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A percepção do machismo e da desigualdade de gênero entre alunos e alunas do ensino médio

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

LETÍCIA RADDATZ

A PERCEPÇÃO DO MACHISMO E DA DESIGUALDADE DE GÊNERO ENTRE ALUNOS E ALUNAS DO ENSINO MÉDIO

Santa Rosa, 2019

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LETÍCIA RADDATZ

A PERCEPÇÃO DO MACHISMO E DA DESIGUALDADE DE GÊNERO ENTRE ALUNOS E ALUNAS DO ENSINO MÉDIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em História da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em História.

Orientador: Prof. Josei Fernandes Pereira

Santa Rosa, 2019

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Dedico este trabalho a todas nós, mulheres, e às nossas lutas.

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RESUMO

O machismo ainda é um grave problema na nossa sociedade, gerador de desigualdades e violências. Avanços na legislação e nas políticas públicas, apesar de uma forte reação conservadora na sociedade, parecem estar construindo mais consciência sobre essas questões, principalmente entre os estudantes. A presente pesquisa busca realizar um diagnóstico da percepção que os estudantes do Ensino Médio tem sobre o machismo. Um questionário foi aplicado a todos os estudantes do Ensino Médio de uma Escola Estadual de Educação Básica de Santa Rosa – RS. Os resultados obtidos demonstram que os adolescentes e jovens adultos pesquisados possuem muita consciência crítica sobre o machismo e que o aprofundamento desse debate nas escolas é muito importante para a construção de uma sociedade com igualdade de gênero.

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ABSTRACT

The machismo is and still a serious problem in our society, which generates inequalities and violence. Advances in legislation and public policy, despite a strong conservative reaction in society, seem to be building more awareness on these issues, especially among students. The present research seeks to make a diagnosis of the high school students’ perception on machismo. A questionnaire was applied to all high school students of a State School of Basic Education from Santa Rosa - RS. The results show that the adolescents and young adults surveyed are very critical about machismo and the deepening of this debate in schools is very important for the construction of a society with gender equality.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

1 - Gênero dos Alunos ... 11

2 - Idade dos Alunos ... 12

3 - Percepção do Machismo ... 14

4 - Machismo como Elemento no Cotidiano ... 15

5 - Atribuição das Tarefas Domésticas entre Mulheres ... 17

6 - Atribuição de Tarefas Domésticas entre Filhos ... 18

7 - Machismo no Mercado de Trabalho ... 19

8 - Assédio no Cotidiano ... 20

9 - Percepção de Assédio ... 21

10 - Assédio versus Educação ... 22

11 - Machismo versus Insegurança ... 22

12 - Direito ao Corpo ... 23

13 - Feminicídio ... 24

14 - Machismo versus Saúde Emocional ... 26

15 - Machismo e Oferta de Emprego ... 27

16 - Licença Pós-parto ... 28

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 8

2. DESENVOLVIMENTO ... 10

2.1 SOBRE AS ENTREVISTAS ... 10

2.2 A PERCEPÇÃO DO MACHISMO ... 12

2.2.1 Percepção do Machismo na Vida das Mulheres ... 15

2.2.2 Percepção do Machismo na Vida dos Homens ... 24

2.3 O DEBATE DE GÊNERO NAS ESCOLAS ... 28

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 32

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1. INTRODUÇÃO

O problema do machismo e da desigualdade de gênero na nossa sociedade é muito grave, nos afeta das mais diferentes maneiras, têm ganhado cada vez mais visibilidade e têm sido cada vez mais debatido em todos os espaços. A impressão que temos é de que as violências machistas estão mais presentes nas nossas vidas, mais próximas de nós, e sentimos que é urgente nos organizarmos para combatê-las de forma efetiva. Junto a isso, ganha força na sociedade uma reação conservadora que procura negar ou justificar essas violências, culpabilizando as vítimas, naturalizando as desigualdades, com o objetivo de manter os privilégios masculinos em detrimento dos direitos humanos das mulheres.

Documentos do Ministério da Educação e Cultura (MEC) publicados nas últimas décadas, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (2013) entre outros, aliados a leis mais progressistas sobre violência de gênero, como a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) e a Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15), apesar da pressão de setores mais conservadores da sociedade, conseguiram propor avanços para os debates de gênero em todos os espaços, mas principalmente nas escolas, o que certamente é muito importante para professores e estudantes e repercute em toda a comunidade escolar.

Coincidentemente, a partir do período desses avanços, passei a militar em movimentos sociais de mulheres e de trabalhadores, como a Marcha Mundial das Mulheres, o Sindicato dos Bancários de Santa Rosa e Região e a Central Única dos Trabalhadores, entre outros, tendo tido acesso à formação sobre a importância e atualidade das pautas, das conquistas e das lutas feministas.

