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A EXPERIÊNCIA DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO EM NATAL À LUZ DA TEORIA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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A EXPERIÊNCIA DO ORÇAMENTO

PARTICIPATIVO EM NATAL À LUZ DA

TEORIA DO DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

AUTOR

Thales Augusto Medeiros Penha

Graduando de Economia – UFRN

Fábio Henrique Vale dos Reis

Graduando de Economia – UFRN

Túlio Ferreira Lyra

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INTERFACE – Natal/RN – v.7 – n. 1 - jan./jun. 2010

RESUMO

Avalia a experiência do Orçamento Participativo na cidade do Natal, definindo-o como uma política pública de participação social que pode contribuir para o desenvolvimento sustentável no âmbito municipal. Para isto foi adotada metodologia de avaliação de políticas públicas, nas seguintes etapas, na primeira etapa foi avaliada a alocação das obras por região, com a finalidade de avaliar se as demandas locais foram atendidas e se o Orçamento Participativo é um instrumento de diminuição das desigualdades das regiões de Natal, sendo assim um objeto de transparência da ação pública onde os diversos grupos da sociedade podem se manifestar de forma livre e direta. Na segunda etapa foi avaliada a evolução das despesas por função econômica do período, avaliando as modificações destas despesas. Para a construção desta análise utilizou-se dados primários, colhidos através de entrevistas com gestores desta experiência de planejamento e gestão participativa do processo decisório e dados secundários provenientes das chamadas fontes de “papel”, para elaborar o arcabouço teórico da análise. Concluiu-se neste trabalho que o Orçamento Participativo não é a solução para todos os males enfrentados pelo processo de desenvolvimento não planejado, mas constitui-se numa ferramenta importante para trilhar um caminho para o desenvolvimento sustentável, a partir do processo de inclusão social.

PALAVRAS-CHAVE

Orçamento Participativo, Desenvolvimento Sustentável, políticas pública.

ABSTRACT

Evaluates the experience of participatory budgeting in the city of Natal, defining it as a public policy of social participation can contribute to sustainable development at the municipal level. For this methodology was adopted for evaluating public policies, the following steps, the first step was to evaluate the allocation of work by region, in order to assess if local demands are met and the Participatory Budget is a tool for reducing inequality regions of Natal and is therefore an object of transparency of public action in which the various groups of society can express itself freely and directly. In the second step we evaluated the evolution of expenditure by economic function of the period, evaluating the changes of these costs. For the construction of this analysis we used primary data collected through interviews with managers of this experience of participatory planning and management decision-making and data from secondary sources of so-called "paper" to draw the theoretical analysis. It is concluded here that the Participatory Budget is not the solution to all ills faced by the process of unplanned development, but it is an accurate tool for charting a path to sustainable development from the social inclusion process.

KEY-WORDS

Participatory Budgeting, Sustainable Development, Public Policies

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A experiência do orçamento participativo em Natal à luz da teoria do desenvolvimento sustentável - Thales Augusto Medeiros Penha/ Fábio Henrique Vale dos Reis/ Túlio Ferreira

Lyra INTRODUÇÃO

A superação do subdesenvolvimento vem se destacando como tema de interesse da pesquisa científica desde o imediato pós-guerra, quando o confronto entre as propostas de desenvolvimento capitalista e socialista, protagonizado pelos Estados Unidos e pela antiga União Soviética, ganhou espaço tanto na academia quanto nos governos e passou a gerar paradigmas, modelos, estratégias, políticas, planos, programas e projetos de desenvolvimento nacional, regional e local.

Os primeiros modelos de desenvolvimento, baseados na idéia de etapas, tal como desenvolvido por W. W. Rostow, admitiam que todos os países seguiriam a mesma trajetória, isto é, passariam do subdesenvolvimento para uma fase de transição, e desta para o desenvolvimento, à semelhança do que ocorrera nos Estados Unidos considerado uma nação modelo, na qual todos os países latino-americanos deveriam se inspirar.

