BRASIL ALIMENTOS - n° 11 - Novembro/Dezembro de 2001
A
indústria de alimentos, uma das mais importantes do Brasil, transforma re-cursos naturais em alimentos industriali-zados, atendendo às necessidades da po-pulação e garantindo o abastecimento dos grandes centros urbanos (ABEA, 2000). Porém, além dos produtos que são de fa-bricação intencional podem ser gerados outros materiais deori-gem não intencional, os resíduos (AQUARONE et al., 1990).
CRITTENDEN & KOLA-CZKOWSKI (1995) defi-niram resíduo como qualquer elemento que não seja considerado produto ou matéria-pri-ma dentro da especifi-cação, esteja fora do prazo de validade ou contaminado, água resi-duária e produtos de limpeza associados às operações de higieniza-ção das instalações e dos equipamentos, resí-duos dos equipamentos
do final de produção, vazamentos aciden-tais de líquidos, emissões fugitivas, des-carga de produtos gasosos, resíduos de máquinas e acabamentos. No processo in-dustrial, o resíduo representa perda de matérias-primas, insumos, subprodutos ou produto principal, o qual requer tempo e capital para o seu gerenciamento.
Para não prejudicar o meio ambiente, os resíduos gerados devem ser gerenciados. A hierarquia das opções de gerenciamento de resíduos, estabelecida pela Resolução Ofi-cial da Comunidade Européia, é: Prevenção
(melhor opção), Minimização, Reciclagem, Tratamento e Disposição (pior opção) (EPA, 1988; CRITTENDEN & KOLACZOWSKI, 1995). Como nem sempre é possível um proces-so não gerar resíduos, a minimização é a se-gunda melhor opção de gerenciamento para a indústria porque visa melhorias no desem-penho ambiental de atividades existentes. O
termo “Minimização de Resíduos” foi defini-do pela Agência de Proteção Ambiental Nor-te-Americana (EPA), como “toda ação toma-da para reduzir a quantitoma-dade e/ou a toxici-dade dos resíduos que requerem disposição final”. Segundo CRITTENDEN & KOLACZKO-WSKI (1995) e CHEREMISINOFF (1995) esta opção de gerenciamento envolve qualquer técnica, processo ou atividade que evite, eli-mine ou reduza a quantidade de resíduo
ge-rada na fonte, geralmente dentro dos limites do processo como sistema; ou permita o reuso ou a reciclagem dos resíduos para um propó-sito útil com conseqüente diminuição dos gastos econômicos e disposição dos mesmos no meio ambiente.
Com a implantação deste sistema otimiza-se o aproveitamento da matéria-prima e re-duzem-se os custos de tra-tamento e disposição dos resíduos gerados, melho-rando a eficiência e au-mentando a produtivida-de dos processos (VALLE, 1995; EDWARDS et.al., 2000). Além disso, me-lhoria no desempenho ambiental gera benefíci-os econômicbenefíci-os uma vez que a indústria passa a produzir mais com me-nos, desperdiçar meme-nos, reciclar mais, etc. (GIL-BERT, 1995).
No setor alimentício, a concorrência entre os fa-bricantes é acirrada. Para os consumidores, na hora da compra o preço da mercadoria é muito im-portante. Por isso, as empresas procuram em-pregar estratégias que visam a produção de alimentos com qualidade a custos menores para aumentarem sua competitividade no mercado e a minimização dos resíduos gerados no pro-cesso produtivo (TIMOFIECSYK, 2001).
Quando diferentes resíduos são gerados num processo industrial, torna-se neces-sário adotar critérios para ordená-los numa
Priorização dos resíduos de
uma indústria alimentícia
Fabiana do Rocio Timofiecsyk, Urivald Pawlowsky e Shelton Rolim Cerca (*)(*) Programa de Pós-Graduação em Tec-nologia de Alimentos - Universidade Fede-ral do Paraná.
Resumo
O presente artigo visou ordenar os resíduos gerados numa unidade produtiva de secagem de uma indústria alimentícia da região metropolitana de Curitiba - PR numa escala de prioridade visando a minimização. Utilizou-se a análise de valor do modelo matemático proposto por CER-CAL (1999), que considera os aspectos econômicos, ambientais e técnicos da geração de cada resíduo. Ressalta-se que a execução da análise de valor foi realizada com as informações obti-das na etapa de levantamento de dados do processo em questão.
escala de maior para menor prioridade e para isto pode-se empregar modelo mate-mático que é uma ferramenta importante para a tomada de decisão na implementa-ção de um sistema de minimizaimplementa-ção.