Desde que iniciei o curso de Licenciatura em História e passei a me reaproximar das questões da Educação Básica, depois de ter estado afastada por mais de uma década (entre a minha formatura no Ensino Médio em 2002 até o início da Licenciatura em 2013), passei a perceber que a conscientização sobre o machismo, as desigualdades e as violências de gênero parecia estar melhorando entre os estudantes, e passei e pensar que essa melhora pode ser um indicativo de que estamos no caminho certo para a construção de uma sociedade mais igualitária.

A partir disso, tive a ideia de realizar uma pesquisa com os alunos e alunas do Ensino Médio de uma Escola Estadual do município de Santa Rosa - RS, com o objetivo de elaborar um diagnóstico dessa conscientização. A partir dos resultados

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da pesquisa, poderemos saber mais sobre a percepção do machismo por parte dos estudantes, discutir em que medida e de que maneira essa percepção ocorre, e poderemos propor ações que ajudem transformar a realidade de violência machista na qual ainda vivemos.

Não pretendo neste trabalho esgotar o tema, mas apenas contribuir para a produção de conhecimento e ampliação do debate a esse respeito. O desejo de realizar o presente estudo está ligada às minhas vivências como mulher, estudante, trabalhadora e militante feminista. Meu objetivo é auxiliar na construção de uma sociedade com igualdade entre homens e mulheres.

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2. DESENVOLVIMENTO

Os dados aqui trabalhados foram obtidos por meio de entrevistas com estudantes do Ensino Médio, dos turnos da manhã e da noite, de uma Escola Estadual do Município de Santa Rosa – RS. Trata-se de uma das maiores escolas do município em número de alunos, que recebe estudantes originários das zonas urbana e rural do município, concentrando no período noturno grande número de estudantes trabalhadores.

Das entrevistas resultou uma enorme quantidade de dados, que optei por abordar dividindo em três partes: a primeira sobre as entrevistas propriamente ditas, a segunda sobre a percepção do machismo, tratando dessa percepção na vida das mulheres e na vida dos homens, e a terceira sobre o debate de gênero nas escolas.

2.1 SOBRE AS ENTREVISTAS

Criei um questionário que apliquei aos alunos e alunas sem fala prévia sobre machismo, apenas explicando o objetivo da pesquisa, alertando que se trata de um questionário para ser preenchido individualmente, sem identificação, e que não há julgamentos de “certo” ou “errado”, mas apenas a elaboração de um diagnóstico. Frisei que deve ser respondido de acordo com “o que o coração mandar”, ou seja, com a primeira ideia de resposta que “vier à cabeça”.

Na sua elaboração, tive a preocupação de tratar dos temas da forma mais leve possível, mais relacionada ao cotidiano, tentando evitar que ele causasse um mal estar muito intenso no íntimo dos jovens e adolescentes que responderam, ou no relacionamento entre colegas e entre estudantes e professores.

As primeiras perguntas da pesquisa foram elaboradas para serem respondidas objetivamente entre “sim” ou “não”, iniciando com uma pergunta genérica sobre se existe ou não machismo em nossa sociedade atualmente.

Em seguida, elenquei doze situações da vida pessoal e do trabalho, pedindo para que os estudantes julguem o que eles consideram machista ou não machista. Aqui procurei pautar situações que afetam diretamente a vida das mulheres e que afetam diretamente a vida dos homens, para podermos ver de que forma meninos e meninas se identificam com elas. Coloquei também situações bastante usuais,

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relacionadas ao machismo mas não efetivamente machistas, objetivando provocar um pensamento crítico sobre o próprio questionário.

A seguir, perguntei se os alunos e alunas sentem que o machismo afeta as suas vidas. Neste momento foi possível justificar as respostas. Por fim, perguntei para os estudantes se eles acham importante que o debate sobre gênero seja feito nas escolas, também solicitando que justifiquem a resposta.

Apliquei o questionário para todos os alunos e alunas do Ensino Médio da Escola, dos turnos da manhã e da noite. Obtive um total de 482 questionários respondidos, 258 estudantes do gênero feminino e 221 do gênero masculino. Três estudantes não identificaram seu gênero.

1 - Gênero dos Alunos

As idades dos alunos e alunas pesquisadas variaram entre 14 e 20 anos. O maior número de respostas se concentrou entre adolescentes de 15 a 17 anos, conforme demonstra o gráfico abaixo:

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2 - Idade dos Alunos

2.2 A PERCEPÇÃO DO MACHISMO

De acordo com uma estudante de 16 anos que respondeu à pesquisa, “machismo é quando o homem não respeita a mulher e impõe limites a ela, fazendo com que ela deixe de fazer o que ela gosta.”1

A escolha do termo “machismo” como tema de pesquisa não foi aleatória. Ele foi escolhido por trazer consigo toda uma carga de significados percebidos de diferentes maneiras por cada pessoa e explicado de diferentes formas por diversos teóricos e teóricas ao longo da história.

