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DA ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

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DA ORDEM DE VOCA

ÇÃ

O HEREDIT

Á

RIA

A ordem de vocação hereditária, por sua vez, vem a ser a ordem sucessória, ou seja, o rol das pessoas que podem suceder.

No Código Civil de 1916, aberta a sucessão eram chamados a suceder os descendentes, os ascendentes, o cônjuge supérstite ou o companheiro, os colaterais até o quarto grau e, por último, a Fazenda Pública. Era um rol taxativo e preferencial, previsto no artigo 1.603, que assim dispunha:

Art. 1.603. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes;

II - aos ascendentes;

III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais;

V - aos Municípios, ao Distrito Federal ou à União.

De se notar que o cônjuge somente era beneficiado na ausência de descendentes ou ascendentes. Nesta época, ao cônjuge era dado o direito real de usufruto vidual (Art. 1.611, § 2º, CC/16: Ao cônjuge sobrevivente, casado sob regime de comunhão universal, enquanto viver e

permanecer viúvo, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único bem daquela natureza a inventariar)

A nova ordem de vocação hereditária, portanto, prevê a concorrência dos descendentes e dos ascendentes com o cônjuge, estabelecendo o seguinte: descendentes e cônjuge ou companheiro, ascendentes e cônjuge ou companheiro, cônjuge sozinho, colaterais até o quarto grau e companheiro e, por fim, o companheiro sozinho.

(3)

DA ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Art. 1845, as pessoas que o legislador selecionou para que ocupassem a categoria de herdeiros necessários. Preceitua o dispositivo: "São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge“

Herdeiros necessários: são aqueles que não podem ser afastados da sucessão pela simples vontade do sucedido; portanto, apenas quando fundamentado em fato caracterizador de ingratidão por parte de seu herdeiro necessário poderá o autor da herança dela afastá-lo; e, ainda assim, apenas se tal fato estiver previsto em lei como autorizador de tão drástica consequência.

Venosa (2011) O cônjuge vem, no Código Civil de 1916, colocado em terceiro lugar na ordem de vocação hereditária, após os descendentes e ascendentes. Não é herdeiro necessário, podendo, pois, ser afastado da sucessão pela via testamentária. Nesse código, o cônjuge herda na ausência de descendentes ou ascendentes. A dissolução da sociedade conjugal exclui o cônjuge da vocação sucessória [...]. A doutrina sempre defendeu a colocação do cônjuge como herdeiro necessário, posição que veio a ser conquistada com o Código Civil de 2002. Isso porque, no caso de separação de bens, o viúvo ou a viúva poderiam não ter patrimônio próprio, para lhes garantir a sobrevivência.

(4)

DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,

salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão

universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,

parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da

herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.

Impõe o legislador uma ordem de vocação hereditária, em que divide

os chamados a herdar em classes, impondo entre eles uma “relação

preferencial” (RODRIGUES, 2010) em que uns excluem os outros,

segundo a ordem estabelecida no ordenamento.

Os herdeiros legítimos decorrem de determinação legal e

dividem-se em herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge)

e facultativos (colaterais até 4º grau e companheiro). (TARTUCE,

2013)

(5)

O COMPANHEIRO

• O companheiro é herdeiro necessário ?

– SIM (Caio Mário, Giselda Hironaka, Maria Berenice Dias)

– NÃO (Francisco Cahali, Zeno Veloso, Maria Helena Diniz, Rolf Madaleno, Rodrigo da Cunha Pereira, Flávio Tartuce)

– Art. 1.845, CC não arrola o companheiro como herdeiro necessário.

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

(6)

O cônjuge é herdeiro, sem prejuízo da meação em

razão do regime de bens.

Quando o falecido houver deixado herdeiro

necessário, seu patrimônio se divide, por assim dizer,

em duas partes: a quota disponível e a legítima,

sendo esta cabente àqueles.

Insta ressaltar que a meação é o direito que uma

pessoa tem em relação aos bens comuns; assim,

podemos dizer que se traduz na metade dos bens da

comunhão.

No direito das sucessões, a meação é a

parte que cabe ao cônjuge supérstite, parte esta que

compreende a metade dos bens do acervo.

(7)

Bens particulares: são aqueles que pertencem exclusivamente a um dos cônjuges, em razão do seu título aquisitivo.

No regime da comunhão parcial, são particulares os bens adquiridos antes e depois do casamento, por herança ou doação, bem como os adquiridos com o produto da venda de outros bens particulares. Os demais bens, adquiridos pelos cônjuges durante o tempo em que estiverem juntos, chamados de aquestos (Diz-se de ou cada um dos bens adquiridos durante o casamento), constituem acervo comum.

Bens comuns: são os bens que dão direito à meação, divisão em duas partes iguais na partilha, que acontece após a dissolução do casamento. As mesmas regras valem para os companheiros, pois a união estável atende ao regime da comunhão parcial de bens, salvo se houver contrato escrito dispondo de forma diversa.

No julgamento do Recurso Especial (REsp) 954.567, o ministro mencionou que o CC/02, ao contrário do CC/1916, trouxe importante inovação ao elevar o cônjuge ao patamar de

concorrente dos descendentes e dos ascendentes na sucessão legítima (herança). “Com isso,

passou-se a privilegiar as pessoas que, apesar de não terem grau de parentesco, são o eixo central da família”, afirmou o ministro Massami Uyeda, da Terceira Turma do STJ.

