DA ORDEM DE VOCA
ÇÃ
O HEREDIT
Á
RIA
A ordem de vocação hereditária, por sua vez, vem a ser a ordem sucessória, ou seja, o rol das pessoas que podem suceder.
No Código Civil de 1916, aberta a sucessão eram chamados a suceder os descendentes, os ascendentes, o cônjuge supérstite ou o companheiro, os colaterais até o quarto grau e, por último, a Fazenda Pública. Era um rol taxativo e preferencial, previsto no artigo 1.603, que assim dispunha:
Art. 1.603. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes;
II - aos ascendentes;
III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais;
V - aos Municípios, ao Distrito Federal ou à União.
De se notar que o cônjuge somente era beneficiado na ausência de descendentes ou ascendentes. Nesta época, ao cônjuge era dado o direito real de usufruto vidual (Art. 1.611, § 2º, CC/16: Ao cônjuge sobrevivente, casado sob regime de comunhão universal, enquanto viver e
permanecer viúvo, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único bem daquela natureza a inventariar)
A nova ordem de vocação hereditária, portanto, prevê a concorrência dos descendentes e dos ascendentes com o cônjuge, estabelecendo o seguinte: descendentes e cônjuge ou companheiro, ascendentes e cônjuge ou companheiro, cônjuge sozinho, colaterais até o quarto grau e companheiro e, por fim, o companheiro sozinho.
DA ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Art. 1845, as pessoas que o legislador selecionou para que ocupassem a categoria de herdeiros necessários. Preceitua o dispositivo: "São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge“
Herdeiros necessários: são aqueles que não podem ser afastados da sucessão pela simples vontade do sucedido; portanto, apenas quando fundamentado em fato caracterizador de ingratidão por parte de seu herdeiro necessário poderá o autor da herança dela afastá-lo; e, ainda assim, apenas se tal fato estiver previsto em lei como autorizador de tão drástica consequência.
Venosa (2011) O cônjuge vem, no Código Civil de 1916, colocado em terceiro lugar na ordem de vocação hereditária, após os descendentes e ascendentes. Não é herdeiro necessário, podendo, pois, ser afastado da sucessão pela via testamentária. Nesse código, o cônjuge herda na ausência de descendentes ou ascendentes. A dissolução da sociedade conjugal exclui o cônjuge da vocação sucessória [...]. A doutrina sempre defendeu a colocação do cônjuge como herdeiro necessário, posição que veio a ser conquistada com o Código Civil de 2002. Isso porque, no caso de separação de bens, o viúvo ou a viúva poderiam não ter patrimônio próprio, para lhes garantir a sobrevivência.
DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Impõe o legislador uma ordem de vocação hereditária, em que divide
os chamados a herdar em classes, impondo entre eles uma “relação
preferencial” (RODRIGUES, 2010) em que uns excluem os outros,
segundo a ordem estabelecida no ordenamento.
Os herdeiros legítimos decorrem de determinação legal e
dividem-se em herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge)
e facultativos (colaterais até 4º grau e companheiro). (TARTUCE,
2013)
O COMPANHEIRO
• O companheiro é herdeiro necessário ?
– SIM (Caio Mário, Giselda Hironaka, Maria Berenice Dias)
– NÃO (Francisco Cahali, Zeno Veloso, Maria Helena Diniz, Rolf Madaleno, Rodrigo da Cunha Pereira, Flávio Tartuce)
– Art. 1.845, CC não arrola o companheiro como herdeiro necessário.
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
O cônjuge é herdeiro, sem prejuízo da meação em
razão do regime de bens.
Quando o falecido houver deixado herdeiro
necessário, seu patrimônio se divide, por assim dizer,
em duas partes: a quota disponível e a legítima,
sendo esta cabente àqueles.
Insta ressaltar que a meação é o direito que uma
pessoa tem em relação aos bens comuns; assim,
podemos dizer que se traduz na metade dos bens da
comunhão.
No direito das sucessões, a meação é a
parte que cabe ao cônjuge supérstite, parte esta que
compreende a metade dos bens do acervo.
Bens particulares: são aqueles que pertencem exclusivamente a um dos cônjuges, em razão do seu título aquisitivo.
No regime da comunhão parcial, são particulares os bens adquiridos antes e depois do casamento, por herança ou doação, bem como os adquiridos com o produto da venda de outros bens particulares. Os demais bens, adquiridos pelos cônjuges durante o tempo em que estiverem juntos, chamados de aquestos (Diz-se de ou cada um dos bens adquiridos durante o casamento), constituem acervo comum.
Bens comuns: são os bens que dão direito à meação, divisão em duas partes iguais na partilha, que acontece após a dissolução do casamento. As mesmas regras valem para os companheiros, pois a união estável atende ao regime da comunhão parcial de bens, salvo se houver contrato escrito dispondo de forma diversa.
No julgamento do Recurso Especial (REsp) 954.567, o ministro mencionou que o CC/02, ao contrário do CC/1916, trouxe importante inovação ao elevar o cônjuge ao patamar de
concorrente dos descendentes e dos ascendentes na sucessão legítima (herança). “Com isso,
passou-se a privilegiar as pessoas que, apesar de não terem grau de parentesco, são o eixo central da família”, afirmou o ministro Massami Uyeda, da Terceira Turma do STJ.
