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BICHINHOS MG: (re) construção da paisagem cultural

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Academic year: 2021

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BICHINHOS MG:

(re) construção da paisagem cultural

MESQUITA, Janaina Faleiro Lucas (1); REZENDE, Marco Antônio Penido de (2);

SILVA, Fabiana Maria de Paiva (3)

1. Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. Rua Paraíba, 697, Savassi, 30130-140 – Belo Horizonte, MG - Brasil

janaina_faleiro@hotmail.com

1. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura, Departamento de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo.

Rua Paraíba, 697, Savassi, 30130-140 – Belo Horizonte, MG - Brasil marco.penido.rezende@hotmail.com

3. Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. Rua Paraíba, 697, Savassi, 30130-140 – Belo Horizonte, MG - Brasil

fabianamps@arq.mest.ufmg.br

RESUMO

A ampliação do conceito de patrimônio introduziu novas abordagens e possibilidades, incluindo-se como patrimônio a se preservar a paisagem cultural, entendida como aquela em que se manifesta a interação do homem com a natureza. A construção e preservação da paisagem cultural das cidades é uma importante discussão no âmbito do ambiente construído e do patrimônio sustentável e tem alcançado destaque no cenário internacional. O Brasil, em 2009 criou através da portaria n. 127/2009 a chancela da paisagem cultural definindo-a como uma “porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores”. (portaria n. 127/09, artigo 1º). Este artigo pretende caracterizar a construção e desenvolvimento de uma paisagem cultural, na qual o homem através do saber fazer criou uma imagem urbana carregada de simbolismo. Tomando um estudo de caso no distrito de Bichinho, Tiradentes/ Minas Gerais o objetivo é compreender como a técnica construtiva vernacular do adobe influenciou na paisagem do distrito, bem como em sua economia. O uso da técnica do adobe criou uma identidade do distrito que tem atraído turistas de diversas regiões que querem conhecer a paisagem cultural e a produção de artesanato local. O envolvimento da comunidade nesse processo se dá em larga escala e consolida o aspecto cultural da cidade. A discussão gira entorno de como a técnica do adobe e a Oficina de Agosto estão contribuindo para a (re)construção e preservação da Paisagem Cultural de Bichinho.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

INTRODUÇÃO

Mas as paisagens nunca têm um único significado; sempre há a possibilidade de diferentes leituras. Nem a produção, nem a leitura de paisagens são inocentes. Ambas são políticas no sentido mais amplo do termo, uma vez que estão inextricavelmente ligadas aos interesses materiais das várias classes e posições de poder dentro da sociedade. (James Duncan apud Rafael Ribeiro, ANO, p. 33)

A citação acima serve como ponto de partida para o presente artigo que pretende caracterizar a paisagem cultural do distrito de Bichinho, Tiradentes/MG e mostrar com a produção da paisagem desse local apresenta diversos significados e simbolismos. Através da interação entre o homem e a natureza os moradores de Bichinho acabaram por produzir a partir da técnica construtiva do adobe e de um artesanato local, uma paisagem cultural que atrai muitos turistas e contribui para difundir a imagem da cidade para diversas regiões, inclusive para o exterior.

Com a ampliação do conceito de patrimônio, novos conceitos tem surgido e ganhado força como é o caso ideia de “paisagem cultural” desenvolvido pela UNESCO e que encontra-se em uso desde os anos de 1990, “indicando as interações significativas entre o homem e o meio ambiente natural.” (CASTRIOTA, p. 259, 2009)

Na convenção da Unesco para o patrimônio mundial assinada em 1972, havia uma proposta bipartiste para os bens a serem inscritos, sendo que o reconhecimento se daria como patrimônio natural ou cultural. Posteriormente, surgiu a classificação de bem misto destinado àqueles que se enquadravam tanto nos critérios de bem natural, quanto no de bem cultural. Por fim, por ocasião da 16° sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, realizada em Santa Fé, Novo México (EUA), em 1992 a Unesco adotou a categoria Paisagem Cultural. A Convenção foi o primeiro instrumento normativo internacional a reconhecer e proteger tal tipo complexo de patrimônio, enfatizando a interação entre natureza e cultura e sua ligação às maneiras tradicionais de viver. (CASTRIOTA, 2009, p. 260)

