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São Miguel da terra firme: patrimônio histórico e paisagem

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO – CTC

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

SÃO MIGUEL DA TERRA FIRME:

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E PAISAGEM

ANDRÉ LINHARES GERENT

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO – CTC

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

SÃO MIGUEL DA TERRA FIRME:

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E PAISAGEM

ANDRÉ LINHARES GERENT

Disciplina: Introdução ao Projeto de Graduação

Orientadora: Profª Drª Soraya Nór

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Sumário

Lista de Figuras ... 4 1. Introdução ... 5 1.1. Objeto de estudo ... 5 1.2. Justificativa ... 5 1.3. Objetivos ... 6 1.3.1. Objetivo Geral ... 6 1.3.2. Objetivos Específicos ... 6 1.4. Metodologia ... 6

2. Biguaçu e a Grande Florianópolis ... 7

2.1. Histórico ... 7

2.2. Aspectos Populacionais ... 8

2.3. Aspectos Sociais ... 9

2.4. Aspectos Econômicos ... 9

2.5. Conexões intermunicipais ... 10

3. São Miguel da Terra Firme ... 12

3.1. História de São Miguel ... 12

4. Patrimônio Histórico de São Miguel ... 15

4.1. Apresentação do Conjunto Histórico de São Miguel ... 15

4.1.1. Igreja Matriz ... 15

4.1.2. Sobrado ... 16

4.1.3. Aqueduto ... 16

4.1.4. Oficinas Líticas e Cachoeira ... 17

4.1.5. Visão do conjunto ... 18

4.2. Leis Patrimoniais ... 18

5. Análises do Recorte de Intervenção ... 20

5.1. Aspectos físicos naturais ... 20

5.1.1. Análise dos componentes da paisagem ... 22

5.2. Características populacionais de São Miguel. ... 22

5.3. Economia ... 23

5.4. Infraestrutura ... 23

5.5. Análise Urbana ... 24

5.5.1. Cheios e vazios ... 24

5.5.2. Uso e ocupação do solo ... 25

5.5.3. Gabaritos ... 26

5.6. Legislação ... 27

6. Estudo de Casos ... 28

6.1. Projeto Vita et Otium ... 28

6.2. Projeto Monumenta São Francisco do Sul ... 29

7. Definições para o TCC 2 ... 31

7.1. Problemas e Potenciais ... 31

7.2. Diretrizes Gerais ... 31

8. Bibliografia ... 32

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Lista de Figuras

Figura 1: Biguaçu e a Grande Florianópolis. ... 5

Figura 2: Localização do Balneário de São Miguel em Biguaçu. ... 5

Figura 3: Igreja Matriz antes da passagem da BR-101. ... 7

Figura 4: Relação da Igreja de São Miguel com a atual BR-101. ... 7

Figura 5: Área Conurbada de Biguaçu, São José, Palhoça e Florianópolis. ... 8

Figura 6: Principais rodovias da área conurbada da Grande Florianópolis. ... 10

Figura 7: Mapa da Alça de Contorno da BR-101 no trecho norte. ... 11

Figura 8: SC 408 em Biguaçu. ... 11

Figura 9: Dinâmicas populacionais a partir de meados do século XIX. ... 12

Figura 10: Mapa dos principais povoados da Ilha de Santa Catarina e continente fronteiriço. ... 13

Figura 11: Planta da Vila de São Miguel em 1867. ... 14

Figura 12: Praia de São Miguel em 2013. ... 14

Figura 13: Praia de São Miguel antes da BR-101 na década de 50. ... 14

Figura 14: Antiga Fabriqueta de bebidas. Década de 50. ... 15

Figura 15: Igreja de São Miguel em dia de festa. Década de 50. ... 15

Figura 16: Igreja de São Miguel na década de 50. ... 15

Figura 17: Igreja de São Miguel em 2013. ... 15

Figura 18: Sobrado, atual sede do Museu Etnográfico. ... 16

Figura 19: Aqueduto durante as obras de construção da BR-101 na década de 50. ... 16

Figura 20: Aqueduto atualmente. ... 16

Figura 21: Parte degradada do canal do Aqueduto. ... 17

Figura 22: Cachoeira próxima ao Aqueduto de São Miguel. ... 17

Figura 23: Restaurante implantado ao lado da cachoeira. ... 17

Figura 24: Oficina Lítica na cachoeira. ... 18

Figura 25: Ponte sobre o Rio São Miguel. ... 20

Figura 26: Vegetação nos morros de São Miguel: Floresta Ombrófila Densa. ... 20

Figura 27: Características físicas naturais de São Miguel. ... 21

Figura 28: Componentes de paisagem em São Miguel. ... 22

Figura 29: Atividade rural em São Miguel. ... 23

Figura 30: Segmentos do Projeto Vita et Otium. ... 28

Figura 31: Relocação da BR-101: Vita et Otium. ... 28

Figura 32: Ligação H ilha-continente: Vita et Otium. ... 29

Figura 33: Porto Turístico Flutuante: Vita et Otium. ... 29

Figura 34: Borda d'água de São Francisco do Sul. ... 29

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1. Introdução

Este trabalho de graduação pretende apresentar uma visão geral da evolução do município de Biguaçu e do seu núcleo fundador, São Miguel, explicando os acontecimentos que levaram ao declínio da Vila e sua atual configuração.

Será apresentada uma análise do município quanto às suas características populacionais e econômicas, a fim de contextualizá-lo no cenário da região da Grande Florianópolis e reconhecer a função da localidade de São Miguel no contexto de Biguaçu.

Através da análise morfológica de São Miguel, juntamente aos aspectos socioeconômicos, tenta-se entender as relações estabelecidas entre a população e o sítio, considerando todas as suas condicionantes. Estuda-se também o que a legislação atual prevê para a área, com base no Plano Diretor de Biguaçu e sua Lei de Zoneamento.

Buscar-se-á em projetos afins, referências para a proposição de diretrizes de revitalização desta área tão importante, gerando espaços públicos de qualidade e uma paisagem equilibrada, respeitando a natureza, urbanidade e preservação do patrimônio histórico e cultural.

Por fim, torna-se possível identificar cenários prováveis e esboçar proposições que priorizem a exploração adequada das riquezas potenciais do recorte e seu posterior desenvolvimento.

1.1. Objeto de estudo

São Miguel da Terra Firme está localizado no município de Biguaçu, sendo o ponto inicial da ocupação portuguesa. Biguaçu está localizado no litoral central de Santa Catarina, na Mesorregião da Grande Florianópolis, às margens da BR-101.

São Miguel está em uma pequena porção do litoral de Biguaçu, distando aproximadamente sete quilômetros do centro do município, compreende uma extensão de terra de aproximadamente 1,5km ocupando uma pequena planície entre a encosta do morro e o mar.

Figura 1: Localização do Balneário de São Miguel em Biguaçu.

É bastante conhecido na região pela qualidade dos seus restaurantes especializados em frutos do mar, pelo conjunto histórico e pela sua praia de água limpa e calma.

1.2. Justificativa

A iminente realocação da BR-101 criará a possibilidade de mudança da característica do atual traçado da rodovia. O desvio do transito pesado, característico de rodovias que atravessam o país, para o anel viário vai desafogar o atual leito, que hoje caracteriza uma barreira dentro da malha urbana da cidade.

Juntamente a isso, o potencial de transformar São Miguel em uma centralidade através da valorização de suas características naturais e do seu patrimônio histórico, cria um ambiente propício para a proposição de ideias que elevem São Miguel a ponto de referência regional de lazer e preservação da cultura açoriana.

Figura 2: Biguaçu e a Grande Florianópolis.

Fonte da imagem de satélite: Google Earth.

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1.3. Objetivos

1.3.1. Objetivo Geral

Reconectar o conjunto luso-açoriano com o mar, criando um espaço qualificado que sirva como base para o desenvolvimento socioeconômico do local.

