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Trabalho escravo no século XXI: uma afronta à dignidade da pessoa humana

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

FERNANDO SCHMIDT DE SOUZA

TRABALHO ESCRAVO NO SÉCULO XXI: UMA AFRONTA À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Três Passos (RS) 2017

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FERNANDO SCHMIDT DE SOUZA

TRABALHO ESCRAVO NO SÉCULO XXI: UMA AFRONTA À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi

Três Passos (RS) 2017

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Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou a nunca desistir dos meus sonhos.

À minha orientadora Nelci Lurdes Gayeski Meneguzzi pela sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigado!

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma analise em primeiro momento acercado trabalho escravo no Brasil à luz da legislação pátria contemporânea, contemplando junto a este tópico as diversas formas em que pode se desenvolver o trabalho escravo. Em segundo momento se trabalha o escravo após a abolição, trazendo junto às coibições deste ato atentatório ao ser humano, os atuais contornos sobre o trabalho em condições análogas a de escravo, e por fim um trabalho que visa proteger os direitos inerentes à condição de ser humano, proporcionando uma vida e um trabalho digno. Para essa pesquisa se utilizou de pesquisas bibliográficas e doutrinárias, sob o método hipotético dedutivo, uma vez que se parte da análise de uma proposição geral a fim de construir uma premissa a ser aplicada a casos práticos.

Palavras-Chave: Dignidade da Pessoa Humana, Escravidão, Trabalho Degradante, Trabalho Análogo ao de Escravo.

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ABSTRACT

The present work of monographic research makes an analysis at the first moment approached slave labor in Brazil in the light of the contemporary homeland legislation, contemplating next to this topic the various forms in which slave labor can develop. Secondly, the slave works after the abolition, bringing with the restrictions of this act that threatens the human being, the present contours on the work in conditions analogous to that of slave, and finally a work that aims to protect the inherent rights to the condition of being Human, providing a life and decent work. For this research, we used bibliographical and doctrinal research, under the hypothetical deductive method, since we start from the analysis of a general proposition in order to construct a premise to be applied to practical cases.

Key words: Dignity of the Human Person, Slavery, Degrading Work, Work Analogous to Slave.

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LISTA DE SIGLAS

ANDT Agenda Nacional de Trabalho Decente

CODEMAT Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho CONAETE Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo GEFM Grupo Especial de Fiscalização Móvel

MPT Ministério Publico do Trabalho

OIT Organização Internacional do Trabalho ONU Organização das Nações Unidas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO PÁTRIA ... 10

1.1 Conceitos de trabalho escravo ... 12

1.2 Escravidão ... 14

1.3 Trabalho forçado ... 16

1.4 Trabalho degradante ... 19

1.5 Trabalho análogo ao de escravo ... 22

2. TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL PÓS ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA .... 25

2.1 Trabalho escravo no século XXI ... 28

2.2 O combate ao trabalho escravo no Brasil ... 30

2.3 O trabalho decente ... 33

CONCLUSÃO ... 36

REFERÊNCIAS ... 38

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo sobre um assunto em que convergem às mais importantes necessidades de combate e abordagens críticas em nossa sociedade, o qual consiste na prática do trabalho escravo.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem sobre o trabalho escravo no Brasil, mas também o que traz a legislação penal acerca deste trabalho, passando-se em seguida a elencar as diversas formas em que o trabalho escravo se apresenta para enganar o trabalhador, informando características, conceitos, formas, e outros dados importantes acerca deste trabalho que viola todos os direitos basilares de um ser humano.

No segundo capítulo analisa-se a vida do escravo após abolição da escravatura, passando-se ao trabalho escravo em nossos atuais dias e os principais meios de combate para inibir esta prática que faz milhares de vítimas, por não possuírem conhecimento suficiente do que estão lhe ofertando, sendo desprovidos financeiramente, não tendo nenhum auxílio por parte do estado e comunidade tendo que aderirem a um trabalho totalmente desumano. Por fim aborda-se sobre o trabalho decente que esta proporcionando aos trabalhadores não só uma remuneração, mas um conjunto de dignidade em que as pessoas possuem como direitos.

Para realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas, que contemplaram a consulta em livros, artigos e distintas fontes, tanto por meio físico quanto eletrônico, a fim de enriquecer a coleta de informações, para que se possa ter um estudo aprofundado.

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1 TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL E A LEGISLAÇÃO PÁTRIA

O trabalho escravo é uma realidade enfrentada mundialmente. Sabe-se que mesmo sendo tipificado como crime no ordenamento jurídico brasileiro sua prática ainda esta presente na sociedade. Embora não existam dados precisos acerca do número de vítimas, estima-se que pelo menos no Brasil, mais de 43 mil pessoas foram libertadas do trabalho escravo no ano de 1995 a 2012 e que os fatores determinantes para a escravização são a pobreza e a miserabilidade identificando-se assim a vulnerabilidade do individuo.

O trabalho escravo possui características bem próprias que acabam acarretando na supressão de direitos essenciais, especialmente na dignidade dos trabalhadores. O cerceamento da liberdade, as condições mínimas de saúde, as jornadas de trabalho excessivas são algumas das características identificadoras do trabalho escravo que muitas vezes se agravam com a retenção dos salários, fazendo com que os trabalhadores se obriguem a submeter-se as ordens e condições impostas pelos empregadores.

A Constituição Federal, como lei maior, serve de fundamentação institucional e política à legislação ordinária e em seu texto encontram-se inúmeros dispositivos relativos aos direitos humanos e fundamentais, bem como os direitos fundamentais sociais.

Consideram-se direitos fundamentais aqueles que são indispensáveis à pessoa humana, necessários para assegurar a todos uma existência digna, livre e igualitária, tais como o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, inseridos no artigo 5º caput da Constituição Federal de 1988.

Assim também são direitos, os direitos fundamentais sociais, como o acesso a alimentação, moradia, trabalho, dentre outros tantos. Segundo Casteli et.al. (2012, p. 33):

Privar o trabalhador de sua dignidade e/ou de sua liberdade e mais do que uma forma de desrespeitar os direitos trabalhistas. As formas de cercear a liberdade impedem o trabalhador de deixar o serviço. E

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as condições degradantes de trabalho e a jornada exaustiva retiram a dignidade da pessoa. Sem dignidade, não se pode ser livre. E sem liberdade, não e possível viver com dignidade. O trabalho escravo rebaixa a pessoa a uma condição de não ser humano, submetendo-a a uma enorme humilhação. Muitos trabalhadores, ao relatar a situação nas fazendas, dizem que foram “tratados pior do que animal”. Por isso, o trabalho escravo e uma violação aos direitos humanos. (grifo no original)

A Constituição Federal em seu artigo 7º prevê a proteção a todos os trabalhadores de todas as categorias, assegurando as seguintes garantias e direitos: salário mínimo; fundo de garantia do tempo de serviço que foi prestado (FGTS); jornada de trabalho que não ultrapasse oito horas diárias e quarenta e quatro horas semanais, tendo um direito de receber um valor extra caso ultrapassar as oito horas diárias; férias; décimo terceiro; repouso semanal e remunerado; seguro desemprego; aviso prévio; assistência médica; irredutibilidade do salário; licença maternidade e paternidade. Todos esses direitos visam à proteção não apenas ao trabalho, mas também a proteção à dignidade dos trabalhadores.