Essa nova abordagem traz uma aproximação com a comunidade o que influencia de forma positiva a questão da sustentabilidade e foi esse o quadro vivenciado no distrito de Bichinho/MG. A técnica do adobe era usada inicialmente pela população como forma construtiva por ser a mais conhecida e considerada a mais econômica. A partir dos anos oitenta a técnica foi sendo substituída pela alvenaria, no entanto, percebeu-se que o adobe interessava aos turistas e essa técnica construtiva foi retomada assumindo um caráter estético e identitário. Importante fato que contribuiu significativamente para a retomada do

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adobe foi à implantação da Oficina de Agosto, que disseminou a cultura artesanal no local, envolvendo toda a comunidade nesse ofício e gerando uma nova perspectiva econômica. Juntamente com a parte artesanal foi feito pelos idealizadores todo um processo de educação cultural e patrimonial mostrando aos moradores a importância de manter as suas raízes, de preservar o saber fazer não só do artesanato, mas também de suas construções, no caso o adobe.

Este artigo vai caracterizar a paisagem de Bichinho, mostrando como a própria comunidade local vem conseguindo implantar uma (re)construção da paisagem cultural local, em uma integração entre homem e natureza.

BICHINHOS MG: (RE) CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL

Segundo RIBEIRO (2007, p. 9) a principal característica da paisagem cultural é a ocorrência do “convívio singular entre a natureza, os espaços construídos e ocupados, os modos de produção e as atividades culturais e sociais, numa relação complementar entre si, capaz de estabelecer uma identidade que não possa ser conferida por qualquer um deles isoladamente.”.

A UNESCO definiu, no documento intitulado “Diretrizes operacionais para a implementação da Convenção do Patrimônio Mundial”: datado de 1999, as paisagens culturais nos seguintes termos:

Paisagens culturais representam o trabalho combinado da natureza e do homem designado no Artigo I da Convenção. Elas são ilustrativas da evolução da sociedade e dos assentamentos humanos ao longo do tempo, sob a influência das determinantes físicas e/ou oportunidades apresentadas por seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, tanto internas, quanto externas. Elas deveriam ser selecionadas com base tanto em seu extraordinário valor universal e sua representatividade em termos de região geocultural claramente definida, quanto por sua capacidade e ilustrar os elementos culturais essenciais e distintos daquelas regiões.

Na visão de Castriota (2009, P. 261):“o termo paisagem cultural vai abarcar uma diversidade de manifestações dos tipos de interações entre a humanidade e seu meio-ambiente natural:

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

de jardins projetados a paisagens urbanas, passando por campos agrícolas, rotas de peregrinação entre outras.”

A Landscape Foundation - organização não governamental envolvida no tema, propôs a divisão das paisagens culturais e incluiu como um de seus tipos as paisagens históricas vernaculares: “aquelas que se desenvolveram através do uso pelo homem, cujas atividades ou ocupação moldaram aquela paisagem, sendo paisagens que contêm uma variedade de bens naturais e culturais que são definidos como bens patrimoniais.” (CASTRIOTA, 2009, p. 262)

Em Bichinho está muito presente e nítido na paisagem urbana essa combinação entre a natureza e a atuação do homem, uma dinâmica que formou através da arquitetura vernacular uma paisagem cultural. Paisagem que passou e ainda está passando por modificações, sendo construída e reconstruída na medida em que a população toma maior conhecimento de sua riqueza e significado simbólico.