Isso porque o artigo 1.829, inciso I, dispõe que a sucessão legítima é concedida aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente (exceto se casado em regime de comunhão universal, em separação obrigatória de bens – quando um dos cônjuges tiver mais de 70 anos ao se casar – ou se, no regime de comunhão parcial, o autor da herança não tiver deixado bens particulares)

(8)

Sucessão do descendente e a concorrência do cônjuge

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge

sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no

regime da

comunhão universal

, ou no da

separação

obrigatória de bens

(art. 1.640, parágrafo único); ou

se, no regime da

comunhão parcial

, o autor da

herança não houver deixado

bens particulares

;

a)

Regime da comunhão parcial de bens

, não havendo

bens particulares do falecido

b)

Regime de comunhão universal de bens

(9)

Sylvia Maria Mendonça do Amaral: [...] No regime da

comunhão universal de bens e no da comunhão parcial

de bens, o cônjuge sobrevivente tem direito à metade dos

bens do casal em virtude da meação. Aqui não estamos

falando em direitos sucessórios, herança e sim em parte

dos bens que já pertenceriam ao cônjuge em decorrência

do regime de casamento e não serão objeto de inventário

e partilha entre os herdeiros.

Venosa (2011): Uma vez dissolvida a comunhão, cada

cônjuge retirará seus bens particulares e, serão divididos

os bens comuns. [...] se o consorte firmara compromisso

de compra e venda de imóvel antes do casamento, esse

bem não se comunica, ainda que a escritura definitiva

seja firmada após, salvo se houver prova de que houve

contribuição financeira do outro cônjuge após o

casamento

(10)
(11)

REGIME DE BENS

a) Regime da comunhão parcial:

o cônjuge sobrevivente terá direito

à meação dos bens adquiridos de forma onerosa na constância do

casamento, portanto não concorrerá à herança com os

descendentes, no que tange a esses bens. Todavia, há casos em que,

sob a égide do regime da comunhão parcial, o autor da herança deixa

bens particulares: bens que foram adquiridos anteriormente ao

casamento ou bens adquiridos por herança ou doação, assim como

bens adquiridos com o produto da venda de tais bens particulares;

esses bens não se comunicam, no regime da comunhão parcial, razão

pela qual, em relação a eles, não havendo (como não há) meação, o

cônjuge herdará, concorrendo com os descendentes do cônjuge

falecido.

b) Regime da comunhão universal:

o cônjuge, na sucessão legítima,

jamais concorrerá à herança com os descendentes do outro, pois, por

força do regime, já tem direito à metade de todos os bens do casal,

não importando se tais bens foram adquiridos antes ou depois do

casamento (bens comuns ou particulares)

(12)

c) Separação obrigatória de Bens:

o cônjuge não tem

direito à meação, face a inexistência de patrimônio

comum, uma vez que os bens, imóveis ou móveis,

adquiridos antes ou na constância do casamento,

não

se comunicam, pois pertencem, exclusivamente, ao

cônjuge que detenha o título aquisitivo de tais bens

;

por isso, ante a ausência de meação, o novo Código,

para que o (a) viúvo(a) não ficasse em total

desamparo, lhe conferiu direito de concorrer com os

descendentes, em partes iguais, à herança deixada

pelo(a) falecido(a).

(13)

REGIME DE BENS COMPOSIÇÃO DO ACERVO CÔNJUGUE DESCENDENTE COMUNHÃO PARCIAL COMUNHÃO UNIVERSAL SEPARAÇÃO OBRIGATORIA BENS COMUNS

Meação e quota –parte dos bens particulares

Herda a meação do de cujus e quota-parte dos bens particulares

Bens comuns e bens particulares Bens particulares

Meação e quota-parte Dos bens particulares

Herda a meação do de cujus e quota dos bens particulares Herda quota-parte Herda quota-parte Bens comuns Bens comuns e bens particulares (art.1.668,CC) Bens particulares (art.1668,CC) Bens particulares Meação Só a meação Herda quota-parte Não há direito sucessório Herda a meação do autor da herança

Herda a meação do autor da herança e 100% dos

bens particulares

Herda quota-parte Herda 100% do aceno

(14)

I - Regime da comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do falecido

Meação

Herança

Meação: é o instituto de direito de família que depende do regime de bens

adotado.

Herança: é o instituto de direito das sucessões que decorre da morte do

falecido.

A meação, portanto, já pertence ao companheiro, esposa mesmo enquanto o outro estiver vivo. Não se trata de sucessão, mas sim de propriedade.

Quando há o falecimento do de cujus, abre-se a chamada sucessão. Os bens pertencentes ao falecido são transmitidos a seus herdeiros (princípio da saisine). Claro está que só irá para os herdeiros o patrimônio do falecido e não do cônjuge sobrevivente. Assim, primeiro se calcula a meação (que pertence ao cônjuge sobrevivente) e os bens restantes são transmitidos aos herdeiros.

Comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do falecido

- Fica difícil imaginar a hipótese em que o cônjuge casado pela comunhão parcial não tenha deixado bens particulares. (Ex. pelo menos uma roupa do corpo, chinelo, etc.)

(15)

No regime de comunhão parcial de bens:

A concorrência sucessória somente se refere aos bens

particulares.

En. 270 CJF/STJ– Art. 1.829: O art. 1.829, inc. I, só assegura ao

cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os

descendentes do autor da herança quando casados no regime

da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes

da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o

falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a

concorrência se restringe a tais bens, devendo os bens comuns

(meação)

ser

partilhados

exclusivamente

entre

os

descendentes. Mesmo com vários julgados nesse sentido, o

entendimento não é pacífico.

Posicionamento contrário: que a concorrência na comunhão

parcial deve se dar tanto em relação aos bens particulares

quanto aos comuns.

(16)

Decisão do STJ e entendimento de Mª Berenice para União Estável:

“(...) três correntes de pensamento sobre a matéria:

(I) a primeira, baseada no En. 270 das Jornadas de Direito Civil,

estabelece que a sucessão do cônjuge, pela comunhão parcial,

somente se dá na hipótese em que o falecido tenha deixado

bens particulares, incidindo apenas sobre esses bens;

(II) a segunda, capitaneada por parte da doutrina, defende que a

sucessão na comunhão parcial também ocorre apenas se o “de

cujus” tiver deixado bens particulares, mas incide sobre todo

patrimônio, sem distinção;

(III) a terceira defende que a sucessão do cônjuge, na comunhão

parcial, só ocorre se o falecido não tiver deixado bens

particulares. (...).

