O impacto do “lixão” na qualidade de vida da comunidade
circunvizinha nos bairros de Cidade Nova e Felipe Camarão Natal /Rn
Miguel Alfredo Flores Dueñas (PEP/UFRN) miguel.duenas@pep.ufrn.br Ana Rosa Câmara (PEP/UFRN) anarosa.camara@pep.ufrn.br
Belchior de Oliveira Rocha (PEP/UFRN) belchior@cefetrn.br Carlos Eduardo Machado (PEP/UFRN) cem@pep.ufrn.br
Resumo
O trabalho visa mostrar os índices de desconforto provocados em famílias que moram muito próximo ao local onde se deposita o lixo sem qualquer tratamento na cidade de Natal. Os dados foram coletados através de questionário fechado com o objetivo de saber os índices de desconforto destas famílias e o comportamento segundo o seu grau de insatisfação. Dentro dos índices encontrados, quatros foram apontados com muita freqüência: os mosquitos, considerados pela população como sendo aquele que apresenta maior desconforto, seguido pela fumaça, mau cheiro e o chorume. Dentro do comportamento das famílias, apesar do desconforto, verificou-se uma percentagem a considerar que não querem se mudar das proximidades do deposito de lixo. A análise sinaliza para uma relação de influência entre o desconhecimento das famílias sobre o impacto negativo do lixão e a sua menor percepção de insatisfação, visto que os moradores têm pouca percepção. O estudo conclui com discussão sobre a necessidade de políticas apropriada que facilite aos órgãos competentes procurarem um local mais adequado para o deposito do lixo longe dos centros urbanos, proporcionando uma melhor qualidade de vida para a comunidade.
Palavras chave: lixão, Índices de desconforto, qualidade de Vida.
1. Introdução
A pesquisa descrita neste trabalho foi realizada por ocasião do curso de mestrado em Engenharia de Produção na disciplina de Oficina de Metodologia, para analisar os problemas vivenciados no dia a dia pela comunidade circunvizinha do lixão dos bairros de Cidade Nova e Felipe Camarão, tendo como foco da pesquisa analisar a qualidade de vida da comunidade dos bairros citados. Verificar os problemas provenientes pela falta de condições adequadas no armazenamento e tratamento do lixo, o que proporciona transtorno a população que habita na proximidade do lixão.
O lixo, disposto inadequadamente, sem qualquer tratamento, altera suas características físicas, químicas e biológicas, gerando graus de desconforto da população provocando um impacto na qualidade de vida instituindo-se numa séria ameaça à saúde pública das comunidades próximas.
O método de levantamento de dados foi utilizado o processo de questionários, a amostra foi feito num total de 42 famílias, o estudo teve caráter exploratório visando obter dados quantitativos dos índices de desconforto, forma do comportamento dos moradores destes bairros pesquisados relacionados a estes índices.
No trabalho verificou-se que os maiores desconfortos descritos pelos moradores entrevistados na sua maioria foram, os mosquitos, a fumaça quando o lixo é queimado o mau cheiro e o chorume provocando um impacto na qualidade de vida dos moradores.
1.1. Tema e problema
Tema: O impacto do “lixão” na qualidade de vida da comunidade circunvizinha.
Problema: Qual a influência do desconforto ambiental gerado pelo “Lixão” na qualidade de vida de comunidade circunvizinha?
Questões: Qual o grau de (in)satisfação da população que reside próximo ao lixão, devido ao mal cheiro, a fumaça provocada pelas queimadas, ao chorume e a presença de mosquitos do lixão?
1.2 Justificativa
O trabalho se justifica com base nos seguintes aspectos:
− Importância: Em relação ao bem estar de famílias vizinhas a “Lixões”, envolvendo uma fração significativa da população da maioria das cidades brasileiras, e se relaciona a uma questão relevante, a qualidade de vida, cuja investigação em qualquer dos seus aspectos é uma contribuição importante na adoção de ações para sua melhoria.
− Originalidade: considerando o aspecto específico em que o tema vai ser investigado, em função do problema proposto, os resultados têm o potencial de nos surpreender.
− Viabilidade: o tema tendo sido delimitado à área de saúde pública, direcionando a pesquisa para a investigação de fatores ambientais como agentes contribuintes para a “qualidade de vida”, caracteriza-se como viável considerando a disponibilidade de informações, dados e teoria acessíveis que possibilita relacionar o nível do bem estar da comunidade com os efeitos negativos gerados desconforto devido a fumaça das queimadas, ao mal-cheiro, aos mosquitos e ao chorume.