De acordo com HILALY & SIKDAR (1996), citado por CERCAL (1999) uma planta indus-trial normalmente consiste de várias unida-des de processamento, cada uma podendo ser submetida a uma modelagem matemática.
O objetivo deste trabalho foi determinar os resíduos prioritários de uma unidade in-dustrial situada na região metropolitana de Curitiba - Paraná pela análise de valor.
Material e métodos
O caso apresentado corresponde a uma unidade produtiva de uma indústria de ali-mentos da região metropolitana de Curiti-ba. Neste trabalho considerou-se o proces-so produtivo como a principal fonte gera-dora de resíduos, não foram considerados os resíduos gerados nos requerimentos sa-nitários, refeitórios e os materiais de escri-tório e laboraescri-tórios.
Este trabalho foi dividido em duas partes: na primeira, realizou-se o levantamento de
dados; na segunda, utilizou-se os dados ob-tidos na primeira etapa para realização da priorização dos resíduos identificados com o emprego de um modelo matemático.
Baseou-se na metodologia de minimi-zação de resíduos proposta pela U.S. Envi-ronmental Agency (EPA, 1988), de forma adaptada: planejamento, levantamento de dados e priorização dos resíduos.
Na etapa do planejamento definiram-se os objetivos para a execução do trabalho.
No levantamento de dados salientou-se o conhecimento do processo de geração de re-síduos na linha de processamento mediante estudo do fluxograma do processo, os resí-duos identificados foram quantificados e ca-racterizados. As metodologias de inspeção foram verificação visual, amostragem e ba-lanço de massa. Entrevistas com operadores e seus chefes imediatos e análise de docu-mentos como relatórios e apontadocu-mentos de produção foram realizadas. De acordo com CETESB (1998), as peculiaridades sobre os processos produtivos são melhores observa-das por aqueles que estão em contato diário com os procedimentos operacionais.
Os resíduos foram priorizados pela aná-lise do valor global dos resíduo do modelo
matemático de seleção de prioridades pro-posto por CERCAL (1999). Para efetuar esta análise são considerados:
• as quantidades do resíduo gerado; • os locais e as situações em que ocor-re o ocor-resíduo;
• o valor dos materiais (substâncias) pre-sentes no resíduo e o grau de alteração (ad-mitido para o cálculo) que pode sofrer o va-lor de cada material presente no resíduo quan-do são consideraquan-dos os aspectos ambientais; • custos globais do gerenciamento do resíduo;
• destinações finais do resíduo. A análise dos resíduos por valor não representa apenas análise econômica vis-to que o valor do resíduo foi corrigido con-siderando os aspectos ambientais (variá-veis X e DS%) e os aspectos técnicos
(vari-áveis W e K). Para cada resíduo seleciona-ram-se os parâmetros matemáticos de cada variável propostos por CERCAL (1999).
O aspecto ambiental é representado
pela variável IPHMR (índice de prioriza-ção hierárquica de minimizaprioriza-ção de resí-duos) que é o resultado do produto de duas variáveis: alteração percentual ad-mitida para o valor substancial do
resí-Insumos/
Ingredientes
Ingredientes (P6) Preparo Formulação Trocador de calor Secagem Granulometria Envase Água Água de Arrefecimento Vapor Água de arrefecimento Resíduo em pó Embalagens Resíduo úmido Resíduo seco Resíduo da moagemÕ
Õ
Õ
Õ
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Ö
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Processo
Resíduos
E
F
L
U
E
N
T
E
S
BRASIL ALIMENTOS - n° 11 - Novembro/Dezembro de 2001
duo (DS%) e a base do IPHMR (x B). A
variável (DS%) representa a valoração do
resíduo ponderada entre os equipamen-tos e produequipamen-tos onde é gerado em função da sua composição mássica percentual específica e o valor dos materiais que o compõem. Para cada material é selecio-nado o nível de alteração percentual ad-mitido para o valor de cada material con-siderando o aspecto ambiental. O valor mínimo de DS%
i é 0,5 (50%) podendo
chegar até 3,0 (300%) sendo determi-nado pelo calculista. Esta alteração deve ser maior quanto menor for o valor uni-tário do material considerado. A variá-vel (xB) é a constante que representa a
posição da classe de destinação a que é submetido o resíduo originado em deter-minado equipamento e deterdeter-minado pro-duto dentro da hierarquia de prioridades de minimização de resíduos. xBh varia de
(- 1,8) a (+ 1) conforme as característi-cas das classes de destinação a que é submetido o resíduo.