1.3.2. Objetivos Específicos

- Compreender o processo de formação de São Miguel;

- Traçar o perfil da população de Biguaçu para entender a sua relação com o espaço;

- Analisar a estrutura morfológica da área de estudo, destacando problemas e potencialidades; - Adquirir embasamento legal para a proposição de ideias;

- Estudar projetos afins;

- Propor diretrizes para intervenção.

1.4. Metodologia

Para a concepção deste estudo, foi feito um trabalho de levantamento de informações através de leituras de livros e visitas a arquivos e acervos, tanto públicos como pessoais. Diversas leituras da área através da observação in loco e levantamentos fotográficos e de discussões com pessoas que viveram e tem recordação de como era a Vila de São Miguel. Busca de dados através dos sites de órgãos do governo como o IBGE e IPHAN, de publicação específica – SC em números, do SEBRAE e do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, publicação conjunta da ONU, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e Fundação João Pinheiro.

Após análise dos dados levantados, buscou-se referências em projetos que abordassem a mesma temática, o Vita et Otium e o Programa Monumenta, e leitura de bibliografia relacionada com a questão do patrimônio histórico.

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2. Biguaçu e a Grande Florianópolis

2.1. Histórico

O município de Biguaçu teve sua colonização a partir de dois distintos e importantes movimentos populacionais: o primeiro, incentivado pelo governo português em meados do século XVIII, e o segundo, que ocorreu de forma espontânea a partir do início do século XIX. Ocupado em princípio pelos açorianos enviados pelo governo português ao litoral sul do Brasil, recebeu os primeiros casais de imigrantes em 1747 no local onde teve inicio a freguesia de São Miguel. Em um segundo momento, os alemães mandados à Colônia de São Pedro, região próxima a São Miguel, tão logo que sentiram as dificuldades do terreno, começaram a se dispersar. Procurando por terras férteis onde fosse possível trabalhar e prosperar, algumas famílias se instalaram nas cabeceiras do rio Biguaçu. Em 1830 já estavam instaladas dezoito famílias de alemães provenientes de São Pedro. (SOARES, 1988) Biguaçu participou ativamente no desenvolvimento da região da Grande Florianópolis. Embarcações vindas do interior pelo Rio Biguaçu, chegavam à baia norte da Ilha de Santa Catarina com produtos da agricultura local, especialmente a farinha de mandioca e milho, além de madeiras de lei. O mar fronteiriço, de águas calmas, permitia uma navegação mais tranquila e constante, o que facilitou o crescimento da atividade de comércio, destinado a abastecer os mercados de Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (SOARES, 1988).

Com o crescimento da importância econômica do Rio Biguaçu, a ocupação de suas margens tornou-se um processo natural, deslocando o vetor de desenvolvimento do centro da vila, São Miguel, para a planície. A comunicação com a Capital foi favorecida, quando em 1896, João N. Born construiu a estrada que liga Biguaçu à Florianópolis (SOARES, 1988).

A abertura de uma via de comunicação terrestre impulsiona o desenvolvimento econômico da região, ao ponto de, em 1904, Biguaçu possuir diversas indústrias como engenhos de beneficiamento de madeira, arroz, café, açúcar e alambiques de aguardente.

A melhoria das estradas que davam acesso ao interior e ao norte do estado contribuiu para o fortalecimento da produção agrícola, contudo, também desempenharam papel no declínio da economia. A construção da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, marca o fim da navegação entre Biguaçu e a capital catarinense e a ascensão do sistema rodoviarista.

Como consequência, os entrepostos comerciais perderam importância, pois os agricultores não mais precisavam intermediar as suas transações. Por fim, a atividade industrial do município é enfraquecida pela perda de rendimento do comércio e Biguaçu começa a sofrer um declínio econômico. (PELUSO, 1991)

Durante as décadas de 40 e 50, tanto Biguaçu quanto Palhoça tiveram um crescimento populacional irrisório e um período de forte estagnação econômica. A cidade de São José recebeu nessa época parte da população carente de Florianópolis, o que definiu os rumos do crescimento do continente e o início da conturbação.

Nos anos 60, grandes investimentos públicos federais redinamizaram a região. A instalação da Universidade Federal de Santa Catarina reafirmou Florianópolis como centralidade no litoral catarinense e a BR-101 estimulou a implantação de depósitos, oficinas e pequenas atividades industriais. Isso atraiu trabalhadores para a região,

impulsionando a criação de loteamentos e a construção de moradias, principalmente as financiadas pelo BNH. (PELUSO, 1991)

“A BR-101 modificou o movimento para as cidades vizinhas da Capital. O asfalto foi contínuo até a rodovia, e as próprias cidades foram procuradas por pessoas que tinham suas atividades na ilha. Assim, de 1960 a 1970 a cidade de São José teve o incremento médio geométrico de 17,17%; Palhoça 11,59% e Biguaçu 10,26%. O espaço entre o perímetro urbano de Florianópolis e a BR-101 passou a constituir a vila de Barreiros com sua zona rural, tendo a sede, em 1970, a população de 13.064 habitantes.” (PELUSO, 1991)

Na década de 70, a construção da Ponte Colombo Machado Salles, o aterro da Baía Sul e a Continuação da Av. Jor. Rubens de Arruda Ramos propiciaram o desenvolvimento em direção ao interior da Ilha de Santa Catarina. Consequentemente, houve a gentrificação da área insular, aumentando a pressão sobre as camadas menos favorecidas da sociedade que, a partir disso, iniciaram o processo de ocupação dos morros e áreas periféricas do continente.

A conurbação entre Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu começou a se desenhar na década de 80. Segundo Peluso, é a partir daí que os planos urbanos dos municípios do continente fundem-se ao da capital, tornando o desenvolvimento de Biguaçu dependente de sua ligação com Florianópolis.

Figura 4: Relação da Igreja de São Miguel com a atual BR-101. Figura 3: Igreja Matriz antes da passagem da BR-101.

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8 Figura 5: Área Conurbada de Biguaçu, São José, Palhoça e Florianópolis.

2.2. Aspectos Populacionais

Segundo os dados do Censo IBGE de 2010, a população do município de Biguaçu é de 58.238 habitantes1 e apresentou entre os anos 2000 e 2010 uma taxa anual média de crescimento de 1,26%, enquanto o estado de Santa Catarina registrou 1,02%. Na década anterior, o crescimento médio anual foi de 3,56% para Biguaçu e 1,02% no estado. Tais dados indicam que a cidade possui porte médio e acompanha a tendência de crescimento populacional da Grande Florianópolis. Pouco mais de 90% da população de Biguaçu reside na área urbana, sendo o município da área conurbada com maior número de habitantes em área rural.

Entre 2000 e 2010, a razão de dependência2 de Biguaçu passou de 52,44% para 40,66% e a taxa de envelhecimento evoluiu de 4,06% para 5,63%. Entre 1991 e 2000, a razão de dependência foi de 62,62% para 52,44%, enquanto a taxa de envelhecimento3 evoluiu de 4,00% para 4,06%. Os homens compõem 49,25% da população e as mulheres 50,75%. A população economicamente ativa4 de Biguaçu, de acordo com o IBGE, representa 85,76% da população total.

População Total, Por Gênero, Rural/Urbana e Taxa

de Urbanização em Biguaçu.

População (2010) % do total (2010) População Total 58.206 100 Homens 28.665 49,25 Mulheres 29.541 50,75 Urbana 52.758 90,64 Rural 5.448 9,36 Taxa de Urbanizaçao - 90,64

Tabela 1: População Total, por Gênero, Rural/Urbana e Taxa de Urbanização de Biguaçu 2010.

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013

A cidade está em pleno crescimento e com potencial para continuar se desenvolvendo, uma vez que a maior parte da população é jovem e economicamente ativa. O crescimento de Biguaçu deve-se, sobretudo, à emigrações de outras partes do país. O crescimento da cidade tem aspectos positivos como a atração de investimentos econômicos, porém traz consigo consequencias negativas, já que a expansão da infraestrutura urbana não acompanha o aumento populacional.

1

População levantada pelo censo. Estimativas do IBGE apontam uma população de 62.383 habitantes em 2013.

