• Nenhum resultado encontrado

Povos de pouco contato. Índios na/da cidade. Situação das Terras. Movimento indígena e Organizações Indígenas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Povos de pouco contato. Índios na/da cidade. Situação das Terras. Movimento indígena e Organizações Indígenas"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Cada tema o bloco de temas podem ter a seguinte estrutura: 1. Histórico e Situação atual.

2. Conquistas, Conflitos e Problemas.

3. Desafios e Propostas (curto, meio e longo prazo).

Introdução

O analises da situação atual dos índios da Amazônia Brasileira só pode ser compreendida a partir da história destes últimos cinco séculos... De 5 milhões no ano 1500 para apenas 200.000 na década de 1970...

Dados indígenas na amazônia (povos, línguas, números, mapa situacional, etc.)

Da diversidade de povos e situações que encontramos na região amazônica, simplificando para ajudar na compreensão dessa complexa realidade, podemos distinguir cinco realidades significativamente diferenciadas:

1. “Índios arredios”

2. Índios de pouco contato (após dos anos 50?) 3. Índios de longo contato

4. “Índios ressurgidos” (após constituição de 1988) 5. Índios “na” e “da” cidade

Índios Arredios

Hoje se estimam uns 40 grupos de índios “sem contato” com o mundo ocidental. Eles são remanescentes de povos que, vitimas da pressão e do avance violento de ocidente (madeireiras, frentes de colonização, garimpeiros e mineradoras, etc.), fugiram para o fundo das matas e as cabeceiras dos igarapés mais distantes, buscando um pouco de paz e tranqüilidade. Os levantamentos preliminares, feitos por sobrevôos, estimam que todos esses “grupos isolados” juntos somam entre 900 e 1000 índios.

- Possível localização com mapa...

Na política indigenista se tem conseguido avançar na idéia de que, fora de algumas situações críticas, é melhor não “forçar” o contato e sim demarcar e proteger as terras onde se localizam esses povos.

- Situação crítica de Rondônia e outras regiões...

As propostas mais acertadas apontam numa dupla direção. De um lado, facilitar, assegurar e proteger o espaço de reprodução sócio-cultural, demarcando as terras e implantando postos de vigilância e defesa das terras onde estes povos moram. De outro lado, se vê necessário poder dar tempo histórico para que estes povos e grupos possam fortalecer-se e assim, eles mesmos, levem a iniciativa de “entrar ou não entrar em contato”, quando, como e com quem queiram. Com isso se evitaria que continue o processo histórico de violência e extermínio destes povos, avançando, pelo contrario, no respeito de seus direitos e facilitando a possibilidade de que sejam, eles mesmos, quem decidam seu futuro como verdadeiros sujeitos de sua história.

(2)

Povos de pouco contato

Índios na/da cidade

Situação das Terras

Movimento indígena e Organizações Indígenas

Política indigenista, políticas públicas (são “diferenciadas”?)

Processo de municipalização e estadualização da questão indígena?

Os povos indígenas cada vez se sentem mais pressionados para se integrar na estrutura política e administrativa dos estados e municípios, desvinculando-se, na prática, do nível Federal que a Constituição define.

O caso do povo Sateré-Mawé, entre outros muitos, pode exemplificar esta problemática. Num encontro pedagógico dos professores Sateré-Mawé do rio Marau onde participaram vários tuxauas e outras lideranças do povo, foi levantada a questão:

“Nós, Sateré-Mawé, sendo um mesmo povo, estamos divididos por as instituições governamentais. Uns Sateré-Mawé dependemos do município de Maués (AM), outros do município de Barreirinha (AM). No rio Andira, a Secretaria de Educação de Barreirinha vai numa direção, no rio Marau, a Secretaria de Educação de Maués vai em outra direção. Nós ficamos divididos. Isso enfraquece o processo de educação de nosso povo... Por outro lado, cada vez que muda o grupo político que administra um desses municípios, tudo recomeça de novo. Uns professores são jogados para fora, entram outros e o que foi construído com muito esforço por uns é derrubado pelos outros... Além de nossas diferenças naturais, somos divididos politicamente, coisa que nos enfraquece muito. Ao final os prejudicados são nossas crianças e nosso povo. Os políticos não se prejudicam. Eles ganham encima da gente! Temos que unirmos forças e fortalecer nossa organização, independentemente do grupo político e da orientação pedagógica oficial que nos queiram impor. Só assim podemos continuar crescendo como povo e decidindo nosso próprio futuro. Só assim seremos fortes para falar, de igual para igual, com qualquer grupo político, administração municipal, OG, ONG ou igreja, que queira realmente somar com o caminhar de nosso povo, na busca dessa “Terra Sem Males” dos parentes guarani, com a que todos sonhamos.”