A Constituição Federal enumera todos os direitos e é o Estado que tem a responsabilidade de garantir e proporcionar ao trabalhador um trabalho digno, assegurando todos os direitos fundamentais dos trabalhadores que estão elencados no art. 7º da CF/88. Segundo Silva (2010, p. 72-73):

Cabe ao Estado, neste sentido, não apenas conferir ao homem a oportunidade de acesso ao trabalho, mas também cuidar para que o trabalho seja executado em condições decentes, de forma a garantir efetivamente a dignidade da pessoa humana, uma vez que dentre as atividades humanas fundamentais, o trabalho ocupa posição de destaque, pois se relaciona com a própria vida, assegurando a sobrevivência do indivíduo e a vida da espécie humana, garantindo, portanto, a própria dignidade.

Atualmente o Código Penal Brasileiro tipifica o trabalho escravo como crime em seu artigo 149, que assim dispõem:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:

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Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;

II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I - contra criança ou adolescente;

II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem. (BRASIL, 1941)

Ocorre, porém que mesmo tipificado como crime no ordenamento brasileiro, atualmente ainda presenciamos essa prática no Brasil, muitas vezes está mascarada, passando por despercebida na sociedade, o que inadmissível em pleno século XXI, onde as informações buscam auxiliar todo ser humano, de modo a garantir – lhe o direito a dignidade humana.

1.1 Conceitos de trabalho escravo

O trabalho escravo foi abolido no Brasil em 13 de maio de 1888, quando da assinatura da lei Áurea, mas mesmo com sua abolição a prática ainda se faz presente em nossa sociedade. Segundo MPT (2015 p.4):

Em 13 de maio de 1888 foi formalmente abolida a escravidão no Brasil. Infelizmente, porém, a assinatura de uma lei não foi suficiente para afastar o problema da realidade, ainda sendo encontrados trabalhadores submetidos a condições análogas a de escravo, a também chamada escravidão contemporânea. A mentalidade e o comportamento escravocrata ainda subsiste, assim como a vida do ex-escravo não melhorou de fato, ao revés, sob alguns aspectos, aprofundou-se ainda mais o abismo das desigualdades sociais, econômicas, raciais e culturais, descortinando e desencadeando graves problemas que até hoje povoam a sociedade brasileira.

O trabalho escravo possui varias maneiras de se desencadear, de forma a fazer com que a pessoa acabe se submetendo a escravidão. Conforme leciona Casteli et.all (2012, p. 29), o trabalho escravo conceitua-se:

No Brasil, o termo trabalho escravo é usado para designar a situação em que a pessoa está submetida a condições degradantes de

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trabalho, ao trabalho exaustivo e/ ou a formas de privação de liberdade, ou seja, de trabalho forçado, tanto no campo como na cidade, essa definição está prevista no artigo 149 do Código Penal brasileiro.

O trabalho escravo pode ter um conceito muito amplo, que não se restringe apenas a condições degradantes e a privação de liberdade, mas principalmente a afronta à dignidade da pessoa humana. Segundo Repórter Brasil (2015, s.p.):

Não é apenas a ausência de liberdade que faz um trabalhador escravo, mas sim de dignidade. Todo ser humano nasce igual em direito à mesma dignidade. E, portanto, nascemos todos com os mesmos direitos fundamentais que, quando violados, nos arrancam dessa condição e nos transformam em coisas, instrumentos descartáveis de trabalho. Quando um trabalhador mantém sua liberdade, mas é excluído de condições mínimas de dignidade, temos também caracterizado trabalho escravo.

O trabalho escravo é aquele em que a pessoa não consegue se libertar do patrão/empregador, pelo emprego da violência ou pela própria fraude. Segundo Repórter Brasil (2015, s.p.):

É quando o trabalhador não consegue se desligar do patrão por fraude ou violência, quando é forçado a trabalhar contra sua vontade, quando é sujeito a condições desumanas de trabalho ou é obrigado a trabalhar tão intensamente que seu corpo não agüenta e sua vida pode ser colocada em risco. Trabalho escravo não é apenas desrespeito a leis trabalhistas ou problemas leves. É grave violação aos direitos humanos.

Outro conceito acerca do trabalho escravo contemporâneo reflete sob o aspecto de que se o mesmo se dá quando ocorre mediante a redução do trabalhador ao mero objeto de lucro do empregador. É o labor em que o obreiro é humilhado e submetido a condições degradantes de trabalho e, muitas vezes, sem o direito de rescindir o contrato ou deixar o local de labor a qualquer tempo. (PEREIRA, 2014, p.23)

Em suma, trabalho escravo é aquele que submete o trabalhador a condições desumanas e degradantes, violando direitos e garantias fundamentais. Submeter o

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trabalhador a escravidão é uma afronta a dignidade da pessoa humana, o que é inadmissível, um retrocesso para a sociedade.

1.2 Escravidão

No Brasil a escravidão ocorre quando o chefe tem amplo poder de propriedade e comando sobre o trabalhador, utilizando o trabalhador com objetivo único de obter o máximo de lucro com o mínimo de gasto com a produção. Segundo vislumbra-se em Silva (2010, p. 41):

A escravidão, portanto, foi definida por várias normas multilaterais aprovadas pelo Brasil, como o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto de poderes que traduzam um direito de propriedade ou o estado ou condição de um indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, os atributos do direito de propriedade.

Na escravidão, o trabalhador é tido como “propriedade” do empregador, decorrente disso o mesmo pode usar, dispor, reavê-lo, devendo estar disponível para o chefe usufruir da maneira que quiser. Segundo Silva (2010, p. 41 e 42):

A escravidão, outrossim, é o exercício, relativamente a uma pessoa, de um poder ou de um conjunto de poderes que traduzam um direito de propriedade ou o estado ou condição de um indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, os atributos do direito de propriedade, compreendendo, portanto, a faculdade de usar, gozar e dispor do escravo, bem como o direito de reavê-lo do poder de quem quer que o possua ou o detenha indevidamente.

Nenhum contrato de trabalho pode prever a submissão a escravidão, os direitos trabalhistas são indisponíveis, independe da vontade das partes o contrato será ilícito e nulo de pleno direito. Ocorre porem que esses contratos não são celebrados muitas vezes pela ilicitude do seu objeto ou de sua prestação. Para Silva (2010, p. 27):

A escravidão, portanto, é passível de ocorrer em relações jurídicas diversas das relações trabalhistas, onde, inclusive, nem é possível estabelecer validamente o contrato de trabalho, em função da ilicitude de seu objeto, como se dá na escravidão para fins sexuais,

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no tráfico de seres humanos, no comércio de órgãos e no tráfico e exploração sexual de crianças.

Colocar a pessoa no mesmo patamar da propriedade é ignorar as qualidades físicas, morais e emocionais do ser humano. Segundo Silva (2010, p. 42) “a escravidão, portanto, encerra uma verdadeira contradição, pois enquanto propriedade, o escravo é uma coisa, um bem objetivo, mas como homem, o escravo possui corpo, aptidões intelectuais e subjetividade, não deixando, portanto, de ser humano.”

