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Desigualdade de oportunidades educacionais: o caso do Pré-Vestibular Social (PVS)

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Desigualdade de oportunidades educacionais: o caso do Pré-Vestibular

Social (PVS)

Aluno: Paula Araujo da Costa Orientador: Murillo Maschner

Introdução

As desigualdades podem ser de vários tipos e os resultados proveniente delas podem influenciar nas escolhas realizadas por todos os que compõem uma sociedade, tendo efeito sobre o destino dessa mesma sociedade. Dentre as desigualdades, a desigualdade educacional tem sido objeto de estudo em diversas áreas, afinal a educação adquiriu um papel privilegiado para a distribuição de oportunidades sociais, que acarreta em um mecanismo de distribuição de chances profissionais, econômicas e de classe (Pereira, 2017).

Desse modo, se torna necessário estudar as desigualdades de oportunidade educacionais para o melhor entendimento do processo em que estamos inseridos e entender como essas oportunidades são distribuídas na sociedade. Os estudos sobre Desigualdades de Oportunidades Educacionais, traçam discussões acerca de temas como o acesso e a equidade de oportunidades. Desse modo, duas correntes são apresentadas sobre o debate e que serão expostas no decorrer deste texto, são elas: a Teoria da Modernização, fundamentada por Parsons (1974) e a Teoria da Reprodução, apresentada por Bourdieu e Passeron (1982). Em seguida, será apresentada a justificativa de se entender a Política pública que é o Pré-Vestibular Social e sua importância para os estudos de desigualdade de Oportunidades educacionais e pôr fim a metodologia de pesquisa que será utilizada no decorrer da pesquisa.

Teoria da Modernização

A teoria da modernização de Parsons foi uma inspiração para trabalhos que buscavam interpretar o efeito dos processos de modernização sobre a estrutura de oportunidades em sociedades contemporâneas. Sua teoria se pautava no ideal de que havia um caminho para ser seguido para tal modernização e de que seria necessário desenvolver crenças, valores e práticas que estimulassem a industrialização. Assim, tal crescimento econômico nas sociedades modernas estariam aos poucos resultando na redução das desigualdades existentes, pois essa modernização estaria sendo responsável por ampliar o acesso à educação, pois com profissionais capacitados e com uma demanda atendida, esses estariam aptos para sua atuação (Guimarães, 2013).

Com o cumprimento desse acesso à educação, os indivíduos estariam competentes a uma competição justa, pois a valorização das suas potencialidades na disputa por melhores oportunidades no mercado estaria ocorrendo. Parsons (1959) afirma em sua teoria meritocrática que na sociedade o status seria baseada na realização, não atribuídos. Essa realização se dá pela seleção dos mais capazes. Como os papeis sociais vão ficando mais difíceis de acessar, novas habilidades devem ser aprendidas na educação formal. Com isso aqueles indivíduos mais motivados e preparados terão acesso as posições mais altas.

As potencialidades dos indivíduos seriam treinadas do ponto de vista técnico e motivacional dentro da escola, auxiliando para o desempenho de tipos particulares de papeis na estrutura social. O status seria determinado pelo desempenho no sistema ocupacional, a

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2 partir do que foi desenvolvimento no espaço escolar, assim, a educação seria um fator de estratificação social, construindo um sistema hierárquico por meio do qual a sociedade categoriza seus indivíduos. Assim, para Parsons (1959), haveria a ocupação de altos e baixos status que aconteceria pelo desempenho do próprio indivíduo, ou seja, aqueles que se dedicarem mais a sua formação, ocuparão as melhores posições. Em vista disso, o status seria baseado na sua realização e não atribuídos, como uma herança provinda da família. Com as mesmas oportunidades iniciais caberia cada indivíduo se esforçar para galgar novas oportunidades para si.