2 Razão de dependência é a relação entre o percentual da população dependente (<15 anos e >65 anos) e a população

potencialmente ativa (>15 anos e < 65).

3

Taxa de envelhecimento é a razão entre a população de 65 anos ou mais de idade em relação à população total.

4 População Economicamente Ativa, segundo o IBGE, considera todos os indivíduos com mais de 10 anos de idade.

Fonte da imagem de satélite: Google Earth.

A área conurbada entre os quatro municípios da microrregião de Florianópolis é evidenciada pela mancha mais clara em destaque no mapa. Não é possível distinguir com exatidão a divisa entre os centros urbanos, uma espacialização da grande interdependência entre estas cidades.

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2.3. Aspectos Sociais

É importante avaliar a população além dos números, pois a partir das características dos habitantes é possível entender as possíveis relações com a cidade.

Gráfico 1: Evolução do IDH-M de Biguaçu por tema 1991 – 2010. Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013.

Gráfico 2: Evolução do IDH-M de Biguaçu 1991 – 2010. Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brail 2013.

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal leva em conta três aspectos para avaliar a qualidade de vida de uma população: Renda, Longevidade e Educação. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de Biguaçu é 0,739, em 2010. O município está situado na faixa de Desenvolvimento Humano Alto (IDHM entre 0,700 e 0,799). Entre 2000 e 2010, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,195), seguida por Longevidade e por Renda. Entre 1991 e 2000, a dimensão que mais cresceu em termos absolutos foi Educação (com crescimento de 0,129), seguida por Renda e por Longevidade. Biguaçu ocupa a 795ª posição dentre os 5.565 municípios brasileiros e a 131ª posição dentre os 293 municípios catarinenses.

Ainda que listado como alto, em comparação aos municípios brasileiros, Biguaçu não apresenta bons índices se comparado com os municípios de Santa Catarina e da região, Florianópolis, São José e Palhoça, que ocupam a 1ª, 4ª e 79ª posições respectivamente.

Esse quadro pode ser revertido nos próximos anos, já que o crescimento populacional, aliado à população jovem e economicamente ativa, gera uma demanda por serviços e investimentos na educação, que por sua vez é fator determinante no aumento da renda e da qualidade de vida.

2.4. Aspectos Econômicos

Percebemos através da evolução do IDHM de Biguaçu que o município atravessa um período de avanços na expectativa de vida e educação. Por outro lado, a evolução da economia da cidade não teve grande expressividade como a dos municípios da região conurbada, mas, ainda sim, apresentou avanços.

O PIB do município de Biguaçu evoluiu 63,6% no período entre 2002 e 2006 e 47,3% entre 2006 e 2010. A maior contribuição para o PIB vem do setor terciário, com 66,7%, seguido pela produção industrial que colabora com 18,7%. Apesar de notório no município, o setor agropecuário de Biguaçu contribui com somente 2,8% do PIB.

Gráfico 3: Evolução acumulada do PIB a preços correntes de Biguaçu, Florianópolis, Palhoça e São José entre 2000 e 2010. Fonte: Dados do IBGE

Em comparação com os quatro municípios da conurbação, Biguaçu foi o que apresentou menor evolução acumulada do PIB na década 2000 – 2010. O município de Palhoça foi o que mais evoluiu, tendo um crescimento de 410,2% de sua economia, frente a 195,4% de Biguaçu. Quanto à geração de empregos, o quadro não se mostra muito diferente. No período 2004 – 2008, apesar de se manter acima da média estadual e da média nacional, Biguaçu gerou mais empregos que Florianópolis, apenas.

195,40% 230,40%

410,20%

268,20%

Biguaçu Florianópolis Palhoça São José

Evolução acumulada do PIB a preços correntes de Biguaçu, Florianópolis, Palhoça e São José entre 2000 e 2010

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10 Gráfico 4: Taxa acumulada de criação de empregos no período 2004 - 2010.

Fonte: Dados do Santa Catarina em Números, SEBRAE 2010

A seu favor Biguaçu conta com a possibilidade de expansão da atividade industrial e de serviços. Com extensas áreas destinadas ao desenvolvimento econômico5 e um contingente populacional suficiente para ocupar as vagas de emprego geradas. A relação de habitantes por emprego de Biguaçu é a maior dentre os quatro municípios, 6,6 habitantes por emprego contra 1,6 em Florianópolis, 2,7 em São José e 5,8 em Palhoça.

2.5. Conexões intermunicipais

Atualmente as conexões intermunicipais se dão através das rodovias federais que cortam os municípios: a BR-101 e a Via Expressa (trecho da BR-282 que liga as pontes de acesso a Florianópolis à BR-BR-101) que, apesar de bem conservadas, já não suportam o atual fluxo diário. A alta dependência dessas vias pelos municípios, o seu crescimento ao longo destas, aliados ao acréscimo de veículos particulares à frota e ao precário sistema de transporte coletivo, levam a longos congestionamentos e aumentam o tempo dos trajetos diários da população, o que interfere diretamente na qualidade de vida.

Em diversos municípios, a BR-101 desenvolve-se distante do centro urbanizado, no entanto, em Biguaçu, São José e Palhoça a rodovia atravessa a área densamente povoada. A falta de conectividade das vias dos centros destas cidades induz a população a utilizar as pistas da rodovia para o trânsito local. É importante salientar o constante conflito entre o uso adaptado das rodovias como conexão urbana e sua real característica de ligação regional - acidentes constantes envolvendo veículos leves e de transporte de cargas e a polêmica em torno do recente fechamento de vários acessos e saídas da BR-101, prejudicando a dinâmica diária urbana, mas favorecendo o fluxo a longa distância, são dois exemplos claros da problemática apresentada.

5 O Plano diretor do município define como objetivo dessas áreas a implantação de atividades comerciais e industriais.

Figura 6: Principais rodovias da área conurbada da Grande Florianópolis.

Está em discussão o projeto da alça de contorno da BR 101, que desviará seu trajeto da área urbanizada, partindo de Biguaçu e retornando ao atual traçado ao sul de Palhoça. O novo trajeto, a princípio, foi definido entre os municípios envolvidos, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e a Autopista Litoral Sul, empresa vencedora da licitação para realizar as obras da parte sul da BR. Contudo, a complexidade do projeto, e a demora no início das atividades deve atrasar sua conclusão prevista para 2018.

29,70% 24,20%

61,30%

43,70%

26,40% 25,60%

Biguaçu Florianópolis Palhoça São José Santa Catarina

Brasil

Taxa Acumulada de criação de empregos no período 2004 - 2008

Nota-se que a BR-101 é a principal ligação entre os municípios de Biguaçu, São José e Palhoça e que a mancha urbana se desenvolveu às margens da rodovia, conforme foi discorrido no texto. Em Biguaçu, a rodovia estadual SC 408 é outra via estruturadora com grande potencial de futuro adensamento.

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11 Figura 7: Mapa da Alça de Contorno da BR-101 no trecho norte.

Com o desvio do tráfego intenso do leito atual da BR-101 e sua possível transformação em avenida urbana, a rodovia que atualmente configura um forte limite para as ligações transversais e permite de forma precária os trajetos intermunicipais, seria provavelmente o principal vetor de conectividade da região. Poder-se-ia adequar o desenho da via ao trânsito local, prevendo o uso do transporte coletivo em massa, conexões transversais e travessias de pedestres, explorando ainda o potencial paisagístico do seu traçado.

Vale destacar que a rodovia SC-408 que liga Biguaçu a Antônio Carlos, com a execução da Alça de Contorno, servirá como principal ligação entre o atual traçado da BR-101 e a nova rota, e se tornará, provavelmente, o novo eixo de expansão de Biguaçu, como já foi previsto pelo Plano Diretor 2009 do município.

Fonte: Prefeitura Municipal de Palhoça.

Figura 8: SC 408 em Biguaçu.