Isso porque o artigo 1.829, inciso I, dispõe que a sucessão legítima é concedida aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente (exceto se casado em regime de comunhão universal, em separação obrigatória de bens – quando um dos cônjuges tiver mais de 70 anos ao se casar – ou se, no regime de comunhão parcial, o autor da herança não tiver deixado bens particulares)
Sucessão do descendente e a concorrência do cônjuge
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no
regime da
comunhão universal
, ou no da
separação
obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou
se, no regime da
comunhão parcial
, o autor da
herança não houver deixado
bens particulares
;
a)
Regime da comunhão parcial de bens
, não havendo
bens particulares do falecido
b)
Regime de comunhão universal de bens
Sylvia Maria Mendonça do Amaral: [...] No regime da
comunhão universal de bens e no da comunhão parcial
de bens, o cônjuge sobrevivente tem direito à metade dos
bens do casal em virtude da meação. Aqui não estamos
falando em direitos sucessórios, herança e sim em parte
dos bens que já pertenceriam ao cônjuge em decorrência
do regime de casamento e não serão objeto de inventário
e partilha entre os herdeiros.
Venosa (2011): Uma vez dissolvida a comunhão, cada
cônjuge retirará seus bens particulares e, serão divididos
os bens comuns. [...] se o consorte firmara compromisso
de compra e venda de imóvel antes do casamento, esse
bem não se comunica, ainda que a escritura definitiva
seja firmada após, salvo se houver prova de que houve
contribuição financeira do outro cônjuge após o
casamento
REGIME DE BENS
a) Regime da comunhão parcial:
o cônjuge sobrevivente terá direito
à meação dos bens adquiridos de forma onerosa na constância do
casamento, portanto não concorrerá à herança com os
descendentes, no que tange a esses bens. Todavia, há casos em que,
sob a égide do regime da comunhão parcial, o autor da herança deixa
bens particulares: bens que foram adquiridos anteriormente ao
casamento ou bens adquiridos por herança ou doação, assim como
bens adquiridos com o produto da venda de tais bens particulares;
esses bens não se comunicam, no regime da comunhão parcial, razão
pela qual, em relação a eles, não havendo (como não há) meação, o
cônjuge herdará, concorrendo com os descendentes do cônjuge
falecido.
b) Regime da comunhão universal:
o cônjuge, na sucessão legítima,
jamais concorrerá à herança com os descendentes do outro, pois, por
força do regime, já tem direito à metade de todos os bens do casal,
não importando se tais bens foram adquiridos antes ou depois do
casamento (bens comuns ou particulares)
c) Separação obrigatória de Bens:
o cônjuge não tem
direito à meação, face a inexistência de patrimônio
comum, uma vez que os bens, imóveis ou móveis,
adquiridos antes ou na constância do casamento,
não
se comunicam, pois pertencem, exclusivamente, ao
cônjuge que detenha o título aquisitivo de tais bens
;
por isso, ante a ausência de meação, o novo Código,
para que o (a) viúvo(a) não ficasse em total
desamparo, lhe conferiu direito de concorrer com os
descendentes, em partes iguais, à herança deixada
pelo(a) falecido(a).
REGIME DE BENS COMPOSIÇÃO DO ACERVO CÔNJUGUE DESCENDENTE COMUNHÃO PARCIAL COMUNHÃO UNIVERSAL SEPARAÇÃO OBRIGATORIA BENS COMUNS
Meação e quota –parte dos bens particulares
Herda a meação do de cujus e quota-parte dos bens particulares
Bens comuns e bens particulares Bens particulares
Meação e quota-parte Dos bens particulares
Herda a meação do de cujus e quota dos bens particulares Herda quota-parte Herda quota-parte Bens comuns Bens comuns e bens particulares (art.1.668,CC) Bens particulares (art.1668,CC) Bens particulares Meação Só a meação Herda quota-parte Não há direito sucessório Herda a meação do autor da herança
Herda a meação do autor da herança e 100% dos
bens particulares
Herda quota-parte Herda 100% do aceno
I - Regime da comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do falecido
Meação
Herança
Meação: é o instituto de direito de família que depende do regime de bens
adotado.
Herança: é o instituto de direito das sucessões que decorre da morte do
falecido.
A meação, portanto, já pertence ao companheiro, esposa mesmo enquanto o outro estiver vivo. Não se trata de sucessão, mas sim de propriedade.
Quando há o falecimento do de cujus, abre-se a chamada sucessão. Os bens pertencentes ao falecido são transmitidos a seus herdeiros (princípio da saisine). Claro está que só irá para os herdeiros o patrimônio do falecido e não do cônjuge sobrevivente. Assim, primeiro se calcula a meação (que pertence ao cônjuge sobrevivente) e os bens restantes são transmitidos aos herdeiros.
Comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do falecido
- Fica difícil imaginar a hipótese em que o cônjuge casado pela comunhão parcial não tenha deixado bens particulares. (Ex. pelo menos uma roupa do corpo, chinelo, etc.)
No regime de comunhão parcial de bens:
A concorrência sucessória somente se refere aos bens
particulares.
En. 270 CJF/STJ– Art. 1.829: O art. 1.829, inc. I, só assegura ao
cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os
descendentes do autor da herança quando casados no regime
da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes
da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o
falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a
concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns
(meação)
ser
partilhados
exclusivamente
entre
os
descendentes. Mesmo com vários julgados nesse sentido, o
entendimento não é pacífico.
Posicionamento contrário: que a concorrência na comunhão
parcial deve se dar tanto em relação aos bens particulares
quanto aos comuns.