De acordo com a perspectiva materialista-histórica, o início opressão do homem sobre a mulher coincide com a primeira revolução agrícola (aproximadamente 10.000 a.C.). A partir desse período, o ser humano deixou de ser nômade, passando a produzir e acumular excedentes, dando início à propriedade privada e ao controle da prole e, consequentemente, da sexualidade da mulher, que passa a ser vista como propriedade do homem2.

1 Anexo formulário 138

2 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro:

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No entanto, Simone de Beauvoir inicia a segunda parte da sua obra clássica “O Segundo Sexo” declarando que “o mundo sempre pertenceu aos machos”. Ela faz isso antes de demonstrar a insuficiência das teorias biológicas, psicanalíticas e histórico-materialistas para explicar esse fato, e segue a análise à luz da filosofia existencial, trazendo um debate muito interessante a respeito da “transcendência” do homem e da “imanência” da mulher3.

Realmente, o materialismo-histórico não explica por completo a violência que que vivenciamos. O machismo coloca os privilégios do homem acima de tudo e de todos, naturaliza esses privilégios, trata-os como dogmas, nega qualquer direito, inclusive o mais básico de todos, o direito à vida, a todos e todas as demais, a todo e qualquer ser humano que não se encaixe no padrão de masculinidade imposto. E isso está tão enraizado dentro de todos e todas nós que é muito difícil questionar.

Nesse sentido, o conceito elaborado pela filósofa Márcia Tiburi:

O machismo é o ismo do patriarcado que o feminismo vem perturbar. O machismo é um modo de ser que privilegia os “machos” enquanto subestima todos os demais. Ele é totalitário e insidioso, está na macroestrutura e na microestrutura cotidiana. Está na objetividade e na subjetividade, isto é, mesmo que seja uma ordem externa ao nosso desejo, foi e é introjetado por muitas pessoas, inclusive mulheres. E, porque o machismo faz parte de um modo orgânico de pensar, de sentir e de agir, é tão difícil modificá-lo.4

Na prática, o machismo nos coloca na difícil posição de termos que defender em debates acirrados, mesmo entre as mulheres, coisas que deveriam ser tão óbvias como o direito à vida ou o direito de decidir sobre o próprio corpo.

Uma estudante de 17 anos, em resposta à pesquisa, refere que o machismo dói:

“Me afeta principalmente o meu psicológico, por mais que seja uma brincadeira boba isso machuca muito. Já fui afetada emocionalmente várias vezes. Já passei por isso também, vi minhas amigas sendo humilhadas já. Me dói isso”.5

O machismo afeta as nossas vidas e dói profundamente em todos e todas nós. Admiti-lo e percebê-lo significa admitir e perceber que os homens que amamos e que nos amam, sejam amigos, filhos, pais, irmãos, colegas, companheiros,

3 BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Volume 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. P. 95.

4 TIBURI, Márcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018. Páginas 62-63.

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paradoxalmente nos oprimem e nos violentam, consciente ou inconscientemente, em diversos momentos das nossas vidas.

A teóloga Ivone Gebara fala da dor das mulheres como uma dor que é a mesma e é diferente, “que tem idade apesar de ser de todas as idades, que tem cor apesar de não ter raça, tem classe social apesar de espalhar-se também por todas as classes”, uma dor herdada de nossas ancestrais que é do corpo e da alma. Mas ela também lembra que a dor é uma força motriz.6

Embora não exista consenso sobre o que é machismo, existe um mal estar generalizado na sociedade em relação às suas violências, tanto por quem aparentemente se beneficia dele como por quem sofre diretamente as suas consequências: as outras e outros, que não se enquadram no âmbito dessa masculinidade tóxica, excludente e opressora que produz o machismo.

Em resposta à primeira pergunta do questionário, a imensa maioria dos estudantes, tanto meninos como meninas, responderam que acreditam que “Sim, existe machismo em nossa sociedade atualmente”.

3 - Percepção do Machismo

6 GEBARA, Ivone. Mulheres, religião e poder: ensaios feministas. São Paulo: Edições Terceira Via, 2017. Pág. 19-21.

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Esse resultado demonstra desde já que a percepção do machismo que os estudantes possuem é bem grande. No entanto, quando perguntamos se eles acreditam que o machismo afeta as suas vidas, meninos e meninas divergem de opinião:

4 - Machismo como Elemento no Cotidiano

Muitos meninos referiram na parte descritiva dessa questão que sentem que o machismo não os afeta por serem do gênero masculino, entendendo que este seria um problema que afeta apenas as mulheres. A grande maioria das meninas reconhece que o machismo as afeta e utilizou a parte descritiva como espaço de denúncias e desabafos.