Corroborando com o mesmo entendimento Silva (2010, p. 42 e 43):

A escravidão, assim, refere-se à própria coisificação do homem, atingindo, por conseqüência, toda a esfera da dignidade da pessoa humana, que se vê aviltada não apenas em sua liberdade e igualdade, mas em sua própria condição de ser humano. Por essa razão, a proscrição da escravidão e de práticas análogas à escravidão é norma peremptória no direito internacional, não comportando nenhuma espécie de exceção, relativização ou juízo de ponderação.

A escravidão já foi reconhecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) como um problema mundial que possui diversas raízes que vão além do trabalho escravo, a exemplo do tráfico de pessoas. Segundo Silva (2010, p. 43):

A escravidão, segundo o entendimento da ONU, abrange uma variedade enorme de violações de direitos humanos, englobando não só a escravidão tradicional e o tráfico de escravos, como a escravidão contemporânea, que compreende a venda de crianças, a prostituição infantil, a pornografia infantil, a exploração de crianças no trabalho, a mutilação sexual de meninas, o uso de crianças em conflitos armados, a servidão por dívida, o tráfico de pessoas, a venda de órgãos humanos, a exploração da prostituição e certas práticas de apartheid e regimes coloniais.

Existem inúmeros fatores que levam a uma pessoa a se submeter ao trabalho escravo principalmente a pobreza. Atualmente com a situação econômica do país e com a crise do desemprego os índices de submissão a esse tipo de trabalho vêm aumentando. Segundo Pereira (2014, p.22) “o trabalhador é submetido à condição de escravo em virtude de suas condições de extrema pobreza. Devido aos altos índices de desemprego nas regiões de recrutamento, há grande oferta de mão de

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obra de pessoas em busca de um serviço que possa prover seu sustento e de sua família.”

As pessoas submetidas a escravidão são trabalhadores oriundos de estados que possuem um índice de desenvolvimento humano bastante reduzido, trabalhadores estes que não possuem nenhuma qualificação no campo profissional, levando consigo somente a sua força brutal, e as necessidades em que a vida já lhe colocou. Para Pereira (2014, p.22):

As vitimas da escravidão contemporânea são pessoas miseráveis, recrutas em locais de baixo IDH (índice de desenvolvimento humano), oriundos principalmente dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará. A maioria são homens, entre 18 e 40 anos de idade, analfabetos ou com pouco estudo, que possuem apenas sua força bruta como capital de trabalho. Sem qualquer tipo de qualificação profissional e sem opção de sobrevivência em suas comunidades de origem, aceitam qualquer promessa de emprego, em busca de melhor situação econômica.

Portanto estamos diante de um modo cruel, visto que diversas pessoas são inseridas por falta de conhecimento do que estão lhe propondo, e oportunidades que lhes carecem pela ausência da sociedade, fazendo delas meros objetos de trabalho, sem ter o mínimo de direito e dignidade que lhes são conferidos.

1.3 Trabalho forçado

O trabalho forçado é aquele onde o trabalhador presta um serviço de forma coagida, ou seja, não há o consentimento para a prestação do trabalho, mas em virtude de promessas que lhe são feitas, promessas que são inverídicas por parte do empregador e acabam por enganar o trabalhador. Segundo Silva (2010, p.53):

O trabalho forçado como todo trabalho exigido de um indivíduo sob ameaça de sanção e para o qual ele não se apresentou espontaneamente ou todo trabalho exigido de alguém sob ameaça de punição, após ele ter incorrido em vicio de consentimento quanto à aceitação do serviço, motivado por falsas promessas do beneficiário direto ou indireto do trabalho ou mesmo após ter ajustado livremente o serviço.

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O trabalho forçado faz com que a pessoa não consiga se libertar do trabalho que esta sendo-lhe exigido, em virtude do empregador impedir a sua saída de maneira ardilosa. Segundo Souza (s.a., p.4):

Atualmente além de ser considerado o trabalho forçado como aquele em que o trabalhador não tenha se oferecido voluntariamente, também quando ele é enganado pelas promessas inexistentes de condições de trabalho. Há um conceito mais usual, afirmando que o trabalho escravo ou forçado exige que o empregado seja obrigado a trabalhar ou continuar prestando serviços, impossibilitando ou dificultando o seu desligamento.

O trabalho forçado se utiliza de meios de coação, intimidação e outros modos ardilosos para prender o trabalhador em seus serviços, fazendo dessas pessoas reféns de um trabalho cruel. Segundo OIT (2015, s.p.):

O trabalho forçado se refere a situações em que as pessoas são coagidas a trabalhar através do uso de violência ou intimidação, ou até mesmo por meios mais sutis, como a servidão por dívidas, a retenção de documentos de identidade ou ameaças de denúncia às autoridades de imigração.

A convenção nº 29 da OIT, estabelece que o trabalho forçado é quando a pessoa esta obrigada seja pelo Estado, por pessoa física ou privada a desempenhar aquela função que lhe é oferecida mesmo que não consente em executar a mesma. Segundo OIT (2015, s.p.):

De acordo com a Convenção nº 29 da OIT (adotada em 1930), trabalho forçado ou compulsório é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente. Sua exploração pode ser feita por autoridades do Estado, pela economia privada ou por pessoas físicas. O conceito é amplo e, portanto, abrange um vasto leque de práticas coercitivas de trabalho, que ocorrem em todos os tipos de atividades econômicas e em todas as partes do mundo. (grifos no original)

O trabalho forçado é aquele desempenhado com ofensa ao direito de liberdade do trabalhador que, por meio de coação física ou moral, fraude ou artifícios ardilosos, é impedido de extinguir a relação de trabalho. (PEREIRA, 2014, p.28)

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Há de se destacar que trabalho forçado não possui região especifica para atuar, muito pelo contrario esta em todos os lugares, seja em qualquer região do país ou do mundo, se apresentando nas mais diversas maneiras a enganar o trabalhador, de modo que para inibir essa pratica precisamos do comprometimento de toda a sociedade de um modo geral. Segundo OIT (2017, s.p):

O trabalho forçado é um fenômeno global e dinâmico, que pode assumir diversas formas, incluindo a servidão por dívidas, o tráfico de pessoas e outras formas de escravidão moderna. Ele está presente em todas as regiões do mundo e em todos os tipos de economia, até mesmo nas de países desenvolvidos e em cadeias produtivas de grandes e modernas empresas atuantes no mercado internacional. Acabar com o problema exige não só o comprometimento das autoridades dos governos, como também um engajamento multifacetado de trabalhadores, empregadores, organismos internacionais e sociedade civil.

Entretanto o trabalho forçado não abrange somente o Brasil, sua conduta atravessa fronteiras, chegando a pessoas que são de suma vulnerabilidade, de maneira que ficam inertes as falsas promessas que estão lhe prometendo, em razão de manipulações ou de aceitarem essa pratica como ser um trabalho normal em virtude do lugar no qual se encontram, e se não bastasse infringem a esfera trabalhista. Segundo OIT (2015, s.p):

O trabalho forçado pode resultar de movimento transfronteiriço interno e externo, o que torna alguns trabalhadores particularmente vulneráveis ao recrutamento enganoso e a práticas trabalhistas coercitivas. Ele também afeta pessoas em suas áreas de origem, onde nascem ou são manipulados para viver em estado de escravidão ou servidão.

