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FACULDADE TECSOMA Curso Biomedicina. Daiana Cássia Sapata

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Daiana Cássia Sapata

AVALIAÇÃO DA INTOXICAÇÃO CAUSADA POR EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL DE TRABALHADORES RURAIS AOS AGROTÓXICOS

AGRÍCOLAS INIBIDORES DAS COLINESTERASES: Organofosforados e carbamatos

Paracatu – MG 2012

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AVALIAÇÃO DA INTOXICAÇÃO CAUSADA POR EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL DE TRABALHADORES RURAIS AOS AGROTÓXICOS

AGRÍCOLAS INIBIDORES DAS COLINESTERASES: Organofosforados e carbamatos

Monografia apresentada ao Curso de Biomedicina da Faculdade TECSOMA, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Biomedicina.

Orientador temático: MSc. Márden Mattos Junior Co-orientador temático: MSc. Cláudia Peres da Silva Orientador Metodológico: Geraldo Benedito Batista de Oliveira

Paracatu – MG 2012

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Sapata, Daiana Cássia

S237p Avaliação da intoxicação causada por exposição ocupacional de trabalhadores rurais aos agrotóxicos agrícolas inibidores das colinesterases: organofosforados e carbamatos. / Daiana Cássia Sapata. Paracatu, 2012.

82f.

Orientador: Marden Estevão Mattos Júnior

Monografia (Graduação) – Faculdade Tecsoma, Curso de Bacharel em Biomedicina.

1. Agrotóxicos. 2. Intoxicação. 3. Exposição ocupacional. 4. Trabalhador rural I. Mattos Júnior, Marden Estevão. II. Faculdade Tecsoma. III. Título.

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AVALIAÇÃO DA INTOXICAÇÃO CAUSADA POR EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL DE TRABALHADORES RURAIS AOS AGROTÓXICOS

AGRÍCOLAS INIBIDORES DAS COLINESTERASES: Organofosforados e carbamatos

Monografia apresentada ao Curso de Biomedicina da Faculdade TECSOMA, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Biomedicina.

________________________________________

MSc. Cláudia Peres da Silva (Coordenador do curso de Biomedicina) – Faculdade TECSOMA

_________________________________________

MSc. Márden Mattos Junior (Orientador Temático) – Faculdade TECSOMA

_________________________________________

Geraldo Benedito Batista de Oliveira (Orientador metodológico) – Faculdade TECSOMA

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A meus pais, aos meus amigos e ao meu namorado pelo carinho, apoio e incentivo.

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Agradeço primeiramente a Deus, por sempre me manter de pé diante de todas as situações e obstáculos difíceis que tive que enfrentar ao longo desta caminhada.

Sou grata a meus pais pela dedicação, carinho e esforço para me proporcionar uma formação acadêmica, sem dúvida foram fundamentais para meu bom desempenho durante o curso e pela pessoa que sou.

A meu namorado Anderson A. Rezende, por sua atenção, carinho, pelos momentos de alegria, estímulo e apoio para a realização deste trabalho.

Aos grandes amigos que fiz nessa caminhada, Marcos Alan, Marco Antônio, Ueliton Ribeiro, Douglas Gabriel e Amanda Ramos; pessoas que sempre me apoiaram e me ajudaram a crescer como pessoa e como acadêmica e que vão sempre ter um lugar reservado no meu coração.

À pessoa que me espelhei durante o curso, minha querida ex-coordenadora Camila Enriques Coelho, obrigada pelos incentivos, pelos ensinamentos acadêmicos e pelo belo exemplo de profissional.

Agradeço também a todos os ex-professores e supervisores de estágio, em especial a professora Rita de Cássia Medeiros e Flávio Maia, obrigada pelo empenho, dedicação e paciência em me passar seus conhecimentos.

Em fim agradeço a coordenadora do curso de Biomedicina Cláudia Peres, pelo carinho, atenção e ajuda, e ao meu orientador Márden Mattos Júnior pela orientação e pelos valiosos ensinamentos.

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O objetivo deste estudo foi explorar e discutir a respeito da intoxicação causada por exposição ocupacional de trabalhadores rurais aos agrotóxicos agrícolas organofosforados e carbamatos e a influência destes agentes sobre as colinesterases plasmática e eritrocitária. O estudo foi realizado através de uma revisão sistemática da literatura, por meio de busca eletrônica de artigos científicos brasileiros publicados nos últimos 12 anos sobre o tema na base de dados do Scielo. O estudo foi complementado com livros e sites oficiais de sistemas, sindicatos e órgão públicos que possuíam informações sobre o referido tema da pesquisa. A exposição ocupacional de trabalhadores rurais é um grave problema de saúde pública principalmente nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, devido ao número elevado de casos como também pela subnotificação desses eventos. A maioria dos casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola esta relacionada aos produtos organofosforados e carbamatos pertencentes à classe dos inseticidas. Esses produtos são conhecidos pela sua ação anticolinesterásica. As intoxicações ocupacionais ocorrem principalmente pelas vias dérmica e respiratória, sendo que as manifestações clínicas são características da hiperestimulação colinérgica proveniente do acúmulo de acetilcolina na fenda sináptica. O diagnóstico é realizado com base na clínica do paciente como também pela análise das dosagens das colinesterases plasmática ou eritrocitária de pré-exposição e durante a manifestação dos sintomas de intoxicação por organofosforados e carbamatos. O tratamento consiste na realização de medidas de ordem geral e específica.

Palavras chave: Agrotóxicos. Carbamatos. Defensivo agrícola. Colinesterase. Organofosforados.

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The objective of this study was to explore and discuss about the toxicity caused by occupational exposure of workers to the rural agricultural pesticides organophosphates and carbamates and the influence of these agents on plasma and erythrocyte cholinesterase. The study was conducted through a systematic literature through electronic search of Brazilian scientific papers published in the last 12 years on the subject in the Scielo database. The study was complemented with books and official websites of systems, unions and public agencies that had information on that topic of research. Occupational exposure of farm workers is a serious public health problem mainly in developing countries, including Brazil, due to the high number of cases as well as the underreporting of these events. Most cases of poisoning by agricultural pesticides is related to products belonging to the organophosphate and carbamates class of insecticides. These products are known for their anticholinesterase action. The occupational exposures occur mainly by dermal and respiratory routes, and the clinical manifestations are characteristic of cholinergic overstimulation from the accumulation of acetylcholine in the synaptic cleft. The diagnosis is made based on the clinical as well as the analysis of measurements of plasma and erythrocyte cholinesterase pre-exposure and during the onset of symptoms of poisoning by organophosphates and carbamates. The treatment consists in carrying out measures of general and specific.

Descriptors: Pesticides. Carbamates. Pesticide. Cholinesterase. Organophosphates.

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FIGURA 1 – Estrutura química geral dos inseticidas organofosforados ... 23

FIGURA 2 – Estrutura química geral dos inseticidas carbamatos ... 24

FIGURA 3 – Transmissão do impulso Nervoso pela Acetilcolina ... 26

FIGURA 4 – Síntese e hidrólise da Acetilcolina ... 26

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GRÁFICO 1 – Comparação do número total de casos de intoxicação por

agrotóxicos de uso agrícola com o número de casos por causa ocupacional por agrotóxicos de uso agrícola, ocorridos durante os anos de 2000 a 2009 ... 36

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Ach – Acetilcolina

AChE – Acetilcolinesterase ALT – Alanina aminotransferase

ANVISA – Agencia Nacional de Vigilância Sanitária AST – Aspartato aminotransferase

BU-ChE – butirilcolinesterase

CIATs – Centros de Informação e Assistência Toxicológica EPI – Equipamento de Segurança Individual

FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária

NR – Normas Regulamentadoras OF – Organofosforados

OMS – Organização Mundial da Saúde PND – Plano Nacional do Desenvolvimento

PNDA – Programa Nacional de Defensivos Agrícolas

RENACIAT – Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica

Scielo – Scientific Eletronic Online

SINAN – Sistema de Informações de Doenças de Notificação Compulsória SINDAG – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas

SNA – Sistema Nervoso Autônomo SNC – Sistema Nervoso Central

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1 INTRODUÇÃO ... .13

1.3 Objetivos ... 14

1.3.1 Objetivo Geral ... 14

1.3.2 Objetivos Específicos ... 14

2 METODOLOGIA ... 15

3 ABORDAGEM GERAL AOS AGROTÓXICOS ... 16

3.1 Histórico dos agrotóxicos no Brasil ... 17

3.2 Inseticida agrícola ... 19 4 COLINESTERASES ... 20 4.1 Acetilcolinesterase ... 20 4.2 Butirilcolinesterase ... 20 5 COMPOSTOS ANTICOLINESTERÁSICOS ... 22 5.1 Organofosforados ... 22 5.2 Carbamatos ... 24

5.3 Mecanismos de inibição das colinesterases ... 25

5.4 Acetilcolina ... 25

6 TOXICOCINÉTICA DOS ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS ... 27

6.1 Absorção ... 27 6.2 Biotransformação e distribuição ... 27 6.3 Eliminação ... 28 7 TOXICODINÂMICA ... 29 8 TIPOS DE EXPOSIÇÃO ... 31 8.1 Exposição direta ... 31 8.2 Exposição indireta ... 31 8.3 Exposição Ocupacional ... 32 9 INTOXICAÇÃO ... 33 9.1 Intoxicação aguda ... 34 9.2 Intoxicação Crônica ... 35

10 SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO E REGISTRO DE INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS ... 36

10.1 Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas ... 37

10.2 Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica ... 38

10.3 Sistema de Informação de Agravos de Notificação ... 38

11 SUBNOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE INTOXICAÇÃO OCUPACIONAL .. 39

12 MEDIDAS DE PROTEÇÃO ... 40

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14 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ... 43

14.1 Propedêutica ... 43

14.2 Manifestações Muscarínicas ... 44

14.3 Manifestações Nicotínicas ... 44

14.4 Manifestações no Sistema Nervoso Central ... 44

14.5. Manifestações tardias ... 45

14.5.1 Síndrome intermediária ... 45

14.5.2 Polineuropatia tardia ... 46

14.5.3 Neuropatia periférica tardia ... 46

15 DIAGNÓSTICO ... 48

15.1 Exames laboratoriais específicos ... 49

15.1.1 Dosagem da colinesterase eritrocitária ... 50

15.1.2 Dosagem da colinesterase plasmática ... 50

15.1.2.1 Fatores limitantes da Colinesterase sérica ... 51

15.1.3 Cromatografia de Camada Delgada e gasosa ... 51

15.2 Outros exames ... 52 15.2.1 Achados laboratoriais ... 52 16 TRATAMENTO ... 53 16.1 Tratamento geral ... 53 16.2 Tratamento específico ... 53 16.2.1 Atropina ... 53 16.2.2 Oximas ... 54 17 CONCLUSÃO ... 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 57 APÊNDICES ... 62

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1 INTRODUÇÃO

De acordo com o último recenseamento nacional (Censo Demográfico 2000-2010) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possuía uma população equivalente de 190.732.694 indivíduos, sendo que a população rural correspondia a 29.852.986 habitantes. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012).

O risco de um morador da zona rural se intoxicar com agrotóxicos agrícolas é 3,9 vezes maior do que uma pessoa que reside na zona urbana. (BOCHNER, 2007). Dessa forma a atividade laboral do homem do campo, que lida com agrotóxicos de uso agrícola, tem trazido grandes preocupações, em grande parte devido aos números elevados de casos relatados, aos diversos efeitos sob a saúde, como também pelo grande número de fatores envolvidos na subnotificação desses eventos. Estima-se que para cada caso de intoxicação por agrotóxico notificado, haja outros 50 não notificados. Contudo este problema de saúde pública tem afetado principalmente os países em desenvolvimento. Espera-se que anualmente ocorram cerca de 70 mil casos de intoxicações agudas e crônicas fatais. Sendo que os casos não fatais podem ser ainda maiores. (REBELO et al., 2011).

Os agrotóxicos podem ser subdivididos em classes: dos inseticidas, dos herbicidas, dos fungicidas e dos raticidas e em outras classes menores. (ABIFINA, 2012; ANDEF, 2012; OGA, 2003). Sendo que os herbicidas lideram como os produtos químicos mais comercializados para fins agrícolas, com 48% do mercado, seguido pelos inseticidas (25%) e pelos fungicidas (22%), os 5% restante referem-se à venda de nematicidas, acaricidas, rodenticidas e moluscidas, formicidas, reguladores e inibidores de crescimento. (LONDRES, 2011). Porém cabe ressaltar que os inseticidas detêm maior toxicidade que as classes dos herbicidas que lideram as vendas. (SILVA et al., 2001).

A grande maioria dos casos de intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola estão relacionados com contato com a classe dos inseticidas. Os principais agentes causais são os produtos químicos anticolinesterase: organofosforados (OF) e os carbamatos. (RECENA; CALDAS, 2008; OLIVEIRA, BURIOLA, 2009).

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relevância social e atual, justifica-se a realização deste trabalho tendo em vista a necessidade de avaliar, através de uma revisão sistemática da literatura, a influência da exposição ocupacional a esses produtos sobre a saúde dos trabalhadores rurais, como também avaliar os efeitos causados pela inibição das colinesterases nesta população. Sendo de vital importância identificar, diagnosticar, tratar, prevenir, compreender e intervir de formar correta sobre esses efeitos, já que ocorre grandes subnotificações desse tipo de intoxicação devido à falta de conhecimento sobre o assunto.

1.3 Objetivos

Os objetivos propostos para esse trabalho científico estão dispostos a seguir:

1.3.1 Objetivo Geral

Explorar e discutir a respeito da intoxicação causada por exposição ocupacional de trabalhadores rurais aos agrotóxicos agrícolas organofosforados e carbamatos e a influência destes agentes, sobre as colinesterases plasmática e eritrocitária.

1.3.2 Objetivos Específicos

O presente trabalho teve como objetivos específicos:

 Determinar quais são os critérios empregados atualmente para a realização do diagnóstico das intoxicações ocupacionais causadas pelos inseticidas de uso agrícolas já mencionados;

 Identificar os principais fatores relacionados aos casos de intoxicação ocupacional causada pelos agrotóxicos agrícolas inibidores das colinesterases;

 Avaliar as consequências da exposição ocupacional a esses produtos químicos à saúde dos trabalhadores rurais.

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2 METODOLOGIA

Este trabalho de revisão sistemática da literatura foi realizado por meio de um levantamento bibliográfico através de pesquisa de artigos científicos em português pertinentes ao assunto abordado na pesquisa, sendo acessados eletronicamente nas bases de dados do Scielo (Scientific Eletronic Library On Line), assim como capítulos de livros. Este estudo foi complementado com uma busca eletrônica nas páginas oficiais dos seguintes órgãos e instituições: IBGE, SINITOX, SINAN, ANDEF, ABIFINA, Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG) e IMA. Foram analisados estudos publicados durante os anos de 2000 a 2012.

A pesquisa avaliou e selecionou apenas os artigos, os capítulos de livros e texto de páginas eletrônicas oficiais dos órgãos e instituições públicas já relatadas, que possuíam título, resumo ou corpo textual de acordo com os objetivos propostos pelo presente estudo.

A pesquisa foi realizada por meio dos seguintes descritores: agrotóxico, organofosforados, carbamatos, colinesterase e defensivo agrícola. Foram excluídos da pesquisa os estudos que se encontraram duplicados nas bases de dados do Scielo e os que não compreendiam o período de publicação proposto pela pesquisa. Também foram excluídos da revisão, estudos cujo enfoque estava voltado à exposição indireta, aos resíduos de pesticidas na dieta brasileira e estudos não relacionados à intoxicação ocupacional de trabalhadores rurais. Foi incluso na pesquisa estudos relacionados à intoxicação causada por exposição ocupacional de trabalhadores rurais aos agrotóxicos agrícolas, estudos relacionados às características físico-químicas dos agrotóxicos OF e carbamatos, que relataram a utilização da dosagem da enzima acetilcolinesterase e colinesterase plasmática para o diagnóstico dos agrotóxicos OF e carbamatos e estudos que foram publicados durante os anos de 2000 á 2012. O trabalho foi estruturado por 32 artigos e 12 livros, foram selecionados 20 artigos para a realização das fichas bibliográficas.

