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A agricultura familiar no município de Travesseiro - RS

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

JOAQUIM RAUBER

A AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE TRAVESSEIRO-RS

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

JOAQUIM RAUBER

A AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE TRAVESSEIRO-RS

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como um dos requisitos para obtenção do título de Licenciatura Plena em Geografia – Departamento de Humanidades e Educação - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Prof. Bernadete Maria Azambuja

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Dedicatória

Dedico esta conquista à minha família. Que desde o início esteve ao meu lado torcendo por mim, incentivando e acreditando em meu potencial.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por estar sempre presente em minha vida, iluminando e guiando meu caminho, protegendo e dando-me forças a cada dia para enfrentar os obstáculos, chegando assim ao fim desta graduação.

A toda minha família, em especial a meus pais, Orlando e Miriam, que sempre acreditaram, me apoiando e incentivando a prosseguir e, acima de tudo pela compreensão, além de oportunizarem a realização deste curso.

Agradeço a vocês esta vitória e serei eternamente grato por tudo o que fizeram por mim. Esta conquista também é de vocês.

Aos meus irmãos, Gustavo e Josué, e minha companheira Alana, agradeço o apoio que sempre me deram.

A minha professora orientadora Bernadete pela sua confiança, paciência e dedicação durante a realização deste trabalho, que fez com que eu tivesse incentivo para buscar novas informações sobre o tema proposto.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Municípios da Região do Vale do Taquari

Figura 2: Unidades de paisagem e apropriação territorial – Rio Grande do Sul Figura 3: Espaço urbano do município de Travesseiro

Figura 4: Propriedade longitudinal típica da região.

Figura 5: Croqui de propriedade rural baseada na produção leiteira. Figura 6: Rodízio de animais nas pastagens e relevo local

Figura 7: Depósito de água levado aos animais aumentado à produtividade de leite Figura 8: Sala de ordenha em funcionamento

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Condição do Produtor Tabela 2: Condição legal das terras

Tabela 3: Organização fundiária (grupos de área total) Tabela 4: Utilização das terras

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição da população rural e urbana

Gráfico 2: Número e área dos estabelecimentos agropecuários em Travesseiro Gráfico 3: Condição legal das terras, número de estabelecimentos e área dos estabelecimentos.

Gráfico 4: Número de estabelecimentos agropecuários – Grupos de área total Gráfico 5: Área dos estabelecimentos agropecuários – Grupos de área total Gráfico 6: Número de pessoas ocupadas em estabelecimentos agropecuários Gráfico 7: Utilização das terras nos estabelecimentos agropecuários

Gráfico 8: Tipo e força de tração animal Gráfico 9: Sistema de preparo do solo Gráfico 10: Tipo de prática agrícola

Gráfico 11: Evolução da produção leiteira e do número de vacas ordenhadas Gráfico 12: Produção de Leite municipal

Gráfico 13: Principais cereais produzidos no município

Gráfico 14: Atividades complementares fora do estabelecimento agropecuário Gráfico 15: Forma de obtenção de terras

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LISTA DE SIGLAS

CODET: Conselho de Desenvolvimento de Travesseiro COREDES: Conselho Regional de Desenvolvimento

EMATER/RS - Associação Rio-Grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural

FEE: Fundação de Economia e Estatística

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento PIB: Produto Interno Bruto

PISA: Programa de Integração de Sistemas Agropecuários

PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SIA: Serviço de Inteligência em Agronegócios

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RESUMO

TÍTULO: A AGRICULTURA FAMILIAR EM TRAVESSEIRO-RS

RESUMO: O estudo analisa as formas e as condições na agricultura familiar do município de Travesseiro no Rio Grande do Sul, visando à análise das condições físico/naturais, história agrária; possibilidades de reprodução econômica dos agricultores, sucessão familiar, condições e alternativas de renda fora das propriedades. Algumas famílias conseguem garantir a reprodução social e elevar o nível de acumulação de capital, e outros, com baixos níveis de renda, que desenvolvem sistemas de produção menos intensivos em relação à área disponível, encontram dificuldades para se reproduzirem economicamente e socialmente. Diante dessa problemática, analisam-se as condições e situação legal dos produtores, a distribuição e forma de obtenção das terras, as forças de tração utilizadas, os tipos de práticas agrícolas, as culturas mais importantes e análise da predominância da produção leiteira e sua influência na economia local. A organização da propriedade é analisada, com visita a campo de propriedade rural dentro do município de Travesseiro. Fazendo um comparativo, apresentam-se alternativas e perspectivas da agricultura familiar, apresentando projetos na área agrícola e leiteira como o projeto PISA e Projeto Piloto de Erradicação da Tuberculose e Brucelose. Por fim se avalia a necessidade de suporte técnico aos agricultores e implantação de novas agroindústrias familiares. Os dados e as informações foram obtidos a partir do Censo Agropecuário (2006) e através de entrevistas realizadas junto aos agricultores familiares do município.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...11

1- A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TRAVESSEIRO...13

1.1 Aspectos de localização do município...13

1.2 Aspectos físico-naturais da região do Vale do Taquari...15

1.3 Povoamento e colonização ...17

2- O ESPAÇO AGRÁRIO E AGRICULTURA FAMILIAR...23

2.1 Módulo rural e condição do Produtor...23

2.2 Estrutura fundiária no Brasil...25

2.3 A agricultura familiar em Travesseiro...26

2.4 Perspectivas da agricultura familiar no município de Travesseiro – RS...50

2.4.1 Programa PISA no município de Travesseiro...53

2.4.2 Erradicação da Tuberculose e Brucelose nos Rebanhos Bovinos...54

2.4.3 Agroindústria familiar...55

CONCLUSÃO...56

REFERÊNCIAS...58

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INTRODUÇÃO

A geografia é em sua essência, uma ciência interdisciplinar, porque ela transita por vários ramos do conhecimento. Por isso, cabe a ela estudar e buscar compreender o espaço em sua totalidade, o espaço físico e o espaço social. Onde, os elementos físicos influenciam e, ao mesmo tempo, sofrem influência no espaço das relações humanas, as quais são responsáveis pelas mudanças e transformações que ocorrem ao longo do tempo. Por isso, o objeto de estudo da ciência geográfica e o espaço das relações e das inter-relações, descrito eminentemente como sendo a relação do homem com o seu meio, ou da sociedade com a natureza.

A geografia faz o estudo do espaço geográfico e por meio da Geografia Agrária busca analisar as atividades e a realidade existente no meio rural. Em especial trata dos processos relacionados à agricultura, e a pequena produção. A análise da agricultura familiar através do processo dinâmico de observação das paisagens é indispensável no conjunto espacial.

Apesar do seu amplo reconhecimento, existem poucos estudos que avaliam objetivamente os efeitos de projetos e atividades produtivas sobre o desenvolvimento local. Os estudos mostram que a agricultura familiar produz efeitos positivos sobre a economia local, referindo-se aos efeitos induzidos, porém não especificando a importância dos efeitos diretos e indiretos. Como objetivo geral desse trabalho pretendeu-se buscar uma realidade escancarada e pensá-la de forma com que as semelhanças e as diferenças presentes pudessem servir como alternativas para a valorização do setor. Outro aspecto estudado foi as atividades

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praticadas pelos sujeitos envolvidos, pois nunca se falou tanto em agricultura familiar como nos últimos anos.