Analisaremos nos próximos capítulos como os homens e as mulheres são afetados pelo machismo, e como os meninos e meninas entrevistadas percebem isso nas suas vidas.

2.2.1 Percepção do Machismo na Vida das Mulheres

O trecho abaixo, de autoria de Simone de Beauvoir demonstra o tamanho do desafio que enfrentamos como mulheres numa sociedade machista: “Ouvi uma mulher que lavava o piso de um saguão de hotel declarar: “Nunca pedi nada a

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ninguém. Venci sozinha.” Mostrava-se tão orgulhosa como um Rockfeller, por se bastar a si mesma.”7

A luta por igualdade de direitos, pelo poder de decisão sobre o nosso corpo e até pelo direito à vida precisa ser constante em todos os momentos. Nós lutamos pela nossa sobrevivência.

Observemos o interessante o relato de uma menina de apenas 14 anos que respondeu à pesquisa:

Minha mãe tem quatro filhos, eu e meus três irmãos, é divorciada e meu pai não paga pensão, as pessoas parecem ter um certo preconceito com isso e achar que ela não dá conta, mas nós sabemos que ela dá, e além de criar eu e meus irmãos, minha prima mora com a gente e ela nunca nos deixou faltar nada.8

Esse é o relato de uma filha que se orgulha da luta da mãe, que é a luta pela sobrevivência própria e da família, que é a luta de muitas mulheres. Mas o que isso tem de beleza, tem de tristeza e desespero. Nós sofremos com a romantização da nossa miséria, da desigualdade, do trabalho precário, dos baixos salários. Jogam nas nossas costas a responsabilidade pelo trabalho doméstico e reprodutivo dizendo que o fazemos por amor ou vocação.

No modo de produção capitalista, a mulher sofre de forma cumulativa a opressão do capital e a opressão de gênero. Isso ocorre porque ela é mais explorada do que os homens no âmbito do trabalho considerado produtivo, e além disso é socialmente responsabilizada pelo trabalho doméstico e reprodutivo, que é o que garante a reprodução da força de trabalho para capital. De acordo com Danièle Kergoat:

“A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais de sexo; esta forma é adaptada historicamente e a cada sociedade. Ela tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares, etc.”)9

Em diversas falas das estudantes os temas relacionados ao trabalho são colocados. Por exemplo, uma menina de 17 anos disse “(...)sentir-se obrigada a fazer atividades principalmente domésticas, porque sempre é a mulher quem faz, ser

7 BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Volume 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. P. 503. 8 Menina de 14 anos, formulário anexo número 61.

9 KERGOAT, Danièle. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. Disponível em:

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julgada como inferior, ter menor visibilidade em áreas de trabalho como arquitetura, que quero cursar.”10

Perguntei aos estudantes o que eles pensam sobre duas situações envolvendo trabalho doméstico e reprodutivo. Na primeira as mulheres se responsabilizam sozinhas pelo trabalho doméstico decorrente de um jantar em família, e na segunda um filho se oferece para “ajudar” a mãe nas tarefas domésticas, ou seja, segue atribuindo a responsabilidade à mãe.

5 - Atribuição das Tarefas Domésticas entre Mulheres

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6 - Atribuição de Tarefas Domésticas entre Filhos

Na primeira, fica evidente a disparidade de respostas entre meninos e meninas, deixando claro que as meninas percebem o machismo reproduzido pela atitude das mulheres, em se responsabilizarem sozinhas por uma tarefa que deveria ser de todos. No entanto, na segunda questão, a maioria dos meninos e meninas ou não percebeu a crítica contida no termo “ajudar” entre aspas, ou naturalizou o fato de que a responsabilidade pelo trabalho doméstico é colocada para a mãe.

Isso denota que precisamos debater mais sobre a questão da responsabilização da mulher por este trabalho socialmente desvalorizado, invisibilizado, mas totalmente necessário para a manutenção e reprodução da vida.

Em relação ao mercado de trabalho considerado produtivo, de acordo com o DIEESE11 a taxa de desocupação feminina é historicamente superior à masculina.

Além disso, os salários são menores. As mulheres que conseguiram trabalhar em 2016 receberam salário em média 13% menor do que o dos homens por hora trabalhada. Essa diferença salarial tende a se aprofundar nos recortes de maior escolaridade.