Neste estudo de caso a arquitetura vernacular representada pela técnica construtiva do adobe teve um papel fundamental para a formação da paisagem urbana do distrito. Segundo SANT’ANA (2013, p. 1) entende-se por vernacular “a arquitetura produzida e construída a partir dos saberes populares e passados de geração em geração, arquitetura produzida fora dos circuitos formais da construção civil”.

OLIVER (1997) refere-se a arquitetura vernacular como o estudo das habitações que são elaboradoras por seus próprios usuários. A grosso modo, podemos dizer que são construções que não provém de projetos realizados por profissionais especializados mas que surgem através de técnicas construtivas que são apropriadas por pessoas comuns que utilizam os materiais e recursos locais disponíveis e as aplicam em suas próprias moradas.

Segundo Sant’anna (2013, p. 3) "as técnicas construtivas e a arquitetura produzida com base na tradição e na vivência popular são, ao mesmo tempo, um recurso para o desenvolvimento socioeconômico e também um patrimônio cultural da maior importância."

Em Bichinho, vê-se o uso da técnica do adobe nas construções que caracterizam a paisagem cultural do Distrito. O adobe consiste na formação de blocos de terra amassada com os pés e as mãos ou com o instrumento chamado “pipa”; depois de amassada a terra é prensada em formas que são colocadas para secar ao sol. O assentamento dos blocos normalmente é feito com a mesma terra que o fabricou. Com o passar dos anos a técnica foi ganhando diferentes transformações, como cita Ferreira, p. 83, 2012:" Os adobes foram transformando-se ao longo do tempo. No início, eles eram cilíndricos, moldados à mão sem o auxílio de fôrmas. Eram

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conhecidos como Djenné ferey, e foram substituídos na primeira metade do século XX pelos adobes de formato retangular, moldados com o auxílio de fôrmas."

Figura 1 – Adobe produzido em Bichinho. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014.

O adobe tem um viés sustentável, pois permite o uso dos recursos locais renováveis, evita a emissão de gás carbônico, pois seu processo de produção não requer combustão e otimiza o conforto térmico da habitação. Em geral é mais acessível e a técnica de fabricação é usualmente transmitida de pai para filho. Essa transferência da tradição foi observada em Bichinho onde o Senhor Antenor aprendeu a técnica com o seu pai e passou o aprendizado para seu filho Fernando.

Em razão da possibilidade de uso dos recursos disponíveis, a técnica do adobe foi inicialmente muito utilizada no distrito de Bichinho. Em um dado momento, com as facilidades trazidas pela alvenaria e em decorrência de alguns desconhecimentos técnicos, o adobe foi sendo substituído. As construções iniciais em adobe com telhados aparentes foram substituídas por construções em alvenaria. Em alguns casos o adobe foi rebocado e pintado e os telhados embutidos em platibanda. Além disso, as janelas e portas inicialmente em madeira de demolição também foram substituídas por aço e vidro, consideradas mais “modernas”.

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Figura 2 – Casa revestida com reboco em Bichinho. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014.

Figura 3 – Casa com adobe aparente e janelas e portas em madeira em Bichinho. Fonte: Arquivo Pessoal, 2014.

É interessante notar que, inicialmente, a população local via o adobe como uma técnica construtiva associada ao baixo poder aquisitivo. Outro fator desestimulante para o uso do adobe eram as preocupações técnicas em relação ao material, como a resistência dos blocos.

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Os moradores tinham uma especial preocupação sobre a resistência do adobe à água. (VALE, 2012, p. 51)

Embasado nesses fatores, o uso da técnica diminui progressivamente no distrito. O que se percebe é que Bichinho passou por uma crise identitária, onde a população estava perdendo uma das características mais valiosas da paisagem cultural de seu vilarejo. As moradias eram construídas cada uma à sua maneira sem uma observar uma linguagem harmônica de forma que não existia uma marca física que identificasse a construção local.