(3)

Rio Negro:

Os comerciantes que nos exploram!

“A gente trabalha no pesado. Os trabalhos da roça exigem muito da gente. E quando

vamos vender nossos produtos, ainda não pagam o nosso preço. O comerciante é

quem dá o preço. Um dia eu dei o meu preço e eles deram outro bem a baixo e então

eu respondi: eu vim aqui para vender e não pra dar de graça. Se fosse pra dar, eu

daria para os meus filhos que precisam”.

“Essa é uma das formas que os comerciantes encontram para enriquecer com o suor

dos índios, com o nosso suor”.

“Nós não temos quem fale a favor dos nossos direitos. Não temos cooperativas.

Nenhum órgão se preocupa com a situação em que vivemos”.

Os políticos mentirosos que nos dividem!

“Nós já estamos cansados de ser enganados por centenas de políticos mentirosos.

Eles chegam em nossas comunidades se fazendo de bonzinhos e só quando querem

nossos votos. Nós paramos nossos trabalhos só para atender eles. Prometem muitas

coisas boas. Mas depois quando nós precisamos deles, eles somem e se escondem da

gente, mandam dizer que não estão ou que estão ocupados. Não cumprem o que

prometem. Continuam mentindo e nós ainda caímos nas mentiras deles. Eles dividem

nossa comunidade”.

(4)

Estruturas do estado em relação aos índios (Órgãos: FUNAI, FUNASA...) Novas estruturas: “Distritos Indígenas”(?).

Divisão indígena nas aldeias: por religião, por política... Sustentabilidade e alternativas econômicas.

Onda neoliberal e globalização.

Fronteiras: Conflictividade das fronteiras (contrabando, drogas, narcotráfico, etc.) e os “povos rachados” pelas fronteiras

--- No dia 25, pela manhã, Tiago colocou uma camionete e um motorista a disposição para poder chegar no Uiramutã (a 70 Km de Maturuca) e encontrarmos com o Pe. Paul sj. Quando chegamos na comunidade, ele já estava na casa do tuxaua Orlando que foi busca-lo na comunidade de Karapã (Guiana), a uma hora e meia a pé. Um grupo de lideranças Makuxi da Guiana acompanhavam a Paul. Na casa de Orlando partilhamos a alegria do encontro, a palavra e o alimento. O caxiri de mandioca e de cará ajudou reparar nossas forças. Vários assuntos colocaram as lideranças e chamaram a atenção sobre os problemas que gera para eles a fronteira:

“Esse assunto de botar uma linha no mapa e dividir nosso povo é muito doido e engraçado... Isso só se lhes ocorre a vocês brancos. Eu com minha família moro aqui, minha irmã mora lá, nossos pais primeiro moravam lá, depois passaram morar aqui... Do lado daqui estão nossos parentes, do lado de lá estão nossos parentes... Nós, Makuxi, vamos e voltamos sem problema, pois são nossas terras, as terras tradicionais onde moraram e estão enterrados nossos antepassados, onde nós vivemos hoje e onde moraram para sempre nossos filhos e os filhos de nossos filhos. Cortar com uma linha que chamam fronteira nossa terra sagrada e dividir nosso povo, sem perguntar sequer a gente, é um assunto que dói e não podemos entender... Para nós é difícil entender vocês!” Assim comentava admirado um velho líder Makuxi que morava na beira do rio Mau, fronteira entre Brasil e Guiana.

