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ACESSIBILIDADE AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO: UMA REFLEXÃO SOBRE AS ATUAIS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA

NO ESTADO DE SÃO PAULO

Iára Leme Russo Cury – Mestre em Geociências e Meio Ambiente (Unesp/Rio Claro) Doutoranda do Curso de Pós Graduação em Geografia – Organização do Espaço –

Unesp/Rio Claro

Professor Orientador: Dr. José Gilberto de Souza – Departamento de Geografia Unesp /Rio Claro

Introdução

Nos últimos anos a questão da acessibilidade ao ensino superior público tem tomado o debate e a atenção da sociedade brasileira. Questões como cotas raciais e econômicas nos sistemas de ingresso e avaliação; democratização e ampliação dos serviços públicos de ensino superior; o ensino tecnológico; programas de crédito educativo e contrapartidas sociais, entre outras, tem suscitado inquietações e mudanças comportamentais e institucionais no conjunto da sociedade brasileira.

A criação das cotas raciais1 para alterar a distribuição das vagas nas universidades como forma de garantir o acesso das minorias étnicas ao ensino superior, é a que mais tem dividido a opinião entre pesquisadores e representantes de grupos da sociedade organizada. Para Kaufman (2007) qualquer sistema de cotas raciais que não esteja relacionado também à questão econômica não será bem sucedido. Em sua pesquisa indica outras formas de resolver a questão da desigualdade de acessibilidade entre os estudantes como o sistema de bolsas de estudo e os incentivos fiscais.

Por sua vez, a ampliação dos serviços públicos de ensino superior tem sido acompanhada por questões relativas ao ensino presencial e a reestruturação física das universidades e ao ensino à distância, as tecnologias educacionais, os processos de desenvolvimento e avaliação dos ingressantes.

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A abertura de cotas é uma política oficial, nascida de um Projeto de Lei, o PL 73/99, da deputada Nice Lobão (PFL-MA), que estabelece um sistema de reserva de vagas para universidades públicas, baseado no desempenho escolar dos alunos do Ensino Médio. Com o substitutivo do deputado Carlos Abicalil (PT -MT) ao projeto original, há a destinação de 50% das vagas para quem cursou o Ensino Médio em escolas públicas. Dentro desse percentual, são reservadas vagas a alunos que se declararem negros ou índios, em uma proporção igual à população de negros e indígenas em cada estado brasileiro, segundo os indicadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geograf ia e Estatística).

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Para a questão da ampliação física, a descentralização da estrutura multi-campi ao longo da implantação da Universidade Estadual Julio de Mesquita Filho (UNESP), gerou problemas operacionais dificultando o intercâmbio entre pesquisadores e estudantes, notadamente antes do desenvolvimento das tecnologias da comunicação (Dias, 2004). Entretanto, viraram uma possibilidade de acesso ao ensino superior para determinadas parcelas da população, que, distantes dos grandes centros urbanos, eram limitadas financeiramente de permanecerem em locais onde o custo de vida era mais elevado que em suas cidades de origem, ou de relativa proximidade geográfica. (Fiamengue, 2002).

O Censo da Educação Superior de 2003 declara que os “dados do World Education Indicators coloca o sistema de educação superior brasileiro entre os mais privatizados do mundo (BRASIL/INEP, 2003). Para Cunha (1999), as universidades públicas (federais) no contexto das políticas públicas, foram incapazes de atender a expansão da demanda do ensino público, conferindo um alto grau de seletividade de ingresso devido a pouca oferta de matrículas.

As atuais discussões sobre universidade e sociedade não podem relegar a segundo plano, como um esquecimento social coletivo, o que foi a política implantada pelo regime militar na década de 70, de desmontar o patrimônio público da escola de primeiro e segundo graus. Política esta, que culmina no nível superior: alunos das escolas públicas quando conseguem ir até o final do ciclo básico não dispõem de condições para enfrentar os vestibulares das universidades públicas. A maioria destes alunos é forçada ou a desistir da formação universitária ou fazê-la em universidades particulares. Além disto, segundo Chauí (2001) a universidade pública tem aceitado passivamente a continuação da política de destruição do ensino público básico com ampliação das privatizações deste ensino, aumentando as desigualdades educacionais e um sistema que reforça privilégios porque continua colocando o ensino superior público a serviço das classes e grupos mais abastados.