O trabalho forçado se faz presente em todos os grupos sociais, não possui um requisito base para ser escolhido, ele pode abranger as pessoas como um todo. Segundo a Organização do Trabalho (2017, s.p.): “O trabalho forçado afeta todos os grupos populacionais, jovens e velhos, homens e mulheres. No entanto, alguns grupos são mais vulneráveis do que outros [...]”.

As vítimas desse trabalho cruel são trabalhadores excluídos socialmente e acabam por refugiar-se para outro país atrás de uma oportunidade melhor em sua vida, ou ate mesmo pessoas do nosso país que saem da zona rural e vem para os

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grandes centros em busca de um novo caminho e acabam por ser enganados, por não ter um pleno conhecimento do que estão aceitando. Conforme OIT (2017, s.p.):

As vítimas são freqüentemente provenientes de minorias ou grupos socialmente excluídos, como é o caso em muitas partes do Sul da Ásia, África e América Latina. Muitos são trabalhadores migrantes (geralmente, mas nem sempre, trabalhando em situação irregular) ou trabalhadores pobres sazonais, que se deslocam das zonas rurais para as zonas urbanas, ou entre regiões e províncias distantes, em busca de trabalho [...].

Por fim o trabalho forçado não possui lugar específico para atuar, se apresenta de várias formas para enganar o trabalhador, não necessita de idade, e não existe a descriminação entre os sexos.

É o serviço em que o trabalhador é enganado por não ter conhecimento do que esta sendo ofertado para este, e se não bastasse é obrigado a desempenhar a função que lhe é submetida, mesmo que não consinta, sob pena de sofrer as conseqüências que são impostas pelos empregadores, e por fim acabam ferindo todos os direitos trabalhistas que são resguardados por direito.

1.4 Trabalho degradante

Estamos diante de um trabalho que viola todos os direitos humanos que uma pessoa possui por direito, por se tratar de um trabalho que não oferece as mínimas garantias a pessoa que o exerce, fazendo dela um simples e mero objeto de trabalho, não lhe dando nenhum tipo de suporte. Segundo Silva (2010, p. 57):

O trabalho em condições degradantes é caracterizado por condições subumanas de trabalho e de vivência; pela inobservância das normas mais elementares de segurança e saúde no trabalho, de forma a expor o obreiro a riscos à sua saúde e integridade física; pela exigência de jornada exaustiva, tanto na duração quanto na intensidade; pelo não fornecimento ou fornecimento inadequado de alimentação, alojamento e água, quando o trabalhador tiver que ficar alojado durante a prestação dos serviços; pelo não pagamento de salários ou retenção salarial dolosa; pela submissão dos trabalhadores a tratamentos cruéis, desumanos ou desrespeitosos, capazes de gerar assédio moral e/ou sexual sobre a pessoa do obreiro ou de seus familiares.

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É o trabalho em que o tomador dos serviços se vale de abusos para com o trabalhador no momento da execução, fazendo o mesmo a trabalhar de forma intensiva, ostensiva e aumentando sua quantidade de jornada, ou seja, faz com que a pessoa não termine o seu vinculo de trabalho, lhe impondo novas regras a cada dia. Segundo leciona Silva (2010, p. 57-58):

Haverá trabalho em condições degradantes quando, independentemente de o serviço ser prestado voluntariamente pelo trabalhador, houver abuso na sua exigência pelo tomador dos serviços, tanto no que diz respeito à sua quantidade – extensão e intensidade - quanto em relação às condições oferecidas para sua execução.

O trabalho degradante ocorre quando o obreiro presta serviços exposto à falta de segurança e com riscos a sua saúde; quando as condições de trabalho mais básicas são negadas ao trabalhador, como o direito de trabalhar em jornada razoável e que proteja a sua saúde, garanta-lhe descanso e permita o convívio social; quando, para prestar o trabalho, o trabalhador tem limitações na alimentação, na moradia; e na higiene, quando o trabalhador não recebe o devido respeito como ser humano. (BRITO apud PEREIRA, 2014, p.29)

Nesse trabalho a pessoa fica exposta aos mais diversos perigos, sendo que suas garantias de sobrevivência são ínfimas, tendo que dividir espaços em meio a animais perigosos, estando sua vida em risco. Para Pereira (2014, p. 30):

[...] No trabalho prestado sob condições degradantes é comum encontrar trabalhadores alojados em barracos de palha ou lona, junto de animais peçonhentos, expostos a umidade, frio, calor, escuridão. A água para consumo muitas vezes é compartilhada com o gado. Não há locais para alimentação, as refeições são preparadas em fogueiras e ingeridas no chão. Não há garantias mínimas de saúde, higiene, segurança e conforto do obreiro.

O grande índice desse trabalho cruel se concentra em meio a derrubada de matas nativas, visto que são lugares em que as pessoas ficam isoladas e distantes da urbanização, lugares estes que acabam por transmitir doenças graves aos trabalhadores, que acabam por adoecer, e pela ausência de assistência médica vem a óbito. Segundo Pereira (2014, p. 30):

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A maior incidência de trabalho degradante esta relacionada à derrubada de mata nativa, em virtude de difícil acesso ao local de trabalho e das grandes distancias dos centros urbanos. Nas carvoarias, os obreiros são expostos ao calor dos fornos, fumaça e esforço físico desumano. Não são raras as vezes em que sofrem queimaduras e outros acidentes. Na fronteira agrícola, é comum que doenças como malária, febre amarela e tuberculose atinjam os trabalhadores, que sem acesso a atendimento médico, passam meses doentes até que melhorem, apareça alguém para levá-los à cidade, ou venham a falecer.

Há de se destacar que o empregador não fornece direitos obrigatórios e fundamentais do trabalhador, descumprindo normas que estão previstas claramente em nossa constituição brasileira, direitos estes que são de suma relevância para com a pessoa que esta exercendo os serviços que são lhe impostos conforme podemos vislumbrar, em Miraglia ( 2008, p. 150):

No tocante ao respeito às normas de saúde e segurança, é de se ver que o os incisos XXII e XIII do art. 7º da Carta Magna prevê em que são direitos de todos os trabalhadores: a redução dos riscos inerentes à atividade laboral, o pagamento de eventuais adicionais de remuneração; e a observância das normas concernentes à saúde e segurança no ambiente de trabalho. Assim, devem ser assegurados ao obreiro: fornecimento dos equipamentos de proteção individual; instrução de como usá-los e de como realizar o trabalho para o qual foi contratado; e verificação das condições (físicas e mentais) individuais do trabalhador para desempenhar aquela função. Todos esses elementos são necessários para que o desenvolvimento do serviço se realize com deferência ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Portanto o trabalho degradante é o serviço em que o trabalhador esta em situação de humilhação, faz com que as pessoas trabalhem em lugares insalubres, onde não há um mínimo existencial para se viver, são colocados em uma situação de diminuição perante a sociedade, sendo tratadas como um simples objeto de produção, e sendo descartadas quando não agüentarem mais o serviço que estão lhe impondo.

