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Desporto/Esporte, Lazer e Atividade Física. o Estatuto da Cidade

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PARTE I

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CAPÍTULO 1

DESPORTO / ESPORTE, LAZER E

ATIVIDADE FÍSICA. O ESTATUTO

DA CIDADE

Alfredo Faria Junior

INTRODUÇÃO

Cidade Educadora.

As políticas sociais contemporâneas têm-se revelado incapazes de dar respostas convenientes a determinadas realidades, como as taxas crescentes de desemprego, o aumento da pobreza, o envelhecimento populacional e a exclusão social, nas quais está imerso o cotidiano das sociedades contemporâneas. Entretanto, as dificuldades financeiras que inviabilizam as políticas públicas não questionam a necessidade e o direito de as pessoas acederem a um mínimo de serviços que garantam o seu desenvolvimento humano e social. Analisando-se documentos oficiais e os dados disponíveis sobre Niterói pode-se perceber uma aproximação das ações da administração local com a idéia de Cidade Educadora.

Em um desses documentos – “Educação:

uma prioridade para transformar Niterói”

(EDUCAÇÃO..., 2004, p. 2), observa-se essa aproximação explicitamente mencionada quando fala do processo de elaboração do Plano Municipal de Educação na ‘perspectiva de que

Niterói se torne uma cidade educadora’. Maria Belén Caballo Villar (2001, p. 20) conceitua cidade educadora como “enquadramento teórico de referência para o arranque de uma acção orientada a entender o território como espaço educativo”. Para a passagem da idéia de cidade educativa, contida na visão prospectiva da educação nos últimos anos do século XX, encontrada em Apprendre a Être [Aprender a Ser], de Edgar Feure (1973), para a cidade educadora, certamente contribuíram os congressos internacionais de cidades educadoras.

No primeiro, realizado em 1990, em Barcelona, foi redigida e subscrita por representantes de 139 cidades (dados de fevereiro de 2000), a ”Declaração de Barcelona, Carta das

Cidades Educadoras” (1990, p. 1). Segundo esta

Carta, a “cidade educadora é uma cidade com personalidade própria, integrada no país onde se situa. Sua identidade, portanto, é interdependente do território da qual faz parte”. [...] “A cidade será educadora quando reconheça, exercite e desenvolva – além de suas funções tradicionais (econômica, social, política e de prestação de serviços) – uma função educativa, quando assuma a intencionalidade e a responsabilidade, cujo objetivo seja a formação e o desenvolvimento de seus habitantes, a começar pelas crianças e jovens”. Evidentemente, quando se fala em desenvolvimento de seus habitantes não se restringe isto a crianças e jovens, mas incluem-se também os adultos, os idosos e os portadores ou não de necessidades especiais.

A discussão sobre as cidades educadoras prosseguiu nos Congressos de Gotemburgo, Bolonha, Chicago, Jerusalém e Lisboa.

Uma análise de modelos de organização e processos de intervenção na administração local (estudo de casos) mostra a importância do desporto para a concretização de experiências de cidades educadoras. Na cidade Vitória-Gasteisz, na Espanha, existe um Departamento de Desporto (Gestão Administrativa, Coordenação Desportiva, Área Técnica, Serviços de Medicina Desportiva) e um Pavilhão Municipal de Desportos, Udal

Kiroldegia. Esse departamento dividiu a cidade em

seis zonas, adotando como “critério as instalações desportivas e o número de habitantes” [...] “Além da oferta desportiva estável, o departamento promove campanhas pontuais destinadas a diferentes sectores da população (escolar, jovens, terceira idade...)” (VILLAR, op. cit., p. 109).

Entretanto, o próprio coordenador de atividades desportivas do departamento critica sua denominação, dizendo que pelos objetivos, melhor seria denominada de “Programas Físico-Recreativos” (Ibid., p. 109). Barcelona, para a área do desporto, decidiu “potencializar a iniciação desportiva e o desporto escolar e desenvolver um plano de adaptação das instalações olímpicas para garantir o seu máximo aproveitamento” (Ibid., p. 153).