De fato, essa é outra das feridas abertas e profundas pressentes nas regiões de fronteira da amazônia. Muitos povos indígenas das terras baixas de América, fugindo da pressão colonial de ontem e da pressão ocidental e neoliberal de hoje, ficaram acuados e imprensadas nas fronteiras, nos fundos das matas e nas cabeceiras dos igarapés, nos lugares mais distantes, onde fica mais difícil para os invasores brancos chegar. Por outro lado, quando os estados-nação são implantados na AL, os governos traçam linhas de fronteira sobre o papel dos mapas e dividem os povos pressentes nessas regiões, sem eles próprios saber nem serem consultados! Assim ocorre com os povos Makuxi, Wapixana, Ingariko, Yanomami, Bare, Baniwa, Tukano, Dessano, Tariano, Hupi, Kokama, Tikuna, Majuruna, etc. só por citar alguns dos povos divididos pelas “fronteiras” nesta região da Amazônia Brasileira (Estados de Roraima e Amazonas) limítrofe com Guiana, Venezuela, Colômbia e Peru.

(5)

Tecer uma rede a partir das fronteiras. Costurar as fronteiras.

As regiões de fronteiras, na Amazônia, são lugares estratégicos para a inserção de pequenas células de equipes itinerantes, que ajudem a compreender melhor as profundas feridas existentes nessas regiões assim como a “costurá-las”, criando redes de reflexão-ação entre as comunidades, grupos e instituições presentes a ambos lados das fronteiras.

A Amazônia é o lugar geopolítico mais estratégico e cobiçado do séc.XXI. A biodiversidade, engenharia genética, água, mineiros estratégicos, etc. serão disputadas pelas grandes potencias sem que os pequenos da região contem para nada. Em 20 ou 30 anos a Amazônia poderá ser um outro “Oriente Médio”. Temos que nos adiantar!

(6)

Militarização das áreas indígenas “Internacionalização da Amazônia” Guerrilha e “Plano Colômbia”

Fronteiras: (Raposa) As lideranças partilharam sobre toda a complexa realidade que viviam: nível de organização e ação política indígena (CIR) frente ás lutas pela terra; corrupção política na compra de votos e compra de apoio; garimpeiros e fazendeiros, problemas com os militares e o quartel do Uiramutã; bebida alcoólica, etc. Os parentes da Guiana falaram que em tempo de eleição, os políticos brasileiros vão a suas comunidades para comprar os votos dos indígenas e assim poder-se eleger nos municípios de Uiramutã e Mutú.

Militarização

A história dos povos indígenas do Brasil e da Amazônia é marcada pela violência da ação militar, responsável pelo extermínio de muitos povos e culturas.

Quando os primeiros portugueses chegaram em nestas terras, nossa população era de aproximadamente 5 milhões e, da Amazônia, era estimada entre 2 e 3 milhões. Éramos muita gente!

A ocupação do território brasileiro e da Amazônia foi feita, em grande parte, por invasões militares. Nós, índios, éramos exterminados ou escravizados como mão-de-obra. Nossas terras e riquezas, violentamente tomadas e exploradas. O processo de massacre e

genocídio de nossos povos foi tão grande que no ano de 1979, os indígenas do Brasil éramos pouco mais de 200 mil pessoas.

Na ditadura militar, queriam reduzir ainda mais nossa população: passar de 200 mil para 20 mil em dez anos, até chegar a nos integrar na sociedade nacional, para que antes do final do ano 2000 não tivesse nenhum de nós! Acabar com todos os índios do Brasil, era o projeto de Rangel Reis, ministro do interior da época.

(7)

Para alcançar esse objetivo, na década dos anos 1980 foi criado pelo governo federal, o Projeto Calha Norte. Ele tinha entre suas finalidades, ocupar as áreas de fronteira, construir unidades militares nessas regiões, combater o narcotráfico e impedir o avanço dos grupos guerrilheiros dos países vizinhos, levar assistência às comunidades do interior, entre outras. Atingido esse objetivo o governo promoveria a ocupação dessa parte da Amazônia trazendo pessoas de outras regiões do Brasil. Para o governo da época a Amazônia era um “enorme vazio demográfico”.

No projeto dos militares, nós povos indígenas não

existimos. É como se não morássemos nestas terras há uns 40 mil anos, antes da chegada dos europeus!

(8)

Com base na Doutrina da Segurança Nacional, o Governo Federal tentava justificar a militarização da fronteira da região Norte. Porém, o argumento de “defesa da pátria” não impediu a entrada de garimpeiros, madeireiras e empresas mineradoras que invadiram as terras indígenas destruindo o meio ambiente e provocando a morte de muitos indígenas. Assim aconteceu, por exemplo, com os parentes Yanomami que foram invadidos por milhares de garimpeiros na década de 1980.