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3. São Miguel da Terra Firme

3.1. História de São Miguel

A ocupação da pequena faixa de terra entre o mar da Baía Norte e a encosta dos morros remonta a períodos pré-históricos, evidenciados pela presença de oficinas líticas na cachoeira de São Miguel. Populações indígenas utilizavam as rochas duras para a confecção e aperfeiçoamento das suas ferramentas e instrumentos de caça. (BASTOS, 1997)

A partir do descobrimento da Ilha de Santa Catarina a região torna-se importante para a ocupação e desenvolvimento das terras do sul do Brasil. Localizada entre o Rio de Janeiro e a entrada do Rio da Prata, suas duas baías amplas e de águas calmas conformavam um ambiente perfeito para que embarcações pudessem fazer reparos e descansar suas tripulações. Tanto ilha como terra firme continham abundantes espécies vegetais que forneciam lenha, madeiras necessárias aos reparos e comida, além de fontes de água potável e abundante. Apesar dessa conformação privilegiada, o incentivo dos portugueses para a povoação da área deu-se somente em meados do século XVIII.

Entre 1748 e 1756, Desterro recebeu milhares de imigrantes açorianos e madeirenses, fato que praticamente dobrou a população da capitania (CORRÊA, 1997).

Essa população foi instalada, sobretudo, no litoral fronteiriço à Ilha, nas freguesias de São José, Enseada do Brito (em Palhoça) e São Miguel. Apesar de ter recebido a maior parte dos imigrantes e de sua proximidade com a Vila de Desterro, São José tinha a sua frente a baía sul, de águas rasas e mar agitado, o que representava na época, grande dificuldade para o desenvolvimento da economia, baseada no comércio marítimo. Enseada do Brito mais ao sul, na entrada do canal, também compartilhava essa dificuldade. São Miguel, contudo, encontrava-se na baía norte, de águas calmas e de fácil navegação; seu território grande, conferia possibilidade de desenvolvimento já reconhecida, como no trecho da correspondência enviada à metrópole pelo então governador da capitania, Manuel Escudeiro:

[...] um sítio de bom porto e espaçosa praia, junto a uma prodigiosa cachoeira, excelente aguada despenhada de uma serra que fica na sua espalda, cuja situação fica uma légoa distante da Fortaleza de Santa Cruz do Registro e fronteira a de Santo Antônio[...]. (SOARES, 1988)

Na mesma carta, o então governador Manoel Escudeiro, endossa seu ponto de vista com outros argumentos e discorre sobre a vontade de mudança da sede da capitania para a freguesia de São Miguel. A resposta negativa veio juntamente à justificativa de que a Vila de Desterro já dispunha de prédios públicos e estava bastante consolidada.

Em 1778, devido à captura da Ilha de Santa Catarina pelos espanhóis, a sede do governo ficou instalada por um período de dois meses na freguesia de São Miguel.

Um fato que evidencia a potencialidade de crescimento econômico da freguesia é a sua grande extensão territorial, em 1797 possuía a quarta maior extensão territorial6 da província (SOARES, 1988).

A chegada dos imigrantes alemães por volta de 1830 às cabeceiras do Rio Biguaçu alterou a dinâmica da vila. A produção agrícola do alto Biguaçu escoava pelo rio em direção a Capital, definindo um importante eixo de desenvolvimento da vila na época – vocação fortalecida pela abundância de espaço na planície e a possibilidade de rendas pelo comércio. Em 1849, a definição do local de passagem sobre o rio Biguaçu definiu o traçado dos primeiros arruamentos e a estrutura da centralidade que se formava.

Figura 9: Dinâmicas populacionais a partir de meados do século XIX.

Em agosto de 1886, confirmando a vitalidade da nova centralidade, a sede da vila de São Miguel passa para a freguesia de São Joao Evangelista da Barra do Biguaçu, que se mostrava mais importante no cenário das decisões políticas e no cenário econômico. (SOARES, 1988)

6 Limitava-se ao norte com o rio Camboriú, compreendendo a Enseada das Garoupas (Tijucas) e a Armação da Piedade(Gov.

Celso Ramos). Ao sul o limite era o rio Quebra-Cabaços (Serraria) onde se limitava com a freguesia de São José. A leste era fronteiriça ao mar e à Freguesia das Necessidades (Santo Antônio de Lisboa). Ao oeste o limite era o “sertão da terra firme”(Lages)

Fonte da imagem de satélite: Google Earth.

O mapa ilustra os focos de ocupação em diferentes momentos históricos. As cores mais claras indicam as ocupações mais antigas, São Miguel e São Pedro de Alcântara (de origem alemã). Em laranja, destaca-se o local em que hoje é Antônio Carlos, onde os alemães se instalam antes de seguirem pelo rio Biguaçu, sinalizado pela seta laranja. Em Vermelho, a ocupação mais recente na foz do rio Biguaçu.

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13 Figura 10: Mapa dos principais povoados da Ilha de Santa Catarina e continente fronteiriço.

Fonte: http://fortalezas.org

Mapa das fortificações da Ilha de Santa Catarina em 1786, levantado pelo Alferes José Correia Rangel. Acervo Histórico Militar de Lisboa. Os pontos destacados em vermelho localizam os principais povoados da época, com destaque para São Miguel da Terra Firme, São José e Enseada de Brito, no continente.

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14 Figura 12: Praia de São Miguel em 2013.

Entretanto, a vila de São Miguel teve seu passado histórico sobrepujado pela passagem da BR-101. Diferentemente do que aconteceu no centro de Biguaçu, São José e Palhoça, São Miguel não foi fragmentada pela passagem da rodovia e sim destruída quase totalmente. A construção da BR-101, nas décadas de 19507 e 1960, soterrou a Vila e escondeu seu traçado urbano original, derivado diretamente das Leis das Índias, prejudicando substancialmente sua expressividade como patrimônio histórico nacional. (FILHO, 1997)

Os bens notáveis que resistiram à drástica intervenção fazem parte atualmente do conjunto luso-açoriano tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no qual se insere a Igreja, o Sobrado (chácara, fonte de escravos, carioca e cacimba) e o Aqueduto (cachoeira e oficinas líticas).

Atualmente, a Vila de São Miguel está inserida no distrito de Guaporanga, no município de Biguaçu e é chamado de balneário São Miguel. A sua praia é destino para muitos turistas e moradores de Biguaçu, pois possui boa qualidade da água, um mar calmo e é bem atendido por restaurantes e bares. Seu conjunto histórico figura como outro importante atrativo principalmente a nível municipal. Todavia, tem sua importância regional prejudicada pela perda da ligação com o mar e da identidade de conjunto das edificações históricas que se encontram esparsas e degradadas, indicando a necessidade de uma intervenção estrutural que resgate as características do sítio original.

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A desapropriação dos terrenos foi feita no fim da década de 50 como consta em documento do cartório do registro de imóveis de Biguaçu – Cartório Faria, fls 056v/058v do livro 100-notas.

Figura 11: Planta da Vila de São Miguel em 1867. Fonte: Acervo do Arquivo Histórico do Exército – RJ.

Fonte da imagem de satélite: Google Earth.

Figura 13: Praia de São Miguel antes da BR-101 na década de 50. Fonte: Acervo pessoal.

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4. Patrimônio Histórico de São Miguel

4.1. Apresentação do Conjunto Histórico de São Miguel

O conjunto histórico de São Miguel é formado pelos remanescentes da Vila homônima, que teve origem a partir dos planos do governo português de povoar as terras do sul do Brasil. Por se tratar de uma ocupação com razões estratégicas de defesa, a faixa litorânea catarinense representou o positivismo militar da época. A concepção das cidades espanholas nas Américas era baseada nas Leis das Índias e acabou influenciando o urbanismo português, constituindo regra para as cidades do litoral de Santa Catarina.