Decisão do STJ e entendimento de Mª Berenice para União Estável:
“(...) três correntes de pensamento sobre a matéria:
(I) a primeira, baseada no En. 270 das Jornadas de Direito Civil,
estabelece que a sucessão do cônjuge, pela comunhão parcial,
somente se dá na hipótese em que o falecido tenha deixado
bens particulares, incidindo apenas sobre esses bens;
(II) a segunda, capitaneada por parte da doutrina, defende que a
sucessão na comunhão parcial também ocorre apenas se o “de
cujus” tiver deixado bens particulares, mas incide sobre todo
patrimônio, sem distinção;
(III) a terceira defende que a sucessão do cônjuge, na comunhão
parcial, só ocorre se o falecido não tiver deixado bens
particulares. (...).
Preserva-se o regime da comunhão parcial de bens, de acordo com o
postulado da autodeterminação, ao contemplar o cônjuge
sobrevivente com o direito à meação, além da concorrência
hereditária sobre os bens comuns, mesmo que haja bens
particulares, os quais, em qualquer hipótese, são partilhados apenas
entre os descendentes.
DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
A introdução do cônjuge nas classes anteriores à terceira, se faz
de forma gradativa e proporcional à importância que o
legislador empresta aos descendentes e aos ascendentes em
relação ao apreço e carinho que o morto presumidamente
guardaria para cada qual. Por isso é que a quota do cônjuge vai
aumentando dependendo da classe em que se encontre, como
se verá.
Para Caio Mário: Pode-se concluir, então, no que respeita ao
regime de bens reitor da vida patrimonial do casal, que o
cônjuge supérstite participa por direito próprio dos bens
comuns do casal, adquirindo a meação que já lhe cabia, mas
que se encontrava em propriedade condominial dissolvida pela
morte do outro componente do casal e herda, enquanto
herdeiro preferencial, necessário, concorrente de primeira
classe, uma quota parte dos bens exclusivos do cônjuge falecido,
Menção ERRADA ao art. 1.640, Parágrafo Único, CC/02 refere ao regime de
separação obrigatória de bens. Regime de Separação legal ou obrigatória é
tratado pelo art. 1.641 CC: Pessoas que se casam em inobservância às
causas suspensivas do casamento, os maiores de 70 anos e as pessoas que
necessitam de suprimento judicial para casar.
Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial.
Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas
.
Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:
I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas
da celebração do casamento;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº
12.344, de 2010)
Separação convencional de bens, os nubentes estipulam
livremente em contrato (pacto antenupcial) antes de celebrado
o casamento, o que melhor lhes convém quanto aos seus bens.
Separação obrigatória (legal) de bens é obrigatória a separação
dos bens, decorrendo esta da vontade da lei.
Tendo em vista a
súmula 377 do Supremo Tribunal Federal, a
qual estatui que "no regime da separação legal de bens,
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento"
,
percebemos uma incongruência muito grande com relação ao
significado e finalidade do regime de bens em comento. Desta
forma, podemos enfatizar que tal súmula deve ser revogada,
levando-se em conta as divergências ocasionadas e, acima de
tudo, sua falta de coerência com o contexto em que se insere.
Nesse entendimento afastando a concorrência sucessória apenas na separação obrigatória de bens:
Entendimento do STJ
“O regime da separação obrigatória de bens, previsto no art. 1.829, I CC/02, é gênero que congrega duas espécies: (I) Separação legal, (II) Separação convencional. Uma decorre da lei e outra da vontade das partes, e ambas obrigam os Cônjuges, uma vez estipulado o regime da separação de bens, à sua observância. Não remanesce, para o cônjuge casado mediante separação de bens, direito à meação, tampouco à concorrência sucessória, respeitando-se o regime de bens estipulado, que obriga as partes na vida e na morte. Nos dois casos, portanto, o cônjuge não é herdeiro necessário” (STJ, Resp 992.749/MS)
A meação, portanto, já pertence ao companheiro, mesmo enquanto o outro estiver vivo. Não se trata de sucessão, mas sim de propriedade.
Quando há o falecimento do companheiro, abre-se a chamada sucessão. Os bens pertencentes ao falecido são transmitidos a seus herdeiros (princípio da saisine). Claro está que só irá para os herdeiros o patrimônio do falecido e não do companheiro sobrevivente. Assim, primeiro se calcula a meação (que pertence ao companheiro sobrevivente) e os bens restantes são transmitidos aos herdeiros
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório
ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do
outro, não estavam separados judicialmente, nem
separados de fato há mais de dois anos, salvo prova,
neste caso, de que essa convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente.
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que
seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo
da participação que lhe caiba na herança, o direito
real de habitação relativamente ao imóvel destinado
à residência da família, desde que seja o único
Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.
- Cônjuge recebe o mesmo quinhão que os dos descendentes
-Reserva de ¼ da herança ao cônjuge, se ele for ascendente dos
descendentes com quem concorrer >> Assim se o cônjuge concorrer somente com descendentes do falecido não haverá a reserva.
Na verdade, a questão somente ganha relevo se houver a concorrência com + de 3 descendentes do falecido, situação em que a reserva da quarta parte ficaria em xeque.