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1.5 Trabalho análogo ao de escravo

Podemos conceituar o trabalho análogo ao de escravo sobre a luz do artigo 149 do Código Penal o qual traz em seu teor que reduzir alguém a condição análogo a de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes, quer restringindo por qualquer meio, sua locomoção em razão da divida contraída com o empregador ou preposto.

Dentre suas características o trabalho análogo à de escravo o trabalhador não consegue se libertar do empregador, pois são utilizados métodos sutis para enganá-los, ficando expostos aos diversos tratamentos desumanos recebidos dos empregadores. Segundo Aguila et. al.(2015, p.76):

[...] O crime de redução a condição análoga à de escravo agora se configura através de sete modos de execução: a) submetendo alguém a trabalhos forçados; b) a jornada exaustiva; c) a condições degradantes de trabalho; d) restringindo a locomoção em razão de dívida; e) cerceando o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador; f) mantendo vigilância ostensiva no local de trabalho; e/ou g) apoderando-se de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Neste trabalho as pessoas são privadas de direitos e garantias que um ser humano possui, pois são tratados como simples e meros objetos de trabalho. Segundo leciona Águila et.al.(2015, p. 86):

Cabe dizer que o ser humano em condição análoga à de escravo tem sua dignidade ofendida por práticas coercitivas que restringem sua liberdade, afrontam seus direitos humanos e violam as leis trabalhistas de sorte que o trabalhador deixa de ser sujeito de direitos para tornar-se como que um objeto de quem o submete. É o aviltamento das condições de trabalho, já que o trabalhador fica sujeito a situações degradantes.

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Os trabalhadores são obrigados a executar o trabalho, mesmo que não exista consentimento, pois são submetidos a fortes imposições, e outros meios cruéis como forma de punição caso não haja a prestação do serviço. Segundo Silva (2010,p. 65):

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Pode-se conceber o trabalho análogo ao de escravo como o trabalho exigido de um indivíduo sob ameaça de sanção e para o qual ele não se apresentou espontaneamente ou o trabalho exigido de alguém sob ameaça de punição, após ele ter incorrido em vicio de consentimento quanto à aceitação do serviço, ou mesmo após ter ajustado livremente a sua prestação, e/ou o trabalho prestado sob condições subumanas, que violem o princípio da dignidade da pessoa humana e acarretem prejuízos à integridade física e/ou psíquica do obreiro.

Brito Filho determina que pode-se definir o trabalho em condições análogas à condição de escravo como o exercício do trabalho humano em que há restrição, em qualquer forma, à liberdade do trabalhador, e/ou quando não são respeitados os direitos mínimos para o resguardo da dignidade do trabalhador. (BRITO apud MIRAGLIA, 2008, p. 157)

Os trabalhadores acabam por cair nessas armadilhas por falsas promessas que lhe são feitas, promessas que são meramente ilusórias, o que leva o trabalhador aceitar, e quando chega ao local de trabalho sua liberdade fica restrita não podendo daquele lugar se ausentar, por fortes sanções dos empregadores, que em últimos casos chegam a executar os trabalhadores que não obedecerem a suas ordens. Segundo Conteúdo Jurídico (2017, s.p):

O trabalho análogo à condição de escravo, se constitui pela falta de liberdade, a ponto de impedir que o indivíduo posto nestas condições, exerça de modo livre e por sua própria vontade suas atividades cotidianas, seu direito de ir e vir, situações onde “empregadores” atentam contra a moral, ao atrair o trabalhador de forma fraudulenta, por falsas promessas de condições dignas de trabalho; pressionam de forma psicológica, por promover constante ameaças, abusos e violência contra o trabalhador para que continue no labor e o agridem de forma física, por castigar ou até assassinar os para que estes não fujam

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O trabalho análogo ao de escravo é o trabalho em que o trabalhador esta ali para gerar uma obtenção de lucros ao empregador, sujeito as diversas condições de vulnerabilidade, não tendo o direito de rescindir seu vinculo trabalho, pois é tido como propriedade do empregador. Segundo Miraglia (2008, p. 135):

[...] o trabalho escravo contemporâneo é aquele que se realiza mediante a redução do trabalhador a simples objeto de lucro do empregador. O obreiro é subjugado humilhado e submetido a

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condições degradantes de trabalho e, em regra, embora não seja elemento essencial do tipo, sem o direito de rescindir o contrato ou de deixar o local de labor a qualquer tempo.

Portanto este trabalho se utiliza da vários métodos para enganar o trabalhador, pois seu principal objetivo é ver aquela pessoa sob seu poder e suas ordens, não medindo esforços para essa conduta, visto que para o empregador estas pessoas são vistas como meras máquinas de trabalho, com um único propósito, de gerar lucros sendo descartáveis quando não satisfizer seus chefes, não possuindo nenhum direito à respeito a sua dignidade e integridade como ser humano, ficando exposto a um trabalho cruel que lhe acomete a cada dia que passa.

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2. TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL PÓS ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

A legislação pátria há muito tempo aboliu o trabalho escravo, contudo ele se faz presente em nossa sociedade nos contextos sociais, raciais e econômicos, ou seja, mesmo sendo tipificado no Código Penal Brasileiro como crime e constitucionalmente vedada a sua prática, a conduta ainda não esta extinta, pelo contrário, tem-se notícia que sua prática ocorre em grande escala dentro do território brasileiro e cada vez mais, aqueles empregadores que detêm um alto poder econômico se utilizam dos trabalhadores de forma desumanas, como se fossem meros instrumentos para obtenção máxima de lucros. Segundo Cunha (2005, p.23):

O fato de ter havido uma escravatura no Brasil, implantou no inconsciente dos brasileiros considerados „livres‟ a idéia de que o ser humano de cor negra não passava de um instrumento de trabalho que quando se desgastava, era substituído por outro. O negro era comparado a um animal de tal forma que, quando não conseguia mais manter um trabalho produtivo, em razão de fraqueza, idade avançada ou velhice, era levado ao tronco para receber chicotada como punição. Assim, mesmo com a extinção em 1888, pela lei Áurea, a herança da escravidão permanece na sociedade brasileira, na forma de discriminação racial, social e econômica. (grifo meu)

Ao longo da história do Brasil, desde o seu descobrimento, a prática do trabalho escravo sempre esteve presente. Têm-se notícias de que inúmeras pessoas foram submetidas a ele. Atualmente de forma e com características um pouco diferenciadas a prática, infelizmente, ainda se faz presente na sociedade.

No tido “antigo trabalho escravo” a prática era normal entre os grandes fazendeiros e trabalhadores, sendo inclusive, amparados por lei, não tendo nenhum obstáculo, punição ou repressão que lhes impedissem a praticar estes atos, pelo contrário, os trabalhadores escravos podiam ser negociados, como se fossem mercadorias/propriedades. Atualmente, a prática vem um pouco mascarada o que faz com que muitas vezes se passe por despercebida, acabando por violar direitos e garantias fundamentais que um ser humano necessita. Segundo leciona Cunha (2005, p. 23):

No presente século, a escravidão ainda é verificada, no entanto, esta se dá de uma maneira diferente daquela que se deu no século XVIII,

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pois em 1888, o escravismo era assegurado pela lei e aceito pelos costumes da época, de forma que o negro era considerado uma mercadoria. Já na escravidão contemporânea, o peão pode ou não ser uma mercadoria.