“No sítio destinado para o lugar se assinalará um quadrado para a praça de quinhentos palmos de face e em um dos lados se porá a Igreja, a rua ou ruas se demarcarão ao cordel com largura ao menos de quarenta palmos, e por elas e nos lados da praça se porão as moradas com boa ordem, deixando umas e outras e para trás lugar suficiente e repartido para quintais atendendo assim ao cômodo presente como a poderem ampliar-se as casas para o futuro” (CABRAL, 1950)

A Vila de São Miguel foi, então, erguida a partir de tais princípios, tendo a Igreja uma posição de destaque frente a uma grande praça rodeada pelos prédios públicos. Com duas ruas paralelas ao mar e outras perpendiculares a vila, se estendia em direção ao aqueduto, onde a estrada fazia um desvio para poder cruzar o rio. Nesse local ficavam alguns galpões que serviam ao comércio e ao suporte de embarcações que procuravam o aqueduto para fazer aguada.

A construção da BR-101 representou o fim da configuração original da Vila de São Miguel, os movimentos de terra e as demolições necessárias para a construção da rodovia apagaram as expressões arquitetônicas e o traçado urbano de uma das mais importantes Vilas do litoral catarinense.

4.1.1. Igreja Matriz

A construção da Igreja foi autorizada por meio de provisão régia em agosto de 1747, durante o governo do Brigadeiro Silva Paes, tendo sido inaugurada em janeiro de 1751 sob proteção de São Miguel Arcanjo, sendo uma capela de pau-a-pique e “barreada”. (COUTINHO, 1997) A igreja foi alterada ao longo dos anos, acompanhando o progresso da vila – são notórios os vestígios destas modificações. A construção fora descrita como incomum por alguns catarinenses, devido a sua grande volumetria, e atualmente destaca-se sob o ponto de vista arquitetônico.

As sucessivas ampliações seguiram os modos comuns da época, a transformação da antiga nave em capela mor e a edificação de nova nave, demolindo os fundos da capela mor. É possível perceber que as alturas das cumeeiras da capela mor e da nave são semelhantes, o que denota que a antiga igreja tinha altura semelhante à atual, contrariando a tradição onde a capela mor tem o telhado mais baixo do que o da nave. Nota-se nos fundos da igreja pelo lado de fora o desenho do antigo arco cruzeiro. Percebe-se também a diferença entre as aberturas dos dois corpos do templo, sendo que na atual capela mor as portas e janelas têm suas vergas em arco abatido, o que era muito comum no século XVIII, e na atual nave as aberturas são dotadas de bandeiras envidraçadas e em arco pleno, comuns do século XIX. A igreja de São Miguel apresenta uma fachada diferente das fachadas de igrejas da sua época, isso é devido a uma intervenção realizada no século XIX e que adotou os gostos do neoclássico e ecletismo.

Figura 15: Igreja de São Miguel em dia de festa. Década de 50. Figura 14: Antiga Fabriqueta de bebidas. Década de 50.

Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 16: Igreja de São Miguel na década de 50. Figura 17: Igreja de São Miguel em 2013. Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

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16 O sino da igreja é original doado pelo imperador Pedro II quando passou por São Miguel em 1845.

Internamente a igreja apresenta-se bastante alterada, não restando muito dos adornos originais. Vale ressaltar a falta da imagem do padroeiro da igreja, furtado em 1979, foi encontrado pela Polícia Federal em um antiquário no Rio de Janeiro em dezembro de 2011.

O permanente esforço da população em enriquecer e aumentar a igreja denota a importância que esse edifício tinha para a população. A prática de utilizar o antigo templo como base para o novo não decorre exclusivamente de medidas econômicas, mas principalmente da necessidade de utilização do espaço religioso de forma contínua, sem interrupções por causa de obras e reformas.

A igreja recebeu o primeiro restauro no fim da década de 70, porém as técnicas e critérios utilizados na época não foram os mais adequados, tendo sido alteradas algumas características da igreja, como a cor do teto e os detalhes das laterais e do altar mor, a retirada do púlpito e a inclusão de lajotas no adro. No início da década de 90 foram feitas obras emergenciais no telhado, altar mor, a substituição do assoalho da sacristia e pintura externa, (COUTINHO, 1997) Em 1996 em decorrência de reclamações da comunidade sobre aparecimento de bolhas de umidade e desintegração do revestimento, o IPHAN executou um trabalho pioneiro na história do restauro brasileiro, a utilização de rebocos a base de cal.

4.1.2. Sobrado

O sobrado foi construído, na primeira metade do século XIX, pelo fazendeiro e senhor de escravos João Ramalho da Silva Pereira. Possui uma área de 154.704m², sendo a chácara cercada por diversos exemplares da Mata Atlântica, todos catalogados. Foi adquirido pelo Governo do Estado de Santa Catarina no ano de 1976, tendo sido inteiramente restaurado no ano de 1978 juntamente com a Matriz.

É um edifício predominantemente térreo, tendo um segundo pavimento pequeno, na parte norte, o que certamente conferiu seu nome. A planta se assemelha a um quadrado de dezesseis metros e meio de lado e um anexo aos fundos com doze por dezesseis metros. As aberturas são todas encimadas por vergas em arco abatido, na fachada principal os beirais são feitos com cimalhas e nas demais fachadas os beirais são de beira-seveira. As empenas possuem janelas guilhotina, divididas em quadrículos. O acesso principal é feito lateralmente através de uma portada bastante imponente, com uma bandeira em forma de coroa de flechas trabalhada em ferro. Mantido pela Fundação Catarinense de Cultura, abriga o Museu Etnográfico - Casa dos Açores e possui um acevo de móveis, roupas, e artesanatos do arquipélago dos açores, se propõe a pesquisa, desenvolvimento e preservação da cultura de base açoriana em Santa Catarina, possui ainda uma biblioteca especializada com livros e documentos. Foi restaurado em 2004 pelo Governo do Estado, é o mais bem conservado edifício do conjunto histórico tombado pelo IPHAN.

4.1.3. Aqueduto

Construção de influência romana, edificado em alvenaria de argamassa e pedra, mostrou-se de grande importância para o desenvolvimento da Vila de São Miguel. Era utilizado para fornecer água potável da cachoeira aos moradores e embarcações, além de servir de força motriz para engenhos. Anexo ao aqueduto existia um galpão que serviu, entre outros usos, como moinho de arroz. Deste sobrou somente a empena onde deságua o aqueduto e a portada de entrada. O resto do edifício foi demolido para a passagem da BR-101.

Durante as obras de duplicação da BR-101, o IPHAN acompanhou os trabalhos, fazendo levantamentos e orientações, mas mesmo assim, em julho de 2003 o aqueduto sofreu um arruinamento quase total.

Fonte: Acervo pessoal. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 18: Sobrado, atual sede do Museu Etnográfico. Fonte: http://www.bigua.sc.gov.br/

Figura 20: Aqueduto atualmente. Figura 19: Aqueduto durante as obras de construção da BR-101

na década de 50. Fonte: http://www.bigua.sc.gov.br/

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17 Algumas recomendações foram atendidas e firmadas em convênio com a responsável pela execução das obras

de duplicação, como o resguardo de uma área ao redor do Aqueduto, destinada à preservação da sua visibilidade e a necessidade de recomposição do espelho d’agua com espécies nativas.

Quanto à questão da visibilidade do patrimônio é indiscutível que o Aqueduto está em posição estratégica. Imponente sobre o espelho d’água, está de frente para quem trafega no sentido sul da BR-101, servindo como um cartão de boas vindas a quem chega; fazendo-se necessário, entretanto, o desbaste da vegetação para possibilitar melhor visualização.

Mesmo tendo sofrido uma restauração emergencial em 2003, em decorrência do arruinamento, o Aqueduto inspira preocupação quanto a sua integridade. Em decorrência de anos de abandono, vários pedaços da calha que capta água na cachoeira ruíram impossibilitando que o Aqueduto exerça a sua função original. Hoje a água corre de maneira precária e isso se deve somente à boa vontade da população que, de maneira espontânea, fez reparos com canos plásticos, a fim de conduzir água através das interrupções.

Figura 21: Parte degradada do canal do Aqueduto.