Os aspectos técnicos consideram a
Re-lação do Resíduo com o Processo (resíduos intrínsecos W = 0,8; semi-intrínsecos W = 1,0 ou extrínsecos W = 1,2) e a CONSTÂN-CIA das quantidades e composição do resí-duo (resíresí-duos fixos Kjk = 1,1; semi-fixos
Kjk = 1,0 ou variáveis Kjk = 0,9).
O modelo propõe 25 classes de destina-ção de resíduos conforme a natureza e a localidade do destino final, os beneficia-mentos submetidos antes da destinação e a função dos resíduos (significa a utiliza-ção do material, ex: matéria-prima, com-bustível, sub-produto, etc.). Salienta-se que o modelo considera destinação final do resíduo o conjunto de procedimentos executados sobre o mesmo desde o seu surgimento até seu desaparecimento ou disposição final (CERCAL, 1999).
Para executar esta análise é neces-sário resolver 16 equações propostas pelo modelo.
Equações da análise por valor:
Eq. 01 - Valor unitário do resíduo, pon-derado entre todos os equipamentos onde o mesmo é gerado, e para todos os produ-tos considerados para análise
Eq. 02 - Alteração percentual admissí-vel para o valor unitário do resíduo, pon-derada entre todos os equipamentos onde o mesmo é gerado, e para todos os produ-tos considerados para análise
Eq. 03 - Custo unitário de beneficiamen-to do resíduo ponderado conforme as desti-nações dadas ao mesmo, entre todos os equipamentos onde é gerado, e para todos os produtos considerados para análise
Eq. 04 - Custo unitário de transporte do resíduo ponderado conforme as destinações dadas ao mesmo, entre todos os equipa-mentos onde é gerado, e para todos os pro-dutos considerados para análise
Eq. 05 - Custo unitário de tratamento e disposição do resíduo ponderado conforme as destinações dadas ao mesmo, entre todos os equipamentos onde é gerado, e para to-dos os produtos considerato-dos para análise
Eq. 06 - Custo unitário de geração e permanência do resíduo ponderado con-forme as destinações dadas ao mesmo, entre todos os equipamentos onde é
ge-rado, e para todos os produtos conside-rados para análise
Eq. 07 - Retorno ponderado obtido con-forme as destinações do resíduo, entre to-dos os equipamentos onde o mesmo é ge-rado, e para todos os produtos considera-dos para análise
Eq. 08 - Base do IPHMR, ponderada entre todos os equipamentos onde o resíduo é gerado e para todos os produtos conside-rados para análise
Eq. 09 - Índice de priorização hierár-quica de minimização de resíduos (IPHMR) Eq. 10 - Valor unitário do resíduo não corrigido
Eq. 11 - Constância do resíduo ponde-rada entre todos os equipamentos onde o mesmo é gerado, e para todos os produtos considerados para análise
Eq. 12 - Relação do resíduo com o pro-cesso
O valor unitário do resíduo é corrigido com a utilização dos fatores d+ e d- , para o resíduo que apresenta lucro (valor $’ positivo) ou prejuízo (valor $’ negati-vo), respectivamente.
Eq. 13 - Fator de correção para valor positivo do resíduo
Eq. 14 - Fator de correção para valor negativo do resíduo
Destinação Classe DS/N
$+ DS/N$-B DS/N$-T DS/N$-TD DS/N$-GP DS/N$+R XBh
D1: venda 2-D 0 0 0 0 1 1 +0,82
D2: reutilização 3-A 1 1 0 0 0 0 +0,80
D3: disposição (doação) 5-A 0 0 1 1 1 0 -0,20
D4: tratamento 5-B 0 0 0 1 1 0 -0,40
D5: disposição (no ar) 5-B 0 0 0 1 1 0 -0,40
Obs.: Os valores (um) e (zero) indicam respectivamente, se o custo deve ou não ser considerado. DS/N: destinação sim ou não.