Em Narón, o município dispõe de um organismo autônomo para intervir na área desportiva – o “Padroado de Desportos” [...] que “constitui a principal promotora da vida desportiva municipal, centrando sua atividade em três linhas fundamentais: as escolas desportivas de atletismo, tênis de mesa, ginástica, natação, basquetebol, handebol, futebol de salão e xadrez; cursos sobre

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diferentes disciplinas desportivas; e organização de competições” (Ibid., p. 186).

A cidade educadora é uma alternativa para enfrentar os desafios da sociedade globalizada no âmbito das realidades locais e o desporto é um fator importante na gestão municipal.

ESTATUTO DA CIDADE

O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) dá os instrumentos ao município para garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais na cidade e estabelece a gestão democrática, garantindo a participação da população em todas as decisões de interesse público. O Estatuto da Cidade baliza o esporte e lazer da cidade no “sentido da democratização do acesso ao esporte, como manifestação cultural, em todas as suas dimensões, em outro patamar de qualidade, sob um modelo conceitual de trabalho pedagógico e ao lazer em suas dimensões de tempo / espaço / prática, qualificando-o como instância de emancipação humana” (BRASIL, 2003).

DESPORTO E ESPORTE

A palavra desporto encontra sua origem no francês antigo de(s)port, derivado de se

de(s)porter, no sentido de divertir-se, folgar. Ele

aparece no fim do século XII, no romance o

Eneas, da escola literária normanda, significando

todo tipo de diversão. Levada para a Inglaterra pela cavalaria conquistadora toma, em 1300, a forma disport. Sofrendo apócope da primeira sílaba ela chega à forma sport (PETIOT, 1982, p.

V), pela primeira vez empregada oficialmente na Inglaterra por James I, em 1617, na Declaration of

Sports.

Por volta de 1827, o uso da palavra sport é retomado na França, e naturaliza-se nos 20 anos do pós-guerra –1871-1891 (Ibid., p. V). Para Miguel Piernavieja del Pozo (1966), a palavra

deporte (prov. y ant. deport) já se encontra

registrada em documentos do castelhano antigo de princípios do século XII. Para Pozo (Ibid., p. 07), o termo deporte tornava-se mais freqüente na literatura quanto mais se recuava no tempo, com origens no século X. José Maria Cagigal (1979, p.147), por seu turno, destaca que “em espanhol se diz deporte, em português desporto [...] derivados dos velhos termos (castelhano-catalão-provençal) deporte, deportase, desporter,

se-desporter ”.

Em dicionários de língua portuguesa, até 1910 só se registrava a palavra inglesa sport, como se observa no Dicionário Prático Ilustrado, de Jaime de Séguier (1910 citado por FARIA JUNIOR, 1999, p. 314). A partir daí aportuguesou-se a palavra para desporto, em Portugal, e

desporto e desporte no Brasil. Com o tempo surge

entre nós uma simplificação dessa segunda forma, surgindo o termo esporte. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1986, p. 574) concorda com a origem do termo no francês antigo (desport) e registra essas três formas – desporto, desporte e esporte (Ibid., p. 708). Entretanto, faz pequenas distinções que às vezes podem passar despercebidas. Assim, para desporto e desporte adotam as duas primeiras mesmas acepções que apresenta para o termo esporte: 1. “o conjunto de

exercícios físicos praticados com método, individualmente ou em equipes”; 2. “qualquer desses exercícios”. Entretanto, para a palavra esporte, acrescenta mais dois entendimentos: 3.

“entretenimento, entretimento, prazer”, e “de maneira amadorística”. (Ibid., p. 708).