Segundo ensinamentos de Marcelo José Ferlin D`Ambroso, algumas distinções do trabalho escravo contemporâneo começam por comparativo histórico da escravidão de antigamente e a submissão nos dias de hoje. Na condição de escravo antigo, é nítida sua descrição como item do patrimônio – vendido, negociado e tratado como tal, ou seja, o escravo como objeto. Nossos atuais, o neo-escravo, produto da exclusão social marginalizadora provocada na exploração do ser humano pelo capitalismo selvagem em praticas neocolonialistas, implica também na condição de objeto, mas com qualidade de item descartável (mão de obra de fácil reposição e descarte). (AMBROSO apud PERREIRA, 2014, p. 21)

Atualmente, encontramos o trabalho escravo em vários setores, dentre eles podemos citar o setor da produção, indústria, comércio, construção civil, agricultura e pecuária. Isso significa dizer que, desde a roupa que vestimos, o alimento que consumimos e até mesmo no imóvel em que compramos podem ser frutos de trabalho escravo. Conforme PEREIRA (2014, p.20):

A maioria das situações de trabalho escravo detectadas no Brasil esta ligada em modernas e importantes cadeias produtivas, no topo das quais se encontram empresas de grande poder econômico, comumente de grandes exportadoras. Parte da carne adquirida nos supermercados ou exportada, dos combustíveis, do aço que sai das siderúrgicas, de roupas que se compra em shoppings ou de imóveis construídos nas cidades, foram produzidos com aproveitamento, em algum momento da cadeia de produção, do trabalho escravo. Dessa forma a neo-escravidão serve como mecanismo de redução de custos e aumento de lucro.

Os indivíduos submetidos à escravidão possuem características bem peculiares, geralmente com força braçal destacável e em contrapartida com pouco estudo, hipossuficientes e de baixa renda, ou seja, aqueles que acabam por serem excluídos do mercado de trabalho – hoje cada vez mais exigente – que conseqüentemente por falta de oportunidades sujeitam-se a qualquer forma de trabalho para garantir a sua subsistência e de sua família. Segundo Pereira (2014, p.21):

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Na escravidão contemporânea, diferentemente do que ocorrida na antiguidade, não mais existe a idéia de propriedade de uma pessoa sobre a outra. O que ocorre é a exploração de indivíduos hipossuficientes, que se encontram em situação total de vulnerabilidade, e, em virtude da miséria, da fome, do desemprego, da falta de educação, de informação e de saúde, se submetem a diversas formas de abuso.

O trabalho escravo mesmo sendo abolido pela lei áurea não foi capaz de “libertar”, visto que, ao mesmo tempo em que foi abolido não houve um programa para inserir os trabalhadores no mercado de trabalho de forma igualitária e civilizatória, com direitos e garantias igualitários a todos. O que realmente aconteceu foi somente a proibição de se ter um escravo, não se preocupando com o destino desses inúmeros trabalhadores, pode-se dizer que foram a maioria jogados a própria sorte sem nenhum tipo de amparo.

A abolição acabou não tendo um resultado prático satisfatório conforme pretendido pela Lei Áurea, a conseqüência foi a de que os trabalhadores acabaram por ficar ou a voltar para seus trabalhos - se é que se pode chamar de trabalho - pois não tinham alternativas, o que os levou a continuar submetendo-se as ameaças, tratamento desumano, jornadas excessivas de trabalho, não possuindo nenhum respeito a sua dignidade, e outros meios a qual tiveram que aderir para que pudessem sobreviver, cenário infelizmente presente em nossa sociedade.

Portanto o trabalho escravo não saiu de cena, o que mudou foi o seu tratamento em relação às pessoas que estão prestando o serviço, o qual enseja em uma forma desumana, afrontando a dignidade da pessoa humana que é o seu bem maior como pessoa, estamos diante de um trabalho em que o empregador não mede esforços para conseguir o seu objetivo, nem que para isso tenha que ferir os principais direitos basilares de uma pessoa.

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2.1 Trabalho escravo no século XXI

Hoje, século XXI, o trabalho escravo vêem sendo “promovido” por pessoas chamadas como “gatos”. Gatos são indivíduos contratados com objetivo em ficar atento às pessoas que estão necessitando de trabalho, passando por dificuldades financeiras, com baixo grau de escolaridade, ou seja, pessoas que realmente necessitam de um trabalho para que possam sobreviver. Diante do cenário de dificuldade acabam caindo nas falsas ilusões em que os “gatos” lhe oferecem, falsas promessas de uma boa remuneração, alimentação, estadia, fazendo com que os mesmos aceitem as ofertas e acabam por criar uma expectativa de poder melhorar de vida com essa oportunidade de trabalho.

Após a contratação esses trabalhadores são levados para lugares desertos, insalubres e pouco povoados, são isolados de qualquer acesso à informação, quando acabam se deparando com um lugar totalmente diferente que lhe foi proposto, quando se dão conta, já estão vinculados aos seus chefes, pois já possuem dividas a exemplo do transporte, instrumentos de trabalho, alimentação, o que acaba se tornando um círculo vicioso, no qual precisam trabalhar para saldar a divida inicial e pela baixa remuneração não conseguem se libertar da situação criada.

Leonardo Sakamoto, repórter da ONG, “Repórter Brasil” afirma o que caracteriza o trabalho escravo de hoje não tem nada haver com a cor de pele, mas sim com a dignidade da pessoa, que é transformada em ferramenta de trabalho. Na maior parte dos casos, os trabalhadores são recolhidos nas regiões de origem por um contratador, também conhecido como gato, que com promessas de bons salários e boa qualidade de vida, leva-os para trabalhar em diversos setores. Porem, ao chegarem, o gato explica que é preciso cobrir os gastos que a empresa deteve com ele, para só depois começar a receber o combinado. No decorrer do tempo, o trabalhador é obrigado a comprar o material de trabalho, alimentação e dormitório tendo tudo isso descontado do seu salário, que no final das contas, o empregado contrai uma divida bem maior do que pode pagar. Junto a isso, eles têm os

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documentos recolhidos em propriedade do seu contratador, e quando saem do local de trabalho devem pedir permissão e justificar para ser autorizado. (SAKAMOTO apud FERNANDES, 2013, s.p).

A escravidão atual, apresenta-se em diversas formas, as quais comportam em meios incisivos e violentos para prender o trabalhador, fazendo destas pessoas meros reféns de suas ordens.