Aduz o artigo 1832 do Novo Código Civil que "em concorrência com os descendentes caberá ao cônjuge quinhão igual aos dos que sucederem por cabeça [...]". Nesse contexto, Flávio Augusto Monteiro de Barros entende que o cônjuge sobrevivente concorrerá na herança com os descendentes por cabeça; nesse sentido, deduz que o cônjuge concorre na totalidade da herança. A totalidade da herança é uma questão que deve ser cuidadosamente apreciada, pois, dependendo do regime de bens eleito pelo casal, ela será constituída pelos bens particulares do de cujus ou abrangerá metade do patrimônio total.
Debate sobre a “sucessão híbrida” (Giselda Hironaka):
Quando o cônjuge concorre com os descendentes comuns (de
ambos) e com descendentes exclusivos do autor da herança (tal
hipótese não foi prevista pelo legislador).
2 correntes:
1ª corrente (majoritária)
– Em havendo sucessão híbrida
não
se
deve fazer a
reserva da quarta parte
ao cônjuge, tratando-se
todos os dependentes como exclusivos do autor da herança
.
Seguidores: Caio Mário, Maria Helena Diniz, Maria Berenice
Dias, Zeno Veloso,... e Tartuce.
O entendimento prestigia os filhos em detrimento do cônjuge,
entendimento constitucional, conforme
En. 527 CJF/STJ “Na
concorrência entre o cônjuge e os herdeiros do de cujus não
será reservado a quarta parte da herança para o sobrevivente
em caso de filiação híbrida”
2ª corrente (minoritária)
– Em havendo sucessão híbrida, deve
ser
feita a reserva da quarta parte
ao cônjuge, tratando-se
todos os
descendentes como comuns
. Seguidores: Francisco
DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais
próximo excluem os mais remotos, salvo o direito de
representação.
Ex. (1)Se o falecido deixou 2 filhos e 4 netos; (2)Se o
falecido deixou 4 netos e 2 bisnetos
Todos os exemplos são de descendentes de mesma classe
tem os mesmos direitos à sucessão que os ascendentes,
assim receberão no (1) os.... E no (2) os...
Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os
mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes.
- Um filho não pode receber por sucessão legítima mais
do que outro, o que representaria atentado ao princípio
da igualdade entre os filhos (art. 227, § 6º CF/88)
Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por
cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por
estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.
Por cabeça:
A herança se reparte um a um, no
sentido de cada parte vir a ser entregue a um sucessor
direto.
- herdeiros de grau igual = herdam por cabeça
Por estirpe:
A herança não se reparte um a um
relativamente aos chamados a herdar, mas sim na
proporção dos parentes de mesmo grau vivo ou que,
sendo mortos, tenham deixado prole ainda viva.
-herdeiros de grau diferente = herdam por estirpe
Fiuza (2007, p.1017) “a sucessão por estirpe é aquela
que toca aos herdeiros do herdeiro falecido”
Ex. 2 filhos do falecido , que são irmãos, sucedem por...
Ex. 1 filho e 1 neto do falecido sucedem por....
Na sucessão legítima os herdeiros mais próximos
excluem os mais remotos (salvo na hipótese de
representação) e os herdeiros de grau igual, quando
herdam em nome próprio, recebem uma cota igual da
herança.
II - Da sucessão dos ascendentes e a concorrência do cônjuge
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (...)
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; (...)
Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente.
§ 1o Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem
distinção de linhas.
§ 2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha
paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.
- Na falta de descendentes são chamados à sucessão os ascendentes (herdeiros de 2ª classe), do mesmo modo em concorrência com o cônjuge sobrevivente.
Ex. Falecido não deixou filhos, mas apenas pais e esposa, o direito sucessório é reconhecido a favor dos 3 (pai, mãe e esposa).
- O grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas. Não se esqueça:
NÃO EXISTE DIREITO DE REPRESENTAÇÃO EM RELAÇÃO AOS ASCENDENTES. Ex. Falecido deixou pais e avós, os dois primeiros herdam na mesma proporção.
§ 2
oHavendo igualdade em grau e diversidade em
linha, os ascendentes da linha paterna herdam a
metade, cabendo a outra aos da linha materna.
Ex. Falecido não deixou pais, apenas avós paternos e
maternos, a herança é dividida em duas partes, uma
para cada linha. Depois a herança é dividida entre os
avós em cada grupo, que recebem quotas iguais.
Ex. Falecido deixa 3 avós, 2 na linha paterna e um na
linha materna, estão presentes a igualdade de graus e
a diversidade de linhas. Assim metade da herança é
atribuída aos avós paternos e outra metade para a
avó materna.
Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro
grau, ao cônjuge tocará um terço da herança;
caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou
se maior for aquele grau.
-Cônjuge+2 ascendentes de 1º grau(pai e mãe)= os 3
terão direito sucessório na mesma proporção, ou seja,
1/3 da herança
.
-Cônjuge + 1 ascendente de 1º grau + outros
ascendentes de graus diversos= terá direito a metade
da herança.
Ex. O falecido deixou 2 avós maternos e a esposa. A
esposa recebe metade da herança. A outra metade é
dividida entre as avós do falecido de forma igualitária.
ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
SUCESSÃO DO CÔNJUGE
Como já dissemos anteriormente, foi atribuída posição mais favorável
ao cônjuge, pois, além de ser
herdeiro necessário, concorre com
descendentes
, dependendo do regime de bens adotado no
casamento;
ou com os ascendentes, em não havendo descendentes
.
A exceção a essa regra são as pessoas casadas sob o regime de
comunhão universal ou separação obrigatória de bens, ou ainda, no
caso da comunhão parcial, se o falecido não deixou bens particulares.
