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231ª Vara Criminal Central da Capital

Vistos.

O Representante do Ministério Público denunciou Jair Y, devidamente qualificados nos autos, como incursos nas sanções dos artigos 33, caput, e 35, ambos da Lei nº 11.343/06, cumulados com o artigo 69, caput, do Código Penal, porque no dia 25 de novembro de 2011, por volta das 10:00 horas, na Rua São Simão n. 62 – fundos, nesta cidade e Comarca, agindo em conluio e com identidade de propósitos criminosos, mantinham em depósito, para fins de tráfico, sete (07) porções de maconha - 6.957 gramas -, e vinte e um (21) tubos contendo cocaína – 5,580 gramas -, entorpecentes estes que eram destinados ao tráfico, portanto, ao consumo de terceiros.

Segundo o apurado, policiais civis estavam monitorando os irmãos Jair e Jauro Y há vários dias, isto por envolvimento de tais pessoas com o delito de tráfico. No dia dos fatos, após munirem-se de mandado de busca, já que os resultados das “campanas” revelaram o envolvimento dos irmãos no tráfico, dirigiram-se até o imóvel e localizaram a significativa quantia de droga, isto é, no interior do sofá localizaram seis (06) tijolos de maconha e na cozinha mais uma porção de maconha, uma balança de precisão e uma faca, ambas com resquícios de maconha. No interior de um estojo protetor de óculos localizaram 20 cápsulas de cocaína e 19 porções distintas de maconha.

É dos autos que os irmãos Jair e Jauro estavam associados para fim de reiteradamente praticar o crime de tráfico de substâncias entorpecentes.

Foi decretada a prisão preventiva do réu Jauro (fls. 93), foragido, e os autos foram desmembrados, seguindo este feito somente com relação a Jair. O acusado Jair foi notificado (fls. 97). Ofertou defesa preliminar, arrolando duas testemunhas (fls. 99/100).

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A denúncia foi recebida em 08 de fevereiro de 2012 (fls. 105). O acusado Jair foi citado (fls. 112).

Durante a instrução judicial, foram colhidos os depoimentos de duas testemunhas de acusação e duas testemunhas de defesa. O réu Jair foi interrogado, enquanto Jauro está foragido.

O Dr. Promotor de Justiça, por meio de debates, requereu a procedência da ação penal nos termos da denúncia. A defesa, por sua vez pugnou a improcedência da ação penal, para que o acusado seja absolvido dos crimes previstos na Lei 11.343/06. Em caso de condenação pede a redução máxima da pena prevista para o tráfico, nos termos do parágrafo 4. Do art. 33 da Lei de Drogas. Fixação do regime aberto para início do cumprimento da pena privativa de liberdade.

É, em síntese, o relatório.

Passo à decisão.

A ação é parcialmente procedente, como será exposto.

Inicialmente, passo à análise do crime de tráfico de drogas imputado ao acusado Jair

O acusado Jair, na fase inquisitiva, na presença de advogada constituída, Dra. Paulina It, negou a propriedade do entorpecente apreendido em sua residência, dizendo que terceira pessoa guardou ali a droga, ameaçando-o de morte em caso de relato para a polícia.

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Em Juízo, Jair afirmou que estava guardando o entorpecente e os petrechos que foram apreendidos em sua residência para terceiros, cujos nomes não deseja declinar, coagido por estes. Não estava associado com seu irmão para a guarda dos entorpecentes. Não sabe dizer o motivo pelo qual ele está foragido. Não é viciado, mas faz uso de maconha ocasionalmente. Mora com sua esposa e filho. Trabalha como serralheiro e percebe cerca de R$1.200,00 mensais. Nada ganharia para guardar o entorpecente, só não morreria. Não tem relacionamento próximo com seu irmão.

Analisando-se a prova oral colhida sob o crivo do contraditório, tem-se que o relato de Jair é insubsistente. Não há demonstração da coação para guardar a droga para terceira pessoa. O que há é prova de guardava a droga para realizar a venda, como expressão de sua vontade livre.

O investigador de polícia Ricardo L informou que durante investigação de, aproximadamente, quinze dias para apuração do envolvimento de pessoa conhecida Jauro, irmão do acusado Jair, no tráfico de drogas pelos bairros Vila Carvalho e Vila Elisa, foi solicitado Mandado de Busca Domiciliar, que foi autorizado por este Juízo. Disse que em cumprimento de aludido mandado, ao adentrar na residência do acusado, situada na Rua São Simão n. 62, fundos, foram encontrados, dentro de um sofá, seis tijolos de maconha envoltos em plástico. Aduziu que na cozinha foi encontrada uma balança e uma faca com resquícios de maconha. Disse que sobre um móvel, foi encontrado mais meio tijolo de maconha e, em um estojo protetor de óculos, vinte cápsulas de cocaína e 19 porções de maconha. Aduziu que o réu começou a chorar. No local moravam o acusado Jair, que não conhecia, e a esposa dele.