Tabela 1 – Características das classes de destinação
Eq. 15 - Valor unitário do resíduo corri-gido
Eq. 16 - Valor total do resíduo corrigido $Total = W Total . $
Variáveis matemáticas da análise por valor
p Número de produtos analisados simul-taneamente
e Número de equipamentos onde o resí-duo é gerado
m Número de materiais que compõem o resíduo
d Número de destinações finais dadas ao resíduo
$+
i Valor unitário do material genérico “i”
D $%
i Alteração percentual admissível
para o valor do material genérico “i” W Relação do resíduo com o processo Wk Percentual do total do resíduo
gera-do para o produto genérico “k” WTotal Quantidade total do resíduo
$+ Valor unitário do resíduo, ponderado
entre todos os equipamentos onde o mes-mo é gerado, e para todos os produtos con-siderados para análise.
D $% Alteração percentual admissível
para o valor unitário do resíduo, pondera-da entre todos os equipamentos onde o mesmo é gerado, e para todos os produtos
considerados para análise
Xijk Percentual do material genérico “i”
na composição do resíduo gerado no equi-pamento genérico “j”, para o produto ge-nérico “k”
Kjk Fator de constância do resíduo
gera-do no equipamento genérico “j”, para o produto genérico “k”
Zjk Percentual do total do resíduo que é
gerado no equipamento genérico “j”, para o produto genérico “k”
k Constância do resíduo ponderada en-tre todos os equipamentos onde o mesmo é gerado, para todos os produtos conside-rados para análise
Yhjk Percentual do total de resíduo
gera-do no equipamento genérico “j”, para o produto genérico “k”, que sofre a destina-ção genérica “h”
$
-B Custo unitário de beneficiamento do
resíduo ponderado conforme as destinações dadas ao mesmo, entre todos os equipa-mentos onde é gerado, e para todos os pro-dutos considerados para análise
$
-Bhjk Custo unitário de beneficiamento
do resíduo gerado no equipamento genéri-co “j”, para o produto genérigenéri-co “k”, que sofre a destinação genérica “h”
$
-Thjk Custo unitário de transporte do
resíduo gerado no equipamento genérico “j”, para o produto genérico “k”, que sofre a destinação genérica “h”
$
-TDhjk Custo unitário de tratamento e
disposição do resíduo gerado no equipa-mento genérico “j”, para o produto genéri-co “k”, que sofre a destinação genérica “h”
$
-GPhjk Custo unitário de geração e
per-manência do resíduo proveniente do equipa-mento genérico “j”, para o produto genérico “k”, que sofre a destinação genérica “h”
$+
Rhjk Retorno obtido por destinar o
re-síduo gerado no equipamento genérico “j”, para o produto genérico “k”, à destinação genérica “h”
$
-T Custo unitário de transporte do
resí-duo ponderado conforme as destinações dadas ao mesmo, entre todos os equipa-mentos onde é gerado, e para todos os pro-dutos considerados para análise
$
-TD Custo unitário de tratamento e
dis-posição do resíduo ponderado conforme as destinações dadas ao mesmo, entre todos os equipamentos onde é gerado, e para to-dos as produtos considerato-dos para análise
$
-GP Custo unitário de geração e
perma-nência do resíduo ponderado conforme as destinações dadas ao mesmo, entre todos os equipamentos onde é gerado, e para to-dos os produtos considerato-dos para análise
$+
R Retorno obtido ponderado conforme
as destinações do resíduo, entre todos os equipamentos onde o mesmo é gerado, e para todos os produtos considerados para análise
DS/N $+ Calcula $+ ? DS/N $-B Calcula $-B? DS/N $-T Calcula $-T? DS/N $-TD Calcula $-TD? DS/N $-GP Calcula $-GP? DS/N $+R Calcula $+R?