Para fornecer informações e dados sobre aspectos pouco investigados, qualificados e quantificados, em relação ao desconforto gerados devido ao “Lixão” e o respectivo impacto na qualidade de vida da comunidade circunvizinha.
1.3 Objetivos
− Identificar “como e quanto” o desconforto gerado em decorrência ao lixão interfere na qualidade de vida da comunidade circunvizinha;
− Fornecer indicadores que sinalizem os fatores críticos para implementação de ações de saúde pública focalizadas.
2. Fundamentação Teórica
A problemática acarretada pelo lixo no meio urbano abrange alguns aspectos relacionados a sua origem e produção, assim como conceito da inesgotabilidade e dos reflexos comportamentais do meio ambiente, que resulta das atividades diárias do homem em sociedade.
Adotamos para efeito deste estudo como “Lixão”: O Local “oficial” usado por organismo executivo (Estadual ou Municipal) como depósito público de lixo gerado pela população, sem condições adequadas de tratamento sanitário.
Segundo Orht (1976), “Lixo” consiste em todo e qualquer resíduo que resulte das atividades diárias do homem na sociedade. Estes resíduos compõem-se basicamente de sobra de alimentos, papéis, papelões, plásticos, trapos, latas, vidros, etc. e substâncias descartadas pelo homem no meio ambiente.”
Os fatores principais que regem sua origem e produção são basicamente, dois: o aumento populacional e a intensidade da industrialização, que irá aumentar consideravelmente o volume do lixo que provocam problemas e doenças epidemiológicas relacionadas com os
resíduos provenientes dos mesmos, afetando a vida da população circunvizinha; tais como: problemas respiratórios, dermatológicos, oftalmológicos e o desconforto ambiental.
Para Foranttini (1979), “O maior volume do lixo produzido é o doméstico, que é contaminado por produtos tóxicos como: solventes, tintas, produtos de limpeza, agrotóxicos e do lixo hospitalar que é o agente contaminante de maior risco, que ao serem depositados no "lixão" a céu aberto representa um enorme impacto ambiental ao solo, água e ar de uma micro região, provocando mal cheiro, afetando a qualidade dos mananciais de água (lagoas, rios, lençol freático), plantação e lavoura enfim diminuindo a qualidade de vida da população”.
Segundo o Relatório da ONU, 1999, “Qualidade de vida é o conjunto de percepções individuais da posição de vida das pessoas no contexto dos sistemas culturais e de valores em que se vive em relação as metas, expectativas, padrões e conceitos. Incorpora saúde física, o estado psicológico, o nível de dependência, as aspirações pessoais e relações sociais, as crenças pessoais e o seu relacionamento com o meio ambiente.”
3. Metodologia
O estudo é do tipo exploratório, onde se trabalhou com uma amostragem da população circunvizinha do “lixão” dos Bairros Cidade Nova e Felipe Camarão / Natal-RN. Teve como preocupação central à identificação quantitativa dos fatores provocados pelo “lixão” que causam desconforto e interferem na Qualidade de vida da comunidade circunvizinha.
A metodologia consistiu basicamente de um pesquisa survey através da aplicação de questionários fechados na comunidade circunvizinha ao lixão nos bairros de Cidade Nova e Felipe Camarão em Natal (RN). Para a tabulação foi utilizado e software Statistica e Excel. No tocante da amostra foi de 42 questionários, optamos por uma amostra não probabilística, estratificada, tendo em vista que todos os elementos da população tiveram a mesma chance de ser escolhidos.
4. Analises dos dados
Para as descrições qualitativas dos dados coletados foi adotada a análise de conteúdo, aplicada aos documentos de pesquisa estudados, decompondo o assunto nas suas partes essenciais, objetivando, sobretudo comparar a percepção e o pensamento dos entrevistados em relação às questões estabelecidas.
A figura 1 mostra que 90,48% das respostas têm um grande grau de desconforto em qualquer uns dos índices propostos e 9,52% manifestaram pouco ou nenhum desconforto.
9,52
90,48
Ñ tem desconforto Tém desconforto
(%)
Figura 1
A figura 2 apresenta os resultados em percentuais dos graus de insatisfação e podemos constatar que 71,4%, das famílias entrevistadas que o fator de desconforto “mosquitos” é o que causa maior impacto na qualidade de vida destas comunidades, sendo que apenas 2,4% das famílias não sentem os incômodos devido a este fator.
Os outros fatores de desconforto pesquisados apresentaram também graus, relativamente elevados, de insatisfação a nível crítico pelo desconforto: Fumaça (60%), Mal-cheiro (50%) e Chorume (43%).