No mesmo sentido foi o depoimento do investigador de polícia Marcelo M, que participou apenas do cumprimento do mandando de busca. O acusado admitiu a propriedade do entorpecente no momento da apreensão e mostrou onde se estava guardado. Não ouviu o acusado fazer nenhum comentário sobre seu irmão. Quando abordou o acusado, ele portava certa quantia em dinheiro, mas não explicou a origem. Tal quantia foi entregue a esposa do acusado.

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Marconi J trabalhava com o acusado há nove meses, antes da prisão, e relatou que Jair reside com a esposa e com o filho, não tendo nenhum relacionamento mais íntimo com o irmão Jauro. O réu trabalhava como serralheiro e recebia cerca de R$1.200,00 mensais. Conhece o Jauro apenas de vista, sendo que nunca o viu na residência do acusado.

Daniel V. trabalha com o acusado desde março de 2010. Não sabe se o acusado é usuário de entorpecentes e não conhece o irmão dele.

Verifica-se, pois, que os elementos carreados ao bojo dos autos são suficientes para embasar um decreto condenatório em face do acusado Jair. Essa conclusão é decorrente da análise dos depoimentos colhidos, em especial os depoimentos dos policiais civis Ricardo L e Marcelo M, que informaram que em cumprimento a Mandado de Busca e Apreensão, adentraram na residência do acusado, onde foram encontrados, dentro de um sofá, seis tijolos de maconha envoltos em plástico e, na cozinha, uma balança e uma faca com resquícios de maconha. Acrescentaram que sobre um móvel, foi encontrado meio tijolo de maconha e, em um estojo protetor de óculos, vinte cápsulas de cocaína e 19 porções de maconha.

A assertiva dos policiais não pode ser desmerecida, pois estavam exercendo a função pública inerente ao cargo em que foram investidos, devendo, pois, seus depoimentos ser aceitos, ainda mais porque coerentes entre si e com os demais elementos de prova trazidos aos autos. Veja-se, a propósito do valor dos depoimentos de policiais nos crimes de tráfico de drogas, o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, in verbis: “Prova – Tráfico de Entorpecentes – Depoimento de Policial – Valor – Jurisprudência citada: - A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita. Ademais, tratando-se de tráfico de drogas, é muito difícil localizar testemunhas dispostas a prestar esclarecimentos bons e válidos, que não os próprios policiais responsáveis pela diligência”, in Apelação nº 1445227/3, Ementa nº 141736.

Portanto, dúvidas não há de que o acusado praticava o tráfico de drogas, pois este foi surpreendido por policiais civis guardando, para fins de entrega a consumo de terceiros, em sua residência, significativa quantidade de substância entorpecente de espécies diversas, além de uma balança de precisão.

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Não bastasse isso, foi encontrada na residência do acusado uma faca com resquícios de maconha, o que denota que o réu estava associado à pessoa para quem estava guardando a droga no vil comércio de entorpecentes.

Os elementos trazidos aos autos, mormente os uníssonos depoimentos dos policiais civis, são sérios indicativos quanto ao cometimento do crime previsto no artigo 33, caput, Lei 11.343/06.

O fato de os policiais civis não terem visto o acusado praticando atos de comercialização de drogas não tem o condão de afastar sua responsabilidade criminal, uma vez que a figura típica capitulada no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06, trata-se de um tipo misto alternativo e tem como um de seus núcleos “(...) ter em depósito (...), guardar (...), sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”, o que ficou sobejamente demonstrado nos autos. Portanto, havendo nos autos seguros indícios de que a droga apreendida seria entregue a consumo de terceiros, deve ele ser responsabilizado pelo disposto no artigo 33, caput, da mencionada lei, cuja conduta típica ficou devidamente caracterizada nos autos.

Diante de todo o exposto, não há como ser desclassificada a conduta imputada ao acusado para aquela prevista no artigo 28 da Lei nº 11.343/06, até mesmo porque não foi trazido à baila nenhum elemento capaz de afastar as robustas provas existentes nos autos no sentido de que o acusado mantinha em depósito e guardava as diversas substâncias entorpecentes no intuito de comercializá-los, conforme ônus que competia à defesa.

A materialidade do delito de tráfico de drogas restou amplamente demonstrada e provada nos autos, tendo em vista o auto de exibição e apreensão de folhas 11/12, o laudo de constatação de folhas 23 e o laudo de exame químico toxicológico de folhas 53/54, que revelou que o material submetido à perícia continha as substâncias TETRAHIDROCANABINOL (THC), princípio ativo do vegetal Cannabis sativa L, maconha, e METIL BENZOIL ECGONINA, cocaína, causadoras de dependência física e psíquica, relacionadas na Portaria SVS/MS 344/98.