Importante ressaltar que a concorrência não foi estendida aos
companheiros (união estável)
. (art. 1.790 CC)
Com a nova ordem de vocação hereditária, podemos afirmar que o
cônjuge participa como herdeiro juntamente com descendentes, ou,
na falta destes, com os ascendentes, obtendo, muitas vezes,
condições mais vantajosas sobre seus coerdeiros.
Flávio Augusto Monteiro de Barros entende que o cônjuge
sobrevivente concorrerá na herança com os descendentes por
cabeça; nesse sentido, deduz que o cônjuge concorre
na totalidade da herança.
III - Da sucessão do cônjuge, isoladamente
Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes,
será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge
sobrevivente.
O Cônjuge sobrevivente está na 3ª classe de
herdeiros, tal direito é reconhecido ao cônjuge
independentemente do regime de bens adotado no
casamento com o falecido.
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao
cônjuge sobrevivente se, ao 1) tempo da morte do outro,
não estavam separados judicialmente, nem separados
de fato há mais de dois anos, 2)
salvo prova, neste caso,
de que essa convivência se tornara impossível sem culpa
do sobrevivente.
1) Se o cônjuge sobrevivente estava separado
judicialmente ao tempo da morte do outro, não terá
direito sucessório reconhecido (corrente sustentada pela
EC 66/2010 que retirou a separação de direito - a
separação judicial e extrajudicial), restando apenas o
divórcio como forma de extinção do casamento. Este
comando somente se aplica às pessoas separadas
judicialmente quando da entrada em vigor da EC,
perdendo em parte considerável a sua aplicação prática.
2) O cônjuge separado de fato há mais de 2 anos também não
tem reconhecido o seu direito sucessório, salvo se provar que o
fim do casamento não se deu por culpa sua.
A menção de culpa é altamente criticado pelos doutrinadores
brasileiros, seria uma culpa mortuária, a culpa deve ser vista
com ressalvas, prevalecendo na análise do intérprete apenas a
separação de fato, e 2 posicionamentos antagônicos são
ventilados:
1) A culpa não pode ser mais debatida para fins de dissolução
do casamento, desde a entrada em vigor da EC 66/2010, logo
não pode ser discutida para fins sucessórios.
Seguidores: Paulo Lôbo, Mª Berenice Dias e Rodrigo Cunha
Pereira
2) O art. 1.830 continua em vigor, assim como seus efeitos, logo
a culpa mortuária ou funerária deve ser investigada. Conforme
fartos julgados colecionados em todo Brasil.
Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime
de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe
caiba na herança, o
direito real de habitação relativamente ao
imóvel destinado à residência da família
, desde que seja o
único daquela natureza a inventariar.
Não importa se o imóvel é comum ou exclusivo do falecido,
reconhecendo-se o direito real em ambos os casos. (STJ, Resp
826.838/RJ 3ª Turma)
Protege o direito de moradia do cônjuge, direito fundamental
(art. 6º CF/88) somada a célere tese do patrimônio mínimo (Luiz
Edson Fachin) pela qual deve se assegurar à pessoa um mínimo
de direitos patrimoniais para a manutenção de sua dignidade.
Atenção:
Para juristas como Zeno Veloso, tal direito é
personalíssimo, tendo como destinação específica a moradia do
titular, que não poderá emprestar ou locar o imóvel a terceiro.
Não sendo mantido o direito se o cônjuge constituir nova
família.
Tartuce (2013) e o Tribunal gaúcho tem entendido que se o cônjuge loca esse imóvel por questão de necessidade mínima, utilizando o aluguel do imóvel para locação de outro destinado a sua moradia, então não violou o art. 1.831 CC
AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. INVENTÁRIO. BEM LOCADO. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO DO CONJUGE SOBREVIVENTE.
Ainda que o cônjuge não resida no imóvel, sendo este o único bem, possui, direito real de habitação.
Estando o imóvel locado, e sendo o valor dos aluguéis utilizados na subsistência do cônjuge, o valor deve ser auferido integralmente pelo cônjuge.
DERAM PARCIAL PROVIMENTO. (Agravo Inominado Nº 70027892637, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 12/03/2009).
Constituindo nova família e possui condições financeiras, ao contrário de outros herdeiros descendentes que possuem outros imóveis, Tartuce (2013) entende não ser justo desalojar o cônjuge pelo simples fato de ter constituído nova família.
En. 271 CJF – Art. 1.831: O cônjuge pode renunciar ao
direito real de habitação, nos autos do inventário ou
por escritura pública, sem prejuízo de sua
participação na herança.
Para Tartuce (2013) e jurisprudência entendem
respectivamente como direito real de habitação é
IRRENUNCIÁVEL, e o bem de família, pela mesma
razão é IRRENUNCIÁVEL.
IV - Da sucessão dos colaterais:
Deve ficar claro que em relação a
tais parentes, o cônjuge não concorre.
Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições
estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais
até o quarto grau.
São chamados a suceder os colaterais até o 4º grau: Irmãos (2º),
sobrinhos (3º), tios (3º), primos (4º), tios-avós (4º) e os sobrinhos netos
(4º).
Fora esses não há mais direitos sucessórios, tão pouco relação de
parentesco, conforme art. 1.592 CC:
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto
grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma
da outra.
Regras:
1) Nos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo
direito de representação aos filhos de irmãos (art. 1.840)
Ex. falecido deixa 1 irmão e 1 sobrinho, filho de outro irmão pré-morto,
receberá ...
Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.
Para legislação o irmão bilateral receberá o dobro do que couber ao unilateral, e não existe inconstitucionalidade por discriminação (art. 227, § 6º CF/88)
Para Zeno Veloso (2008, p.2026): “A solução deste artigo se justifica porque, como se diz, o irmão bilateral é irmão duas vezes; o vínculo parental que une os irmãos germanos é duplicado. Por esse fato, o irmão bilateral deve receber quota hereditária dobrada da que couber ao irmão unilateral.”
3) Não concorrendo à herança irmãos bilaterais, herdarão em partes iguais os irmãos unilaterais. art. 1.842
4) Na falta de irmãos herdarão os sobrinhos, e na falta dos sobrinhos os tios.
Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.
§ 1o Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão
por cabeça.
§ 2o Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais,
cada um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.
§ 3o Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais,
Os mais próximos excluem os mais remotos, e o parente colateral mais próximo é o irmão em 2º grau (revisem Parentesco em Direito de Família). Se o irmão for germano (filho do mesmo pai e da mesma mãe), herdará o dobro do que eventual irmão unilateral (1.841). Não havendo irmãos, herdam os parentes em 3º grau, prevalecendo os sobrinhos sobre os tios, por serem aqueles em geral mais jovens, é a doutrina do “sangue novo”, presumindo-se que os sobrinhos vão viver mais tempo do que os tios do hereditando.
Os colaterais não são herdeiros necessários, e vão herdar quando não há descendentes, ascendentes e nem cônjuge. Se houver testamento, os colaterais podem ser totalmente excluídos (1.850).
Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.
Finalmente, não havendo parentes em 2º ou 3º grau, são chamados os tios- avós, sobrinhos-netos e primos, parentes em 4º grau do extinto, herdando todos igualmente.
O CC/02 não traz a respeito da sucessão dos colaterais de 4º grau ( primos, sobrinos-netos e tios-avós), logo, herdam sempre por direito próprio, como são parentes de mesmo grau, um não exclui o direito do outro, se houverem os 3, todos recebem a herança em quotas iguais.
Da sucessão do companheiro (art. 1.790 CC)
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro
participará da sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável,
nas condições seguintes:
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma
quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor da
herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um
daqueles;
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá
direito a um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à
totalidade da herança.
O companheiro não consta da ordem de vocação hereditária, sendo tratado como um herdeiro especial. O comando também tem aplicação aos companheiros e conviventes homoafetivos (decisão de equiparação – informativo nº 625 STF)
A norma constante do art. 1.723 do Código Civil — CC (“É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”) não obsta que a união de pessoas do mesmo sexo possa ser reconhecida como entidade familiar apta a merecer proteção estatal. Essa a conclusão do Plenário ao julgar procedente pedido formulado em duas ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas, respectivamente, pelo Procurador-Geral da República e pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro. Preliminarmente, conheceu-se de arguição de preceito fundamental — ADPF, proposta pelo segundo requerente, como ação direta, tendo em vista a convergência de objetos entre ambas as ações, de forma que as postulações deduzidas naquela estariam inseridas nesta, a qual possui regime jurídico mais amplo. Ademais, na ADPF existiria pleito subsidiário nesse sentido. Em seguida, declarou-se o prejuízo de pretensão originariamente formulada na ADPF consistente no uso da técnica da interpretação conforme a Constituição relativamente aos artigos 19, II e V, e 33 do Estatuto dos Servidores Públicos Civis da aludida unidade federativa (Decreto-lei 220/75). Consignou-se que, desde 2007, a legislação fluminense (Lei 5.034/2007, art. 1º) conferira aos companheiros homoafetivos o reconhecimento jurídico de sua união. Rejeitaram-se, ainda, as preliminares suscitadas.
Somente haverá direitos quanto aos bens adquiridos
onerosamente durante a união (bens havidos do trabalho
de um ou ambos durante a existência da União Estável),
excluindo-se os bens recebidos a título gratuito, por
doação ou sucessão.
Deve ficar claro que a norma não está tratando de
meação, mas de sucessão ou herança, independente
mente do regime de bens adotados.
O companheiro é meeiro e herdeiro, no silêncio das
partes vale a mesma regra da comunhão parcial de bens
Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre
os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no
que couber, o regime da comunhão parcial de bens.
RECURSO ESPECIAL. DIREITO DAS SUCESSÕES. ARTS. 1.659, VI, E 1.790, II,
AMBOS DO CÓDIGO CIVIL. DISTINÇÃO ENTRE HERANÇA E PARTICIPAÇÃO
NA SOCIEDADE CONJUGAL. PROPORÇÃO DO DIREITO SUCESSÓRIO DA
COMPANHEIRA EM RELAÇÃO AO DO DESCENDENTE EXCLUSIVO DO AUTOR
DA HERANÇA
.
1. Os arts. 1.659, VI, e o art. 1.790, II, ambos do Código Civil, referem-se a institutos diversos: o primeiro dirige-se ao regime de comunhão parcial de bens no casamento, enquanto o segundo direciona-se à regulação dos direitos sucessórios, ressoando inequívoca a distinção entre os institutos da herança e da participação na sociedade conjugal.