O estudo está estruturado em dois capítulos. O primeiro trata da localização do município, dos aspectos físico-naturais que influenciaram a colonização e o povoamento regional. No segundo, inicialmente faz-se a fundamentação de conceitos importantes sobre módulo rural e estrutura fundiária no Brasil, analisando os impactos que isso tem sobre a agricultura familiar. Ainda se busca de forma detalhadas dados gerais sobre agricultura familiar, principalmente sobre os dados do Censo Agropecuário de 2006 e sobre análises feitas em propriedades por meio de visita à campo. Por fim são apresentadas as perspectivas da agricultura familiar no município, através de projetos e programas que tem resultados positivos e setores que é necessário avançar.

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1- A FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TRAVESSEIRO

1.1 Aspectos de localização do município

O município de Travesseiro localiza-se no Vale do Taquari, distante 139 km da capital Porto Alegre. As coordenadas geográficas da sede do município são Latitude: 29º17'39" S e Longitude: 52º 03' 19" W.

Foi criado em 20 de Março de 1992, pelo Decreto nº 9596 e instalado em 1º de janeiro de 1993. Os municípios limítrofes são: Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Pouso Novo, Marques de Souza e Arroio do Meio.

A área territorial é de 81,1km² e a altitude é de 86 m na sede. O município integra a Região Vale do Taquari correspondente a uma unidade geográfica dos atuais 28 Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDES) criados pela Lei nº 10283, de 17 de outubro de 1994.

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Fonte:http://mapas.fee.tche.br/coredevaledotaquari Figura 1: Municípios da Região do Vale do Taquari

Tem população de 2308 habitantes e apresenta densidade demográfica de 28,45 hab/km², bem abaixo da região Vale do Taquari que com área de 4821,1km² e população de 320.888 habitantes, apresenta densidade demográfica de 66,6 hab/km² (FEE, 2010)

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1.2 Aspectos físico-naturais da região do Vale do Taquari

A região que compreende a parte baixa do Vale do Taquari localizada na borda do Planalto da Bacia do Paraná, área com substrato também conhecido como Planalto Arenito Basáltico, perfaz as terras banhadas pelos afluentes que confluem ao Rio Taquari e percorrem em direção a Depressão Central. O vale apresenta acentuação das formas que se deve principalmente a erosão resultante do constante processo da atividade fluvial que ocorre nas encostas do planalto.

No município de Travesseiro, localizado na Encosta Sudoeste do Planalto Meridional do Rio Grande do Sul, os elevados desníveis topográficos, favorecem a formação de solos profundos. Aliados a retirada da cobertura vegetal dão lugar a lavouras, expondo o solo e resultando na aceleração da erosão dos mesmos.

Na encosta gaúcha, por exemplo, a erosão é acelerada pelo uso indiscriminado do solo, fruto principalmente, do parcelamento excessivo da terra. Trata-se de uma região minifundiária por excelência, genericamente chamada de colônia (MOREIRA E HAESBAERT, 1993, p.32.)

Um dos primeiros estudos regionais do Rio Grande do Sul encontra-se na obra de Balduino Rambo. Ele descreveu as paisagens rio-grandenses com imensa riqueza de detalhes nos aspectos naturais, mas atentando para as ações humanas sobre o espaço.

Na referida obra, o Rio Grande do Sul está dividido em cinco regiões: o litoral, a serra do sudeste, a campanha do sudoeste, a depressão central e o planalto. Com essa divisão regional e geográfica, a região denominada Vale do Taquari está situada parte na depressão central e parte no planalto. O autor caracteriza a região das “paisagens do planalto central” constituída pelas áreas do “Rio Forqueta”, entre Corvo e Encantado” e entre a barra do Guaporé e a do Corredeira. (RAMBO pag. 49).

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Nota-se aqui, uma das principais características da região ainda hoje verificada: a densa população rural, que trabalhava em sua maioria em propriedades agrícolas, cuja mão de obra era estritamente familiar.

Em outro trecho da obra é destacada a mudança da paisagem e a produção oriunda dessas áreas extremamente povoadas:

“ ... as boas terras de lavoura atraíram a colonização intensa, de maneira que o aspecto da paisagem já perdeu muito do seu cunho primitivo. Os lotes coloniais assinalados por cercas e faixas de mato, as plantações verde-claras de milho, os mandiocais azulados, pontilhados de milhares de pés de erva mate, as estradas e os caminhos vicinais traçando uma rede de linhas irregulares no quadro, as vivendas dos colonos rodeados de potreiros e ensombradas por pomares e cinamomos, as povoações agrupadas em torno de igrejas de torres altas e pontiagudas – tudo isso desloca o acento da paisagem natural para a paisagem de cultura. (RAMBO, 1954 p. 26)

No entanto, conforme divisão geográfica do século XX, a região foi enquadrada como pertencente à zona fisiográfica da Encosta Inferior do Nordeste. As zonas fisiográficas, foram definidas de acordo com as semelhanças físicas, climáticas, topográficas e fitogeográficas (HOFMANN, 1990) A região que ocupamos então pertencia a uma vasta zona fisiográfica, em que a principal característica era a ocupação dos vales dos Sinos, Caí, Taquari e Pardo, por imigrantes de origem alemã e italiana em suas pequenas propriedades, situados entre as escarpas da Serra Geral e vale do rio Jacuí.

A Bacia Hidrográfica Taquari-Antas está localizada a nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas geográficas de 28°10’ a 29°57’ de latitude Sul e 49°56’ a 52°38’ de longitude Oeste. Abrange as províncias geomorfológicas do Planalto Meridional e Depressão Central. Possui área de 26.491,82 km², abrangendo municípios como Antônio Prado, Veranópolis, Bento Gonçalves, Cambará do Sul, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Estrela e Triunfo, com população estimada de 1.207.640 hab. Os principais cursos de água são o Rio das Antas, Rio Tainhas, Rio Lageado Grande, Rio Humatã, Rio Carreiro, Rio Guaporé, Rio Forqueta, Rio Forquetinha e o Rio Taquari. O rio Taquari-Antas tem suas nascentes em São José dos Ausentes e desembocadura no Rio Jacuí. A captação de água na bacia destina-se a irrigação, o abastecimento público, a agroindústria e a desdestina-sedentação de

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animais. A Bacia do Taquari-Antas abrange parte dos campos de cima da serra e região do Vale do Taquari, com predomínio de agropecuária, e a região colonial da Serra Gaúcha, caracterizada por intensa atividade industrial.

O clima do Vale do Taquari é subtropical úmido (ou temperado), constituído por quatro estações razoavelmente bem definidas, com invernos moderadamente frios e verões quentes (amenos nas partes mais elevadas), separados por estações intermediárias com aproximadamente três meses de duração, e chuvas bem distribuídas ao longo do ano.

1.3 Povoamento e colonização

O Vale do Taquari, de acesso difícil durante os primeiros séculos do descobrimento do Brasil, começa a ser ocupado efetivamente pelos portugueses no século XVIII, que fundam a localidade de mesmo nome em 1764, em sua margem esquerda, próxima da foz do rio Jacuí, então a principal via navegável no território sul rio-grandense.

Com a política de povoamento, a Coroa Portuguesa também implementou a concessão de sesmarias, com o que surgiu no Rio Grande do Sul a propriedade privada, fato que também ocorreu no território de Taquari, pela primeira vez em 1754. As concessões na região ao longo do rio Taquari (em direção ao norte) ocorreram num período mais tardio, no começo do século XIX. O sentido das concessões foi contrário ao curso do rio, atingindo os atuais territórios municipais de Bom Retiro do Sul, Estrela e Lajeado. Na zona alta (de Arroio do Meio para o norte) não foram concedidas sesmarias, pois com a Independência cessou a concessão. As sesmarias foram, em muitos casos, divididas em fazendas (CARVALHO, pág 9, n. 1, 2002).