Na questão das tecnologias de ensino à distância e a estruturação dos projetos pedagógicos o desafio tem exigido esforços para compreender os modelos e as rotinas do ensino presencial, de maneira a adaptá-los para uma nova realidade que garanta, através da Universidade, o acesso ao conhecimento e o envolvimento com diferentes áreas de pesquisa.

Parte-se do fundamento de que a Educação a Distância é o aprendizado planejado que ocorre no local diferente do local do ensino, exigindo técnicas especiais

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de criação do curso e de comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas específicas.

Todos estes elementos estão criando novos paradigmas sociais e como tais, tem provocado resistências, desconfianças, incômodos, desinstalando rotinas de sistemas consolidados porque, entre outras variáveis questiona “verdades” e desmonta conceitos, ameaçando estruturas administrativas conservadoras e impondo mudanças que são muitas vezes vistas com reserva e temor. Do ponto de vista pedagógico, é iminente a necessidade de discutir modelos pedagógicos tanto para os cursos presenciais como para os da modalidade EAD implantados ou em vias de implantação nas Universidades. (ENAP, 2006).

As pressões institucionais de avaliações, que refletem as questões do Estado Neoliberal, contrapondo o público e o privado e fomentado as discussões sobre a “modernização” da universidade, vem produzindo segundo Marilena Chauí (2001) um paradoxo de uma universidade incapaz até de estabelecer seus critérios de auto-avaliação.

Por sua vez, destaca a autora as transformações pelas quais a Universidade tem passado, notadamente sobre as questões da qualidade que é definida como competência e excelência, cujo critério é o “atendimento às necessidades de modernização da economia e desenvolvimento social” (Chauí, 1999). A universidade tem sido medida pela produtividade, orientada por três critérios: quanto uma universidade produz, em quanto tempo produz e qual o custo do que produz. Segundo a autora em outras palavras, os critérios da produtividade são quantidade, tempo e custo, que definirão os contratos de gestão.

Seja pelas questões e avaliação e produtividade, seja pela questão do Sistema Único de Ingresso (SISU) em implantação pelo MEC a partir de 2010 nas Universidades Federais, esse processo tem envolvido as Universidades e brasileiras e em particular as públicas paulistas.

Por sua vez este debate faz reconhecer as diferenças concretas existentes entre as três universidades públicas paulistas, seja do ponto do vista do perfil institucional considerando a história e o tempo de formação, seja no âmbito da distribuição espacial no estado de São Paulo, que nesse caso particulariza, sobretudo, a UNESP.

Desta forma, a pesquisa proposta procura perscrutar a concretude do papel e a da missão da UNESP, dada sua espacialização e sua correlação com a questão da

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acessibilidade ao ensino superior público, no âmbito das questões relacionadas ao contexto da educação brasileiro.

Procedimentos

As inquietações a respeito do papel da universidade pública, sua acessibilidade, produtividade e diretrizes orçamentárias, não se restringem ao campo midiático e ao cenário populista de muitos dirigentes políticos. Por serem extremamente importantes, se fazem presentes no meio acadêmico, em diferentes áreas do conhecimento e tem contribuído para a compreensão da evolução do ensino superior no Brasil. Os procedimentos iniciais da pesquisa são os levantamentos bibliográficos a respeito do tema e do levantamento de trabalhos específicos sobre os vestibulares da Vunesp.

As pesquisadoras Dulce Whitaker (2003) e Elis Cristina Fiamengue (2002), ofereceram significativas contribuições em seus trabalhos no que se refere à problemática da acessibilidade na universidade pública, especialmente no caso da UNESP, a partir dos dados dos vestibulares da Fundação para o Vestibular da UNESP (VUNESP).