As mudanças sociais levariam a construção de uma sociedade meritocrática, todos teriam as mesmas oportunidades, ficaria a cargo de cada indivíduo se esforçar ou não para atingir determinado cargo ou galgar status para si, pois a única diferença apresentada entre eles é relacionada aos papeis de gênero (Koslinski e Alves, 2012) outros fatores são deixados de lado como não importantes. Porém, segundo Gomes (1983), a teoria da modernização se perdia por desejar implementar ações que proviam de nações ocidentais em desenvolvimento com realidades distintas das nações não desenvolvidas, que possuem realidades diferentes. Será que ter um país desenvolvido, com forte modernização ao longo dos anos era garantia da diminuição ou extinção da desigualdade? A hipótese da teoria da modernização (uma hipótese meritocrática) é a de que os processos de alocação de status se tornariam crescentemente igualitários, uma vez que baseados na escolarização dos indivíduos – e não mais em características socialmente herdadas.

Teoria da Reprodução

De acordo com Bourdieu (2007), há limites na hipótese meritocrática, apontada anteriormente, com base que as escolas são responsáveis por uma igualdade de oportunidades para todos e que ficaria a cargo de cada indivíduo conquista-las ou não. Porém o que ocorre é uma manutenção das desigualdades já existentes e que ficam em maior evidencia por trás dos muros escolares. A escola não seria então responsável por instituir um padrão igualitário de distribuição de oportunidades. Seria um instrumento de perpetuação de uma distribuição de oportunidades desigual previamente existente no espaço social.

Por a ver uma diversidade de habitus, há por sua vez uma distinção no capital cultural que é associado ao capital econômico de cada indivíduo, assim “as frações mais ricas em capital cultural têm propensão a investir, de preferência, na educação dos filhos e, ao mesmo tempo, nas práticas culturais próprias a manter e aumentar sua raridade específica (..)” (Bourdieu, 2007, p.112). Assim, aqueles que possuem mais capital cultural e econômico, pertencerão as classes dominantes, terão acesso a bens e objetos distintos que as outras classes. Esses indivíduos, por exemplo, estudarão nas escolas mais caras, terão acesso ao teatro, cinema, viagens, estarão explorando outros espaços, aprendendo e conhecendo novas culturas. Esses serão dotados da capacidade de absorver e incorporar essa cultura ao seu habitus.

A escola que poderia ser um espaço para a valorização dos diversos saberes, dos capitais culturais divergentes, não o faz. Esta possui um conjunto hierarquizado de saberes que são valorizados e que reproduz a desigualdade na sua transmissão de conhecimentos aos representantes das diferentes classes, assim, os indivíduos que já possuem um capital cultural para determinados assuntos, terão mais facilidade de entender a mensagem passada, ao contrário dos alunos que não tiveram as mesmas oportunidades a ter acesso aos mesmos recursos. Esses indivíduos terão dificuldade em dominar tais informações por não terem uma relação de familiaridade com tal conteúdo, “pois acontece que essa cultura é adquirida e não herdada como um capital primário” (Pereira, 2013. pg. 4). Por ser então priorizado dentro da

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3 escola um discurso dominante, haverá exclusão de alunos que não acompanham o que está proposto e ou apresentado pelo professor. Assim, o capital cultural estará sendo um elemento de segregação educacional.

A escola possui uma reponsabilidade na perpetuação das desigualdades sociais, ela parte da concepção de que todos os alunos são iguais e que poderiam adquirir os mesmos conhecimentos e atingir os mesmos desempenhos de acordo com seu próprio esforço (Pereira, 2017). A escola desconsidera que os alunos possuem diferenças que se iniciam na classe social quanto ao do capital cultural, fazendo com que tais desigualdades educacionais aumentem no decorrer da trajetória escolar de cada aluno.