2. Tratando-se de direito sucessório, incide o mandamento insculpido no art. 1.790, II, do Código Civil, razão pela qual a companheira concorre com o descendente exclusivo do autor da herança, que deve ser calculada sobre todo o patrimônio adquirido pelo falecido durante a convivência, excetuando-se o recebido mediante doação ou herança. Por isso que lhe cabe a proporção de 1/3 do patrimônio (a metade da quota-parte destinada ao herdeiro).
3. Recurso especial parcialmente provido, acompanhando o voto do Relator.
(REsp 887990/PE, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/05/2011, DJe 23/11/2011)
Polêmicas:
1ª Bens adquiridos pelo companheiro a título gratuito
(doação).
Se o companheiro falecido tiver apenas bens recebidos a
esse título, não deixando descendentes, ascendentes ou
colaterais, os bens devem ser destinados ao
companheiro
ou ao Estado
?
Entendimento Majoritário:
transmissão ao companheiro
de acordo com o art. 1.844 CC, pois somente serão
destinados ao Estado se o falecido não deixar cônjuge,
companheiro ou outro herdeiro. Caio Mário, Mª Helena,
Mª Berenice, Silvio Venosa, etc.
Entendimento minoritário:
Companheiro deve concorrer
com o Estado. Zeno Veloso, Mário Delgado, Giselda
Hironaka.
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma
quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II - se concorrer com descendentes só do autor
(descendente exclusivo) da herança, tocar-lhe-á a
metade do que couber a cada um daqueles;
X + X + X/2=Herança
5 X=Herança
X=Herança
5
En. nº 266 CJF/STJ: “aplica-se o inc. I do art. 1.790 também na hipótese de concorrência do companheiro sobrevivente com outros descendentes comuns, e não apenas na concorrência com filhos comuns.”
Sucessão híbrida (cônjuge concorre com descendentes comuns e exclusivos do autor da herança) - 3 correntes tentam resolver:
1ª Corrente (entendimento majoritário): Em casos de sucessão híbrida, deve-se
aplicar o inciso I do art. 1.790, tratando todos os descendentes como se fossem comuns, já que os filhos comuns estão presentes. Caio Mário da Silva, Silvio de Salvo Venosa, Francisco Cahali, etc.
2ª Corrente: Presente a sucessão híbrida, subsume-se o inciso II do art. 1.790,
tratando-se todos os descendentes como se fossem exclusivos (só do autor da herança). Como a sucessão é do falecido, em havendo dúvida por omissão legislativa, os descendentes devem ser tratados como dele. Mª Helena Diniz, Flávio Tartuce, Zeno Veloso, etc.
"INVENTÁRIO. PARTILHA JUDICIAL. PARTICIPAÇÃO DA COMPANHEIRA NA SUCESSÃO DO DE CUJUS EM RELAÇÃO AOS BENS ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. CONCORRÊNCIA DA COMPANHEIRA COM DESCENDENTES COMUNS E EXCLUSIVOS DO FALECIDO. HIPÓTESE NÃO PREVISTA EM LEI. ATRIBUIÇÃO DE COTAS IGUAIS A TODOS. DESCABIMENTO. CRITÉRIO QUE PREJUDICA O DIREITO HEREDITÁRIO DOS DESCENDENTES EXCLUSIVOS, AFRONTANDO A NORMA CONSTITUCIONAL DE IGUALDADE ENTRE OS FILHOS (ART 227, § 6º DA CF). APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DO ART 1790, II DO CÓDIGO CIVIL. POSSIBILIDADE
3ª Corrente: Fórmula de TUSA
Quinhão dos filhos (X): X = 2(F+S) . H
2 (F+S) 2+ 2 F+S
Quinhão do companheiro(C): C = 2F + S . X
2(F+S)
H: Valor dos bens hereditários sobre os quais recairá
a concorrência do Companheiro sobrevivente
F: Número de descendentes comuns que concorra o
companheiro sobrevivente
S: Número de descendentes exclusivos com os quais
concorra o companheiro sobrevivente
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis(ascendentes e os colaterais até o 4º grau), terá direito a um terço da herança.
Dispositivo inconstitucional por colocar companheiro em posição desfavorável em relação a parentes longínquos que muitas vezes nem tem contato social.
IV - não havendo parentes sucessíveis( descendentes, ascendentes e colaterais), terá direito à totalidade da herança.
Direito real de habitação sobre o imóvel do casal (CC/02 não consagra expressamente) En. Nº 117 CJF/STJ “o direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei nº 9.278/1996 (art. 7º), seja em razão da interpretação analógica do art. 1.831, informado pelo art. 6º, caput, da CF/88. (posicionamento majoritário na doutrina e acompanhado pela jurisprudência)
Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei será prestada por um dos conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos. Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao imóvel destinado à residência da família
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Posicionamento contraditório: Há quem entenda que esse direito não
existe mais, tendo legislador feito silêncio eloquente. Francisco José
Cahali, Inácio de Carvalho Neto e Mário Luiz Delgado e alguns julgados.
Inconstitucionalidade do art. 1.790 CC suscitado pelos maiores
doutrinadores do assunto:
Hironaka (2010) sustenta ser o dispositivo inconstitucional, por
desprezar a equalização do companheiro ao cônjuge, constante no art.
226, § 3º da CF/88.