Um dos fatos que contribuiu para a mudança do cenário de descaracterização foi quando em 1994 o “Toti”, Antônio Carlos Bech, artista plástico paulista, com apoio de sua irmã Sônia Bech Vitalino implantaram a Oficina de Agosto no distrito de Bichinho. O objetivo dos irmãos era tornar o artesanato local um meio de sobrevivência para população e incentivar a formação de novos artífices. O artista sempre foi interessado pelo mundo das artes e após realizar projetos em outras localidades, voltou sua atenção para Bichinho/MG, onde iniciou um trabalho utilizando materiais recicláveis para a criação de objetos de arte para decoração. A oficina teve dupla importância: foi fundamental na conscientização da população sobre a importância de se preservar o meio ambiente para a “manutenção da área onde a comunidade vive e extrai o seu bem-estar”, além de ter alavancado a economia local. (OFICINA DE AGOSTO, 2014)

A oficina despertou a atenção da comunidade tanto para a questão ambiental como também em relação à importância de uma identidade local. A Oficina de Agosto teve início justamente no momento em que o distrito passava pelo processo de “modernização” das residências. As casas passaram por uma descaracterização ao passo que as antigas construções em adobe ou receberam novos materiais ou foram substituídas por alvenaria, ocasionando mudanças na paisagem local.

Em entrevista realizada por VALE em novembro de 2012 (p. 62), Lili, uma das moradoras de Bichinho que trabalha na Oficina de Agosto desde seu inicio, afirma que os moradores investiam na substituição dos materiais, mas, com a chegada de Toti e sua influência para a reflexão das questões patrimoniais, esse quadro mudou. Com a conscientização das pessoas a cultura local foi valorizada e houve a retomada do adobe . Lili conta ainda que antes da chegada de Toti a vida em Bichinho era bem “parada” e não havia muitos turistas, os homens trabalhavam em construção civil e as mulheres como doméstica em outros municípios. Foi quando a Oficina começou a funcionar que a população teve a oportunidade de trabalhar no local onde vive. (OFICINA DE AGOSTO, 2014)

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3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Antes da instalação da Oficina, a economia local era baseada na agricultura e pecuária. O artesanato mudou a rotina dos moradores, no momento em que a arte lhes foi apresentada como meio de sobrevivência. Inicialmente, o artista Toti, ensinou a um pequeno grupo de artesãos locais algumas técnicas para que lhe auxiliassem na produção de alguns objetos. A ideia era que cada artesão colocasse na obra um pouco de sua identidade, assim eram criados objetos a partir das produções individuais formando uma arte coletiva. Os artesãos foram se desenvolvendo e se tornando experientes e a Oficina cresceu a passos largos. É comum que os artesãos experientes montem suas próprias suas próprias oficinas, como é o caso da “Casa da Lata” e da “Cipó Arte”. (OFICINA DE AGOSTO, 2014)

Essa disseminação do artesanato cria no distrito um aspecto cultural atraente que tem trazido turistas de diversas regiões, o que influencia em toda a economia do vilarejo. Pousadas, lojas de artesanato e o famoso restaurante Tempero da Ângela são alguns beneficiados com o alto fluxo de turistas que visita o distrito.

Os visitantes tem interesse na paisagem cultural manifestada através das construções em adobe. As casas e os pontos de fabricação dos blocos de adobe também são pontos turísticos. Segundo Vale (2012, p. 51), a população de Bichinho lida de diferentes formas com a construção em adobe. A autora divide essa relação em quatro grupos:

Os moradores antigos, que por falta de condição financeira produziram seus próprios adobes; grupos de comerciantes, que perceberam a atração turística pelo material e construíram suas lojas de artesanato e pousadas utilizando os blocos de adobe; a população de outras cidades que mudou para a cidade e optou pelo adobe por motivo estético ou para manter a arquitetura local; moradores locais, que após a valorização do material no povoado voltaram a reutilizá-lo.