As formas de escravidão atual comportam, portanto, o aliciamento de trabalhadores rurais em locais distantes, assim como o pagamento da conta da pensão onde estes se encontravam, o precário transporte,[...],além das condições de trabalho degradantes e perigosas, ameaça e coação por uso de violência, cerceamento da liberdade dos indivíduos e, por fim, o endividamento que se dá de uma maneira forçada, pois os trabalhadores são obrigados a comprar o material de trabalho, pagar pelo seu alojamento, alimentação, remédios e tudo mais o que for necessário para que sobrevivam.[...](CUNHA, 2005 p.27)

O trabalho escravo de hoje não afeta somente brasileiros, mas também estrangeiros que vem para o Brasil em busca de uma melhor condição de vida e trabalho digno, aceitando empregos que lhe são oferecidos tanto no setor rural como no urbano, e acabam no final sendo frustrados, percebendo ao final do mês uma quantia bem abaixa da realidade de um trabalhador (FERNANDES, 2013 s.p):

Os tipos mais comuns de trabalho escravo são o rural e urbano. No setor rural na criação de bovino, produção de carvão, soja, café, algodão, frutas, pasto, corte e retirada de madeira. Já o urbano, a construção civil, exploração sexual e indústrias do setor têxtil. A exemplo disso, nos últimos anos 200mil bolivianos vieram para o Brasil em busca de melhores condições de sobrevivência, mas nem sempre encontram o que procuram. Na maior parte das vezes concordam em trabalhar em oficinas têxteis clandestinas, em condições péssimas de trabalho ganhando um salário que não atinge R$ 170,00 por mês, uma situação que acaba gerando a exploração de mão de obra barata.

Cabe salientar que em seus requisitos o trabalho escravo busca por trabalhadores que sejam do sexo masculino, por possuírem uma resistência mais eficaz em relação ao trabalho que lhe é acometido, mas não se exclui o sexo feminino que é utilizado como forma de prostituição, onde abrange todas as idades

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desde criança, adolescente ou mulheres que são obrigadas a prestar este tipo de serviço.

Salienta-se que o trabalho escravo o qual presenciamos em nossos atuais dias, é um trabalho que não possui nenhum zelo referente aos valores de uma pessoa, seja ele moral, social, o que temos em nosso mundo capitalista, é a obsessão pelos rendimentos de lucros que aquelas pessoas vão lhe proporcionar, deixando de lado, princípios fundamentais.

Portanto, o trabalho escravo de hoje não resguarda nenhum direito/valores que o ser humano detém como mínimos para a sobrevivência digna, o que realmente acontece é a ilusão de que conseguiram um emprego bom para poder dar uma vida digna para suas famílias e atingir seus objetivos que tanto sonham, quando na verdade estão entrando em um abismo, onde a forma de pagamento é exigido de seus corpos enquanto agüentarem as sanções que lhe são impostas, pois são obrigados a quitar dividas infundadas, sendo nulas de pleno direito, por serem meramente falsas e inexistentes.

2.2 O combate ao trabalho escravo no Brasil

O trabalho escravo mesmo não devendo existir, ainda é uma realidade enfrentada em nosso país, de forma silenciosa e ao mesmo tempo ágil, enganando milhares de pessoas. Embora ele se faça presente em nossos dias, muitos militantes continuam lutando para a prática ser coibida por meios de fiscalização que se fazem presentes de forma ostensiva e intensiva tanto pela sociedade como pelo Ministério Público do Trabalho.

Podemos elencar algumas entidades que possuem meios de fiscalização para inibir tal pratica senão vejamos: Ministério Público do Trabalho que possui Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo – CONAETE, a qual foi criada pela Portaria nº 231 no ano de 2012, com objetivo de integrar as Procuradorias Regionais do Trabalho em plano nacional, uniforme e coordenado, para o combate ao trabalho escravo, fomentando a troca de experiências e

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discussões sobre o tema, bem como a atuação ágil onde necessária se faça a presença do Ministério Público do Trabalho.

As principais áreas de atuação da Coordenadoria são: combate ao trabalho em condições análogas às de escravo; investigações de situações nas quais os obreiros são submetidos a trabalho forçado; servidão por dívidas; jornadas exaustivas e condições degradantes de trabalho - alojamento precário, água não potável, alimentação inadequada, desrespeito às normas de segurança e saúde do trabalho, falta de registro, maus tratos e violência, segundo MPT (s.a., s.p.)

Destaca-se que o Ministério Público do trabalho vai além da coordenadoria já citada, visa garantir a defesa do meio ambiente de trabalho do empregador através da chamada Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho – CODEMAT, a qual foi criada pela Portaria de nº 410 no ano de 2003, tendo como objetivo desenvolver um ambiente de trabalho adequado para com o trabalhador, tendo como atuação a segurança do empregador para que possa desempenhar suas funções sem nenhum perigo a sua integridade física de acordo com MPT (s.a., s.p.)

O Código Penal brasileiro também prevê penas para quem pratica este crime, sendo que a pena pode chegar a oito anos, ou ate mesmo ultrapassar se for cometido contra crianças e adolescentes, em razão de raça, cor, religião, origem, além do valor de multa que será pago em razão dessa tamanha crueldade com o ser humano.

Não podemos deixar de elencar a OIT – organização internacional do trabalho o qual é uma organização de suma importância, tendo como objetivos fornecer aos trabalhadores um trabalho digno que não afronte a dignidade do ser humano, que é o seu bem maior como pessoa, além dessa proteção ao trabalhador, a OIT também se faz presente nos meios de coibição do trabalho escravo, visando o fim desse trabalho que faz milhares de vitimas tanto crianças como pessoas com idades avançadas.

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De acordo com o entendimento de Abramo e Machado para que o trabalho escravo moderno possa ser erradicado, é necessário que haja um compromisso sustentado da comunidade internacional e que deve haver um trabalho em conjunto entre governos, organizações de empregadores e trabalhadores e devem se enfrentadas tanto as manifestações mais evidentes quanto as causas sistêmicas da escravidão. (ABRAMO e MACHADO apud MATOS, 2012, p. 39-40).

Outro meio de combate contra tal pratica é o grupo especial de fiscalização móvel (GEFM), o qual foi criado pelo ministério publico do trabalho e emprego, tendo como objetivo garantir o sigilo das denuncias, mas também visa reduzir pressões ou as próprias ameaças que são feitas em fiscalizações locais. Sua formação é feita por delegados e agentes da policia federal, auditores - fiscais do trabalho, procuradores do ministério publico do trabalho,[...], ou seja, um órgão que não se submete as diversas chantagens que lhe são impostas para consentir com este tipo de trabalho, nos termos do âmbito jurídico (s.a., s.p.)

Cabe elencar a PEC do trabalho escravo que é de suma relevância para com os trabalhadores submetidos aos diversos tipos de trabalho desumanos que enfrentaram e enfrentam ainda em alguns casos que não são descobertos, pois traz em seu teor que em caso de percebimento deste trabalho cruel, as terras serão destinadas a reforma agrária ou para programas de habilitação popular, não percebendo seus donos nenhum tipo de indenização referente às terras que eram suas. (ATUAL, 2014, s.p)

Contemplam junto às organizações e projetos mencionados duas grandes entidades: Policia Federal e Policia Rodoviária Federal o qual possuem o mesmo objetivo erradicar o trabalho escravo, mas também alertar as pessoas sobre tamanha crueldade com os seres humanos, deixando cientes de como o trabalho escravo se desenvolve para atrair as pessoas.

