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PODER JUDICIáRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 9911 SE (0001428-66.2011.4.05.8500)

APTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

APDO : VANDEMBERG DA SILVA SOUZA

REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

ORIGEM : 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE - SE

RELATOR : JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI - Primeira Turma

RELATÓRIO

O JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI (Relator):

O MINISTéRIO PúBLICO FEDERAL – MPF ofereceu denúncia contra VANDEMBERGDA SILVA SOUZA pela prática dos delitos descritos nos arts. 297 e 304, ambos do Código Penal – CP, em concurso material (fls. 02/05).

Narrou o Parquet que o denunciado, em agosto/2010, na qualidade de sócio-gerente da empresa SERGIPOST EMPRESA SERGIPANA DE SERVIÇOS LTDA. ME, apresentou à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, com o fito de participar de procedimento licitatório, Certidão Negativa de Débitos – CND falsa. Foram arroladas duas testemunhas.

A denúncia foi recebida em 30/03/2011 (fls. 06/07).

Resposta à acusação apresentada às fls. 14/19, acompanhada dos documentos de fls. 20/64. A defesa não arrolou testemunhas.

Por não vislumbrar quaisquer das hipóteses de absolvição sumária previstas no art. 397 do Código de Processo Penal – CPP, foi deflagrada a instrução criminal (fls. 70/71).

Na audiência de instrução e julgamento, realizada em 13/10/2011, as duas testemunhas arroladas pela acusação foram ouvidas (Sônia Maria da Silva e Fábio Menezes Souza e Silva) e o réu foi interrogado (mídia digital à fl. 120). Intimadas para fins do art. 402 do CPP, o MPF e a defesa nada requereram.

As alegações finais foram apresentadas oralmente, nos termos do art. 403 do CPP.

O MPF ressaltou que a instrução processual demonstrou que foi o acusado o responsável pela confecção da certidão falsa, bem como pelo uso da mesma em procedimento licitatório nos Correios, sendo tais fatos inclusive admitidos no interrogatório judicial. Sustentou a necessidade da condenação pelos dois crimes narrados na denúncia, o de falsificação de documento público (art. 297 do CP) e de uso de documento falso (art. 304 do CP), haja vista a autonomia e independência entre o ato

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de falsificar e o de utilizar documento. Ao final, requereu a condenação do acusado nos termos da denúncia (fl. 89).

O réu, por sua vez, defendeu a tese de que uma vez que a certidão em questão não foi autenticada, trata-se de um documento nulo e incapaz de produzir qualquer efeito jurídico, por ausência de potencialidade lesiva. Ao final, pediu a absolvição, por absoluta ineficácia do meio empregado (fls. 89/90).

Ainda por ocasião da audiência de instrução e julgamento, o magistrado procedeu à emendatio libelli por entender que o réu praticou o delito previsto no art. 93 da Lei nº 8.666/93, na modalidade tentada. Assim, por se tratar de infração de menor potencial ofensivo, reconheceu a incompetência daquele juízo e terminou a remessa dos autos a um dos Juizados Especiais Criminais (fls. 90/101).

Contra tal decisão, o MPF interpôs Recurso em sentido estrito (fl. 124). Julgado neste egrégio Tribunal, a Primeira Turma deu provimento ao recurso, para determinar ao Juízo da 1ª Vara da Seção Judiciária de Sergipe o processamento da ação penal (fls. 154/158).

A sentença considerou que “como não há prova de que foi o réu quem falsificou, responde pelo uso de documento falso (art. 304 do CP), com as penas da falsificação correspondente, ou seja, falsidade [material] de documento público (art. 297 do CP)”, afastando, pois, o concurso material. Assim, julgou parcialmente procedente o pedido formulado na denúncia, para condenar VANDEMBERG DA SILVA SOUZA nas penas do art. 304 c/c o art. 297 do CP. Fixou a pena-base no mínimo legal, ou seja, 2 anos de reclusão mais o pagamento de 10 dias-multa, cada um no valor de 1/30 do salário mínimo vigente à época do fato delitivo. Diante da inexistência de agravantes, atenuantes ou causas de aumento ou de diminuição de pena, tornou a pena-base definitiva. O regime inicial determinado para cumprimento da pena privativa de liberdade foi o aberto, sendo a pena de reclusão substituída por duas sanções restritivas de direitos, nos termos do art. 44 do CP.