Preserva-se o regime da comunhão parcial de bens, de acordo com o

postulado da autodeterminação, ao contemplar o cônjuge

sobrevivente com o direito à meação, além da concorrência

hereditária sobre os bens comuns, mesmo que haja bens

particulares, os quais, em qualquer hipótese, são partilhados apenas

entre os descendentes.

(17)

DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

A introdução do cônjuge nas classes anteriores à terceira, se faz

de forma gradativa e proporcional à importância que o

legislador empresta aos descendentes e aos ascendentes em

relação ao apreço e carinho que o morto presumidamente

guardaria para cada qual. Por isso é que a quota do cônjuge vai

aumentando dependendo da classe em que se encontre, como

se verá.

Para Caio Mário: Pode-se concluir, então, no que respeita ao

regime de bens reitor da vida patrimonial do casal, que o

cônjuge supérstite participa por direito próprio dos bens

comuns do casal, adquirindo a meação que já lhe cabia, mas

que se encontrava em propriedade condominial dissolvida pela

morte do outro componente do casal e herda, enquanto

herdeiro preferencial, necessário, concorrente de primeira

classe, uma quota parte dos bens exclusivos do cônjuge falecido,

(18)

Menção ERRADA ao art. 1.640, Parágrafo Único, CC/02 refere ao regime de

separação obrigatória de bens. Regime de Separação legal ou obrigatória é

tratado pelo art. 1.641 CC: Pessoas que se casam em inobservância às

causas suspensivas do casamento, os maiores de 70 anos e as pessoas que

necessitam de suprimento judicial para casar.

Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial.

Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas

.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:

I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas

da celebração do casamento;

II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº

12.344, de 2010)

(19)

Separação convencional de bens, os nubentes estipulam

livremente em contrato (pacto antenupcial) antes de celebrado

o casamento, o que melhor lhes convém quanto aos seus bens.

Separação obrigatória (legal) de bens é obrigatória a separação

dos bens, decorrendo esta da vontade da lei.

Tendo em vista a

súmula 377 do Supremo Tribunal Federal, a

qual estatui que "no regime da separação legal de bens,

comunicam-se os adquiridos na constância do casamento"

,

percebemos uma incongruência muito grande com relação ao

significado e finalidade do regime de bens em comento. Desta

forma, podemos enfatizar que tal súmula deve ser revogada,

levando-se em conta as divergências ocasionadas e, acima de

tudo, sua falta de coerência com o contexto em que se insere.

(20)

Nesse entendimento afastando a concorrência sucessória apenas na separação obrigatória de bens:

Entendimento do STJ

“O regime da separação obrigatória de bens, previsto no art. 1.829, I CC/02, é gênero que congrega duas espécies: (I) Separação legal, (II) Separação convencional. Uma decorre da lei e outra da vontade das partes, e ambas obrigam os Cônjuges, uma vez estipulado o regime da separação de bens, à sua observância. Não remanesce, para o cônjuge casado mediante separação de bens, direito à meação, tampouco à concorrência sucessória, respeitando-se o regime de bens estipulado, que obriga as partes na vida e na morte. Nos dois casos, portanto, o cônjuge não é herdeiro necessário” (STJ, Resp 992.749/MS)

A meação, portanto, já pertence ao companheiro, mesmo enquanto o outro estiver vivo. Não se trata de sucessão, mas sim de propriedade.

Quando há o falecimento do companheiro, abre-se a chamada sucessão. Os bens pertencentes ao falecido são transmitidos a seus herdeiros (princípio da saisine). Claro está que só irá para os herdeiros o patrimônio do falecido e não do companheiro sobrevivente. Assim, primeiro se calcula a meação (que pertence ao companheiro sobrevivente) e os bens restantes são transmitidos aos herdeiros

(21)

Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório

ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do

outro, não estavam separados judicialmente, nem

separados de fato há mais de dois anos, salvo prova,

neste caso, de que essa convivência se tornara

impossível sem culpa do sobrevivente.

Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que

seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo

da participação que lhe caiba na herança, o direito

real de habitação relativamente ao imóvel destinado

à residência da família, desde que seja o único

(22)

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

- Cônjuge recebe o mesmo quinhão que os dos descendentes

-Reserva de ¼ da herança ao cônjuge, se ele for ascendente dos

descendentes com quem concorrer >> Assim se o cônjuge concorrer somente com descendentes do falecido não haverá a reserva.

Na verdade, a questão somente ganha relevo se houver a concorrência com + de 3 descendentes do falecido, situação em que a reserva da quarta parte ficaria em xeque.

Aduz o artigo 1832 do Novo Código Civil que "em concorrência com os descendentes caberá ao cônjuge quinhão igual aos dos que sucederem por cabeça [...]". Nesse contexto, Flávio Augusto Monteiro de Barros entende que o cônjuge sobrevivente concorrerá na herança com os descendentes por cabeça; nesse sentido, deduz que o cônjuge concorre na totalidade da herança. A totalidade da herança é uma questão que deve ser cuidadosamente apreciada, pois, dependendo do regime de bens eleito pelo casal, ela será constituída pelos bens particulares do de cujus ou abrangerá metade do patrimônio total.

(23)

Debate sobre a “sucessão híbrida” (Giselda Hironaka):

Quando o cônjuge concorre com os descendentes comuns (de

ambos) e com descendentes exclusivos do autor da herança (tal

hipótese não foi prevista pelo legislador).