Para pautar o tema do machismo no mercado de trabalho, colocamos a situação em que uma mulher tem a vaga de trabalho negada em uma indústria de laticínios com a afirmação de que “só contratam homens para fazer o trabalho de

11 Estudo do DIEESE entitulado “Dia 08 de Março Dia de Luta das Mulheres por um Mundo Igualitário”, de 2018,

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campo”. A grande maioria dos meninos e meninas perceberam o caráter machista da situação.

7 - Machismo no Mercado de Trabalho

As meninas se identificaram muito com essa situação, tanto que relataram várias situações ocorridas no trabalho, como por exemplo uma menina de 18 anos que disse que “no lugar onde eu trabalhava era constantemente diminuída por ser mulher, tarefas que eu facilmente poderia exercer eram feitas por um colega com desculpa de eu ser menina”12 e uma menina de 16 anos que disse “(...) eu quero

seguir o exército e muitos homens falam que isso não é pra mim, por ser mulher, ou até mesmo mulher não poder trabalhar fora”.13

Outra situação descrita que causou grande identificação por parte das meninas foi aquela que relatou uma situação de assédio sofrida na rua. Apareceram vários relatos de situações semelhantes vividas por elas, causando desconforto e medo.

Trago como exemplo alguns dos desabafos. Uma das meninas relatou que “quando saio na rua e à luz do dia sinto repulsa dos “elogios” e à noite quando percebo a proximidade de um homem sinto medo”14, outra colocou que o machismo

12 Menina de 18 anos, formulário anexo número 211. 13 Menina de 16 anos, formulário anexo número 233. 14 Menina de 18 anos, formulário anexo número 227.

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a afeta pelo fato de “as mulheres sofrerem assédio e serem culpadas por isso”15,

enquanto uma terceira disse que a afeta “quando ando na rua e um homem assovia pra mim e eu ignoro, ele começa a me ofender e ameaçar.”16

Essa rotina de medo faz parte das nossas vidas desde muito cedo. Uma menina de 15 anos relatou “não conseguir andar nas ruas sem ser assediada.”17

Isso é muito grave.

Interessante ainda a fala de uma aluna de 17 anos sobre a diferença de motivos que homens e mulheres têm para temer violência:

“A partir do momento em que um homem pode caminhar tranquilamente na rua, sozinho à noite principalmente, e sua única preocupação é ser assaltado, sendo que as mulheres já nem podem sair assim desacompanhada principalmente pelo medo de ser estuprada.”18

Ao descrever a situação em que um grupo de homens elogia uma mulher que caminha sozinha na rua, deixando bastante óbvia a situação de assédio, a grande maioria das meninas e meninos julgaram a situação machista, conforme o gráfico abaixo.

8 - Assédio no Cotidiano

15 Menina de 17 anos, formulário anexo número 244. 16 Menina de 16 anos, formulário anexo número 243. 17 Menina de 15 anos, formulário anexo número 156. 18 Menina de 17 anos, formulário anexo número 223.

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Em outras situações bem mais leves, mas que envolviam a possibilidade de assédio, as respostas das meninas e dos meninos foram bem diferentes, deixando claro que esse debate não trata da proibição de qualquer manifestação de gentileza ou atenção por parte dos homens.

Na primeira, deixamos claro a situação de amizade, de intimidade entre os envolvidos que permite elogios. Aqui a imensa maioria entendeu que não havia machismo no elogio, que não se trata de assédio.

9 - Percepção de Assédio

A segunda situação também é descrita como algo corriqueiro, sem nada que demonstre qualquer intencionalidade relacionada ao assédio. Na mesma forma a maioria dos estudantes entendeu não haver machismo.

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10 - Assédio versus Educação

Na questão seguinte, embora a maioria dos estudantes tenha entendido que não se trata de machismo, tivemos uma ponderação interessante por parte de uma entrevistada de que marcou “não”, entendendo que não é machismo, mas escreveu ao lado que “porém é necessário por causa do machismo”19, deixando claro que

percebe que a insegurança a que é exposta na rua por ser mulher se deve ao machismo.

11 - Machismo versus Insegurança

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A pesquisa também trabalhou com o tema do direito ao próprio corpo. Colocamos a situação em que o namorado pede para a namorada parar de se maquiar. Aqui é interessante reparar a divergência de opiniões entre meninos e meninas, dando a entender que a maioria dos meninos ainda naturaliza um pouco o suposto direito do homem sobre o corpo da mulher, e que precisamos pautar mais o tema entre os estudantes.

12 - Direito ao Corpo

Nesse mesmo sentido, uma menina de 15 anos disse que o machismo a afeta “quando os homens chamam nós mulheres de puta por usar roupa curta e sair por aí (...)”20. Uma manifestação como essa nos faz pensar no quanto a nossa realidade

obriga as meninas a enfrentar de maneira precoce temas tão complexos.