Também os estudos realizados por Pereira (2005) buscaram uma relação da influência que o grau de urbanização das cidades e regiões exerce sobre o capital cultural dos candidatos a diversos cursos da UNESP, oferecendo uma contribuição para a construção de um índice de capital cultural para as diferentes regiões do estado de São Paulo, permitindo inferir sobre capital cultural e ingresso em determinadas carreiras.

Nos levantamentos bibliográficos preliminares é possível observar que as pesquisas realizadas até o momento oferecem contribuições para enriquecer a sociologia da educação, mas chamam a atenção para a necessidade de aprofundamento de outras hipóteses de estudo e ampliação das discussões que vem mobilizando os pesquisadores nas Universidades, dentre elas a questão da acessibilidade, concentração e distribuição geográfica dos Institutos e o perfil de formação dos vestibulandos e ingressantes no ensino superior.

Este elemento de discussão se coaduna fortemente à estrutura universitária da UNESP, de seu sistema de vestibular e sua visão estratégica em relação a carreiras e localização de seus campi no estado de São Paulo. Portanto, objetiva-se que a proposta de trabalho, por meio de uma análise espacial acerca da questão da acessibilidade ao

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ensino superior, a reflexão sobre conceitos de geográficos de distribuição, centralidade, áreas de influência, dentre outros e suas correlações com diversas áreas de conhecimento, por exemplo, a educação e a sociologia, contribua para a Ciência Geográfica e com as expectativas da sociedade a respeito da contribuição acadêmicas às demandas da sociedade.

Após os levantamentos bibliográficos será iniciada a etapa de levantamento de dados que serão obtidos a partir dos dados oficiais da Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo sobre as avaliações externas que promove em sua rede de ensino básico. Outra fonte será a Fundação Vunesp para a qual apresentamos uma proposta de trabalho fundamentada na importância do tema em questão.

De posse das informações, os dados serão analisados para a representação cartográfica com o objetivo de espacialização da acessibilidade ao ensino superior público no Estado de são Paulo.

Hipótese

O ensino superior no Brasil historicamente sempre esteve concentrado as grandes metrópoles brasileiras. O estado de São Paulo apresenta característica particular no processo de formação, não apenas por responsabilização direta na constituição de um sistema superior público paulista, diferenciando-se dos demais entes federativos que contam com uma estrutura quase que estritamente federal, mas principalmente por sua interiorização a partir dos institutos isolados de ensino superior. A constituição desta rede de ensino acabou consolidando a partir de 1975, na mais nova universidade pública paulista, a partir da incorporação destes institutos à Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, a UNESP.

Lólio Oliveira (1976) estudou a relação existente entre urbanização e capacidade de acesso ao ensino superior e utilizou em seu estudo as seguintes variáveis: proporção de candidatos ao vestibular com a população jovem dos municípios de origem, grau de urbanização, grau de desenvolvimento industrial, distância da capital, nível sócio-econômico das famílias e grau de competitividade das carreiras, buscou a relação entre o grau de urbanização e a pontuação dos candidatos nas provas. Pelas suas conclusões, a chance de um estudante de um dos menores municípios do estado vir a candidatar-se ao vestibular é 18,5 vezes menor do que a de um estudante de um município com mais de 200.000 habitantes.

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A hipótese é de que a interiorização do ensino superior, através da UNESP, se configurou como um evento, um vetor de possibilidades existentes numa formação social, ao aproximar-se fisicamente dos sujeitos. Ao longo de sua história teria contribuído para ampliar o acesso ao ensino superior de sujeitos que, dispersos no espaço geográfico, em cidades de diferentes hierarquias urbanas, estariam limitados na possibilidade de permanência nos cursos públicos, sem esta aproximação física.

Milton Santos (1999) ao classificar os eventos divide-os em finitos e infinitos. Nesta mesma linha de pensamento, a implantação dos diferentes campi da UNESP pode ser considerado um evento finito porque resultou da distribuição de possibilidades de recursos, caracterizando um dado espacial.