x Índice de priorização hierárquica de minimização de resíduos (IPHMR)
xB Base do IPHMR, ponderada entre
to-RESÍDUOS W Kjk DS%i DESTINAÇÃO xBh WTOTAL (kg/ano)
R1 (resíduo de embalagem de ingrediente - plástico) 1,0 1,0 1,0 D1 +0,82 2 735,08 R2 (resíduo de embalagem de ingrediente - papel kraft) 1,0 1,0 1,0 D1 +0,82 13 325,91
R3 (resíduo de embalagem de ingrediente - papelão) 1,0 1,0 1,0 D1 +0,82 96,53
R4 (resíduo de embalagem de ingrediente - saco ráfia) 1,0 1,0 1,0 D1 +0,82 13 176,13
R5 (resíduo orgânico em pó - área produtiva) 0,8 1,1 0,5 D3 -0,20 935,37
R6 (resíduo orgânico úmido) 0,8 0,9 0,5 D3 -0,20 24 469,84
R7 (resíduo orgânico seco) 0,8 0,9 0,5 D3 -0,20 2 262,11
R8 (resíduo da moagem) 0,8 0,9 0,5 D2 +0,80 21 869,26
R9 (efluente da limpeza piso do setor de preparação) 1,2 1,1 3,0 D4 -0,40 665 613,00 R10 (efluente da limpeza piso dos setores de secagem e granulometria) 1,2 1,1 3,0 D4 -0,40 358 919,40 R11 (efluente da limpeza manual dos equipamentos) 1,2 1,1 3,0 D4 -0,40 1 360 066,40
R12 (água de arrefecimento dos equipamentos) 1,2 1,1 3,0 D4 -0,40 1 222 010,00
R13 (água evaporada) 0,8 0,9 3,0 D5 -0,40 2 687 855,61
Ressalta-se a igualdade das seguintes variáveis: xBh = xB; Kjk = K; DS%
i = DS%.A unidade de peso quilograma foi definida como base.
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dos os equipamentos onde o resíduo é ge-rado e para todos os produtos considera-dos para análise
xBh Base do
IPHMR da classe a que pertence a des-tinação genérica “h” d+ Fator de
corre-ção para valores po-sitivos do resíduo
d- Fator de
corre-ção para valores ne-gativos do resíduo
$’ Valor unitário do resíduo não cor-rigido
$ Valor unitário do resíduo corrigido
$Total Valor
to-tal do resíduo corrigido
As equações 01, 02, 03, 04, 05, 06 e 07 realizam a ponderação das propriedades do resíduo relacionadas às suas composições e destinações para todos os produtos e equipamentos. Entretanto, não foi neces-sário fazer a ponderação, uma vez que con-sideraram-se os resíduos gerados apenas em uma linha produtiva (obtendo variável equipamento Z jk igual a 100%) e a
variá-vel WK foi 1 (por não ser consideradas as
diferenças por produto processado).
Resultados e discussão
LEVANTAMENTO INDUSTRIAL
Na etapa de levantamento de dados reu-niram-se informações para caracterização do processo produtivo, como os parâme-tros de operação (temperatura, vazão, etc.), entradas e saídas (matérias-primas, produtos, sub-produtos e efluentes).
O fluxograma da linha produtiva está esquematizado na Figura 1.
Os efluentes são provenientes das ope-rações de limpeza dos equipamentos, do piso e do sistema de arrefecimento.
A água é proveniente da companhia de saneamento (Sanepar) e é utilizada para as seguintes finalidades: ingrediente, pro-cesso de higienização de equipamentos (tubulações, tanques, trocadores de calor, etc.) feita manualmente, sendo realizada pós-processamento (fim do ciclo prodvo) e após problemas mecânicos. São uti-lizadas mangueiras sem controle de vazão
na sua extremidade e máquina de alta pres-são. Geração de vapor: o vapor é usado como meio de aquecimento no secador. Sistema de arrefecimento: utiliza-se água proveniente da Sanepar, sendo um siste-ma aberto, sem reciclo da água.
Os efluentes gerados são coletados em canaletas e enviados para a estação de tra-tamento de efluentes, que opera por siste-ma de tratamento biológico do tipo lagoas aeradas mecanicamente.
Obs: Neste trabalho não foram conside-radas situações anormais de processamen-to, como ocorrência de problemas mecâni-cos e os consumos de água requeridos para a geração de vapor.
Priorização de resíduos
Conforme as informações obtidas no le-vantamento industrial realizou-se a priori-zação dos resíduos pela análise de valor. A destinação dada a cada resíduo foi escolhi-da dentre toescolhi-das as classes de destinação propostas pelo modelo matemático adota-do (Tabela 1). Salienta-se que cada resíduo sofre apenas um tipo de destinação.
Consultando a Tabela 1 foi possível deter-minar os custos envolvidos para cada resíduo. Os valores W , Kjk, D S%i foram
atribuí-dos conforme as características atribuí-dos resí-duos e xBh e os custos envolvidos foram
determinados pela sua classe de destina-ção. Na Tabela 2 são apresentadas as ca-racterísticas dos resíduos.