A última questão a ser tratada neste capítulo foi uma forma de tratar com os estudantes a questão do feminicídio (modalidade de homicídio qualificado por ser “contra a mulher por razões da condição do sexo feminino”, incluída no Código Penal pela Lei 13.104/2015), pedindo para que eles julguem a atitude de um jornal ao publicar matéria de forma a justificar a atitude de um homem em matar a sua esposa, como vemos por diversas vezes ocorrer nos meios de comunicação.

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Aqui, a grande maioria dos meninos e das meninas concordaram com o fato de que a matéria foi machista:

13 - Feminicídio

Nesse tema as falas das meninas impressionam e entristecem pelo medo que elas relatam da violência física e psicológica. Uma menina de 15 anos referiu “(...) o medo constante de ser vítima de feminicídio”21. Isso é muito forte e exige uma

atitude mais efetiva em defesa da vida das mulheres, que não pode seguir sendo relativizado.

Essas foram as questões que focaram em situações nas quais o machismo afeta diretamente a vida das mulheres. A partir de agora trataremos sobre as situações em que o machismo afeta diretamente a vida dos homens.

2.2.2 Percepção do Machismo na Vida dos Homens

Esse menino de 17 anos conseguiu sintetizar a diferença entre a realidade do dia a dia dos homens e das mulheres: “Eu sou homem, não sofro assédio, não tenho medo de andar sozinho, ninguém me vê na rua e assovia.22

21 Menina de 15 anos, formulário anexo número 157. 22 Menina de 17 anos, formulário anexo número 460.

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O machismo desumaniza mulheres e homens, afetando a todas as pessoas em diferentes medidas. Todos sofrem, seja com as dores relacionadas à construção de uma masculinidade que faz negar a humanidade do outro, desumanizando a si mesmo, seja com o mal estar decorrente da percepção das violências de gênero e da sua naturalização. Um menino de 14 anos relatou que o machismo o afeta “sim, mesmo eu sendo homem, eu me sinto mal ou desconfortável, quando vejo uma mulher sofrendo pelo machismo.”23

Adaptando o pensar de Paulo Freire para a situação da opressão do machismo, podemos afirmar que a tarefa histórica das mulheres, oprimidas e desumanizadas pelos homens, é libertar a todos e todas, homens e mulheres, da desumanização:

“A violência dos opressores, que os faz também desumanizados, não instaura uma outra vocação – a do ser menos. Como distorção do ser mais, o ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade de ambos. E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores.”24

Isso apenas pode ocorrer quando nós, mulheres, nos conscientizarmos de que precisamos resgatar nossa humanidade. Por isso a importância dos feminismos (no plural, porque eles são muitos), tanto para as mulheres, quanto para os homens.

Cito aqui novamente a filósofa Márcia Tiburi:

“Desmontar a máquina misógina patriarcal é como desativar um programa de pensamento que orienta nosso comportamento. (...) Nesse ponto, podemos discutir a complexa questão dos homens no feminismo. O feminismo tende a fazer bem aos homens que desejam uma vida mais ampla e mais aberta, uma visão de mundo expandida, menos tacanha, diferente da que foi legada a ele por seus ancestrais comprometidos com a violência e o poder de destruição da vida. Progressista por vocação, o feminismo é um operador criativo que libera todos das coações patriarcais, desonera as pessoas da dívida de gênero – ele mesmo uma coação.” (...)25 Como já demonstramos no primeiro capítulo, a maioria dos meninos que responderam à pesquisa disseram que o machismo não os afeta, sendo que muitos

23 Menino de 14 anos, formulário anexo número 410.

24 FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016. P.41.

25 TIBURI, Márcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018. Páginas 41-42.

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justificaram na parte dissertativa que não se sentem diretamente afetados pelo fato de serem homens.

No entanto, ao julgar a situação proposta, em que uma mãe repreende o filho pequeno dizendo que “homem não chora”, a maioria dos meninos percebeu o machismo envolvido na situação, que afeta diretamente os meninos. Um menino de 16 anos até escreveu que “homem e mulher choram, gênero não proíbe isso.”26

14 - Machismo versus Saúde Emocional

Da mesma forma, ao julgarem a situação na qual um empregador afirma a um candidato a emprego que só contrata mulheres para a função de secretaria, a maioria dos meninos também percebeu que se trata de machismo, embora a diferença entre o “sim” e o “não” tenha sido menor.