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Na atual região do Vale do Taquari existiram diversas fazendas que, com o uso da mão de obra escrava, se dedicavam à exploração da madeira e da erva-mate e as lavouras, fruticultura e pecuária de subsistência. Entre elas, podem ser citadas: Boa Vista (Estrela); Conventos Velhos, Carneiros ou Lajeado e São Bento (Lajeado); São Caetano (Arroio do Meio). Em áreas dessas antigas fazendas com o passar dos anos formaram-se povoados e até deram nome aos atuais municípios da região, inclusive o município de Travesseiro, distrito de Arroio do Meio.

Mais tarde, sob a Lei de Terras de 1850, é que transcorreu a ocupação e o povoamento da maior parte do vale do Taquari, com a chegada de imigrantes alemães em 1853 e depois italianos no início dos anos de 1880. (BARDEN et al., 2002:12)

Os governantes do período republicano reforçaram a vinda de imigrantes. Os imigrantes alemães e italianos (a partir de 1875) fixaram-se junto à borda do Planalto Meridional, como nos vales do Rio Taquari, onde está localizado o município de Travesseiro.

A imigração, produto da tensão social gerada pelo excedente populacional sem terra e sem trabalho, decorrente do processo de desenvolvimento da economia europeia, também foi um fator importante nas alterações (diferenciação) espaciais, ainda hoje presentes na geografia do Rio grande do Sul. (MOREIRA & HAESBAERT, 1993, p.60.).

O nordeste do Rio Grande do Sul, que se estruturou a partir da imigração e formação de áreas coloniais, com estrutura fundiária em pequenas propriedades agrícolas baseadas na policultura alimentar, favoreceu a instalação do comércio que começou a vender os produtos agrícolas para outras áreas do estado e país.

Heidrich (2000, p.69.) fala sobre a constituição territorial rio-grandense decorrente dos interesses econômicos e a formação do regionalismo, apontando conforme Joseph Love (1975, pág 78-79): a Campanha Gaúcha como região da estância, a serra, parte escarpada localizada a nordeste do Planalto Meridional, como a região constituída por pequenas propriedades, oriundas de projetos de colonização. Tal divisão regional, decorrente do processo de ocupação, pode ser observada na figura a seguir.

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Fonte: Heidrich, Álvaro. Além do latifúndio. 2000, p. 70.

Figura 2: Unidades de paisagem e apropriação territorial – Rio Grande do Sul

Especificamente no município de Travesseiro, localizado no Vale do Taquari, na sub-bacia do Rio Forqueta, há diferença entre a localização das propriedades entre imigrantes alemães e italianos na colonização das terras. Os primeiros localizaram-se nas partes baixas do vale, em terras de planície, enquanto o segundo grupo ocupou as terras altas, a montante, onde a declividade do relevo é mais acentuada. Os primeiros ocuparam as terras do vale, aos segundos, lhes restaram as encostas.

Ainda que o processo de ocupação e de formação do território do Rio Grande do Sul tenha ocorrido antes da chegada dos imigrantes alemães, são estes que interessam no contexto do presente estudo, pois ocuparam e colonizaram a região do Vale do Taquari.

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Roche (1969, p. 94) entende que a vinda de imigrantes alemães no início do século XIX fez parte de uma política estatal imigratória e que seria inconcebível pensar em um movimento migratório espontâneo da Alemanha para o Brasil, seja pela distância ou pelas diferenças de meio e gênero de vida. Segundo o autor, o Governo brasileiro ofereceu diversas vantagens no intuito de atrair imigrantes europeus, como a cobertura do custo da viagem, a concessão de terras e a instalação dos colonos, além de auxílios na manutenção dos estabelecimentos durante certo tempo.

Conforme Roche, a primeira fase da imigração alemã se estende ao longo do século XIX (1824 – 1889). Destaca a referência de que eles foram os primeiros imigrantes a chegar sem que no Brasil houvesse, inicialmente, uma lei específica para gerir o funcionamento do processo de colonização. Mais tarde, medidas administrativas foram tomadas com a regulamentação da lei de colonização, determinando seus objetivos e características fundamentais (Lei Provincial n° 304, de 1854)

Para o autor, o processo de colonização alemã no Rio Grande do Sul foi iniciado (1824) com a chegada dos primeiros imigrantes na região de São Leopoldo e os Vales dos rios Caí (1846), Taquari (1853) e Jacuí foram ocupados mais tarde. O autor considera que, para atrair os imigrantes para a área, o Governo brasileiro ofereceu, além das vantagens já referidas, o direito de que “seriam logo naturalizados, gozariam da liberdade de culto, receberiam como livre propriedade 160.000 braças quadradas de terra (77 hectares) por família, cavalos, vacas, bois, etc.” As ofertas governamentais ainda se estendiam onde durante um ano, receberiam “uma ajuda, em moeda corrente, de um franco por cabeça, e de cinquenta cêntimos durante o segundo ano; enfim, seriam isentos de todo imposto e de toda prestação de serviço pelo espaço de dez anos” (ROCHE, p. 95), tendo como única condição a inalienabilidade de suas terras por dez anos.

Nessas condições efetivou-se a ocupação da região Centro Nordeste do Rio Grande do Sul, quando os imigrantes passaram a ocupar áreas de prevalência de matas, formando as primeiras regiões de colonização ainda no século XIX.

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Conforme Marchesan (2003, p. 32), “a esses núcleos originais, que absorveram os imigrantes, denominou-se de “colônias velhas e os seus habitantes, por extensão, foram denominados de “colonos”.

É nesse contexto que ocorreu a fundação de Travesseiro, que na referida época pertencia ao município de Taquari.

O historiador Jean Roche, deu a colônia de Travesseiro como fundada em 1880. Estas terras foram herdadas pelo Capitão Francisco Silvestre Ribeiro por concessão do Governo em 16 de março de 1846. O casal Ribeiro Rodrigues a 25/05/1883 firmou contrato com seu cunhado Cel. Joaquim Alves Xavier, ficando com metade das terras. Depois desta negociação, João Fuchs e Guilherme Winegkamp já eram proprietários de terras em Travesseiro, tendo a 27/05/1885, João Fuchs vendido a extensão de 102,050 braças quadradas pelo preço de “Um conto de Réis” a João Jacob Vallerius que logo após doou uma parte para a Comunidade Católica, para construírem a Igreja, a Escola e o Cemitério, onde ainda hoje seu túmulo existe, fazendo parte da história de Travesseiro. (CODET – Conselho de Desenvolvimento de Travesseiro)

Os imigrantes de origem italiana se instalaram principalmente nas chamadas terras altas, estruturadas em pequenas propriedades, aproximadamente 25 a 30 hectares, pois “(...) procurando acelerar a expansão da pequena propriedade de trabalho livre, o governo imperial criou, dentro de um grande plano, uma série de colônias no sul do país, destinadas a serem povoadas por italianos. (BERNARDES, p.75).

Fixando-se na encosta do Planalto Meridional, os agricultores aprenderam a executar manualmente os trabalhos agrícolas. Isso ocorreu devido à topografia, um agente dificultador para utilização do maquinário e a falta de condições financeiras para aquisição de implementos agrícolas, necessitando uma grande mão de obra nas propriedades. Este é um dos motivos das famílias terem muitos filhos, uma vez que nas áreas de domínio do minifúndio, o fator força de trabalho predomina sobre os fatores capital e terra, com trabalho familiar e produção diversificada de produtos, em propriedades com tamanho médio de 14 hectares.