O modelo de Rostow, baseado em etapas sucessivas de crescimento econômico, sofreu sérias críticas, entre as quais as de Celso Furtado que em seu clássico “O Mito do Desenvolvimento Econômico”, julgava impossível o alcance daquelas etapas. Pois no planeta não existiria recursos naturais suficientes para todos os países imprimirem este ritmo de desenvolvimento, além do mais Furtado argumentava que essa idéia de etapas não traria o desenvolvimento, pois segundo ele os países periféricos estariam sempre degraus abaixo dos países centrais.

A partir de então começaram a surgir novos paradigmas de desenvolvimento, que não só consideravam o crescimento do produto, como também a condição de vida da população local. Amparada nesses paradigmas de desenvolvimento, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com uma alternativa prática para mensurar o nível de vida da sociedade de cada região.

A partir dos anos 1970 a comunidade científica começou a alertar para os problemas do crescimento econômico em varias áreas do globo, um crescimento voraz e massivo, sem respeito ao meio ambiente. A partir de então alguns sintomas já começavam transparecer na época, e por isso na Primeira

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Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em Estocolmo 1972, organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), surgiu à idéia do desenvolvimento sustentável derivada da concepção de crescimento econômico com conservação ambiental.

As idéias de Ignacy Sachs e Maurice Strong, que nesta época alertavam para a escassez dos recursos naturais devido ao crescimento econômico predatório ocorrido ao longo dos anos. O conceito foi evidenciado, mas foi deixado de lado. Apenas no início dos anos 1980 a discussão voltou a efervescer, culminando com a publicação do “Relatório Brundtland” ou “Nosso Futuro Comum”, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que foi chefiada por Gro Harlem Brundtland (então Primeira-Ministra da Noruega).

Desde então, as organizações internacionais, especialmente a ONU através do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), vêm sensibilizando os governos nacionais e, em particular os estaduais e locais, para que esta seja a trilha a ser seguida, pois, com o passar dos anos e a chegada do século XXI, o que era apenas sintoma transformou-se em problema real e urgente.

A partir desta realidade, uma série de eventos vem ocorrendo, como a Rio 92, com o propósito de buscar uma alternativa viável para o desenvolvimento, com base nos quais os governos locais estão traçando planos e políticas públicas sob a ótica do desenvolvimento sustentável, muitos deles embasados nos propósitos elucidados pela a Agenda 21, que constituiu num marco para adoção deste novo paradigma.

Em Natal foi instituída a Comissão Pró-Agenda 21 em 2002, na qual se realizaram processos de sensibilização da população com os ideais do desenvolvimento sustentável e também foi feito um diagnostico sobre o nível de desenvolvimento da cidade do Natal, aonde foram identificados os principais desafios.

Dentre os pressupostos do desenvolvimento sustentável está à inclusão social através do processo de integração democrática, como meio de aumentar a sintonia entre a esfera pública e a sociedade civil, para assim poderem-se identificar com maior facilidade os problemas, vantagens e aspirações locais.

Diante desse processo de descentralização e de inclusão democrática dos cidadãos no processo de planejamento e decisão, algumas experiências

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surgiram no Brasil, com sucesso, como é o caso da implementação no final da década de 1980 do Orçamento Participativo na cidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, tal experiência é adotada até os dias de hoje.

Movido principalmente pelos bons resultados obtidos por esta experiência no sul do país, a cidade do Natal resolveu adotar também a metodologia de elaboração do orçamento público municipal, compartilhada com a população. Tal medida foi implementada em 2006, na segunda gestão do ex-prefeito Carlos Eduardo através da Secretaria de Planejamento, Finanças e Orçamento (SEMPLA), sob a direção de sua secretária, na ocasião, Virginia Ferreira. Esta experiência teve uma duração breve, pois após a eleição da atual prefeita Micarla de Sousa, esta atual administração que assumiu o poder no presente ano de 2009 demonstra indícios até o momento de não dar prosseguimento a esta metodologia de participação social.

Considerando o Orçamento Participativo como uma estratégia para afastar-se da armadilha do crescimento não planejado e insustentável, indagou-se, como questão de pesquisa: em que medida o Orçamento Participativo atendeu aos requisitos consagrados na literatura contemporânea sobre desenvolvimento sustentável e participação social em processos de formulação e implementação de políticas públicas?