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15 - Machismo e Oferta de Emprego

Porém, o resultado que mais preocupa foi em relação ao problema da diferença enorme entre a licença maternidade no Brasil, de no mínimo 120 dias, em comparação com a licença paternidade, de apenas 5 dias na regra geral, embora excepcionalmente ocorra a ampliação deste direito para 20 dias (trabalhadores do serviço público federal e de empresas que fazem parte Programa Empresa Cidadã). Essa diferença expõe o problema da responsabilização da mulher pelo trabalho doméstico e reprodutivo, mas também da construção de uma masculinidade desumanizada, que nega aos homens o direito de exercer com qualidade a sua função de pai no começo da vida dos seus filhos.

Aqui, tanto meninos como meninas, em sua maioria, não perceberam o machismo como causador dessa disparidade. O resultado sugere que esses temas devem ser melhor trabalhados entre os estudantes.

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16 - Licença Pós-parto

Por fim, cabe destacar ainda neste capítulo que uma das questões mais animadoras dessa pesquisa foi a pouquíssima ocorrência de manifestações misóginas nos formulários da pesquisa, bem como o grande número de meninos que manifestaram solidariedade com as meninas e mulheres na luta contra o machismo.

Um menino de 16 anos respondeu que o machismo não o afeta diretamente “(...) apesar de que muitas mulheres devem sofrer por isso. Queria poder fazer uma diferença maior em relação a isso. :)”27 Outro menino, de 17 anos, disse sobre o

machismo que “ele não afeta só a mim como uma boa parte da sociedade e o lugar da mulher é onde ela quiser sem encontrar qualquer barreira (...)”.28

Esse resultado nos anima muito a continuar na construção, através do diálogo com a juventude, de um futuro com mais igualdade entre mulheres e homens. Nesse sentido, trataremos a partir de agora da questão do debate de gênero nas escolas.

2.3 O DEBATE DE GÊNERO NAS ESCOLAS

27 Menino de 16 anos, formulário anexo número 447. 28 Menino de 17 anos, formulário anexo número 452.

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A seguinte resposta simples e direta de um menino de 15 anos na parte descritiva da pergunta sobre importância de fazer o debate de gênero nas escolas: “É melhor aprender do que fazer merda.”29

A intenção de pautar esse tema na pesquisa partiu da reação conservadora acerca do que se popularizou chamar de “ideologia de gênero”, que acusa as escolas de tratarem temas relacionados a gênero e sexualidade de forma “tendenciosa”, impondo aos estudantes uma determinada “ideologia”, quando na verdade o que se busca é apenas a ampliação do conhecimento sobre essas questões no sentido da construção de uma cultura de respeito e diálogo.

Na parte objetiva perguntei aos estudantes se eles acham importante que o debate sobre questões de gênero seja feito nas escolas. A grande maioria dos meninos e meninas entenderam que sim, conforme demonstra o gráfico:

17 - Debate nas Escolas

É muito interessante analisar as respostas dadas pelos estudantes na parte descritiva dessa questão.

Alguns alunos procuraram restringir a questão ao âmbito da família, demonstrando insegurança em fazer esse debate na escola, como um menino de 15

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anos que disse que isso “deve ser debatido em casa”30. Outros pouquíssimos

reproduziram homofobia nas suas falas, como um menino de 16 anos que marcou “não”, porque “as pessoas abusam na hora de explicar e orientar e nenhum pai ou mãe nem vocês que estão fazendo esse questionário querem ter um filho gay ou uma filha lésbica”31. Nessa linha, dois ou três meninos foram até bastante

agressivos.

No entanto, a imensa maioria demonstrou entender a importância de fazer o debate de gênero na escola. Um menino de 17 anos valorizou o papel da escola respondendo que sim, é importante fazer o debate, “pois grande parte da sociedade é machista, e de algum lugar ela tem que ver que todos somos iguais, e a escola é um bom lugar pra isso”.32 Ainda, uma menina de 14 anos fez uma denúncia, dizendo

que é importante “porque muitas vezes sofremos o machismo dentro da própria escola, como por exemplo nos jogos de futebol, etc.”.33

Uma menina de 15 anos pautou a questão do preconceito e da necessidade uma mudança na sociedade, dizendo que sim, o debate deve ser feito na escola “porque muitas pessoas são preconceituosas e não sabem aceitar o próximo como ele realmente é, e nesse caso a sociedade precisa mudar”.34

Contrariando o pensamento de alguns, de que esse debate deve ser feito em casa, uma menina de 16 anos disse da importância de o fazer na escola “porque alguns pais são machistas, e não educam seus filhos para serem melhores, acho que já estamos tão acostumados com o machismo que nem nos tocamos”.35

Certamente, é muito importante ver que há entre os estudantes o entendimento de que a escola é um local importante a adequado para esse tipo de debate, principalmente se considerarmos que estamos vivendo um período em que sofremos grande pressão social e institucional objetivando impor o silêncio em sala de aula. O resultado dessa pesquisa nos inspira a resistir aos retrocessos.