O trabalho de Dias (2004), com uma perspectiva histórico-analítica, buscou vincular o processo que levou a criação da UNESP à trajetória do ensino superior no Brasil, e é uma importante fonte de análise dos fatores que contribuíram para a atual configuração dos diferentes cursos implantados pela UNESP no interior paulista.

Ao mesmo tempo em que finito, a expansão da UNESP também se caracteriza como evento infinito porque resulta da distribuição de possibilidades e recursos cujo uso não os esgota, como a aquisição de conhecimento, o desenvolvimento das pesquisas, o exercício da cidadania e a informação geral. São recursos cumulativos e não competitivos, o que lhes garante um caráter infinito e cujo resultado final não se limita à estruturação espacial, mas atinge a estrutura social contribuindo para a mudança social.

Ao longo dos anos a UNESP constituiu uma imagem diferenciada de suas co-irmãs USP e Unicamp, exatamente por sua distribuição territorial, a oferta de cursos noturnos, o perfil de sua estrutura de gestão e de seus ingressantes, denominando-se a universidade do estado de São Paulo. Neste sentido, a hipótese central é que esta distribuição espacial permite de forma vinculada ao seu discurso identitário, maior acessibilidade aos alunos ao ensino superior, sobretudo aqueles notadamente de baixa renda, oriundos de escola pública, do ensino noturno e classes trabalhadoras.

O presente trabalho pretende, assim, compreender a dimensão espacial da implantação da UNESP através da identificação/localização dos vestibulandos dos diferentes cursos, caracterizados por renda familiar e tipo de curso do Ensino Médio (público ou privado). A identificação e categorização dos sujeitos se farão ainda em decorrência de um perfil de desempenho nos exames vestibulares, buscando estabelecer correlações espaciais (distribuição territorial dos sujeitos no estado e no país),

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caracterizando por carreira e centro, permitindo inferir sobre os determinantes de acessibilidade na universidade pública, em particular na UNESP.

Pretende também estabelecer relações entre o desempenho dos candidatos da rede pública de ensino no Vestibular da UNESP, com os índices de qualidade de educação que vem sendo apresentados pela Secretaria Estadual da Educação (SEE/SP), especificamente o índice do IDESP (Índice de Desenvolvimento de Educação do Estado de São Paulo). Além de buscar uma relação entre o desempenho dos candidatos na disciplina Geografia e a melhoria da qualidade do ensino básico com a implantação do Currículo Oficial em toda a rede pública do estado de São Paulo a partir de 2008.

Sistemas de avaliação em educação

Ao final dos anos 1980 discussões sobre vários problemas que ocorriam nos sistemas educacionais, apontados pelos pesquisadores da área de educação, chegam ao auge com o debate publico sobre os indicadores que mostravam o alto índice de fracasso escolar (repetência e evasão escolar) na escola básica, no Brasil. Uma das questões que se colocava é eu não possuíamos uma base de dados sobre o rendimento escolar dos alunos em nível de sistema e os fatores a ele associados.

Nesse momento, promoveu-se no MEC (Ministério da Educação) uma oficina de trabalho com um grupo de educadores para discutir a questão. Ao final de 1987, foi proposto que se fizesse uma avaliação de rendimento escolar em 10 capitais de estados do país, para se aquilatar se um processo de avaliação mais amplo por parte do Ministério que seria viável e traria resultados relevantes. A avaliação foi feita nas 1as, 3as, 5as e 7as séries de escolas públicas em 10 capitais de Estados, com provas em Língua Portuguesa (com redação), matemática e ciências. (GATTI, 1999).

Nesta época o grande desafio era estabelecer uma avaliação que pudesse ser aplicada a todo o território nacional, pois não havia uma base comum de currículo para equiparar os sistemas de ensino.

Em 2007 foi criado o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e em taxas de aprovação. Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita

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o ano e frequente a sala de aula. 2 O índice é medido a cada dois anos e o objetivo é que o país, a partir do alcance das metas municipais e estaduais, tenha nota 6 em 2022 – correspondente à qualidade do ensino em países desenvolvidos.