2 correntes:

1ª corrente (majoritária)

– Em havendo sucessão híbrida

não

se

deve fazer a

reserva da quarta parte

ao cônjuge, tratando-se

todos os dependentes como exclusivos do autor da herança

.

Seguidores: Caio Mário, Maria Helena Diniz, Maria Berenice

Dias, Zeno Veloso,... e Tartuce.

O entendimento prestigia os filhos em detrimento do cônjuge,

entendimento constitucional, conforme

En. 527 CJF/STJ “Na

concorrência entre o cônjuge e os herdeiros do de cujus não

será reservado a quarta parte da herança para o sobrevivente

em caso de filiação híbrida”

2ª corrente (minoritária)

– Em havendo sucessão híbrida, deve

ser

feita a reserva da quarta parte

ao cônjuge, tratando-se

todos os

descendentes como comuns

. Seguidores: Francisco

(24)

DA ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

Art. 1.833. Entre os descendentes, os em grau mais

próximo excluem os mais remotos, salvo o direito de

representação.

Ex. (1)Se o falecido deixou 2 filhos e 4 netos; (2)Se o

falecido deixou 4 netos e 2 bisnetos

Todos os exemplos são de descendentes de mesma classe

tem os mesmos direitos à sucessão que os ascendentes,

assim receberão no (1) os.... E no (2) os...

Art. 1.834. Os descendentes da mesma classe têm os

mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes.

- Um filho não pode receber por sucessão legítima mais

do que outro, o que representaria atentado ao princípio

da igualdade entre os filhos (art. 227, § 6º CF/88)

(25)

Art. 1.835. Na linha descendente, os filhos sucedem por

cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por

estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau.

Por cabeça:

A herança se reparte um a um, no

sentido de cada parte vir a ser entregue a um sucessor

direto.

- herdeiros de grau igual = herdam por cabeça

Por estirpe:

A herança não se reparte um a um

relativamente aos chamados a herdar, mas sim na

proporção dos parentes de mesmo grau vivo ou que,

sendo mortos, tenham deixado prole ainda viva.

-herdeiros de grau diferente = herdam por estirpe

Fiuza (2007, p.1017) “a sucessão por estirpe é aquela

que toca aos herdeiros do herdeiro falecido”

Ex. 2 filhos do falecido , que são irmãos, sucedem por...

Ex. 1 filho e 1 neto do falecido sucedem por....

(26)

Na sucessão legítima os herdeiros mais próximos

excluem os mais remotos (salvo na hipótese de

representação) e os herdeiros de grau igual, quando

herdam em nome próprio, recebem uma cota igual da

herança.

(27)
(28)

II - Da sucessão dos ascendentes e a concorrência do cônjuge

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (...)

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; (...)

Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente.

§ 1o Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem

distinção de linhas.

§ 2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha

paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.

- Na falta de descendentes são chamados à sucessão os ascendentes (herdeiros de 2ª classe), do mesmo modo em concorrência com o cônjuge sobrevivente.

Ex. Falecido não deixou filhos, mas apenas pais e esposa, o direito sucessório é reconhecido a favor dos 3 (pai, mãe e esposa).

- O grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas. Não se esqueça:

NÃO EXISTE DIREITO DE REPRESENTAÇÃO EM RELAÇÃO AOS ASCENDENTES. Ex. Falecido deixou pais e avós, os dois primeiros herdam na mesma proporção.

(29)

§ 2

o

Havendo igualdade em grau e diversidade em

linha, os ascendentes da linha paterna herdam a

metade, cabendo a outra aos da linha materna.

Ex. Falecido não deixou pais, apenas avós paternos e

maternos, a herança é dividida em duas partes, uma

para cada linha. Depois a herança é dividida entre os

avós em cada grupo, que recebem quotas iguais.

Ex. Falecido deixa 3 avós, 2 na linha paterna e um na

linha materna, estão presentes a igualdade de graus e

a diversidade de linhas. Assim metade da herança é

atribuída aos avós paternos e outra metade para a

avó materna.

(30)

Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro

grau, ao cônjuge tocará um terço da herança;

caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou

se maior for aquele grau.

-Cônjuge+2 ascendentes de 1º grau(pai e mãe)= os 3

terão direito sucessório na mesma proporção, ou seja,

1/3 da herança

.

-Cônjuge + 1 ascendente de 1º grau + outros

ascendentes de graus diversos= terá direito a metade

da herança.

Ex. O falecido deixou 2 avós maternos e a esposa. A

esposa recebe metade da herança. A outra metade é

dividida entre as avós do falecido de forma igualitária.

(31)

ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

(32)

SUCESSÃO DO CÔNJUGE

Como já dissemos anteriormente, foi atribuída posição mais favorável

ao cônjuge, pois, além de ser

herdeiro necessário, concorre com

descendentes

, dependendo do regime de bens adotado no

casamento;

ou com os ascendentes, em não havendo descendentes

.

A exceção a essa regra são as pessoas casadas sob o regime de

comunhão universal ou separação obrigatória de bens, ou ainda, no

caso da comunhão parcial, se o falecido não deixou bens particulares.

Importante ressaltar que a concorrência não foi estendida aos

companheiros (união estável)

. (art. 1.790 CC)

Com a nova ordem de vocação hereditária, podemos afirmar que o

cônjuge participa como herdeiro juntamente com descendentes, ou,

na falta destes, com os ascendentes, obtendo, muitas vezes,

condições mais vantajosas sobre seus coerdeiros.

Flávio Augusto Monteiro de Barros entende que o cônjuge

sobrevivente concorrerá na herança com os descendentes por

cabeça; nesse sentido, deduz que o cônjuge concorre

na totalidade da herança.

(33)

III - Da sucessão do cônjuge, isoladamente

Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes,

será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge

sobrevivente.