Diante disto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da implementação do Orçamento Participativo sobre a alocação dos recursos e a participação social no município de Natal. Tal trabalho justifica-se pela inexistência de estudos analíticos sobre a experiência de Orçamento Participativo na cidade de Natal, além de tentar contribuir para a discussão acadêmica sobre a utilização da Teoria do Desenvolvimento Sustentável como referencial para estudos de avaliação de políticas públicas, e, em particular, das experiências de orçamento participativo.

CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUA

CARACTERIZAÇÃO

A teoria do Desenvolvimento Sustentável é a tentativa de criar um novo paradigma de modelo de desenvolvimento, e com o passar dos anos vem sendo cada vez mais encorpada, e ganhando diferentes correntes, pois como

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se trata de um tema contemporâneo que envolve diferentes áreas de estudo, traz então visões de ambientalistas, sociólogos e economistas.

Uma dessas correntes teóricas são os chamados ecossocionomistas, na qual se pode incluir Ignacy Sachs e Sérgio Buarque. Esses autores tratam o conceito de Desenvolvimento Sustentável de forma mais ampla.

Os ecossocionomistas argumentam que o desenvolvimento sustentável deve incluir uma sinergia entre as esferas política, econômica, social, ambiental e territorial. (SACHS, 2004). Diante desta sintonia procura-se através de um planejamento de desenvolvimento endógeno que é aquele que explora as potencialidades locais e oportunidades externas, e conjuntamente com uma ação reguladora do Estado se chegue a uma área de interseção entre inclusão social, preservação ambiental e eficiência econômica que culminaria com a zona de desenvolvimento sustentável. (BUARQUE, 2002).

A partir de então se necessita de uma ação que mova estas esferas conjuntamente sem pressionar nenhuma delas. Quando se enfatiza a esfera econômica e relegam-se as outras, percebe-se que há crescimento econômico, porém causa degradação ambiental e concentração de renda. No entanto se apenas a esfera ambiental for enfatizada haveria preservação ambiental, contudo se obteria a custo da ineficiência econômica e pressionado, também os índices sociais. Com isto o planejamento local aparece como uma ferramenta para o desenvolvimento sustentável. (BUARQUE, 2002).

Portanto ao tratar de uma nova alternativa de modelo de desenvolvimento, a esfera ambiental deve ser tratada como área fundamental, não só por causa de uma ética ecológica pelos danos causados pela ação humana a toda a biosfera. Mas também se deve lembrar que é da natureza que vem muito dos recursos utilizados para o desenvolvimento econômico.

No entanto esta preocupação não deve refletir-se também na radicalização. Portanto à preservação ambiental não deve ser feita em detrimento da estagnação do produto (crescimento zero), como propunha o relatório “Limites para o Crescimento”, pois fadará a região a um continuo atraso e excluirá a possibilidade de países subdesenvolvidos desenvolverem-se e tentar sanar os problemas sociais por eles enfrentados.

A teoria do desenvolvimento sustentável também deve englobar a dimensão social, uma vez que não se pode falar em pleno desenvolvimento apenas concentrando a discussão entre a esfera econômica e ambiental. Há de

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perceber que vários países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos enfrentam graves problemas sociais, e, portanto ao buscar uma trilha de desenvolvimento para sair da miséria deve-se também além de procurar aumentar seu produto sem causar grande impacto ambiental, também procurar diminuir os desníveis sociais, melhorando a distribuição de renda e a oferta dos bens públicos.

Porém esta melhor distribuição de renda deve ser feita de forma que esta população marginalizada seja inclusa na sociedade, deixando de lado a figura do assistencialismo, que não passam de paliativos e não afeta de fato a “ferida”. Tal política assistencialista, de fornecer renda sem nenhum tipo de contrapartida, causa um dano psicológico, pois a população atingida por tais políticas passa a ter a sensação de invalidez, pois recebe um beneficio sem produzir nada. (SACHS, 2004).