Atualmente, existem em Bichinho três produtores de adobe, são responsáveis pela fabricação em toda a região. Com o valor turístico da técnica os produtores tornaram-se conhecidos e são contratados para fazer esse tipo de construção em outras cidades. Dois desses produtores se localizam no centro e um na zona rural. O primeiro a iniciar a produção de adobe para comercialização em Bichinho foi o Senhor Antenor Martins da Silva, ele produz adobe em um terreno em frente a sua residência. Senhor Antedor aprendeu a técnica com seu pai e ensinou ao seu filho Fernando José da Silva que segue a tradição da família produzindo adobe de forma artesanal em um terreno ao lado de sua casa, e também usando para seu sustento e de sua família a comercialização do tijolo em adobe. O outro produtor de adobe de Bichinho é o Senhor Luiz Fernando Moreira.

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É interessante observar que cada um deles, apensar de estar produzindo o mesmo tipo de material, o faz à sua maneira. O sr. Antenor utiliza a forma tradicional de amassar a terra com os pés e colocar nas formas no chão, já Fernando prefere utilizar uma mesa como apoio para as formas e o Senhor Luiz utiliza a pipa para amassar a terra.

Vale reforçar que o uso da técnica construtiva estava se perdendo, mas isso mudou quando a população percebeu o valor da identidade local e a chegada de Toti na cidade contribuiu para essa conscientização. Ao invés de “modernizar” como a maioria vinha fazendo, ele optou por retomar a arquitetura vernácula tradicional na cidade. “Ao mudar para uma casa antiga e simples de adobe, ele não só manteve todos os materiais, como também os admirava [...] ele acreditava naquela arquitetura.” Devido a sua influencia muitas pessoas passaram a reutilizar a técnica construtiva do adobe, de forma que de ultrapassada a técnica passou a ser retomada e “considerada como um patrimônio local”. (VALE, 2013, p. 62 e 63)

A Oficina de Agosto foi relevante para a reconstrução da paisagem cultural de Bichinho, pois o trabalho realizado por Toti foi baseado na educação cultural. Além de ensinar o artesanato e incentivar a preservação da arquitetura vernacular foi enfatizado para a população a necessidade de se preservar a cultura local e de como os valores e simbolismos representados na imagem urbana seriam um potencial para atrair os olhares para o distrito. A partir do momento em que houve a retomada da técnica do adobe, a maioria das construções voltou a utilizar o bloco de forma aparente. Esse quadro revela que a população aprovou o adobe como forma de identidade local. Tanto as residências como muitos estabelecimentos comerciais são construções em adobe o que forma a paisagem cultural do distrito.

A atuação da Oficina de Agosto valorizou as expressões artesanais, além de manter “um compromisso com a sustentabilidade social e ambiental”, contribuindo para que a comunidade local tenham melhores condições de vida. Atualmente a Oficina conta com aproximadamente 50 funcionários e uma média de 100 funcionários terceirizados. Possui ainda 10 crianças participando da oficina-escola em fase de aprendizado, recebendo tratamento dentário e bolsa-auxílio. (OFICINA DE AGOSTO, 2014)

Os principais produtos produzidos na Oficina são móveis - como criados mudos, mesas de jantar e aparadores, cadeiras e cômodas- e objetos de decoração, dentre os quais destacamos: painéis decorativos em madeira, esculturas, quadros, lembrancinhas (porta chaves, caixinhas de joias, bonecas de pano).

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Com lojas em São Paulo e Bichinho e revendedores espalhados por todo o país (Rio de Janeiro, Bahia, Natal, Santa Catarina, Belém do Pará) e fora do Brasil, (Bélgica, França, Alemanha, Miami, Carolina do Norte, Virgínia e Colômbia) Toti e Sônia estão dando a Bichinho visibilidade em larga escala .

Figura 4 – Loja em Vila Madalena (SP). Fonte: OFICINA DE AGOSTO, 2014.