Em 1990, foi criado pela Presidência da República o Projeto do Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Outro projeto de natureza militar e com impactos

diretos sobre as populações indígenas.

Com o projeto SIVAM o governo brasileiro terá o controle de toda a extensão territorial da Amazônia. Para realizar esse projeto é necessária a instalação de equipamentos militares em nossas terras indígenas.

A militarização das áreas indígenas está gerando muitos problemas. Em muitas áreas são instalados quartéis e há vários anos que o exército vem recrutando jovens indígenas para o serviço militar. Isso está fazendo nossas comunidades dependentes economicamente dos

militares. Também está provocando muitas mudanças no comportamento dos nossos jovens que, voltando do quartel, não respeitam mais seus pais e parentes, nem às autoridades tradicionais. Um outro fato muito forte é que as nossas mulheres são

constantemente vítimas de abuso e violência sexual dos militares. Assim acontece na terra indígena Yanomami, na região de Surucucus - Roraima, na terra indígena Makuxi “Raposa Serra do Sol”, no Uiramutã – Roraima, onde foram instalados quartéis militares.

Os militares invadem as malocas e abusam sexualmente das mulheres Yanomami. Desenhos dos Yanomami, Roraima

A terra indígena “Raposa Serra do Sol” (Roraima) é invadida pelos militares.

Desenhos dos Makuxi.

Garimpeiros invadem terras Yanomami. Desenhos feitos pelos Yanomami de Roraima.

(9)

Aqui, no Rio Negro, também temos os mesmos problemas com os militares. Na Vara de Justiça de São Gabriel da Cachoeira, hoje, tramitam mais de 300 ações reivindicando pensão alimentícia de mulheres que engravidaram de soldados. Apenas umas 34 dessas ações foram julgadas e tiveram parecer favoráveis às vítimas.

“Aqui, no Rio Negro nossas terras continuam invadidas pelos militares. Eles estão construindo, cada vez mais, quartéis dentro de nossas terras demarcadas: Pari-Cachoeira, Yauaretê, Cucuí, São Gabriel, Maturacá, etc.”

“Os militares têm violentado e engravidado muitas de nossas filhas. Eles fazem a sujeira e logo vão embora sem assumir seus filhos... Temos muitos casos destes.”

“Alguns pais pensam que ter filhos militares é uma boa coisa; mas não é não. Falo isso por experiência, um filho que serve o exército é capaz de matar o próprio pai. Nossos jovens ficam violentos e quando voltam em suas aldeias não respeitam seus pais, nem as lideranças. Dizem que sabem tudo. É muito triste viver isso. Algumas famílias acham bom seu filho ser militar porque recebem um salário. É verdade, mas é um dinheiro pouco e destrói esse filho indígena, fazendo ele negar seus valores culturais e até sua própria identidade.”

“Nós temos medo dos militares. Eles vivem sempre armados e protegidos. Como é que nós vamos enfrentar eles? Não temos a quem recorrer!”

O tuxaua Orlando colocou os problemas que o quartel construído na sua aldeia do Uiramutã está gerando:

Os índios não foram consultados para fazer os quartéis dentro das suas terras. Por isso, o quartel do Uiramutã nos não consideramos quartel. O quartel tem que sair de dentro de nossa área indígena Raposa Serra do Sol. O quartel já gerou muitos problemas para nós. Os militares não respeitam nossas autoridades tradicionais nem nossas costumes. Faze algumas semanas o tuxaua da comunidade de Laje teve que quebrar o arco nas costas de um sargento que queria fazer-se valente e passar sem pedir permissão por dentro de sua comunidade. Os militares também não respeitam nossas filhas... Quantos casos há de meninas indígenas engravidadas por militares que depois de fazer a sujeira vão embora sem assumir nada...

Por tudo isso o quartel do Uiramutã tem que sair de aqui. E nós vamos tomar conta das casas do quartel que já foram construídas. Casas que foram construídas com o dinheiro do povo e que por isso elas ficam para uso de nossa comunidade: escritórios, salões de encontro e reunião, etc.

Em todo canto é igual. Os quartéis e os militares nas áreas indígenas destroem nossos povos, valores culturais

e nossas tradições.