O MPF apelou da sentença (fl. 174). Nas razões recursais (178/193), pediu: a) para condenar o acusado também pela prática do crime do art. 297 do CP, em concurso material, porquanto foi ele o responsável pela confecção da falsa certidão apresentada à comissão licitante; b) a majoração da pena-base levando-se em conta a existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis, tais como conduta social, consequências e motivo do crime; c) acaso não reconhecido o concurso material, a exasperação da pena aplicada pelo crime do art. 304 do CP, tendo em vista a existência de crime meio para a sua consecução.

Contrarrazões pelo não provimento do recurso (fls. 196/204).

Em parecer, a Procuradoria Regional da República da 5ª Região opinou pelo parcial provimento do apelo, apenas para que a pena privativa de liberdade “seja

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majorada em patamar proporcional à desvaloração da circunstância judicial consequências do crime” (fls. 213/222).

É o relatório.

Ao eminente revisor.

JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI Relator

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 9911 SE (0001428-66.2011.4.05.8500)

APTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

APDO : VANDEMBERG DA SILVA SOUZA

REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

ORIGEM : 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE - SE

RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA

(CONVOCADO) - Primeira Turma

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. USO DE

DOCUMENTO FALSO (ART. 304 DO CP). CERTIDÃO NEGATIVA

DE DÉBITO INAUTÊNTICA APRESENTADA EM

PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. FALSIFICAÇÃO DE

DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297 DO CP). COMPROVAÇÃO DA AUTORIA. CONCURSO MATERIAL. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL.

1. Apelação interposta pelo MPF em face de sentença que condenou o réu pela prática do crime de uso de documento falso (art. 304 do CP), porém, quanto à imputação do crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP), absolveu o acusado, por entender que inexistem provas quanto à autoria delitiva.

2. Da análise do conjunto probatório constante aos autos, é forçoso concluir que foi o próprio réu quem efetuou a falsificação da CND nº 170592010-22001020. É impossível obter uma certidão falsa no site da Receita Federal, sendo certo que houve adulteração de documento público por terceiro. O réu, como único responsável pela empresa de sua propriedade, seria a única pessoa interessada na falsificação, além de ter confirmado que foi ele quem providenciou a emissão da certidão. Destaque-se, ainda, a grande “coincidência” entre o número da última CND autêntica emitida em nome da empresa (170592009-22001020) e a CND falsa (170592010-22001020). Foi o réu, portanto, quem falsificou a CND nº 170592010-22001020, e, empós, utilizou o documento inautêntico perante a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, quando da Concorrência nº 2311/2009.

3. A falsificação perpetrada pelo apelado foi praticada a fim de levar a efeito o crime por ele pretendido inicialmente, o uso de documento falso perante procedimento licitatório. Sem a falsificação, seria impossível o uso do documento falso, de forma que se torna impunível o antefato. Mantém-se a absolvição do réu pelo crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP), pela incidência do princípio da consunção. 5. A pena-base deve ser mantida no mínimo legal (art. 59 do CP), ou seja, 2 anos de reclusão e 10 dias-multa. Não há elementos nos autos que demonstrem conduta social do agente inadequada ou consequências do crime anormais ao tipo penal. Uma vez que as infrações foram

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confirmadas pelos membros da comissão quando da habilitação das empresas participantes do certame, a ação delituosa não lesou outro bem jurídico além da fé pública, normal ao tipo do art. 304 do CP.

6. Apelação improvida.

VOTO

O DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA (Relator Convocado):

Como ensaiado no relatório, trata-se de apelação interposta pelo MPF em face de sentença que condenou o réu VANDENBERG DA SILVA SOUZA pela prática do crime de uso de documento falso (art. 304 do CP), porém, quanto à imputação do crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP), absolveu o acusado, por entender que inexistem provas quanto à autoria delitiva.