Cito aqui um trecho das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica que resume bem o clima de valorização da diversidade que desejamos para as escolas:

30 Menino de 15 anos, formulário anexo número 295. 31 Menino de 16 anos, formulário anexo número 300. 32 Menino de 17 anos, formulário anexo número 456. 33 Menina de 14 anos, formulário anexo número 148. 34 Menina de 15 anos, formulário anexo número 248. 35 Menina de 16 anos, formulário anexo número 141.

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“Torna-se inadiável trazer para o debate os princípios e as práticas de um processo de inclusão social, que garanta o acesso e considere a diversidade humana, social, cultural, econômica dos grupos historicamente excluídos. Trata-se das questões de classe, gênero, raça, etnia, geração, constituídas por categorias que se entrelaçam na vida social – pobres, mulheres, afrodescendentes, indígenas, pessoas com deficiência, as populações do campo, os de diferentes orientações sexuais, os sujeitos albergados, aqueles em situação de rua, em privação de liberdade – todos que compõem a diversidade que é a sociedade brasileira e que começam a ser contemplados pelas políticas públicas.”36

Diversidade tem tudo a ver com o machismo e o debate de gênero. Um menino de 18 anos disse que o debate de gênero nas escolas “é importante para o crescimento da sociedade com as diferenças”.37 Trata-se de reconhecer e valorizar

as diferenças na luta pela igualdade de direitos. Realmente, a sociedade só tem a “crescer” com isso.

36 Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file. Acessado em 08 jul.2019. Pág. 16.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não tenho certeza se isso que escrevi foi uma monografia, tecnicamente falando. Sou muito acostumada a escrever panfletos, e meu impulso panfletário veio à tona e precisou ser freado em vários momentos nessa escrita. Mas entendo que a pretensão inicial de fazer uma pesquisa de campo da qual se pudesse extrair um diagnóstico da percepção do machismo por parte dos estudantes foi cumprido com bastante sucesso.

A quantidade de informações que obtive na pesquisa em anexo é imensa. Certamente permitiria aprofundar a análise de diversas formas diferentes, para muito além do que me propus inicialmente.

Os meninos e meninas que responderam foram extremamente generosos ao seguir à risca o meu pedido inicial, para que abrissem seus corações. Temos agora uma quantidade imensa de corações abertos a nos mostrar caminhos possíveis para a construção de uma sociedade mais justa.

O que pude entender e demonstrar de alguma maneira nesta escrita é que as meninas e os meninos estão muito conscientes e críticos em relação ao machismo e que estamos diante de uma oportunidade histórica de construir grandes avanços na nossa sociedade.

Penso que a reação conservadora que estamos vivendo faz parte desse processo. Ela é fruto dos questionamentos à “ordem natural das coisas” que estão sendo feitos em todos os espaços, em todos os momentos. Aquelas e aqueles historicamente oprimidos pelo machismo estão descobrindo suas vozes, suas capacidades, seus direitos, sua coragem e sua disposição pra luta. Isso incomoda, causa muito medo e muito ódio.

São tempos muito difíceis. Mas são os nossos tempos, e são os tempos desses meninos e meninas conscientes, críticos, dispostos ao debate e à valorização das diferenças. São tempos de desafios enormes e de enormes possibilidades de êxito.

A luta contra o machismo, pela igualdade de gênero, é estratégica. O machismo é uma das faces mais violentas do patriarcado, que por sua vez é parte da estrutura da opressão social que vivemos, hoje caracterizada pelo capitalismo. Se nessa luta a escola tem sido um importantíssimo campo de batalhas, minha pesquisa demonstra que a grande maioria dos estudantes, meninas e meninos, está

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disposta a lutar do nosso lado e, se Hemingway estiver certo, isso importa mais do que a própria guerra.

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4. REFERÊNCIAS

Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017, disponível em

http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2017/12/ANUARIO_11_2017.pdf

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da

Educação Básica. Pág. 16. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/docman/julho-2013-pdf/13677-diretrizes-educacao-basica-2013-pdf/file. Acessado em 08 jul.2019.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.

DIEESE, Estudo do. “Anuário do sistema público de emprego, trabalho e

renda”. Disponível em

https://www.dieese.org.br/anuario/2015/sistPubLivreto6Jovens.pdf

DIEESE, Estudo do. “Dia 08 de Março Dia de Luta das Mulheres por um Mundo

Igualitário”, 2018. Disponível em

http://www.ftmrs.org.br/arquivos/file_5aa145a8d2ad2.pdf

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1991.

FEDERICI, Silvia. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2016.

GEBARA, Ivone. Mulheres, religião e poder. São Paulo: Edições Terceira Via, 2017.

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TIBURI, Márcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.

Referências

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