A dimensão econômica por anos foi primada em detrimento das demais solapando índices sociais e a biosfera, desde a primeira revolução industrial e principalmente na sua fase oligopolista de concentração de mercados e forte ascendência do capital financeiro que faz crescer a avidez por lucros.

Contudo a percepção da decadência desse paradigma produtivo firmado na exploração de recursos naturais de forma inconseqüente e nas leis do mercado é visível. As reincidentes crises do sistema econômico são muito devido à adoção da doutrina neoliberal, pois relegar única e exclusivamente aos mercados a função de alocação tem causado uma série de assimetrias no globo que acaba definhando economias pouco desenvolvidas, que devido à globalização e forte integração dos mercados internacionais acaba criando crises mundiais, como a crise da Argentina em 2001, que foi uma crise da dívida externa Argentina que acabou contaminando todos os mercados globais. (SACHS, 2004).

Além disso, o esgotamento de algumas reservas naturais e as conseqüências da degradação ambiental vem diminuindo os índices de produtividade de algumas atividades que vem causando desaceleração em alguns setores, como, por exemplo, à crise de alimentos enfrentada recentemente, que foi muito devido à extensa seca de chuvas que passou a Austrália, grande produtora de produtos alimentícios, secas estas derivadas de fenômenos climatológicos.

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Países subdesenvolvidos são os mais afetados pela doutrina neoliberal, pois vêem seus mercados serem dominados por empresas de capital transnacional e com suas economias voltadas para o mercado externo vulneráveis a crises mundiais e passam por constrangimentos no seu balanço de pagamentos, já que são sustentados por exportação de produtos primários e sustentam o consumo das elites locais.

A busca pelo crescimento do produto e a produtividade não devem ser perdidas de vista, pois esta é a lógica econômica. No entanto o desenvolvimento a partir da busca de uma via alternativa deve levar em consideração as especificidades locais. Para assim não cair no chamado mito do desenvolvimento enunciado por Furtado, que levava cada vez mais as regiões subdesenvolvidas à dependência das regiões mais avançadas.

O Estado e suas instituições são fundamentais para um processo de desenvolvimento “sustentável e sustentado”, o processo de desenvolvimento depende da qualidade de suas instituições. (NORTH apud VEIGA, 2005). Tal processo de construção de um Estado e instituições fortes só pode ser alcançado através de uma ação participativa com todos os atores sociais, tal processo participativo é importante para um planejamento estratégico de desenvolvimento.

A construção do plano político-institucional deve acontecer da base para o topo e com participação de todos os atores sociais. A formulação de uma democracia participativa, chamada por Unger de social democracia, é de condição sine qua non para a construção de um Estado forte e propício para o desenvolvimento sustentável. A social democracia é capaz de igualar as forças entre todos os participantes, sendo assim possível que as decisões tomadas sejam o melhor para o global e não para o individual.

O Estado tem como funções articular os espaços para desenvolvimento, firmar parceria entre os atores e a harmonizar as esferas social, econômica e ambiental. O Estado é uma peça preponderante, ele é o único capaz de eliminar as assimetrias do sistema capitalista com suas ações, pois como não tem a visão de estritamente economicista de buscar lucros, ele pode através de suas ações, leis, diminuir e até extinguir os abismos entre camadas sociais, buscar uma exploração dos recursos naturais de forma mais racional, sustentar ao longo dos anos o crescimento do produto. (SACHS, 2004).

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Este quadro político institucional deve agir em conjunto com as demais esferas para que assim haja uma maior coesão, pois com a atuação do Estado e suas instituições e seu ordenamento jurídico é possível conduzir melhor o deslocamento conjunto entre todas as áreas.

OS EFEITOS DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

Nesta seção será feita uma análise da alocação das despesas orçamentárias por função, com o intuito de avaliar de que maneira o Orçamento Participativo influenciou estas despesas. Para esta análise foram utilizados valores nominais e constantes tendo como base o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), tendo como ano base o ano de 2007.