Nas razões recursais (fls. 178/193), pede o MPF:

Conheço do recurso, porque estão presentes seus pressupostos de admissibilidade intrínsecos (cabimento, legitimidade, interesse e ausência de fato extintivo e impeditivo do direito de recorrer) e extrínsecos (tempestividade e regularidade formal).

Pugna o Parquet Federal pela condenação do apelado também pela prática do crime do art. 297 do CP, em concurso material, porquanto foi ele o responsável pela confecção da falsa certidão apresentada à comissão licitante.

Discordo do recorrente. Explico.

É incontroverso nos autos que VANDENBERG DA SILVA SOUZA, na qualidade de representante da empresa SERGIPOST, fez uso de documento falso – Certidão Negativa de Débitos Relativos às Contribuições Previdenciárias e às de Terceiros – ao participar da Concorrência nº 2311/2009, cujo objeto era a instalação e operação de agência franqueada dos Correios.

Quando da abertura dos envelopes, a comissão de licitação desconfiou que a CND apresentada pela concorrente SERGIPOSP, nº 170592010-22001020, não era autêntica. Após pesquisas junto à Receita Federal ficou constatado que não existe a CND nº 170592010-22001020, posto que o pedido correspondente, formulado pela empresa Heca Comércio e Construções Ltda. fora indeferido. Além disso, observou-se que a última CND emitida em nome da SERGIPOST é a de nº 170592009-22001020, válida até 26/12/2009.

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Veja-se o que disse a sentença (destaques acrescidos):

2.3 Autoria e materialidade

A materialidade está devidamente demonstrada pelos documentos contidos no IPL de n.º 0514/2010, a saber: 1) os ofícios da Receita Federal (f. 09/11 e de

16/17) em que confirma a inexistência da certidão de n.º 170592010-22001020, em nome da empresa Sergipost Empresa Sergipana de Serviços Ltda. ME; 2) a cópia da falsa certidão de n. 170592010-22001020 acostada na f. 13, devidamente rubricada pelos membros da comissão de licitação e pelo acusado (canto esquerdo inferior); 3) certidão de n. 170592009-22001020, emitida em 29.06.2009, com validade em 26.12.2009; 4) espelho de certidões válidas em nome da empresa Sergipost Empresa Sergipana de Serviços Ltda.

Confrontando-se ambas as certidões, verifica-se que a divergência reside no ano de emissão: 1) a verdadeira com o n.º 170592009-22001020; 2) a falsa com o nº de 170592010-22001020.

O réu possuía uma agência franqueada, sem licitação. Em razão da Lei 11.668/08, os Correios foram obrigados a realizar licitação para concessão de Agências franqueadas, já que iria expirar os prazos das anteriores a referida Lei.

O réu participava de uma licitação para a concessão de uma agência franqueada, quando fez uso da certidão de f. 13 do IPL n.º 0514/2010.

De acordo a testemunha Sônia Maria da Silva, empregada dos Correios que participava da licitação, afirmou em seu depoimento gravado em mídia digital que: 1) foi o acusado quem pessoalmente apresentou um envelope, contendo a documentação a fim de participação da licitação para a concessão de agências franqueadas; 2) ao serem apresentados os documentos, os membros da licitação o assinaram juntamente com o acusado (f. 13); 3) posteriormente, sem a presença do acusado, consultaram no site da Receita Federal, onde verificaram que a certidão correta era a de n.º 170592009-22001020 ao invés da de n.º 170592010-22001020; 4) não satisfeitos, os membros encaminharam um ofício a Receita Federal sob o n.º 051/2010 (f. 12 do IPL n.º 0514/2010), solicitando informações acerca da veracidade da certidão de n.º 170592010-22001020, cuja resposta se encontra na f. 16/17 do IPL n.º 0514/2010; 4) em razão da confirmação da falsidade, em sessão pública, a comissão inabilitou a empresa pertencente ao acusado (f. 44/47 do IPL n.º 0514/2010), sendo que este interpôs recurso administrativo, o qual foi improvido (f. 39/43 do IPL n.º 0514/2010).