As destinações Venda e Reutilização com
XBh > 0 são ambientalmente aceitáveis;
aquelas com XBh <
0, são tipos de des-tinação ambiental-mente impróprias segundo os valores de XBh propostos por CERCAL (1999). Portanto, obser-vando-se os valores XBh de cada resíduo na Tabela 2 verifi-ca-se que dos 13 resíduos apenas 5 sofrem uma desti-nação ambiental-mente aceitável.
Para cada resí-duo atribuiu-se um DS%
i para os
resíduos orgânicos admitiu-se o valor mínimo que deve ser considerado como padrão de variação do valor monetário dos materiais constituintes do resíduo, ou seja 50% (0,5). Para os resíduos de embalagem 100% (1,0) por serem mais impactantes quando lançados indevida-mente no meio ambiente.
Para os resíduos que apresentam água na composição escolheu-se o maior va-lor admissível de DS%
i, ou seja, 300%
(3,0) visto que a água está entrando na taxação progressiva.
A relação dos resíduos com o processo foi determinada como Intrínseco para os resíduos orgânicos cuja composição está intimamente relacionada com o produto e água evaporada, Semi-intrínseco para os resíduos de embalagem que possuem com-posição diferenciada do produto, porém a quantidade gerada está relacionada à pro-dução (quantidade de produto elaborada) e Extrínseco para os resíduos cuja compo-sição não está relacionada ao produto pro-cessado como os efluentes provenientes da limpeza do piso e equipamentos.
A constância dos resíduos (variável Kjk) é atribuída considerando a
quanti-dade e a composição do resíduo. Como cada resíduo tem a composição cons-tante, considerou-se o modo de gera-ção para classificá-los.
Os resíduos cuja quantidade gerada por formulação é a mesma, porém varia com a quantidade de produto elaborada, foram classificados como Semi-fixos.
Os custos unitários ($+
i, $- B, $- T, $- TD,
$
GP, $+R) de cada resíduo foram
levanta-Resíduos $+ i $- B $- T $- TD $- GP $+R $’ R1 - - - - 0,1208 0,2500 +0,1292 R2 - - - - 0,1208 0,1300 +0,0092 R3 - - - - 0,1208 0,1300 +0,0092 R4 - - - - 0,1208 1,0317 +0,9109 R5 - - 0 0 1,3794 - -1,3794 R6 - - 0 0 0,8260 - -0,8260 R7 - - 0 0 1,4868 - -1,4868 R8 1,4568 0,0200 - - - - +1,4368 R9 - - - 0,0005 0,0016 - -0,0021 R10 - - - 0,0005 0,0016 - -0,0021 R11 - - - 0,0005 0,0017 - -0,0022 R12 - - - 0,0005 0,0016 - -0,0021 R13 - - - 0 0,0016 - -0,0016
Os espaços preenchidos com – indica que não é necessário considerar o custo. Custos : R$/kg.
Os custos foram determinados baseados nas informações da indústria. Ressalta-se que os dados não disponíveis foram estimados.
$’ (valor unitário do resíduo não corrigido) calculado pela equação $’ = $+
i + $- B + $- T + $- TD + $- GP + $+R $+
i(valor unitário do resíduo), $- B (custo unitário do beneficiamento), $- T (custo unitário do transporte), $- TD (custo unitário do tratamento e disposição), $
GP (custo unitário de geração e permanência), $+R (retorno obtido).
Tabela 3 – Dados econômicos dos resíduos
dos conforme a necessidade im-posta pelo mode-lo, isto é, deter-minaram-se ape-nas os custos cuja destinação indi-cou a necessidade de cálculo (pela Tabela 1). Os cus-tos envolvidos pa-ra cada resíduo são apresentados na Tabela 3.
R e s s a l t a - s e que, para o cálcu-lo do custo de ge-ração e perma-nência dos resí-duos, considerou-se os gastos com material, energia, mão-de-obra e
es-paço relacionados à geração e à perma-nência dos resíduos na fábrica, conforme a linha de processamento onde são gerados. Salienta-se que a permanência do resíduo na indústria não traz problemas sérios, uma vez que nunca ocorreu paralisação do pro-cesso produtivo por não existir espaço fí-sico para armazenar o resíduo.
O fator de correção do valor unitário de cada resíduo (D+ ou D-), o custo corrigido
($) e o custo total ($TOTAL) calculados bem
como a ordem de priorização são apresen-tados na Tabela 4.