Portanto, podemos depreender que, quando do uso da palavra esporte, pode-se estar querendo destacar uma atividade amadora, realizada por entretenimento e prazer. O entendimento da palavra esporte, com essas duas últimas conotações, viu-se reforçado por professores alemães que aqui estiveram (e/ou tiveram suas obras traduzidas) e pela disseminação do termo feita entre nós por professores brasileiros ao retornarem de seus períodos de formação na Alemanha. Neste país, após a segunda guerra mundial, os educadores abandonaram o uso da expressão educação física por julgarem-na muito marcada por seu comprometimento com as práticas físicas durante o período do nacional-socialismo (nazismo). Por isto substituíram aquela expressão pela palavra

esporte, cujo entendimento foi “estendido para

incluir educação física e atividades recreativas” (BEYER, 1992, p.575).

Na Alemanha o termo esporte é frequentemente até usado de forma genérica em contextos particulares, diferenciando, por exemplo, esporte prisional, esporte familiar, esporte de férias (Ibid.). Liselott Diem (1981, p.1), ao empregar a palavra esporte quis fazer uso da expressão popular para tudo que está ligado ao movimento regulamentado. “Neste sentido, podemos denominar esporte até mesmo o ato de

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trepar numa escada, de vencer um obstáculo ou de equilibrar-se sobre um muro”.

Em resumo, no Brasil, são reconhecidos os termos desporto, desporte e esporte, no português falado e escrito. Entretanto, no meio acadêmico, por causa das diferenças apontadas, não julgamos possível aceitá-los como significando a mesma coisa, limitando suas diferenças a possíveis diversidades de origem das palavras. Por isto neste Atlas procuramos usar indistintamente desporto e esporte, embora pessoalmente prefira manter a distinção conceitual entre os termos desporto e esporte, como se evidenciará no desenvolvimento de todo o trabalho.

LAZER

Etimologicamente o termo lazer se origina na antiguidade clássica, do latim licet / licere, tendo sido usado por Cícero (Verrinas 5, 188; Pto

Roscio Amerino 127; Pro Balbo 29) e César

(Bellum Civile), com o significado de “ser permitido, poder ter o direito” (FARIA, 1962, p. 563). Nas reflexões sobre o lazer nas antigas sociedades encontram-se duas correntes. A primeira entende lazer como não trabalho, como ócio – enquanto privilégio das classes ociosas (GRAZIA, 1996). A segunda corrente considera que a origem do lazer se encontra nas modernas sociedades industriais, urbanas (DUMAZEDIER, 1979).

A partir daí, Valdir J. Barbanti (2003, p. 363) assegura que não há conceituação uniforme

em relação ao termo lazer, “normalmente usado em contraste com o conceito de trabalho tanto em relação ao tempo e conteúdo como também à estrutura”.

Entretanto há consenso em vários aspectos dessa discussão. Por exemplo, o lazer é um fenômeno resultante das tensões entre capital e trabalho. Por isto, “o termo é usualmente empregado em contraste com o conceito de trabalho.” (BEYER, op. cit., p. 232).

O termo lazer tem comumente sido entendido em relação ao que se entende por tempo social. Nessa perspectiva teríamos tempo com trabalho e tempo sem trabalho. Entretanto, o tempo sem trabalho não pressupõe unicamente tempo livre, mas inclui também o tempo não livre. O tempo livre “é um direito que o homem tem, após cumprir suas obrigações profissionais, escolares, familiares, políticas [sic] e sócio-religiosas [sic]” (CAVALCANTI, 1976, p. 27).

O lazer como ser no tempo livre existe após o despertar do homem para seu processo de conscientização e libertação, a partir de seus próprios referenciais. Para M. Kaplan (citado por CAVALCANTI, 1976, p. 27), o lazer como parte do tempo livre, é um fator de transformação dirigido para a realização do homem, influenciado por um sistema dinâmico em que condição, escolha, função e significado são seus componentes.

Assim, em resumo, desde o século XIX, “as mudanças ocorridas no tempo dedicado ao trabalho têm contribuído para a reestruturação das relações entre tempo de trabalho e tempo sem

trabalho. Para isso contribuiu a organização da classe trabalhadora com as reivindicações inicialmente se concentrando em questões como o aumento do período de repouso, [e] o repouso remunerado [...]” (FARIA JUNIOR, op. cit., p. 69). Em paralelo com as reivindicações do aumento do tempo sem trabalho, os patrões começaram a se declarar preocupados com o que os operários poderiam fazer em suas horas de folga. Imaginavam que “elas fossem empregadas com atividades que pudessem degradar moralmente a sociedade e refrear o almejado processo de modernização do trabalho produtivo” (SANT’ANNA, 1974 citado por WERNECK; ISAYAMA, 2003, p. 40).