Metodologia para a pesquisa

A pesquisa configura-se como um estudo de cunho qualitativo e terá como campo de pesquisa o polo no município de Magé, onde acontecem as aulas do Pré-Vestibular Social aos sábados de 08h as 17h. Segundo Kripka, Scheller e Bonotto (2015), o pesquisador pode usufruir de diversos meios para constituição e analises de dados, para tal pesquisa será utilizados dois instrumentos: a pesquisa documental e entrevistas que aconteceram com professores e alunos que fazem parte do polo Magé.

Segundo Kripka, Scheller e Bonotto (2015) a pesquisa documental é um procedimento para extrair informações de documentos que não passaram por nenhum trabalho de análise ou que podem ser reexaminados na busca de outras interpretações, novas informações ou informações complementares. As autoras também apontam que há diferença entre a pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica, “ no primeiro caso (pesquisa documental), denomina-se de fontes primárias, as quais não receberam nenhum tratamento analítico; no denomina-segundo, as fontes são secundárias, abrangem toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema (2015, pg. 244).

Segundo Oliveira (2007), os documentos considerados como fonte de informação podem ser leis, regulamentos, normas, etc. O importante é que o pesquisador entenda esses documentos como “meios de comunicação”, pois foram elaborados com alguma finalidade. Com isso, será analisado para a pesquisa do Pré-Vestibular Social, editais para o ingresso, leis que promulgam a iniciativa, até mesmo sites da instituição e redes sociais que passem informações sobre essa política.

Desse modo, tais análises ajudarão a entender e identificar informações sobre o Pré-Vestibular Social, sua origem e se de fato a iniciativa corrobora para a entrada de jovens de escolas públicas e com nível socioeconômico baixo a ingressar no ensino superior.

Já o recurso das entrevistas, segundo Oliveira, Fonseca e Santos (2010), tem como finalidade obter informações do entrevistado sobre certo tema e assim conseguir dados, como por exemplo, representações, sentimentos, valores. As entrevistas são utilizadas para captar as explicações e interpretações do entrevistado sobre o que acontece nesse grupo (Ludke, 1986). As amostras serão do tipo bola de neve (snowball) que segundo Marschner (p. 16) são “ utilizadas em estudos exploratórios, nos quais o pesquisador, não dispõe, de antemão, de informações detalhadas sobre o universo de análise, ou não tem acesso direto à população pesquisada”. Como mencionado acima, nesse primeiro momento de entrevista, os selecionados são professores e alunos. Representantes ativos no Pré-Vestibular que poderão contar seus relatos do dia a dia desse espaço e com visões distintas por ocuparem espaços diferentes.

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A ligação com o Pré-Vestibular Social

Sabemos que de acordo com Bourdieu (2007), a reprodução da desigualdade passa dentro das escolas. Essa desigualdade é bem forte em especial no Ensino Médio brasileiro, contribuindo para que muitos jovens não o concluam ou não saiam com conhecimentos desenvolvidos que os possibilitem a ingressar no mercado de trabalho ou para o acessar o Ensino Superior. Por mais que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do Ensino Médio seja de forma amostral e tenha a média por estados e não por escola, é possível ver que a última etapa da educação básica passa por diversas dificuldades. O IDEB do Ensino Médio do Brasil no ano de 2015 foi de 3,5, olhando somente para as escolas estaduais de forma amostral.

A meta para o país era de 3,9. É uma taxa baixa e preocupante, pois é abaixo da nota do Ensino Fundamental, mostrando que seu desempenho vem caindo ao final da educação Básica. Como esses jovens poderiam competir com alunos com desempenho mais elevado para conquistar acesso ao Ensino Superior? Segundo Bourdieu e Passeron (1992, pg.163)

(...) é suficiente observar que a maioria daqueles que, em diferentes fases do curso são excluídos dos estudos se eliminam antes mesmo de serem examinados e que a proporção daqueles cuja eliminação é mascarada pela seleção abertamente operada difere segundo as classes sociais. As desigualdades entre as classes são incomparavelmente mais fortes, em todos os países, quando as medimos pelas probabilidades de passagem (calculadas a partir da proporção dos alunos que, em cada classe social, ascendem a um nível dado do ensino, com êxito anterior equivalente) do que quando as medimos pelas probabilidades de êxito.