Em seu interrogatório, o réu admitiu que apresentou a referida certidão (f.

13 do IPL n.º 0514/2010) perante a comissão de Licitação a fim de participar da Licitação para a concessão de agências franqueadas. Aduziu, em sua auto-defesa,

que pensou que a referida certidão era autêntica, pois extraiu do próprio site informatizado. A versão do réu é inverossímil, pois o acusado, como sócio-gerente, tinha plenas condições de saber da inadimplência da sua empresa e que, por incrível coincidência, o n.º da certidão falsa (170592010-22001020) era praticamente o mesmo de uma verdadeira (170592009-22001020), já vencida desde 26.12.2009.

Ressalte-se que, embora o réu não esteja obrigado a provar a sua inocência, é certo que o inverossímil deve ser provado por quem alega e, neste ponto, o réu

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não trouxe qualquer elemento que amparasse as suas alegações, as quais estão em total divórcio com as provas dos autos.

Repita-se a CND’s falsas e verdadeiras possuíam praticamente a mesma numeração e a licitação beneficiaria praticamente o acusado. É certo que não

ficou demonstrado quem, de fato, falsificou a referida certidão, mas não há dúvida de que foi o acusado que fez o uso do documento falso. Acrescente-se,

ainda, que o acusado não indicou o computador onde foi extraída a referida certidão, pelo que somente confirma que tinha plena ciência da inautenticidade do documento".

Cinge-se a controvérsia, portanto, apenas no que se refere ao crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP). Para o Magistrado do 1º grau, não restou demonstrado nos autos quem teria falsificado a CND nº 170592010-22001020 apresentada à comissão de licitação.

Para melhor deslinde da questão, transcrevo o que dispõe o art. 297 do CP, in verbis:

Falsificação de documento público

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Em seu interrogatório judicial (mídia digital à fl. 120), VANDEMBERG DA SILVA SOUZA disse que a falsa certidão foi emitida através do site da Receita Federal; que emitiu a certidão e colocou dentro do envelope, sem perceber nada de errado; que apresentou tal certidão na Concorrência nº 2311/2009, mas não houve nenhum tipo de “editação”; que foi ele quem emitiu a certidão no site da Receita Federal; que apenas percebeu que as duas certidões tinham números iguais (170592009-22001020 e 170592010-22001020) quando informado pela Polícia Federal; que, no momento da entrega da documentação, não percebeu o fato; que rubricou a CND nº 170592010-22001020 no momento da abertura dos envelopes.

A testemunha de acusação Fábio Menezes Souza e Silva, auditor fiscal da Receita Federal, em juízo (mídia digital á fl. 120), afirmou que é impossível a emissão de uma certidão falsa no site da Receita Federal; que a falsificação só seria possível mediante uma operação estranha à Receita; que a CND nº 170592010-22001020 não existe para a empresa SERGIPOST; que a CND nº 170592009-22001020 é válida (fl. 14 do IPL), a CND nº 170592010-22001020 (fl. 13 do IPL) não existe.

Da análise do conjunto probatório constante aos autos, portanto, é forçoso concluir que foi o próprio VANDEMBERG DA SILVA SOUZA quem efetuou a falsificação da CND nº 170592010-22001020. O apelado confirma que foi ele quem emitiu a CND, mas tenta demonstrar que o erro foi do site da Receita Federal, posto que apenas emitiu a certidão e colocou-a no envelope que seria apresentado à comissão de licitação, sem proceder a qualquer alteração.

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Essa tese não me parece crível. Como ressaltou a testemunha Fábio Menezes Souza e Silva, é impossível obter uma certidão falsa no site da Receita Federal, sendo certo que houve adulteração de documento público por terceiro. VANDEMBERG DA SILVA SOUZA, como o único responsável pela empresa SERGIPOST, seria a única pessoa interessada na falsificação, além de ter confirmado que foi ele quem providenciou a emissão da certidão. Destaque-se, ainda, a grande “coincidência” entre o número da última CND autêntica emitida em nome da SERGIPOST (170592009-22001020) e a CND falsa (170592010-22001020).