No contexto brasileiro, ficou bem evidente na literatura revisada “uma aproximação entre o lazer (visto como um tempo ocioso) e a recreação (ou seja, a racional organização dessas ‘horas vagas’, por meio do desenvolvimento de atividades recreativas, ‘saudáveis e educativas)” (WERNECK, 2003, p. 40).

RECREAÇÃO

O termo recreação também se origina, na antiguidade clássica, do latim recreo, as, are,

-avi, -atum, verbo transitivo que significa “fazer

crescer de novo, produzir, criar de novo, tendo sido usado neste sentido por Lucrecio 5, 277 (FARIA, op. cit., p. 847).

Para Christiane Luce Gomes Werneck (op. cit., p. 29), o sentido etimológico do termo foi ultrapassado no Brasil, a partir do momento em que a dimensão pedagógica foi acrescentada ao

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entendimento do termo. ”Assim, a recreação no contexto escolar estabeleceu, desde as primeiras décadas do século XX, grandes vínculos com a Educação Física”. As propostas de recreação organizadas para os trabalhadores assalariados eram consideradas como auxiliares na “recuperação da força de trabalho”. Nessa época já se conheciam as contribuições que a ginástica e “a prática de esportes proporcionavam à saúde e, entre outras, aumentavam a capacidade funcional do operariado, contribuindo também para a formação de hábitos morais e para a educação higiênica da população.” (Ibid., p. 41).

Na mesma perspectiva da visão patronal começou-se a observar o uso do termo entretenimento, do espanhol entretenimiento (FERREIRA, op. cit., p. 666).

ENTRETENIMENTO

Para Godoi Trigo e Luiz Gonzaga (2003), entretenimento é algo relativamente novo no mundo, refere-se às atividades programadas e geralmente pagas. O termo está ligado a conceitos expressos especialmente pelo empresariado norte-americano, da mesma forma que conceitos como lazer remetem aos sociólogos europeus, sendo os mais conhecidos no Brasil o francês Joffre Dumazedier e o polêmico italiano Domenico De Mais.

O entretenimento estruturou-se rapidamente nos países desenvolvidos em geral e, particularmente, nos Estados Unidos. Já em meados do século XIX, a cultura popular era muito

mais ampla nos Estados Unidos do que na Europa, e estava mais profundamente inserida na sociedade. O jovem país era pragmático, democrático e avesso as firulas da alta cultura européia, continente do qual tinha se desgarrado politicamente pela força das armas. O que proliferava junto à grande parte da população era o lixo cultural. A etimologia da palavra entretenimento, de origem latina, vem de inter (entre) e tenere (ter). Em inglês a evolução da palavra entertainment significa aquilo que diverte com distração ou recreação e um espetáculo público ou mostra destinada a interessar e divertir. Os conceitos referem-se sempre às origens latinas da palavra e incorporam a idéia de ter entre. Algumas vezes o esporte aparece incorporado ao conceito do entretenimento no contexto de sua absorção total por aqueles que o praticam, ou o consomem como espectador ou até mesmo como telespectador, assim como pela popularização de alguns esportes que deixaram de ser privilégio da aristocracia e da burguesia para tornarem-se massificados.

Entretanto, pela importância que assumiram o esporte e o lazer nas últimas décadas, fruto da “reivindicação popular ligada à idéia de cidadania, com a promulgação da Constituição Brasileira, em 1988, estes passaram a ser considerados direitos sociais de todos os cidadãos” (ZINGONI, 2003, p. 217), e neles concentramos nossas preocupações neste Atlas.

Hoje em dia, o local e o equipamento de lazer surgem no espaço urbano como fator de democratização e um elemento a mais na busca da melhoria da qualidade de vida das populações.