Os depoimentos dos parentes do Rio Negro são muito claros e fortes neste ponto.

(10)

Em toda a região de fronteira estão sendo instalados cada vez mais quartéis dentro das áreas indígenas muitas denuncias tem feito distintas lideranças indígenas sobre os problemas que geram os quartéis no meio dos povos indígenas. Assim o expressa Davi Kopenawa, famosa liderança Yanomami da região de Roraima:

“Em nossa terra indígena Yanomami tem vários quartéis. Em Surucucu, na fronteira com Venezuela, tem quartel e que está criando problemas. Em Aguaris tem quartel, em Maturaca tem quartel e todos estão criando problemas para nosso povo Yanomami. Nos Yanomami não queremos quartel na nossa terra. O quartel é coisa de branco, que façam na terra dos brancos. Nos estamos preocupados porque vai crescendo e crescendo outros quartéis na fronteira nas terras indígenas. Nos Yanomami estamos preocupados e revoltados por isso. Em Surucucu os militares fizeram quartel dizendo que era para vigiar e defender a fronteira. Eles levaram mais de 60 soldados e não levaram mulheres deles. Os soldados mexeram com nossas mulheres yanomami. Eles fizeram sujeira com nossas mulheres. Enganaram elas dando-lhes comida, oferecendo-lhes alguma coisa como faca, camisa ou sabão e depois fizeram filho nelas e as deixaram com doenças... Nós Yanomami estamos revoltados por isso. Mas isso não acontece só aqui na nossa terra Yanomami. Os militares estão acostumados a mexer e remexer com as índias do Brasil. Os abusos sexuais dos militares com índias acontecem em muitas áreas indígenas do Brasil.Que eles usem as mulheres deles e respeitem nossas mulheres!”

Em fevereiro deste ano, na 32o Assembléia Geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR) que reuniu a mais de 700 líderes indígenas de Roraima, foram levantadas muitas destas denuncias frente às autoridades civis e militares convidadas. A Dra. Débora da 6a. Câmara Federal, ouviu às denuncias feitas e respondeu aos apelos dos líderes indígenas:

“Não é a primeira vez que vocês estão denunciando estes fatos. Já faz tempo (anos) que as denuncias foram feitas e até agora não foram tomadas providencias. Vocês tem o direito de exigir que se faça justiça. Muitas das denuncias feitas por vocês mostram ações criminosas do Estado de Roraima e por isso, o Estado deve ser punido.”.

A posição anti-indígena de muitos dos governos estaduais e municipais da região amazônica, é outra das feridas abertas que sofrem os povos indígenas da região.

Por outro lado, o processo de militarização da amazônia nestes últimos anos é muito forte. Os militares se justificam argumentando os fortes problemas existentes nas fronteiras: narcotráfico, guerrilha, contrabando, biopirateria, mineiros estratégicos, etc. Nos últimos anos a tensão tem aumentado com o discurso gerado nos Estados Unidos de que “a Amazônia é patrimônio da Humanidade” e que tem que ser internacionalizada. Por outro lado, já são muitas as vozes que afirmam que em 20 ou 30 anos a amazônia sera o novo “Oriente Médio” sobre o qual todos os olhos das grandes potencias estarão voltados devido aos recursos existentes: biodiversidade, água potável, mineiros estratégicos, etc. O tema é profundamente complexo. As pequenas comunidades indígenas da região cada vez vivem mais as conseqüências do fogo cruzado dos grandes interesses mundiais. Conhecimentos, destruir nossas línguas e culturas para nos “desenvolver”.

(11)

Violência dos últimos tempos contra povos indígenas e seus aliados Povos indígenas:

Aliados:

No dia 04 de Março de 2000 as irmãs Edina e Sirley, junto com nove indígenas sofrem uma emboscada quando se dirigiam à maloca do Ananás, a uns 200 Km de Boa Vista. Edina nos comentou o fato:

“A Ir. Sirley e eu acompanhávamos uma comissão de líderes indígenas que iam na maloca Ananás para fazer uma reunião sobre o projeto do gado. A certa altura da longa estrada, percebemos que estávamos sendo seguidas por um gol. Mesmo assim, decidimos seguir a viagem. Quando chegamos na ponte do rio Ereu, tinha três carros fechando a saída da ponte e dois estacionados na entrada. Pedi a Ir. Sirley que não entrasse na ponte, mas já era tarde, estávamos em cima da ponte. Olhei pelo retrovisor e vi mais ou menos 30 homens saindo da mata em nossa direção, de ânimos alterados e armados com facões e pedaços de paus. Eles gritavam e falavam palavrões. Começaram balançar o carro ameaçando jogar-nos dentro do rio. Eram liderados por Luiz (apelidado ‘Laranjeira’), Hugo Cabral, Chico Bessa e Edir Coutinho. Uns queriam matar-nos, outros castigar-nos... Nosso silêncio fez com que os ânimos se acalmassem um pouco. Fomos obrigados a descer do carro e voltar a pé. O carro o jogaram no rio. Andamos cerca de 30 Km. a pé baixo um forte sol, com sede e fome. Ao longo do caminho eles continuaram nos perseguindo. Iam e vinham nos xingando, nos caçoando e tentando nos atropelar.”

A Polícia Federal abriu inquérito para apurar os fatos e a Anistia Internacional iniciou uma campanha em defesa das vítimas, contudo, depois de três anos o processo continua muito devagar. No dia 23 de Junho de 2002, a história se repete com a Ir. Antonia que viajava com um grupo de lideranças indígenas. Voltando de uma reunião sobre o projeto do gado na comunidade de Araçá, região de Amajari, são perseguidas por três camionetes ao longo de uns 200 Km até a cidade de Boa Vista. Depois de soltar a todas as lideranças indígenas e ficar sozinha no carro sofre uma emboscada em plena cidade e a menos de 5 minutos de sua casa. Assim ela lembra os fatos:

“Ao chegar no cruzamento da rua Deco Fontelles com a Av. Carlos Pereira de Melo e rua Soldado da PM Dejang da Silva, duas das camionetes que nos perseguiram fecharam a estrada na minha frente. Freie bruscamente e meu carro parou. Com a forte freada fiquei encostada por um instante sobre o volante. Quando me incorporei e olhe de novo, um homem assegurou-me pelo pescoço e encostou um revolver na minha cabeça dizendo: ‘Leve meu recado para o Artur’ (Frei franciscano que morreu em um obscuro acidente meses antes). Na outra janela do carro tinha outro homem que falou: ‘Ainda não é a hora’. Um terceiro homem ainda diz: ‘Desculpe senhora, foi um engano’. Logo, os homens sumiram... Tudo isso ocorreu a plena luz do dia, por volta das 13:45 h”.

Uma meia hora antes do fato, uma mulher ligou para a comunidade de Antonia dizendo:

“Não vá para o interior, tem gente esperando encima da ponte”. Assim repetiram por três vezes. Aldo foi assassinado em fevereiro de 2003 por mandato de um fazendeiro. Seu corpo foi tampado de qualquer modo. Os urubus denunciaram o cadáver que alguns dias depois foi encontrado por seus parentes makuxi. O laudo médico feito pelo IML (Instituto de Medicina Legal) de Roraima, declarou que a morte foi natural. A organização indígena CIR exigiu que o corpo fosse enviado para Brasília. O resultado dos dois laudos feitos em Brasília deu que a morte tinha sido por arma de fogo. Uma vez mais ficou claro o que já tinha sido denunciado em muitas oportunidades: a corrupção e a posição anti-indígena do Governo de Roraima.

(12)

Grandes projetos.

A BR 174 é o único acesso por terra que conecta regularmente Manaus (coração da Amazônia Brasileira) com outras regiões de Sul América, em concreto, com Venezuela e Guiana. A abertura da estrada nos anos 70, em plena ditadura militar, quase significou o extermínio dos povos indígenas Waimiri-Atroari. Em 3 anos de 4.000 indígenas sobraram apenas 1.000! Como continua acontecendo até hoje na Amazônia, o interesse econômico da sociedade ocidental em expansão, impõe seus grandes e lucrativos projetos (hidroelétricas, gasodutos, estradas, mineração, agroindústria, etc.), esmagando e exterminando todos aqueles que se interpõem em seu caminho, especialmente os pobres, excluídos e pequenos. Eles não são lucrativos!

Fazendeiros.