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Assim,

Com a migração e o fracionamento por sucessão hereditária, esses minifúndios tornaram-se ainda menores, havendo áreas, hoje com propriedades agrícolas em torno de 5 há, dimensão incapaz para o sustento de uma família que utilize métodos tradicionais. (MOREIRA & HAESBAERT, 1993, p.73.).

Ainda com o estudo de Moreira e Haesbaert (1993), as áreas colonizadas, que se constituíram modelo de estrutura fundiária para o país, rapidamente tornaram-se, em boa parte, degradadas. Entre os motivos destaca-se a divisão e sucessão das propriedades entre os filhos, ao ponto de constituírem propriedades antieconômicas pelo seu tamanho; a degradação do solo pela intensa utilização e a própria falta de melhorias técnicas, que provocou a perda da fertilidade do solo.

Com esse processo e suas consequências na diminuição da produção agrícola, os colonos foram buscar novas alternativas tendo em vista a reprodução da vida e das condições de sobrevivência. Para tal, concorreram a migração de membros das famílias para as novas áreas de fronteira agrícola, o beneficiamento de produtos oriundos de policultura alimentar e a transferência para áreas urbanas.

Analisando a grande perda de mão de obra, pode-se indicar outros fatores que vão além da modernização do campo. À escassez de terras, com a mão de obra disponível, as famílias eram compostas por um elevado número de filhos, juntando o agravante da baixa produtividade levam a saída das pessoas para outros lugares, acompanhando a grande tendência de urbanização da população.

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2. O ESPAÇO AGRÁRIO E AGRICULTURA FAMILIAR

2.1 Módulo rural e condição do produtor

A estrutura fundiária é a maneira como as propriedades rurais estão distribuídas, organizadas e apropriadas num determinado espaço levando em consideração as suas dimensões num dado momento histórico HOFFMANN e NEY (2010) A análise da estrutura agrária auxilia na compreensão das diferenças sociais existentes no espaço agrário e serve como indicativo da forma de distribuição da terra e auxilia na análise da exclusão do acesso a propriedade da terra pelas diversas frações sociais.

O Estatuto da Terra, Decreto 55.891/65, define o módulo rural como a menor fração da terra capaz de suprir as necessidades do agricultor e sua família, porém sua operacionalização nem sempre é adequada. O Módulo Rural, em tese, deve ser calculado com base em diversos fatores relacionados com a capacidade produtiva do local, o que não ocorre, tanto que a normativa utiliza como limite o módulo fiscal, definido com a participação do INCRA e único para cada município. E este último relaciona-se com a área mediana dos módulos rurais do município.

Para classificar o quadro geral da estrutura fundiária do país o INCRA, atualmente, divide os imóveis rurais em quatro grandes grupos, levando em consideração as suas dimensões a partir da quantidade de módulos fiscais. Os módulos fiscais são unidades de medida expressas em hectares, no entanto, não possuem a mesma dimensão em diferentes áreas do Brasil, pois, são os municípios

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os responsáveis por determinarem à quantidade de hectares que cada um deve conter, dependendo da estrutura agrária existente nos diversos lugares.

Devem ser levados em consideração quatro fatores para determinar a quantidade de hectares de cada módulo fiscal, são eles: o tipo de exploração predominante no município; a renda obtida com a exploração predominante; outros tipos de explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda e da área utilizada; e por último, o conceito de propriedade familiar.

A partir desses indicadores os imóveis rurais são agrupados em: a) minifúndios que têm até 1 (um) módulo fiscal; b) pequenos, imóveis rurais que são as propriedades entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais; c) médios, imóveis rurais que contém mais de 4 (quatro) e menos de 15 (quinze) módulos fiscais; d) e por fim, os grandes, imóveis rurais que são aqueles que possuem mais de 15 (quinze) módulos fiscais.

O módulo fiscal no RS varia de 5 a 40 ha, o que significa que o agricultor familiar pode ter de 20 a 160 hectares, uma amplitude bastante significativa, dependendo do município em que está independente das demais variáveis familiares, modo de produção ou renda. E que municípios limítrofes apresentam esta diferença fazendo com que vizinhos separados por uma estrada ou um pequeno curso d’água sejam tratados de maneira diferenciada.

Segundo o Censo do IBGE de 1995-1996, a condição do produtor com relação às terras era exposta pelas categorias de Proprietário, Arrendatário, Parceiro (meeiro, terceiro, quartista, etc.) e Ocupante. No Censo de 2006, a classificação da condição do produtor em relação às terras sofreu algumas alterações, incluída as modalidades “Produtor Sem Área” e “Assentado Sem Titulação Definitiva”. A inclusão destas categorias contribuiu para enriquecer as informações das modalidades do produtor em relação às terras. As informações com relação à produção e animais de empregados que trabalham e residem nos estabelecimentos agropecuários, que eram contabilizados aos dados totais da categoria dos

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Proprietários, não condiziam com a realidade da produção e dos números de animais dos proprietários. As informações com relação à produção agropecuária de produtores sem titulação definitiva eram registradas na categoria Ocupantes.

2.2 Estrutura fundiária no Brasil

Para a configuração da atual estrutura fundiária brasileira foi importante à criação da Lei de Terras de 1850, uma vez que transformou a terra em mercadoria. Essa mudança na forma de apropriação da terra fez com que ela deixasse de ser uma concessão e passasse a ser uma propriedade privada adquirida mediante contrato de compra e venda. Segundo MARTINS (2010, p.288), a partir desse momento a terra passou a ser cativa do seu proprietário.

Esse artifício, no Brasil, de transformar a terra em mercadoria, deu-se através das necessidades ou interesses do país em se adequar às modificações políticas e econômicas provocadas por influências de agentes internos e especialmente externos. Apesar da mudança na forma de aquisição da propriedade não houve uma dissolução do modelo latifundiário ROSS (2005 p.550).

No Brasil a estrutura fundiária foi estabelecida desde o século XVI com a predominância de latifúndios, permanecendo até os dias atuais. Há que considerar também a existência das pequenas propriedades oriundas da ocupação pelo posseiro e aquelas oriunda do sistema de colonização oficial e particular. Apesar disso, não é possível considerar que o sistema socioeconômico que moldou a estrutura fundiária no período colonial é o mesmo que rege a estrutura fundiária dos dias atuais, em que pese a permanência dos latifúndios em algumas regiões brasileiras.

A análise da questão agrária, a distribuição e o uso da terra, da região do Vale do Taquari, mais especificamente no município de Travesseiro, pode ser

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avaliada com base nas relações de ocupação e nas condições naturais, para compreender a atual configuração da estrutura fundiária desta região.

2.3 A agricultura familiar em Travesseiro

Para o presente trabalho é necessário que se tenha entendimento dos conceitos relativos a agricultura familiar, as visões dos autores sobre o tema e as análises elaboradas a partir de dados do município de Travesseiro.

Ao longo do tempo, estudiosos, técnicos, políticos trataram o contingente de agricultores como camponeses, minifundiários, pequenos produtores, agricultores de baixa renda, agricultores de subsistência ou simplesmente pequena produção. (BARROS, 2006.) Na região os agricultores familiares são denominados de “colonos”. Eles têm como característica a agricultura feita com gestão e mão de obra familiar em pequenas propriedades.

O autor TINOCO (2011), que escreve a cerca do tema, afirma que o ponto comum entre os estudiosos, é a defesa como característica marcante da agricultura familiar a propriedade dos meios de produção e o trabalho realizado pela família.

O significativo desenvolvimento econômico da região tem por base a agricultura familiar, sendo a área média das cerca de 35 mil propriedades rurais de aproximadamente 13 hectares.