Analisados os dados relativos ao conhecimento dos riscos devido aos fatores de desconforto considerados cruzando com resultados dos graus de insatisfação temos na figura 2 que, quando menos conhecimento menos insatisfação o mesmo ocorre com as pessoas que tem bom conhecimento, enquanto quem tem algum tipo de regular conhecimento o índice das pessoas insatisfeitas aumenta.
Fumaça
21,43 19,05
59,52
Ñ TEM POUCA MUITA
%
Mau cheiro
9,52
40,48 50,00
Ñ TEM POUCO MUITO
%
Mosquitos
2,38
26,19
71,43
Ñ TEM POUCO MUITO
%
Chorume 50,00
7,14
42,86
Ñ TEM POUCO MUITO
%
Figura 2: Grau de desconforto
9,3 23,2 11,6 8,3 16,2 7 7 11,6 5,8 nenhum regular Bom Grau de conheciment o Insatisfação (%) nenhuma regular Alto Figura 3: Conhecimento em relação insastifação.
24,4
51,0
11,9 7,14 4,76 9,52 21,43 19,05 4,76 11,9 9,52 0 5 10 15 20 25
Ñ recebe Poucas Regular
Visitas
Conhecimento (%
)
Ñ tem pouco Muito
Figura 4: Grau de conhecimento em relação à visita de agentes
Considerando essa sinalização se analisou uma possível relação que indique a influência entre as visitas orientadoras de agentes de saúde e o grau de conhecimento das famílias, figura 4. Os dados sinalizam para uma relação inversa entre o crescimento de visitas e o aumento do conhecimento das famílias em relação ao impacto do lixão, considerando os fatores pesquisados.
Uma informação relevante obtida na análise dos dados é que entre as famílias apesar de ter sido identificado alto grau de impacto de desconforto mostradas na figura 1 que é de 90,48% devido aos fatores pesquisados, 34,21% não desejam mudar do local onde moram figura 5. Desses, residem na vizinhança do lixão: 46,0 % a menos de 3 anos, 31,0% entre 3 e 10 anos, e 23,0 % a mais de 10 anos figura 6.
65,79
34,21
quer se mudar Ñ quer se mudar
(%)
Figura 5 : Desejo de se mudar
0 A 3 46% de 3 A 10 31% mas que 10 23% Figura 6: Tempo de Residência.
6. Conclusões e Recomendações 6.1 Conclusões
− O estudo confirma os fatores Fumaça, Mau cheiro, Mosquitos e Chorume como fatores críticos de desconforto, impactando negativamente a qualidade de vida da comunidade vizinha ao lixão;
− O fator de desconforto que causa maior impacto é a presença de mosquitos no habitat das famílias vizinhas ao lixão, seguido de fumaça, mau cheiro e chorume;
− A análise sinaliza para uma relação de influência entre o desconhecimento das famílias sobre o impacto negativo do lixão e a sua menor percepção de insatisfação;
− A análise sinaliza para necessidade de avaliação da sistemática de orientação dos agentes de saúde adotada nas visitas, no caso específico dessas comunidades;
− O estudo aponta que apesar do alto grau de desconforto devido à proximidade do lixão, quase 46% dessas famílias não desejam mudar do local, devido a motivos tais, com: retira o sustento do lixão, menos facilidade de outra moradia em outro local ao mesmo custo;
6.2 Recomendações
− O reflorestamento do local;
− Procura de um local mais adequado para o deposito do lixo longe dos centros urbanos; − Este novo local tem que cumprir todos os requisitos para sua utilização e não transferir os
mesmos problemas para outras localidades;
− Com os dados mostrados, pode se realizar trabalhos de prevenção para melhor à saúde dos moradores dos bairros;
− Futuros trabalhos podem desenvolver uma melhor forma para diminuir os índices de desconforto detectados ou fazer estudos qualitativo do comportamento das famílias explorando a psicologia ambiental.
Referências
CERVO, A.L. & BERVIAN, P. A. (1996) - Metodologia Científica; Makron Book 4ª edição
FORANTTINI, 0. P. (1979). Aspectos Epidemiológicos ligados ao lixo. In: Resíduos sólidos e limpeza urbana, USP/FSP, São Paolo.
FREITAS H., Oliveira M., Saccol A.Z. (2000) - Método de pesquisa Survey. São Paulo/Sp: Revista de
Administração da UPS , RAUPS .Vol.35 , nº. 3 Jul-Set. p.105 –112
LAKATOS, E. M., MARCONI, M. A.(2000) - Metodologia Científica; Editora Atlas 3ª Edição ORHT, M.H.A., (1976) Lixo e demais resíduos sólido; CETESB/ABES/ABLP, São Paolo RELATORIO DA ONU, (1999)