O período de análise vai do ano de 2000 ao ano de 2007, durante este período entra em vigor o Orçamento Participativo, mais precisamente em 2006, inaugurando uma nova maneira de elaborar o orçamento e de compartilhar a responsabilidade com a população.

A ALOCAÇÃO DOS RECURSOS POR REGIÃO

Como foi referido neste capítulo, Natal foi organizada em sete regiões como meio de facilitar a interação com os bairros e a sociedade em geral para implementar o Orçamento Participativo. Mas, como se sabe, Natal é tradicionalmente dividida em quatro regiões administrativas, isto é, norte, sul, leste e oeste. As regiões norte e oeste correspondem à periferia da cidade e concentram 62% da população, enquanto as regiões leste e sul são consideradas regiões de maior IDH. (Diagnóstico e propostas para o Desenvolvimento Sustentável de Natal, 2004).

Portanto desta maneira as regiões que concentram a periferia de acordo com a metodologia utilizada pelo Orçamento Participativo são as regiões I, II e VI, e as regiões com um índice de desenvolvimento maior seriam as regiões V e VII, sendo que as regiões III e IV apresentam a particularidade de envolver alguns bairros das periferias e bairros de áreas mais nobres, caracterizando-se assim como regiões intermediárias em nível de desenvolvimento.

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Durante o período de vigência Orçamento Participativo a sociedade expôs suas dificuldades e possibilidades, e assim pôde exibir sua realidade, originada por anos de crescimento veloz e sem algum planejamento. Tais sintomas são facilmente percebidos no diagnóstico das demandas sociais levantadas nas plenárias regionais e nas obras consideradas prioritárias pela sociedade, como foi visto na seção anterior, onde os temas saúde e saneamento ambiental foram os mais reivindicados.

A alocação das obras por regiões pode ser vista no gráfico 4 a seguir, onde se percebe que as regiões periféricas, V, VI e VII respondem respectivamente por 17,5%, 15% e 12,5 % das ações realizadas, totalizando assim 45% das obras. Já as regiões intermediárias, I e II, respondem respectivamente 17,5%, 12,5%, correspondendo a 30% do total. As regiões mais desenvolvidas, III e IV, concentraram um total de 25% das obras realizadas.

GRÁFICO 1

Concentração de Obras Realizadas Pelo Orçamento Participativo por Região

Fonte: SEMPLA

ALOCAÇÃO DOS RECURSOS POR FUNÇÃO ECONÔMICA

No Gráfico 5 está demonstrada a evolução das despesas por função, percebe-se um aumento considerável no período de 2006, quase 20%. Tal aumento coincide com o primeiro ano de experiência do Orçamento Participativo. Além disso, no ano seguinte continua a tendência de crescimento das despesas por função. Tais despesas compreendem gastos com funções

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essenciais para o desenvolvimento local sustentável, como educação, saúde, assistência social. Tais gastos serão detalhados na seqüência função por função, e sua evolução ano a ano no período estudado.

O aumento nestas despesas por funções não pode ser afirmado como razão única e exclusivamente ao Orçamento Participativo, pois se necessitaria de uma análise mais profunda de inúmeras variáveis, o que iria além dos propósitos deste artigo. No entanto, é de considerar-se que as funções econômicas apresentam um crescimento acentuado no justo período de implementação deste, portanto sua contribuição é inegável, pois como as decisões de alocação dos recursos do Orçamento são tomadas em conjunto com a sociedade civil há por tanto uma pressão para a distribuição de recursos para funções essenciais indicadas pela sociedade.

A divisão de responsabilidade entre Estado e sociedade civil no momento de elaboração do orçamento dificulta a possibilidade de ação de certos atores políticos que surgiriam, caso este orçamento fosse elaborado da maneira tradicional, tais como grupos de interesses e lobistas que tenderiam a direcionar as verbas de acordo com sua conveniência, fazendo com que os benefícios se concentrassem em algumas áreas e diminuindo a sintonia com a população alocando recursos sem perceber a as reais necessidades, dificuldades e aspirações locais.

Gráfico 2

Evolução das Despesas por Função (2000-2007)

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional, 2009.