Assim, para que os jovens possam competir e ter chance de conseguir ingressar no Ensino Superior, são necessárias políticas públicas que viabilizem essa oportunidade. É importante prepará-los para o processo seletivo que acontece para o ingresso, e essa preparação não acontece muitas vezes na escola de origem, fazendo com que este indivíduo tenha que se preparar através de cursos pré-vestibulares (Bastos, 2010), que em grande maioria são pagos. Assegurar uma educação de qualidade que possa assistir esse aluno para o ingresso ao Ensino Superior parece algo distante. Assim, é importante a criação de políticas públicas que subsidiem os jovens a conquistar as aprendizagens necessárias para a realização do ENEM e de outros vestibulares.

Para isso escolhemos investigar a Política Pública que está em vigor no Estado do Rio de Janeiro desde 2003, que tem como finalidade preparar jovens oriundos de escolas públicas para o ingresso ao Ensino Superior. O Pré-Vestibular Social (PVS) promove uma chance para que o aluno possa ingressar no ensino superior e consequentemente possibilidade de mobilidade social, pois os participantes do Pré-Vestibular são oriundos das escolas públicas e ou bolsistas de escolas privadas com o nível sócio econômico baixo (Bastos, 2010).

Segundo Marschner (2017), investigando a relação das origens sociais e alcance educacional, é possível perceber que a origem social ainda intervém na escolarização formal, auxiliando os indivíduos que possuem um nível socioeconômico alto a ter mais anos de estudos. Esses indivíduos com origem em classes sociais privilegiadas têm mais opções de espaços educacionais para se preparem para atingir níveis mais altos na educação (Rossetto, Gonçalves; 2015).

Porém é importante entender que tais iniciativas tomaram força anos através de espaços não formais de educação, por intermédio de ONG’s, igrejas e outros espaços coletivos, auxiliando para a promoção do acesso ao ensino superior pelas classes mais pobres. Essas iniciativas se iniciam a partir do século XX. Em São Paulo, em meio ao alvoroço

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5 democratizante promovido pelos movimentos sociais, início das ações afirmativas e contra as desigualdades sociais (Whitaker,2010) é que surgem os primeiros cursos pré-vestibulares comunitários, criados por diretórios acadêmicos entre 1960/1970 (Whitaker,2010). Tais diretórios criaram esses cursos com custos baixos, dessa forma os alunos pagavam um pequeno valor para auxiliar na manutenção do curso e ajudar os monitores que que ensinavam, possibilitando que os próprios graduandos pudessem lecionar, auxiliando ambas as partes, pois estes recebiam e podiam pagar suas mensalidades e os alunos que estudavam estavam se capacitando para ingressar na universidade. Segundo Whitaker (2010), a dificuldade estava na divulgação desses cursos, pois eles aconteciam dentro dos espaços universitários, dificultando o acesso aos que queriam participar.

Oliveira (2001) cita o primeiro movimento sindical que toma a iniciativa de criar pré-vestibulares comunitários no Estado do Rio de Janeiro. O projeto, Pré-Vestibular que foi criado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SINTUFRJ), filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1986 que tinha como público alvo trabalhadores da educação e dependentes, trabalhadores sindicalizados de universidades públicas, outras categorias e comunidades populares do Rio de Janeiro.

A fim de alargar o campo de atuação do movimento, integrando-o à discussão dos rumos da universidade, da educação e da cultura, o projeto Universidade para os Trabalhadores propõe-se a contribuir para a formação educacional e cultural dos funcionários da URFJ e seus dependentes, dos trabalhadores sindicalizados e de moradores das comunidades populares, através de três subprojetos: a) Curso Pré-Vestibular; b) Curso de Alfabetização e Supletivo 1º e 2º Graus; c) Curso de Formação Sindical e Cultural (SINTUFRJ, 1996)

Segundo Carvalho (2005) na Bahia, em 1992, acontecia o primeiro curso pré-vestibular para negros e negras do país pelo grupo Stive Biko, em homenagem ao líder Sul Africano, morto pelo apartheid, buscando a inserção dos negros no espaço acadêmico como estratégia para sua ascensão social e o combate à discriminação racial.