Outro grave problema é a presença de um restaurante construído ao lado do Aqueduto, sobre a cachoeira. Neste caso, fica clara a violação da lei do patrimônio histórico, uma vez que a edificação está em área tombada e ao lado de um bem tombado, estando sujeita ao artigo 18 da referida lei, que preza pela visibilidade do Patrimônio Histórico Nacional. É pertinente ressaltar que as edificações do restaurante estão, ainda, em área de preservação ambiental, pois se encontram a menos de 30 metros da margem do rio.

4.1.4. Oficinas Líticas e Cachoeira

Em toda a extensão do rio e da cachoeira existem vestígios e pedaços de edificações que merecem estudo específico para determinar a sua importância e viabilidade de recuperação como monumento histórico. A própria cachoeira, pelo seu potencial cênico, poderia ser alvo de proteção.

Ao lado do aqueduto, sob a ponte que liga a Rua Maria Albertina Coan, existe uma série de depressões nas rochas, provenientes do trabalho de populações pré-históricas: vestígios de ocupantes locais anteriores à chegada dos portugueses.

As Oficinas Líticas ou Estações Líticas são os locais onde eram preparadas e aperfeiçoadas as ferramentas e os instrumentos de caça, pesca e coleta. Frequentemente encontradas no litoral, normalmente em rochas duras, os sulcos, frisos e bacias são o resultado de anos de trabalho de uma população que certamente viu no local as mesmas qualidades que os portugueses buscavam quando se fixaram em São Miguel. Atualmente, encontra-se erodida pelas águas do rio e ameaçada pela ocupação irresponsável da borda do rio e da cachoeira.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 23: Restaurante implantado ao lado da Cachoeira.

Figura 22: Cachoeira próxima ao Aqueduto de São Miguel.

Fonte: Acervo pessoal.

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18 Figura 24: Oficina Lítica na cachoeira.

A cachoeira, por sua vez, distingue-se como cenário fundamental para compreensão do contexto do Aqueduto e das Oficinas, além de representar em si paisagem natural exuberante e local para encontro e lazer.

Merecedora de pesquisas e levantamento arqueológico aprofundado as Oficinas Líticas de São Miguel formam o apanhado de bens culturais mais expressivos no entorno da BR-101. (BASTOS, 1997) A superposição de culturas de diferentes épocas e diferentes costumes reforça o valor do Patrimônio Cultural em São Miguel.

4.1.5. Visão do conjunto

O conjunto de bens tem potencial para se tornar um sítio histórico-arqueológico-natural-paisagístico8; porém para isso é preciso reconstituir a ligação do mesmo com o mar, interrompida pela BR-101.

“o monumento não se pode desligar da paisagem, urbana, ou natural, que o rodeia: a arquitetura não é independente da pintura, escultura ou artes ditas menores. Existem paisagens, lugares, sítios e monumentos cuja conservação não pode levar-se a cabo independentemente de um conteúdo espiritual próprio ou de um contexto imaterial firmemente ligado aos mesmos” (BASTOS apud TOLEDO, 1984)

Qualquer projeto que se proponha valorizar e revitalizar o conjunto histórico de São Miguel deverá, necessariamente, repensar a BR-101 que hoje se impõe como barreira à relação natural que a Vila tinha com o mar e a praia.

4.2. Leis Patrimoniais

O Conjunto Histórico de São Miguel é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional sob o n°46, a 14 de novembro de 1969, através do processo n°810-T-68, estando desde então protegido pela Lei do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

A referida Lei, decretada em 1937, foi baseada nas discussões iniciadas durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Discutia-se na época a necessidade de criação de uma identidade nacional, a instauração de uma politica cultural e a proteção do patrimônio cultural brasileiro.

Amparado por uma lei bem escrita, que não cria limites para o enquadramento de um bem, nem deixa pontas soltas uma vez que um bem é tombado, o Sphan9 iniciou o processo de levantamentos, estudos, pesquisas e trabalhos de conservação e restauro em bens declarados de interesse publico e inscritos nos Livros do Tombo.

8 A ideia de um sítio multicultural foi proposta pelo autor do texto base, Rossano Lopes Bastos, que era arqueólogo do

11ªCR/IPHAN-SC.

9 À época o IPHAN chamava-se Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Sphan.

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19 O Decreto-Lei Nº 25, de 30 de novembro de 1937, de poucos artigos, apresenta fácil entendimento e aplicação.

De seus trinta artigos, vale ressaltar 5, de maior interesse para o trabalho:

“Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

§ 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta lei.

§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pelo natureza ou agenciados pelo indústria humana.” (BRASIL, 1937)

O conjunto histórico de São Miguel por estar inscrito no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, está então sujeito às regulamentações previstas pela lei. A área de estudo pode também um dia ser enquadrada pelo inciso segundo, uma vez que a sua paisagem pode vir a ser entendida como notável. O que ampliaria a proteção e as possibilidades de atuação no local.

“Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinqüenta por cento do dano causado.” (BRASIL, 1937)

Apesar de alguns imóveis serem de propriedade privada, isso não garante aos donos o direito total e irrestrito sobre o mesmo. A responsabilidade pela manutenção e conservação dos bens tombados é compartilhada entre proprietário e poder público. Devendo o IPHAN, sempre que solicitado, fornecer apoio técnico, e em alguns casos específicos, executar os trabalhos.

“Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de cinqüenta por cento do valor do mesmo objeto.” (BRASIL, 1937)

Esse artigo da lei visa à proteção visual do patrimônio, para que ele possa ser observado, sem obstruções ou prejuízo para a composição cênica, evitando o desligamento do patrimônio da paisagem que o rodeia. Em São Miguel, há uma clara transgressão desse artigo da lei no entorno do Aqueduto. A presença de um restaurante e seu anexo ao lado e à frente do bem tombado prejudica o entendimento do cenário histórico.

“Art. 21. Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º desta lei são equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.” (BRASIL, 1937)

A criminalização de atentados contra o bem tombado é uma forma de coibir o mau uso e depredações, porém a ineficiência da fiscalização e a morosidade do sistema judicial geram espaço para a ação de pessoas que consciente ou inconscientemente, seja pela falta de conhecimento ou pela vontade em sobrepujar a alienação

do direito de uso irrestrito de um bem tombado, acabam por danificar ou impedir a fruição do patrimônio cultural brasileiro por todos.

“Art. 23. O Poder Executivo providenciará a realização de acôrdos entre a União e os Estados, para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades relativas à proteção do patrimônio histórico e artistico nacional e para a uniformização da legislação estadual complementar sôbre o mesmo assunto.

Art. 24. A União manterá, para a conservação e a exposição de obras históricas e artísticas de sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tornarem necessários, devendo outrossim providênciar no sentido de favorecer a instituição de museus estaduais e municipais, com finalidades similares.” (BRASIL, 1937)

Os artigos 23 e 24 amparam legalmente uma intervenção que tenha interesse em preservar e valorizar o sítio histórico, abrindo a possibilidade de criação de um museu para abrigar exposições e manifestações culturais, podendo ainda ser agente regulador do uso e tutor do Conjunto Histórico.

A constituição de 1988 trouxe uma ampliação do conceito de patrimônio, além de um artigo específico sobre o patrimônio cultural e definição da competência de preservação.

“Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação”. (BRASIL, 1988)

O município de Biguaçu, através do Plano Diretor de desenvolvimento municipal, busca regrar o uso e ocupação do solo na vizinhança e nas áreas de patrimônio histórico. Aponta com um dos objetivos instituídos pelo plano elevar a qualidade do ambiente do Município, por meio da preservação do equilíbrio ecológico e da proteção do patrimônio histórico, artístico, cultural, urbanístico e paisagístico. (BIGUAÇU, 2009)

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5. Análises do Recorte de Intervenção

5.1. Aspectos físicos naturais

O litoral catarinense tem sua morfologia bastante influenciada pela proximidade de grandes formações graníticas10 com o mar, gerando um litoral recortado e com a presença de algumas planícies arenosas. A praia de São Miguel está disposta entre as águas da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina e a abrupta elevação do morro, sobre uma estreita planície litorânea.