Adotou-se o sistema do Microsoft Word Starter 2010 para a escrita e revisão do texto.

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3 ABORDAGEM GERAL AOS AGROTÓXICOS

De acordo com a legislação brasileira, atualmente utiliza-se o termo “agrotóxico” para se referir aos venenos agrícolas, embora alguns autores ainda façam uso dos termos “praguicidas e pesticidas” para se referirem a esses produtos. (OGA, 2003; SIQUEIRA; KRUSE, 2008). Porém segundo a Associação Brasileira das Indústrias Fina Biotecnologia e suas especialidades (ABIFINA) o emprego do termo “agrotóxico” é utilizado preconceituosamente e foi definido de forma equivocada pela legislação do Brasil. (ABIFINA, 2012).

Os agrotóxicos agrícolas são definidos como produtos químicos que possuem uma grande variedade de substâncias químicas. (OGA, 2003). Contudo para Bedor e colaboradores (2009, p.40), “os agrotóxicos representam um grupo heterogêneo de compostos com variadas estruturas químicas e com diferentes toxicidades.”. Essas substâncias químicas são utilizadas com o intuito de prevenir, repelir, controlar, destruir ou exterminar qualquer praga agrícola que venha trazer prejuízo à agricultura. (HOSHINO et al., 2008; JOBIM et al., 2010; OGA, 2003; PERES et al., 2005; VEIGA, 2007).

De acordo com seus efeitos agudos e toxicidade, os agrotóxicos foram classificados pela Agência Nacional De Vigilância Sanitária (ANVISA) em quatro classes, que são representados na rotulagem da embalagem da seguinte forma: classe I, extremamente tóxico (faixa vermelha), classe II, altamente tóxico (faixa amarela), classe III, moderadamente tóxico (Faixa azul) e classe IV, pouco tóxico (faixa verde). (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007; GARCIA; BUSSACOS; FISCHER; 2005; LONDRES, 2011).

Cabe ressaltar que a classificação toxicológica de um produto, apenas tem haver com quem o manuseia, refletindo a toxicidade aguda. Essa determinação não se relaciona com a exposição em longo prazo, ou seja, não indica os riscos de doenças de longa evolução, como também com a segurança do meio ambiente. (ANDEF, 2012; FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007).

As “plantações” do meio rural tem se tornado cada vez mais dependente dos agrotóxicos, de modo que o pensamento que se tem, é que a produção de grãos só se torna viável e lucrativa mediante a utilização dessas substâncias, tornando assim o sistema produtivo altamente dependente dos agrotóxicos.

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(VEIGA, 2007). Esse cenário tem sido observado desde a década de 70, onde se iniciou o determinismo agroquímico. (PERES et al., 2005).

Este pensamento se deve ao incentivo para a aplicação de um número grande e variado dessas substâncias, para assim atender a demanda de produção de alimentos. (KORBES, et al., 2010). Dessa forma o trabalhador rural esta ficando cada vez mais subordinado e refém das variações do mercado, isso devido a grande quantidade de produtos disponíveis. (JACOBSON et al., 2009).

A dependência da aplicação de agrotóxicos no meio rural é relatada em vários estudos. Veiga (2007, p.148), afirma que “para a maioria dos produtores e trabalhadores rurais, uma cultura agrícola sem a presença de agrotóxicos não seria uma alternativa viável.”.

Contudo o emprego dos agrotóxicos nas “lavouras” tem seu lado positivo, pois possibilitam o aumento da produtividade agrícola como também a redução com perdas, através do combate de pragas. Porém o fato negativo deve-se ao uso indiscriminado dessas substâncias químicas no meio rural, provocado graves consequências socioeconômicas. (LIMA et al., 2009; VEIGA, 2007). Isso porque há um acometimento tanto do meio ambiente, como também da saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores. Esse quadro tem sido observado e estudado principalmente em países em desenvolvimento, como o Brasil. (HOSHINO et al., 2009; KORBES et al., 2010; RECENA; CALDAS, 2000).

3.1 Histórico dos agrotóxicos no Brasil

A utilização de agrotóxico em grande escala no Brasil teve início por volta da década de 70 devido ao forte incentivo das políticas de estado. (ARAÚJO et al., 2007; SILVA et al., 2005; SOUZA et al., 2011). Nesta época o setor agrícola ainda era regulamentado pelo Decreto número (n°) 24.114, criado em 1934, ano que os produtos organossintéticos ainda não haviam sido descobertos. (GARCIA; BUSSACOS; FISCHER, 2005; KORBES et al., 2010; SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005).

Ainda nos anos 70 foi implantado o Plano Nacional do Desenvolvimento (PND), que incluiu os agrotóxicos nos financiamentos agrícolas. Porém havia

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uma obrigatoriedade de cota destinada para a compra desses produtos em troca do crédito rural. (ARAÚJO et al., 2007; JOBIM et al., 2010; SILVA et al., 2005). Essa política foi reforçada em 1975 com Programa Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA), dessa forma os agrotóxicos passaram a fazer parte da rotina do trabalhador rural. (MOISÉS et al., 2011; SILVA et al., 2005; SOUZA et al., 2011). Segundo Veiga (2007. p.146), “cerca de 12 milhões de trabalhadores rurais seriam expostos diariamente aos agrotóxicos.”.

Devido a estes fatores, somados a falta de uma legislação nacional de âmbito específico para uso dos agrotóxicos, foi promulgada em 1989, uma Lei Federal (nº 7.802), que foi regulamentada pelo Decreto (n° 98.816), entrando em vigor no ano de 1990. Lei esta, que ficou conhecida como “Lei dos Agrotóxicos”. (GARCIA; BUSSACOS; FISCHER, 2005; KORBES et al., 2010; SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005).

A utilização de agrotóxicos no mundo é intensa, sendo que 30% do consumo geral de agrotóxicos se dão nos países em desenvolvimento. O Brasil se destaca em relação ao consumismo individual, liderando o ranking dos países latinos americanos, consumindo cerca de 50% dos agrotóxicos utilizados por esses Países. (FARIA; ROSA; FACCHINI, 2009; JOBIM et al., 2010; KORBES et al., 2010; SILVA et al., 2011; SOUZA et al., 2011). Cabe ressaltar que o Brasil se tornou em 2009, o líder mundial de consumo de agrotóxico. (LONDRES, 2011; MOISÉS et al., 2011). Isso se deve ao salto nas vendas durante a ultima década, passando de um pouco mais de UR$ 2 bilhões para mais de 7 bilhões. No ano de 2009 foi aplicado nas lavouras brasileiras mais de 1 milhão de toneladas de agrotóxicos. (LONDRES, 2011). A venda de agrotóxicos no ano de 2011 no Brasil, teve números mais expressivos chegando ao valor de US$ 8,5 bilhões, cerca de 16,3% a mais do que as de 2010. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012).

O aumento da demanda provocou uma superprodução dessas substâncias, onde se estimam em média uma produção de 250 mil toneladas de agrotóxicos por ano no Brasil. (JOBIM et al., 2010). Devido esses altos valores, a venda desses produtos passou a influenciar de forma significativa na economia do país. Atualmente o Brasil representa o terceiro maior mercado desses produtos. (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007; SOUZA et al., 2011). Para a Associação Nacional de Defesa Vegetal (ANDEF) as vendas de agrotóxicos

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têm sido impulsionadas devido o controle eficiente de pragas e doenças. A ANDEF, afirma que sem o aumento das vendas, a agricultura brasileira, não seria um dos esteios da economia no país, e dificilmente se destacaria a nível mundial. (ANDEF, 2011).

3.2 Inseticidas agrícolas

Os inseticidas agrícolas compreendem uma classe de agrotóxicos amplamente utilizados para o combate de larvas e insetos das áreas urbanas e principalmente de áreas rurais. São classificados em grupos químicos distintos, dentre eles os carbamatos, organoclorados, organofosforados e peritroídes. (OGA, 2003; SIQUEIRA; KRUSE, 2008).