0,00 100000000,00 200000000,00 300000000,00 400000000,00 500000000,00 600000000,00 700000000,00 800000000,00 900000000,00 1000000000,00 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Va lo r (R $ ) 20 INTERFACE

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No entanto, tal movimento de aumento elevado nas despesas não está concebido unicamente ao Orçamento Participativo, pois apenas algumas obras foram realizadas com o orçamento destinado a esta experiência inovadora, uma vez que o município tinha outras obrigações a cumprir com seu orçamento. Muitas das despesas realizadas nas funções econômicas apresentadas aparecem devido a outros tipos de captação e alocação de investimento como, por exemplo, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), empreendido pelo Governo Federal, o qual foi responsável pelo financiamento de algumas obras de infra-estrutura do município ou por financiamento e parceria com o governo do Estado, mas tal análise foge do objetivo de analise deste artigo.

Para tanto o que não pode ser relegado é processo participativo empreendido pela experiência do Orçamento Participativo, pois este apesar de não ter realizado todas as obras implementadas pela prefeitura, incluiu o cidadão no processo de tomadas de decisão, pois a partir do ponto em que a sociedade civil é consultada a respeito de suas aspirações e dificuldades, como foi feito, houve uma interação maior entre a esfera pública e a população, e com isso a atuação das obras pôde ser mais precisa, diminuindo assim alguns erros de planejamento estratégico.

Muitas das obras por mais que não estejam diretamente ligadas aos recursos do Orçamento Participativo, indiretamente estão de certa forma intrinsecamente ligadas, pois não podemos desconsiderar que esta consulta a população civil para de certa forma guiar a as aplicações de recursos, pois os gestores públicos puderam sentir realmente as aspirações, dificuldades e problemas os cidadãos passam em cada localidade investigada.

CONCLUSÃO

Este processo de decisão conjunta contribuiu para o processo a aprendizagem social, (BUARQUE, 2002), onde a população participando como ser ativo do planejamento pode quebrar algumas relações de poder que se beneficiavam de sua passividade. Relações de poderes que vão desde alocação de obras por ação de grupos de interesses e lobistas que direcionam recursos apenas para áreas específicas e de acordo com sua própria conveniência, os quais se encontram dentro do processo de planejamento

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público tradicional, como também a política de troca de favores empreendida por políticos e lideranças locais.

A avaliação da experiência do Orçamento Participativo em Natal, objeto de estudo deste artigo, evidenciou avanços importantes, porém também enfrentou limites até hoje intransponíveis, conforme detalhado a seguir, a guisa de conclusão:

Avanços do Orçamento Participativo:

1 – Sua vigência conseguiu incluir a população nas decisões públicas, o que é fundamental para a construção de um processo de desenvolvimento sustentável, pois assim consegue-se criar uma maior sintonia entre Estado e sociedade, a fim de buscar melhores alternativas para o processo, e diminuindo também erros de alocação de recursos para áreas não necessárias.

2 – A participação social é fundamental para planejar uma imagem objetivo, para assim poder traçar um caminho rumo a desenvolvimento sustentável. (BUARQUE, 2002). Em relação a isso o Orçamento Participativo de Natal conseguiu criar nos participantes a percepção de inclusão social e de agente ativo, fazendo com que todos aqueles cadastrados no processo pudessem escolher os rumos de suas localidades, elegendo as alocações prioritárias, expondo suas dificuldades. Criando assim um processo de coesão social entre os participantes, diminuindo o estigma de agentes passivos das ações do Estado.

3 – O Orçamento Participativo, como foi demonstrado neste trabalho, conseguiu fazer com que os recursos fossem direcionados para setores chaves de cada localidade de acordo com as aspirações locais de cada região, como também fez com que de certa forma houvesse uma diminuição das desigualdades das regiões locais, pois aquelas regiões caracterizadas como periferias, e que então enfrentam uma série de problemas, fossem contempladas com mais obras em setores específicos, escolhidos pela comunidade a fim de saná-los.