A área de estudo fica delimitada a leste pelas águas da baía, a oeste pela elevação dos morros, ao norte e sul por elevações que se projetam mar adentro, conformando os limites da praia de São Miguel, uma extensão de terra de aproximadamente 1,5 km no sentido Nordeste. Abriga três pontos notáveis na paisagem da orla, as duas elevações que definem as extremidades da praia e a formação rochosa que se destaca na areia, projetada alguns metros dentro do mar, dividindo a praia em duas porções de tamanho semelhante. A partir desses três pontos é possível observar a paisagem exuberante da praia contornada por morros altos que, observada a partir do Sudeste, tem como fundo as elevações dos morros contrastando com a planície da Tijuquinha e a entrada do canal norte. Vista a partir do ponto nordeste, a praia fica inserida na paisagem do continente, podendo-se observar o estreito entre a Ilha e o Continente. Já o ponto mediano da praia, na formação rochosa, permite uma visualização total da praia e sua muralha natural. A paisagem observada a partir do alto dos morros é impressionante, permitindo a visualização da totalidade da baía. Destacam-se na paisagem o Pontal da Daniela e as ilhas de Anhatomirim, Ratones Grande e Ratones Pequeno.

10 Essa porção do litoral está inserida na Unidade de Relevo 38 – Serras do Leste Catarinense (IBGE).

O principal curso d’água da área de estudo é o Rio São Miguel que tem importante papel no fornecimento de água potável para o local. Sua vazão varia de acordo com o regime de chuvas, ao ponto de, em épocas de muita precipitação, tornar-se uma corredeira. Logo abaixo, forma uma piscina de águas tranquilas e de pouca profundidade que novamente verte por sobre uma laje de pedra. Em frente ao aqueduto, o rio transforma-se em um espelho de água, calmo e sem correnteza, que desagua no mar cerca de 150 metros adiante, em forma de foz, moldada de acordo com a maré, frente a uma pequena formação rochosa marcando a paisagem da praia. A vegetação predominante é a Floresta Ombrófila Densa, característica de regiões tropicais com temperatura elevada e com precipitação pluviométrica bem distribuída durante o ano. Apesar do processo de antropização sofrido pelo uso das terras para a agricultura, é possível identificar com facilidade as espécies típicas da Mata Atlântica dessa parte do litoral. Guarapuvus exuberantes emergem do meio da mata, juntamente a Camboatás e Embaúbas preservados, provavelmente, pela dificuldade de ocupação das terras com inclinação elevada. É comum encontrar exemplares da família das mirtáceas – origem do nome indígena Guaporanga, que significa lugar com muitas mirtáceas - em especial, Goiabeiras, Jabuticabeiras, Pitangueiras e Jambeiros.

Figura 25: Ponte sobre o Rio São Miguel. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 26: Vegetação nos morros de São Miguel: Floresta Ombrófila Densa. Fonte: Acervo pessoal.

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21 Figura 27: Características físicas naturais de São Miguel.

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5.1.1. Análise dos componentes da paisagem

É notável a presença de três diferentes componentes de paisagem: a paisagem natural do Bioma Mata Atlântica, a Paisagem Natural Marinha e a Paisagem Construída, representada por uma estreita faixa entre as duas naturais.

No que concerne à percepção da paisagem, há duas maneiras principais de apreensão – a partir da atual rodovia BR-101, que se relaciona à alta velocidade dos veículos, e o ponto de vista do observador local, como pedestres e moradores. É oportuno que se mencione as duas formas para se entender como a paisagem é vista hoje e como ela poderia ser mais bem usufruída.

O observador da BR é capaz de distinguir com certa facilidade os três componentes de paisagem supracitados e ter uma leitura geral do recorte, uma vez que está em um ponto visual privilegiado e, devido à velocidade da passagem, entende cada componente de forma mais homogênea. Entretanto, é possível notar a disparidade entre o uso residencial de baixa densidade, o porte da rodovia federal e o mar que é raramente percebido. Nota-se o estrangulamento das casas entre o mar e a rodovia, e da praia pela ocupação humana, indicando que, mesmo em uma leitura rápida e superficial, há sérios conflitos com os aspectos naturais.

Por outro lado, o observador a pé é capaz de analisar as interfaces entre os componentes; a transição entre as casas e a Paisagem Marinha mostra-se frágil aos olhos do observador, que tem dificuldade em acessar a faixa de areia e mesmo visualizá-la, além de notar os pontos de invasão antropomórfica na praia. Possui ainda seu entendimento do todo prejudicado pelas barreiras da Paisagem Construída: as casas da orla da praia e a BR-101, que inibe o acesso aos morros e a área do Aqueduto, rompendo abruptamente a leitura visual da relação entre as duas margens da rodovia. Assim, o pedestre não é capaz de contemplar o que está do outro lado desta barreira, tampouco estabelecer suas relações.

Portanto, a falta de planejamento e controle sobre a ocupação urbana permitiu uma linha praticamente contínua de Paisagem Construída que ameaça a conectividade entre os componentes naturais. Urge que se estabeleça critérios claros e adequados de ordenamento da intervenção humana, a fim de favorecer o equilíbrio e evitar que a paisagem de torne ainda mais hostil e fragmentada.

5.2. Características populacionais de São Miguel.

A população de São Miguel, de maneira geral, difere das características populacionais de Biguaçu.

Observa-se a forte presença de imóveis inutilizados e destinados ao veraneio o que gera um número reduzido de habitantes fixos.

Observa-se que durante muitos anos não houve atratividade para a vinda de novos moradores, sobretudo, de jovens, o que gera a predominância da ocupação por pessoas das famílias antigas, mostrando que não havia atratividade para a renovação dos moradores. Contudo, observa-se que na ultima década houve um aumento do número de novas residências, especialmente na borda oeste da BR-101, sendo que, pode ter sido influenciado pela valorização imobiliária em São José e Florianópolis. Hipótese endossada pela ocorrência de processo semelhante de novas construções nos municípios de Palhoça e Santo Amaro da Imperatriz.

Com base no padrão de acabamento das residências, é possível estimar que a classe média faz-se predominante em São Miguel, com exceção das habitações do Loteamento Panorama ao noroeste da área de estudo.

Um grupo populacional importante a ser mencionado no cotidiano de São Miguel é a tribo Guarani Mbyás que, surgida em outubro de 1987, foi homologada pelo Governo Federal em maio de 2003. Possui escola indígena que mantém um coral de crianças e atividades de educação ambiental através de trilhas monitoradas. A produção de artesanato também é notável, tendo peças confeccionadas com madeiras e sementes para fazer miniaturas de Figura 28: Componentes de paisagem em São Miguel.

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23 animais da fauna brasileira, instrumentos musicais e utensílios da vida indígena. Apesar da política indigenista

brasileira visar a proteção e a promoção dos povos e da cultura indígena, os índios vivem à beira da sociedade, sendo comum observar a atividade mendicante.

5.3. Economia

A economia de São Miguel é predominantemente baseada no setor terciário. Com seis restaurantes que atraem visitantes da Grande Florianópolis, começa a se firmar como ponto de referência gastronômica em Biguaçu e entorno. Devido a sua localização, é também ponto de parada para viajantes que trafegam na BR-101.

O turismo mostra-se uma atividade importante, uma vez que se nota a presença de hotéis e pousadas e a recente instalação de uma marina particular. É pertinente mencionar que a praia de São Miguel faz parte do balneário homônimo que contempla as primeiras praias próprias para banho ao norte do estreito da Ilha de Santa Catarina.

A presença de bares e mercearias abertas o ano inteiro demonstra que existe uma população fixa que gera certa demanda para esse uso – sendo que são os proprietários destes comércios são os próprios moradores.

Vale ressaltar a presença de dois serviços relacionados a eventos: um salão de eventos chamado pelos locais como “Casa do Papai” e a Sede Balneária de uma empresa especializada na organização de formaturas.

Ainda que não seja expressiva na composição da economia do município, a atividade rural mostra-se marcante na paisagem.

5.4. Infraestrutura

A área é bem servida por infraestrutura básica como iluminação pública, abastecimento de água, coleta de lixo e transporte coletivo, contudo, não conta com coleta e tratamento de esgoto.

