalidade Educação Especial (Inep, 2010). Sabendo disso, nosso questionamento tenta retomar o porquê de uma condição tão generalizada apresentada por esses números para os alunos com NEE. Não se sabe quais são as NEE, não é possível identificar se são classes comuns ou classes especiais, de escolas especializadas. Como os alunos estão sendo atendidos nas escolas matogrossenses?

Nesse sentido, a política de Educação Inclusiva,

[...] mostra um certo nível de compromisso com as pessoas com deficiência; em outros momentos parece prevalecer a questão quantitativa de atendimento mais compatível com uma política de resultados para justificar compromissos governamentais no âmbito internacional. (FERREIRA; GÓES Apud MELETTI; BUENO, 2011, p. 372)

Esse compromisso, aparentemente visível no crescimento do número de alunos matriculados na modalidade de Educação Especial no Estado de MT, no decênio 2000/2010, mostra apenas que alunos com NEE estão inseridos em escolas, mas não explica o tipo de AEE oferecido, se é que existe AEE.

Referências

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