Conforme relatou Hoshino e outros (2008, p. 914), “entre os inseticidas agrícolas, os de maior utilização na agricultura estão os grupos dos organofosforados e os carbamatos substâncias conhecidas por suas propriedades anticolinesterásicas.”. Estes dois grupos de inseticidas foram criados para interagirem com a acetilcolinesterase (AChE) dos insetos, causando a inibição dessa enzima, acometendo assim sistema nervoso dos insetos. (SANTOS; DONNICI, 2007).

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4 COLINESTERASES

As colinesterases fazem parte de um grupo de enzimas chamadas B-esterases, enzimas estas que possuem a capacidade de hidrolisar ésteres de colina, como acetilcolina (Ach). As principais enzimas desse grupo são: a acetilcolinesterase e a butirilcolinesterase (BU-ChE). (BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008; OGA, 2003; SILVA, 2010).

4.1 Acetilcolinesterase

Existem várias terminologias para se referir à enzima acetilcolinesterase, dentre elas, pode-se citar a acetilidrolase, ou ainda, colinesterase específica, eritrocitária, verdadeira e colina esterase I. A produção desta enzima se dá na eritropoese, dessa forma sua renovação ocorre à medida que são produzidos novos eritrócitos, em tempo médio de aproximadamente 120 dias. A AChE pode ser encontrada no tecido nervoso, na junção neuromuscular e na membrana das hemácias, nos pulmões, no baço. (BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008; CALDAS, 2000; OGA, 2003; SILVA, 2010; SOARES; ALMEIDA; MORO, 2003).

4.2 Butirilcolinesterase

Já a enzima butirilcolinesterase pode ser chamada de colinesterase inespecífica, plasmática ou sérica. Em outros termos, esta enzima é reconhecida como: pseudocolinesterase, acilidrolase, acilcolina e colina esterase II. A BU-ChE é produzida a nível hepático com renovação em torno de 30 a 60 dias. Pode ser encontrada, principalmente no plasma e em órgãos como: fígado, pâncreas, coração, mucosa intestinal e em pequenas quantidades nas células glia. (BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008; MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003; SILVA, 2010). A função fisiológica desta enzima ainda não é bem conhecida, mas provavelmente esta relacionada à hidrólise de ésteres provenientes de alimentos de origem vegetal. (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006).

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moleculares semelhantes, porém diferem-se na sua distribuição, na função e na especificidade para substratos. (RANG et al., 2007). Segundo Brunton, Lazo e Parker (2006), a colinesterase eritrocitária e plasmática pode ser tipicamente diferenciada por suas taxa relativas de hidrólise da acetilcolina e da butirilcolina, e pelo efeito de inibidores seletivos. Sendo a maior parte dos efeitos dos agentes anticolinesterase são decorrente da inativação da AChE.

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5 COMPOSTOS ANTICOLINESTERÁSICOS

Segundo Hoshino e colaboradores (2009), os compostos anticolinesterásicos são um dos grupos de produtos químicos mais utilizados, sobretudo, na agricultura. Possuem a capacidade de inibição enzimática, tendo como alvo as colinesterases, ou seja, alteram a função das colinesterases plasmática e eritrocitária. (OLIVEIRA; BURIOLA, 2009). Estes compostos são responsáveis pelo maior número de casos de intoxicações leves e graves relatados no meio rural. (HOSHINO et al., 2008; MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003; SILVA et al., 2001).

Os compostos anticolinesterase de maior foco comercial são os organofosforados (OF) e carbamatos. Essas substâncias químicas possuem mecanismo de ação semelhante, pois agem comprometendo a neurotransmissão, porém se diferenciam em suas composições químicas, bem como na estabilidade dos compostos formados com as colinesterases já mencionadas acima. (OGA, 2003).

Os inseticidas OF e carbamatos são conhecidos pelo seu efeito anticolinesterásico, por competirem com o sítio ativo da acetilcolinesterase, ocorrendo assim a inibição dessa enzima, que deveria hidrolisar a acetilcolina. Essa inibição provoca o acúmulo deste neurotransmissor nas sinapses nervosas e nas junções mioneurais, prolongando assim a atividade desse mediador químico junto aos seus receptores muscarínicos e nicotínicos. (BRUNTON; LAZO; PARKER, 2006; HENY, 2008; KORBES et al., 2010; SILVA, 2010). Primeiro ocorre à estimulação dos receptores muscarínicos com posterior depressão ou paralisia dos receptores nicotínicos. Essas substâncias também podem ser chamadas de agentes colinérgicos, pois aumentam os efeitos mediados pela acetilcolina no sistema nervoso central e/ou periférico. (BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008).

5.1 Organofosforados

Em 1937, Shrader descobriu as propriedades inseticidas dos organofosforados. A partir da década de 50, estes produtos químicos passaram a ter maior seletividade contra os insetos e consequentemente maior

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potencial anticolinesterásico, devido à sintetização de novas formulações, destacando-se os compostos heterocíclicos, aromáticos e naftilcarbamatos. A fórmula geral dos OF pode ser observada na figura 1. (OGA, 2003).

Figura 1 – Estrutura química geral dos inseticidas organofosforados

Fonte: BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008, p. 614

Já nos anos 70 estes produtos passaram a serem produzidos em grande escala, assumindo a liderança no mercado mundial, como os produtos agrícolas mais utilizados. (ARAÚJO et al., 2007; OGA, 2003).

Os organofosforados são substâncias químicas com grande potencial lipossolúvel. (OGA, 2003; SILVA, 2010). Apresentam ação residual relativamente baixa, são poucos estáveis quando dissolvidos em água e por isso apresentam meia-vida limitada no meio ambiente e sua acumulação em seres vivos é de fato limitada. (KATZUNG, 2005; SANTOS; DONNICI, 2007). Estes produtos são formulados a partir de ésteres amido ou tiol, que se derivam dos ácidos fosfóricos, fosfônicos, fosforotióico e fosfonotióicos. (SANTOS; DONNICI, 2007; HENRY, 2008; OGA, 2003).

Atualmente existem no mercado cerca de 200 substâncias diferentes sintetizadas e comercializadas em milhares de marcas. (OGA, 2003).

Mesmo após o conhecimento de sua toxicidade para o ser humano, os organofosforados continuam sendo amplamente utilizados na agricultura mundial, com destaque para os países em desenvolvimento. Esses produtos são enfatizados em estudos, devido sua capacidade biológica de causar inibição das colinesterases e pelo seu variado grau de toxicidade ao ser humano. (KORBES et al., 2010).

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O Brasil apresenta um índice consideravelmente alto de intoxicações por agrotóxicos do grupo dos organofosforados, apesar da redução de sua utilização em relação à década de 80. (KORBES et al., 2010). Mesmo após esta redução, esses agrotóxicos ainda são responsáveis pelo maior número de casos relatados de intoxicações agudas e mortes, decorrentes da exposição na atividade laboral. (BEDOR et al., 2009).

5.2 Carbamatos

Em 1930 foi sintetizado o primeiro inseticida carbamato. Porém o interesse pelo uso dessa classe como inseticida somente se deu na década de 50. (MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003). Esse grupo químico é derivado do ácido N-metil-carbâmico e dos ácidos tiocarbamatos e ditiocarbamatos. Porém somente o ácido N-metil-carbâmico é considerado uma substância anticolinesterase. (OGA, 2003). A estrutura química geral dos carbamatos pode ser observada na figura 2.

Figura 2 – Estrutura química geral dos inseticidas carbamatos

Fonte: BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008, p.614

Estes produtos químicos possuem baixa pressão de vapor, são apolares, e detém pouca solubilidade em água, porém são mais estáveis em meio aquoso. São muito solúveis em solventes orgânicos como o metanol e a acetona. (OGA, 2003; SILVA, 2010).

Os carbamatos causam inibição reversível devido à carbamilação das colinesterases, dessa forma também podem causar intoxicação. A sintomatologia se assemelha a apresentada pelos compostos

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organofosforados, porém se dá de forma menos intensa e de menor duração. Atualmente existem mais de 25 substâncias sintetizadas e comercializadas por diversas empresas no mundo todo. (OGA, 2003).