Zeno Veloso (2008): “As famílias são iguais, dotadas da mesma
dignidade e respeito. Não há, em nosso país família de primeira,
segunda ou terceira classe. Qualquer discriminação, neste campo, é
nitidamente inconstitucional. O art. 1.790 do CC desiguala as famílias. È
o dispositivo passadista e retrógrado, perverso. Deve ser eliminado o
quanto antes. O Código ficaria melhor – e muito melhor – sem essa
excrecência”
Existem julgados que reconhecem a inconstitucionalidade somente do inc. III do art. 1.790, ao prever que o companheiro recebe 1/3 da herança na concorrência com ascendentes e colaterais até quarto grau. Tartuce (2013) é favorável à tese de inconstitucionalidade somente desse inciso, por ser mesmo desproporcional, desprestigiando a união estável.
Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. COMPANHEIRO SOBREVIVENTE. DIREITO À
TOTALIDADE DA HERANÇA. PARENTES COLATERAIS. EXCLUSÃO DOS IRMÃOS DA SUCESSÃO. INAPLICABILIDADE DO ART. 1790, INC. III, DO CC/02. INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 480 DO CPC. Não se aplica a regra contida no art. 1790, inc. III, do CC/02, por afronta aos princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana e de igualdade, já que o art. 226, § 3º, da CF, deu tratamento paritário ao instituto da união estável em relação ao casamento. Assim, devem ser
excluídos da sucessão os parentes colaterais, tendo o companheiro o direito à totalidade da herança. Incidente de inconstitucionalidade arguido, de ofício, na forma do art. 480 do CPC. Incidente rejeitado, por maioria. Recurso desprovido, por maioria". (TJRS, Agravo de instrumento n. 70017169335, Porto Alegre, Oitava Câmara Cível, Rel. Des. José Ataídes Siqueira Trindade, julgado em 08/03/2007, DJERS 27/11/2009, pág. 38).
Há ementas que sustentam a inconstitucionalidade de todo art. 1.790 do CC, por trazer menos direitos sucessórios ao companheiro, se confrontado com os direitos sucessórios do cônjuge (art. 1.829). Assim: "DIREITO SUCESSÓRIO. Bens adquiridos onerosamente durante a união estável Concorrência da companheira com filhos comuns e exclusivo do autor da herança. Omissão legislativa nessa hipótese. Irrelevância. Impossibilidade de se conferir à companheira mais do que teria se casada fosse. Proteção constitucional a amparar ambas as entidades familiares. Inaplicabilidade do art. 1.790 do Código Civil. Reconhecido direito de meação da companheira, afastado o direito de concorrência com os descendentes. Aplicação da regra do art. 1.829, inciso I do Código Civil. Sentença mantida. RECURSO NÃO PROVIDO". (TJSP, Apelação n. 994.08.061243-8, Acórdão n. 4421651, Piracicaba, Sétima Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Élcio Trujillo, julgado em 07/04/2010, DJESP 22/04/2010).
A variação dos entendimentos dos julgados demonstra o
sistema caótico existente no Brasil quanto à sucessão do
companheiro. A constatação é que a Torre de Babel não é
apenas doutrinária, mas também jurisprudencial.
A encerrar o estudo da sucessão do companheiro, pende ainda
um problema, que é aquele relacionado à possibilidade
de concorrência sucessória entre o cônjuge e o companheiro.
Ora, o CC/2002 admite que o cônjuge separado de fato tenha
união estável (art. 1.723, § 1º do CC). Então, imagine-se a
situação, bem comum em nosso País, de um homem separado
de fato que vive em união estável com outra mulher. Em caso de
sua morte, quem irá suceder os seus bens? A esposa, com quem
ainda mantém vínculo matrimonial, ou a companheira, com
quem vive? O CC/2002 não traz solução a respeito dessa
hipótese, variando a doutrina nas suas propostas. Vejamos
algumas interessantes:
Euclides de Oliveira propõe que os bens sejam divididos de
forma igualitária entre o cônjuge e o companheiro.
Para José Luiz Gavião de Almeida o companheiro terá direito a um terço dos bens adquiridos onerosamente durante a união estável, o que é aplicação do
inc. III do art. 1.790 do CC. O restante dos bens deve ser destinado ao cônjuge.
Para Christiano Cassettari a companheira deve receber toda a herança, eis que prevalece tal união quando da morte.
Conforme consta da obra escrita com José Fernando Simão, o entendimento do presente autor é o seguinte: considerando-se toda a orientação jurisprudencial no sentido de que a separação de fato põe fim ao regime de bens, o patrimônio do falecido deve ser dividido em dois montes. O primeiro monte é composto pelos bens adquiridos na constância fática do casamento. Sobre tais bens, somente o cônjuge tem direito de herança. A segunda massa de bens é constituída pelos bens adquiridos durante a união estável. Quanto aos bens adquiridos onerosamente durante a união, a companheira terá direito à herança. Em relação aos bens adquiridos a outro título durante a união estável, o cônjuge terá direito à herança.
Encerrando o assunto, como bem aponta Zeno Veloso, "estamos longe de ter a completa elucidação do problema que, no momento presente, está impregnado de perplexidade, confusão. Só a jurisprudência, mansa e pacífica, dará a palavra final. E vale registrar a ponderação de Eduardo de Oliveira Leite (Comentários ao novo Código Civil; do direito das sucessões, cit., v. 21, p. 230) de que, nesta questão, não se pode cair no perigoso radicalismo dos excessos, do tipo ‘tudo para o cônjuge, nada ao companheiro’, ou vice-versa, evitando-se medidas extremas, quaevitando-se evitando-sempre injustas".
DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.
§ 1o Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima
em outros de espécie diversa.
§ 2o Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados
os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.
Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.