4 – Isto demonstra também que a participação social através desta fuga dos métodos tradicionais de elaboração dos orçamentos municipais, não extinguiu, mas de certa forma inibiu a ação de grupos de interesses políticos, eleitoreiros e lobistas que agem em torno do orçamento a fim de direcionar os recursos para áreas e regiões de interesse pessoal, tanto na prefeitura, como

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de alguns lideres comunitários que exerciam um tipo de relação clientelista onde apadrinhavam uma localidade com a prestação de alguns favores em troca do apoio da comunidade para poderem lançar suas pretensões políticas.

5 – A inclusão da sociedade civil fez com que fossem identificados os principais problemas enfrentados pela população e também suas necessidades e desejos, pode-se notar que a partir de 2006, primeiro ano do Orçamento Participativo, há um elevado aumento nas despesas com as funções econômicas, como saúde, assistência social, urbanismo, educação e saneamento ambiental. O que comprava a importância desta política pública, pois embora muitas das obras realizadas durante este período não tenham vindo diretamente dos recursos do Orçamento Participativo, é inegável a importância deste no processo de diagnostico para direcionamento de investimentos, muito em função da participação social, que com a oportunidade de participar das decisões passou ser muito mais ativa nas cobranças de ações públicas, exercendo seu direito de cidadão.

Obstáculos enfrentados pelo Orçamento Participativo:

1 – A participação social apesar de ativa foi pequena, pois de um total de quase 800.000 habitantes apenas 4.000 participaram no primeiro ano, tendo este número dobrado no ano seguinte, isto se deve muito ao fato de ser uma algo inovador sem nenhuma experiência passada dentro do município de Natal. 2 – A falta de hábito de participar das decisões e, portanto a comodidade criada pela utilização dos tradicionais planejamentos governamentais faz com que se torne difícil o processo de sensibilização e mobilização da população, sendo necessário um período duradouro e efetivo desta metodologia a fim de ganhar credibilidade com a população.

3 – As oposições dentro da própria esfera governamental ao Orçamento Participativo fez com que este também enfrentasse problemas para sua execução, pois esta experiência estava desarticulando alguns vícios dentro da maquina pública, troca de favores e relações clientelistas, por exemplo. Com isso algumas pessoas dentro da esfera pública não endossaram o Orçamento Participativo a fim desta maneira desarticular esta política pública.

No entanto vale salientar que o dobro dos participantes acontecido no ano de 2007 em relação a 2006 mostra que a experiência obteve êxito e ganhou a confiança da população. Experiências como estas precisam de um

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período para adaptação da população, vale salientar casos de sucesso como o de Porto Alegre que desde a década de 1980 adota tal modelo e de Recife.

Portanto o fim do Orçamento Participativo é extremante prejudicial, pois não deu oportunidade de firmar-se de vez esse modelo de divisão de responsabilidades, o que é imprescindível para caminhar-se ao desenvolvimento sustentável, pois é parte desta teoria a participação popular nas tomadas de decisões a cerca dos rumos da localidade.

O Orçamento Participativo não é uma panacéia que resolveria todos os problemas e dificuldades enfrentadas pela cidade do Natal, ele seria apenas um instrumento inicial, um primeiro passo para começar a orientar todo o processo de planejamento de políticas públicas para a promoção de uma trilha sustentável, através da inclusão da sociedade, com a participação ativa do Estado como grande articulador.

Concluí-se ao final deste trabalho científico que a experiência do Orçamento Participativo foi positiva na cidade do Natal, pois apesar de não ter mobilizado em massa a sociedade, conseguiu de um ano para outro dobrar o numero de seus participantes, deixando a impressão de que caso perdurasse por mais tempo conseguiria de fato.

Por fim o Orçamento Participativo é um modelo de gestão dos recursos orçamentários que beneficia a sociedade incluindo todos no centro das decisões e, portanto deve ser retomada e deve ser sustentada por um período extenso, onde possa haver um processo de aprendizagem social e inclusão, e para isso deve ser tomada como uma política pública de Estado e não de governo apenas.

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TRAMITAÇÃO

Recebido em: 04/12/09 Aprovado em: 10/03/10

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Referências

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