5.3 Mecanismos de inibição das colinesterases

Os compostos anticolinesterase agem provocando a inibição das colinesterases e tem como alvo principal a AChE, que resulta no acúmulo de acetilcolina nas terminações nervosas. O acúmulo deste mediador químico na fenda sináptica pode levar a uma síndrome aguda colinérgica, devido à permanência do estímulo elétrico no nervo, podendo acarretar em um bloqueio dos receptores nicotínicos. (HOSHINO et al., 2008; PIRES; CALDAS; RECENA, 2005). Isso ocorre, pois em condições normais, esta enzima deveria hidrolisar a acetilcolina em colina e em ácido acético. (OGA, 2003).

5.4 Acetilcolina

Acetilcolina é um neurotransmissor sintetizado nos neurônios a partir da acetilcoenzima A e da colina. Esse mediador químico é extremamente importante para os seres humanos, pois auxilia na transmissão do impulso nervoso em todas as fibras pré-ganglionares do Sistema Nervoso Autônomo (SNA), como também, em todas as fibras parassimpáticas pós-ganglionares e em algumas fibras simpáticas pós-ganglionares. A Ach também é um mediador neuro-humoral do nervo motor do músculo estriado (placa mioneural) e de algumas sinapses interneuronais do sistema nervoso central (SNC). (CALDAS, 2000; HENRY, 2008; OGA, 2003).

Esse neurotransmissor também esta presente nos insetos, transmitindo impulsos nervosos. Por isso que os inseticidas anticolinesterase têm como alvo esta enzima, pois assim eles provocam a inibição da acetilcolinesterase, logo então ocorrere à paralisia e morte dos insetos. (SANTOS; DONNICI, 2007).

Todavia, a transmissão sináptica só ocorre quando a Ach é liberada na fenda sináptica e se liga aos receptores colinérgicos, assim é gerado um potencial pós-sináptico, ocorrendo assim à propagação do impulso nervoso. Dessa forma quando ocorre à inibição da colinesterase eritrocitária por ação

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dos agrotóxicos organofosforados e carbamatos, este mediador químico passa a acumular na fenda sináptica, provocando um quadro de hiperestimulação colinérgica. (CALDAS, 2000; OGA, 2003). Os mecanismos de transmissão sináptica pela acetilcolina é demonstrado na figura 3.

Figura 3 – Transmissão do impulso Nervoso pela Acetilcolina

Fonte: CALDAS, 2000, p.13

Em condições normais a acetilcolina liga-se a AChE e é hidrolisada, liberando a colina. Em uma segunda etapa a ligação covalente da acetilenzima é clivada produzindo o ácido acético. Tanto a colina como o ácido acético podem ser reutilizados para a síntese de novas moléculas de acetilcolina. (CALDAS, 2000; KATZUNG, 2005; OGA, 2003). Esse mecanismo limita a duração da ação desse mediador químico, possibilitando que a função sináptica se dê normalmente. (BURTIS; ASHWOOD; BRUNS, 2008; SILVA, 2010). A síntese e hidrólise da acetilcolina são demonstradas na figura 4.

Figura 4 – Síntese e hidrólise da Acetilcolina

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6 TOXICOCINÉTICA DOS ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATOS

A toxicocinética refere-se aos processos de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação. (OGA, 2003).

6.1 Absorção

A forma de absorção dos agrotóxicos pelo organismo exposto é um dos fatores que influenciam diretamente nos efeitos clínicos. (VEIGA, 2007). Dessa forma os inseticidas organofosforados e carbamatos podem ser absorvidos pela via cutânea, pelas vias áreas e pela via gastrointestinal. (CALDAS, 2000; JACOBSON et al., 2009; KORBES et al., 2010; MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003; VEIGA, 2007). Os OF também podem ser absorvidos pela conjuntiva o que o torna mais perigoso para os seres humanos. (KATZUNG, 2005).

A intoxicação ocupacional de trabalhadores rurais, esta relacionada à exposição da via dérmica, responsável pelo maior número de casos e pela via respiratória, que tende ocasionar uma sintomatologia mais precoce. Normalmente a via gastrointestinal só esta relacionada a casos de suicídio ou de ingestão acidental. (CALDAS, 2000; JACOBSON et al., 2009; OGA, 2003; TÁCIO; OLIVEIRA, NETO, 2008). A absorção pela via dérmica pode ser facilitada por exposições sem os devidos cuidados, sendo agravada quando o contato acontece sob temperaturas elevadas e/ou na presença de lesões na pele. (CALDAS, 2000; OGA, 2003).

6.2 Biotransformação e distribuição

Normalmente após a etapa de absorção, os organofosforados e carbamatos são biotransformados, ou seja, são transformados em produtos menores, mais polares e de menor toxicidade para o organismo, assim de acordo com suas características são prontamente distribuídos para os tecidos. O principal órgão envolvido na etapa de biotransformação é o fígado. (CALDAS, 2000; MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003).

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gerados pela biotransformação se distribuem rapidamente para todos os tecidos, sendo que os compostos de caráter lipofílicos podem alcançar níveis significativos no tecido nervoso como também em tecidos ricos em lipídio.

Os organofosforados podem sofrer o ataque de diversas enzimas em vários sítios de ligações da molécula, mas a sua toxicidade esta relacionada com a forma que ocorre sua biotransformação, podendo ocorrer tanto ativação (oxidação do grupo P=S a P=O), como inativação (redução), desses produtos. As reações de biotransformação podem ocorrer por meio de oxidações bioquímicas, que envolve reações de dessulfuração gerando produtos de maior toxicidade para os humanos e para os insetos, isso devido à transformação da ligação P=S (tion) em P=O, formando os “OXON”. Porém esses metabólitos podem ser rapidamente hidrolisados pelas hidrolases nos humanos. Outras reações são as: desalquilação e desarilação oxidativa, hidrólise, clivagem hidrolítica e redução. (CALDAS, 2000; MOREAU; SIQUEIRA, 2011; OGA, 2003).

As reações de biotransformação dos carbamatos se assemelham as do OF, havendo também ataque em vários pontos da molécula. Isso ocorre de acordo com o tipo de radical acoplado na estrutura básica. As principais reações são a hidrólise do grupo éster-carbâmico, oxidação, redução por meio do sistema citocromo P-450, hidroxilação do grupamento metil, hidroxilação do anel aromático, demetilação e conjugação. Alguns carbamatos fazem uso das vias metabólicas do tipo monoxigenases FAD-dependentes, que os degradam rapidamente em oximas, sulfóxido, sulfo e acetonitrilas e CO2. (CALDAS, 2000;

OGA, 2003).

6.3 Eliminação

Após 48 horas cerca de 80 a 90% de agrotóxicos absorvidos pelo organismo são eliminados principalmente pela urina e pelas fezes, sendo que uma porção bem pequena dessas substâncias e de seus metabólitos é eliminada sem qualquer modificação na urina. A eliminação também pode ser dar por via biliar, nesse caso ocorre à circulação entero-hepática que tende a prolongar os sintomas clínicos. (CALDAS, 2000; OGA, 2003).

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7 TOXICODINÂMICA

Os OF e os carbamatos agem causando a inibição das enzimas do grupo B-esterásico, tendo como alvo primário a acetilcolinesterase, onde a butirilcolinesterase também é inibida. Através desta inibição ocorre um aumento a acetilcolina endógena nos receptores colinérgicos. (KATZUNG, 2005). Isso porque não ocorre a hidrólise da acetilcolina, o que culmina no acúmulo desse mediador químico nas terminações nervosas, permitindo assim, a ação mais intensa e prolongada desse neurotransmissor nos sítios colinérgicos, pois a estimulação em nível de membrana pós-sináptica não para, causando uma hiperestimulação colinérgica. (CALDAS, 2000; HOSHINO et al., 2008; OGA, 2003).

As colinesterases possuem um centro ativo composto por um sítio aniônico e por um sítio esterásico, para se ligar a Ach e assim inativá-la. Porém compostos anticolinesterase como os OF e carbamatos podem se ligar ao sítio esterásico dessas enzimas inativando-as, o que diferencia entre a ligação desses compostos é o tipo de ligação que estes fazem com a enzima (fosforilação em OF ou carbamilição em carbamatos). (CALDAS, 2000).