O Cônjuge sobrevivente está na 3ª classe de

herdeiros, tal direito é reconhecido ao cônjuge

independentemente do regime de bens adotado no

casamento com o falecido.

(34)

Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao

cônjuge sobrevivente se, ao 1) tempo da morte do outro,

não estavam separados judicialmente, nem separados

de fato há mais de dois anos, 2)

salvo prova, neste caso,

de que essa convivência se tornara impossível sem culpa

do sobrevivente.

1) Se o cônjuge sobrevivente estava separado

judicialmente ao tempo da morte do outro, não terá

direito sucessório reconhecido (corrente sustentada pela

EC 66/2010 que retirou a separação de direito - a

separação judicial e extrajudicial), restando apenas o

divórcio como forma de extinção do casamento. Este

comando somente se aplica às pessoas separadas

judicialmente quando da entrada em vigor da EC,

perdendo em parte considerável a sua aplicação prática.

(35)

2) O cônjuge separado de fato há mais de 2 anos também não

tem reconhecido o seu direito sucessório, salvo se provar que o

fim do casamento não se deu por culpa sua.

A menção de culpa é altamente criticado pelos doutrinadores

brasileiros, seria uma culpa mortuária, a culpa deve ser vista

com ressalvas, prevalecendo na análise do intérprete apenas a

separação de fato, e 2 posicionamentos antagônicos são

ventilados:

1) A culpa não pode ser mais debatida para fins de dissolução

do casamento, desde a entrada em vigor da EC 66/2010, logo

não pode ser discutida para fins sucessórios.

Seguidores: Paulo Lôbo, Mª Berenice Dias e Rodrigo Cunha

Pereira

2) O art. 1.830 continua em vigor, assim como seus efeitos, logo

a culpa mortuária ou funerária deve ser investigada. Conforme

fartos julgados colecionados em todo Brasil.

(36)

Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime

de bens, será assegurado, sem prejuízo da participação que lhe

caiba na herança, o

direito real de habitação relativamente ao

imóvel destinado à residência da família

, desde que seja o

único daquela natureza a inventariar.

Não importa se o imóvel é comum ou exclusivo do falecido,

reconhecendo-se o direito real em ambos os casos. (STJ, Resp

826.838/RJ 3ª Turma)

Protege o direito de moradia do cônjuge, direito fundamental

(art. 6º CF/88) somada a célere tese do patrimônio mínimo (Luiz

Edson Fachin) pela qual deve se assegurar à pessoa um mínimo

de direitos patrimoniais para a manutenção de sua dignidade.

Atenção:

Para juristas como Zeno Veloso, tal direito é

personalíssimo, tendo como destinação específica a moradia do

titular, que não poderá emprestar ou locar o imóvel a terceiro.

Não sendo mantido o direito se o cônjuge constituir nova

família.

(37)

Tartuce (2013) e o Tribunal gaúcho tem entendido que se o cônjuge loca esse imóvel por questão de necessidade mínima, utilizando o aluguel do imóvel para locação de outro destinado a sua moradia, então não violou o art. 1.831 CC

AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. INVENTÁRIO. BEM LOCADO. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO DO CONJUGE SOBREVIVENTE.

Ainda que o cônjuge não resida no imóvel, sendo este o único bem, possui, direito real de habitação.

Estando o imóvel locado, e sendo o valor dos aluguéis utilizados na subsistência do cônjuge, o valor deve ser auferido integralmente pelo cônjuge.

DERAM PARCIAL PROVIMENTO. (Agravo Inominado Nº 70027892637, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 12/03/2009).

Constituindo nova família e possui condições financeiras, ao contrário de outros herdeiros descendentes que possuem outros imóveis, Tartuce (2013) entende não ser justo desalojar o cônjuge pelo simples fato de ter constituído nova família.

(38)

En. 271 CJF – Art. 1.831: O cônjuge pode renunciar ao

direito real de habitação, nos autos do inventário ou

por escritura pública, sem prejuízo de sua

participação na herança.

Para Tartuce (2013) e jurisprudência entendem

respectivamente como direito real de habitação é

IRRENUNCIÁVEL, e o bem de família, pela mesma

razão é IRRENUNCIÁVEL.

(39)

IV - Da sucessão dos colaterais:

Deve ficar claro que em relação a

tais parentes, o cônjuge não concorre.

Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições

estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais

até o quarto grau.

São chamados a suceder os colaterais até o 4º grau: Irmãos (2º),

sobrinhos (3º), tios (3º), primos (4º), tios-avós (4º) e os sobrinhos netos

(4º).

Fora esses não há mais direitos sucessórios, tão pouco relação de

parentesco, conforme art. 1.592 CC:

Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto

grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma

da outra.

Regras:

1) Nos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo

direito de representação aos filhos de irmãos (art. 1.840)

Ex. falecido deixa 1 irmão e 1 sobrinho, filho de outro irmão pré-morto,

receberá ...

(40)

Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.

Para legislação o irmão bilateral receberá o dobro do que couber ao unilateral, e não existe inconstitucionalidade por discriminação (art. 227, § 6º CF/88)

Para Zeno Veloso (2008, p.2026): “A solução deste artigo se justifica porque, como se diz, o irmão bilateral é irmão duas vezes; o vínculo parental que une os irmãos germanos é duplicado. Por esse fato, o irmão bilateral deve receber quota hereditária dobrada da que couber ao irmão unilateral.”

3) Não concorrendo à herança irmãos bilaterais, herdarão em partes iguais os irmãos unilaterais. art. 1.842

4) Na falta de irmãos herdarão os sobrinhos, e na falta dos sobrinhos os tios.

Art. 1.843. Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.

§ 1o Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão

por cabeça.

§ 2o Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais,

cada um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.