Essas propriedades fornecem matéria-prima para boa parte das mais de 30 diferentes atividades abarcadas pelo parque industrial regional. Vários são os itens da produção agropecuária regional a serem destacados: aves e ovos, suínos, leite, milho, soja, fumo e erva-mate. No Vale do Taquari, a agropecuária responde diretamente por 18% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que as participações da indústria, serviços e comércio correspondem, respectivamente, a 47%, 30% e

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5%. Em 2005, enquanto o PIB per capita nacional era de R$ 11.658,10 e o estadual R$ 13.310,00, na região o mesmo índice atingia R$ 14.081,00 (IBGE, 2005).

A distribuição da população entre a zona rural e urbana apresenta particularidade local, observando-se a permanência de maior percentual de residentes rurais, em ambos os períodos, quando comparados os dados existentes dos Censos Demográficos realizados no município de Travesseiro. No ano de 2000, a população total contava com 2.349 habitantes, destes, 64,8% viviam no meio rural e 35,2% no meio urbano. Já no ano de 2010, o Censo Demográfico apresentou 2.314 habitantes, divididos em 61,6% zona rural e 38,4 % na urbana.

POPULAÇÃO RURAL E URBANA - 2000 65% 35% RURAL URBANA POPULAÇÃO RURAL E URBANA - 2010 62% 38% RURAL URBANA

Fonte: FEE 2012 e Censos demográficos

Gráfico 1: Distribuição da população rural e urbana

O pequeno decréscimo da população total refere-se a vários fatores de ordem local, incluindo o êxodo rural no âmbito regional com destino para os grandes centros regionais como Lajeado e Estrela e as baixas taxas de natalidade, aliadas ao envelhecimento da população. São fatores que intervém diretamente na organização da população do município.

O Censo Agropecuário de 2006, realizado pelo IBGE é também referência importante para entendimento da realidade da agricultura familiar em âmbito municipal, pois das 500 propriedades existentes, 490 são consideradas de agricultura familiar, ou seja, 98%, representando um total de 5.807 hectares. As 10 restantes são consideradas não familiares, totalizando 152 hectares. As

(29)

propriedades não familiares adquirem essa condição principalmente pela concentração de empregados de fora da unidade familiar e pelo volume da produção pecuária nos suínos e aves.

Na situação da Condição legal do produtor é notável o tipo predominante de propriedade que é individual, sendo os produtores em maioria proprietários, conforme se observa na tabela a seguir e nos gráficos que a ilustram.

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006 Tabela 1: Condição do Produtor

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006 – Elaborada pelo autor

Gráfico 2: Número e área dos estabelecimentos agropecuários em Travesseiro Travesseiro - RS

Condição legal das terras Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades) Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares) Próprias 475 5.174

Terras concedidas por órgão fundiário ainda

sem titulação definitiva 1 X Arrendadas 23 153 Em parceria 77 439 Ocupadas 12 77 TOTAL 588 5873

(30)

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006 Tabela 2: Condição legal das terras

O município de Travesseiro, segundo o Censo agropecuário de 2006, possuía 500 estabelecimentos agropecuários, adquirindo destaque à condição de proprietário. A tabela a seguir indica que 95% da organização da posse da propriedade agrícola em Travesseiro o que caracteriza propriedades de agricultura familiar, aliada aos dados da Condição legal das terras, onde igualmente temos 95% de terras próprias.

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006

Gráfico 3: Condição legal das terras, número de estabelecimentos e área dos estabelecimentos. Travesseiro - RS Condição do produtor Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades) Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares) Proprietário 475 5.657

Assentado sem titulação

definitiva 1 X

Arrendatário 2 X

Parceiro 20 150

Ocupante 2 X

Produtor sem área - -

(31)

Os dados apresentados sobre a estrutura fundiária local permitem avaliar a questão pelo tamanho real das propriedades. No município, predominam pela variável número de estabelecimentos, as propriedades de 5 a menos de 10 hectares e as de 10 a menos de 20 hectares. Isso representa que 84,6% apresentam menos de 20 hectares.

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006

Tabela 3: Organização fundiária (grupos de área total)

Travesseiro - RS

Grupos de área total

Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades) Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares) Mais de 0 a menos de 0,1 ha 6 0 De 0,1 a menos de 0,2 ha 2 X De 0,2 a menos de 0,5 ha 4 1 De 0,5 a menos de 1 ha 5 3 De 1 a menos de 2 ha 16 18 De 2 a menos de 3 ha 18 42 De 3 a menos de 4 ha 32 101 De 4 a menos de 5 ha 20 84 De 5 a menos de 10 ha 123 888 De 10 a menos de 20 ha 197 2.670 De 20 a menos de 50 ha 77 2.052 De 50 a menos de 100 ha - - De 100 a menos de 200 ha - - TOTAL 500 5859

(32)

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006

Gráfico 4: Número de estabelecimentos agropecuários – Grupos de área total

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006

Gráfico 5: Área dos estabelecimentos agropecuários – Grupos de área total

O estrato de área que concentra o maior número de estabelecimentos é de 10-20 hectares com 39,4%, detendo 45,5% da área total. Observa-se também que

(33)

20,6% dos estabelecimentos possuem de 0-5 hectares e detêm apenas 4,24% da área total.

Recebem destaque o estrato de 20-50 hectares pelo montante da área, de 2.670 ha, do total de 5.870 ha, dos estabelecimentos agropecuários. Representam 15,4%, dos estabelecimentos agrícolas, no entanto adquirem ênfase, porque detém 35% da área total dos estabelecimentos.

Os dados acima apresentados estão indicando uma pequena tendência para a concentração de terras, pois um menor número de proprietários está concentrando um total maior de terras, em decorrência do êxodo rural e do menor crescimento da população rural. Se considerarmos o tamanho de propriedades em outros lugares brasileiros, esta concentração é pouco expressiva. No entanto em âmbito local é importante, pois denuncia uma alteração significativa da estrutura fundiária, com aumento no tamanho das propriedades rurais que é pouco perceptível porque se apresenta com um grande número de estabelecimentos.

Segundo Diniz (1986, p.73) “concentração não significa, necessariamente, que um proprietário está se apropriando das terras ou que as grandes propriedades estão se tornando mais importantes”. Concentração de terras, num domínio como o regional, o módulo fiscal irá variar de acordo com a localização do município, apresentando extensão de terras maior que em outras regiões morfoclimáticas. A denominação de pequeno estabelecimento, pequena propriedade, pequena unidade de produção não significa pouca terra, porém terra insuficiente para satisfazer as necessidades da família do ponto de vista das condições da produção vinculada ao mercado capitalista.

A comparação de unidades de produção, em diferentes municípios que leve em consideração somente o tamanho da terra poderá incitar em graves erros. Cada região é diferente devido às particularidades que apresenta em termos do número de propriedades que cada produtor efetivamente detém. Entre elas (as particularidades) está o tamanho dos estabelecimentos abaixo de um módulo fiscal, que no município de Travesseiro é de 18 hectares. Cerca de um quarto dos

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produtores produzem em um tamanho de propriedade inferior ao módulo estabelecido no município. Essa característica evidencia que as condições de acesso a terra para a produção nos moldes familiares em tese inviabiliza a manutenção do produtor. No entanto, é importante destacar o papel desempenhado pela tecnologia empregada, como são os casos de agricultores melhorando as técnicas de produção com aumento significativo da produtividade agrícola na propriedade.