O fósforo presente na estrutura química dos OF se liga por ligação covalente a molécula de AChE. Esta ligação é muito estável, e dessa forma a hidrólise espontânea ocorre de forma lenta ou pode não ocorrer, provocando um comprometimento permanente na acetilcolinesterase que não irá se regenerar mais, uma vez que não ocorre regeneração sem hidrólise. A inibição prolongada das colinesterases provoca um acometimento de seus grupos básicos, causando a perda de grupamentos alquila, gerando assim uma enzima fosforilada bem mais estável, o que dificulta a hidrólise entre o agrotóxico e a estas enzimas. Esse processo culmina no envelhecimento da enzima, que não pode mais ser recuperada por reativadores, que não conseguem mais clivar a ligação fósforo-enzima, por esse motivo estes compostos são ditos inibidores irreversíveis da colinesterase. (CALDAS, 2000; KATZUNG, 2005; OGA, 2003).

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Os OF se unem somente no sítio esterásico, onde o fósforo forma uma união covalente e estável, dando lugar ao ácido éster-fosfórico (enzima fosforilada). Na presença de alguns inibidores este ácido é hidrolisado lentamente, levando dias ou semanas e, com outros compostos, a reação de esterificação é virtualmente irreversível, podendo durar meses, sendo determinada pelo tempo requerido para a síntese de novas moléculas de acetilcolinesterase. (OGA, 2003, p. 442).

Os compostos carbamatos são compostos ditos inibidores reversíveis, pois reagem com a AChE, mas são rapidamente hidrolisados. Dessa forma causam inibição da enzima, mas o processo se reverte rapidamente devido à reativação que ocorre de forma rápida e espontânea. (MENDES, 2005; OGA, 2003).

Este processo ocorre, primeiramente, formando um complexo reversível carbamato-acetilcolinesterase, seguido da reação de carbamilação irreversível da enzima, e, finalmente, a descarbamilação, por hidrolise, sendo liberada a acetilcolinesterase original e o carbamato fica dividido e sem atividade anticolinesterase. (OGA, 2003).

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8 TIPOS DE EXPOSIÇÃO

Um indivíduo pode estar exposto de forma direta e/ou indiretamente aos agrotóxicos agrícolas, de modo que esta exposição pode ocorrer por meio de forma alimentar, ambiental e principalmente de forma ocupacional que é o interesse de estudo deste trabalho. (HOSHINO et al., 2009; SOUZA et al., 2011). Segundo Peres e outros (2005), os processos pelos quais os seres humanos se expõem aos agrotóxicos de uso agrícolas, são verdadeiros mistérios, pelo fato desta exposição estar relacionada a múltiplos fatores.

8.1 Exposição direta

A exposição direta pode ocorrer mediante o contado direto do trabalhador com os agentes causais, como também pelo contato com produtos ou até mesmo o ambiente contaminado por agrotóxicos. Dessa forma a exposição pode ocorrer durante as etapas de produção industrial e na atividade laboral no campo, sendo que os trabalhadores rurais estão expostos diretamente aos agrotóxicos agrícolas nas etapas de manipulação e aplicação desses produtos. (PERES et al., 2005; SIQUEIRA; KRUSE, 2008). O relato de casos de pessoas expostas diretamente por agrotóxicos de uso agrícola no meio rural tem se dado cada vez mais. (JOBIM et al., 2010).

8.2 Exposição indireta

Assim como o trabalhador rural pode estar exposto de forma direta aos agrotóxicos, este mesmo indivíduo pode se expor indiretamente a esses produtos químicos. Normalmente este tipo de exposição esta relacionada com a contaminação ambiental e/ou de alimentos. A contaminação ambiental ocorre devido à dispersão/distribuição de partículas de agrotóxicos no meio ambiente, acometendo principalmente a biota de áreas próximas as lavouras agrícolas. Já a contaminação alimentar deve-se a ingestão de alimentos contaminados direta ou indiretamente por agrotóxicos, nesses dois casos a contaminação não se restringe ao homem do campo. (MOREIRA et al., 2002; PERES et al., 2005; SOUZA et al., 2011).

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8.3 Exposição Ocupacional

Caracteriza-se como exposição ocupacional aquela que ocorre durante a manipulação dessas substâncias químicas por agricultores. (HOSHINO et al., 2009; SOUZA et al., 2011).

Atualmente a exposição ocupacional de trabalhadores rurais é um dos principais problemas de saúde pública do meio rural brasileiro, devido ao relato crescente dos efeitos prejudiciais a saúde. Isso deve a multiexposição do trabalhador rural, o que torna difícil a caracterização do agente causal responsável pela intoxicação desse grupo populacional, durante a jornada de trabalho nas “lavouras” brasileiras. (SOUZA et al., 2011). A elevada utilização desses produtos no meio rural contribui de forma significativa para o aumento das intoxicações ocupacionais. (KORBES et al., 2010). Nesse contexto cabe ressaltar que os indivíduos que realizam a etapa de produção industrial e/ou aplicação desses produtos tem chance maiores de contaminação. (JOBIM et al., 2010).

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9 INTOXICAÇÃO

A intoxicação causada pela exposição a agrotóxicos é projeto de estudo de inúmeros trabalhos científicos no Brasil. (BRITO; GOMIDE; CÂMARA, 2009). Isso se deve ao fato das exposições aos agrotóxicos serem responsáveis por grande parte dos casos de intoxicações agudas e crônicas no meio rural, devido o uso indiscriminado e incorreto dessas substâncias. Em termos gerais, as intoxicações por esses produtos apresentam relação direta entre o tipo de agente causador, características físico-química dessas substâncias, a maneira, o tempo e a frequência que se dá a exposição do trabalhador rural. (FONSECA et al., 2007; KORBES et al., 2010; SOUZA et al., 2011).

Segundo Bochner (2007), os efeitos dos agrotóxicos podem se dar de forma aguda ou crônica.

9.1 Intoxicação aguda

A Organização Mundial da Saúde (OMS) possui critérios para a identificação de quadros de intoxicação aguda por exposição a agrotóxicos. Dessa forma refere-se ao quadro de intoxicação aguda qualquer patologia ou efeito sobre a saúde, causada por uma exposição suspeita ou confirmada de agrotóxicos, sendo que a mesma deve ocorrer dentro de 48 horas. (FARIA; ROSA; FACCHINI, 2009). Em outras palavras intoxicação aguda é aquela em que as manifestações clínicas se iniciam rapidamente, seja em minutos, horas ou dias, onde a exposição ocorreu por curtos períodos, em doses elevadas de produtos com certo grau de toxicidade. (LONDRES, 2011). Os sintomas apresentados nesse caso podem ser locais ou de ordem sistêmica, podendo ter comprometimento dos sistemas, respiratórios, cardiovascular, endócrino e urinário. (FARIA; ROSA; FACCHINI, 2009).

Contudo os efeitos de intoxicação aguda por inibidores das colinesterases apresentam um quadro clínico característico de hiperestimulação colinérgica. (CALDAS, 2000). Podendo ocorrer de forma leve, moderada ou grave, dependendo da dose de agrotóxico absorvida. (LONDRES, 2011).

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9.2 Intoxicação Crônica

A intoxicação crônica caracteriza-se por relato de aparecimento de efeitos tardios, ou seja, aqueles que ocorrem após certo tempo de exposição, podendo ocorrer semanas, meses ou até mesmo anos após o período de uso/contato com o agente causal. (BOCHNER, 2007; VEIGA, 2007). Normalmente estes casos estão relacionados a exposições pequenas ou moderadas a um ou inúmeros agrotóxicos. (LONDRES, 2011).

Apesar de a manifestação clínica ser tardia, isso não implica que os efeitos não sejam graves, muitos danos são irreparáveis e podem culminar no afastamento permanente do trabalhador. (BEDOR et al., 2009). Alguns estudos reforçam a tese de que a exposição crônica pode ocasionar comprometimento na fertilidade, no sistema imunológico, provocar danos neurológicos como também aumentar a suscetibilidade de neoplasia. (BRITO et al., 2009; JOBIM et al., 2010; LONDRES, 2011). Segundo a literatura este tipo de exposição também pode estar envolvido no desenvolvimento de sintomas de depressão, que podem estar relacionados aos suicídios por uso de agrotóxicos agrícolas. (KORBES et al., 2010).