Em sua pedagogia, o Instituto diferencia-se pela disciplina Cidadania e Consciência Negra – CCN -, que pauta em sala de aula, a autoestima e as lutas do povo negro no combate ao racismo. Na disciplina, estudantes são levados a resgatar a cultura afro-brasileira, destacando a religiosidade, a ancestralidade e trajetória de ativistas referências na luta contra as desigualdades. Com isso, a Biko busca influenciar a postura e pensamento dos jovens negro (Instituto Cultural Beneficente Steve Biko)

Segundo Nascimento (1999), a ideia de cursos Pré-vestibular para Negros, foram refletidas e planejadas entre 1989 e 1992 baseando em temas importantes como a educação e o negro que aconteciam na Pastoral do Negro em São Paulo.

O primeiro resultado dessas ações, foi a concessão de 200 bolsas de estudos pela PUC-SP, destinadas aos alunos participantes do movimento negro.

Essas 200 bolsas oferecidas pela PUC-SP, auxiliaram para o surgimento no Rio de Janeiro de cursos para estudantes negros. Com isso, em 1992 na Igreja Matriz de São João de Meriti, na baixada fluminense, foi criado com a ajuda de Frades Franciscanos o PVNCs (Pré-Vestibular para Negros e Carentes), que segundo Nascimento (1999)

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6 O grupo que iniciou a articulação para a formação do curso era composto por professores de ensino médio e um padre. Este grupo iniciou os contatos com os outros professores, buscaram escolas que pudessem ceder uma sala para realização das aulas, bem como realizarem o trabalho de divulgação e reuniões com os primeiros alunos interessados. A partir desses contatos o grupo foi se ampliando, a ideia começou a se materializar e em junho de 1993 iniciaram-se as aulas do curso. A esse curso foi dado o nome de Curso Pré-Vestibular para Negros e Carentes – PVNC.

O PVNC possuía o intuito de amenizar as dificuldades de acesso ao ensino superior das camadas populares, à baixa qualidade do ensino médio na Baixada Fluminense e ao baixo percentual de estudantes negros nas universidades (menos de 2% dos estudantes, em 1993) (OLIVEIRA, 2001, p. 109. ZAGO, 2008, p.154).

Com toda a repercussão do trabalho realizado em 1994, foi possível obter aprovação de 34% dos alunos para a UERJ, UFRJ, UFF e PUC-RJ, desta forma, outros grupos (entidades populares, entidade de movimento negros, igrejas, educadores e ex-alunos) organizaram novos núcleos do PVNC (Nascimento, 1999), abrindo assim em 1994 um núcleo na Rocinha, o primeiro na zona sul do Rio de Janeiro e em uma das maiores comunidades da América Latina. Ao final do ano, já havia mais de 20 núcleos do PVNC. “Na última reunião do Conselho Geral em 1998, em dezembro, o PVNC, contabilizava 55 núcleos, organizados nos municípios da Baixada Fluminense e no Município do Rio de Janeiro” (NASCIMENTO, p.82. 1999).

(...) 1994 foi um ano fundamental para o PVNC. Foi um ano de crescimento, de adesão de novos grupos, de novos núcleos, de muitas articulações debates, conflitos e criação de novos espaços e debates e deliberações coletivas: A Assembleia Geral, as equipes de reflexão racial e pedagógica, o Jornal, as aulas de Cultura e Cidadania. Em 1993 foi lançada a semente, mas 1994 o ano de constituição do PVNC (...) (PVNC, 1998)

Em 1998, outro movimento sindical decide criar um pré-vestibular, nomeado de Pré-Vestibular Alternativo, que foi desenvolvido pela Associação dos servidores da UERJ (ASUERJ), implantado para funcionários e dependentes da universidade e desde 1999 também para a comunidade externa, oriunda de escolas públicas.