No que tange a infraestrutura social, serviços como museu, associação de bairro, igreja, cemitério e posto policial são notáveis, ainda que o posto policial funcione de maneira esporádica, principalmente no verão. Na área não existe creche nem escola, além da escola da aldeia guarani, a população utiliza tais serviços no centro de Biguaçu, que se situa a 7km de distância em média.

Ao longo da extensão da praia, existem três pontos de ônibus servindo as linhas que se deslocam de Biguaçu para Governador Celso Ramos, Tijucas e Tijuquinhas. No sentido oposto, existem apenas dois pontos de ônibus, um na via marginal, perto do Museu Etnográfico, e o segundo no acostamento da BR-101, entre a Igreja e a Aldeia Guarani. Não existe uma linha específica para São Miguel e sim linhas que passam pela localidade, fazendo com que a frequência com que os ônibus passam seja prejudicada pela distancia do trajeto.

Na praia existe um trapiche público com 60 metros, bastante utilizado no verão pelas escunas como ponto de parada para almoço na praia de São Miguel. Vale ressaltar a recente instalação de uma marina particular na porção nordeste da praia, podendo tornar-se suporte para um projeto de transporte marítimo pela orla de todo o município.

Fonte da imagem de satélite: Google Earth.

Figura 29: Atividade rural em São Miguel. Fonte: Acervo pessoal.

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5.5. Análise Urbana

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5.5.2. Uso e ocupação do solo

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5.5.3. Gabaritos

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5.6. Legislação

O Plano Diretor é instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana das cidades brasileiras. Ele fixa objetivos, define normas e dá diretrizes urbanísticas que regulamentarão o crescimento da cidade. O principal instrumento do plano diretor é a Lei de Zoneamento que regula o uso e ocupação do solo através da definição de índices urbanísticos.

A área de estudo está inserida na Macrozona de Qualificação Urbana11 que tem como objetivos determinados pelo Plano Diretor a promoção do desenvolvimento econômico sustentável, o desenvolvimento de empreendimentos turísticos, a preservação do Patrimônio Histórico, Paisagístico, Ambiental e Cultural, a expansão do uso residencial e comercial, a ampliação da rede de infraestrutura e a implementação de equipamentos públicos.

Na lei do zoneamento, São Miguel está sujeito a três zonas diferentes. A maior parte de seu território é regulada pela Zona de Interesse Residencial -212, sendo permitidos usos residenciais unifamiliares e multifamiliares, além

de serviços vicinais e equipamentos públicos como escolas, postos de saúde e áreas de lazer. É permitida também a atividade hoteleira. Apresenta como objetivo:

“Destinar prioritariamente ao uso residencial e serviços correlatos de apoio a atividade predominante, limitando o adensamento, baseado no dimensionamento das redes de infra-estrutura urbana, do sistema viário e configuração da paisagem.” (BIGUAÇU, 2009)

Contraditoriamente, o discurso do plano diretor não é confirmado pelos índices urbanísticos da área, que apresenta gabarito máximo de até oito pavimentos com através de aquisição de índice de aproveitamento – com o potencial construtivo básico, pode-se construir até seis pavimentos. Entende-se que tais parâmetros deveriam ser revistos, já que as poucas áreas disponíveis para construção preveem um potencial construtivo relativamente alto, o que tende a elevar o valor da terra e inibir o surgimento de residências unifamiliares.

A Zona de Proteção de Orla destina-se a proteger a orla marítima através da criação de uma faixa de 33 metros de largura a partir da preamar. Nessa zona não são permitidos quaisquer usos. Essa restrição entra em conflito com a realidade atual; observa-se a falta de apuro em adaptar o zoneamento às condições locais, em que há várias edificações estabelecidas anteriormente à lei.

A Microzona de Conservação de Patrimônio Histórico tem como objetivo a preservação das áreas que integram o patrimônio Histórico-Cultural, tombadas em lei específica. Permite usos públicos necessários à manutenção e promoção do patrimônio tombado, excluindo a possibilidade de ocupação da área por empreendimentos que visem outros usos.

11

Ver anexo I.

12 Ver anexo II.

O Plano Diretor apresenta um Mapa de Estruturação e Mobilidade13, que define a planície da Tijuquinha e o centro de Biguaçu como potenciais áreas para a implantação de terminal hidroviário, abrindo a possibilidade de um futuro sistema de transporte marítimo que poderia beneficiar empreendimentos na área de estudo.

(28)

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6. Estudo de Casos

6.1. Projeto Vita et Otium

O projeto visa fazer uma leitura do litoral catarinense, observando três características previamente definidas: As Unidades de Paisagem, a Conectividade e a Ecogênese.

A partir do entendimento da relação entre a geomorfologia, vegetação e clima, é possível definir a estrutura da paisagem natural e fazer relação desta com a paisagem construída, conformando a paisagem cultural que permite caracterizar, então, uma unidade de paisagem.

O conceito de conectividade é trabalhado como agente unificador das diferentes áreas e diferentes características geomorfológicas.

A ecogênese é expressa como um processo de cicatrização e atenuação da violência e agressão ao meio ambiente, aliando a vontade do homem ao dinamismo da natureza e trabalhando em busca da melhoria da qualidade ambiental urbana. (VITA ET OTIUM, 2010)

Com base no entendimento da relação entre esses três conceitos básicos, o grupo de arquitetos dividiu o litoral catarinense em cinco segmentos com características distintas.

A área de estudo está inserida dentro do Segmento Central e teve uma série de sugestões levantadas que poderiam ser base para estudos específicos.

O projeto reconhece as potencialidades dos municípios de Governador Celso Ramos e Tijucas e propõe a criação de centralidades nesses municípios bem como a necessidade de estudo de viabilidade para a implantação de um aeroporto internacional na planície de Tijucas e um porto náutico flutuante entre o promontório de Ganchos e o Norte da Ilha de Santa Catarina.

Assinala a necessidade de um estudo das planícies de Biguaçu e Palhoça para adequar a expansão urbana respeitando as fragilidades ambientais, intercalando as massas urbanas com áreas verdes e corredores ecológicos. Interligando essas centralidades propostas e as centralidades já existentes estaria um Bulevar verde sobre o atual leito da BR-101 que, com a sua realocação, abriria espaço para a utilização das atuais pistas como via articuladora da região da Grande Florianópolis.

O Bulevar verde seria uma ampla avenida arborizada capaz de receber diferentes modais de transporte e ser permeado por corredores verdes, possibilitando a conexão perdida entre o Bioma Mata Atlântica e o Bioma Marinho. A densificação das laterais dos Bulevares Verdes estaria sempre intercalada com parques urbanos e corredores ecológicos, possibilitando a criação de espaços públicos e a implantação de equipamentos culturais, sempre relacionados a áreas de comércio e serviços e conectados a estações intermodais. Serviria como base para reconstituir a relação da paisagem natural suprimida pela agressividade das ocupações humanas revitalizando e equilibrando as relações cidade e natureza.

Sugere ainda a criação de percursos náuticos ligando pontos turísticos, históricos e gastronômicos às áreas residenciais, criando uma rede de transportes marítimos de qualidade que serviria como motor de pequenas centralidades locais.

PROPOSIÇÕES PARA O SEGMENTO CENTRAL:

Figura 30: Segmentos do Projeto Vita et Otium.

Figura 31: Relocação da BR-101: Vita et Otium.

Fonte: http://vitaetotium.blogspot.com.br

Fonte: http://vitaetotium.blogspot.com.br

RELOCAÇÃO DA BR 101: Deslocamento da BR 101 para junto da encosta somando-se linha férrea interestadual paralela ao percurso.

BOULEVARD VERDE: Criação de “Boulevard Verde” sobre o leito atual da BR 101. Ampla avenida arborizada, conectada por vários modais (transporte coletivo eficiente, ciclovias, etc), articulando as centralidades densificadas das cidades continentais, Palhoça, São José e Biguaçu, pela via expressa, com a área central da ilha e permeados por corredores verdes.

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