Na moderna gestão das cidades avulta então a preocupação com os espaços públicos para atividades de esporte e lazer. O equipamento de lazer, no espaço urbano, surge como uma resposta às necessidades e aspirações do homem.

As atuais discussões sobre essa temática “sinalizam para um ‘novo’ em políticas públicas de esporte e lazer, que implicam mudanças efetivas nas condições existentes de gestão pública, buscando a superação e/ou transformações de uma realidade que não tem conseguido responder aos interesses públicos e aos dilemas sociais” (PINTO, 2003, p. 250).

Assim, na perspectiva de uma gestão democrática, não se deve perder de vista que “a gestão de políticas de lazer se insere em lutas maiores e, em decorrência, precisamos intensificar estratégias de intercâmbio de serviços sociais mais amplos da sociedade [...] discutindo os problemas do esporte e do lazer de modo articulado com as demandas dos diversos campos e âmbitos sociais” (Ibid., p. 257).

EXERCÍCIO E ATIVIDADE FÍSICA

A literatura revela que a expressão atividade física não tem um entendimento consensual e que muitas vezes se confunde com outra, exercício físico. Exercícios físicos, segundo as acepções mencionadas no Dictionary of Sport

Science (BEYER, op. cit., p. 372), “são entendidos

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um dos seguintes objetivos: (a) manter um certo nível da função física; (b) desenvolver capacidades físicas funcionais; (c) restaurar alguma perda da capacidade funcional; (d) desenvolver novas capacidades funcionais para compensar a perda de outras anteriormente existentes. O termo físico é muitas vezes suprimido, restando somente as palavras exercício ou exercícios”. Como se observa, as duas primeiras acepções vinculam-se à idéia do que alguns autores chamam de atividade física, enquanto que as duas últimas estão mais ligadas à idéia de exercícios terapêuticos. Assim, a expressão exercício físico incluiria duas classes diferentes de coisas, com propósitos distintos, conteúdos diversos, metodologias divergentes que, em última análise, constituiriam diferentes

corpora de conhecimento, permitindo que se

avente a possibilidade de existirem duas categorias profissionais deles se ocupando, os fisioterapeutas e os profissionais de educação física.

Flávio Medeiros Pereira (1994, p. 32) é um daqueles autores que fazem a distinção entre atividade física e exercício físico. Para ele, “toda a atividade humana é atividade física, e tem movimento”. Assim, a “enorme gama de movimentos humanos são atividades físicas, mas somente sob certas circunstâncias e sob certos objetivos, em especial objetivos prático-pedagógicos, é que estas atividades e suas variações são exercícios físicos”. Argumenta ainda que atividade é um conceito geral e que “somente no âmbito da cultura física é que a atividade humana se converte em exercício físico” (Ibid., p. 32).

De nossa parte, também defendemos que seria útil a separação daquelas duas expressões – exercício físico e atividade física –, mantendo denominações e conceitos distintos. Assim, a expressão exercício físico parece-nos mais ligada às esferas médica e fisioterapêutica, impregnada portanto pela concepção terapêutica. Já atividade física assumiria uma conotação mais ampla e abrangente, integrando um projeto sociopolítico.

A literatura mostra ainda dois aspectos interessantes. O primeiro é que o conceito de atividade física é provavelmente “um dos mais raramente definidos no campo das ciências do desporto” (TANGEN, 1982, p. 64). Outro, é que os conceitos de atividade física existentes são, por vezes, contraditórios. Na maioria das vezes são destacados conceitos que se prendem a um enfoque unicamente biológico. A tradição médico/fisiológica, por exemplo, costuma conceituar atividade física como “[...] o nível e padrão de consumo de energia durante atividades usuais da vida diária, incluindo aí trabalho e lazer” (LANGE et al., 1978) ou “qualquer movimento humano produzido por músculos esqueléticos, resultando em substancial aumento de dispêndio de energia” (GAUVIN; WALL; QUINNEY, 1994, p. 2). Claude Bouchard (1994), baseando-se na literatura sobre atividade física e epidemiologia, adota este conceito e dedica particular interesse às atividades físicas realizadas nos tempos livres – tais como desportos, atividades ao ar livre –, e aos trabalhos ocupacionais e aos caseiros.