O Pré-Vestibular Popular (PVP) têm também origem nos movimentos comunitários, com diferentes sujeitos sociais envolvidos: professores de escola pública, estudantes, centros comunitários. Oliveira (2001), indica algumas dessas experiências: Pré-Vestibular da Maré (RJ), do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré; o Pré-Vestibular Mangueira Vestibulares, criado em1990 por um grupo de professores de uma escola pública na comunidade da Mangueira; o Pré-Vestibular Comunitário de Osvaldo Cruz, criado em 1996 pelo Centro Comunitário de Capacitação Profissional Paulo da Portela (OLIVEIRA, 2001).

Segundo Carvalho (2005), no início do século XXI, já existiam mais de dois mil cursos pré-vestibulares comunitários pelo Brasil, com aproximadamente 100 mil estudantes. Alunos esses que são de grupos sociais tradicionalmente excluídos do ensino superior (negros, egressos de escolas públicas, moradores de bairros populares, indivíduos com nível socioeconômico baixo) que não teriam condições de arcar com mensalidades de cursos pré-vestibulares privados (Zago, 2008). Dessa forma, tais movimentos produzem ações de combate às desigualdades na educação (Thum, 2000. Zago,2008).

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Pré-Vestibular Social: que iniciativa é essa?

Em agosto 2003, foi criado um curso preparatório, gratuito, de natureza pública (Bastos, 2010, 2012) para auxiliar os alunos nas provas de acesso à universidade. O chamado Pré-Vestibular Social (PVS), da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), órgão gestor do Consórcio CEDERJ (Centro de Ensino Superior a Distância do Rio de Janeiro) com apoio da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social do Rio de Janeiro (SECTI) e parceria com a Secretária de Estado de Educação (SEEDUC). O Consórcio reúne as seis universidades públicas que estão no Estado do Rio de Janeiro. São elas: UFRJ, UERJ, UFF, UENF, UFRRJ e UNIRIO.

O Programa Pré-Vestibular Social é entendido aqui, portanto, como um passo na direção de oferecer alternativas aos alunos que, ao longo do ensino Médio, seja pela baixa qualidade da instrução recebida, ou por inúmeros outros percalços que a população com nível socioeconômico baixo enfrentam para desenvolver continuadamente sua escolarização não conseguiram se qualificar para realizar os exames para ingresso ao Ensino Superior. Sensível a esse fato, o Pré-Vestibular Social configurou-se como um curso com público-alvo composto por pessoas que já concluíram ou que estão frequentando o último ano do Ensino Médio e desejam ter suporte para concorrer a vagas no Ensino Superior através do ENEM e de outros vestibulares. Segundo seu Edital, o processo seletivo “compõe-se de triagem da documentação, análise da situação socioeconômica do candidato e demais residentes no mesmo endereço e do histórico e trajetória escolar do candidato” (Edital 2018 – PVS). Vale ressaltar que quando as vagas por polo não são preenchidas por esses alunos específicos, outros candidatos podem participar do PVS. Segundo a Tutora Elaine

Se o processo seletivo estiver muitos alunos de escola pública, esses alunos terão a preferência. Só que, por exemplo, se a direção dispor de 180 vagas para o polo e não tiver essa quantidade de pessoas de escola pública, eles vão preencher com escolas particulares também, para assim preencher todas as vagas

O próprio Edital apresenta a possibilidade para alunos com renda bruta acima do estabelecido para a seleção e alunos com Ensino Superior Completo

O candidato que apresentar uma renda bruta per capita domiciliar acima de R$ 1.320,00 (mil trezentos e vinte reais) que esteja concorrendo para uma das vagas categorias “R” ou “C” ou for portador de diploma de curso superior concorrendo para vaga categoria “C”, poderá cursar o Pré-Vestibular Social Extensivo 2018 se houver sobra de vagas no polo e na categoria de vaga a que tenha concorrido.

