• Nenhum resultado encontrado

de regresso a Herbais: Sentimentos sobre a música frontal

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "de regresso a Herbais: Sentimentos sobre a música frontal"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

de regresso a Herbais:

Sentimentos sobre a música frontal

I

_____________ os dois homens nus ao piano. Piano de volu-me, e lustro. A vibração de um — o que está em primeiro pla-no —, oculta o outro, que até me poderia parecer vestido. O teclado do piano responde intensamente ao primeiro, mas não exclui o segundo que, se está nu, é porque se vê clara-mente a nudez do primeiro. A nudez do primeiro não é de ti-po físico incluindo, no entanto, o corti-po que transparece, na sua soberania, através do andamento musical. Que reflui sem-pre sobre essa imagem forte que, todavia, nunca vira o ho-mem para mim. O seu sexo permanecer-me-á oculto. Mas, co-mo palavra, a música oxida-se nele, substitui-se ao seu primeiro sentido inicial e, sem despiste nem perder, ouço-a mais longe, envolvendo as colunas do claustro, sobre o balcão corrido, em torno de imagens arrebatadas de outrora — o bo-tão de rosa mística.

O homem nu que toca tem músculos de música frontal, uma ramagem erótica por sexo, que desce dos ombros até ao teclado do piano.

É nessa ramagem que centro a minha atenção, e nos cabe-los fartos que sob a luz, as luzes da ribalta, são de uma espé-cie diurna. Atraem a atenção. Podem ostentar qualquer sexo desejado como sinal de realeza, mas de uma realeza de ler.

(2)

Nesse momento, lêem sonoridades. E, no texto que estou a ler, os textos subitamente tornam-se silenciosos, por momen-tos, renunciam.

Mas eu, a legente acordada para escrever, não renuncio. Transformo-me em amante, ou musicante, naquela que não

praticava esse saber que acorda, por entre o luar libidinal que

emana dessa crina abundante de onde vejo brotar a música. Nada entendo — eu —, que olha o possante e móvel homem nu da matemática musical daquelas equações e abismos. Sinto uma dor no centro do meu fechamento. Fico, naquela zona, mais inteligente através dele. É para o meu sexo que ele toca. O texto faz um silêncio total, adquire-o, ou seja, a escrita que a música celebra não tem mancha de ruído — não é livro, ape-nas o fluir de um escrito que se funde com as imagens arreba-tadas de outrora. Mas, depois, pula sobre os ombros do homem — sem ser cavalo, nem peixe —, resvala pela sua ramagem, e cai no teclado do piano num salto mortal conseguido.

Mas que sucederia depois, se a inclinação musical e o es-crito se calassem na luta de se abraçar, penetrantes e recepti-vos, um ao outro?

A luta chispante é o meu deslumbramento

perante o homem nu sentado ao piano no combate consigo mesmo sendo quatro mãos com o seu companheiro que lhe entregou voluntariamente as suas — e desapareceu. Levanta--se-me o espírito e vai debruçar-se sobre o piano gigantesco, à luz das velas, talvez porque deseje impressionar-me a mim mesma pois toda a comunidade atenta se tornou um território sentado de árvores. A música ressoa através dessa ramaria, impregnada de textual como um cheiro que percorre as almas no único intuito de as devastar.

Nada

(3)

acaba definitivamente se aceitarem, por um momento, que ou-vem o músico, tal um divino executante, com a minha escrita. O homem nu manifestando a nossa força, através da música, e nos solicitando para uma escrita ligeira e leve que reflicta o piano-sem-peso — vibrátil como um pente nos cabelos. Para um narrativo paralelo ao texto que tanto amo. Onde

estiver a nostalgia do homem nu, está o meu lugar de escrita. No desconforto de uma vida que se termina em noite, numa pergunta que há-de renascer (ou ressuscitar?) em afirma-ção________ por que é esta paixão pelo texto, ao contrário das paixões humanas, inextinguível? A música deve conhecer o eu, o coração das teclas, ou o fluir das palavras? A ponta dos dedos deve assentar sobre as imagens? Porque, enfim, o desejo forte e móvel expira, os sexos fecham-se e murcham, o amor tecido flui repelindo os amantes para o chão (ou arrancando os corpos à sonoridade?). Coloco o texto no olhar da paixão extinta.

As quatro mãos do músico nu no sexo caído daquele ho-mem. Deitamos a mulher que não suporta o fim no alto da ra-magem. Eis o que realiza a música do homem nu quando o úl-timo acorde soou, e ele se levantou do piano e se vestiu. E pensei que a comunicabilidade das artes — mesmo a de amar — não tem poder.

Quando, já morta, atravesso a rua (ou tem?, pergunto), vejo o nu reflectido no rio que dela corre. A comunicabilidade das artes (que palavra estranha!), mesmo a de textualizar, ou seja, a de tornar o amor infinito, seria apenas uma melancólica cons-tatação da noite. Se essa certeza me acompanha, a sensação, no entanto, de ter escrito uma coisa firme sobre o conhecimento e o seu amor não me abandona. Quem se reconhece libido nua, na presença do piano,

está a ser levantado pelo texto,

e as consequências da música são imprevisíveis, e não têm fim.

(4)
(5)

II

___________aprendi com a linguagem de Hallâj que, onde não há nada, há muito para dizer,

que, onde há muito para dizer, há nada

que o texto corre um risco mortal se ligar as duas frases por vice-versa

que elas são dois lados do corpo, o sensual e o volitivo que o corpo é materialmente frases

que material e literal não têm diferentes

que nesse indiferente é essencial não ligar o intelectivo a qual-quer lógica

que, por mais que ande, a alma está sempre a tempo de pôr ordem (o referido vice-versa) no seu caminho_______ pôr or-dem sem trazer retorno

que o invisível, quando se sensualiza, abre à linguagem cami-nhos que o narrativo obliterou com a tampa do piano, os mu-ros baixos do real, as ténues paredes da vida

que, chegado a esse ponto, o por escrever tem uma visibilida-de sem fim que, por isso, a nova linguagem é fácil, e se re-produz por si mesma, contendo em si o próprio princípio de existir

Referências

Documentos relacionados

Nessa situação temos claramente a relação de tecnovívio apresentado por Dubatti (2012) operando, visto que nessa experiência ambos os atores tra- çam um diálogo que não se dá

O score de Framingham que estima o risco absoluto de um indivíduo desenvolver em dez anos DAC primária, clinicamente manifesta, utiliza variáveis clínicas e laboratoriais

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Apothéloz (2003) também aponta concepção semelhante ao afirmar que a anáfora associativa é constituída, em geral, por sintagmas nominais definidos dotados de certa

A abertura de inscrições para o Processo Seletivo de provas e títulos para contratação e/ou formação de cadastro de reserva para PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR

Transformar los espacios es también transformar la dinámica de las relaciones dentro del ambiente de trabajo, la glo- balización alteró el mundo corporativo, en ese sentido es

A Variação dos Custos em Saúde nos Estados Unidos: Diferença entre os índices gerais de preços e índices de custos exclusivos da saúde; 3.. A variação dos Preços em