Assim nos contava Lavina, coordenadora da organização das mulheres makuxi da região:

“30 anos atrás a situação de nosso povo era muito sofrida. Éramos escravos dos brancos. Muitos fazendeiros e garimpeiros usavam os índios para trabalhar nas fazendas e nos garimpos, pagando-lhes com bebidas alcoólicas. Nossos homens não faziam mais roças, nem iam pescar. Só viviam bêbados e jogados no chão. Nas fazendas e garimpos tinha sempre muito forró (dança). Os brancos levavam nossas filhas para dançar e logo as engravidavam... Os brancos nos enganavam, nós aceitávamos tudo o que nos davam a troca das nossas meninas que levavam para suas festas. Naquela época o gado dos brancos invadia nossas roças. Os nossos roçados eram destruídos e passávamos fome. Tudo isso acontecia aqui. Esse foi durante anos nosso sofrimento”.

Garimpeiros e Mineradoras. Queimadas e deforestação. Bio-pirataria

Luta e resistência

Festa de Abril de 2003, no Uiramutã:

Também eram claras as expressões de esperança e confiança no novo Governo do Presidente Lula. Nas faixas, nas canções e nos discursos um só pedido ao Presidente Lula: “Homologação da terra indígena Raposa Serra do Sol”. Assim dizia o tuxaua Orlando de Uiramutã:

“Esperamos confiantes em Lula porque ao longo ultimas eleições em que ele se apresentou, a gente sempre trabalhou e votou acreditando nele. Por fim, hoje, conseguimos que Lula chegue a ser Presidente, o nosso Presidente que conduze o nosso Governo. Digo nosso Presidente e nosso Governo porque nós sempre tivemos essa grande fé em que Lula na frente do governo vai conseguir ajudar para libertar nosso povo da escravidão. Ate agora o Lula não se manifestou claramente sobre os povos indígenas... Nós estamos esperando que faça as mudanças que prometeu e que nós, os povos indígenas e os pobres do Brasil, temos apresentado para ele. Nos esperamos que seja um governo que ajude a construir com todos nós um novo Brasil. Nos esperamos que Lula não só apóie os povos indígenas senão a todos os povos do Brasil, aos pobres que vivem sem terra, sem casa, sem trabalho, sem nada nas cidades. Esperamos que Lula tenha animo e faça acontecer essa esperança que tem o povo que o apoio e ainda agora o apóia. Nos temos colocado nossa esperança no novo governo. Nós temos a grande fé que este vai ser um governo que vai libertar os pobres do Brasil da escravidão.”

(13)

Em fevereiro deste ano, Dom Jaime, Presidente da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB), visitou oficialmente a Igreja Católica de Roraima, para conhecer seus problemas e desafios. Dom Jaime visitou a comunidade de Maturuca, ouviu as denuncias apresentadas pelas lideranças indígenas e participou no lançamento da campanha “Nós Existimos”. Dias depois de sua visita a Roraima, Dom Jaime manifestou suas impressões:

“Fiquei impressionado com a realidade de Roraima. A Igreja de Roraima é uma Igreja Martirial! Como Igreja temos que fortalecer nosso compromisso e apoio a esta sofrida e violenta realidade”.

Referências

Documentos relacionados

63º Congresso Brasileiro de Coloproctologia - Brasília Setembro,

C/50., PASTA SUSPENSA ARQUIVO C/10, PINCEL ATOMICO, PINCEL ATOMICO VERMELHO, PORTA LAPIS /CLIPS/LEMBRETE., QUADRO BRANCO, PORTA CHAVE... LOPES

Fonte: Página de Posts do painel administrativo do Portal do Sinajuve (BRASIL, 2021b, on-line). Na imagem, é possível observar que o post Padrão

Os Awá são um povo indígena que habita uma região conhecida como pré-amazônia maranhense, na fronteira entre os estados do Pará e Maranhão – Brasil, em três terras

2º  As instituições nanceiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil devem observar as disposições desta Resolução como condição para

Os Povos Indígenas têm determinadas características que as Comunidades Locais podem não ter, incluindo algumas de grande significado para a conservação da biodiversidade, tal como

A pessoa jurídica habilitada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) como beneficiária do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de

O ano de 2013 iniciou com seu mais recente trabalho, “Los Momentos”, que antes mesmo de ser lançado já havia proporcionado a Julieta uma turnê pela Espanha e Suíça no mês