§ 3o Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais,

(41)

Os mais próximos excluem os mais remotos, e o parente colateral mais próximo é o irmão em 2º grau (revisem Parentesco em Direito de Família). Se o irmão for germano (filho do mesmo pai e da mesma mãe), herdará o dobro do que eventual irmão unilateral (1.841). Não havendo irmãos, herdam os parentes em 3º grau, prevalecendo os sobrinhos sobre os tios, por serem aqueles em geral mais jovens, é a doutrina do “sangue novo”, presumindo-se que os sobrinhos vão viver mais tempo do que os tios do hereditando.

Os colaterais não são herdeiros necessários, e vão herdar quando não há descendentes, ascendentes e nem cônjuge. Se houver testamento, os colaterais podem ser totalmente excluídos (1.850).

Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.

Finalmente, não havendo parentes em 2º ou 3º grau, são chamados os tios- avós, sobrinhos-netos e primos, parentes em 4º grau do extinto, herdando todos igualmente.

O CC/02 não traz a respeito da sucessão dos colaterais de 4º grau ( primos, sobrinos-netos e tios-avós), logo, herdam sempre por direito próprio, como são parentes de mesmo grau, um não exclui o direito do outro, se houverem os 3, todos recebem a herança em quotas iguais.

(42)

Da sucessão do companheiro (art. 1.790 CC)

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro

participará da sucessão do outro, quanto aos bens

adquiridos onerosamente na vigência da união estável,

nas condições seguintes:

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma

quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor da

herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um

daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá

direito a um terço da herança;

IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à

totalidade da herança.

(43)

O companheiro não consta da ordem de vocação hereditária, sendo tratado como um herdeiro especial. O comando também tem aplicação aos companheiros e conviventes homoafetivos (decisão de equiparação – informativo nº 625 STF)

A norma constante do art. 1.723 do Código Civil — CC (“É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”) não obsta que a união de pessoas do mesmo sexo possa ser reconhecida como entidade familiar apta a merecer proteção estatal. Essa a conclusão do Plenário ao julgar procedente pedido formulado em duas ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas, respectivamente, pelo Procurador-Geral da República e pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro. Preliminarmente, conheceu-se de arguição de preceito fundamental — ADPF, proposta pelo segundo requerente, como ação direta, tendo em vista a convergência de objetos entre ambas as ações, de forma que as postulações deduzidas naquela estariam inseridas nesta, a qual possui regime jurídico mais amplo. Ademais, na ADPF existiria pleito subsidiário nesse sentido. Em seguida, declarou-se o prejuízo de pretensão originariamente formulada na ADPF consistente no uso da técnica da interpretação conforme a Constituição relativamente aos artigos 19, II e V, e 33 do Estatuto dos Servidores Públicos Civis da aludida unidade federativa (Decreto-lei 220/75). Consignou-se que, desde 2007, a legislação fluminense (Lei 5.034/2007, art. 1º) conferira aos companheiros homoafetivos o reconhecimento jurídico de sua união. Rejeitaram-se, ainda, as preliminares suscitadas.

(44)

Somente haverá direitos quanto aos bens adquiridos

onerosamente durante a união (bens havidos do trabalho

de um ou ambos durante a existência da União Estável),

excluindo-se os bens recebidos a título gratuito, por

doação ou sucessão.

Deve ficar claro que a norma não está tratando de

meação, mas de sucessão ou herança, independente

mente do regime de bens adotados.

O companheiro é meeiro e herdeiro, no silêncio das

partes vale a mesma regra da comunhão parcial de bens

Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre

os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no

que couber, o regime da comunhão parcial de bens.

(45)

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DAS SUCESSÕES. ARTS. 1.659, VI, E 1.790, II,

AMBOS DO CÓDIGO CIVIL. DISTINÇÃO ENTRE HERANÇA E PARTICIPAÇÃO

NA SOCIEDADE CONJUGAL. PROPORÇÃO DO DIREITO SUCESSÓRIO DA

COMPANHEIRA EM RELAÇÃO AO DO DESCENDENTE EXCLUSIVO DO AUTOR

DA HERANÇA

.

1. Os arts. 1.659, VI, e o art. 1.790, II, ambos do Código Civil, referem-se a institutos diversos: o primeiro dirige-se ao regime de comunhão parcial de bens no casamento, enquanto o segundo direciona-se à regulação dos direitos sucessórios, ressoando inequívoca a distinção entre os institutos da herança e da participação na sociedade conjugal.

2. Tratando-se de direito sucessório, incide o mandamento insculpido no art. 1.790, II, do Código Civil, razão pela qual a companheira concorre com o descendente exclusivo do autor da herança, que deve ser calculada sobre todo o patrimônio adquirido pelo falecido durante a convivência, excetuando-se o recebido mediante doação ou herança. Por isso que lhe cabe a proporção de 1/3 do patrimônio (a metade da quota-parte destinada ao herdeiro).

3. Recurso especial parcialmente provido, acompanhando o voto do Relator.

(REsp 887990/PE, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/05/2011, DJe 23/11/2011)

(46)

Polêmicas:

1ª Bens adquiridos pelo companheiro a título gratuito

(doação).

Se o companheiro falecido tiver apenas bens recebidos a

esse título, não deixando descendentes, ascendentes ou

colaterais, os bens devem ser destinados ao

companheiro

ou ao Estado

?

Entendimento Majoritário:

transmissão ao companheiro

de acordo com o art. 1.844 CC, pois somente serão

destinados ao Estado se o falecido não deixar cônjuge,

companheiro ou outro herdeiro. Caio Mário, Mª Helena,

Mª Berenice, Silvio Venosa, etc.

Entendimento minoritário:

Companheiro deve concorrer

com o Estado. Zeno Veloso, Mário Delgado, Giselda

Hironaka.