Segundo CERCAL (1999), se o valor monetário total do resíduo ($TOTAL) é
nega-tivo, representa prejuízo; e quando positi-vo, lucro que a indústria tem por dar ao mesmo a destinação considerada. Portan-to, os resíduos que apresentam maior pre-juízo, ou seja, menor valor global, foram os mais prioritários. Na Tabela 4 é possível observar a ordem crescente de priorização dos resíduos pela análise por valor.
A priorização da análise por valor foi estabelecida pelo valor de $TOTAL calculado
pela multiplicação do $’ (valor unitário corrigido) pelo WTOTAL (quantidade gerada
do resíduo). Verificou-se a importância da variável WTOTAL visto que se o resíduo tem
um alto valor unitário corrigido $ mas é gerado em pequena quantidade, ele não será o mais prioritário para a indústria.
Os resíduos que apresentaram o mes-mo $ não receberam a mesma ordem de priorização, por serem gerados em
quan-Resíduos (K.W) x d+ ou d- $ $ TOTAL ordem de prioridade R1 1,0 +0,82 d+= 1,82 +0,2351 +643,02 1 R6 R2 1,0 +0,82 d+= 1,82 +0,0167 +222,54 2 R11 R3 1,0 +0,82 d+= 1,82 +0,0167 +1,61 3 R12 R4 1,0 +0,82 d+= 1,82 +1,6578 +21 843,39 4 R13 R5 0,88 -0,10 d-= 0,968 -1,3353 -1 248,99 5 R9 R6 0,72 -0,10 d-= 0,792 -0,6542 -16 008,17 6 R7 R7 0,72 -0,10 d-= 0,792 -1,1775 -2 663,63 7 R10 R8 0,72 +0,40 d+= 1,944 +2,7931 +61 083,03 8 R5 R9 1,32 -1,20 d-=2,904 -0,0061 -4 060,24 9 R3 R10 1,32 -1,20 d-=2,904 -0,0061 -2 189,41 10 R2 R11 1,32 -1,20 d-=2,904 -0,0064 -8 704,42 11 R1 R12 1,32 -1,20 d-=2,904 -0,0061 -7 454,26 12 R4 R13 0,72 -1,20 d-=1,584 -0,0025 -6 719,64 13 R8 x = xB . DS%
Os fatores de correção foram calculados pelas equações D+= (1+X)/(K.W) ou D-= (1-X).(K.W) e posterior-mente foram multiplicados por $’ obtendo $ (custo corrigido).
$TOTAL = $ . WTOTAL sendo $ (valor unitário corrigido) e $TOTAL (valor total do resíduo corrigido).
Tabela 4 – Resultados da análise por valor
tidades diferenciadas e por isso obtive-ram-se $TOTAL diferentes.
A análise do custo total ($TOTAL) de cada
resíduo, mostrado na Tabela 4, permitiu ve-rificar que dos 13 resíduos analisados ape-nas cinco proporcionam lucro à empresa e os demais, prejuízo. Conclui-se que o ge-renciamento dado à maioria dos resídu-os não representa vantagem econômica à empresa, cabendo à mesma reduzir a gera-ção ou melhorar a destinagera-ção dos resíduos. Dentre os 13 resíduos analisados foram considerados os 3 de maior prioridade dos resíduos: R6, R11 e R12. E os 3 resíduos de menor prioridade: R8, R4 e R1, cujo geren-ciamento atual oferece lucro à empresa.
Recomenda-se a realização de pesquisa de mercado para verificar a possibilidade de aumentar o custo de venda dos resíduos praticados pela empresa. Também deve-se estudar a possibilidade de adotar destina-ções que forneçam mais benefícios à indús-tria. Por exemplo, resíduos orgânicos ao invés de serem doados, sejam vendidos.
É importante ressaltar que os valores
de $TOTAL não são puramente econômicos
(não trata apenas de custo), uma vez que nele estão embutidos os aspectos econô-micos e também os ambientais.
Conclusões
Com base no trabalho realizado, con-cluiu-se que a escala de prioridade para a minimização de resíduos foi: R6
(maior prioridade), R11, R12, R13, R9, R7, R10, R5, R3, R2, R1, R4, R8 (menor prioridade). A análise de va-lor do modelo mate-mático foi uma fer-ramenta importante para a priorização dos resíduos gerados na linha produtiva.
A partir deste re-sultado, pode-se ela-borar estratégias de minimização e im-plementá-las após realização de um es-tudo para avaliar os benefícios ambien-tais e econômicos que serão obtidos.
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