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Passo à análise do crime de associação ao tráfico imputado ao acusado Jair.

A associação para o tráfico, supostamente, mantida entre o réu Jair e Jauro não ficou devidamente demonstrada pela prova colhida ao bojo dos autos. Não há indicativos contundentes de que havia organização da atividade desenvolvida por eles, de como estas tratativas ocorriam e se, de fato, ocorriam. Insuficiente a assertiva do acusado no sentido de que guardava droga para terceiros a existência de denúncias recebidas pelos investigadores de que Jair e Jauro estavam associados. Nada nas apreensões efetuadas vincula os acusados. Os investigadores, sequer, os viram se associando.

Meras denúncias anônimas, no sentido de que Jauro estava envolvido e traficava na região norte da cidade, não são suficientes para comprovar a associação entre ele e o acusado.

Certo é que o réu guardava o entorpecente para terceiros, o que ele admitiu, ainda que alegando coação. Todavia, tal fato já fez com que ele incidisse em um dos tipos penais previstos no artigo 33, caput, da Lei 11.343/06, faltando outros elementos mais seguros a fim de que se caracterizado o delito previsto no artigo 35 da mesma lei.

Nesse contexto, deve o acusado ser absolvido por falta de provas quanto a tal delito, levando-se em conta o brocardo in dubio pro reo.

Destarte, tendo ficado demonstrada a autoria e a materialidade ddo crime de tráfico imputado a Jair , a condenação do mesmo é de rigor.

Colocadas tais ponderações, passo a fixar a pena.

Na dosagem da reprimenda, atenta aos antecedentes, à culpabilidade e às demais diretrizes do artigo 59 do Código Penal, fixo a pena base do acusado em

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cinco (05) anos de reclusão e quinhentos (500) dias-multa, com base no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06.

Tendo em vista a primariedade do acusado, a ausência de antecedentes criminais e a não vinculação do réu à organização criminosa, aplico a regra contida no parágrafo 4º do artigo 33 da Lei nº 11.343/06, e reduzo a sua pena em um sexto (1/6), considerando a quantidade de droga apreendida; resultando a reprimenda em quatro (04) anos e dois (02) meses de reclusão e quatrocentos e dezesseis (416) dias-multa.

Ante a inexistência de outras circunstâncias modificadoras aplicáveis, torno a pena acima definitiva.

Ante a quantidade da pena imposta, fixo o regime fechado para o início de cumprimento da pena privativa de liberdade do acusado, nos termos do artigo 2º, parágrafo 1º, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/07.

Não permito o apelo do réu em liberdade, uma vez que este respondeu preso ao processo e assim deverá permanecer, mormente porque se concluiu por sua responsabilização criminal, ressaltando-se, ademais, que um dos crimes por eles praticados se equipara a hediondo. Em decisão recente, assim se posicionou o Superior Tribunal de Justiça, a propósito: “Não se reconhece o direito ao apelo em liberdade a réu que permaneceu preso desde o flagrante e durante toda a instrução do processo. A manutenção da prisão constitui-se em um dos efeitos da respectiva condenação. Precedentes. Ordem denegada” (HC 36474/SP-HABEASCORPUS-2004/0091136-3. Relator Ministro GILSON DIPP (1111). Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento 14/12/2001. Data da Publicação/Fonte: DJ 21.02.2005 p.198).

Tendo em conta a quantidade de pena imposta (superior a quatro anos), não faz jus ao benefício da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos ou a suspensão condicional da pena.

Pelo exposto, e por tudo mais que dos autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a ação penal que a Justiça Pública move contra Jair Y, R.G. XXX.XXX.XX, e o CONDENO, com fundamento nos artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06 do Código Penal, à pena de quatro (04) anos e dois (02) meses de reclusão (regime inicial fechado) e quatrocentos e dezesseis (416) dias-multa; sem prejuízo, absolvo-o a imputação que lhe foi

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atribuída pelo artigo 35, caput, da Lei 11/343/06 e assim o faço com fulcro no artigo 386, inciso VII, do CPP. O valor dos dias-multa será fixado no mínimo legal, à míngua de elementos que demonstrem a real situação econômico-financeira do acusado, e deverá ser atualizado da data dos fatos até efetiva liquidação.

Recomende-se o réu na prisão em que se encontra.

Após o trânsito em julgado, o réu terá seu nome lançado no rol dos culpados.

Condeno o réu Jair Y ao pagamento das custas processuais fixadas no valor de 100 Ufesps, nos termos da Lei Estadual nº 11608/03, ficando suspensa a execução por terem sido concedidos ao acusado os benefícios da assistência judiciária gratuita.

Determino a incineração da droga apreendida, nos termos do artigo 58, parágrafo 1º, cumulado com o artigo 32, parágrafo 1º, ambos da Lei nº 11.343/06.

P.R.Int.

São Paulo, 20 de março de 2012.

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