No entanto, as intoxicações crônicas necessitam de uma atenção médica ainda maior para o seu diagnóstico, o que envolveria um raciocínio clínico-epidemiológico mais atento, especialmente envolvendo profissionais da rede básica de saúde e especialistas, tais como dermatologistas, neurologistas, imunologistas, cancerologistas, gastrenterologistas, nefrologistas e pediatras. (BEDOR et al., 2009, p.46).

Assim como é difícil realizar a diagnóstico clínico, também é difícil identificar o produto químico causador da intoxicação nesses casos. (VEIGA, 2007). A deficiência de estudos realizados para a avaliação dos fatores de risco envolvidos no desenvolvimento dos efeitos crônicos sob a saúde do trabalhador rural justifica a dificuldade de identificação dos casos e dos produtos envolvidos, assim como a falta de programas específicos para a prevenção deste problema em longo prazo. (JOBIM et al., 2010).

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10 SISTEMAS DE NOTIFICAÇÃO E REGISTRO DE INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS

Segundo Londres (2011, p. 34), “existe no Brasil não um, mas uma série de sistemas de notificação e registro que, entre outros, reúnem e sistematizam dados sobre intoxicações provocadas por agrotóxicos no país.”.

Os principais sistemas de registros de intoxicações por agrotóxicos são o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), a Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENANCIT) e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007).

10.1 Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

Em 1980 foi criado no Brasil o SINITOX, sistema vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), para registrar todos os casos de intoxicação e envenenamento causados por exposição a remédios, animais peçonhentos, produtos de uso domissanitário, e por agrotóxicos, que são divididos em: agrotóxicos de uso agrícola, doméstico, veterinário e raticida. Compete ao SINITOX, coletar, realizar a compilação, análise e divulgação de todos os casos de intoxicação, como de envenenamento registrados conforme a Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT). Porém os dados são enviados pelos Centros de Informação e Assistência Toxicológica – (CIATs) ao SINITOX de forma voluntária. (BOCHNER, 2007; LONDRES, 2011; REBELO et al., 2011).

No Brasil, uma revisão da série histórica de casos registrados de intoxicação humana ocupacional por agrotóxicos de uso agrícolas, a partir das estatísticas anuais, registrada pelo SINITOX, totalizou durante os anos de 2000 a 2009, 15.491 casos de intoxicação aguda ocupacional. (SINITOX, 2012). A verificação da distribuição anual desses casos pode ser observada no Gráfico 1.

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Gráfico 1 – Comparação do número total de casos de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola com o número de casos por causa ocupacional por agrotóxicos de uso agrícola,

ocorridos durante os anos de 2000 a 2009.

Fonte: Criado pelo autor com dados extraídos de SINITOX, 2012

Segundo a previsão de subnotificação dos casos de intoxicação ocupacional por agrotóxico, para cada caso registrado, há outros 50 não notificados. (REBELO et al., 2011). Dessa forma para dimensionar o número de casos não notificados, deve-se multiplicar o número de casos ocorridos (15.491), por 50, fator de correção usado pelo Ministério da Saúde (MS). (PERES et al., 2005). Sendo assim os valores durante os anos de 2000 a 2009, chegariam ao valor de 774.550 casos de intoxicação aguda durante esse período por agrotóxicos de uso agrícola. No SINITOX não há registros de intoxicação crônica, contudo segundo a literatura estima-se que ocorra cerca de 8 casos de intoxicação crônica para cada caso de intoxicação aguda registrado. Desta forma, seguindo esta estimativa, pode-se supor que haveria ocorrido nesse período 123.928 casos de intoxicação crônica ocupacional durante os anos de 2000 a 2009, por agrotóxicos de uso agrícola. (BEDOR et al., 2009).

O SINITOX não fornece a classe dos produtos envolvidos nos casos de intoxicação por agrotóxicos registrados, não sendo possível estabelecer o número de casos referentes à exposição ocupacional aos agrotóxicos de uso agrícolas organofosforados e carbamatos. (SINITOX, 2012).

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10.2 Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica

O RENACIAT é composto por 35 postos, os CIATs que estão espalhados em 18 estados do Brasil e no Distrito Federal, como pode ser observado no Mapa 1. Tem por finalidade disponibilizar dados e informações sobre o diagnóstico, o prognóstico, tratamento e prevenção das intoxicações. Compete a essa rede informar sobre a toxicidade dos produtos químicos e biológicos e os riscos envolvidos á saúde humana, bem como prestar atendimento direto ao paciente, orientar profissionais da saúde e todos que precisam atender pessoas intoxicadas por produtos químicos. (BOCHNER, 2007; LONDRES, 2011; REBELO et al., 2011).

Mapa 1 – Distribuição dos CIATs nas Regiões Brasileiras

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10.3 Sistema de Informação de Agravos de Notificação

O SINAN é um sistema criado para reunir dados e informações sobre doenças e agravos de notificação compulsória. Atualmente as intoxicações por agrotóxicos passaram a fazer parte da lista de agravos registrados por este sistema. (FARIA; FASSA; FACCHINI, 2007). Porém este sistema só registra casos confirmados de intoxicação por agrotóxicos. (LONDRES, 2011).

A utilização efetiva do SINAN possibilita que seja obtido um diagnóstico dinâmico da ocorrência de um evento na população. Fornecendo meios para explicar as causa dos agravos de notificação compulsória, como também indicar os riscos em que a população esta exposta, dessa forma este sistema contribui para a identificação da real condição epidemiológica de uma dada população. (SINAN, 2012).

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11 SUBNOTIFICAÇÃO DOS CASOS DE INTOXICAÇÃO OCUPACIONAL

Conforme relatou Londres (2011), existe um ponto comum entre todos os sistemas de registro de intoxicação por agrotóxico; a grande subnotificação desses eventos.

Segundo Berdor e colaboradores (2009), a subnotificação dos casos devem-se a não procura do trabalhador rural com sinais e sintomas de intoxicação a rede de saúde, ao pouco conhecimento das equipes de saúde para identificar os sinais e sintomas apresentados pelo paciente, principalmente nos casos crônicos onde grandes partes esses eventos são confundidos com outras patologias gerando diagnósticos errados e por fim a falta de registro e/ou notificação desses casos aos sistemas de notificações.

Já para Bochner (2007), a subnotificação dos casos de intoxicação por agrotóxicos agrícolas deve-se ao fato do envio dos dados recolhidos pelos CIATs serem enviados de forma voluntária ao SINITOX, dessa forma ocorre um desencontro de informações gerando dados estatísticos irregulares e ao número insuficiente e a distribuição irregular dos CIATs que não cobrem todas as regiões brasileiras. O fator mais preocupante refere-se à notificação aos CIATs serem também de forma voluntária, dependendo da procura da pessoa exposta ou de seus familiares, como também de profissionais da área da saúde. Vale ressaltar que a grande maioria dos casos registrados principalmente pelo SINITOX deve-se a quadros de intoxicações agudas e não crônicas. Isso decorre do modelo de funcionamento dos CIATs, que se especializaram para realizar atendimentos de urgências graves, dessa forma a maioria dos casos registrados no SINITOX referem-se à tentativa de suicídios por ingestão de agrotóxicos de uso agrícola e não de intoxicação aguda ocupacional. (LONDRES, 2011).

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12 MEDIDAS DE PROTEÇÃO

Para reduzir as incidências dos agrotóxicos sob os trabalhadores rurais, foi criada uma série de medidas para proteger a saúde dessa população. Incluem nessas medidas, ações para minimizar o contado do agrotóxico com as chamadas vias de absorção do corpo do trabalhador. Uma das ações mais eficazes é a utilização de Equipamentos Proteção Individual (EPI), que são equipamentos específicos para a proteção do corpo, que visam diminuir a absorção dérmica e respiratória. (TÁCIO; OLIVEIRA; NETO, 2008). Outras medidas eficientes para a redução da exposição ocupacional devem-se as mudanças comportamentais nos procedimentos de armazenagem, manuseio, aplicação e descarte de embalagens dos agrotóxicos. (RECENA; CALDAS, 2008).