Portanto, foi VANDEMBERG DA SILVA SOUZA quem falsificou a CND nº 170592010-22001020, e, empós, utilizou o documento inautêntico perante a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, quando da Concorrência nº 2311/2009.

Entretanto, penso que a pretensão do MPF de condenar o réu pelos crimes de falsificação e uso de documento falso (art. 297 e 304 do CP), em concurso material (art. 69 do CP), não merece prosperar.

É que, pelo princípio da consunção, quando um crime é meio necessário ou normal fase de preparação de outro delito, deve por este ser absorvido.

In casu, a falsificação perpetrada pelo apelado foi praticada a fim de levar a efeito o crime por ele pretendido inicialmente, o uso de documento falso perante procedimento licitatório. Sem a falsificação, seria impossível o uso do documento falso, de forma que se torna impunível o antefato. Assim, o falsário usuário deve responder apenas pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP), haja vista o fim último do agente não era a falsificação em si, mas, sim, o uso, que é o objetivo final, sendo a falsidade mero pressuposto lógico ou meio para atingir aquele fim.

Em que pese o posicionamento adotado por Luiz Régis Prado1 e Cezar Roberto Bitencourt2, de que se o agente falsifica o documento público e depois o utiliza, é punido apenas pelo delito de falsificação; adoto a linha de entendimento de Rogério Greco3, para quem “o crime meio (falsificação do documento público) deverá ser absorvido pelo crime-fim (uso de documento público falso)”.

“É que o delito de falsificação (art. 297 do CP) resta absorvido pelo uso de documento falso (CP, art. 304) se o agente que falsificou o documento dele se utiliza” (HC 93938, Rel. Min. Luiz Fux, STF – Primeira Turma, DJe 23/11/2011).

Somente poderia se falar em concurso de crimes, sem incidência do princípio da consunção, se restasse demonstrado nos autos que o falsum possuía mais potencialidade lesiva, o que não ocorreu no caso concreto. No instante em que o a CND 1 PRADO, Luiz Régis. Comentários ao Código Penal. 8. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2013. p. 837.

2 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal COmentado. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 1132. 3 GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Niterói, RJ: Impetus, 2008. p. 1171.

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falsa foi entregue à comissão de licitação houve o exaurimento do falso, servindo este apenas como crime-meio.

Pelo exposto, mantenho a absolvição de VANDEMBERGDA SILVA SOUZA pelo crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP), por outros fundamentos.

Passo à análise da dosimetria da pena.

Neste ponto, requer o MPF a exasperação da pena-base imposta ao condenado, pela valoração negativa da conduta social do agente e das consequências do crime (art. 59 do CP).

Não concordo.

Acerca da conduta social, adoto como razões de decidir trecho do parecer do Procurador Regional da República Domingos Sávio Tenório de Amorim (fls. 221/222):

Já no concernente à suposta avaliação equivocada da circunstância conduta social, igual sorte não assiste ao MPF, pelos seguintes motivos:

Primeiro, porque o simples fato de a sociedade empresarial administrada pelo réu estar em situação irregular perante o Fisco, na época do procedimento licitatório fraudado, constitui uma situação bem ordinária naquelas condutas voltadas justamente ao maquiamento dessa realidade (como no caso do crime em destaque), não merecendo, portanto, nenhuma censurabilidade especial.

Segundo, porque as atitudes de (1) haver atribuído à Receita Federal a culpa pela existência da irregularidade no objeto material do crime e (2) de haver respondido que nunca teria sido réu em processo criminal anterior, quando a verdade é a de que o acusado teria, sim, sido réu em uma ação criminal em que foi discutida idêntica prática criminosa (processo n° 0003137-39.2011.4.05.8500), constituem comportamentos bem próprios de defesa, nada distintos daqueles observados em outros processos criminais, até porque tal processo criminal omitido não resultou na condenação do ora apelado.