São desenvolvidos diversos projetos de decoração para “hotéis, pousadas, bares, restaurantes, casas e outros ambientes”, entre esses projetos se destacam: Hotéis – Club Med (Trancoso BA), Club Med (Itaparica BA), Vila Bahia (Salvador BA), Minha louca paixão (Morro de São Paulo BA), Delfin (Guarujá SP), Camarões (RN); Restaurantes – Santa Gula (SP), Santa Pizza (SP), Frutaria São Paulo (SP), Dona Flor (SP), Praça São Lourenço (SP), Rede Rascal (SP e RJ), Churrascaria Barra Brasa (RJ). (OFICINA DE AGOSTO, 2014) Fica assim evidenciada a crescente visibilidade do Distrito alcançada por intermédio do projeto Oficina de Agosto, idealizado pelos irmãos Toti e Sônia. Além de serem revendidas dentro e fora do país, as obras produzidas na oficina são ainda divulgadas em diversas exposições. A Oficina além de ensinar um novo ofício aos moradores promove a educação cultural e patrimonial, ensinando a toda população a importância de se preservar o saber fazer local e as técnicas construtivas tradicionais.

Bichinho possui visão privilegiada da Serra de São José e está cercada por rica flora e fauna que proporcionam beleza excepcional ao pequeno distrito. Além da beleza natural, a rica produção de arte e artesanato e as construções em adobe que se tornaram protagonistas de

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sua paisagem, caracterizam uma paisagem cultural ornada de valores e simbolismos que encanta a todos que por ali passam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atuais concepções sobre o patrimônio tornaram possível o diálogo entre o natural e o cultural culminando numa valorização do ambiente como um todo e reforçando a interação humana com o seu habitat. No presente artigo foi caracterizada a paisagem cultural de Bichinho em Tiradentes/MG, onde por meio do uso da técnica construtiva em adobe, formou-se uma paisagem cultural.

A arquitetura vernacular representou para esse distrito a construção de sua identidade. A técnica do adobe utilizada e (re) utilizada assume valores tangíveis e intangíveis que foram (re) construídos a partir e uma conscientização de toda a população,com a colaboração da Oficina de Agosto. Através da arte, do incentivo a cultura, da conscientização do valor patrimonial das características locais e participação da comunidade, foi possível fortalecer a identidade de Bichinho e torna-la visível em âmbito internacional.

A história desse vilarejo evidencia a importância da valorização patrimonial das tradições locais e do valor cultural que a interação do homem com a natureza pode representar.

Referências

CASTRIOTA, L.B. 2009. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instrumentos. São Paulo: Annablume; Belo Horizonte: IEDS, 2009.

OFICINA DE AGOSTO. Disponível em: <http://www.oficinadeagosto.com.br/>. Acesso em: 11 de junho de 2014.

SANT’ANNA, Marcia. Arquitetura Popular: Espaços e Saberes. Politicas Culturais em Revista, 2(6), p. 40-63, 2013 – www.politicasculturaisemrevista.ufba.br.

FERREIRA, Thiago Lopes. Um olhar sobre os processos de produção das culturas construtivas tradicionais. Revista de pesquisa em Arquitetura e Urbanismo. Programa de pós graduação do instituto de arquitetura e urbanismo IAU – USP. P. 78 – 87. 2012.

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OLIVER, Paul. Encyclopedia of vernacular archutecture of the world. Cambridge university: New York, 1997.

RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem Cultural e Patrimônio. Série Pesquisas e Documentação, 1ª ed. Brasília: IPHAN: 2007.

VALE, Jaqueline Leite Ribeiro do. Técnicas vernaculares, preservação e sustentabilidade: um estudo de caso da técnica de adobe no distrito de Vitoriano Veloso (Bichinho), Prados, Minas Gerais. Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da Escola de Arquitetura da UFMG, como requisito para obtenção do título de Mestre em Arquitetura. Belo Horizonte. 2012.

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