12.1 Equipamentos de proteção individual

Segundo o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), (2012) a utilização do EPI é obrigatória durante o uso/contato com agrotóxicos. O equipamento de proteção individual é composto por óculos ou viseira, máscara protetora de filtro com carvão ativado, protetor para a cabeça (chapéu), camisa de mangas compridas e calças de algodão hidro-repelente (macacão), avental protetor, luva impermeáveis e botas especiais para lidar com agrotóxicos. (ANDREI, 2009; IMA, 2012; SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005). Segundo estudos, esses equipamentos podem reduzir de forma significativa à exposição, porém são incapazes de eliminá-la. (SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005).

O uso dos óculos, macacão, máscara, não usar diariamente a mesma roupa de aplicação e dar destino corretos as embalagens, reduzem o risco de intoxicação em 56, 14, 83, 78 e 14% respectivamente. (SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005).

Segundo Brito, Gomide e Câmara (2009), o trabalhador rural que lida diretamente com agrotóxico agrícola têm na maioria das vezes consciências da importância da utilização do EPI, porém não seguem “a risco” as recomendações para a utilização desses equipamentos.

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“Apesar de entenderem o risco da exposição, parece não ser este risco considerado ao lidarem com o agrotóxico.”. (BRITO; GOMIDE; CÂMARA, 2009, p. 219). Os principais relatos do não uso desses equipamentos referem-se ao desconforto durante o uso, alto custo para a aquisição dos EPI’s e até mesmo a questões culturais. (BRITO; GOMIDE; CÂMARA, 2009).

Estudos científicos realizados pelo Brasil têm comprovado a não utilização dos EPIs por parte dos trabalhadores rurais, como foi relatado por Delgado e Paumgartten (2004), onde 92% dos trabalhadores rurais entrevistados em 55 lavouras do Município de Paty do Alferes - Rio de Janeiro relataram não fazer uso dos equipamentos de proteção individual, nas etapas de manipulação e aplicação dos agrotóxicos. Os principais relatos do não uso neste estudo foram: falta de costume (29%), desconforto dos EPIs (22%), por serem “quentes” (18%), por dificultarem a realização do trabalho (16%), e por fim por serem caros (16%). (DELGADO; PAUMGARTTEN, 2004).

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13 FATORES DE RISCO

São fatores que podem de alguma forma propiciar ou aumentar o risco de intoxicação, devem-se à condições inseguras criadas no trabalho rural. (SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005). Os principais fatores referem-se: a não utilização dos equipamentos de proteção individual, o baixo nível escolar o que dificulta o entendimento da rotulagem propiciando o aumento de condições inseguras na atividade laboral e a baixa condição socioeconômica. (SOARES; FREITAS; COUTINHO, 2005; VEIGA, 2007).

Outros fatores envolvidos estão relacionados ao tipo de equipamento utilizado para a pulverização, a quantidade de aplicação por safra, às condições climáticas, a falta de assistência técnica no momento da compra, não emissão de receituário agronômico, ao controle ineficiente sobre a produção, distribuição e utilização dos agrotóxicos por parte de órgãos competentes. (HOSHINO et al., 2008; HOSHINO et al., 2009).

Cabe ressaltar que esses problemas são ainda maiores nas propriedades de pequeno porte, onde nota-se um agravamento nas condições de trabalho decorrentes das precárias condições sanitárias e de infraestruturas, onde se observa uma proximidade das moradias ás áreas “plantadas”. Outro fator agravante enfrentado por essa população é a deficiência nos sistema de saúde local. (VEIGA, 2007).

Grande parte desses fatores foi comprovada no estudo realizado por Soares e colaboradores (2005), no município de Teresópolis, onde foi detectado um risco de intoxicação 57% maior em indivíduos com baixa escolaridade em relação ao grupo que possuía pelo menos o segundo grau completo. Nesse mesmo grupo verificou-se que dos indivíduos que relataram não fazer uso dos EPI’s, havia um risco 193% maior do que os que faziam uso de pelo menos um dos equipamentos de proteção. Sendo que as chances de intoxicação desses indivíduos que não faziam uso devido ao calor, aumentava para 535% em relação aos que não faziam uso por outro motivo. Outros fatores de risco relatado neste trabalho foi o uso de aplicadores costais, que aumentavam as chances de intoxicação em 16%. Nesse mesmo estudo foi relatado que quanto maior o número de aplicações de agrotóxicos da classe dos inseticidas por safra, maior probabilidade de danos nos olhos e na pele.

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14 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

As manifestações clínicas são decorrentes da ação deletéria dos agrotóxicos no organismo e normalmente se iniciam após um comprometimento maior ou igual a 50% do pool da acetilcolinesterase. (MENDES, 2005). Dessa forma, o paciente pode apresentar efeitos muscarínicos, nicotínicos e em nível de SNC, isso de acordo com o agente causal, via de exposição, dose absorvida, dentre outros fatores. (MENDES, 2005; OLIVEIRA; BURIOLA, 2009). Hoshino e colaboradores (2009), relataram à ocorrência de efeitos ototóxicos sobre o sistema auditivo e vestibular, possivelmente ligados a exposição aos agrotóxicos. Segundo Korbes e colaboradores (2010), os sintomas de intoxicação por inibidores das colinesterases podem ser muito inespecíficos, dificultando sua identificação.

14.1 Propedêutica

A propedêutica das intoxicações causadas por substâncias inibidoras das colinesterases são bem característicos, sendo que a via de exposição influencia de forma direta na sintomatologia e no tempo que estes efeitos levam para se manifestar, assim como a dose absorvida, a composição da substância e a forma que ocorre sua biotransformação. Os primeiros sintomas podem aparecer em minutos ou até em algumas horas, após o contato. (OGA, 2003; MENDES, 2005).

Em termos gerais nota-se um comprometimento das funções relacionadas à via exposta. Quando o contato ocorre por inalação desses produtos, verifica-se comprometimento da função respiratória, dores no tórax e na cabeça, visão borrada e lacrimejamento, esses sintomas podem levar apenas alguns minutos para se evidenciarem. Já Quando o contato se dá pela via gastrointestinal, os efeitos comuns são vômitos, diarreias e câimbras. Já por via dérmica observam-se efeitos restritos a área de contato, como contrações e sudorese intensa. Tanto a via dérmica como gastrointestinal podem ocasionar o aparecimento de sintomas mais tardios. (CALDAS, 2000; KORBES et al., 2010).

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14.2 Manifestações muscarínicas

Segundo a literatura, as principais manifestações clínicas de intoxicação pelos agrotóxicos agrícolas anticolinesterase, devem-se a estimulação muscarínica no sistema parassimpático do sistema nervoso autônomo, que podem comprometer o funcionamento do sistema respiratório, urinário e cardiovascular e ainda ocasionar efeitos sobre as glândulas exócrinas (glândulas salivares, lacrimais, brônquicas e gastrintestinais). Dessa forma nota-se o surgimento de sinais como: aumento das secreções (lacrimejamento, sudorese, salivação), broncoconstrição, tosse, miose, cólicas gastrointestinais, náuseas, vômitos, diarreia, bradicardia, urgência e incontinência urinária, dispneia, fasciculação muscular, depressão do sistema nervoso central, convulsões, cianose e coma. (HOSHINO et al., 2008; KATZUNG, 2005; OLIVEIRA, BURIOLA, 2009; RANG et al., 2007).

14.3 Manifestações Nicotínicas

Após as manifestações muscarínicas, alguns casos ainda podem apresentar o surgimento de efeitos nicotínicos, que normalmente caracterizam por comprometimento na musculatura estriada e gânglios simpáticos. Quando estas manifestações estão presentes, indica agravamento do caso. A sintomatologia comumente observada são as seguintes: câimbras, tremores, miose, salivação, cefaleia, hipotensão arterial, convulsões, sonolência e/ou agitação, arritmia cardíaca, hipertensão e taquicardia ou bradicadia, insuficiência respiratória, diminuição de reflexos tendinosos e fraqueza muscular generalizada. (KATZUNG, 2005; MENDES, 2005; OLIVEIRA, BURIOLA, 2009).

14.4 Manifestações no Sistema Nervoso Central

O SNC pode ter suas funções comprometidas devido à intoxicação por agrotóxicos anticolinesterase. Normalmente grande parte dos compostos carbamatos, não provoca uma sintomatologia exuberante neste sistema e quando presentes indicam agravamento do caso. (CALDAS, 2000; BURTIS;

Referências

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