(47)

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma

quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor

(descendente exclusivo) da herança, tocar-lhe-á a

metade do que couber a cada um daqueles;

X + X + X/2=Herança

5 X=Herança

X=Herança

5

(48)

En. nº 266 CJF/STJ: “aplica-se o inc. I do art. 1.790 também na hipótese de concorrência do companheiro sobrevivente com outros descendentes comuns, e não apenas na concorrência com filhos comuns.”

Sucessão híbrida (cônjuge concorre com descendentes comuns e exclusivos do autor da herança) - 3 correntes tentam resolver:

1ª Corrente (entendimento majoritário): Em casos de sucessão híbrida, deve-se

aplicar o inciso I do art. 1.790, tratando todos os descendentes como se fossem comuns, já que os filhos comuns estão presentes. Caio Mário da Silva, Silvio de Salvo Venosa, Francisco Cahali, etc.

2ª Corrente: Presente a sucessão híbrida, subsume-se o inciso II do art. 1.790,

tratando-se todos os descendentes como se fossem exclusivos (só do autor da herança). Como a sucessão é do falecido, em havendo dúvida por omissão legislativa, os descendentes devem ser tratados como dele. Mª Helena Diniz, Flávio Tartuce, Zeno Veloso, etc.

"INVENTÁRIO. PARTILHA JUDICIAL. PARTICIPAÇÃO DA COMPANHEIRA NA SUCESSÃO DO DE CUJUS EM RELAÇÃO AOS BENS ADQUIRIDOS ONEROSAMENTE NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL. CONCORRÊNCIA DA COMPANHEIRA COM DESCENDENTES COMUNS E EXCLUSIVOS DO FALECIDO. HIPÓTESE NÃO PREVISTA EM LEI. ATRIBUIÇÃO DE COTAS IGUAIS A TODOS. DESCABIMENTO. CRITÉRIO QUE PREJUDICA O DIREITO HEREDITÁRIO DOS DESCENDENTES EXCLUSIVOS, AFRONTANDO A NORMA CONSTITUCIONAL DE IGUALDADE ENTRE OS FILHOS (ART 227, § 6º DA CF). APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DO ART 1790, II DO CÓDIGO CIVIL. POSSIBILIDADE

(49)

3ª Corrente: Fórmula de TUSA

Quinhão dos filhos (X): X = 2(F+S) . H

2 (F+S) 2+ 2 F+S

Quinhão do companheiro(C): C = 2F + S . X

2(F+S)

H: Valor dos bens hereditários sobre os quais recairá

a concorrência do Companheiro sobrevivente

F: Número de descendentes comuns que concorra o

companheiro sobrevivente

S: Número de descendentes exclusivos com os quais

concorra o companheiro sobrevivente

(50)

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis(ascendentes e os colaterais até o 4º grau), terá direito a um terço da herança.

Dispositivo inconstitucional por colocar companheiro em posição desfavorável em relação a parentes longínquos que muitas vezes nem tem contato social.

IV - não havendo parentes sucessíveis( descendentes, ascendentes e colaterais), terá direito à totalidade da herança.

Direito real de habitação sobre o imóvel do casal (CC/02 não consagra expressamente) En. Nº 117 CJF/STJ “o direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revogada a previsão da Lei nº 9.278/1996 (art. 7º), seja em razão da interpretação analógica do art. 1.831, informado pelo art. 6º, caput, da CF/88. (posicionamento majoritário na doutrina e acompanhado pela jurisprudência)

Art. 7° Dissolvida a união estável por rescisão, a assistência material prevista nesta Lei será prestada por um dos conviventes ao que dela necessitar, a título de alimentos. Parágrafo único. Dissolvida a união estável por morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação, enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao imóvel destinado à residência da família

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

(51)

Posicionamento contraditório: Há quem entenda que esse direito não

existe mais, tendo legislador feito silêncio eloquente. Francisco José

Cahali, Inácio de Carvalho Neto e Mário Luiz Delgado e alguns julgados.

Inconstitucionalidade do art. 1.790 CC suscitado pelos maiores

doutrinadores do assunto:

Hironaka (2010) sustenta ser o dispositivo inconstitucional, por

desprezar a equalização do companheiro ao cônjuge, constante no art.

226, § 3º da CF/88.

Zeno Veloso (2008): “As famílias são iguais, dotadas da mesma

dignidade e respeito. Não há, em nosso país família de primeira,

segunda ou terceira classe. Qualquer discriminação, neste campo, é

nitidamente inconstitucional. O art. 1.790 do CC desiguala as famílias. È

o dispositivo passadista e retrógrado, perverso. Deve ser eliminado o

quanto antes. O Código ficaria melhor – e muito melhor – sem essa

excrecência”

(52)

Existem julgados que reconhecem a inconstitucionalidade somente do inc. III do art. 1.790, ao prever que o companheiro recebe 1/3 da herança na concorrência com ascendentes e colaterais até quarto grau. Tartuce (2013) é favorável à tese de inconstitucionalidade somente desse inciso, por ser mesmo desproporcional, desprestigiando a união estável.

Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. COMPANHEIRO SOBREVIVENTE. DIREITO À

TOTALIDADE DA HERANÇA. PARENTES COLATERAIS. EXCLUSÃO DOS IRMÃOS DA SUCESSÃO. INAPLICABILIDADE DO ART. 1790, INC. III, DO CC/02. INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 480 DO CPC. Não se aplica a regra contida no art. 1790, inc. III, do CC/02, por afronta aos princípios

constitucionais da dignidade da pessoa humana e de igualdade, já que o art. 226, § 3º, da CF, deu tratamento paritário ao instituto da união estável em relação ao casamento. Assim, devem ser

excluídos da sucessão os parentes colaterais, tendo o companheiro o direito à totalidade da herança. Incidente de inconstitucionalidade arguido, de ofício, na forma do art. 480 do CPC. Incidente rejeitado, por maioria. Recurso desprovido, por maioria". (TJRS, Agravo de instrumento n. 70017169335, Porto Alegre, Oitava Câmara Cível, Rel. Des. José Ataídes Siqueira Trindade, julgado em 08/03/2007, DJERS 27/11/2009, pág. 38).