Assim, vemos que a prioridade do Pré-Vestibular Social é atender seguindo o critério de escolarização, voltado para alunos e ex alunos de escola pública e o nível socioeconômico. Mas que há possibilidade de todos terem acesso se houve “sobra” dessas vagas.

Deve ser destacado que o PVS é um curso gratuito que oferece os conteúdos principais que poderão fazer parte das provas para ingresso no Ensino Superior. Segundo os editais analisados (2015 a 2018)

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8 Em todos os polos haverá aulas presenciais das disciplinas Língua Portuguesa/Literatura Brasileira, Redação, Matemática, Física, Química, Biologia, Geografia e História. As disciplinas de Inglês e Espanhol serão ministradas na modalidade a distância com o apoio de tutoria através de atendimento 0800 e via Internet.

Para que os alunos consigam compreender os conteúdos passados, o Pré Vestibular oferece apostilas de todas essas disciplinas em dois momentos, o que os Tutores chamam de módulo 1 e módulo 2. As apostilas do módulo 1 são entregues no primeiro dia de aula e a do módulo 2 na metade do curso (que acontece no meio do ano). Além das apostilas de cada matéria, o aluno também recebe um manual, chamado de Caderno de Orientação Acadêmica que começou a fazer parte nos polos em 2009. Junto as orientações acadêmicas para os alunos que acontece no dia em que estão no polo. A Tutora Elaine relata

que há um tempo destinado para orientação acadêmica, em torno de 15 minutos durante o dia para orientação que cada aluno faz parte de uma equipe. Então cada professor tem uma equipe de 8 a 10 alunos e ele fica responsável por orientar esses alunos, passando alguns conceitos relacionados a faculdade. Então, a gente comenta sobre carreiras, comenta sobre inscrições de vestibular. Porque muitos... parece uma coisa fácil, simples, mas muitos têm muita dificuldade. Muitos não têm acesso e a gente acaba sendo um pouco da referência que eles têm em tudo na área do estudo. Então eles estão com dúvida, vem para gente e perguntam. Então esse momento acaba sendo essencial para gente passar todas as informações.

O PVS conta com duas modalidades para ingresso: o intensivo e o extensivo. De acordo com seu próprio site “são abertos dois processos seletivos por ano. Para o Extensivo, com aulas de março a dezembro, as inscrições são abertas entre dezembro e fevereiro e para o Intensivo, com aulas de junho a dezembro, as inscrições são abertas em maio”

As aulas acontecem em sua grande maioria aos sábados, de 08h as 17h. Em Campo Grande, Complexo do Alemão, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Rocinha são oferecidas turmas duas vezes por semana no período da tarde. No Centro do Rio há turmas no horário noturno, também duas vezes por semana, às segundas e quartas. Atualmente o Pré-Vestibular Social conta com 51 polos de aulas espalhados pelo Estado do Rio de Janeiro.

Conclusão

Sabendo que se trata de uma pesquisa em andamento, é válido ressaltar que as conclusões ainda se encontram em processo de construção. Porém, é possível perceber que o Pré-Vestibular Social possui uma metodologia em que intercala aulas presenciais de 50 minutos para cada disciplina e tutorias a distância (EAD), que inclui material didático, simulados online, exercícios de fixação e feedbacks online para os alunos. Apresenta uma estrutura física e material para dar suporte aos seus alunos aprenderem os conteúdos e estarem aptos a prestar os exames vestibulares e o ENEM para ingresso ao Ensino Superior. Assim, vemos que tal Política Pública viabiliza os jovens oriundos das escolas públicas através de tais recursos a ter a oportunidade de competir com mais qualidade para o ingresso ao Ensino Superior.

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