De acordo com Frantz e Silva Neto (2005), a agricultura familiar, em regiões onde predominam pequenos estabelecimentos agrícolas, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento local e regional, dando suporte a produção alimentar e de matérias primas, com ênfase nos processos agrários. A estrutura fundiária menos concentrada e as relações de produção mantidas nas unidades de produção fazem com que as disparidades na distribuição da renda entre os trabalhadores sejam relativamente menores se comparadas à agricultura patronal. Ainda, a baixa mobilidade do trabalho enquanto fator de produção faz com que os agricultores familiares tendem a aumentar o valor agregado por unidade de área como forma de melhorar a produtividade do trabalho.

Segundo os autores referidos, a agricultura familiar é uma estratégia importante de desenvolvimento rural, na medida em que maior a densidade demográfica e o alto valor agregado gerado por unidade de produção familiar permitem intensificar os sistemas de produção com equidade social. O efeito do valor agregado agropecuário sobre a demanda de bens e serviços locais é fortemente estimulado por uma distribuição mais equitativa da renda (FRANTZ E SILVA NETO, 2005).

Na análise dos dados do município de Travesseiro o desenvolvimento assentado sobre a pequena propriedade familiar fica evidenciado também quando é analisado o pessoal ocupado em atividades agrícolas. O pessoal ocupado segue a mesma lógica da organização fundiária das propriedades. Nos estratos de propriedade de 10-20 hectares, são 617 pessoas ocupadas e naqueles de 5-10 hectares, 351 pessoas são empregadas na sustentação das atividades. Pode-se

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afirmar que aproximadamente metade da população municipal vive ocupada nesse tamanho de propriedade, conforme se pode visualizar no gráfico a seguir.

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006

Gráfico 6: Número de pessoas ocupadas em estabelecimentos agropecuários

Há que considerar na análise, ainda, a mobilidade de integrantes das famílias que desenvolvem agricultura familiar no município de Travesseiro. Tal mobilidade pode ser definida pela busca de outras fontes de renda para complementar a renda proveniente das atividades agrícolas. A baixa produtividade decorrente do tamanho de propriedade insuficiente e dependente dos preços e condições de tempo é relevante na medida em que os membros do grupo familiar necessitam buscar renda complementar em outros setores.

O entendimento dessa realidade ainda pode ser observado no município de Travesseiro, pois a população que reside no campo, vinculada às propriedades de agricultura familiar, acompanhou as mudanças nas relações de trabalho e buscou

(36)

novas alternativas de renda que complementam as atividades agrícolas. Muitos filhos de agricultores e, também, as mulheres dos proprietários vão até a cidade em busca de emprego, principalmente na indústria calçadista, que predomina no município, atraindo inclusive mão de obra de outras cidades. Essas pessoas possuem trabalho assalariado e continuam morando na área rural, ajudando o complementar à renda familiar.

Esta pluriatividade, evidenciada por Schneider (1995 p.126) é fruto da agricultura em tempo parcial. Essa disponibilidade de trabalho permitiu ao “colono” reorganizar a estrutura interna do trabalho da propriedade e garantir a força de renda extra no orçamento familiar.

No município de Travesseiro a agricultura familiar deve ser também analisada pela produção agrícola, bem como pelas condições tecnológicas existentes.

Analisando a utilização das terras dos 5.859 hectares dos estabelecimentos agropecuários, as lavouras permanentes e temporárias representam 38,70% da área, as pastagens 20,15%, as matas 28,46% e as demais formas de utilização, representam 12,69%, conforme se pode observar na tabela e no gráfico a seguir.

(37)

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006 Tabela 4: Utilização das terras

Travesseiro - RS UTILIZAÇÃO DAS TERRAS

Número de estabelecimentos agropecuários (Unidades) Área dos estabelecimentos agropecuários (Hectares) LAVOURAS Permanentes 144 84 Temporárias 470 2030

Área plantada com forrageiras para corte

474 157

Área para cultivo de flores 1 Não disponível

PASTAGENS

Naturais 349 879

Plantadas degradadas 16 29

Plantadas em boas condições 147 273

MATAS E/OU FLORESTAS

Naturais destinadas à preservação

permanente ou reserva legal 172 483

Naturais (exclusive área de preservação permanente e as em

sistemas agroflorestais)

214 776

Florestas plantadas com essências florestais

156 409

Sistemas agroflorestais - área cultivada com espécies florestal

também usada para lavouras e pastejo por animais

16 96

OUTRAS FORMAS

Tanques, lagos, açudes e/ou área de águas públicas para exploração da

aquicultura

88 25

Construções, benfeitorias ou caminhos

459 209

Terras degradadas (erodidas,

desertificadas, salinizadas, etc.) 16 30

Terras inaproveitáveis para agricultura ou pecuária (pântanos, areais,

pedreiras, etc.)

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38% 20% 30% 0% 4% 1% 7% LAVOURAS PASTAGENS

MATAS E/OU FLORESTAS

TANQUES, LAGOS, AÇUDES E/OU ÁREA DE ÁGUAS PÚBLICAS PARA EXPLORAÇÃO DA AQUICULTURA CONSTRUÇÕES, BENFEITORIAS OU CAMINHOS

TERRAS DEGRADADAS (ERODIDAS, DESERTIFICADAS, SALINIZADAS) TERRAS INAPROPRIÁVEIS PARA AGRICULTURA

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006.

Gráfico 7: Utilização das terras nos estabelecimentos agropecuários

No que tange as condições relativas a mecanização ou a força motriz utilizada nas atividades agrícolas é importante considerar que das 500 propriedades rurais do município, somente 86 não usam nenhum tipo de força de tração. Das demais, 414, são divididas com uso de animais 197, mecânica 71 e que utilizam as duas 146. Os tratores, principal forma mecânica de tração, estão em 103 unidades no município, abrangendo 98 propriedades, significando que há 19,6% das 500 propriedades com tração mecânica, conforme está evidenciado no Gráfico a seguir.

(39)

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006 Gráfico 8: Tipo e força de tração animal

A forma de tração influencia também na forma em que é feito o plantio. O plantio em nível é bem utilizado pelas condições do relevo e também por questões climáticas locais, evitando o desgaste e erosão dos solos com chuvas intensas. Existem muitas áreas de desníveis que não permitem a utilização de tração mecânica. Em 397 propriedades o plantio é feito em forma de nível. A rotação de culturas é também prática adotada pelos agricultores de 154 estabelecimentos para melhorar a produção.

Relacionada a força de tração e ao tipo de preparo do solo, podemos observar que o sistema de preparo do solo é bem dividido. No cultivo convencional tem 231 propriedades que adotam esse sistema, o cultivo mínimo 138 e 127 fazem o plantio direto na palha (ver gráficos 9 e 10). Essa última geralmente associada ao uso de agrotóxicos antes do plantio.

(40)

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006 Gráfico 9: Sistema de preparo do solo

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 2006 Gráfico 10: Tipo de prática agrícola

(41)

A que considerar também na análise da produção primária do município de Travesseiro, juntamente com a agricultura, a produção leiteira que complementa a renda dos produtores familiares.

A figura abaixo apresenta a evolução do número de vacas ordenhadas no município de Travesseiro. Depois de uma pequena evolução, mais recentemente o número de animais tem aumentado significativamente, chegando em 2010, a 2.750 vacas ordenhadas diariamente, conforme se pode visualizar nos gráficos 11 e 12.

Fonte: IBGE (2012)

(42)

Fonte: IBGE, 2012

Gráfico 12: Produção de Leite municipal

A mesma relação é possível observar na evolução na quantidade de litros de leite produzidos anualmente, tornando o atividade uma das principais fontes de renda entre os agricultores.