Há ementas que sustentam a inconstitucionalidade de todo art. 1.790 do CC, por trazer menos direitos sucessórios ao companheiro, se confrontado com os direitos sucessórios do cônjuge (art. 1.829). Assim: "DIREITO SUCESSÓRIO. Bens adquiridos onerosamente durante a união estável Concorrência da companheira com filhos comuns e exclusivo do autor da herança. Omissão legislativa nessa hipótese. Irrelevância. Impossibilidade de se conferir à companheira mais do que teria se casada fosse. Proteção constitucional a amparar ambas as entidades familiares. Inaplicabilidade do art. 1.790 do Código Civil. Reconhecido direito de meação da companheira, afastado o direito de concorrência com os descendentes. Aplicação da regra do art. 1.829, inciso I do Código Civil. Sentença mantida. RECURSO NÃO PROVIDO". (TJSP, Apelação n. 994.08.061243-8, Acórdão n. 4421651, Piracicaba, Sétima Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Élcio Trujillo, julgado em 07/04/2010, DJESP 22/04/2010).

(53)

A variação dos entendimentos dos julgados demonstra o

sistema caótico existente no Brasil quanto à sucessão do

companheiro. A constatação é que a Torre de Babel não é

apenas doutrinária, mas também jurisprudencial.

A encerrar o estudo da sucessão do companheiro, pende ainda

um problema, que é aquele relacionado à possibilidade

de concorrência sucessória entre o cônjuge e o companheiro.

Ora, o CC/2002 admite que o cônjuge separado de fato tenha

união estável (art. 1.723, § 1º do CC). Então, imagine-se a

situação, bem comum em nosso País, de um homem separado

de fato que vive em união estável com outra mulher. Em caso de

sua morte, quem irá suceder os seus bens? A esposa, com quem

ainda mantém vínculo matrimonial, ou a companheira, com

quem vive? O CC/2002 não traz solução a respeito dessa

hipótese, variando a doutrina nas suas propostas. Vejamos

algumas interessantes:

 Euclides de Oliveira propõe que os bens sejam divididos de

forma igualitária entre o cônjuge e o companheiro.

(54)

 Para José Luiz Gavião de Almeida o companheiro terá direito a um terço dos bens adquiridos onerosamente durante a união estável, o que é aplicação do

inc. III do art. 1.790 do CC. O restante dos bens deve ser destinado ao cônjuge.

 Para Christiano Cassettari a companheira deve receber toda a herança, eis que prevalece tal união quando da morte.

 Conforme consta da obra escrita com José Fernando Simão, o entendimento do presente autor é o seguinte: considerando-se toda a orientação jurisprudencial no sentido de que a separação de fato põe fim ao regime de bens, o patrimônio do falecido deve ser dividido em dois montes. O primeiro monte é composto pelos bens adquiridos na constância fática do casamento. Sobre tais bens, somente o cônjuge tem direito de herança. A segunda massa de bens é constituída pelos bens adquiridos durante a união estável. Quanto aos bens adquiridos onerosamente durante a união, a companheira terá direito à herança. Em relação aos bens adquiridos a outro título durante a união estável, o cônjuge terá direito à herança.

 Encerrando o assunto, como bem aponta Zeno Veloso, "estamos longe de ter a completa elucidação do problema que, no momento presente, está impregnado de perplexidade, confusão. Só a jurisprudência, mansa e pacífica, dará a palavra final. E vale registrar a ponderação de Eduardo de Oliveira Leite (Comentários ao novo Código Civil; do direito das sucessões, cit., v. 21, p. 230) de que, nesta questão, não se pode cair no perigoso radicalismo dos excessos, do tipo ‘tudo para o cônjuge, nada ao companheiro’, ou vice-versa, evitando-se medidas extremas, quaevitando-se evitando-sempre injustas".

(55)

DOS HERDEIROS NECESSÁRIOS

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.

Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.

Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.

§ 1o Não é permitido ao testador estabelecer a conversão dos bens da legítima

em outros de espécie diversa.

§ 2o Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados

os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados nos ônus dos primeiros.

Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.

Art. 1.850. Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.

(56)

DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

Definição: Dá-se o direito de representação quando a lei

chama certos parentes do falecido a suceder em todos os

direitos em que sucederia se vivo fosse (art. 1.851 CC)

O direito de representação acontece de 2 formas:

a) Representação na linha reta descendente (art. 1.852)

Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta

descendente, mas nunca na ascendente.

Ex. Falecido deixar 3 filhos e dois netos, filhos de outro

filho premorto, os netos terão direito de representação.

Não há direito de representação na linha reta ascendente.

Não há direito de representação entre cônjuges e

companheiros, que sequer são parentes.

(57)

b) Representação na linha colateral ou transversal (art. 1.853)

Existe somente em favor dos filhos de irmãos do falecido,

quando com irmãos deste concorrem.

Ex. Falecido deixar 2 irmãos vivos e um sobrinho, filho de outro

irmão premorto, o sobrinho tem direito de representação.

O direito de representação não se estende aos sobrinhos-netos

do falecido, mas somente quanto aos sobrinhos.

Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o

que herdaria o representado, se vivo fosse.

Assim fica clara a existência de uma substituição sucessória dos

mesmos direitos.

Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual

entre os representantes.

Ex. Falecido A deixar 3 filhos B, C e D e 2 netos (F e G) filhos de

E premorto, o quinhão ficaria dividido da seguinte forma:

Referências

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