Entendemos que esses conceitos são reducionistas e que a atividade física é uma

qualidade substancial do ser humano que apresenta um teor que ultrapassa o que o biológico e o funcional comumente lhe conferem. A atividade física é fonte de conhecimento e comunicação, de sentimentos e emoções, de prazer estético, de promoção da saúde e fator de desenvolvimento filogenético e ontológico. Alguns

pensam de forma semelhante, desenvolvendo conceitos ligados a enfoques sociológicos (GRUPE, 1975; JAHREN, 1978 apud TANGEN, op. cit.) e sócio-antropológicos, como o formulado por Gerald S. Kenyon (In: WIDMAYER, 1983).

No campo da gerontologia o conceito de atividade física aparece mais ampliado, considerando a esfera psicológica – “conjunto de ações corporais capaz de contribuir para a manutenção fisiológica e o funcionamento normal, não só do organismo de um indivíduo, como

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também de seu estado psicológico” (VIEIRA; RAMOS, 1996, p. 22) –, mas ainda muito restrito para nossas necessidades conceituais.

Essa diversidade de enfoques e uma visão pessoal de mundo motivaram-nos a construir um conceito ímpar, com base em um enfoque sociopolítico que assume a seguinte configuração: “qualquer movimento humano estruturado (organizado), não utilitário (no sentido laboral ou ocupacional do termo) ou terapêutico, produzido por músculos esqueléticos, produzindo substancial aumento de dispêndio de energia, usualmente manifestado em jogos ativos, desportos, ginástica, dança e formas de lazer ativo – cuidar do jardim, rastelar, passear o cachorro, caminhar, correr, pedalar, nadar etc.” (FARIA JUNIOR, 1995). A partir desse conceito desenvolveu-se um modelo heurístico, multidimencional, que inclui oito domínios, quase independentes: Experiência Social, Experiência Pedagógica, Experiência Estética, Experiência Psicológica, Promoção da Saúde, Cidadania, Competição e Superação de Limites (ver Figura 1).

A partir do processo de redemocratização do Estado brasileiro, consubstanciado na promulgação da Constituição Brasileira de 1988, reconhecida a prática do esporte e do lazer como direito social e consolidado o processo de descentralização das administrações públicas municipais, fazem-se necessárias políticas públicas municipais que concretizem o direito ao esporte e ao lazer

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Foi nessa perspectiva que este Atas foi elaborado. Mantiveram o uso dos termos desporto, esporte, esporte e lazer nos contextos em que aparecem, de forma coerente com o quadro conceitual anteriormente mencionado.

O Estatuto da Cidade foi aqui destacado por sua importância para o município como elemento de ordenação da oferta, acesso e permanência da população em atividades de esporte e lazer.

2007.

“Niterói está entre os primeiros lugares no ranking das cidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro que acumularam maior Produto Interno Bruto (PIB) no penúltimo ano. O município segue na terceira posição, com um valor R$6,9 milhões, abaixo apenas da Capital, que totaliza mais de R$117 milhões, e de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sede de uma refinaria de petróleo que possui, aproximadamente, R$20 milhões de PIB”. (ARAUJO, 2007, p. 8).

SITUAÇÃO ATUAL

NITERÓI: SEGUNDO LUGAR NO RANKING DE DESENVOLVIMENTO

2009.

“Análise feita pela Federação da Indústria do Rio de Janeiro (FIRJAN) aponta os cem municípios de maior índice de desenvolvimento em todo o país e qual a posição, em âmbito estadual, dos 92 municípios fluminenses. Apenas dois delesestão na lita dos cem primeiros: Niterói, 65º lugar” [...] “ Niteóitambém se destaca como a

segunda colocada em geral no Estado” (O FLUMINENSE, 23 / 24 ago. 2009. p. 1)

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