A partir das entrevistas realizadas, foi possível observar os investimentos que estão sendo realizados, com as famílias estão apostando na qualificação da mão de obra e também no aumento do capital investido no setor leiteiro.

Na visão de Wilkinson (1997 p. 25), a atividade leiteira é o alicerce para muitos agricultores familiar e vem passando por diversas transformações nos seus sistemas produtivos. O produtor que apresenta uma produção em média de trinta e cinco litros/leite/dia, resultará no final do mês com um montante equivalente a um salário mínimo. Pode-se evidenciar assim que a atividade leiteira é típica de pequenas propriedades, apresentando-se como fonte de renda mensal da família, possibilitando fazer frente às despesas essenciais como luz, farmácia e compra de alimentos, ao contrário de outras culturas e criações, possui baixo percentual de

(43)

perdas durante períodos de estiagem, recuperando-se rapidamente nos períodos de chuvas.

Segundo Wilkinson (p. 50?) a utilização adequada de pastagens por rebanhos leiteiros pode reduzir os custos de produção de leite, principalmente pela redução nos consumos com alimentos concentrados, com combustíveis e com mão de obra. O conceito principal é a substituição de combustível, máquinas e equipamentos pela vaca, no processo de colheita da forragem. O benefício imediato é de caráter econômico, com drástica redução nos custos de produção de leite.

Já afirmava Schneider, em seu estudo de 1995,

Em consequência, no interior da unidade familiar agrícola a produção de leite tomou-se rapidamente o produto comercial fundamental à forma de produção adotada pelos colonos. Os lucros antes obtidos com a venda do requeijão, da manteiga e do queijo foram substituídos pela venda do produto in natura. outra vantagem da produção de leite é que ele era o único produto agrícola que garantia à família uma renda mensal regular. Embora os recursos obtidos com a venda do leite tivessem um caráter complementar para o colono, pois não era a atividade econômica principal da propriedade, era dele que dependia o sustento da família nos períodos de entressafra. (SCHNEIDER 1995 p. 105)

No município de Travesseiro a produção econômica assentada sobre a agricultura apresenta alguns condicionantes que fazem o setor ser importante para o desenvolvimento local. Tais condicionantes merecem aqui ser novamente destacados:

a) Mão-de-obra Familiar: Esta atividade é basicamente desenvolvida

pelos familiares, constituindo-se uma estratégia para o pequeno produtor, por ser uma função de baixo risco e com frequência mensal de lucros.

b) Atividades Consorciadas e ou Associadas: A atividade leiteira esta está

geralmente consorciada com outras atividades: como a atividade agrícola, soja, trigo e milho, suinocultura, bovinos de corte e aposentadoria. É da terra que os produtores retiram a maioria das matérias primas utilizadas para a produção de leite como: pasto e milho além da água utilizada nos processos são oriundos da própria

(44)

propriedade. As atividades consorciadas garantem mais renda e maior diversificação para os produtores.

c) Estrutura da propriedade: esta atividade é desenvolvida em grande

parte por pequenos produtores, por não necessitar de uma extensa área de terras. Com essa atividade consegue-se ter uma boa rentabilidade, porém deve se obter uma boa organização, garantir o cultivo de pastagens no tempo certo, ter um controle de produção e de custos e, além disso, manter um acompanhamento constante de toda a criação, com um bom planejamento é possível alimentar de três a quatro vacas em uma extensão de 10.000 metros quadrados ou 1 hectare.

Muitas vezes, os demais membros da família revezam-se dentro das atividades da propriedade rural, ou até mesmo fora. A presença do trabalho adicional ou variado se considera uma particularidade no município e é importante variável na composição da renda principalmente dos pequenos produtores familiares que detém as propriedades rurais menores, insuficientes para a manutenção da produtividade do trabalho agrícola e para a geração de renda que dê sustentação a todos os membros da família.

Nesses casos as atividades que acontecem dentro da propriedade são destinadas geralmente à subsistência familiar e à comercialização do excedente no mercado local, como é o caso do gado leiteiro destinado à produção de leite que é comercializada junto a uma determinada cooperativa. Do mesmo modo acontece com o caso dos cereais como milho e soja que são consideradas lavouras de formação de excedente econômico nas propriedades e para manutenção da pecuária leiteira.

A produção de grãos adquire importância econômica no município.

Na agricultura, percebe-se a partir do Gráfico abaixo que ao longo dos anos a cultura do milho se destaca comparativamente à produção de soja, atingindo em 1998, 1.400 ha plantados. A produção de soja atingiu sua área máxima no ano de

(45)

1993, com 2.000 ha destinados à cultura. A cultura do milho se estabilizou nos últimos anos (de 2000 até 2004) em torno de 500 ha plantados. Pode-se observar um decréscimo na área colhida, da produção de grãos, isso se deve ao aumento em outras áreas da agricultura familiar como a produção de leite.

Fonte: IBGE 2012

Gráfico 13: Principais cereais produzidos no município

Como já foi dito anteriormente, quando a propriedade se apresenta demasiadamente pequena ou mesmo inviável a outras explorações econômicas, além do gado leiteiro, alguns membros voltam-se a realização de trabalho temporário ou permanente fora de sua propriedade. Para complementar a renda familiar, eles exercem atividades remuneradas na cidade ou mesmo em outras propriedades, ou não, conforme se pode visualizar no Gráfico 14. O fato é que esta renda chamada de adicional, urbana ou rural, destina-se a composição da renda familiar da propriedade rural.

(46)

Fonte: Censo Agropecuário 2006

(47)

Os dados até aqui analisados apresentam a realidade da zona rural do município de Travesseiro. No entanto, é importante considerar que na cidade, isto é, na sede do Município são também desenvolvidas atividades rurais. Na sede do município, encontram-se propriedades rurais, onde é praticada a agricultura familiar. A Figura 3 ilustra esta realidade.

Fonte: Google Earth Acesso em 25 de outubro de 2012

Figura 3: Espaço urbano do município de Travesseiro

A organização das propriedades rurais e urbanas no município remete a história de ocupação, quando lotes de pequenas propriedades de terras foram vendidos para as famílias e ao longo do tempo foram desmembrados entre parentes ou sucessores por herança ou por processos de compra e venda, conforme se verifica nos dados apresentados no Gráfico a seguir.

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Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006 Gráfico 15: Forma de obtenção de terras

A forma das propriedades e a sua localização no território municipal também são heranças do processo de ocupação pela colonização de pequenos proprietários familiares. Na área da atual cidade de Travesseiro é possível analisar as propriedades em faixas longitudinais, que vão geralmente dos cursos d’água, nas baixadas, até o topo dos morros, forma de divisão da terra dos tempos da colonização e que é legada para a atualidade conforme se pode observar na Figura 4 a seguir.

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Fonte: Google Earth. Acesso em 25 de outubro de 2012 Figura 4: Propriedade longitudinal típica da região.

A análise de uma típica propriedade rural da agricultura familiar de Travesseiro pode ser observada na imagem acima. O proprietário se destaca na produção de Leite para comercialização in natura e nos demais produtos relacionados à agropecuária para sua subsistência, conforme o croqui apresentado na Figura 5.

O espaço da propriedade é organizado de forma que as construções, casa, galpão e demais benfeitorias não recebam interferência de acontecimentos naturais como enchentes e deslizamentos. No lado inferior da propriedade, na planície de inundação, também conhecida como “várzea”, está a plantação, pois o solo recebe camadas de argila das enchentes, fornecendo uma boa qualidade de produção.