Também em 2007 foi criado no estado de São Paulo pela Secretaria Estadual de Educação o IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) que é um indicador de qualidade das séries iniciais (1ª a 4ª séries) e finais (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da rede pública de ensino básico do estado de São Paulo. Na avaliação de qualidade das escolas feita pelo IDESP consideram-se dois critérios complementares: o desempenho dos alunos nos exames do SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo). Desde sua criação, em meados da década de 90, o SARESP vem avaliando, sistematicamente, o sistema de ensino paulista de modo a obter dados e/ou informações sobre o desempenho dos alunos na rede pública.

Segundo a Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo o IDESP tem o papel de dialogar com a escola, fornecendo um diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos em que precisa melhorar e sinalizando sua evolução ano a ano, através do estabelecimento de metas a serem cumpridas em cada unidade escolar.

As metas por escola, estabelecidas a partir de critérios objetivos e transparentes, são colocados como guias para que os professores, gestores escolares, pais de alunos e a comunidade acompanhem a evolução das escolas no aprimoramento da qualidade de ensino.

Entretanto, os sistemas de avaliação são impostos para as redes de ensino no contexto das políticas internacionais e de organismos de financiamento e a análise destes índices não pode estar isenta dos contextos políticos nacionais e internacionais. Segundo Neves (2008) organizações como a OCDE, a UNESCO, o Banco Mundial e a União Europeia, produzem sistematicamente projetos estatísticos internacionais, que reúnem um conjunto de indicadores que servem de referentes às pilotagens das reformas, permitindo, assim “assinalar mudanças da qualidade e dos resultados; chamar a atenção para aspectos que devem ser melhorados; avaliar a influência dos esforços do sistema; desenvolver esforços relativamente a outros países ou entidades políticas; catalisar novas ideias”. (Amaro,2002. p. 316).

2 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=180&Itemid=336 Acessado em 28/05/2011.

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Os indicadores de educação e formação profissional são instrumentos de orientação política e existem, na maior parte dos países industrializados, há cerca de vinte anos. Estes indicadores começaram por ser necessários como forma de justificação dos custos com a educação. Hoje em dia são utilizados como fonte de informação aplicada à avaliação, à planificação e à administração do ensino e da formação. A finalidade dos indicadores da educação/formação é dar a conhecer aos decisores, a situação dos sistemas de ensino e formação, por forma a facilitar a sua análise e a sua avaliação, para se poderem questionar velhas e novas orientações para a ação política (Nuttall, 1994, p 89).

Segundo Neves (2008) na sua grande maioria, os sistemas de avaliação são centrados nos resultados, no acesso, nos meios, nos aspectos organizacionais e de administração, esquecendo dimensões importantes que determinam a qualidade da educação e da formação, dos processos de aprendizagem e do desenvolvimento pessoal. Desta forma, contribuem para leituras lineares e redutoras dos processos de educação formais e não formais, que se afiguram de grande complexidade (Teresa Ambrósio, 2003, p. 23-32).

Desta maneira, quando os resultados dos modelos de avaliação são impostos para a implantação de políticas públicas em nome da melhoria da qualidade de ensino podem conduzir a uma perda do processo crítico e reflexivo a respeito dos sistemas de educação. Além disso, quando são levados a termo para justificar as políticas de valorização profissional e para planos de investimentos e dotações orçamentárias, podem contribuir para o aumento das desigualdades existentes em cada rede de ensino pública das esferas municipal, estadual e federal.

Ao analisar os dados da Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista (Vunesp) e estabelecer relação com os índices de educação básica do Estado de São Paulo, e outros indicadores educacionais nacionais, a presente pesquisa buscará avaliar o resultado das políticas públicas em educação na melhoria da acessibilidade ao ensino superior público e o que de fato representam para a rede de ensino básico.