Portanto podemos dizer que o Brasil, se faz presente nos meios de combate ao trabalho escravo, pois não compactua com tal conduta por ser uma afronta a todos os direitos humanos que uma pessoa detém, colocando as pessoas em risco de vida, libertando milhares de pessoas a cada ano que passa, ou seja um pais que

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é recebedor de elogios pelas atuações que desenvolve em desfavor deste trabalho que não possui nenhum sentimento referente ao ser humano.

2.3 O trabalho decente

Segundo entendimento da OIT o trabalho decente, conceitua-se por ser um trabalho que visa buscar um ambiente agradável, e confiável ao trabalhador de maneira que se sinta seguro e confiante em suas atribuições que lhe são acometidas, mas também no momento em que busca seus direitos que lhe são assegurados, não compactuado com qualquer meio de trabalho que afronte seus direitos como pessoa (OIT, s.a., s.p)

O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT: o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adotada em 1998: (i) liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii) eliminação de todas as formas de trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação), a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social.

De acordo com Brito Filho, embasado nas normas internacionais de Direito do Trabalho – em especial, nas declarações e convenções da OIT e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais –, o conjunto mínimo de direitos dos trabalhadores é composto pelo “direito ao trabalho, principal meio de sobrevivência daqueles que, despossuídos de capital, vendem sua força de trabalho; da liberdade de escolha do trabalho e, uma vez obtido o emprego, do direito de nele encontrar condições justas, tanto no tocante à remuneração como no que diz respeito ao limite de horas trabalhadas e períodos de repouso. Garante ainda o direito dos trabalhadores de se unirem em associação, com o objetivo de defesa de seus interesses”. (BRITO apud MIRAGLIA, 2008, p. 127)

Pode se caracterizar o trabalho decente por ser um trabalho que visa proporcionar ao trabalhador um emprego que lhe seja digno, buscando não somente

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a satisfação do empregado com sua remuneração, mas um trabalho em que se vê compromissado com o trabalhador, familiares e seu futuro, (Jus, 2010, s.p):

[...] o direito ao Trabalho Decente é reconhecido como o direito a um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna aos trabalhadores e sua família. Trata-se, portanto, do direito a um trabalho que permita satisfazer as necessidades pessoais e familiares de alimentação, educação, moradia, saúde e segurança. É também o direito a um trabalho que garanta proteção social nos impedimentos de seu exercício (desemprego, doença, acidentes, entre outros), assegura renda ao chegar à época da aposentadoria e no qual os direitos fundamentais dos trabalhadores e trabalhadoras são respeitados.

O trabalho decente não exclui do trabalhador sua liberdade, por mais que ganhe uma remuneração justa, ou qualquer outro suporte que necessite, pois deixa o mesmo com ampla liberdade de ir e vir, não prendendo em qualquer trabalho que seja, tendo ampla liberdade para se manifestar em suas decisões.

Estamos diante de um trabalho em que seu objetivo é assegurar a dignidade da pessoa, não afrontando nenhum elemento considerado essencial de um ser humano, visando um trabalho que venha a satisfazer tanto o empregado que esta desempenhando suas funções, mas também ao empregador em sua produtividade e qualificação do serviço que lhe esta sendo prestado, gerando assim uma satisfação de ambos os lados.

O trabalho decente tem por métodos extinguir as desigualdades que ainda se fazem presentes, e as precárias situações de vivencias que atormentam varias pessoas, por não possuírem condições suficientes de uma vida digna, visando um novo modelo de vida tanto para homens como para mulheres, gerando assim um desenvolvimento econômico e social na sociedade.

O Trabalho Decente, busca promover uma estratégia que visa a superar as situações de pobreza e desigualdade que caracterizam atualmente a maior parte das nações e, por essa via, propiciar uma vida digna para homens e mulheres. Além disso, o trabalho decente é também um mecanismo que estimula a produtividade das empresas, o dinamismo das economias e a promoção do desenvolvimento econômico e social. (JUS, 2010, s.p)

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Cabe destacar que no ano de 2006 o Brasil lançou a Agenda Nacional de Trabalho Decente (ANDT), tendo por finalidades aumentar o numero de empregos e melhorar sua condição, gerar um tratamento de igualdade nas oportunidades, erradicar não só o trabalho escravo, mas também o trabalho infantil, em especial suas piores formas, [...]. (OIT, s.a., s.p)

Portanto, se conclui, que o trabalho decente trouxe aos trabalhadores dignidade, igualdade, liberdade, direitos estes essenciais de uma pessoa, lhe proporcionando uma remuneração digna, alimentação adequada, planos de saúde, um lar em que possa compartilhar com sua família, ampliando seus níveis de educação, e também um comprometimento no futuro quando não puder mais desempenhar seu trabalho, lhe garantindo seus direitos previdenciários e trabalhistas que são devidos por direito.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho abordou o trabalho escravo no Brasil, elencando a legislação a frente deste meio cruel com o ser humano, suas variadas formas em se apresentar para enganar as pessoas, mas também o destino dessas pessoas escravizadas após abolição, contemplando o presente trabalho escravo, meios de se erradicar tal conduta, encerrando-se com um trabalho que possui como objetivo propiciar aos trabalhadores um trabalho que lhe seja digno.

O ponto específico acerca do trabalho escravo é a sua flagrante violação aos direitos humanos em que pessoa fica privada, pois não possui nenhum direito garantido constitucionalmente, estando desamparada totalmente.

Através deste estudo, se verifica que mesmo estando tipificado penalmente e possuindo penas para esta conduta, a prática do trabalho escravo continua ocorrendo em grandes proporções, pondo em risco milhares de pessoas, devido a sua obtenção de lucros, mas também em sua clandestinidade, enganando pessoas totalmente desprovidas de conhecimento, recursos financeiros, estando vulneráveis a tal ato.

Desta forma, podemos concluir que o sistema penal a frente do trabalho escravo não possui uma força plena para erradicar tal conduta, pois mesmo sabendo que é considerado crime, enganam diversas pessoas de qualquer idade e sexo, a aceitarem estas propostas meramente ilusórias e desumanas.

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A partir deste estudo se verifica que o Brasil é um pais elogiado pelas suas coibições contra o trabalho escravo, mas ainda há muito por fazer em relação a este trabalho desumano, que muitas vezes passa por despercebido, escondido em nossa sociedade atual, em razão do silencio das pessoas, da comunidade e da própria policia que muita vezes é beneficiada para silenciar-se.

Nesta esteira concluímos que estamos trabalhando com milhares de vidas, em que estão espalhadas por todos os lugares sofrendo algum tipo de ameaça ou coação, obrigando-se a aceitar um trabalho em que não terão um mínimo direito em se defender, sendo submetidos aos mais diversos tratamentos desumanos e cruéis o que é inadmissível em um estado democrático de direito.

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REFERÊNCIAS

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MATOS, Leandra Acioli. Trabalho Escravo Contemporâneo: abordagem sobre o cenário brasileiro. 2012. 76f. Monografia (Graduação em Direito) Bacharelado em Direito, Universidade Católica de Brasília. Brasília: DF, 2012.

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