Na parte alta da propriedade além das construções estão localizadas as áreas de pastagem de verão e inverno e o potreiro. O rodízio das pastagens garante ao proprietário aumentar a produtividade sem necessitar plantio de grãos. No local mais alto, junto às declividades mais acentuadas, está localizada a área de reflorestamento, com plantação de eucalipto e mais acima a mata nativa. Essa

(50)

configuração da propriedade e a distribuição dos diferentes elementos ou atividades garantem a funcionalidade e produtividade da propriedade.

Fonte: Elaborada pelo autor.

(51)

A organização da propriedade, como pode ser visto Figura 5 acima, a partir da manutenção das pastagens de verão e inverno, garantem a esse pequeno agricultor familiar à renda extra necessária para o sustento de sua família, através da venda do leite in natura, principal atividade da propriedade. Além disso, o pequeno produtor demonstrado no exemplo possui um pomar diversificado, horta, galinhas, suínos e as mais variadas culturas agrícolas como aipim e feijão que são destinados à subsistência da família.

2.4 Perspectivas da agricultura familiar no município de Travesseiro – RS

No município de Travesseiro, a agricultura familiar é a principal atividade para a grande maioria das pessoas. Os dados acima apresentados possibilitam uma análise detalhada da realidade das propriedades.

A partir de entrevistas realizadas com agricultores, é notável que aqueles que diversificaram a produção, ampliaram as técnicas de manejo e investiram em sua propriedade, estão se apropriando de um trabalho que já vem sendo feito há diversos anos. Esse processo inclui: ampliação de propriedades adquirindo mais terras para as propriedades, maquinário, infraestrutura básica, sucessão familiar quando os filhos se mantêm interessados em continuar a investir no setor agropecuário. Em muitos casos, trabalham três gerações de pessoas na mesma propriedade.

Atualmente, as exigências impostas pela legislação sanitária e principalmente impostas pela Normativa 51, que trata da qualidade do Leite, aliadas as condições definidas pelas cooperativas que compram os produtos, são desafios para o desenvolvimento do pequeno agricultor. Um exemplo são os pequenos produtores de leite e suínos. Hoje, um produtor com 75 litros diários de leite praticamente não consegue vendê-lo in natura, pois além de receber pouco pelo produto, não consegue manter-se na atividade, pois as exigências sanitárias o impedem de

(52)

prosperar, tendo que investir para ampliar ou diversificar sua produção. O mesmo acontece com produtores de suínos, as cooperativas regionais forçam os pequenos a ampliar a produção ou aconselham parar a atividade. Vislumbramos a grande importância para o pequeno produtor familiar de variar a produção e manter-se dentro das exigências impostas pelo mercado.

Na esfera regional existe forte presença de agroindústrias de grande porte, de cunho exportador, que integram aos seus sistemas de produção aos mercados, às famílias e às propriedades rurais, notadamente as empresas produtoras de frango, suíno e leite. Entretanto, os cultivos e criações que empregam intensivamente tecnologias modernas convivem, lado a lado, com técnicas tradicionais e uma expressiva produção de alimentos voltada ao autoconsumo das famílias.

Na questão de acesso ao crédito existe uma consciência entre os entrevistados, de melhoria significativa nos últimos anos, principalmente após a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Através da organização do perfil da agricultura, percebe-se a importância de uma política pública destinada a essa categoria de agricultores, mostrando-se necessário o esforço do Governo Federal para o desenvolvimento sustentável de um modo de produção com números expressivos no que diz respeito à segurança alimentar, à geração de renda e emprego, além de eficiência produtiva.

Existem atualmente várias linhas de créditos para os diferentes níveis dentro da agricultura familiar, com destaque local para o Programa Mais Alimentos, criado em 2008, sendo uma linha de crédito especial para financiar investimentos em infraestrutura para a agricultura familiar.

Ainda, é importante mencionar a Lei da Merenda Escolar – Lei nº 11.947, de junho de 2009 que no seu artigo 14 define que 30% dos produtos de merenda escolar devem ser adquiridos diretamente dos agricultores. Mais uma forma de valorizar a agricultura familiar, isto é, o agricultor coloca diretamente no talão de produtor a venda dos produtos oriundos da atividade que exerce.

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Doutra parte, a regularização ambiental dos imóveis rurais, realizada através do Ministério do Meio Ambiente também trata de forma diferenciada a agricultura familiar em relação ao uso de áreas de preservação permanente e reserva legal, flexibilizando e permitindo o manejo da propriedade.

As alterações do Novo Código Florestal respeitam as legislações vigentes na época da ocupação das propriedades. Portanto, as áreas de Reserva Legal desmatadas em conformidade com a lei da época do desmatamento não precisam ser reflorestadas em nenhuma região do Brasil.

Em propriedade até quatro módulos fiscais será considerada Reserva Legal a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008. Se esta vegetação for duas 30 árvores, essas trinta serão consideradas a Reserva Legal. Não é permitido desmatar novas áreas quando houver menos área de Reserva Legal do que o percentual exigido pela Lei. Essa flexibilização auxilia os proprietários a manterem suas áreas de plantio, sem estar fora da Lei.

No município, a discussão principal gira em torno do suporte técnico que é oferecido para o pequeno proprietário rural. Para caracterizar as formas em que ele acontece no município, é preciso analisar a assistência técnica pública, principalmente pela EMATER/RS. Há também a assistência realizada pelas agroindústrias exportadoras da região para manterem seus associados ligados à empresa. Outro fator predominante, nesse ponto, é a assistência técnica agrícola realizada pelos vendedores de insumos que direcionam o procedimento direto aos seus produtos. Essas alternativas diversas de suporte técnico, em distintas situações não são suficientes para o produtor, pois além da falta de esclarecimento, confundem o proprietário que segue procedimentos inadequados. Dentro dessa mesma perspectiva, observa-se o sucateamento do amparo técnico, ficando muitas vezes limitada às questões de interesse econômico, ou pela falta de efetivo de profissionais da esfera pública para auxiliar esses produtores, como no caso da EMATER/RS.

(54)

As políticas públicas e parcerias merecem destaque na esfera municipal, inclusive transformando-se em exemplo para outras regiões, principalmente no setor de bovinos de leite, conforme apresentado no próximo item.

2.4.1 Programa PISA no município de Travesseiro.

Na área da questão leiteira, o Projeto de Integração de Sistemas Agropecuários (PISA), formatado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é um projeto no qual a equipe técnica do Serviço de Inteligência em Agronegócios (SIA), visita periodicamente os produtores orientando a condução dos sistemas de produção para boas práticas de gestão e manejo sustentável das áreas.

A parceria MAPA-UFPR-UFRGS-SEBRAE-SIA-PREFEITURA MUNICIPAL, atinge as principais bacias leiteiras do RS e prevê instalação do programa em mais 50 propriedades rurais do Vale do Taquari, e para o início de 2013 em 120 propriedades de outra bacia leiteira do estado (Alto Uruguai). Estas ações estão caracterizando uma solução inteligente para a extensão rural brasileira, com a formatação de projeto de captação, articulação de parceiros e recursos e execução técnica plena, com impactos significativos sobre as cadeias produtivas.

Em Travesseiro, 20 propriedades foram contempladas num projeto de parceria do SEBRAE, Prefeitura Municipal e agricultores familiares. Os produtores recebem individualmente visita de técnicos especializados, com plena assistência técnica na propriedade visando o manejo sustentável e novas práticas de gestão.

Pelas entrevistas realizadas e através de dados na Prefeitura foi possível observar que os proprietários estão cada vez mais satisfeitos. Entre os principais objetivos está à melhoria da tecnologia no campo e o aumento da produtividade. Inicialmente é aplicado um diagnóstico na propriedade para apontar as melhorias

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