No exame das consequências do crime, deve-se analisar a danosidade da ação delituosa, isto é, a maior ou menor irradiação de resultados.

No caso dos autos, as infrações foram confirmadas pelos membros da comissão de licitação ao analisarem a documentação apresentada pela empresa SERGIPOST, inabilitando-a a participar do certame, de forma que a ação delituosa não lesou outro bem jurídico além da fé pública, normal ao tipo do art. 304 do CP.

Assim, mantenho a pena-base fixada no mínimo legal pelo Juiz do 1º grau, ou seja, de 2 anos de reclusão e 10 dias-multa, cada um no valor de 1/30 do salário mínimo vigente à época do fato.

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Ausentes agravantes, atenuantes e causas de aumento ou de diminuição de pena, torna-se a pena-base definitiva, substituindo-se a pena privativa de liberdade por duas sanções restritivas de direitos (art. 44 do CP), nos termos da sentença.

Com essas considerações, nego provimento à apelação.

Determino, por fim, a retificação da autuação com relação ao nome do réu VANDEMBERGDA SILVA SOUZA, conforme dcumento à fl. 73 do IPL.

É como voto.

DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA Relator Convocado

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APELAÇÃO CRIMINAL Nº 9911 SE (0001428-66.2011.4.05.8500)

APTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

APDO : VANDEMBERG DA SILVA SOUZA

REPTE : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

ORIGEM : 1ª VARA FEDERAL DE SERGIPE - SE

RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA (CONVOCADO) -Primeira Turma

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. USO DE DOCUMENTO

FALSO (ART. 304 DO CP). CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO INAUTÊNTICA APRESENTADA EM PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297 DO CP).

COMPROVAÇÃO DA AUTORIA. CONCURSO MATERIAL.

IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. PENA-BASE FIXADA NO MÍNIMO LEGAL.

1. Apelação interposta pelo MPF em face de sentença que condenou o réu pela prática do crime de uso de documento falso (art. 304 do CP), porém, quanto à imputação do crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP), absolveu o acusado, por entender que inexistem provas quanto à autoria delitiva. 2. Da análise do conjunto probatório constante aos autos, é forçoso concluir que foi o próprio réu quem efetuou a falsificação da CND nº 170592010-22001020. É impossível obter uma certidão falsa no site da Receita Federal, sendo certo que houve adulteração de documento público por terceiro. O réu, como único responsável pela empresa de sua propriedade, seria a única pessoa interessada na falsificação, além de ter confirmado que foi ele quem providenciou a emissão da certidão. Destaque-se, ainda, a grande “coincidência” entre o número da última CND autêntica emitida em nome da empresa (170592009-22001020) e a CND falsa (170592010-22001020). Foi o réu, portanto, quem falsificou a CND nº 170592010-22001020, e, empós, utilizou o documento inautêntico perante a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, quando da Concorrência nº 2311/2009.

3. A falsificação perpetrada pelo apelado foi praticada a fim de levar a efeito o crime por ele pretendido inicialmente, o uso de documento falso perante procedimento licitatório. Sem a falsificação, seria impossível o uso do documento falso, de forma que se torna impunível o antefato. Mantém-se a absolvição do réu pelo crime de falsificação de documento público (art. 297 do CP), pela incidência do princípio da consunção.

5. A pena-base deve ser mantida no mínimo legal (art. 59 do CP), ou seja, 2 anos de reclusão e 10 dias-multa. Não há elementos nos autos que demonstrem conduta social do agente inadequada ou consequências do crime anormais ao tipo penal. Uma vez que as infrações foram confirmadas pelos membros da comissão quando da habilitação das empresas participantes do certame, a ação delituosa

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não lesou outro bem jurídico além da fé pública, normal ao tipo do art. 304 do CP.

6. Apelação improvida.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os presentes autos, DECIDE a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do relatório e voto anexos, que passam a integrar o presente julgamento.

Recife, 11 de abril de 2013. (Data do julgamento)

DESEMBARGADOR FEDERAL MANUEL MAIA

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