Metodologia

A) A pesquisa se estruturará a partir de uma ampla revisão de literatura em que abordará o papel da universidade no Brasil e os principais temas em debate pela sociedade brasileira no que se refere a ampliação do Ensino Superior, ao Sistema Único

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de Ingresso, a implantação da modalidade de EAD nos cursos de graduação e os sistemas de avaliação na educação. Constitui-se parte importante a análise de material bibliográfico acerca de conceitos de espaço, território e análise espacial, bem como de metodologias de análise espacial qualitativa e quantitativa, avaliando suas potencialidades e limites.

B) Em um segundo momento em decorrência de parceria com a Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista – VUNESP, realizar-se-á o trabalho formação do banco de dados a ser disponibilizado pela Fundação, constituindo uma base de série histórica de 2004 a 2010, considerando as informações da ficha de inscrição e pautando-se pelos dados sócio-econômicos, opção de curso, local de residência e origem de formação (público, privada, público-privada), entre outros.

C) A etapa seguinte consistirá em estabelecer relações entre perfis sócio-econômicos e desempenho e origem de formação procurando destacar aspectos relativos à acessibilidade. Neste aspecto, seguidamente, será realizada a análise elementos espaciais, tais como localidade (município), localização (centro-periferia/ rural-urbano). Diante da distribuição espacial, constituir-se-á as isolinhas de desempenho, renda/ cursos e acessibilidade por localidade (município, regiões e estado). Para classificação dos municípios optaremos pela utilização do IDH – M por ser um índice consolidado para análises econômicas e que também foi utilizado por Pereira (2005) em seu trabalho “Urbanização e capital cultural de vestibulandos da UNESP.”

D) O desempenho dos candidatos provenientes da rede pública de ensino do Estado de São Paulo será comparado com os dados de IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) de cada Diretoria de Ensino para estabelecimento da relação desempenho/aprovação/qualidade do ensino público no Estado de São Paulo.

E) Os dados serão analisados à luz do papel institucional da Unesp e verificar-se-á o rebatimento dos mesmos sobre a espacialização da Unesp e sua contribuição ao acesso ao ensino superior público paulista. Também serão analisados sob a perspectiva de avaliar a qualidade do ensino básico na rede pública do Estado de São Paulo.

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Em atendimento ao regimento do curso de pós-graduação, este primeiro ano de curso está voltado ao cumprimento dos créditos sem os quais não é possível a continuidade no programa como aluno regular. Muitos esforços estão sendo empenhados nas disciplinas, caracterizando o atual estágio em levantamentos bibliográficos.

A pesquisa em andamento encontra-se na fase da revisão da literatura sobre o Ensino Superior no Brasil e as Reformas Políticas que têm sido implementadas pelo governo federal nos últimos anos nesta modalidade de ensino. Outro tema focado na revisão da literatura são os trabalhos já realizados com os dados da Vunesp, e seus respectivos vestibulares, com destaque a coleção Pesquisa publicada pela Fundação Vunesp que divulga os resultados das pesquisas realizadas em diferentes Instituições de Pesquisa e Ensino.

Com relação aos dados da Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo, iniciamos uma pesquisa no Site Oficial do órgão onde é possível a consulta aos dados das avaliações externas: dados de Saresp e Idesp e que serão utilizados na formação de um banco de dados para análise conjugada aos dados dos vestibulares.

Outra atividade importante deste estágio da pesquisa tem sido as discussões com os alunos de pós-graduação. Se por um lado, a carga horária das aulas conciliadas com a jornada de trabalho docente junto a rede estadual dificultam o avanço da pesquisa e a coleta dos dados por outro, tornam-se oportunidades de trocas de experiências e descobertas que têm contribuído para o amadurecimento da pesquisa. Refletirão ao final em consolidação de um trabalho de qualidade a ser defendido no curso de pós-graduação, conforme objetivos e metas explicitados no Projeto de Trabalho.

As atividades em desenvolvimento são articuladas pela experiência e dedicação do Professor Dr. José Gilberto de Souza (Departamento de Geografia – Unesp/Rio Claro) contribuindo para que a pesquisa, mesmo em sua etapa inicial, tenha assumido o caráter de realização profissional e pessoal que compõem o cenário do desafio acadêmico.

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